Entrevista de Cyntia Arroyo
Entrevistada por Torigoe / Daniela
16/07/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FUNAS_HV018
Transcrito por Aponte
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P/1 - Qual o seu nome completo, local e data de nascimento, por gentileza?
R - Meu nome é Cíntia Bernardes de Souza Arroyo, nasci em Goiânia, no dia 17 de julho de 1983.
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P/1 – Cíntia, por acaso seus pais contaram para você como é que foi o dia do nascimento? Como é que foi a sua gestação?
R - Não tenho muitas lembranças de histórias que eles contaram sobre o dia do meu nascimento, ou sobre a minha gestação, porque eu não sou a primeira filha, sou a filha do meio. Então acho que tem mais registro da minha irmã mais velha, que foi a primeira filha. E como era uma época que a gente não tinha tanta facilidade de acesso à tecnologia, até as fotografias eram poucas. Então não tem tantos registros assim do dia do meu nascimento. Da minha gestação tem algumas fotos. Fotos da minha mãe, fotos minhas de bebê, mas não tem muita coisa registrada não.
1:28
P/1 - Qual que é o nome completo da sua mãe e da onde que é a família por parte dela?
R - O nome da minha mãe é Valquíria Bernardes de Souza Arroyo, ela também nasceu em Goiânia e é filha de Mineiros.
1:51
P/1 - E quem são seus avós por parte de mãe? Você conheceu eles? Conhece eles? Como que é a relação?
R - Eu tenho a felicidade de tê-los ainda. O meu avô e avó maternos, por parte de mãe. Eles moram hoje em Planaltina, no Distrito Federal. O meu avô se chama Elvecio Generoso de Souza e minha vó se chama Evanilde Bernardes de Souza.
2:21
P/1 - E quando você era criança, você se lembra deles como? Como era sua relação com eles? O que eles faziam na época?
R – A nossa relação foi um pouco distante, porque como eles já moravam em outra cidade. A gente tinha uma convivência maior durante o meu período de férias. Eu me lembro que sempre nas minhas férias, eu ia para casa da minha vó, passava as férias lá na casa dela lá em Planaltina, na cidade que ela mora. E eles tinham um bar, e a gente ficava grande parte do tempo brincando lá no bar, na cozinha do bar, vendo a minha vó fazendo salgado e comendo também. Brincando com a massinha e comendo tudo que era feito e preparado lá no bar para servir.
3:15
P/1 – Seu avô e dono de bar?
R – Isso!
3:20
P/1 - E como é que era isso?
R - Ele sempre trabalhou com comércio de biscoitos, minha vó é uma cozinheira, biscoiteira, faz de tudo, doce salgado. Gosta também de comer muito doce. E aí meu avô ficava no bar, mas no balcão, nas vendas. E a minha vó na cozinha, preparando os salgados e biscoitos para vender.
3:50
P/1 – O que a sua avó fazia que até hoje você gosta de comer?
R – Ela faz uma rosca de leite condensado, que é receita de família. Sempre que ela vem em Goiânia ela faz, e deixa para a gente, distribuiu aqui para as netas.
4:09
P/1 - Me conta um pouquinho do seu pai agora, qual que é o nome dele? E como é que é os pais do seu pai?
R - Meu pai é Pedro Arroyo filho, ele também nasceu em Goiânia. Mas os pais dele vieram de São Paulo, são filhos de imigrantes italianos e espanhóis. E eles vieram de São Paulo. Que meu avô, Pedro Arroyo, ele construiu uma indústria de transformadores e motores elétricos. E como eles tiveram 10 filhos aqui, todos os filhos começaram a trabalhar com ele nessa indústria. Então meu pai e os meus tios, irmãos dele, todos são eletrotécnicos, trabalhavam com meu avô e seguiram nessa profissão.
5:01
P/1 – E você sabe como os seus pais se conheceram Cíntia?
R – Olha, eu não sei. Não sei como foi esse encontro não. Mas os dois já moravam em Goiânia, moravam no mesmo bairro aqui, que é um bairro bem antigo e tradicional de Goiânia, que é a Vila Nova. Então eles moravam próximos e acho que se conheceram em função dessa proximidade.
5:33
P/1 – Você é irmã do meio, é isso? Quantos irmãos você tem? Como que é essa escadinha?
R – Eu tenho 2 irmãs, umas mais velha e uma mais nova. A minha irmã mais velha tem 40 anos, eu estou fazendo amanhã 38 anos e minha irmã mais nova fez 36. Uma escadinha de 2 em 2 anos. Somos só mulheres.
6:05
P/1 – Cyntia você nasceu em Aparecida de Goiânia é isso?
R – Não, eu nasci em Goiânia. Aparecida é a cidade onde fica o escritório de Furnas, que é bem próximo da região metropolitana de Goiânia, mas é outro município. Nasci em Goiânia que é a capital.
6:27
P/1 – E você consegue puxar na sua cabeça as primeiras lembranças que você tem da sua vida?
R – Lembro das casas que a gente morava quando criança, com as minha irmãs, a gente sempre brincando no quintal de casa. A gente morou sempre em casa, enquanto criança, casa com quintal. Tenho muita lembrança de estar brincando com elas. Um pouquinho maior era uma época que a gente ainda brincava na rua, pode brincar com os vizinhos na rua. Então eu tenho boas lembranças de infância, por poder brincar muito.
7:20
P/1 – Cyntia tem alguma casa da sua infância que te marcou mais? Que vocês ficaram mais tempo nessa casa, nesse bairro, nessa rua?
R – Tem a casa do bairro feliz, acho que a primeira casa que os meus pais compraram, que era nossa casa, era uma casa grande. Para minha proporção de criança era uma casa muito grande, ela tinha um quintal no fundo, um desnível no terreno, no lote. Parecia ser um sobrado, mas era uma casa de um andar só, porque o lote no fundo era mais baixo. E a gente tinha um quintal enorme, que a gente brincava, que tinha... às vezes meu pai criava, teve época de criar até galinha, criava pombinhos, codornas. E a gente brincava bastante nesse quintal.
8:14
P/1 - E me descreve um pouco mais essa casa. Como é que era, você entrando do portão?
R - A gente tinha um quintal também na frente, o portão de grade, um quintal com a garagem, a gente entrava já na sala de jantar, era uma sala, que a gente fala sala dois ambientes, tinha sala de TV e a sala de jantar, que era a copa, que a gente chamava de copa. E tinha uma mesa, que era uma mesa grande, para seis pessoas, onde a gente fazia as nossas refeições, a sala com sofá, uma estante, a TV, onde a gente sempre reunia a família, ficava todo mundo junto, assistindo televisão. Era uma TV só, hoje cada um tem a sua, na época todo mundo assistia a mesma programação. E tinha a cozinha, que dava para o corredor que ia lá para o quintal, aquele quintal dos fundos e tinha um corredor que ia para os quartos. Eram três quartos, mas geralmente a gente dormia as três num quarto só, tinha um quarto que era tipo uma dispensa, de guardar roupas, cômoda. E o quarto dos meus pais. Os nossos quartos todos davam com janela para o fundo, para o quintal do fundo, que era bem alto, e a gente via da janela todo quintal.
9:53
P/1 - Você ficou quantos anos nessa casa, Cíntia?
R – Eu acho que eu morei uns 15 anos nessa casa.
10:05
P/1 – De quantos anos a quantos anos?
R – Acho que me mudei logo com 2 anos, não, já tinha minha irmã mais nova. Então acho que me mudei com 3 anos e fiquei até, acho que foi um pouco menos, até os 16 eu ainda morava nessa casa. Então a minha infância e minha adolescência, parte dela, também foi lá.
10:36
P/1 - E como é que era crescer com as suas irmãs? Vocês se davam bem, brigavam?
R – Na infância a gente se dava bem. A gente brincava bastante, tinha toda vizinhança ali. Por ser só mulher, às vezes meu pai não deixava a gente sair para brincar na rua, porque tinha mais meninos, brincando na rua, jogando bola. E a gente ficava só no portão olhando. Até a gente crescer um pouco mais e ele deixar a gente brincar na rua. Mas enquanto a gente não podia brincar na rua, a gente brincava em casa mesmo, entre nós, às vezes com os primos que iam para nossa casa e ficava ali em casa mesmo brincando. Até porque a gente tinha bastante espaço.
11:28
P/1 - E vocês tinham bichinho de estimação? Você falou das galinhas, vocês gostavam de ter um bichinho em casa?
R – Tinha! Sempre teve pele menos um cachorro. Eu lembro, nessa casa a gente tinha a Ximbica, que era um pinscher, era da raça pinscher. Eu acho que eu tive outros cachorros maiores, tive pastor alemão. Mas assim, como eu não era a mais próxima, a que gostava mais de cuidar, então eu não tinha muita proximidade. Minha irmã mais nova e que sempre gostou dos cachorrinhos, e gosta até hoje.
12:15
P/1 - Como é que era o dia a dia na sua casa? Vocês acordavam que horas? Como eram divididas as coisas?
R – Bom, era sempre muito bem dividida as tarefas. Enquanto criança a gente não ajudava, minha mãe tinha ajudante. Minha mãe estudava, ela se formou depois de casada já. E meu pai trabalhando para manter todas as despesas, e minha mãe estudando. Então a gente tinha uma ajudante. Mas acho que com 10 anos, a gente já começou, um pouco menos até, começava ajudar nas tarefas de casa. Minha irmã mais velha, ela é muito rígida nisso. Então ela já distribuía as tarefas, tinha até tabela de dia, que cada um fazia qual tarefa. E todo mundo ajudava nos cuidados com a casa. Limpara o quintal, varrer o quintal, lavar a louça, todo mundo tinha que ajudar.
13:25
P/1 – Quais foram as escolas que você passou Cyntia, durante esse período em Goiânia?
R – Eu iniciei no Educandário Paranaíba, hoje nem sei mais como chama. Mas é os primeiros anos escolares e depois fui para outra escola, que chama Instituto Araguaia, que também era uma escola bastante conhecida em Goiânia, era uma escola partículas, hoje ela não existe mais. Mas que era bastante tradicional em Goiânia. Tanto eu, quanto as minhas irmãs, estudamos todo o nosso ginásio, hoje eu nem sei mais como se chama. O ensino fundamental nessa escola. Aí depois que eu terminei o ginásio não, o primário. Quando eu fui entrar para o 5º, 6º, 7º e 8º ano. Eu fiz uma seleção para uma escola, que era do estado, conveniado com a radiação espírita do estado de Goiás. E fui selecionada e comecei a estudar nessa escola, que se chama Instituto Educacional Emanoel. E uma escola que existe ainda hoje em Goiânia, também tem um ensino de boa qualidade. Depois que eu terminei o ensino fundamental no Emanoel, eu fiz o segundo grau, o 1º, 2º e 3º ano, no Colégio Santo Agostinho, que é um colégio também famoso, particular, bastante conhecido aqui, que ainda existe até hoje. Ai eu conclui o meu ensino médio, e fiz dois vestibulares. Como meus pais sempre me deram estudo de qualidade, em escolas particulares, e sempre se esforçaram muito para que a gente pudesse estudar em boas escolas. Eles exigiam que a gente fizesse uma faculdade publica. Então eu prestei dois vestibulares, fiz um vestibular no Templo Federal de Educação tecnológica, que na época era o CEFET, hoje ainda existe mais como instituto federal. E fiz na universidade Federal de Goiás. Na Universidade Federal de Goiás, eu não fui aprovada, na segunda fase. E eu fui aprovado no CEFT, no curso de Gestão Ambiental. E ai eu fiz o curso de Gestão Ambiental, por 3 anos, que é um curso de tecnologia, no CEFET. E quando eu conclui, voltei a fazer vestibular para Direito na UFG, eu fui aprovada. E ai eu conclui a minha graduação em direito, na UFG. No Campus da cidade de Goiás, que é uma cidade do interior aqui também.
16:49
P/1 – E Cyntia, quando foi que você colocou uma ideia na cabeça e falou: quero ser isso aqui? Ou eu quero cursar esse curso? Como é que foi essa decisão?
R – Desde criança eu achava que eu queria ser, não sabia nem o que era o cargo, queria fazer direito, porque eu queria ser juíza ou promotora. Porque eu via nos filmes e achava tudo muito legal. E aí, como eu sempre fui, gostei muito de meio ambiente, gostei de estar num lugar agradável. Queria fazer alguma coisa que eu pudesse defender o meio ambiente. Por isso, quando eu prestei vestibular, eu fiz opção pelo curso de direito e curso de gestão ambiental, que eu pretendia fazer os dois. Não consegui fazer os dois simultaneamente. Mas depois que eu conclui um curso, eu fui fazer o outro.
18:01
P/1 – Durante as escolas que você teve o fundamental, o médio, teve algum professor que te marcou? Ou alguma situação que marcou a sua vida?
R – Agora eu me lembrei, você falou, eu lembrei até o nome da professora de português, do ensino fundamental, no Instituto Educacional Emanoel, chamava Esmeralda. Professora Esmeralda, foi minha professora de português. Eu gostava bastante de escrever, de fazer redações, a gente tinha até um livro de redações. Eu acho que os meus pais tem até hoje, o livro com as redações que a gente escrevia. Eu acho que é uma das melhores lembranças do meu tempo de escola.
19:02
P/1 – E tem alguma coisa na sua infância, na sua adolescência, que você acha que foi fundamental para a tua vida? Alguma coisa que aconteceu, alguma história que você lembra mais?
R – Acho que algo que me influenciou, talvez, de gostar tanto, de querer fazer alguma coisa na área de meio ambiente. Talvez pelos passeios que a gente fazia, sempre com o meu pai, ele levava a gente para explorar algumas coisas, e fazer algumas aventuras na mata. Eu acho tudo isso, diferente do que a gente estava acostumado, era muito legal e me empolgava. Então talvez por isso eu tenha me interessado em seguir pela área ambiental.
19:58
P/1 – Como é que foi a faculdade? Como que era o curso? Você teve que sair de casa ou não?
R – Na primeira graduação que eu fiz, eu era muito nova, eu entrei com 17 anos. Então para mim tudo era diferente. Primeiro que eu comecei a estudar a noite, nunca tinha estudado a noite. E entrei num faculdade mesmo, tinha vários cursos, era tudo diferente. E foi assim, marcante, eu fiz amizades que eu levo comigo até hoje. São minha melhores amigas. Foi as que eu fiz durante o curso no CEFEST, durante esses 3 anos. Mas eu era muito nova, não sabia muito bem o que eu queria, o que eu ia fazer da vida. Terminei um curso de 3 anos, com 21 anos eu estava formada, e não sabia o que eu ia fazer, o que eu poderia fazer com aquele curso, com aquele diploma. Até porque era um assunto ainda na época muito novo, Gestão Ambiental, ninguém sabia o que significava, para que serviria. Então eu resolvi fazer um outro curso, que era o curso que eu sempre pensei, desde a infância, para que eu pudesse ter uma referência maior, outras oportunidades de trabalho também mais convencionais no mercado.
21:31
P/1 – E o direito te abriu essas portas, você acha? Você conseguiu alinhar uma coisa a outra?
R – Sim! Foi fundamental! Era uma época que ainda, a formação em alguns cursos tradicionais, faziam diferença, hoje nem tanto. Mas com certeza fez muita diferença na minha vida, ter um diploma de direito. Foi com esse diploma que eu ingressei em Furnas, que eu pude presta o concurso em Furnas. E eu tive a oportunidade de sair de casa também, poder fazer a faculdade em outra cidade. É uma cidade aqui próxima, uma cidade histórica, é muito bonita. Então eu pude viver coisas muito legais, muito interessantes também. Morando sozinha e aprendendo a me virar um pouco também.
22:33
P/1 – Como é que foi sair de casa, fazer tudo por conta própria. Como e que foi essa experiência para você?
R – Pra mim foi ótimo! Acho que foi uma das melhores decisões que eu tomei na vida. Para os meus pais, eu acho que eles ficaram um pouco assustados. Eu fiz até escondida a opção pelo curso, em outra cidade, porque acho que eles não iriam concordar. Aí no dia que eu fui mudar para a cidade, foi uma choradeira a viagem inteira. E aí eles me levaram para uma pensão, para morar com a dona da pensão. Era um hotel simples na cidade, tinha os quartos para os hospedes, mas eu morava na casa da dona da pensão, junto com ela. Mas foi ótimo, eu convivia com a família dela toda, então tinha praticamente uma família, era como tivesse convivendo com a minha família lá. Tinha os meus colegas de faculdade, uns moravam lá, nessa mesma pensão, mas tinha os quartos deles lá, separados. E depois eu acabei indo para um republica de meninas, e também foi uma experiência fantástica. A gente tinha que cozinhar, limpar, e fazia as peças também, logico.
23:58
P/1 – Como que foi quando você começou a namorar?
R – Meu pai sempre foi muito ciumento, até porque eram só mulheres, 3 filhas. Ele já era ciumento com a minha mãe, ainda é até hoje. E com as filhas não era diferente. Então para a gente era muito difícil. Todo mundo praticamente namorava escondido. Então eu fui começar a namorar mesmo, quando eu já estava na faculdade. E namorava assim também, não apresentava para a família, namorava, mas namorava longe dos pais. Só depois que eu já estava na faculdade, quando eu conheci o meu atual esposo, que já era um namoro mais sério, que eu apresentei para os meus pais. E deu certo, e hoje eu sou casada com ele. Começou na faculdade, ele não era meu colega, mas é irmão de uma colega minha, que estudava comigo no CEFET, no curso anterior. Então a gente se aproximou e estamos juntos até hoje.
25:22
P/1 – Você tinha quantos anos quando você conheceu ele?
R – Eu tinha 22 para 23 anos.
25:37
P/1 – Durante a faculdade de direito você teve que estagiar?
R – Durante a faculdade de direito a gente tinha que fazer estágio, tinha um estágio obrigatório. Mas como era cidade de interior, muito pequena, não era tão fácil conseguir estágio. Tinha uma única faculdade, que era a faculdade de direito, então era bem concorrido os estágios. Mas eu fiz 2 estágios, lá na cidade Goiás, trabalhei num escritório de advocacia, com uma advogada que hoje é minha amiga, que mora em Portugal, foi pra lá advogar. Mas assim, com quem eu aprendi muitas coisas, não só da advocacia. E depois fiz um estágio também na vara do trabalho, lá na cidade.
26:34
P/1 – E você terminou direito você tinha quantos anos? Você já tinha perspectiva que ia trabalhar em algum lugar, o que você pensava nessa época?
R - Quando eu terminei a faculdade de direito, eu já tinha 25 anos. Assim, já era uma idade avançada perto dos meus colegas, que a maioria eram mais jovens, que estava fazendo o 1º curso, entraram na faculdade com 16, 17, 18 anos, então formaram mais novos. Então eu já tinha cobrança maior, para eu entrar logo no mercado. E aí foi um período difícil, que eu não sabia muito bem o que eu ia fazer, não tinha uma carreira ainda definida. E eu resolvi estudar para concurso. Eu casei logo no ano seguinte, 1 anos depois de formada. E combinei com o meu esposo, na verdade ele propôs que eu continuasse estudando, por um período de dois anos, ele já trabalhava, ele já era servidor público. Que eu continuasse estudando, por dois anos, que se eu entrasse em algum concurso ótimo, se eu não entrasse, eu começaria advogar. E aí logo depois que eu formei, no ano seguinte, apareceu o concurso de Furnas. Uma amiga, que o esposo dela já trabalha na empresa, numa empresa do setor elétrico, falou: vai ter o concurso de Furnas e tem vaga para advogado em Aparecida de Goiânia, que é a cidade aqui do lado. E como eu estava fazendo todos os concursos que apareciam na época, eu falei: vou fazer! Aqui, melhor ainda. E eu fiz, sem nenhuma expectativa, não sabia muito bem nem o que era que eu ia fazer, e fui na sorte e deu certo. Eu fui aprovada e bem colocada e acabei ingressando aí em Furnas em 2011.
28:50
P/1 - Demorou algum tempo entre passar no concurso e te chamarem?
R – Foi, demorou! Demorou, mas eu não esperei muito não, porque eu já entrei logo com ação judicial. Como eu estava classificada dentro da quantidade de vagas, e a gente tinha na época um problema de contratar, de terceirização, e eu já tinha conhecimento desse assunto, e tinham várias ações judiciais. Eu ingressei também com uma ação, e fui chamada por ordem judicial. Mas depois de muitos anos, meu processo... Eu ganhei a ação, fui contratado normalmente. Mas depois de muitos anos eu fui convocada no concurso, em função de outra decisão judicial, que era para convocar todos os aprovados. E aí eu fui convocada, mas eu já estava lá efetiva. Só que eu adiantei um pouco a ordem das coisas.
29:57
P/1 – Cíntia, você então entrou, como é que esse processo? Se você puder contar para gente. Passei no concurso, e aí o que fazem, a empresa entre em contato, ou fala para você se apresentar em qual lugar?
R - Eles entraram em contato comigo, até porque foi por uma decisão judicial. Então o pessoal do RH, que em Goiânia, aqui na época, era o Júlio, uma pessoa excelente, que me ajudou muito. E eles entraram comigo, para que apresentasse a documentação na empresa, minha documentação para eu ser contratada, para assinar um contrato. Então eu fui em Furnas, com a minha mãe, na época eu nem dirigia ainda, não tinha carro, nem dirigia. A empresa fica em outra cidade, a gente tem que pegar rodovia, então um pouco afastada de Goiânia. Fui junto com a minha mãe. O Júlio conseguiu toda minha documentação, encaminhou para o Rio de Janeiro, para a sede, e foi me apresentar o meu gerente, o meu chefe, o local que eu iria trabalhar. Fiz a entrevista com meu chefe, junto com a minha mãe, minha mãe do lado. Era o meu primeiro trabalho, eu era recém-formada, não tinha experiência nenhuma, mas tive a sorte de ir para uma área, que era uma área que eu gostava muito de estudar na faculdade. Então assim, eu já tinha uma certa afinidade, que era área fundiária de Furnas. Não tinha muita noção do que eu ia fazer, como advogada, mas era uma matéria que eu tinha uma certa afinidade já, desde a faculdade. E no começo não foi fácil para eu me adaptar, em relação aos meus colegas, tinha uma certa desconfiança, de quem estava entrando. E foi um pouco difícil os primeiros anos, mas até porque eu não tinha experiência nenhuma. Mas aos poucos eu fui aprendendo, fui me adaptando, e hoje eu acho que já aprendi muita coisa dentro de Furnas.
32:16
P/1 – Como é que foi essa entrevista que estava a sua mãe do lado? Ela falou também?
R - Ela falou! Como sempre, da mesma forma que ela me levou para faculdade, ela fez milhares de recomendações. Ela fez aquele papel de mãe, me elogiou, que eu era muito estudiosa, muito dedicada, que não tinha experiência, mas que eu aprendia muito rápido, fez aquele papel de mãe. Mas depois, eu falei, que vexame, você vai fazer sua entrevista de trabalho com a sua mãe. Mas depois eu tive a oportunidade de entrevistar algumas estagiarias, para trabalharem comigo, estagiarias de direito. E aí algumas foram com a mãe. Eu falei, nossa que legal, quando eu vim trabalhar em Furnas, minha mãe também veio, fazer recomendações. Porque é uma empresa de engenharia, que só tem homem, e aí a mãe sempre fica desconfiada, que tem alguma coisa errada. Mas foi legal minha mãe ter ido, foi importante para mim, ter aquele apoio naquele momento. Eu acho que eu ia ficar mais insegura ainda.
33:39
P/1 - Você entrou na parte das questões fundiárias de Furnas, é isso? Você pode definir para mim, tem esse organograma, superintendência, gerência, como é essa árvore no caso?
R – Já teve várias restruturações em Furnas, então já mudou de diretoria várias vezes. Na época que eu entrei, nós éramos uma divisão regional, que é o menor nível hierárquico dentro da empresa, que era subordinado a um departamento no Rio de Janeiro, era o departamento de patrimônio imobiliário, subordinada a uma superintendência de implantação de projetos, subordinada a diretoria de engenharia, subordinada a diretoria executiva. Então era o nível mais no topo da pirâmide mesmo, a área operacional. Hoje a gente está dentro da Diretoria de administração, a área fundiária foi para diretoria de administração.
34:55
P/1 - Quais são as funções da área da gestão fundiária em Furnas? O que ela faz? Qual que é a importância dessa área?
R – A área fundiária, ela inicialmente, ela trabalhava com as questões de liberação de áreas para implantação de empreendimentos, quando tem um projeto de construção de uma usina, ou de uma linha de transmissão, a gente faz toda a parte de cadastro da população que vai ser atingida, por aquele empreendimento, faz avaliação das benfeitorias, da quantidade de terras que vai ser atingida. Para poder pagar a indenização para essas pessoas. O meu trabalho em especial era verificar essa questão da indenização dos atingidos pelos empreendimentos de Furnas. Hoje, como a gente está também, dentro da Diretoria de administração, além dessa questão de liberação fundiária para novos empreendimentos, a gente faz a gestão de todos os imóveis da empresa. Não só imóveis que estão vinculados a concessão do serviço de geração e transmissão, quanto também os imóveis administrativos. Prédios dos escritórios, tem vilas residenciais, onde os operadores da empresa ficavam instalados, a gente faz a gestão de todos os imóveis da empresa. Sejam eles vinculados a algum empreendimento, ou não.
36:42
P/1 – As terras, as subestações, as usinas, por exemplo, elas não são legalmente propriedade de Furnas, é isso? É do governo? Como é essa divisão?
R – São propriedades particulares, eram propriedades particulares, de terceiros, que em função de um estudo de utilização daquelas áreas, a gente pede uma declaração de utilidade publica. E em cima desse decreto de utilidade publica, a gente pode entrar com uma ação de desapropriação dos imóveis. E em função dessa desapropriação, que ela é obrigatória, a pessoa não pode discutir, pode discutir valores, mas ela não pode questionar que aquele terreno vai ser utilizado para uma utilidade publica. E a gente faz o pagamento da indenização, dos terrenos, de todas as benfeitorias que são atingidas, ou pela via judicial, quando a pessoa não aceita o acordo que é proposto, ou por via extrajudicial que é quando a pessoa aceita os valores que a empresa oferta para ela, de indenização.
38:06
P/1 – E quando e finalizado esse processo, como é que fica? Vamos dizer que a linha de transmissão passa pela fazenda de alguém, Furnas vai desapropriar só aquela porção onde está a linha de transmissão, e ai a posse daquela terra e de quem?
R – No caso de linha de transmissão, é um pouco diferente, porque a gente não precisa adquirir a propriedade daquele imóvel. A gente só constitui servidão sobre aquela faixa de terra, onde vai passar a linha. Então o dono do terreno, continua sendo dono do imóvel, a gente indeniza só a servidão, que aquela faixa de terra, que ele tem uma limitação de uso. Ele continua dono do terreno, mas ele não pode utilizar aquela parte do terreno para determinadas coisas, como para construir, plantação de grande porte. Ele tem uma limitação de uso do terreno, mas ele continua sendo o dono. É diferente do que acontece, por exemplo, numa usina, que a gente vai inundar uma parte do imóvel, e ai a gente tem que adquirir a propriedade dele, e paga a indenização por desapropriação, e o nome é transferido para o nome de Furnas.
39:26
P/1 – Vamos dizer que não haja nenhuma população na área. Se a terra for do estado não precisa fazer nada disso?
R – Geralmente, quando é entre órgãos da administração publica, a gente não faz o pagamento da indenização. A gente pode, inclusive, desapropria também, se for terra do estado ou do município. Mas geralmente tem um acordo, principalmente quando é linha de transmissão, uma autorização de passagem. Mas a gente pode indenizar também, entrar com ação se for necessário, se não houver essa liberação espontânea.
40:18
P/1 – Como é que foi o seu primeiro dia de trabalho? Como é que foi a sua primeira semana de trabalho?
R – Foi um pouco difícil, porque eu cheguei sem saber fazer nada, não sabia nem usara a máquina de xerox. Então eu tive que aprender praticamente tudo. E as pessoas que já estavam na empresa a muito tempo, algumas estavam em processo de desligamento, então elas estavam saindo da empresa. Realmente era uma situação bem difícil, porque estava saindo pessoas com muita experiência, e chegando gente sem experiência nenhuma. Então esse repasse de conhecimento, era muito difícil. E ai eu fui ficando quietinha ali, observando como tudo funcionava, tentando aprender ao máximo. Até que essas pessoas acabaram saindo da empresa, e eu tive que assumir aquele papel, e fui me virando, estudando. Tive ajuda também, tive apoio de muitas pessoas, que me ensinaram coisas que eu não tinha noção de como funcionava, que não é relacionado especificamente a minha área, da área de engenharia, que a gente mal entende como funciona. Tinha muita gente com paciência para me explicar. Então eu tive grandes colegas para me orientar também.
42:03
P/1 – E você se lembra qual foi o primeiro processo que você pegou na mão? Ou o primeiro processo que você teve mais participação incisiva para resolver?
R – Me lembro! Que acho que foi marcante na minha carreira. No meu primeiro ano em Furnas, a gente estava em obra, na implantação numa usina hidrelétrica, a usina de Batalha, na divisa entre Goiás e Minas. E eles me mandaram para lá, para a cidade de Paracatu, para participar do processo de remanejamento dos hipossuficientes, que é a população mais carente, que não tinha propriedade dos imóveis, mas precisavam ser remanejadas. E eu fui para lá, para fazer a avaliação da documentação dos imóveis, para a gente adquirir e relocar essas pessoas. Foi assim, um aprendizado imenso. Não foi fácil, eu tive que estudar, tive que perguntar muita coisa, mas foi uma experiência incrível e marcante para mim.
43:16
P/1 – E como é que era, teve negociação com a população. Você conheceu as pessoas, como que é essa relação?
R – Embora o meu trabalho era mais burocrático, de analisar a documentação. Eu fui a campo, cheguei a conhecer o canteiro de obras, até para visitar mesmo. E fui na casa de algumas pessoas. Eu me lembro da primeira casa que eu fui, do primeiro proprietário que eu visitei, fui junto com um colega mais experiente. Mas assim, foi interessante, porque a gente chegou, já tinha que descer para abrir a porteira, aí a gente tinha cachorro, tinha que saber se podia entrar ou não. Mas fomos bem recebidos pela esposa do proprietário, tinha até lanchinho para a gente. Então foi uma experiência bem agradável. E sempre que eu falo, a gente mantem contato com esses proprietários, até hoje, eles são vizinhos de Furnas, então a gente continua tendo contato com eles. E eles lembram de mim, lembram que eu tive lá, e eu falo: foi minha primeira visita em Furnas, foi o meu primeiro trabalho de campo.
44:52
P/1 – E como é geralmente feito esses processos de remoção, de transferência? Vamos utilizar esse caso como exemplo, como é que foi feito?
R – Esse caso, ele é bem interessante, ele era um proprietário, dono da fazenda, que foi atingido, ele foi indenizado, recebeu indenização em dinheiro, fez um acordo extrajudicial. E recebeu indenização em dinheiro. Mas além do fazendeiro, tinha os empregados da fazenda que moravam lá, como eles não tinham indenização pelas terras, somente pelas benfeitorias, e precisavam deixar o local. Eles foram enquadrados como hipossuficientes, e receberam uma casa também para que eles pudessem se deslocar. E nessa fazenda tinha um... ele não era funcionário, mas ele morava na fazenda, era uma pessoa com transtornos mentais, e não queria sair de jeito nenhum, não queria deixar o local de jeito nenhum. E ai na época a gente teve que buscar parceria com a procuradoria do município, para que ele fosse interditado, e nomeado um curador, um familiar dele, para que recebesse a indenização dele, a casa, e ajudasse a gente a tirar ele de lá. Então foi bastante difícil, porque ele não queria sair, ele queria continuar lá no local, mas ele teria que sair, porque ia ser inundada a área. E ai teve o apoio da área de assistência social de Furnas, médico de Furnas, para a gente conseguir levar ele para outra casa, que ele tinha recebido como indenização. E hoje ele está morando nessa casa, é cuidado por um familiar, que também foi remanejado por Furnas. Então ele vive em condições um pouco melhores, mas talvez não seja para ele melhor do que ele estava antes, porque ele tinha todo o vinculo com aquele local lá que ele já morava.
47:11
P/1 – Como é que você vê o trabalho de Furnas quanto a isso? A essa preocupação com o cuidado com as pessoas? Como que é o procedimento de contato com elas?
R – Esse contato, esse cadastro... desde o cadastro dessa população, ele é todo feito... era pelo menos numa época anterior, que a gente tinha uma equipe bem grande. Era feito pela área fundiária de Furnas. Então a gente acompanhava toda a história da pessoa, desde o cadastro, os dados pessoais, identificação dos bens da pessoa ali, fazia um relatório fotográfico, fazia toda a negociação de indenização, a avaliação dos bens. Então ele era todo feito pela área fundiária de Furnas. E era uma relação bem próxima, tanto que tem colegas que conhece as pessoas pelo nome, fala, fulano de tal, “eu sei onde ele mora”. Conhece a família. Você acaba criando um vinculo com aquelas pessoas. E Furnas sempre teve essa preocupação, de fazer um trabalho bem feito, não só a questão da indenização, porque ela é uma questão legal, ela é devida por lei. Mas tem os trabalhos da área de comunicação social, que acompanha essa população, tem os programas ambientais, então tem todo uns requisitos que a empresa precisa cumprir também, pelos órgãos de fiscalização. Fora as ações sociais que a empresa desenvolve mesmo, com essas comunidades.
49:09
P/1 - Você pode me contar um pouco mais sobre esses projetos de responsabilidade social? Você já viu sendo implantado ou participou de algum projeto cultural, junto a alguma comunidade, Cíntia?
R - Eu mesmo ainda não tive oportunidade de participar ativamente de algum projeto da área social, agora eu estou começando a participar do Influenciadores de Furnas, saindo um pouco da minha da minha área, porque a minha área, a área fundiária, ela fica limitada a questão de indenização mesmo, os pagamento de indenização e remanejamento da população. Essa parte de acompanhamento de ações sociais é um outro departamento já vinculada à presidência da empresa. Mas sempre que eles vão fazer algum trabalho com essa população, como a gente já tem um cadastro deles com dados pessoais, endereço, telefone e um vínculo criado ao longo de anos de negociação, eles sempre nos convidam para participar também. Mas eu infelizmente, não tive muita participação ainda nas ações sociais, pretendo ter agora com um outro projeto de Furnas, de regularização de uma vila Residencial, aqui em Caldas Novas.
50:51
P/1 - E você imaginou, quando você entrou em Furnas, que você ia sair do escritório, ia... como é que era isso?
R - Nunca imaginei! Porque eu fiz o concurso para o cargo de advogada e achava que eu ia mexer com processo. Então, eu não tinha ideia do que eu ia fazer. Quando me chamaram para viajar, você vai para Paracatu, fazer esse trabalho. Falei, nossa o que eu vou fazer lá? Mas me encantei, eu acho que eu não poderia ter ido para local melhor, eu acho que essa convivência com profissionais de outras áreas, me enriquece bastante, talvez se eu trabalhasse só com os advogados, talvez eu não teria aprendido tanto. E assim, sou suspeita para falar da minha área, mas eu gosto muito. Já tive oportunidade de trabalhar em outras áreas da empresa, mas ainda não me convenceram de que seria melhor.
52:03
P/1 - Como é que foi o fim desse processo, deu tudo certo?
R - Deu tudo certo, com esse hipossuficiente, até não tive mais contato, não sei como ele está hoje. Agora com o proprietário do imóvel, a gente tem contato frequente, porque ele tem área remanescente, ali próximo ao reservatório, ainda tem algumas pendências de regularização junto do imóvel, junto com Furnas. Então a gente tem mais contato frequente, agora em relação ao hipossuficiente eu não tenho notícias de como está a situação dele hoje. Eu sei que Furnas deu todo apoio, inclusive ele tem uma aposentadoria, ele conseguiu uma aposentadoria, assistência médica. Coisas que ele não tinha, porque ele vivia praticamente isolado lá. E a gente forneceu bastante estrutura, para que ele tivesse uma qualidade de vida melhor.
53:13
P/1 - E como é que é feito o cálculo com relação a indenização ou algum outro auxílio? Você tem uma tabelagem, ou tem que analisar caso a caso, como é que esse processo?
R – É analisado caso a caso, mas existe uma metodologia de avaliação. Também nem sabia que existia uma área da engenharia, que chama engenharia da avaliação. Então tem o engenheiro civil, para área urbana e o engenheiro agrônomo que faz avaliação de áreas rurais. E tem uma tabela de valores, toda uma metodologia técnica para valorar esse patrimônio, tanto as terras, quando as benfeitorias. Então tudo, desde uma casa, até uma plantação, um pé de alface, é calculado, na indenização. E a gente apresenta esse valor para a pessoa, para o atingido, se ele concordar, a gente faz o pagamento da indenização a vista, em dinheiro. Se não concordar, ai vai para ação judicial e o dinheiro fica depositado em juízo, até que seja definido o valor da indenização justa.
54:38
P/1 – Depois de Paracatu, você designada para que processo? Teve algum que te marcou depois também?
R – Depois que terminou Paracatu. Paracatu foi a ultima usina hidrelétrica construída por Furnas. E ai eu comecei a trabalhar numa linha de transição, que e a linha Xavantes Sireneus, que também é aqui próximo de Goiânia para Anápolis. Também foi um aprendizado enorme, foi o meu primeiro projeto de linha de transmissão. Que a gente fazia a liberação da faixa, nesse caso a gente tinha que negociar só a servidão. E ai tinha contato com os proprietários, porque a maioria dos casos a gente ia para o cartório lavar a escritura, a indenização e paga com cheque, ali na hora que assina a escritura. Então a gente tinha esse contato com os proprietários, mas já estava tudo negociado. Já tinha uma equipe anterior que fazia o levantamento, a avaliação e a negociação. O meu contato maior é na hora de fazer o pagamento da indenização, que era feito em cartório por escritura pública. E depois desse projeto, eu participei, agora por último, de outro também, bastante interessante e enriquecedor para mim, que foi o complexo eólico de Fortim. Também foi meu primeiro Parque Eólico. É o primeiro Parque Eólico de Furnas, construído por Furnas, por uma subsidiaria de Furnas. E aí, totalmente diferente também, do que eu estava acostumada a fazer. Fui para o Ceará, um parque eólico que fica na cidade de Fortim, no interior do Ceará. Tive contato também com alguns proprietários, acompanhando alguns colegas na casa deles, para fazer negociação e ofertar o valor da indenização. Mas a minha participação maior, era também só na documentação, na análise de documentação. A minha parte é a mais burocrática.
56:55
P/1 - E qual que é a diferença, então na no processo de uma usina, de uma linha de transmissão e de um de um parque eólico? Você falou que um pouco diferente, qual é essa diferença?
R – No parque eólico, já não tem a questão de desapropriação, e você não precisa passar aquela propriedade para o nome da empresa, da concessionária. Você faz um contrato de comodato, para usar, para instalar os postes com aerogeradores no terreno da pessoa. Então você paga ali mensalmente ou anualmente o valor para usar uma parte do terreno dela. E aí tem a questão da linha de transmissão, subestação também, são vinculadas ali, aquele parque gerador. Que aí segue um procedimento mais parecido com a questão da desapropriação, para subestações e a servidão para linha de transmissão.
57:58
P/1 – Cíntia, como que é uma negociação geralmente, você disse que acompanhou algumas. Você acha que tem muita tenção? É difícil, é fácil chegar num acordo, chegar num valor? Como é que essa parte?
R – Não é fácil! Acho que o papel dos negociadores é o mais difícil. Primeiro porque tem que chegar, assim, não vai logo tocando no assunto, no dinheiro. Você tem que tentar conhecer a pessoa, tomar um café na casa dela, ver quais são as reclamações dela em relação ao empreendimento, ou até uma curiosidade mesmo em relação ao que está sendo construído. E em relação a negociação em si, é muito difícil, pelo fato da gente ter uma empresa estatal, a gente não tem liberdade de negociar valores. A gente tem laudo de avaliação, ele é aprovado ali com o valor justo, dentro da metodologia técnica. E a pessoa tem que aceitar aquela oferta, o que a gente está oferecendo. Se ela não aceitar, a gente vai explicar para ela as desvantagens de um para um litígio, para uma ação judicial. E como tudo tem prazo, é cronograma de obra, é realmente uma pressão muito grande ali para o negociador, porque ele precisa fechar aquele acordo ali, o mais rápido possível. Para liberar a área, para quem está na construção do empreendimento, poder passar por aquele imóvel. Então é uma pressão muito grande em cima do negociador.
59:44
P/1 – Pelo que você vê, contabiliza, você acha que está tendo mais litígio ou mais acordo? Ou do que você já ouviu falar da empresa de anos antes de você entrar, ela conseguiu resolver mais ou teve que entrar mais em litígio? Como é que é esse saldo você acha?
R - Eu acho que é mais favorável para o acordo. Geralmente uma média de 60 a 80%, de acordo extrajudicial. E o litígio tem a desvantagem, tem ações que estão lá a 10, 20 anos correndo. E a pessoa consegue levantar só uma parte do valor, e fica em discussão judicial por um longo período.
1:00:30
P/1 - Imagino que ainda vai pagar os advogados por um bom tempo.
R – Fora os honorários e todos os desgastes que tem, com um imóvel que fica numa situação irregular, ele não pode vender. Toda documentação do imóvel, até para um financiamento, fica em condição irregular.
1:00:53
P/1 – A questão de negociação e de transferência, como é que ela se dá, quando o caso não é um proprietário ocidentalizado, não é uma comunidade tradicional, comunidade quilombola, indígena. Como é que é feito nesses casos?
R – Esse caso também tem muitas vezes um programa ambiental associado, tem até uma condicionante de um órgão ambiental, para dar um tratamento especifico para essa comunidade. A gente tem casos de... Comunidade Quilombola que eu me recorde, dentro da minha área de atuação, eu não vi nenhuma. Tem de muita área indígena. A gente teve aqui na usina de Serra da Mesa. Até hoje a gente acompanha um programa com a FUNAI, com os índios Ava Canoeiro, aqui em Goiás. E tem muito assentamento do INTRA também atingido. E ai já entra um acordo mais institucional, envolve outros órgãos, como INTRA, no caso das áreas indígenas, a FUNAI. A gente acaba fazendo o acordo com algum órgão representante, não diretamente com a população.
1:02:23
P/1 – E como é que é o caso dos imóveis, dos prédios mesmo de Furnas, não só das terras. Como é que vocês trabalham com eles? Já deu muita dor de cabeça, lhe dar com esse patrimônio?
R – Muita dor de cabeça. Eu estou trabalhando com esse assunto a pouco tempo, agora que a gente foi transferido para a área, para a diretoria de administração. Mas a gente percebeu que tem assim, muito trabalho pela frente. São muitos imóveis da empresa, até porque uma empresa que tem propriedades no país inteiro, de norte a Sul. Tem as vilas residências, que eram vila implantadas durante a ação do empreendimento, para que os operadores pudessem morar ali próximo, e que hoje são utilizadas, não por pessoas da empresa. Algumas delas até com invasão, utilizadas por terceiros. Que a gente precisa dar uma destinação, o uso correto para esses imóveis. E também formalizar tudo isso. A questão de uso, ou um aluguel, ou um comodato. Então a gente está trabalhando nesse sentindo agora, de dar uma destinação, até mesmo fazer a venda desses imóveis.
1:03:47
P/1 – O seu departamento está cuidando de todo patrimônio de Furnas nacionalmente, ou mais na região centro-oeste?
R – Nacionalmente! Porque na ultima reestruturação de Furnas, todas as nossas divisões regionais, que eram 4. Uma no Rio, uma em Goiás, uma em Minas e São Paulo, elas foram integradas numa divisão só. Então hoje nos somos um departamento só, que cuida de todas essas áreas.
1:04:31
P/1 – Quanto tempo em média, dura um processo de avaliação, de transferência das pessoas? Quanto tempo, mais ou menos, dura esse processo inicial? E quanto tempo dura especificamente para você?
R – Depende muito do empreendimento, da localização e o grau de dificuldade que você vai encontrar ali. Mas geralmente tem o cronograma de obra. E a gente tem que trabalhar dentro desse cronograma. E muita das vezes, a culpa do atraso, fica para o fundiário que não liberou a tempo. Então a gente tem que trabalhar contra o tempo. Porque é um trabalho extenso, você começa assim, geralmente dois anos antes da construção do empreendimento. Porque você tem que cadastrar a população, tem que identificar quem são os donos dos imóveis, se ele tem documentação, se a documentação está regular ou não, para você poder pagar a indenização. Fazer a avaliação. Então são uma série de etapas que você tem que cumprir, até chegar a fase de regularização desse imóvel em nome de Furnas. Mas para fim de implantação do empreendimento, o que importa para eles e que a gente libere a passagem por aquele terreno. Se a gente indenizou ou não, ou se a documentação está irregular ou não, para a área de construção, não tem importância. A gente que depois tem que resolver esse problema, que pode ficar ai, 10, 20 anos pendente. E ai liberou para construção seguir, a gente continuou o nosso trabalho ai, por muitos anos ainda.
1:06:44
P/1 - A sua área, pelo que eu entendi, pela data que você entrou, estava voltada para esses processos de construção e agora que não tem mais tantas construções, está voltada para o patrimônio já constituído da empresa, é isso?
R – Isso! Como hoje a gente não tem mais tantas obras, implantações de novos empreendimentos, a gente está trabalhando mais, a gente chama de regularização de passivo. São imóveis que a gente já tem na empresa e que precisam regularizar documentação no cartório, na receita federal. Fazer contratos de uso do imóvel. Então é um trabalho maior, e que tem um passivo imenso. Porque em época de obra, de construção, tudo corre ali muito rápido e vai ficando um trabalho grande para trás. E eram muitas obras, uma obra atrás da outra, e ia ficando aquela questão de regularização de imóveis pendentes, para a gente poder começar um novo trabalho ali, de uma outra obra. Então agora a gente está buscando regularizar tudo isso que ficou para trás, até para a gente poder vender alguns imóveis da empresa.
1:08:15
P/1 – E você tem pendências de que anos, por exemplo? Lá atrás mesmo?
R – Tem pendências de épocas que eu nem era nascida. Tem processos que a gente pega a documentação física, a gente ainda tem um arquivo físico muito grande, que tem documentos datilografados, que às vezes já estão até perdendo a leitura, já esta ilegível, está desgastado mesmo, pelo tempo. Tem coisas da década de 80, que ainda não está com a situação regular. Da Usina da Serra da Mesa, por exemplo. Então tem muita coisa ainda pendente. Que quanto mais tempo passa, mais difícil se torna a solução.
1:09:10
P/1 – Mais uma vez correndo contra o tempo aí?
R – Sim! A gente está constantemente trabalhando sobre pressão e sob demanda, porque a demanda da empresa, ela muda muito rápido, o foco muda muito, dependendo da administração que chega.
1:09:35
P/1 - Qual projeto empreendimento você acha que foi mais marcante para você? Qual processo te marcou mais, foi mais desafiador na sua opinião?
R – Acho que o primeiro, o da Usina de Batalha, porque foi a minha primeira experiência na empresa. Logo assim, construção de uma Usina Hidrelétrica, eu não sabia nem como funcionava, todo o processo. Não conhecia quase ninguém dentro da empresa, então até para fazer contatos com os departamentos, era tudo muito difícil. A gente tinha um escritório na cidade, que era uma casa alugada, tinha pouca estrutura, a gente não tinha nem acesso a rede coorporativa. Então se eu precisasse de um documento eu tinha que ligar, pedindo para um colega enviar por e-mail. Era tudo bem precário, que me levou até a questionar se eu estava no lugar certo, o que eu estava fazendo ali. Mas aos poucos eu fui percebendo que eu acho que eu estava no lugar certo sim.
1:10:44
P/1 – Você lembra a primeira vez que você foi em uma Usina, numa subestação, ou em alguma linha de transmissão, para ver essas outras dimensões da empresa. Você se lembrar como foi?
R – Eu conheço muito pouco. Mas no meu primeiro ano na empresa, eles fizeram... Talvez a Daniela se recorde, um programa chamado Dupini, que é um programa de integração dos novos empregados. Que eles reuniram todos os novos concursados da empresa, no Rio de Janeiro. A gente conheceu a sede de Furnas, o escritório central, e a gente fez uma visita técnica na Usina de Funil, que foi a primeira usina que eu vi, no dia que a gente estava lá eles até abriram o vertedouro, a gente tirou foto lá naquela água toda correndo, foi bem legal. E a gente teve oportunidade também, de conhecer pessoas de todas as áreas, do país inteiro.
1:11:55
P/1 – Como é que você vê os funcionários de outras áreas, na área de campo. Qual que é a sua visão sobre eles? Sobre essas pessoas de outras áreas?
R – E extremamente importante esse contato, com mais tempo na empresa a gente vai percebendo o tamanho da estrutura de Furnas, quantos departamentos diferentes existem. E quanto mais contato você tem da empresa, mais fácil torna o seu trabalho, você vai entendendo o que acontece em outras áreas. E graças a Deus eu tive, tenho, um bom relacionamento com todas as áreas, principalmente aqueles com quem eu trabalho com mais frequência. Até porque quando a gente vai a campo, a gente conhece pessoas de todas as áreas de Furnas, da área de engenharia, da área de administração. Tive também algumas vezes no escritório central. E essas pessoas são fundamentais, porque cada área de Furnas é um pedacinho ali do negocio da empresa. Ninguém faz nada sozinho, uma coisa que eu aprendi em Furnas. Eu não consigo fazer nada dentro de Furnas sozinha. O meu trabalho dentro de Furnas é uma formiguinha. Então tudo que a gente faz vai para outro departamento, vai para outro, para outro, par poder juntar tudo e chegar num resultado. Então não tem como a gente trabalhar sozinho dentro de Furnas.
1:13:49
P/1 - Você pode contar um pouco da história de algum funcionário que te marca, que te marcou durante esses seus 10 anos? Te marcou por qualquer motivo que seja. Na sua carreira, ou no dia a dia, no trato?
R – Tem algumas que me marcaram. Não são poucas não, com certeza acho que todo mundo ensina alguma coisa para a gente. Mas eu tenho uma pessoa que eu tenho muito carinho, que é o meu ex gerente, com quem eu aprendi muita coisa, que sempre me deu muito apoio, e confiou no meu trabalho. Que é o Jesne Cardoso Filho, ele é engenheiro civil, era o gerente da minha divisão aqui em Goiânia, uma pessoa que trabalhou a vida inteira na área fundiária. Ele tem, acho que mais de 20 anos de Furnas, sempre trabalhando na área fundiária. Então ele me ensinou muita coisa, inclusive na área de gestão também. Eu tive oportunidade de trabalhar como substituta dele, ele me convidou para ficar na substituição dele, e me deu todo apoio. Eu não tinha assim tão bem experiência. E ele confiou no meu trabalho. E muito do que eu sei, eu aprendi, eu devo a ele.
1:15:41
P/1 – E como é a sua relação com as pessoas mais novas que você na empresa?
R – É ótimo! Eu acho muito bom receber pessoas novas na empresa. Eu acho que precisa estar renovando as nossas forças, não só de trabalho de estagiário, tem também os jovens aprendiz. Eu trabalhei com alguns. E sempre muito bom ter o pessoal mais jovem, a gente acaba aprendendo muita coisa. As estagiárias e que me mantinham sempre atualizada, com as questões do direito, porque muitas vezes a gente começa estudar coisas diferentes, e vai perdendo aquele foco. Então eu estava ali sempre me atualizando com elas. Os jovens aprendiz também, me marcaram bastante, a gente poder passar um pouco do que a gente sabe para outras pessoas, é muito importante. E eu faço questão de compartilhar o que eu sei, porque o que eu sei eu aprendi lá. Então eu tenho que passar isso para outras pessoas também. Não é fácil, é um conhecimento que vem de muito tempo, de muitos anos, de quem trabalha na empresa a muito tempo. A gente precisa compartilhar, e eu faço questão, de tudo que eu sei, de tudo que eu aprendo, eu tento passar para as outras pessoas e para os meus colegas que chegaram depois de mim.
1:17:14
P/1 – E como tem sido sua trajetória dentro da empresa?
R – Na verdade eu nunca mudei de departamento. Desde que eu entrei eu estou na área fundiária de Furnas. Já fui convidada para trabalhar em outras áreas regionais, dentro da área fundiária. Mas não cheguei num acordo com o meu esposo de sair de Goiânia, vamos ficar aqui mesmo. E tive oportunidade de trabalhar no departamento jurídico, porque é a minha área fim, só que eu acho que eu não ia ficar tão feliz. Acho que não ia ter um trabalho tão divertido, e diversificando, quanto o trabalho que eu faço. Um trabalho mais burocrático, não tem tanta novidade, quanto tem dentro da área fundiária, que todo dia aparece algo diferente. É um desafio diferente.
1:18:23
P/1 – E até hoje você tem que viajar para alguns lugares? Você vai visitar essas vilas, por exemplo? Você tem ido a campo também?
R – Desde que começou a pandemia, não sai mais, está restrito as viagens. Tem alguns colegas que faz viagem de campo, quando é necessário. Mas eu viajei muito durante o tempo de obras, enquanto estava em construção, que a gente tinha ali um cronograma para cumprir, eu viajava com mais frequência. A última viagem que eu fiz foi em 2019, durante a construção do Parque Eólico de Fortim. Fui por duas vezes, fiquei 15 dias, 1 mês fora, lá me Fortim, no Ceará. Mas é bom, é bom você sair do escritório, desse ambiente formal, eu acho muito legal. Faço questão de ir quando é possível.
1:19:29
P/1 – Cyntia, como você vê a fase atual da empresa? Você tratou também da mudança do escritório central?
R – Estamos passando por um momento bastante delicado, principalmente para nós colaboradores, um momento de incerteza, em relação a nossa estabilidade na empresa. Mas acho que precisa de algumas mudanças mesmo, que elas são importantes, são necessárias. Essa inovação nos processos mesmo. Em relação a mudança da sede, eu não participei diretamente, porque eu estou localizada em área regional, mas a gente está participando da questão da alienação desses imóveis, os prédios foram desocupados e vão ser colocados a venda. Dentro de um projeto de parceira que a gente está fazendo, para alienação desses imóveis.
1:20:42
P/1 – O processo que está vivendo hoje, você está falando da MP, do processo de privatização.
R – Isso! Da capitalização que é algo ainda... pra gente que está na empresa, a gente não sabe ainda as consequências de fato, o que vai acontecer.
1:21:07
P/1 – Cyntia, teve alguma história que já te contaram dentro da empresa que te chamou a atenção? Alguma coisa que os mais velhos te contaram, que te impactou?
R – Tem uma história interessante, que eu ouvi, no banheiro feminino, mas que eu não lembro exatamente quem contou, disse que algum tempo atrás, e que existe ainda, alguns prédios em Furnas, que não tem banheiro feminino. Por ser uma empresa de engenharia, a maioria dos empregados são homens, que alguns prédios, quando tinha alguma mulher, ela tinha que usar o banheiro masculino. Porque não tinha um banheiro feminino, um vestiário só para mulheres. Gente, como as coisas vão mudando com o tempo, né? Hoje a gente tem muitas mulheres na empresa, duas gerentes minha são mulheres. Eu acho que a situação já mudou bastante, esse perfil ai da empresa.
1:22:23
P/1 – Cyntia, como é que você vê o futuro da sua área? Como o que você vê os trabalhos que você tem para o futuro? Como é que tem sido o desempenho desse trabalho de regulamentação? Quais são as suas perspectivas com relação a isso?
R – Eu acho que a demanda da área fundiária, eu acho que ela não vai terminar nunca. Não só em função desses passivos, que uma hora eles vão ter que ser resolvidos, e vão diminuindo com o tempo. Mas são questões que não são simples de resolver, envolvem várias áreas da empresa, não só a área fundiária, cada um utiliza o modo para uma finalidade, cada um tem um interesse diferente de utilização de imóvel. Precisa entrar num consenso em nível de diretoria, para dar uma destinação para esses imóveis. E espero que a gente continue fazendo liberação de áreas, implantação de novos empreendimentos aí. Que acho que um dos motivos da capitalização é aumentar os investimentos da empresa, em novos projetos. E espero que em breve a gente tenha novas obras, que eu possa participar aí da liberação desses empreendimentos.
1:24:07
P/1 – Inclusive ir para campo de novo.
R – Quem sabe um parque Eólico aí no nordeste.
1:24:19
P/1 – Você conheceu o seu atual marido com 20 e poucos anos, né? Como é que foi o dia do seu casamento? Teve cerimonia?
R – Teve cerimonia, mas uma cerimonia simples, só na igreja, porque a gente. Eu não tinha trabalho, nem nada, nenhum dinheiro para investir. Na verdade a gente nem queria fazer festa, nem queria fazer o casamento, a cerimonia de casamento. Mas meus pais fizeram questão, que a gente se casasse na igreja pelo menos. E foi bem simples, mas foi muito emocionante, acho que eu me emocionei bastante no casamento. E sou muito feliz. Tenho uma relação bem tranquila, meu marido é bastante compreensivo em relação ao meu trabalho, me apoia. No começo ele ficava um pouco chateado, por causa das viagens, porque eu ficava algum tempo fora, mas acho que ele já compreendeu. A gente tem uma relação de bastante confiança, isso não é um problema para gente não.
1:25:46
P/1 – E qual que é o nome inteiro dele? E ele é servidor publico em que área?
R – O nome dele é Sergio de Azevedo Caetano Ricalho. E ele é servidor do Tribunal Regional do Trabalho.
1:26:01
P/1 – Formação de advogado também, é isso?
R – Também é formado em direito.
1:26:08
P/1 – E vocês tem filhos?
R – Ainda não! A gente está planejando. Como eu casei, acho que nova ainda. Estava estudando para a empresa, para conseguir um bom trabalho, ou para prestar um concurso. Eu sempre fui adiando os planos da maternidade. E agora com essa possibilidade de fazer o teletrabalho, com a pandemia. A empresa está dando essa oportunidade para a gente, de ficar em teletrabalho. E aí eu tô planejando ter filhos aí, o mais breve possível. Inclusive já estou com um processo de adoção em andamento, porque tive alguns problemas para engravidar, e eu resolvi optar pela adoção, e já estamos na fila e aguardando a nossa vez.
1:27:08
P/1 - Você está desde quando nesse processo? Porque dizem que é um processo meio demorado, meu burocrático.
R – É! É bastante burocrático. Mas assim, a gente entrou no cadastro essa semana, durante a pandemia a gente fez todo o processo de forma eletrônica, deu entrada no processo de habilitação, para adoção. E foi rápido, foi tudo muito rápido. A gente encaminhou documentação tudo por e-mail, para o juizado, já fizemos o curso online mesmo, curso de preparação psicossocial e jurídica, que eles exigem. Fizemos entrevista online também, com a psicóloga. E o processo foi encaminhado para o Ministério Público, e a juíza já deu a sentença favorável, para a gente ingressar no Sistema Nacional de Adoção, no cadastro. E aí esse cadastro que a fase mais demorada, que a gente tem que aguardar na fila, até que encontre uma criança com o nosso perfil. Esse processo aí pode demorar uns 3 a 5 anos ainda.
1:28:26
P/1 – E ser mãe e para ele no caso ser pai, é um sonho que vocês tem a um tempo ou surgiu a pouco tempo?
R - Sempre foi um desejo nosso, principalmente do meu marido, que ele gosta muito de criança, e as crianças adoram ele. E que eu fui adiando, por função do meu trabalho demandar bastante. Às vezes está fora de casa, viajando. Então eu fui adiando, e agora achei que já chegou o momento também, já está na verdade quase passando da hora.
1:29:10
P/1 - E como é que está a sua família hoje? As suas irmãs, o que elas fazem hoje? O seu pai, a sua mãe? Como é que eles estão hoje?
R - Meus pais estão aposentados. Minhas irmãs moram em outra cidade. A minha irmã mais velha, se mudou para Mato Grosso, ela se casou, e mudou para o Mato Grosso, trabalha lá como biomédica, e tem duas filhinhas já. Uma de 6 anos e uma que vai fazer 6 meses agora. E a minha irmã mais nova, ela prestou concurso e trabalha na justiça do trabalho também, numa vara do interior, em Goiatuba. E lá ela conheceu um rapaz, eles vivem juntos, e ela está esperando um bebezinho também.
1:30:02
P/1 - Hoje em dia para você, como é que tem sido a pandemia? Como é que foi a recepção sobre essa notícia de que ia ter que ficar em casa e tal? Como é que foi para você, para o seu marido?
R - No começo não foi fácil, foi difícil adaptar, porque eu passava o dia todo fora de casa, passava mais tempo no trabalho do que em casa. Eu comia fora, fazia minhas refeições em Furnas, no refeitório da empresa. Então, teve que fazer bastante mudanças em casa, para começar a fazer comida em casa, adaptar os horários, a rotina. Mas com o tempo, eu fui percebendo algumas vantagens também. De estar mais tempo em casa, mais próximo da família, para mim que quero ter filhos é mais fácil de conciliar. E eu acabei optando pelo teletrabalho, eles fizeram essa oferta, de quem quisesse permanecer. E eu fiz a opção pelo teletrabalho.
1:31:21
P/1 – Cyntia, o que você pensa para o futuro da empresa? Como é que você vê daqui uns 10, 20 anos? Eu sei que é difícil fazer um prognóstico agora, mas o que você pensa que pode acontecer e ao mesmo tempo o que você deseja para o futuro da empresa?
R – Não é o que eu desejo, nem sei realmente se eu desejo ou não, mas eu acho que o processo de capitalização é irreversível, isso já vem sendo discutido a muitos anos. Desejo que seja favorável, que traga coisas boas para a empresa. Eu acho que realmente precisa de mais investimento, precisa de inovação em alguns processos. Precisa de algumas mudanças para que a gente consiga se manter no mercado, porque o setor de energia também vem mudando muito, nos últimos tempos. A gente tinha a alguns anos geração, maior parte de geração hidrelétrica, então hoje quase não se constrói mais usinas hidrelétricas. Então a gente precisa se adaptar, buscar novos investimentos em outras fontes de energia. Então eu espero que a gente se mantenha no mercado aí a muitos anos, e com todo esse legado e experiência que Furnas... Não só Furnas, mas como todas as empresas da Eletrobras tem na história do país. Porque eles construíram muita coisa já ao longo desses anos.
1:33:08
P/1 – E para você, qual o seu desejo maior? Você tem algum sonho, algum projeto? O que você deseja para o seu futuro?
R – Bom, eu pretendo ter os meus filhos em breve. Poder continuar me dedicando ao meu trabalho, não quero me tornar dona de casa, porque eu já me adaptei a esse ritmo, gosto de trabalhar, acho que é importante para a gente ter esse lado profissional também. E poder conciliar tanto a minha vida profissional, continuar desenvolvendo a minha vida profissional, com a minha vida pessoal. Poder conciliar esses dois aspectos, que para mim são fundamentais.
1:34:01
P/1 – E o que você achou de contar um pouquinho da sua história hoje para a gente, um pouquinho da história da empresa. Como é que foi?
P/1 – Achei ótimo! Acho que é um sessão de terapia, você vai recordando coisas assim que acho que a gente nem lembrava mais. A gente percebe que já teve momentos difíceis, momentos ruins, mas muita coisa boa também, que a gente já viveu. Acho que isso vocês vão ouvir de todo mundo. Muita história boa para contar. Foi uma experiência fantástica. Acho que é um projeto maravilhoso de vocês. Quero ver isso ainda lá na Usina de Furnas.
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P/1 – Tá certo! A gente que agradece você. Espero que tenha sido mesmo uma boa experiência e tenho certeza que a empresa também agradece por você deixar esse testemunho para a gente. Muito obrigada mesmo. Foi um prazer!
R – Eu que agradeço vocês gente. Bom trabalho ai! E que seja um resultado maravilhoso para todo mundo.
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