Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Fabrício Schulte Avante
Entrevistado por Tereza Ruiz
Cordeirópolis, 19 de agosto de 2014
Entrevista NCV_HV051_ Fabrício Schulte Avante
Realização Museu da Pessoa
Transcrito po...Continuar leitura
Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Fabrício Schulte Avante
Entrevistado por Tereza Ruiz
Cordeirópolis, 19 de agosto de 2014
Entrevista NCV_HV051_ Fabrício Schulte Avante
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Então primeiro, Fabrício, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – O meu nome é Fabrício Schulte Avante. Tenho 35 anos, nasci 14 de maio de 1979.
P/1 – E local?
R – Cafelândia, São Paulo.
P/1 – Agora o nome completo e, se você lembrar, a data e local de nascimento do seu pai e da sua mãe.
R – O nome do meu pai é Aldo Avante, nasceu em Cafelândia também, a data eu não to lembrado. O nome da minha mãe é Dirce Schulte Avante, eu sei a data do aniversário, é 21 de maio, o ano eu não sei. E o do meu pai é 27 de maio.
P/1 – E a sua mãe nasceu onde?
R – Cafelândia também.
P/1 – E o que os seus pais faziam ou fazem profissionalmente?
R – Bom, o meu pai desde que eu me conheço por gente ele sempre trabalhou com caminhão também. Caminhão pequeno, ele trabalhava vendendo e pronta entrega. E a minha mãe sempre foi dona de casa.
P/1 – Você diz que o seu pai trabalhava com caminhão desde que você é pequeno em pronta entreva vendendo o que assim?
R – Café. Ele trabalhava no Café do Ponto. Quando eu era menor ele trabalhou na Casas Albião lá, que é negócio de pimenta do reino, essas coisas assim. Aí depois ele entrou no Café do Ponto e ficou ali vários tempos. Aí quando fechou, ele comprou um caminhãozinho, começou a vender café de máquina expressa também, que era do próprio dono, gerente do Café do Ponto, eles compraram máquina, chamaram ele pra trabalhar, ele tinha o caminhãozinho e vendia o café pronta entrega também, pra eles.
P/1 – E aí descreve um pouco pra gente como é que os seus pais eram assim como pessoas, como eles são de personalidade, de temperamento.
R – Meu pai a gente via muito pouco, né? Era mais final de semana, ele chegava na quinta ou na sexta, aí na segunda-feira já seguia a sua viagem. Um cara muito tranquilo, muito bom, ele é muito certo nas coisas dele, gosta das coisas certas. É isso aí. Meu pai eu tenho muito orgulho dele porque ele é um cara muito bom mesmo, coração bom e eu não tenho o que reclamar dele. Minha mãe é uma pessoa boa também, ela que criou a gente, que ela que ficava com a gente, ela que aguentava tudo. Uma pessoa temperamento meio alto, meio nervosa, a gente até pedia pra ela ser um pouco mais calma, mas é o jeito dela, né? Mas é uma pessoa que também tem um coração muito bom e muito boa também pra gente. Tenho um orgulho dela, dela ter dado a educação que ela deu, criar a casa dela, respeitar o marido, o marido viajando, e ser uma dona de casa muito boa pra gente, pra mim e pros meus irmãos.
P/1 – Quantos irmãos você tem e qual que é o nome deles?
R – Eu tenho dois irmãos. Tenho a minha irmã que é a mais velha, que ela chama Cibele Schulte Avante, e tenho o meu irmão que é o caçula, que é o Henrique Schulte Avante.
P/1 – Com o que eles trabalham, os seus irmãos?
R – Minha irmã hoje tem uma loja. Tem uma lojinha de cosméticos, ela trabalhava na loja, a dona precisou ir embora, aí ofereceu a loja pra ela, se ela se interessava. Graças a Deus ela conseguiu comprar a lojinha com o seu marido e tá lá tocando a vidinha dela casada também. E o meu irmão era motorista igual comigo aqui, trabalhava na empresa aqui também, na Transzape. Só que ele antes de entrar na Transzape já tinha uma profissão que era açougueiro e ele gostou desse serviço, trabalhou conosco aqui, mas estrada hoje sabe como é que é, né? Ficar longe da família não é pra qualquer um, tem que gostar. Onde ele trabalhava o chamaram, fizeram uma proposta boa pra ele, ele aceitou e voltou pra lá. Tá trabalhando de açougueiro hoje, atualmente.
P/1 – Fabrício, conta um pouco pra gente como é que era a casa em que você passou a infância. A casa, o bairro, descreve mesmo como é que era.
R – Ah, a casa sempre foi simplezinha. Meu pai trabalhava como motorista, uma casinha boa, nós não passamos dificuldades nenhuma, graças a Deus. Não dava de tudo que nós queríamos, mas o necessário a gente tinha, entendeu? O que era preciso. O bairro onde eu morava era um bairro tranquilo, muitas amizades boas eu tinha, simples, mas bem legal de se morar, brincava bastante com os meninos lá na rua. É isso aí. Bem tranquilo o bairro.
P/1 – E como é que eram as refeições na sua casa na época de infância, de adolescência? Quem que cozinhava, o que vocês comiam?
R – Ah, sempre foi minha mãe que cozinhou. A comida é o básico normal, arroz, o feijão, a mistura ali um bife, um frango, às vezes um ovinho, que eu gosto muito de um ovinho frito na janta, assim. Às vezes no final de semana quando o meu pai ia em casa fazia um churrasquinho, chamava a família, reunia ali todinha. Sempre a comidinha básica aí. De domingo a minha mãe costumava fazer uma macarronada. E assim vai.
P/1 – E vocês tinham o hábito de beber café na sua casa?
R – Sim. Só que muito pouco, assim. Eu mesmo hoje to tomando mais do que quando eu era mais novo. Não sei se é a idade que tá chegando, mas em casa meu pai e minha mãe também nunca foram de tomar muito. Eles tomam de manhã ali só e é só aquele ali. Durante o dia não.
P/1 – Você lembra como é que era preparado o café na sua casa quando você era pequeno?
R – Sim. Meu pai... A gente gostava muito quando o meu pai tava em casa, que era difícil ele estar, aí ele acordava cedinho, nós já acordávamos com o barulho dele na cozinha lá nas panelas lá. Ele fazia no coador de café, certinho o café ali, né? De manhã a gente acordava já tava prontinho lá, um pãozinho pra comer sempre teve, leite, fruta também sempre tivemos e é assim.
P/1 – E nessa fase de infância assim, Fabrício, quais que eram as brincadeiras? Do que você brincava? Com quem que você brincava?
R – Hoje eu comento com a minha esposa sobre isso, que tinha umas brincadeiras muito legais na minha infância. Hoje a molecada é só internet. Eu brincava muito de bola, soltava pipa, bolinha de gude, aquelas bets, eu colocava uma lata lá, outra aqui, outro jogava a bolinha pra derrubar a lata, você não podia deixar. Brincava de rela-rela, salva, umas brincadeiras da minha infância e era muito bom, a gente não vê mais a molecada brincar disso. Hoje as crianças não brincam, não veem, não sei, mas umas brincadeiras muito legais tinham.
P/1 – E onde que você brincava?
R – No bairro. Na rua, sempre na rua ali de casa, tinha muita criança a gente reunia as molecadas lá, jogava bola no campo que tem perto lá, ia ao campo brincar toda tarde. Ia pra escola, depois da escola jogava bola. Era assim, a minha vida era essa daí. De manhã a gente se não tivesse tarefa da escola ia brincar, soltar pipa, brincar de bolinha de gude, aí eu ia à escola no período da tarde, saía da escola já tudo com o time formado já pra ir jogar bola. Queria era jogar bola. Aí passava o resto da tarde jogando uma bolinha e vinha embora pra casa dormir. E era assim a minha vida. Nunca fui de sair, ficar até tarde na rua, meus pais também sempre pediam pra gente, né? Mas a cidade que eu moro também, graças a Deus, é tranquila, também não tem perigo, não.
P/1 – Pra que time que você torce?
R – Eu sou corintiano. A família inteira.
P/1 – Você lembra quando que você se tornou corintiano?
R – Ah, eu acho que desde quando eu nasci. Corintiano é complicado, o pessoal fica bravo porque os pais botam a camisa na criança já desde pequenininho. O meu filho mesmo foi o primeiro presente que eu quis por nele, eu até comprei um pequenininho, queria que quando ele saísse lá de dentro, viesse com a camisa do Corinthians. Aí a mulher ainda ficou brava, falou que não, que não era assim, mas eu sou assim. Meu filho hoje toda hora ele pede pra botar a camisa do Corinthians, eu fico muito emocionado com isso porque é gostoso, né?
P/1 – Você tem um ídolo assim no futebol, um jogador preferido?
R – Não. Não tenho ídolo. Eu acho que todos merecem... Como que eu falo? Se tá ali é porque sabe jogar. Então todos merecem ter o respeito da gente.
P/1 – E alguma partida marcante do Corinthians você tem? Um campeonato?
R – Esse da Libertadores, campeão do mundo aí foi muito emocionante pra mim, do meu time ser campeão, né? Foi legal. Era o meu sonho ver o meu time ser campeão hoje do mundo, que a gente já é pela segunda vez, mas eles falam que a primeira não valeu, então fizemos essa daí pra concluir.
P/1 – Você mencionou, a gente falando da infância, da escola. Você ia pra escola, brincava antes de ir, brincava quando voltava, quais que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Minhas lembranças não são... São boas, assim, é engraçado porque quando eu fui pra escola no pré, a gente falava prezinho, não sei hoje como é que fala, minha mãe me levava e tinha que ficar comigo lá, eu não saía de perto dela. Eu era muito apegado com a minha mãe, eu era uma pessoa muito tímida, sou até hoje, mas hoje já tô aprendendo a viver um pouco melhor. Ela saía pra ir embora, eu queria subir o alambrado, chorava. Foi difícil. Foi difícil no começo, mas depois fui acostumando e muito legal a infância, é muito bom lembrar. Às vezes eu to assim viajando na estrada assim, a gente lembra muitas coisas engraçadas que já aconteceram com a gente, né?
P/1 – Que tipo de coisa você lembra?
R – Tipo essa cena que eu acabei de contar, a gente chorar. Eu lembro que eu subia no alambrado, não queria ficar na escola, queria que a minha mãe ficasse junto. A professora chamava a gente pra entrar, não tinha jeito, eu queria que ela ficasse junto ali. Foi muito engraçado isso.
P/1 – Como é que era essa escola, você lembra?
R – Eu lembro. Essa escola no prezinho, eu fiz ela em Andradina, que meu pai na época precisou mudar pra lá pra fazer aquela região. Foi muito pouco também, eu nem lembro muito bem. Ela era numa praça, era só aquela escola ali no meio de uma praça lá em Andradina. Era só o prezinho só.
P/1 – E você teve na infância, ou essa escola ou alguma escola posterior, alguma professor ou professora marcante?
R – Ah, todos os professores pra mim foram muito bons, que eu acho que cada um fazia a sua parte ali. Eu lembro mais dessa daí por causa da cena que ela tava grávida, essa aí, ela vinha lá, chamava eu, tinha a maior paciência comigo, chamava eu pra ficar dentro da sala e eu chorava que não queria. Eu não sei também se era medo, o que era, dó de deixar minha mãe sozinha em casa. Ela também tava grávida e ela passou muito mal da gravidez do meu irmão, aí às vezes eu... Como é que se diz? Eu sei falar assim, vomitava muito por causa da gravidez e acho que eu ficava com dó dela, medo de largar ela sozinha, um pouco eu acho que foi isso, né? E eu sempre queria tá perto. A minha irmã ia pra escola, que ela era mais velha. Só que é lógico, eu também saía da escola e vinha pra casa, mas não sei porque eu tive isso. Mas depois acostumei também, foi tudo legal. Voltamos pra Cafelândia, eu comecei a fazer a primeira série ali e ali sempre fiquei. Graças a Deus tô até hoje ali.
P/1 – Você se lembra do nascimento do seu irmão?
R – Ah, muito pouco assim. O dia que ele nasceu mesmo certinho eu não me lembro, não.
P/1 – Tá certo. Nessa fase de infância, você lembra se você queria ser alguma coisa quando crescesse? Você tinha isso na infância ou na adolescência? Falava: “Ah, eu quero ser tal coisa.”?
R – É assim, a gente foi crescendo, meu pai só viajando, aí às vezes ele levava a gente com ele na estrada, mais nas férias da gente. Às vezes quando eu ia com ele, já viajei muito com ele só, eu e ele nas férias, e a gente via os caminhões, assim, sabe? Eu via essas carretas grandes assim, a gente ficava falando: “Nossa, deve ser gostoso dirigir”. Tinha curiosidade de entrar dentro, às vezes o meu pai pedia pro motorista me deixar ver, de tanto que eu ficava azucrinando ele que queria ver, era criança, né? Os motoristas deixavam, a gente entrava, olhava, aí eu ficava todo empolgado. Não sei se foi... Pode ser. Pode ser isso aí que me incentivou hoje a ser um motorista.
P/1 – Desde pequeno acompanhava o teu pai.
R – É. Desde pequeno eu vejo o pai viajar, trabalhar. Acho que um pouco foi isso que me incentivou a ser um motorista hoje, ter essa profissão.
P/1 – Dessas viagens com o seu pai que você fazia quando criança, você se lembra de alguma história, algum episódio que você tenha vivido que tenha ficado assim na memória?
R – Meu pai viajava só dentro de São Paulo, sabe? Só ali no interior, as regiões ali. Ele não viajava longe, igual hoje eu viajo já fora do estado, né? E eu lembro que uma vez ele precisou fazer uma entrega em Minas, até Patrocínio chama a cidade. Fomos eu, ele, minha mãe e minha irmã tudo dentro do caminhão. Eu lembro que ele se perdeu na estrada e foi uma cena engraçada, que a gente parou no guarda pra perguntar, o guarda também não sabia explicar e já tava escurecendo, aquilo foi indo e nós todos nervosos ali dentro do caminhão. Mas graças a Deus conseguimos achar o lugar. Eu me lembro dessa cena porque nós estávamos tudo ali, eu era pequeno, queria ajudar, mas também ninguém dava muito ouvido, era pequenininho, não conhecia nada também. Tá doido. Mas foi uma cena que eu lembro que foi engraçada. Minha mãe nervosa, que minha mãe é meio nervosa, já começava a ficar brava com o meu pai. Foi muito engraçado isso.
P/1 – Mas vocês chegaram bem na cidade?
R – Sim. Chegamos, nós dormimos num hotel depois que chegamos lá, achamos lá certinho. No outro dia já descarregou o que tinha de entrega aí viemos embora, foi tudo tranquilo.
P/1 – Como é que era o caminhão do seu pai naquela época? Você lembra como é que era a boleia? Ele era enfeitado? Ele levava coisas com ele?
R – Meu pai, ele nunca foi de enfeitar caminhão, não. O caminhão era simples mesmo, normal, era uma F4000 baú. Ali ele vendia e entregava o seu café ali. As viagens dele, ele dormia dentro do baú pra economizar, que ele até ganhava o hotel, tudo, a firma pagava, só que ele fazia isso pra economizar pra trazer pra casa. Quando eu ia com ele também gostava muito disso, a gente dormia junto ali dentro do caminhão, com muito cheiro de café ali, mas era gostoso, era bom.
P/1 – E levavam colchonete, alguma coisa assim? Como é que era?
R – Sim. Tinha colchão. Colchão, cobertor, travesseiro, as roupas nossas ficavam tudo ali no baú. Na hora que chegava no posto pra dormir, nós íamos no posto, tomávamos o banho, aí jantava no restaurante e depois ia pro caminhão dormir. Assistia uma televisão antes, né? Às vezes tinha uma salinha de jogos, eu e ele jogávamos um bilharzinho ali, brincava, depois nós íamos dormir.
P/1 – E na boleia ele não tinha o costume de levar nada assim, uma coisa, um texto, uma foto da família?
R – Não. O meu pai nunca foi disso, não. Ele nunca foi de ter essas coisas dele, não. Ele tinha a santinha dele só, isso ele sempre teve. Era um “iminha” que ele colava, assim, no painel do caminhão ali. Era a única coisa, Nossa Senhora, isso aí é a única coisa que eu me lembro. Agora foto da família, ele nunca foi de ter não no caminhão.
P/1 – E você nos caminhões que você dirigiu, você tem esse hábito de colocar objetos pessoas assim na boleia?
R – Sim. Eu tenho também meu tercinho lá pendurado, tenho algumas fotos guardadas ali que sempre ficam guardadas, né? Às vezes a gente dá saudade na estrada. Tem do meu filho, da minha esposa, preciso arrumar uma do meu pai e da minha mãe, até hoje eu também não consegui ainda, mas vou providenciar logo. É bom, né? Às vezes a gente tá na estrada, assim, às vezes fica num lugar parado esperando pra descarregar, às vezes dá saudade, você vê a foto ali dá um... É muito bom.
P/1 – Eu queria te perguntar um pouco da mudança assim da infância pra adolescência. Então você estudou esse tempo em Andradina, voltou, terminou de fazer o que era primário na época em Cafelândia mesmo, né?
R – Isso.
P/1 – Depois foi fazer o ginásio, normal.
R – Isso.
P/1 – E aí nessa mudança da infância pra adolescência, o que mudou nos seus hábitos de passeio, lazer, amizade?
R – Ah, eu era uma criança muito apegada com a família, assim, com o meu pai e com a minha mãe. Eu comecei a sair tarde de casa sozinho, eu só saía com eles, final de semana ia comer lanche. Até meus 16 anos, 17 anos eu saía com eles. Ainda a minha mãe às vezes falava: “Vai com os seus amigos”. Eu era uma pessoa muito assim apegada com os meus pais. Depois fui fazendo amizade na escola, a gente começou a sair, tinha a praça lá onde os jovens se reuniam, paqueravam, né? A gente ficava muito ali e era assim. Hoje os jovens saem depois da meia noite, meia noite eu tava voltando pra casa na minha época. É muito engraçado. Eu às vezes saio com a esposa assim pra comer um lanche, não vê ninguém na rua, na hora que a gente tá indo embora que começa a chegar o pessoal, entendeu? Nossa, hoje mudou muita coisa. Ia muita a boate, danceteria, dançava. E era assim minha juventude, cidade pequena, interior, não tinha muito que fazer.
P/1 – E quando você saía pra dançar como é que eram essas boates, o que tocava?
R – Era dance. Era música de dance, aquela época era dance, às vezes tocava um pagodinho. Ali a gente tinha turminha, cada um fazia sua rodinha e ficava dançando ali, um conversando com o outro, às vezes paquerava alguma menina. Era assim a vida nossa lá.
P/1 – Você gostava de ouvir música?
R – Eu gostava. Só que se eu falar pra você, eu ouço a música, mas não presto atenção nela, entendeu? Eu sou um cara que gosta de qualquer coisa, é sertaneja é rock. Tem alguns... O que me agradar eu ouço. Não tenho uma preferida, falar pra você assim, não tenho.
P/1 – E nessa fase assim de adolescência que você começa a sair mais, depois dos 16, tem alguma história de um primeiro amor, uma paquera? Na vida amorosa tem alguém que tenha sido marcante?
R – Não. Não tive, não. As meninas que eu saía, a gente saía, se conhecia, namorei pouco. Na verdade foi pouco que eu namorei, né? Se eu namorei três moças só... Conheci a minha esposa que é hoje, aí deu certo da gente casar, a namorei com ela muito tempo, nós namoramos acho que dez anos pra casar. Foram dez anos de namoro.
P/1 – Quantos anos você tinha quando vocês se conheceram?
R – Nossa, eu devia ter os meus 20 anos, 18, 20 anos, por aí. Eu tava no exército ainda na época. Uns 19 anos eu tinha.
P/1 – E como é que foi que vocês se conheceram? Conta a história pra gente.
R – A gente se conheceu na classe, na escola. Eu era do exército, tava prestando exército militar, aí na sala fiz amizade, a gente foi conhecendo. Um dia saímos eu e um colega, encontramos ela e mais uma amiga numa lanchonete, elas nos chamaram pra sentar, ali começamos a conversar. Aí deu certo da gente ficar, que era ficar, né? Aí ficamos, começamos a ficar, ficar, virou um namoro e desse namoro estamos até hoje aí já. Já tem uns 15 anos juntos com ela já.
P/1 – Como que é o nome dela?
R – É Daniela Patrícia.
P/1 – E como é que foi esse tempo de namoro de vocês? O que vocês faziam juntos pra se divertir? Vocês saíam? Como é que era?
R – A gente saía, é o que eu falei pra você, a gente ia nas boates, saía pra comer lanche, às vezes comer uma pizza. A vida nossa era assim, começamos aí da escola ali namorando, arrumamos serviço, trabalhava até no mesmo lugar que era uma fábrica de jeans, que fabrica calça de mulher, que tem lá em Cafelândia. A gente começou a trabalhar lá, depois de cinco anos de namoro, aí eu chamei ela num canto assim e falei: “E aí, nós vamos seguir a vida juntos?”. Ela falou que sim, que tinha intenção de casar comigo também. Falei: “Então, tá na hora da gente começar a fazer nosso pezinho de meia.” “Mas como assim?” “Fazer a nossa casinha.” “Mas nós não conseguimos com o que nós ganhamos.” “Lógico que consegue”. Fomos ao banco, fizemos uma conta conjunta, começamos a fazer economia, guardar o nosso dinheirinho ali, compramos o terreno. Falei: “Nós compramos o terreno, depois vai comprando o material devagarzinho. Quando nós tivermos nossa casa a gente casa, porque hoje pagar aluguel com o que nós ganhamos não dá”. Aí ela concordou comigo, nós fizemos isso aí, graças a Deus fizemos nossa casinha, casinha simples, de 70 metros quadrados, quatro cômodos mais o banheiro. Estamos lá, temos o nosso filho hoje e é assim, filhinho de dois anos.
P/1 – Quanto tempo vocês levaram construindo a casa?
R – A casa nós devemos ter demorado uns cinco anos pra fazer. Meu pai ajudou muito. Meu pai emprestava dinheiro pra mim, aí eu ia lá fazia o que dava com aquilo que ele emprestava e eu ia pagando a ele e guardando dinheiro também. Ia fazendo assim, eu e ela. Depois que ficou pronta a casa, paguei a dívida do meu pai aí a gente casou. Aí casamos na igreja, ela se vestiu de noiva, meu pai nos ajudou na festa com a bebida. A família dela, coitada, ela só tem mãe, não...
P/1 – Tava contando do seu casamento, queria que você me dissesse como é que foi assim, vocês decidiram se casar cinco anos antes que foi quando foram construindo a casa e aí no momento que finalmente decidiram se casar teve um pedido assim, alguma coisa?
R – Sim. Ela pediu pra eu pedir pra mãe dela, que o pai dela já é falecido, eu nem conheci o pai dela.
P/1 – Como é que foi esse pedido pra mãe dela?
R – Ah, eu fui à casa da mãe dela e conversei. Minha sogra, pelo amor de Deus, ela é a mesma coisa que uma mãe pra mim. Pelo menos ela aparenta, né? Mas que me adora, me trata muito bem, não sabe o que faz pra mim, entendeu? Só tenho o que agradecer a ela que ela é uma pessoa muito boa pra mim, pra minha família, pro meu filho, ajuda muito em casa hoje. Aí eu cheguei nela e falei, falei que queria casar com a filha dela, se ela aceitava, que eu já tinha conversado com a filha dela, a filha dela aceitou, aí ela aceitou. Ela falou que pra ela tudo bem, se era isso que a filha dela queria, que não tinha problema nenhum.
P/1 – E como é que foi o casamento de vocês? Conta um pouco pra gente o casamento religioso depois a festa.
R – Não foi dos melhores, mas foi muito bom o casamento. Casamos na igreja, vestimos de noiva ela, ela ficou muito linda de noiva. Foi legal. Depois teve a festa, comemoração, foi num salão vizinho da igreja lá, que é onde o pessoal faz mesmo a festa. E muito bom. Teve a mulher que fez a comida lá, tinha cerveja, tinha guaraná, refrigerante, tinha um pessoal cantando pra alegrar um pouco a festa. É isso aí. Foi boa a festa.
P/1 – Era uma banda esse pessoal cantando? O que era?
R – É. Uma bandinha lá. Era um casal, entendeu? Eles cantavam, a gente conheceu por indicação de amigos, a gente ligou pra eles, eles foram lá, fizeram a parte deles, né? Muito bom foi.
P/1 – Vocês tiveram lua de mel?
R – Não tivemos. Não tivemos lua de mel, a esposa às vezes cobra até hoje, mas a situação não dava. Mas tá bom. Nossa lua de mel foi na nossa casinha nova (riso).
P/1 – Você ajudou na construção da casa assim ou tinha pedreiro construindo? Como é que foi esse processo de construção?
R – Graças a Deus eu... Ajudei muito pouco. Às vezes a gente ia lá fim da tarde, assim, ajudava a colocar umas coisinhas em ordem, sabe? Mas foi o pedreiro que fez a casa. Foi o pedreiro e o seu ajudante lá.
P/1 – Eu vou querer saber agora da gravidez, mas antes vou só voltar um pouquinho, qual que foi o seu primeiro emprego? Foi esse na fábrica de jeans?
R – Meu primeiro emprego, eu devia ter os meus 14 anos. Não era bem... Era um emprego, né? Desde que eu recebia. Eram algumas horas só. Tinha uma academia lá, eu fazia academia, que ali tinha uma escolinha de futebol, eu gostava de ir, a minha mãe e o meu pai pagavam pra eu ir, só que a situação nossa não era tão boa assim pra ficar aguentando. Aí o homem precisava de uma pessoa pra arear a areia, que era um campinho de areia, caía muita folha de árvore, limpar, deixar certinho, deixar limpo, cuidar daquele campinho lá. E aí ele falou se alguém tava interessado na época, eu me interessei. Eu me interessei, porque ele falou que aí não precisava pagar, aí eu podia fazer academia ali, ficava por conta daquilo, ele me dava uma ajudinha ali por fora. Eu fiquei ali um tempo, mas era coisa de hora só. Ia lá, limpava, acabava o serviço já podia ir embora. Aí depois o meu outro emprego mesmo foi de office boy num escritório. Ali que eu considero que foi um emprego que eu arrumei. Trabalhei cinco anos ali naquele escritório de office boy, aprendi muitas coisas boas ali. Dali eu fui pro exército.
P/1 – Era um escritório de que?
R – Contabilidade.
P/1 – E você lembra o que você fez com os primeiros salários, Fabrício? Você comprou alguma coisa que você queria, você juntou, como é que era?
R – Ah, eu ganhava meio salário mínimo na época, era molecão, né? Cidade do interior nunca paga um salário bom, ali era ruim pra ganhar. Eu deixava tudo na mão da minha mãe. O meu salário eu gastava, ainda gastava além o do meu pai, precisava pegar dele, entendeu? Então ficava na mão da minha mãe ali, ela pagava minhas contas, comprava roupa pra gente, era assim. Às vezes eu precisava, ela me dava, mas comprar alguma coisa assim, não. Não me lembro de ter comprado nada. Graças a Deus é o que eu falei pra você, às vezes eu tinha vontade de alguma coisa o meu pai sempre dava, não passei necessidade de querer uma bicicleta o meu pai não tinha condições de dar. Lógico que ele tinha. Podia não ser da que eu queria, mas ele me dava outra. Então graças a Deus eu não posso me questionar disso, não.
P/1 – E esse momento em que você entrou pro exército, como é que foi? Você foi convocado? Você decidiu entrar? E como é que foi essa experiência no exército?
R – O exército eu tinha muita vontade de ir. Sempre gostei de assistir filme de ação, sabe? Achava interessante. Aí eu fui pro exército, quis ir, não era obrigado a ir. Da minha época já não era mais obrigado, antigamente diz que era, né? É lógico que se não tivesse o pessoal todo que eles queriam, aí eles convocavam as pessoas, eles escolhiam, selecionavam, mas eles perguntavam se você queria ou não, eu falei que eu queria. E foi vontade minha. Achei muito bom, fiquei dois anos, consegui engajar, fiz curso pra cabo lá, mas no segundo ano eu vi que o exército não é o que a gente imagina, sabe?
P/1 – Por quê?
R – Muita sacanagem, o exército. Você aprende coisas boas, entendeu? Só que eu acho que o exército... Eu achava um negócio mais de respeito, eles tratam eu acho que o recruta muito como moleque. É muita ordem, é muita coisinha boba que eu acho que não... Que aquilo ali me desanimou um pouco de eu querer seguir um pouco a carreira. Há, tem umas coisas muito que eu acho que não é o que tinha que ser. Umas coisas muita... É muita ordem pra pouco serviço, entendeu? Ao invés de ter mais ensinamento de como que é um militar, eles preferem mais sacanear o cara ali, mandar o cara fazer faxina, fazer essas coisas. Não, tá certo, tem que ter isso aí, mas tudo certinho, não de sacanagem. Exército pra mim o que representou um pouco foi isso, muita sacanagem. Não gostei, não.
P/1 – Daí você decidiu largar?
R – Isso. Na verdade eu já era soldado engajado que fala, soldado antigo lá. Eles precisavam tirar alguns, aí o tenente lá, o comandante da minha companhia chegou em mim, em cada um, faz uma entrevista, aí eu falei que eu não interessava mais, que podia me tirar que não me interessava mais. No meu ano eu fui o melhor atirador combatente, era pra eu ser o destaque da companhia e o atirador combatente, o melhor atirador. Só que o comandante da companhia me chamou na sala dele e falou que não era justo dar os dois prêmios pra mim só, que tinha mais gente boa e pediu pra eu optar um que eu queria. Eu preferi por ser atirador combatente. Aí quando a gente vira soldado lá que tem a festa, meu pai e minha mãe foram chamados lá na frente, o coronel, comandante do batalhão chamou eles lá, me chamou na frente de todo o batalhão, me premiou, falou lá que eu fui o melhor atirador combatente. Um negócio bem legal. Tem coisas boas do exército, sabe, aprende muitas coisas legais, só que a parte pior é essa daí que eu te falei, umas coisas sacanagem que tem lá que eu acho que não tem necessidade daquilo.
P/1 – E quando você saiu de lá você foi trabalhar nessa fábrica, foi isso?
R – Foi. Quando eu saí do exército eu fui trabalhar nessa fábrica de costura aí. Na verdade na época era um silk, fazia umas pinturas no tecido lá pra fazer a calça. Aí não deu certo, fechou o silk, ele me mandou pra fábrica. Lá eu entrei como ajudante, trabalhei uns tempos lá como ajudante uns meses, já me passou pra ser costureiro. Aí trabalhei de costureiro. Aí a fábrica foi crescer, ela ia fazer outra firma, que ela era num galpão alugado, a prefeitura os ajudou, deram um terreno, eles foram construir um barracão lá, o barracão deles. O dono da empresa me chamou, que gostava muito de mim, queria que eu fosse lá à obra ficar olhando, receber material, me chamou pra ficar nessa obra lá. Fiquei lá a obra inteira, desde o começo até o final dela. Quando eu voltei ele tava me ensinando a ser encarregado, tomar conta da célula, mas eu não me adaptei, não. Aí eu pedi a conta pra ele e saí da empresa lá.
P/1 – Você não gostou, foi isso?
R – É uma pressão muito forte ali. É muita gente te chamando, pressionando. Eu acho que era até interessante, eu ia ganhar um salário bom, só que eu acho que ele devia primeiro colocar a pessoa pra aprender a trabalhar em todas as máquinas. Eu trabalhava no final da linha, eu não conhecia nada como começava a colocar as calças no começo da linha, entendeu? Não tinha aquilo... Como é que eu? Ah, se vira. Coloca a calça pra rodar. Não é... Eu acho que se ele me colocasse desde o começo em todas as máquinas, aprender a trabalhar em todas as máquinas, conhecer como é que a calça entra no começo da linha e termina, às vezes até eu me adaptaria lá, entendeu? Não cheguei a falar isso também pra ele. Ali foi um serviço que me sugou muito, eu entrava sete horas da manhã, saía dez horas da noite, fazia muita hora extra que eu tava fazendo minha casinha e final de linha também sempre sobra pro final da linha. Às vezes dava pau no começo da linha, sobrava pra quem? Pro final da linha. Ele que vai ter que ficar ali, porque tinha aquela quantia de calça pra produzir no dia. E assim foi.
P/1 – Qual que era a fábrica?
R – O nome dela era Dashini. Era indústria de calça, calça feminina. Fazia muita calça lá. Tem até hoje lá.
P/1 – Existe ainda?
R – É.
P/1 – E quando que você começou a trabalhar como motorista, Fabrício? Como que veio essa decisão? Você falou que de criança você já imaginava, seu pai trabalhava com isso, mas pra você quando que foi que você tomou essa decisão e quando surgiu essa oportunidade?
R – Então, quando eu saí da Dashini aí eu fui trabalhar num posto de gasolina. Trabalhei de lavador, depois entrei como frentista, aí também não me adaptei, saí. Fui trabalhar numa fábrica, outra fábrica de shampoo de cachorro, sabonete, que tem lá na cidade. Muito bom o emprego lá. Aí fiquei muito tempo ali. Foi o meu último emprego antes de entrar de motorista.
P/1 – Você trabalhava na produção também dessa fábrica?
R – É. Trabalhei na produção, eles gostavam muito de mim, não queriam que eu saísse, uma empresa boa de trabalhar. Ali eu gostei de trabalhar. Ela era pequenininha, mas que cresceu. Depois que eu saí cresceu muito, sabe?
P/1 – Qual que é a empresa?
R – Genial Pet. Ela fabrica shampoo pra cachorro, perfume, sabonetes, tapete higienizador. Muitas coisas, assim, de animais. E aí eu trabalhei ali um tempo, gostei demais de trabalhar ali. Conversando com um amigo de infância lá, que ele trabalhava nessa empresa que eu tô hoje, que é a Transzape, morava pra cima de casa. Eu mudei a carta, que eu falei pra esposa: “Ah, eu tenho vontade de trabalhar com caminhão e tal”. Ela falou: “Ué, tira a carta”. Aí eu tinha que esperar o tempo, que hoje pra você tirar a carta. E vai um tempo, não é chegar lá e tirar, mudar a letra. Aí tive que mudar a letra pra D, depois de um ano que eu consegui mudar pra letra E. Aí mudei pra letra E, um dia ele passando lá eu conversei com ele, ele falou: “Não, essa empresa que eu to aqui que é a Transzape ela dá oportunidade pra quem não tem experiência. Ela treina, a gente conversa lá, eu converso lá, você vem treinar até comigo que aí o dia que eu vier pra casa você vem comigo”. Falei: “Será que dá certo e tal?”. Ainda fiquei meio assim, ele falou: “Já conversou comigo, só que são 15, 20 dias fora de casa às vezes, que a gente viaja pro nordeste. Você quer mesmo? Eu vou trazer o currículo pra você”. Eu falei: “Eu quero”. Aí ele trouxe, eu preenchi o currículo, mandei. Uma semana. Uma semana que eu mandei o currículo, me chamaram. Aí a psicóloga da empresa fez a entrevista comigo, deu certo, eu treinei com ele, fiquei acho que um mês com ele. Ele já queria me tirar, com uma semana ele falou que eu já estava apto a dirigir. Falei que não, que eu queria aprender mais coisas, que eu não conhecia muito a estrada, conhecia mais a região lá. Aí fiquei um mês com ele treinando, quando a empresa... Ele falou pro encarregado que tava bom, deu uma volta com o rapaz ali que era o que treina o pessoal, o último cara lá que a gente tem que dar uma volta com o instrutor. Aí eu dei uma volta com o instrutor, o instrutor falou: “Não, tá beleza. Pode dar o caminhão”. Peguei o caminhão e tô até hoje, já faz seis anos que eu to aí, graças a Deus. Agradeço muito a Transzape de ter dado a oportunidade pra mim.
P/1 – E como é que foi esse começo assim nessa carreira, Fabrício? Como é que era pegar a estrada, como é que você se sentia?
R – Não é fácil. Não é fácil. Estrada hoje não é fácil. É complicado. Eu não tava acostumado a ficar longe da família, né? Eu acho que a vida... O mais difícil hoje do motorista é ficar longe da família. Eu saía, às vezes a mulher ficava sozinha que ela não tinha filho ainda. Ela ficava sozinha em casa. Ligava às vezes chorando, sentindo a falta da gente, né? E foi indo. Falei pra ela: “Tem que se acostumar”. Um pouco também pra ganhar um salariozinho mais digno, pra ter uma vidinha mais estabilizada também. Aí fomos aguentando. Depois veio o filho. Veio o casamento. É. Veio o casamento. Acho que eu entrei aqui eu não tinha casado ainda. Foi. Ela morava com a mãe dela.
P/1 – E como é que é o cotidiano na estrada? Como é o dia-a-dia?
R – Ah, meu serviço é... A gente fica dentro da cabine ali do caminhão. É acordar, montar no caminhão e sair pra estrada, e viajar. Fazer suas paradinhas nos postos pra fazer suas necessidades, comer alguma coisa. Minha vida é essa. Escutando uma música, às vezes quando dá uma paradinha já correr e ligar pra família pra ver como é que tá. Ligar umas dez vezes no dia, liga, a hora que dá uma paradinha já corre pra ligar. Procura dar uma área no celular, procurar pra falar com a família. É assim. Minha vida é essa.
P/1 – Como é que você lida assim com essa questão da solidão? Porque é bem solitário, né, o dia-a-dia.
R – Eu penso, assim, eu quis isso aí pra mim? Então eu tenho que aguentar. Tem que aguentar. Sente falta, fica solidão. Eu lembro uma cena muito forte, aquela cena foi muito forte pra mim; eu casei, tava de férias, depois voltei a trabalhar aí me mandou lá pra Natal, pro Rio Grande do Norte. Eu casei em novembro, isso já foi em dezembro. Na hora que ele ligou pra mim, me agendou pra esse lugar, eu já sabia que eu ia passar Natal e Ano Novo fora de casa. Ia ser o primeiro Natal e o primeiro Ano Novo de casado, né? Isso aí foi uma cena muito forte que aconteceu comigo, mas fazer o que? Nós estamos aí pra isso, né?
P/1 – Como é que você se sentiu, você lembra, na hora?
R – Fiquei triste, né? Fiquei triste, ali mesmo já falei pra mulher, falei: “Esse Natal e esse Ano Novo você não me espera porque não volto”. Porque eu sabia que não dava tempo. Aí eu saí de casa, saí chorando, passei em casa, minha mãe: “Você tá chorando?”. Falei: “Não, mãe, eu já sei que Natal e Ano Novo esse ano eu não vou conseguir passar em casa”. A mulher sozinha, primeiro ano de casado, a gente ficou meio triste, mas é a vida da gente. Deu tudo certo, graças a Deus estamos juntos, ela aguenta tudo isso e não me reclama muito também, não. Às vezes cobra que a gente precisa ficar um pouquinho mais em casa, mas ela entende também que é a necessidade da gente.
P/1 – E nesse tempo, que você tem seis anos agora, né, que você tá trabalhando já na estrada, você viveu alguma história, algum episódio, algum momento que tenha te marcado? Imagino que você vivencia muita coisa fora de casa tanto tempo.
R – O que me marcou quando o meu filho nasceu eu estava em casa, lógico, aí teve uma época que ele ficou doentinho. Ele ficou muito doente, ele ficou uma semana internado e minha mulher ligava todo dia chorando pra mim e eu não pude nem presenciar isso, nada, tava longe. Eu só dava força por telefone pra ela, não conseguia vir embora. Aí quando eu cheguei em casa ele já tava melhorzinho, graças a Deus, mas ele ficou bem doentinho. Foi uma virose que ele pegou forte, precisou ficar tomando soro e minha mulher ficou muito desesperada. Qualquer coisinha ela já fica em pânico com a criança, ela é uma ótima mãe e essa cena aí que me marcou, que eu não podia estar perto pra ajudar ela.
P/1 – Como é que foi a notícia da gravidez da sua esposa? Quanto tempo fazia que vocês estavam casados e como é que foi receber essa notícia de que ela tava grávida?
R – Na verdade nós estávamos tentando, já estávamos querendo mesmo, a gente não foi nada que aconteceu. Nós falamos: “Vamos fazer um filho” “Vamos”. Eu tava tentando. Eu brinco até hoje com os meus colegas, é lógico que não tem nada a ver, mas eu brinco que eu tava tentando e não conseguia e aí eu precisei pegar férias pra fazer o filho, que aí foi todo dia ali tentando fazer o filho. Eu brinco até hoje com os meus colegas, os colegas zoam no serviço que é o menino que pegou férias pra fazer o filho e tal. Mas é lógico que tem sentido isso, porque a gente trabalha na estrada e não fica em casa e a mulher tem o dia certo, às vezes a gente chega naquele dia lá e não tá fértil, né, que fala. Eu falei: “Eu vou pegar férias”. Tinha férias pra pegar, pelo menos a gente faz todo dia, né (riso)? E foi. Graças a Deus fizemos um filhão forte, o moleque nasceu grandão, três quilos e oitocentos, 51 centímetros, 51, 52, não lembro. Acho que foram 51 centímetros, um moleque enorme.
P/1 – Como é que foi a gravidez?
R – Minha mulher... Ótima a gravidez. Não sentiu nada. Ela é manicure, né? Ela trabalhou até perto de ganhar, reclamava às vezes de dorzinha nas costas, mas isso é normal. Mas não teve negócio de enjoo, vontade de comer as coisas, minha mulher não teve, não.
P/1 – E você acompanhou o parto, Fabrício?
R – Eu estava no hospital, mas na hora de ganhar, não. Eu fiquei lá na salinha esperando. Aí veio a criança na mão do médico, um moleque moreno, já assustei que eu sou motorista. Depois ela veio na maca, já tirei o sarro nela, falei: “Que moleque preto é esse?”. Ela deu um sorriso, falou: “Eu sabia que você ia falar isso”, meio desacordada, tadinha. Mas hoje o moleque é loirinho igual a mim assim, cabelo todo enroladinho, uma gracinha. Moleque bonzinho demais.
P/1 – Você lembra qual que foi a sensação assim de ver o seu filho pela primeira vez, de segurar no braço?
R – É gostoso, né? É muito bom isso. Eu não sei nem como descrever, mas é uma emoção muito forte. Saber que foi você que fez ali, né? Muito gostoso isso. Muito bom.
P/1 – E como é ser pai?
R – No começo eu tinha um pouco de medo. Será que eu vou conseguir dar o que precisa, manter a casa, manter a criança? Mas depois que nasce, meu, você vai indo assim, você vê que não tem nada de dificuldade, um ajuda daqui, outro ajuda dali. Minha sogra mesmo até hoje, a tia dele ajuda demais, dá as coisas pra ele, roupa, veste o moleque. Porque só tem ela e a filha que mora junto. Hoje ela tem a aposentadoria dela, fala: “Não tem pra quem gastar o dinheiro, gasto com ele”. Então é o xodó deles, né? Graças a Deus tá tudo bem.
P/1 – Como que é o nome dele?
R – Murilo. Murilo Mariano Avante. Tem dois aninhos.
P/1 – Novinho ainda.
R – É. Vai fazer três agora em dezembro.
P/1 – Tá certo.
R – Novinho.
P/1 – Vou voltar um pouquinho pra essa questão da vida profissional, queria saber nesses seis anos também que você tá na estrada se teve algum lugar, alguma cultura ou alguém que você tenha conhecido que tenha ficado marcado assim que tenha sido mais significativo pra você.
R – Ah, eu acho que não. Os colegas da empresa, aí é lógico que a gente sempre faz uma amizade com um, com outro, tem uma amizade mais forte, mas eu sou um cara meio... Não sou um cara muito assim de... Eu penso assim, amizade mesmo é ali, né? Que a gente sai da empresa, aí um fica pra lá, outro pra cá, que a gente vê acontecer isso. É lógico que tem sempre um amigo assim, mas marcado não tenho, não.
P/1 – E nas viagens? Durante as viagens?
R – Como assim?
P/1 – Você conhece gente diferente?
R – Ah, sim. Conhece. Pessoal de outras empresas, lógico. A gente tá sempre se cruzando. Aí a gente vê como que o mundo é pequeno, o Brasil, né? Que o mundo a gente não anda, a gente anda aqui no Brasil. Às vezes a gente vê o cara lá no nordeste, de repente o vê aqui em São Paulo, às vezes vai pro sul encontra ele lá. É gostoso, é legal isso que você faz muita amizade com outros amigos de outras empresas. Tá sempre junto, né? Dentro das Nestlé.
P/1 – E você conheceu lugares que você não conhecia?
R – Muitos. É o que eu falo até hoje pro meu pai, né? A vida dele toda foi viajar, mas não conheceu outro estado. Eu com um ano de estrada, meses, aí eu já conheci vários estados nossos e ele não conhece. Até hoje eu brinco com ele, eu chamo ele pra ir comigo às vezes, mas ele não quer nem saber também e ele dá risada, fala: “É assim mesmo”.
P/1 – E como é que foi essa experiência de conhecer vários estados? Como é que é?
R – É bom. É muito bom. É gostoso, a gente conhece vários lugares diferentes, né? Mas é lógico também que eu viajo muito assim, só que falar pra você eu vou conhecer uma praia, que nem vou lá em Fortaleza, não vou. É mais a preocupação nossa de descarregar e já voltar, carregar pra vir embora pra sua casa, sabe? Tem uns colegas que às vezes vão, que dá certo, que vão ficar vários dias pra descarregar. Uma vez que minha esposa foi comigo que nós fomos à praia lá no Espírito Santo. É. Foi a única vez também que eu fui a uma praia lá.
P/1 – Normalmente é só descarrega e volta, é isso?
R – É. Aí fica ali no posto, no pátio do posto às vezes aguardando uma carga, aí quando o marger aparece, a gente volta. A viagem nossa é assim, né?
P/1 – E quais são assim as dificuldades da profissão? Teve alguma situação nesses seis anos que você tenha vivido que tenha sido um desafio, uma dificuldade?
R – Olha, o que eu acho mais difícil hoje pro motorista na estrada é você parar num posto pra você tomar um banho, o banheiro. Os banheiros nossos das estradas aí são precários. É raro você encontrar um banheiro bom de ótimo uso, entendeu? Às vezes é culpa da gente mesmo, que tem muita gente relaxada, mas eu acho que se coloca uma pessoa ali pra cuidar, pra ficar ali olhando, não vai acontecer nada. É uma dificuldade muito chata que eu acho hoje na nossa profissão é isso. A outra é estrada. A estrada nossa é muito perigosa, tem muita estrada perigosa, o fluxo de caminhão, carro pequeno tá grande. Você não pode vacilar na estrada hoje, você tem que dirigir com muita atenção e respeitar o colega também que tá ali. Um minuto de bobeira é onde acontece a merda, desculpa a palavra. Mas é onde que acontece alguma coisa e a gente vê muita coisa. Imprudência a gente vê muito. Pessoas sem experiência com carro pequeno pegando pista, brecando carro em cima de rodovia, são muitas imprudências aí. Então é onde que a gente tem que... São umas coisas que a gente fica meio com medo na estrada, que a gente reza. É lógico, a gente não quer que aconteça com a gente, não quer que aconteça com ninguém. Imagina que eu quero, Deus me livre e guarde, matar uma família. Jamais! E mesma coisa também comigo. Não quero que aconteça comigo. É o que eu peço, todo dia quando eu vou sair de viagem eu peço pra Deus que seja uma viagem tranquila, que não me aconteça nada. Graças a Deus até hoje nunca aconteceu um acidente grave comigo e com ninguém assim. E é assim. Minha vida é essa.
P/1 – Tá certo. Queria conversar um pouco sobre a relação com a Nestlé assim, mais especificamente esse projeto, o Safe Driving, que tem esses treinamentos, esses módulos de treinamento. Você já fez algum deles?
R – Sim. Sempre a gente faz. Tem os cursinhos ali, não sei se é bem dizer isso.
P/1 – Isso. É isso mesmo.
R – Todos que tem a gente faz, eu procuro fazer. É interessante, né, ensina as cosias legais pra gente, programação de viagem. Eu acho que é um negócio interessante porque muito motorista às vezes pega a nota não olha nada, aí quando vai ver tá tudo errado ali, fica mais difícil de resolver na estrada. Eu acho interessante isso aí, é legal, tem que ter isso aí mesmo, incentivar o motorista nessas partes.
P/1 – O que é o conteúdo desses treinamentos assim?
R – Ah, eles falam que a gente tem que averiguar o caminhão se tá tudo ok, funcionando. Olhar as documentações se estão certas, quando pegar a nota fiscal ver certinho o endereço, se tá certa a nota ali, se é sua mesmo, se a placa do seu caminhão tá ali. Essas coisas assim. Documentação, né? Programação de viagem. Que nem a gente carrega Nestlé, a gente tem que fazer uma programação de viagem as paradas que a gente vai fazer até o destino. É lógico que às vezes não bate certinho, mas procurar fazer pelo menos... Procurar fazer por causa de gerenciamento de risco que tem, de um roubo de carga, procurar parar em lugares adequados, lugares seguros. Esse tipo de coisa tem.
P/1 – Isso tudo que você tá me contando o treinamento auxilia?
R – Sim. Explica isso pra gente. Ensina negócio de prostituição das crianças aí que tem muito hoje nos postos, né? Eles falam sobre isso também.
P/1 – Em que sentido? Alertam vocês?
R – É. Alerta com carona, com vícios em drogas, uso de droga, de rebite que hoje também você vê muito na estrada, cocaína, rebite. E não é difícil pro motorista, não precisa sair nem do caminhão pra comprar, as pessoas vêm vender pra você cabine, entendeu?
P/1 – Pra ficar alerta, é isso?
R – É. Pra gente evitar essas coisas, não usar. Esses tipos de palestra, coisa boa, não é coisa ruim, não. É só coisa boa, só.
P/1 – E como é que é a estrutura ali do treinamento? É num computador? Conta um pouco como é que vocês fazem esse treinamento.
R – Tem um carrinho dentro da Nestlé... Todas as Nestlé geralmente têm nos depósitos. Aqui em Cordeirópolis mesmo fica fixo ali. A gente não tem como escapar dela. Fica bem onde a gente entrega a nota e pega nota fiscal, né? Se você vem descarregar você vai entregar a nota, se vai carregar é onde pega. E ali tem o expedidor ali, o rapaz certo já treinado pra isso, ele chama você ali, fala se já fez o cursinho, pede pra você com o maior respeito também. Você não é obrigado a fazer, ele pede pra fazer, mas não é obrigado, faz se você quiser, entendeu? Pelo menos é o que me passam, aí a gente faz, eu procuro fazer, porque é um computador ali, tem uns desenhos, é coisa boa pra você mesmo, né? Eu acho interessante. É legal fazer isso aí. Ele ainda dá um brindezinho, dá um café pra incentivar mais o motorista. Motorista é assim, ele gosta de ganhar alguma coisinha pra fazer, entendeu? É assim. A gente vai fazendo.
P/1 – E qual que você acha que é a importância desses cursos rápidos, desses treinamentos pro motorista?
R – Ah, a importância é o que? Você ter uma viagem segura, porque às vezes ali vira um cotidiano ali, uma rotina. Você vai lá, carrega, já pega a nota, já sai pra trabalhar, você esquece dessas rotininhas aqui, desses detalhes que tem que ter. Vai virando uma rotina que acaba... É um serviço repetitivo, então você às vezes acaba se esquecendo de muitos detalhes que são importantes numa viagem. Você conferir um macaco, um triângulo, um estepe se tá certo, entendeu? Às vezes um motorista acaba virando rotina e não confere e ali explica tudo isso.
P/1 – E ajuda a reforçar, você acha?
R – É. E ajuda a reforçar, é um negócio que tá sempre... É tipo assim, eles estão sempre cutucando devagarzinho, mas tá cutucando, tá lembrando, né? A gente fala cutucando, mas eles estão lembrando a gente dos procedimentos certos.
P/1 – Então ajuda na questão de segurança você acha?
R – Isso. Segurança, é. Principalmente na segurança sua e do caminhão, da carga. Segurança tanto da carga quanto da sua. Isso aí eles estão explicando tudo ali.
P/1 – Tá certo.
R – Pra carga chegar bem certinhas no lugar, sem avaria. Em perfeitas condições.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar agora pras questões finais, são duas questões, três na verdade, mas antes de encaminhar para essas três questões finais, queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar.
R – Acho que perguntou tudo necessário. Isso que eu falei aí pra você é o que ocorre com a gente mesmo.
P/1 – Alguma história que você queira deixar registrado.
R – O que eu queria deixar registrado é que as pessoas respeitassem mais o motorista. Que o motorista também ele... Eu acho que nós motoristas estamos sendo um pouco desrespeitados. É lógico que hoje também tem muitos motoristas que aprontam, mas tem uns bons também. Tem que respeitar.
P/1 – Mas por que você acha que vocês estão sendo desrespeitados? Que tipo de coisa assim acontece?
R – Ah, não sei. É tipo assim, a gente chegar num lugar, sabe, todo mundo parece que quer mandar em você. O motorista eu acho que... Tipo essa do banheiro que eu falei pra você. Isso eu acho um desrespeito com o motorista. A gente que leva comida na casa de todo mundo, roupa pra vestir, desde tudo, até material de construção, depende do motorista, de um transporte, entendeu? Eu acho um absurdo a gente chegar num posto, cobrar um banho. A gente, pô, é um negócio que a gente tem que ser mais valorizado nessa parte. Eu acho que essa falta de motorista tá aí um pouco. Tá muito desrespeitado o motorista, tá com falta, precisando de um pouco mais de atenção, de ser mais respeitado, ter um pouco mais de... Como que eu falo? Não acho errado cobrar um banho, porque é complicado você manter um banheiro, mas um precinho razoável. Hoje você vai num banheiro aí na estrada, tem banheiro de dez reais pra você tomar um banho e são seis minutos um banho. Quer dizer, é complicado, a gente não tá ganhando um salário tão bom pra gente conseguir manter tudo isso, entendeu? São esses tipos de coisa que eu acho que tá dificultando a falta de motorista hoje.
P/1 – Quando vocês dormem, vocês dormem onde, Fabrício?
R – No meu caso eu durmo no caminhão. Ele tem a cama lá, a gente dorme no caminhão. É dentro de caminhão que a gente dorme.
P/1 – No baú?
R – É na cabine. Na cabine, no baú a gente não entra, não. É na cabine que a gente dorme. Tem a cama, que hoje os caminhões já são apropriados pra isso. Uma viagem daqui no nordeste eu gasto de três a quatro dias, aí a gente tem que ter o lugar pra dormir. Ali no próprio caminhão a gente tem a cama, tem tudo ali. É nossa casa. Ali eu costumo falar que é a segunda casa da gente. É onde eu passo o meu maior tempo é dentro de uma cabine de um caminhão.
P/1 – Então normalmente dorme no caminhão mesmo, né?
R – Isso. É no caminhão. Inclusive o meu irmão que saiu da empresa hoje ele brinca comigo: “É, agora eu to tomando banho descalço. Você ainda tá tomando banho de chinelo”. Ele zoa. “Posso encostar na parede do banheiro”. É esse tipo de brincadeira. Mas tá bom, eu falo: “Quando eu tô em casa eu também tomo banho descalço, né?”.
P/1 – Tá certo. Então agora são as três perguntas finais. A primeira é qual é o maior desafio que você já enfrentou hoje na sua vida, até hoje na vida, e como é que você fez pra superar.
R – Eu tinha muito medo de casar. Porque na época que eu casei o meu salário era muito pouco lá, interior, né? Eu achava que eu não ia conseguir manter a casa. Tá, consegui arrumar um serviço na empresa. Ser motorista, também achei que não ia dar conta, ficar longe da família e graças a Deus me superei. Casei, to mantendo a casa, casinha, graças a Deus mantenho a casa, não é do bom e do melhor, mas tá bom, é uma vida social boa, né? Graças a Deus não passo necessidade de nada. A gente tem dinheiro pra comprar. O que eu tinha medo era isso, de não conseguir manter um casamento, sabe? Manter uma casa. Eu sempre tive vontade de casar, eu tinha vontade de ter minha casa, minha família, só que eu tinha medo, tinha medo de não aguentar sustentar ela, graças a Deus. Hoje o meu irmão tá nesse pensamento que eu to, eu falo pra ele que pode ir tranquilo que é coisa da cabeça da gente, a gente acha que não vai dar conta, mas graças a Deus você trabalhou, qualquer pouquinho pra Deus é muito. Um pouquinho pra Deus é muito, eu costumo falar. Então consegue. Consegue sim.
P/1 – Tá certo. A penúltima pergunta é quais são os seus sonhos.
R – Meu sonho hoje... Não tenho. No momento não tenho um sonho, sabe? Que eu tenha saúde aí, eu e a minha família, que eu consiga buscar meus objetivos que eu tenho aí, conseguir minhas coisinhas que eu tenho. Tenho muita vontade de ter um caminhão um dia. Quem sabe, né? Tenho vontade de ter um caminhão um dia. Eu tenho um sonho, não sei se é um sonho, se não tiver também não tem problema, mas eu tenho uma vontade de ter um caminhão um dia.
P/1 – Tá certo. E por fim como é que foi contar a sua história?
R – Foi legal. Às vezes é meio atrapalhada, mas é bom, legal. Foi muito bom essas perguntas que você fez, essa história minha. É a minha história essa daí, espero que vocês tenham gostado também, né? É um pouquinho da minha vida aí.
P/1 – Tá bom, Fabrício. Obrigada. Foi ótimo.
R – Obrigado vocês.
FINAL DA ENTREVISTARecolher