CASAMENTO
Início do namoro
Como é que eu vim morar no Morro dos Prazeres? Porque eu trabalhava ali no meu primeiro emprego, então, minha sogra, Faustina - que já foi também há muitos anos. Então ela passava lá, e eu lá de cima da janela do meu emprego eu via passando cá em baixo. Ela era b...Continuar leitura
CASAMENTO
Início do namoro
Como é que eu vim morar no Morro dos Prazeres? Porque eu trabalhava ali no meu primeiro emprego, então, minha sogra, Faustina - que já foi também há muitos anos. Então ela passava lá, e eu lá de cima da janela do meu emprego eu via passando cá em baixo. Ela era bem escurinha e usava turbante na cabeça assim. Então ela lá de cima eu, ela falava comigo cá de baixo ela me dava adeus para mim.
Aí nisso fui conhecendo ela. Aí conheci seu tio, né? Meu marido. Então aí pegamos a namorar. Mas eu não vinha aqui não. Não conhecia aqui não. Não conhecia não. Ele ia lá e tudo. Ficava na rua ali conversando. Aí, depois de 6 meses, ele me convidou para vir aqui. “Ah, não. Eu não vou subir lá que eu não conheço ninguém lá.” Só conhecia ela. Que eu falava com ela, né? Dava café à ela. Então aí ela me convidou para mim vim aqui. Aí ele também me chamou para mim vim aqui. E eu nada querer vir. “Não, não, não posso não. Não posso não.” Aí com o tempo, ele às vezes falava assim: “Vou trazer a minha namorada aqui. Ela é um pedaço de mulata.” Até hoje ela fala que ele falou isso um dia lá. Aí então, depois a minha tia passou quase 1 ano, aí e nada de eu querer vir aqui. Aí foi minha sogra que me convidou e tudo: “Olha, tal dia.” Então ela marcou o dia. Cheguei aqui tinha um festão, Neide. Que lindo. Não era essa casa aqui não. Era lá em baixo. Aqui mesmo mas lá em baixo. Eles me trataram muito bem. Os vizinhos me trataram bem. Então aí foi indo, foi indo, foi indo.
Namoro
Aí depois ele, depois ele pediu consentimento. Ele falou: “Eu gosto muito de você.” Aí eu falei: “Mas eu não quero. Eu vim para aqui para trabalhar, não para casar.” Aí ele falou: “Não, eu não vou casar agora. Eu não quero casar agora não. Mas eu gostei de você. Que você é uma moça muito dada, muito honesta, né? Eu sei que você é gente boa.” Então aí fiquemos namorando. Ficamos namorando. Aí depois ele pediu casamento. Falou com o meu irmão. Meu irmão morava lá em cima.
Morava, meu irmão Pascoal. Então aí ele foi lá onde eu, eu, que eu ficava no emprego, né? Dormia no emprego. Eu só vinha em casa domingo. Lá em cima.
Aí ele foi lá, pediu consentimento do meu irmão. O meu irmão falou com ele. Conversou com ele como é que eu era. Que eu não tinha pai, não tinha mãe. Começou. Aí depois ele era muito, ele era, não era namorador. Ele era assim, que tocava e gente, as moças, as pessoas chamava ele para ir tocar cavaquinho. Aí então eu não gostava. Não gostava. Eu não gostava daquele jeito dele. Eu achava que ele namorava elas.
Primeira gravidez
Mas sabe, aí veio a gravidez sem eu casar. Estou falando a verdade, né? Aí veio a gravidez da Zélia, a minha filha mais velha. O senhor sabe que nós ficamos 3 meses sem falar um com o outro. Eu era fogo essa época. Mas qualquer coisa eu estava assim cismada. Fiquei cismada com ele que pensava que ele tinha outras namoradas. Porque aquelas moças tudo chamando ele para ir tocar. Aí eu ficava com raiva. Ficava, não gostava. Aí fiquei três meses sem falar com ele.
Aí no dia que a Zélia nasceu, chovia muito dentro de casa. Aí a minha sogra falou assim: “Ô Olga, você vai ter a menina lá na casa da minha comadre.” Que é ali mesmo, na casa da senhora sua tia, Ceinha. A Zélia nasceu ali. Aí a minha sogra falou assim: “Ó, eu vou arrumar a casa da minha comadre para você ter a sua filha lá, que aqui está chovendo muito.” Eu tive os filhos em casa, a Zélia e o Nelson nasceu em casa. Aí, fui para lá de tarde. Sem falar com ele. 3 meses sem falar com ele. Com raiva.
Mina sogra não gostava que elas vinha para chamar ele. Por isso que eu ficava com raiva. Que a minha sogra não gostava que elas vinham me chamar. Porque eu estava esperando neném. E estava vendo aquela pressão delas. Achava que elas estavam fazendo aquilo para implicar comigo.
A finada Ruth dizia assim: “A Olga está, vai ter o neném, você fica com essa mulherada aqui na porta chamando você.” Brigava com ele, né? Aí ele falava: “Não, eu não tenho nada com ela. Eu vou lá porque eu gosto de tocar.” Ele falava assim, né? Então, aí bem. Aí a Zélia nasceu 5 horas da manhã. A minha sogra falou: “Olha, você, a casa é sua.” Ela toda por mim. “A casa é sua. Agora a rua é dele.” É o filho dela, né? Era filho dela, né? “Agora você vai ficar. Você vai ter sua filha. Seu filho ou sua filha. A casa é sua.” Que é a casa dela aqui. O nome do meu marido é Nélio. Então ela falava, a Dalva me dava apoio e achava que ele estava errado. Eu pensava: “Não vou ficar de bem com ele porque ela vai ficar falando: “Você tem seu emprego lá. A sua patroa não falou para você que a casa era sua ali? Você não precisa nem casar agora.”
Aí eu fui na conversa dela, né? Fui para lá de tarde. Aí a Zélia nasceu 5 horas da manhã. E minha sogra ficou lá comigo, né? Parece que eu estou lembrando coisa que foi hoje. Quando foi 5 horas, que ela arrumou tudo, eu estava sentindo a dor já. Ela nasceu. Arrumou tudo na sala em um cantinho, onde tinha uma cama. E a porta era lá. Quando foi 5 e meia mais ou menos ela botou a Zélia assim, na beirada da cama. Eu não fui boba não. Ah, a Zélia arrumadinha assim na beirada da cama. Eu lá no canto da cama rolei, quando minha sogra: “Nélio disse que vem aqui. Nélio disse que vem aqui ver a filha. Se é filha dele mesmo.”
Aí, eu não fui boba não. Sabe que eu apanhei a coberta joguei a coberta em cima de mim. Enrolei a cabeça e fiquei assim olhando assim. De jeito que ele não me via, né? Aí eu estou olhando ele chegar. Ele chegou olhando, olhando. Aí olhou assim, sentou assim na beirada da cama. Apanhou a menina, a Zélia. Ele olhou dos pés a cabeça ela. Até a unha dela, ela está ainda viva e sã graças a Deus, apareceu com ele. Ele olhou tudinho o jeito dela. Ela toda ele. Até hoje ela parece com ele. Viu?
Aí ele olhou, olhou. Eu fiz que eu estava dormindo, entendeu? Aí olhou ela. Olhou os dedos assim. Olhou tudo dela. E eu estou quieta assim, era assim um pedacinho da coberta, eu estava olhando ele, né? E ele não está me vendo. Estava pensando que eu estava dormindo. Aí botou ela lá. Aí: “Olga, Olga.” Me chamando. Aí eu fiz que estava dormindo e custei a responder. Aí eu respondi. Aí ele: “É, ela parece comigo, não parece?” Eu falei: “Ah, não sei se parece com você não.” “Eu sei que é tua filha. Agora se parece com você eu não sei.” Falei com ele assim. Desde esse dia menina, fiquei lá uns quatro, cinco meses. Eu fiquei que eu ia pela conversa dela, né? Que era muito uma pessoa, preta, mas era uma preta limpa. Deus que ponha ela lá.
Avaliação
Valeu a pena. Valeu a pena. Fiquei sem ele agora. Agora não, tem, tem muitos anos. Deixa eu ver. 31 anos que ele foi.
FAMÍLIA
Filhos
E sempre esses 8 anos que ele ficou doente, sempre morando aqui nos Prazeres. Aqui em baixo. Aqui aonde é a casa da minha filha aqui em baixo. Então, 8 anos aí eu
sofri, seu Zé.
Porque já veio o Nelson, meu filho. Não, eu tive oito filhos, mas que vingou foi só esses três: A Nelma que mora aqui. A Nelma, a Zélia e o Nelson, só. Todos nasceram aqui no morro, aqui mesmo. Só a Nelma que foi pro hospital. A caçula. É que a minha sogra tinha morrido.
Netos
A Zélia tem duas filhas. A Nelma tem três. E o Paulo Henrique cinco. Dez? Cinco. Agora o Paulo Henrique tem dois sem ser os cinco dele.
Aí fiquei 8 anos sofrendo. Depois que ele morreu foi que recebeu o salário dele. Depois que ele morreu,
2 anos ainda levou para mim poder receber o dinheiro dele, tá? Da pensão. Enquanto ele esteve doente, aí um dia ele falou assim comigo: “Olga, você...”, que eu ia com ele porque ele estava com negócio de coração, né? Estava com medo. Eu no emprego, trabalhando para comer.. Aí, que ela usava, as portas não era assim como agora não. Tinha aquele pedacinho. Eu chegava nas campainhas, assim no buraco, olhava assim. Pensava que era, e a Nelma estava com 4 meses. E quando ele morreu a Nelma estava com 6 anos.
FAMÍLIA
Netos
Você pensa que meus netos vem aqui ao menos ver, saber se eu morri, se eu vivi? Vem ninguém aqui não. Vem quando precisa. Jaime. Vitor é um namorador, nunca vi. As meninas vêm aqui procurar ele. Procurar ele aqui dentro aqui em casa. Aqui não. Lá em baixo. Não, foi um dia eu briguei com ele. Veio namorar aqui na varanda eu falei: “Você não pode entrar aqui, sem falar nada. Eu estou dormindo na minha cama você entra aqui para namorar? Eu não quero isso não.” Isso tem um mês que eu dei uma bronca com ele. Falei sim. Falei sim. Não quero mesmo não. Se quiser namorar, vem namorar, então venha até a avó: “Posso entrar aí para mim sentar com a minha namorada?”
MORRO DOS PRAZERES
Primeiras impressões do Morro dos Prazeres
a questão da água
A impressão do Morro não foi ruim. Mas também não foi boa porque não era sempre como é agora. Não tinha água. Sabe aonde nós apanhava água? Não sabe aonde seu avô morou? Tinha uma cacimba ali, tinha uma cacimba que a gente apanhava água ali. Naquela cacimba. Então aí foi indo, foi indo, foi indo.
Água
Eu digo mesmo, do jeito que era, era, aqui é, agora é calmo mas é outros ambiente, né? Mas quando eu vim para aqui era mais calmo. Sofria muito que, ó, seu Zé, nós ia apanhar água lá no Chororó. É, é, a casa do Silvestre. É, nós sofreu muito com negócio de água. Isso tudo, isso tudo agora graças a Deus, graças a Deus está melhor. De vez em quando ele falta água aqui mas não é sempre, né?
RELIGIÃO
Crente
Deus que, eu não sei se a gente diz quando a pessoa morre se acabou, assim os crente fala, né? Eu não sei se é verdade. Que depois que a gente morre isso acabou. Pois é, eu sei que, assim os crente que fala. Diz que a gente morre, diz que acaba tudo. Eu não acredito assim que acaba não. Mas lá, coisa boa, Deus não veio falar com nós mais. Assim como Deus fez nós eu acho que... Assim, pois é, mas os crente fala assim que acaba lá com eles lá. Está certo, que acaba a carne nossa.
Como é que, como se diz, como é que a pessoa pode, pode, aquela hora Deus não leva o espírito? Porque não deixa a carne, né? por que? Nós não temos espírito? Então. Eu acho que não. Aconteceu isso comigo. Aí depois, aí ficamos de bem, seu Zé. Ficamos de bem. Daquele dia em diante. Daquele dia que ela nasceu. Foi uma família muito boa. Porque o pai dela foi muito boa pessoa também. Então graças as Deus, mas acho, sabe por que é que Deus levou ele mais depressa.
ENTORNO
Ponte dos Arcos
A ponte dos Arcos era assim. Ela subia assim, assim. Fazia aquela curva. Tinha aquela curva assim. Então ele trabalhava ali. Que ele trabalhava ali. A
ponte não era reta, agora é certa assim. Tinha curva. Ela era assim. A ponte dos Arcos em Santa Tereza.
Então aí o encarregado, que o meu marido era escuro mas forte, né? E o encarregado qualquer uma coisa pesada chamava ele. E ele tinha mesmo vontade de trabalhar mesmo, que ele trabalhava mesmo. Ele aí, abalou o coração. Então abalou o coração. Ficou 8 anos seu Zé. Aí sim, foi, como se diz, minha vida.
MORRO DOS PRAZERES
Tendinha
Eu sofri muito. Eu sofri muito. Porque eu trabalhava, ela pequena, nova. Tinha a tendinha aí. Então, ele tinha a tendinha. Eu ia para comprar feijão, arroz de noite, para comer. Então. E ele, aí um dia ele falou assim comigo, aí eu ai com ele, né? Falou: “Olga, você não vai comigo não. Eu acho que você está azarando o nosso pagamento.” Eu ia com a sacola seu Zé, na mão. Levou 8 anos sem receber um tostão para comprar as coisas para dentro de casa? Aí eu falando com ele, ele disse que eu estou azarando. Eu ia com ele , né? Aí voltava com a bolsa pura. “Você não vai não.” “Ah, eu vou sim. Você não vai sozinho não.” Aí eu ia com ele. Dia dele ir lá ver se tinha saído o pagamento. Aí quando foi um dia, eu estou falando eu já tinha mudado de emprego. Estava trabalhando lá na Glória. Aí o meu patrão também muito antigo, aí ele falou: “Olga, você...”, ele sabia a minha situação como é que eu trabalhava lá com ele, né? É um casal de estrangeiro. Não, estrangeiro, não. Era... Aí ele falou: “Olga, segunda-feira quando você vier...”, sábado eu não trabalhava não. Nem domingo. Aí ele falou: “Você traz os documentos todinhos do seu marido para ver se eu consigo arrumar os documentos dele.” Ele já morrido, né? Quando foi segunda-feira apanhei esse documento dele que estava aí e levei. O senhor sabe que não levou nem um mês ele conseguiu? O meu patrão conseguiu o meu salário que eu estou ganhando até hoje, tá? Ah, agora nem lembro mais o nome dele não.
PROFISSÃO
Meu patrão era Chico Brito. Acho que Chico Brito. Era um negócio de Brito. Agora lá de baixo, esse homem que arrumou meu documento, meu dinheiro, eu não “alembro” mesmo. Faz tantos anos que saiu da minha mente. Eu sei como é que eles era. Era um casal branco já de idade. Agora eu não posso mais trabalhar. Agora eu não posso mais trabalhar. Mas trabalhei, trabalhei até, até...
AVALIAÇÃO
Ah, eu vim para aqui estava com 17 anos. 17 anos. Hoje tenho 75 anos. Então, agora vê. Não é mole não. Eu sofri muito. Mas graças a Deus agora eu estou, estou sozinha mas estou mais... Bom eu moro aqui sozinha e Deus, né?
CASARÃO DOS PRAZERES
Casarão e o carnaval
Se eu já fui lá no Casarão? Não, não. Já fui lá mas antigamente tinha até, eu ia a missa ali. Ah, meu Deus. Não era casarão não. Não era casarão. Não “alembro” mais como é que era o nome dele. A única coisa que eu gostava era de carnaval. Gostava. Eu não gostava não. Depois que eu vim para aqui por causa das minhas cunhadas que gostavam de carnaval, aí botavam era fogo ne mim. Aí eu também ia também. Mas agora não. Agora não... Desfilei no Acadêmico dos Prazeres, de Baiana. Era bom. Ah, desfilei. Graças a Deus.
INFÂNCIA
Trabalhos na infância
Justamente, a minha infância sabe o que é que eu gostava? Eu gostava muito de ajudar meu pai. Eu tenho meu sinal aqui seu Zé. Sabe o que é que era? Agora já acabou. Sabe o que é que eu estava fazendo? Fazendo, furando buraco, porque meu pai fazia, o senhor sabe toda? Antigamente falava toda. Botava bananeira, fazia aquele pé de palha. Não sei o senhor no tempo do senhor tinha. Eu furando, ajudando meu pai. Furando buraco para fazer a toda. Eu era criança ainda. Menina. Toda é uma cobertura de palha. Uma cobertura. Então, aí eu cavando. Mas aquele dia eu não fui mais gente. Aqui. Quase que eu tirei. Rachou isso aqui ó. Agora acabou. Aí, ainda tem um sinalzinho aqui. Rachou até a unha aqui assim. Porque a cavadeira bateu assim no meu pé.
LAZER
Baile
Eu gostava muito de baile. Gostava. Isso eu gostava muito. Gostava muito de baile, lá onde eu morava. É, com 15 anos. Então. Eu tinha minha colega Neide. Agora não se vê mais colega não. Não se vê mais colega, seu Zé.
Aqui tinha baile. Mas eu não gostava. Não. Não gostava. Eu gostava de ir assim, quer dizer, se tivesse assim um baile em uma casa de família. Eu gostava de vir para aí. Então. Sempre lá no meu emprego. Vinha aqui para só para passeio. Agora depois que veio os filhos eu não fui mais mulher para nada. A minha sogra falava – porque eles deixava os filhos tudo com ela para ir no baile. Porque eles gostava muito de baile. Minhas cunhada. Ela falava: “A Olga é uma mulher que ela nunca deixou os filhos dela comigo para ir para baile.” É. Ela falava. Eu nunca gostei de baile. Até hoje agora não gosto mais.
SONHO
Eu gostava, sabe o quê? É de ter um, é de ter uma melhorar minha casinha. Eu vou morar com a minha filha. Eu não vou morar aqui não. Eu vou morar lá em baixo. Porque a minha filha falou: “Mamãe...”, ela veio aqui conversar comigo, “...mamãe, a senhora, a idade da senhora não pode ficar muito sozinha. Diz que os filhos mais velhos é que tem olhar para os pai e mãe quando chegar a idade.” Bem quando, ela quando sentou, nós aqui eu estou falando com ela, conversando. Quando ela sentou para conversar comigo. “A senhora, o que é que a senhora acha? Quer ir morar comigo?”
O marido dela chama Souza, mas ela trata ele de Preto. “O Preto falou que vai dar tudo à senhora. Tudo à senhora. A casinha. Vai dar uma casinha. Vai dar, vai dar a casa com uma salinha com a cozinha e um banheiro para a senhora. A senhora não pode ficar sozinha aqui em cima mais. que a idade da senhora já está avançada. A senhora não pode trabalhar mais. Aí bem, ela falou assim; “Então, mamãe, a senhora, nós vamos fazer a casa para nós lá em baixo. Vai fazer um cantinho para a senhora.” Ela veio aqui conversar como nós estamos conversando assim. “A senhora, por causa de quê a senhora não dá essa casa? Porque isso aí precisa muito, muito, muito trabalho. Muito serviço aqui. A senhora não, não, que a senhora ganha uma mixaria. A senhora não pode arrumar. Vai arrumar uma casa para ficar sozinha?” Aí, “A senhora, vamos ver se a senhora concorda comigo.” Então ela combinou comigo. Que aqui, aí eu não faço nada aqui. Igual, eu podia ir devagarzinho. Mas eu não vou acabar o resto da minha vida aqui, seu Zé. Eu não tenho dinheiro para isso. Olha, eu recebo 180 cruzeiros. Centavos ou cruzeiro. Sei lá como é que fala. ó, eu é, pagar luz, é pagar água, é comprar gás. Mas que fosse comprar tudo o que eu quero? Não dá seu Zé. Não dá. Mas aí. É isso que eu queria seu Zé. O resto da minha vida, né? Mas eu não posso. Aí eu vou lá, ficar com ela. Mas eu não posso ficar sozinha também. Então, uma que a vista não está dando mais. Tem que operar. É catarata. Então, é o que eu queria. E esse salário até esse salário não dá não. A única coisa que eu precisava era isso. Mas, vamos ver até quando Deus me chamar, Deus achar que eu tenho que ir, né?Recolher