Memória Avon
Depoimento de Ana Maria Rédua Giamarino
Entrevistado por Luani Guarnieri e Clarissa Batalha
São Paulo, 04 de julho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista n° AV_HV031
Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Por favor, gostaria que vo...Continuar leitura
Memória Avon
Depoimento de Ana Maria Rédua Giamarino
Entrevistado por Luani Guarnieri e Clarissa Batalha
São Paulo, 04 de julho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista n° AV_HV031
Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Por favor, gostaria que você começasse dizendo o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bom, o meu nome é Ana Maria Rédua Giamarino. Eu nasci na cidade de Jacarezinho, no estado do Paraná.
P/1 – E qual a sua atividade atual?
R – Eu hoje sou consultora de empresas, trabalho tendo a minha própria empresa e prestando serviços pra outras consultorias.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava Silas _________ Rédua. E a minha mãe Virgilina de Oliveira Rédua.
P/1 – E qual era a atividade profissional deles?
R – Então, a minha mãe ela era do lar, mas ela tinha sido professora rural, né, em escola rural quando ainda nem precisava fazer o curso de pedagogia. Era mais... realmente, alfabetização. E meu pai sempre trabalhou na área de manutenção, na área de construção, começo de obras, uma área mais operacional.
P/1 – E qual a origem da família?
R – Olha, os meus pais, o meu pai, tem uma origem de judeus, depois de espanhóis, e depois eles se estabeleceram sob, assim, terceira ou quarta geração pra trás no Paraná, então sempre na área, sempre relacionados à igrejas, à área musical, meu pai era um regente de coral, ele era uma pessoa que autodidata aprendeu música sozinho e fazia arranjos pra corais evangélicos, né? Então essa é a origem.
P/1 – E tem irmãos?
R – Tenho, nós somos em seis. Meu pai foi viúvo muito cedo, com 26 anos, ele tinha dois filhos quando casou com a minha mãe. Minha mãe já tinha sido namorada dele, então daí ele voltou pra cidade onde tava a minha mãe, ela ainda se encontrava solteira então ele se casou, e daí nós temos mais quatro irmãos por parte de pai e mãe. Então nós somos seis ao todo e eu sou a quarta filha, quarta filha.
P/1 – E vamos conversar um pouquinho sobre a infância. Onde morava quando você era pequena?
R – Eu vim, eu morei na cidade de Jacarezinho onde eu nasci até bem pequena, talvez dois, três anos, depois já vim pra São Paulo, morei sempre na Zona Sul, em alguns lugares, o primeiro bairro foi a Chácara Santo Antônio, depois morei em outros lugares e mesmo depois de casada morei ainda na Zona Sul, sempre na Zona Sul.
P/1 – E como era a casa, o cotidiano naquela época?
R – Assim, eu lembro da minha infância sempre assim como uma coisa bem gostosa porque nós éramos muitos irmãos. Minha mãe era uma pessoa assim que gostava de brincar com a gente, inventava brincadeiras, eu lembro dela ajudar a gente a fazer bolinho de terra, cobrir com massinha feita com Maizena. Lembro de fazer cabaninha, a gente brincar, cabaninha de cobertor embaixo da tábua que ela tava passando roupa, e eu e a minha irmã brincávamos lá. Nós somos assim, parece que de dois em dois, né, eu tenho uma irmã bem próxima da minha idade, que é a Eledir, depois nós temos mais duas irmãs mais velhas que então a gente andava de dupla, né, as duas menores e as duas maiores, né? E aí eu tenho um irmão caçulinha e depois um irmão mais velho. Caçulinha hoje bem mais velho, o caçula aí.
P/1 – E dentre tantas brincadeiras quais eram as suas preferidas?
R – Eu acho que a gente gostava de brincar com boneca mesmo, comidinha, essas coisas que a minha mãe estimulava muito a gente fazer. Fazia roupinha de boneca, eu gostava de costurar e inventar moda pra elas, tudo. E fazia as comidinhas que a gente usava barro, usava às vezes as verduras de casa. Ela, a minha mãe, era uma pessoa bem participativa nisso, ela deixava a gente bem à vontade.
P/1 – Gostoso. E como era a cidade?
R – São Paulo quando a gente morou, eu lembro mais de São Paulo. De lá, bom, do Paraná ainda lembro um pouquinho sim, na verdade, acho que antes de morar em São Paulo eu morei na cidade de Assis, tô lembrando agora, e eu me lembro que eu tinha um problema de intestino e eu precisava tomar leite de cabra, então a minha mãe teve uma cabritinha em casa e essa cabritinha ficou uma cabrita grande e deu cria, e um dos cabritinhos ficou meu, era um cabritinho cego, preto, que era meu, meu cabritinho. Então assim, eu lembro da gente brincar muito dentro de casa, não lembro muito de brincar na rua, talvez mais velha, adolescente assim eu já lembro mais das turmas. Então a gente sentar em rua, brincar, conversar, cantar. Mas quando criança muito dentro de casa.
P/1 – E quais são as lembranças mais marcantes?
R – De criança? Eu não sei se talvez um aniversário, eu não me lembro quantos anos eu estava fazendo mas talvez seis, cinco, seis ou sete. E a minha mãe, como nós éramos bem próximas eu e essa outra minha irmã, que é um ano e meio mais nova do que ela, sempre vestia as duas iguais, então eu ficava brava porque eu era a mais velha, então eu queria sempre ter uma roupa diferente. Então naquele aniversário a minha mãe fez uma roupa diferente pra mim, era uma tia minha que costurava, costurou um vestido bonito pro aniversário e eu tava diferente, então eu tava achando muito importante. Eu ganhei um presente que era, eu fiquei muito contente com esse presente, era uma caixa, saí correndo pra abrir e eu caí, e tropecei e derrubei, e na verdade era um joguinho ou de copos ou de cafezinhos, alguma coisa de porcelana, então quebrou tudo e eu fiquei super chateada porque nem tinha começado ainda o aniversário e eu já tinha estragado o meu presente, né? Então essa é uma lembrança que veio assim.
P/1 – E quando e como começou, começaram os estudos?
R – Ah, eu comecei logo, naquela ocasião a gente não fazia muito o ensino antes do primeiro ano, então eu fui logo pro primeiro ano, eu já participei de um projeto interessante porque era uma escola experimental anexa ao Instituto de Educação Alberto Conte, então era um ensino especial, né, assim, eles tinham um foco diferenciado, eu nem me lembro muito bem mas era bem forte. Então o meu curso primário foi feito ali. E ali, assim, lembranças interessantes: na minha classe de primeiro ano estudava o Guilherme Arantes que é o cantor, né, e também tem o Paulo Markun que é o jornalista, então eles foram os meus coleguinhas de classe, né? Do Guilherme Arantes eu lembro uma coisa bem interessante, que ele era muito chorão, ele tinha assim, ele uma vez ele ficou tão nervoso com alguma coisa que tinha que escrever, a gente aprendia ainda a escrever no primeiro ano, hoje as crianças aprendem antes, né, e ele fez cocô na calça, então aquilo me marcou quando eu vi ele cantor eu falei: “Ah, ele fez cocô na calça no primeiro ano.”
P/1 – E realizou cursos? Faculdade...
R – Sim. Não, então, depois do primário eu tive o privilégio também de fazer parte de um outro ensino experimental que era o Colégio Vocacional Oswaldo Aranha. Era um ensino diferenciado, era estadual, mas era muito interessante e eu acho que a minha base profissional, a minha base intelectual até veio desse tempo. Porque o Vocacional, como ele tinha um ensino experimental, a gente tinha um programa de período integral, mesmo sendo estadual, e a gente viajava pra outros lugares. As formas de ensino eram diferentes do que as outras escolas tinham, então nós tínhamos a possibilidade de fazer autoavaliação, então desde muito novinha eu já era estimulada a me autoavaliar naquilo que eu tava aprendendo. Então eu me lembro muito de uma terceira série do ginásio em que eu não tava indo tão bem, mas aí no conselho pedagógico eu fui chamada e eles me mostraram os gráficos do meu aproveitamento, me perguntaram: “O que você acha? Dá pra você ir pro outro ano, ser promovida ou não?” Aí eu olhei e falei assim: “Olha, tirando inglês...” e eu não sei, não lembro qual era a outra matéria “acho que dá”. E aí foi uma coisa muito marcante porque a orientadora perguntou pra mim: “E se você fizesse um compromisso com essas matérias?” Falei: “Ah, tudo bem, o que que pode ser?” Falou: “Então, vamos fazer um compromisso de você aprender mais sobre inglês e mais sobre a outra matéria” que eu não me lembro bem o que que era. E aí inglês ela, eu fui conversar com a professora de inglês e nós fizemos um projeto pra ver o que eu poderia me interessar pra poder aprender inglês, e aí eu me interessei por letras de música, então os Beatles, eu falei: “Eu quero entender o que eles cantam”. Então nós partimos e isso eu achei maravilhoso do ensino, partiu pra mim pra aquilo que eu tinha vontade e a gente, a professora encaixou o aprendizado naquilo. Então quando eu terminei o Vocacional nós tínhamos que, uma ficha de orientação vocacional, e eu, uma pessoa que teve dificuldade no início, eu saí de lá com uma orientação de que eu tinha facilidade pra aprendizagem de línguas, e eu acho que isso é graças, sem dúvida, ao estímulo do ensino. O Vocacional proporcionou viagens interessantes, a forma integrada de olhar as matérias, isso serviu de base pra faculdade, pra tudo. Foi um projeto muito bacana e, infelizmente, essa forma de ensino ficou muito cara pro governo e ele deixou de existir. Essa forma de ensino existe em algumas escolas particulares, mas parecidas talvez, ainda não tão completas como ela. Então era uma época que eu entendia muito de arte, hoje eu não entendo mas eu sabia distinguir uma pintura, ou uma tendência. A gente conhecia muito de música, então as aulas eram muito integradas, eu fazia projeto: construir uma, na marcenaria, uma estante, construir, como que chama isso? Resistência de uma torradeira, coisas que hoje a gente sabe que não se faz, é uma coisa que foi muito valiosa, eu acho que esse foi um ponto muito marcante da minha adolescência.
P/1 – E o que influenciou na decisão, na escolha assim da profissão?
R – Eu creio que o próprio Colégio Vocacional porque ao final a gente saiu com uma orientação, assim, que tendências que eu teria, né? A própria metodologia do ensino já mostrava se você era uma pessoa mais prática ou mais teórica, então aí as classes eram separadas por isso. E eu fui modificando a minha tendência da primeira até a quarta série, eu era uma pessoa mais teórica e depois eu fui passando pra mais prática. Então aí eles chegaram pelas entrevistas, por tudo que eu apresentava, que eu me daria bem em áreas relacionadas a ensino, a bens, a proporcionar bem estar pras pessoas. E aí não se relacionava uma profissão, mas todas aquelas que poderiam estar envolvidas com isso. E aí colocou as facilidades de língua, a facilidade de comunicação, de relacionamento. Então aí depois quando eu fui escolher a faculdade eu já fui direto em Serviço Social, eu achei que essa seria uma coisa que eu gostaria. Eu fiz a faculdade de Serviço Social na FMU, e só prestei lá, eu queria aquela escola, aquela matéria, né? E eu passei em 11° lugar, foi uma coisa bacana porque eu já trabalhava durante o dia, eu já trabalhava na Avon, estudava a noite, então assim, conseguir uma classificação boa assim foi bacana, foi uma coisa bacana. E depois quando eu fiz a faculdade, terminei, eu já estava trabalhando na Avon e eu fui convidada pra ir pra área de treinamento que foi realmente o que depois me deu como profissão. Eu tive uma crise muito grande porque eu falava: “Puxa, mas como é que eu, essa é a profissão que eu abracei, eu vou deixar isso de lado e tal”, eu cheguei a ter uma conversa com uma professora que foi diretora da faculdade, ela falou: “Mas você não vai deixar toda a base que você aprendeu em qualquer outra profissão que você venha a exercer, não precisa ter o título de assistente social”. E aí foi que na Avon mesmo, né, eu entrei, voltei pra lá como assistente social, e depois eu fui pra área de treinamento, eu vi que era por aí mesmo. Então a tendência que eu demonstrei durante o Colégio Vocacional se confirmou depois, que é o que eu gosto de fazer até hoje que é auxiliar, ensinar, educação, olhar uma estratégia mesmo pra poder proporcionar bem estar, isso até hoje, graças a Deus, eu gosto de fazer.
P/1 – E com quantos anos começou a trabalhar?
R – Então, em 1970 eu comecei a trabalhar na Avon, eu tava com 17 anos ainda e ia fazer 18.
P/1 – Foi o seu primeiro emprego na Avon?
R – Foi o meu primeiro emprego.
P/1 – Então como você conheceu a Avon? Quando foi que você entrou lá?
R – Olha, havia um amigo do meu pai que trabalhava na Avon, e aí ele sempre falava muito bem, né? E aí como a gente precisava trabalhar logo, o meu pai já estava doente do coração e muitos filhos todos tinham que ajudar e trabalhar. Então aí esse senhor, chama Joel, ele trabalhava numa área chamada, naquela ocasião, era uma área de métodos e... Era, cuidava da parte de metodologia dos trabalhos, né? Seria hoje o que atualmente as pessoas falam de desenhos de processos. E ele então trouxe uma ficha, né, de candidatos, era assim que se fazia antigamente e aí eles me chamaram, eu fui lá, participei de entrevistas e tal, e eu acabei entrando na área de contabilidade lá. Então eu trabalhei na área, o meu primeiro trabalho foi na área contábil.
P/1 – Já conhecia a Avon antes disso?
R – Não, só conhecia assim de perfumes, né, mas eu não conhecia quase nada, ficava na Avenida João Dias naquela ocasião a Avon, e não era até nem muito perto da minha casa. Mas nossa, foi uma coisa muito bacana eu começar lá, uma empresa já era assim, as pessoas de fora não conheciam mas quando você chegava você já entendia que era uma grande empresa.
P/1 – Então qual foi a primeira impressão que teve quando chegou lá?
R – Ah, eu tinha, eu tinha muito receio porque era um lugar grande, era um salão bem grande, todo aberto e trabalhava muita gente ali. E eu fui logo trabalhar numa máquina, essa máquina chamava (Ascolta?), era uma máquina que você lançava os débitos e os créditos das revendedoras, era uma coisa muito antiga porque a gente tinha um controle manual da quantidade de revendedoras, se a gente imaginar que hoje são mais de um milhão de revendedoras era uma coisa absurda imaginar que naquele tempo eram pouquíssimas, talvez 300, nem sei quantas eram, mas isso em 70. E a gente não podia errar que você tava lançando o valor que ela tinha pago e quanto ela ia dever, e aquilo me dava um peso tão grande, eu saía de lá toda suja porque tinha uns carbonos, então quando errava tinha que consertar nas duas vias. Eu sempre saía com a roupa suja, nariz roxo, mão roxa, então eu ficava estressada porque eu queria dar certo, eu queria fazer tudo certo. Mas foi legal porque esse primeiro emprego, esse primeiro trabalho que eu tive lá, logo eu fui promovida, eu fiquei seis meses só lá. E aí foi interessante porque uma pessoa, que se tornou muito minha amiga, ela conversou que haveria chance de ir pra uma outra área, um trabalho um pouco melhor. E eu tinha prestado, naquela ocasião, o Objetivo tinha cursinhos que você fazia um pré-vestibular pra ver se você poderia passar e fazer o cursinho, e eu ainda não tava na ocasião de fazer isso mas eu fui prestar e eu ganhei 80% de bolsa. Então aquilo foi bacana e todo mundo ficou sabendo e eu queria já terminar o colegial, não tinha, tinha que fazer um supletivo, meu pai e a minha mãe não iam deixar, eles queriam que fizesse cada ano. Mas eu fiquei alucinada com aquilo e aquela notícia passou para as outras pessoas e eu sei que me acharam, né, “Ah, acho que ela pode trabalhar em outra área”. Então isso me ajudou pra ir pra uma área que foi a correspondência, então eu passei pra área de atendimento à revendedoras, trabalhei com a Diná Feijó e Silva, que foi assim uma pessoa bem forte na minha, no meu início de carreira, é uma pessoa que me apoiou, proporcionou assim visão mesmo de trabalho. E hoje seria o que as grandes empresas tem como call center, naquela ocasião a gente tinha uma coisa muito primária, né, que era responder por escrito aquilo que a revendedora reclamava. E eu escrevia as cartas lá pra revendedora. Então foi bacana porque eu saí de um trabalho que era bastante chato até, né, importante e precisa de bastante atenção mas era chato, e fui pra uma coisa melhor que tinha que pesquisar o problema, o que que aconteceu, porque deu errado, achar uma solução, o que nós vamos fazer e depois responder, então foi bacana. Esse tempo eu passei quase uns sete anos nesse trabalho passando por promoções, né, de júnior, pra pleno e depois assumindo uma pequena liderança, mas foi bacana.
P/1 – Continua contando pra gente a sua trajetória.
R – Aí, isso daí nós já estamos, já estou quase perto de 1977, então nessa ocasião assim o que que eu lembro de bacana da Avon? As festas eram maravilhosas, então no final do ano sempre tinha uma festa gostosa com dança, com música, com bastante presentes. A Avon era muito próspera com relação a isso, aos funcionários. Eu lembro também muito que havia uma facilidade muito grande de distribuir produtos, nós sempre ganhávamos produtos, sempre, eu nunca sei dizer exatamente porque acontecia mas eu saía com sacos de sabonete, sacos de produtos, era muito gostoso. Então a gente ficava com uma ideia, era muito fácil amar a empresa assim, gostar da empresa, o respeito que tinha, né, era muito gostoso. O relacionamento também era muito bom, eu trabalhava numa área onde tinha uma moçada muito jovem, né, eram 16, 17, 18 anos e a gente inventava moda mesmo, na hora do almoço a gente ensaiava peças, esquetes, fazia um coral, tinha um rapaz de uma outra área que se interessava em juntar, né? Então eu me lembro que o meu pai ensinava a mim e a minha irmã, e depois lá a gente ensinava os outros – a minha irmã também trabalhava na Avon – e a gente ensinava os demais. Então durante, na época do Natal a gente fazia um coralzinho, fazia uma brincadeira de esquetes imitando propagandas da televisão, imitando pessoas da área, era uma coisa muito informal que ninguém solicitava, mas isso sem dúvida é fruto de relacionamento, um relacionamento, um clima gostoso de trabalho onde as pessoas se interessam em fazer algo além, né? E hoje eu tenho amigos de mais de 30 anos, né, que eu fiz nessa época. Então eu sou madrinha de filho de alguém que trabalhou comigo, eu tenho amigas que são madrinhas, padrinhos de meu casamento então essa é uma coisa muito bacana que a Avon fez, né? Ela fez essa parte importante da minha vida profissional, mas a minha vida pessoal também, bons amigos eu tenho desde aquela época. Depois disso, 1977, eu terminei a faculdade então dentro da Avon nós tínhamos uma área de serviço social, e é claro que eu queria trabalhar lá, então eu tinha por parte da Diná Feijó e Silva, que era a minha gerente na época desse área de atendimento, ela me permitiu, né, conversou com a área de recursos humanos e eu fazia uma estágio, então eu compensava algumas horas e eu fazia um estágio na área de serviço social acompanhando visitas, participando de alguns projetos pra conhecer um pouco mais a área. Só que é claro que isso não satisfazia, porque eu queria trabalhar como assistente social, então surgiu uma oportunidade na faculdade mesmo e eu saí da Avon, em 1977, fiquei por um ano e meio, nem, acho que nem isso. Fiquei fora numa metalúrgica e ali tive a oportunidade bacana de trabalhar como assistente social numa empresa nacional totalmente diferente, né, enquanto eu tinha um ambiente bonito, cheiroso dentro da Avon, quando eu cheguei na metalúrgica era feio, era uma forjaria então eram peças enormes você nem tinha ideia pra que serve aquilo, né? Pra mim era tão fácil imaginar que um produto faz uma mulher feliz, faz um homem mais cheiroso, então era tão fácil isso e quando eu olhei aquilo era tão grande. Mas eu também vi que era legal o fato de eu ter tá podendo aprender mais sobre a área de serviço social. Então fiz projetos muito interessantes lá como a implantação de um plano de assistência médica dirigida, administrado pela empresa, então tive que conhecer hospitais, consultórios, clínicas, laboratórios pra poder credenciar com uma certa qualidade, conversava muito com as famílias dos funcionários porque eles tinham problemas com os médicos. E foi um programa intensivo de crescimento, e aí surgiu a oportunidade de eu voltar pra Avon porque haviam duas assistentes sociais, a
ngela Fioravante e a Priscila, e a Priscila resolveu partir pra área de informática. Então assim, a Avon era uma empresa que dava uma estabilidade muito grande, então você olhar as duas ali não havia uma chance pra mim, não havia pensar vai crescer, vai precisar de mais uma assistente social, não vai, e eu já tava numa outra área com salário já maior, então não tinha nem como entrar como alguma auxiliar, eu entendi que eu tinha que ir buscar fora. Só que aí mudou porque a Priscila foi pra uma área de sistemas e surgiu uma possibilidade, então assim que eu fui informada eu voltei pra lá. Eu me lembro também de uma entrevista muito interessante pra voltar com o Armando de Mônico, que era o gerente de recursos humanos, e quando ele olhou pra mim ele falou assim: “Mas você, com essa carinha de criança, você acha que alguém vai atender as coisas que você vai falar como assistente social?” Eu falei: “Ah, isso é como você vê, na hora que eu começar a falar você vai mudar.” Então eu achei fui ousada, eu achei, poxa, que metida! Mas ele topou o desafio e eu voltei pra Avon como assistente social. Então em 79 eu tava de volta na Avon e aí já na área de serviço social e fiquei muito feliz porque daí finalmente eu tava dentro da Avon de volta, trabalhando como assistente social. E ali foram projetos bem interessantes, eu pude participar de implantações, a
ngela sempre foi muito envolvida querendo coisas diferentes, foi muito bom trabalhar com ela, aprendi demais. E quando eu tava trabalhando com ela a gente pode fazer todo o projeto da implantação do berçário, então conhecer outros berçários, ver com a prefeitura até a possibilidade de um berçário compartilhado com a comunidade, coisas muito ousadas para aquele tempo, né? E assim, eu pude cuidar pessoalmente de marcenaria, o tamanho dos bercinhos, o enxoval dos berços assim, era muito gostoso, muito gostoso. Então foi um momento bem bacana. E aí sim surgiu uma chance de eu partir pra área de treinamento, em treinamento eu fiquei muito preocupada porque eu falava assim: “Eu não tô dando certo no serviço social, por isso que tão me mandando pro treinamento”, eu não achei que era uma coisa boa. E eu, num primeiro momento, eu achei que aquilo não era, foi quando eu fui conversar com a diretora de serviço social e tal, e foi muito legal porque eu acho que ali abriu as minhas portas de treinamento o fato de você ter que treinar as pessoas você aprende a cada dia, aprende mais e mais, aprende sobre a empresa, eu tive a oportunidade de ter contatos com muitas áreas. Eu me lembro assim de situações em que eu fui exposta, que me ajudaram muito, por exemplo, tinha um equipamento que chegou lá, o U-Matic, o pessoal de câmera aí deve conhecer, então era uma coisa bem primordial, antes de VHS, tudo isso, e tinha esse equipamento e ninguém sabia mexer, eu tive que aprender por causa dos vídeos que chegavam. Então as reuniões aconteciam em determinada sala, chama a Ana porque precisamos ver esse U-Matic. Então eu acabei participando, ouvindo tanta coisa e às vezes conversando mesmo: “Que que você acha disso?” E eu achava alguma coisa que eu tava prestando atenção. Então eu acabei sendo envolvida, foram oportunidades, eu acho que eu não perdi as oportunidades, né? Então isso foi bacana de eu começar em treinamento. Eu gostava muito dessa área de treinamento, então muitas coisas mesmo não tendo foi um tempo que não tinha um investimento, como hoje a gente vê um investimento maior, então muita coisa a gente tinha que ir arranjar o dinheiro na casa, né? Não se contratava tanto uma consultoria externa, então tinha que aprender. Então eu... Foi uma época importante porque eu fui começar a participar de associações, eu fui pra conhecer outras empresas, participar de grupos de treinamento, então ao mesmo tempo que eu crescia dentro da Avon eu também fui, acabei fazendo um nome no mercado. Então passei, em mil novecentos e... quase 90, eu acho, 93, eu fui presidente de uma associação de recursos humanos e tive total apoio do presidente da Avon na época, que era o Ademar Seródio, a gente tinha receio de assumir uma posição, assim, de associação e depois não ter como dar conta, mas não, ele apoiou, o diretor de RH que era o Geraldo de Castro, ficou muito feliz, foi lá, e eu fui a primeira presidente dessa associação, que é a AAPSA, que não era diretora de RH, eu era gerente, e em geral eram as primeiras pessoas de RH que poderiam ser presidentes. Mas ali houve uma coisa bem bacana porque eu tive uma eleição com 98% dos votos, uma unanimidade, um apoio mesmo, tava todo mundo assim acreditando e eu fui pra lá, fui fazer, fui ser presidente dessa associação. Mas só voltando um pouquinho, dentro ainda da Avon, eu acho que tive assim a sorte muito grande de trabalhar com pessoas muito bacanas, trabalhei com o Eduardo Ribeiro, que hoje acho que é vice-presidente da Avon do México. Nós tivemos um crescimento dentro da área de RH muito legal, eu lembro que nós tínhamos quase que uma concorrência em relação as áreas de trabalho, e quando a gente tava crescendo juntos houve um momento em que se dividiu uma área e nós dois passamos a ser gerentes, então assim na minha cabeça ficou uma coisa de que não queriam perder nenhum dos dois, não queriam perder a motivação e o pique. E realmente nós tivemos um crescimento muito bacana juntos, uma colaboração muito grande, respeito e admiro muito até o crescimento que ele teve porque ele saiu do país e foi subindo, né? E eu acabei ficando dentro da casa, houve uma situação mais pessoal, né, que meu marido trabalhou na Avon também, depois de muito tempo com os negócios próprios ele partiu pra trabalhar numa empresa, e lá na Avon ele acabou falecendo. Então houve um acidente com uma explosão de um bujão de, barrilzinho de chope e ele tava junto com os funcionários dele da área de transportes. E foi muito trágico porque nós estávamos casados já há 11 anos, eu casei em 80 e ele, e nós não tínhamos filhos e nós tínhamos muita vontade de ter, então nós adotamos uma bebê em julho de 91, e ela tava com seis meses e ele faleceu, então assim, mudou toda a história. Então eu tinha até uma perspectiva de pensar numa carreira diferente, mas aí mudou. Mas aí de novo é que eu vejo assim como a Avon fez uma parte muito forte da minha história, e pra mim é muito honroso tá aqui contando isso, compartilhando, porque eu tive um apoio tão grande da empresa porque nesse momento realmente faltou chão. Eu tinha um projeto de vida que foi totalmente destruído e a Mirella – Mirella é o nome da minha filha, ela hoje tem 17 anos, né? Ela ficou no berçário desde os seus 20 dias, porque como ela era adotiva naquela ocasião não havia uma legislação que desse uma licença maternidade. Então ela foi um dos bebês mais caçulinhas de dentro do berçário, então aquilo que eu vi tantas mães usarem foi muito bacana ver a Mirella ali dentro do berçário sendo cuidada com a segurança enorme que eu tinha. Eu cheguei a fazer viagens, quando ela tava com dois meses eu viajei para o México e o Celso, o meu marido, né, levava ela pro berçário, ela ficava lá o dia inteiro, ele que levava ela pra casa depois, e a gente assim com bastante estrutura mesmo, né? Eu acho que essa é uma coisa que a Avon sempre proporcionou. Então esse estilo de que a Avon é uma empresa voltada pra mulher, com o cuidado da mulher eu senti realmente e respirei esse ar, então eu senti esse cuidado. Inclusive nesse momento em que eu tive tanta dor, tanta perda, eu tive assim através de cartas mesmo do pessoal de Nova Iorque, mesmo do Brasil, mas eu tive principalmente o apoio prático mesmo, que foi o momento que eu tive que me recolher. Então eu tinha a minha área de recursos humanos, na ocasião, tinha quase 80 pessoas, não era nada terceirizado, então tinha o restaurante, tinha a parte de rouparia, tinham várias áreas, né, e eu tinha o apoio do grupo todo. Então a peteca não caiu, os trabalhos continuaram sendo realizados, e muita... eu não conseguia, por exemplo, eu não conseguia ir a frente dar um treinamento porque eu não tinha uma motivação pra passar, né, mas eu tinha como substituir isso. E isso também, apesar de toda tristeza, eu acho que Deus sempre coloca uma luz ali, né, e a gente consegue virar, a minha carreira fez uma subida enorme dentro da Avon mesmo, foi uma ocasião em que tava chegando da Argentina o Ademar Seródio, que vinha com uma direção mesmo de valorização mesmo da mulher, né, era, a Avon era uma empresa com tanto discurso feminino mas não tínhamos uma diretora mulher, tinham várias gerentes mulheres então essa liderança feminina precisava crescer, esse era um desafio internacional. Então nós tivemos trabalhos bem bacanas, foi quando surgiu o Compromisso Avon com a Mulher, o Dia do Compromisso chamava, hoje eu não me lembro mais que nome que tem, mas eu fui responsável por um dos projetos que ficou muito lindo. Foi um projeto, eu não me lembro agora o ano, mas eu lembro que eu fui às conferências de Natal, que aconteciam mais ou menos no mês de julho, pra poder conversar com as, hoje são gerente de setor, antigamente eram as promotoras de vendas, eram mais ou menos 600 mulheres naquela ocasião, pra falar sobre a Arte de Envelhecer Sorrindo, era um projeto que a gente lançou então foi feito um comitê e eu liderava esse comitê, a gente foi a asilos e aí tinha toda uma pesquisa por trás que a mulher dura mais do que o homem, vive mais. Então dentro dos asilos havia muitas mulheres e o projeto da Avon foi ir até, visitar esses asilos o máximo possível dentro do Brasil envolvendo as promotoras, e elas deveriam, as mulheres do asilo, que estavam no asilo, receberem produtos de higiene pessoal. Isso foi bacana, emocionante. E eu me emocionei muito de fazer esse projeto. E eu fui contar pras promotoras essa situação, o diretor de vendas da ocasião era o José Wagner Macedo de Carvalho e foi muito legal porque, além do José Wagner ter sido muito gentil, depois me mandou flores, agradecendo e parabenizando a minha participação, na hora que a gente tava fazendo a apresentação, com toda a emoção contando, mostrando o que elas iam fazer, nada foi gravado. E aí eles tiveram, todos saíram pro jantar e eles falaram assim: “A notícia boa é que ficou ótimo, a notícia ruim é que você vai falar de novo como se todos tivessem aí, porque não foi gravado”, eu falei “Aaaa”. Então depois eu falei pras melancias, né, que estavam. Mas ficou bacana, o projeto foi muito bacana, então isso foi... E aí eu tô falando que a minha carreira foi subindo, né, eu tava então só com a área de treinamento já como gerente, e depois foram anexos outras áreas, outras áreas, e também grandes reestruturas na Avon, eu sei que ao final quase do tempo que eu saí eu já era responsável por RH, respondia direto para o gerente geral e para o presidente, porque o Eduardo Ribeiro que estava sendo preparado para ser o diretor de RH já estava nos Estados Unidos, não tinha voltado. Então ali eu tive assim uma oportunidade muito grande em termos de trabalho de redesenhar a área de RH, de ter um apoio muito grande do presidente, do gerente geral que era o Ademar Seródio e o Odécio Lenci, que foi uma pessoa de muita importância na minha carreira, sabe? De acreditar, de ouvir e assim de eu sentir que havia um profissionalismo na hora de a gente tratar os assuntos de recursos humanos. E aí não tinha mais, nós éramos em três gerentes e um diretor, aí já não tinha o diretor, já não tinha o outro gerente, já não tinha, eu fiquei sozinha e foi um tempo que o grupo cresceu muito porque eu tive que aprender a delegar na prática, e as pessoas cresceram porque foram fazendo mais coisas, né? E essa ocasião também foi uma virada grande porque tinha o José Sebastião, que foi uma pessoa maravilhosa, ele foi meu chefe depois na reestruturação eu acabei fazendo, ficando com a área como um todo, então eu acabei liderando pessoas que tinham me liderado, então isso foi um desafio grande pessoal e profissional, e são os meus amigos, então eu acho que foi um desafio vencido, né, vencedor. Então isso daí foi legal. E aí eu desenhei, redesenhei a área de RH pra um modelo de consultoria interna. E nesse modelo de consultoria interna a gente não precisaria ter a minha figura porque esse era o modelo: todos funcionariam como menores gerentes, né? E eu comecei já a pensar, eu falei: puxa vida, eu não gostaria de sair do Brasil nesses projetos de desenvolvimento de carreira porque eu tinha perdido o meu marido, tava com a minha filha pequena, tinha que ficar mais perto da minha família, né? Então eu não me via saindo do Brasil pra participar de um projeto pra desenvolver a carreira, então eu pensava: eu vou ter que desenhar uma maneira de sair da Avon. E foi uma ocasião que eu comecei a aceitar vários convites de outras empresas pra participar mesmo de processos seletivos, e um headhunter uma vez me falou uma coisa que me gravou muito, ele é da Spencer Stuart, é o Guilherme Dale, ele disse o seguinte: “Dificilmente alguém te tira da Avon, você tem uma identidade tão forte com os valores da empresa que você não consegue, você tá passando numa entrevista tudo aquilo que você tem de identidade, de coesão mesmo, com os valores”. Eu falei: “Puxa, isso é uma notícia boa mas uma notícia ruim, então se eu tiver que sair tem que sair pra mim mesmo, né?” E foi aí que eu comecei a conversar já participando muito das rodas de outras empresas, de outras associações, eu conheci o Minarelli, que hoje escreve muito sobre empregabilidade, ele ainda ia lançar o seu primeiro livro sobre empregabilidade, eu me lembro que em um coquetel ele começou a conversar sobre o que ele ia fazer, o que ele tava colocando no livro dele, eu falei: “Você me deixa anotar isso aí, eu quero anotar”, peguei um papel no coquetel e comecei a anotar o que ele tava falando, falei: “É isso que vai ter que ser, pra eu sair da Avon, pra eu começar uma coisa nova eu tenho que sair da Avon. Eu tenho que sair pra alguma coisa minha mesmo, pro meu trabalho”. E aí essas coisas foram sendo desenhadas na minha cabeça sem uma estrutura. Mas quando surgiu a unidade de Osasco, a unidade de distribuição ali, eu fazia parte de um grupo que fazia o planejamento daquela unidade, era tudo muito confidencial ainda e a gente contratava, fazia reuniões com muitas empresas quem é que vai gerenciar, ou quem é que vai administrar a seleção das pessoas, a implantação da unidade, né? Eu comecei a olhar aquilo lá, até olhar mesmo os valores, falei: “Será que não é hora de eu pegar e fazer disso daí o meu desafio?” E o Eduardo Ribeiro tava voltando pro Brasil, então tudo aquilo que eu tinha crescido era a hora agora, eu tinha certeza, era hora dele ficar na frente e eu ficar bastidor e eu falei isso pra ele, eu falei: “Edu, você tá aqui agora, é você que tem que aparecer, mas eu tô habituada a fazer as coisas, então tem que ser bastidor pra você, então a gente tem que se organizar nisso, tal”. E eu achei que era uma coisa bacana pra mim e eu falei: “Olha...” Assim, eu tinha acabado, só interrompendo, voltando um pouquinho atrás, eu tinha acabado de receber um prêmio de, foi o primeiro Special Award que a corporação entregou para uma pessoa de RH por causa da mudança que foi feita em RH, então quando eu falei em sair da Avon pra fazer o projeto da unidade de distribuição, é claro, a primeira coisa que o gerente geral falou: “Você acabou de ser premiada, como é que você vai sair?” Eu falei: “Mas eu sou melhor lá fora do que aqui dentro”. Então eu comecei a desenhar uma empresa que surgiu, a primeira empresa que eu fiz no meu nome que era H Giamarino Recursos Humanos, então eu fui sair da Avon, montei essa empresa então. Eu não, não deu tempo, saí num dia, no dia seguinte já estava na unidade de distribuição, não havia escritório, não havia nada, o único telefone era o meu celular que eu comprei no caminho indo de Interlagos pra Osasco. E ali junto com a Lenita Hessel e o Evandro, que eram meus sócios, nós montamos toda, o início da HG Recursos Humanos, e todo o recrutamento, toda a administração dos primeiros funcionários daquela divisão lá foram dessa empresa, né, de seleção.
P/2 – Você tava falando da sua ida pra Osasco.
R – Ah, ok. Então nessa ocasião surgiu essa chance de eu montar a minha primeira empresa e eu lembrei bem disso que ninguém me tiraria da Avon, então tá bom, vou eu, né, e eu me tirei da Avon, né, mas sem desligar dela e até hoje, né? Mas assim, só voltando, acho que uma conquista bacana pra mim como experiência profissional foi o redesenho da área de RH, tava se falando muito do modelo de consultoria interna e a Avon tinha um modelo mais estático em todas as unidades, né, e eu queria fazer essa mudança. E aí foi muito bacana o apoio todo que o Odécio deu, porque ele viu que havia seriedade no que eu queria fazer, não tava fazendo alguma coisa que fosse política, negociamos vagas, mexemos em várias coisas, e aí trabalhamos numa questão de mudança. Então eu lembro que para envolver os funcionários eu comecei a falar sobre atendimento a clientes, então eu fazia um trabalho missionário: eu tomava café com o pessoal do restaurante, grupo por grupo e falava: “O que que é um cliente pra você? Me conta de um lugar onde você foi bem atendido e um lugar onde você foi mal atendido? Dentro da Avon, como você acha que o funcionário é: olha o atendimento que o restaurante dá”. Então eu comecei a falar um pouco de que a gente precisava mudar, a gente precisava ouvir o que os nossos clientes de RH queriam e como a gente podia mudar. Então com essa introdução a gente fez uma união mesmo dos funcionários e eu precisava de alguém de fora, interlocutora, e aí me ajudou a consultora Fátima Albraga. Então a gente discutiu o modelo que eu tinha em mente e ela ajudava com a metodologia. Eu me lembro que eu fiz com um grupo um trabalho que a gente pegou um símbolo chamado Daruma, é um símbolo oriental, e nós tínhamos lá que desenhar o outro olho do Daruma só quando a gente conseguisse conquistar, e a gente se fez vários desafios de mudança. Fizemos perguntas a todas as áreas: o que vocês esperam de RH, saiu realmente quase que uma pesquisa de clima porque não falava só de RH, falavam de várias coisas e aí aquilo que eu pensei que era um tiro pequenininho ficou grande. E aí nós apresentamos os resultados pra toda a diretoria, algumas mudanças puderam ser introduzidas, o restaurante mudou um jeito de oferecer a alimentação, foi bem bacana e, principalmente, desenhado por todo mundo, todo mundo ajudando. E foi a ocasião em que a gente teve o apoio do presidente, porque havia uma crítica de que RH não fazia nada, RH não mudava e aí de repente foi bacana eles verem o presidente indo lá no nosso churrasquinho que a gente tava comemorando o início do trabalho, o início da mudança. E eu lembro que a gente trabalhava a questão, meio dramatizado, sobre como a gente via a mudança e aí como é que eu vejo a mudança? Eu tenho medo dela? E havia uma situação que foi bacana, eu aproveitei que nós não tínhamos um lugar pra fazer a nossa reunião, então o grupo de RH dizia assim: “Ah é? Você tá falando tanto que você quer fazer mudança e tal, mas marketing vai pra um hotel não sei aonde, vendas vai pra não sei o quê, RH não tem uma sala pra fazer a reunião de alinhamento!” Aí eu falei: “Mas nós vamos fazer assim mesmo!” E nós fomos pra uma sala de ginástica, quente, tinha espelho, tampamos todos os espelhos, não tinha uma tela, eu fui buscar uma toalha que a gente colocou na parede. Aí precisava de um lugar pra gente colocar o retroprojetor, que a gente usava naquela ocasião, não era tão chique como hoje, e não tinha um banquinho numa altura, aí tinha um rapaz chamado Francisco, da área de manutenção, ele era marceneiro, e eu falei: “Francisco, vem aqui me ajudar numa coisa. Você não tem lá na marcenaria alguma coisa dessa altura mais ou menos pra eu colocar um retroprojetor?” Ele olhou assim, ele falou assim: “Eu vou dar um jeito”. Aí ele veio, nós ficamos usando outras providências, eu não sei quanto tempo ele levou, ele fez um banquinho e ele trouxe lá. Aquele banquinho foi uma coisa maravilhosa que a gente usou como uma âncora mesmo, porque aí eu deixei ele ali do lado e falei: “Eu quero dizer pra vocês que aqui o Francisco tá mostrando o que é atender a necessidade do cliente. Ele não me pediu antes uma aprovação, uma ordem de serviço, ele entendeu o que eu precisava, ele sabe que nós vamos fazer isso direitinho dentro da regra, e ele não fez nada que fosse fora do que ele podia fazer, mas ele atendeu, ele trouxe o banquinho do jeitinho que a gente precisava”. Então aquele banquinho virou, além da gente ter tido uma lição enorme na prática do que é atender o cliente, necessidade, a gente viu também que a gente tem que ser ousado, tem que fazer as coisas no sentido que o outro precisa. E aquele banquinho então as pessoas pegavam o banquinho, subiam no banquinho porque quer fazer mudança, empurrava o banquinho porque tá com medo da mudança. Aquele banquinho foi usado na dramatização de um monte de jeito. E assim, pessoas que achavam: “Eu não vou estar dentro dessa mudança, eu vou ficar fora”, talvez tivesse receio até de que não conseguissem acompanhar o que a gente tava querendo da área de recursos humanos. Mas foi um movimento bacana, eu acho que foi o último trabalho, que eu diria, que eu levo com saudades porque eu consegui assim ter ali com o grupo um grupo de profissionais comprometidos, com vontade de dar certo. Esse desenho foi muito rudimentar, hoje tem uma coisa muito mais, melhor arranjada, outros gerentes que passaram por lá fizeram trabalhos muito melhores. Mas assim, a base que a gente fez ali foi bacana, cada um podendo dar o seu melhor, e cada tendo um espaço pra se desenvolver, quem quis se desenvolveu. E hoje eu vejo algumas pessoas espalhadas em outras empresas, nessa ocasião a gente tinha lá a Márcia Drysdale, que hoje é uma gerente da América Latina da Cargill, eu vejo assim Cristiane, não a Cristiane não estava nessa época, Andréia que hoje é gerente da Johnson na América Latina. Eu vi um grupo que cresceu, Andréia era uma estagiária ali. Então a gente, eu acho que foi uma boa plantação, né? Então aí esse foi realmente meu último trabalho, que eu diria assim, gostoso com a Avon. E aí eu fui pra partir pra minha empresa, que foi a H Giamarino, hoje ela existe como HG é uma das empresas melhor conceituadas pra atendimento de recursos humanos. E eu estive com a Lenita e o Evandro durante dois anos praticamente, mas aí eu vi que eu queria mesmo era trabalhar com a parte mais de desenvolvimento e treinamento e que a empresa dificilmente conseguiria sair do foco que ela foi criada que era treinamento, era seleção. Isso foi difícil pra mim porque eu falei: como é que eu peço demissão da minha empresa? Leva o meu nome, era o que eu queria, investi dinheiro, foi bacana, a gente teve todo um apoio, eu tava na associação como presidente, então já teve publicidade boa. Nós tínhamos um apoio até, fazíamos alguns cafés a tarde, uns happy hours com apoio da Folha de São Paulo, tinha assim, era um grupo bacana. Eu entrei numa crise mesmo porque eu falei: “Isso não é o que eu quero, eu tô trabalhando aqui direto, eu queria um tempo maior com a minha filha e aqui eu saí de dentro da Avon de uma correria, e eu fui pra dentro dessa empresa que é o mesmo tamanho, era uma empresa já grande, tinha um monte de gente”. E aí eu encolhi tudo de novo, montei um escritório em casa e aí comecei a Giamarino Desenvolvimento e Valorização de Pessoas, que é a que eu tenho até hoje. Então esse modelo é um modelo que ficou bom pra mim, eu trabalho na minha casa, é um home office, eu me junto com outras consultorias, fiz parte de projetos junto com o Price White House, fui treinar consultores da Price até na Argentina e junto com o TDC como consultora da TDC, que é uma outra organização que presta serviços no mercado. Com a TDI, que é uma empresa internacional na área de assessment, na área de treinamento. Sou consultora credenciada deles, fui treinada fora do Brasil pra isso. Então esse modelo... E também sou consultora pela Extended DISC pra projetos de clima organizacional onde hoje a gente tá fazendo um projeto grande com a Pernambucanas, atingindo 14 mil pessoas. Então eu não deixei de trabalhar, eu faço hoje exatamente assim, revendo a história que eu tô contando pra vocês, aquilo que eu sempre gostei e hoje com prazer maior. Hoje eu tenho a possibilidade de fazer isso sem, talvez o ônus, o encargo da gestão de uma equipe, dos resultados que eu tenho que dar dentro da empresa, eu tenho que dar resultado pro cliente mas o meu tempo é muito maior, né? Há um ano e meio eu tô morando na cidade de Tatuí, decidi sair de São Paulo por motivos mesmo de segurança, por motivos de dar uma qualidade melhor pra minha filha. Durante todo esse tempo eu sozinha, né, que eduquei, criei e percebi que em São Paulo eu tava criando uma menina, assim, tensa, preocupada com os mesmos problemas de segurança que todo mundo tem. Então ficava muito presa em apartamento enquanto eu tinha que trabalhar e tudo. E eu escolhi a cidade de Tatuí, próxima de Sorocaba, é uma cidade voltada pra música, uma cidade gostosa, pequena, 120 mil habitantes. E tenho trabalhado muito pra São Paulo e pra outros lugares, feito até treinamento fora do Brasil mesmo. E a estrada acaba sendo bastante, mas eu gosto de dirigir, é um tempo em que eu às vezes até relaxo. E hoje ela tá mais solta, mais livre, então ela anda pela cidade, ela faz projetos, participou já de aulas de dança com uma bailarina da cidade, dançou no conservatório da cidade, né, que é o Teatro Municipal. Então coisas que aqui a gente não teria acesso porque tão grande e lá ela tá tendo essa oportunidade, então eu tô feliz, tô feliz.
P/1 – E quais foram os principais desafios que você enfrentou dentro da Avon?
R – Olha, um grande desafio foi assim, eu sou da primeira geração de mulheres que começam a se tornar supervisoras e gerentes. Então, em recursos humanos mesmo, eu fui a primeira supervisora. Não, a primeira não, a
ngela foi a primeira. Mas assim, eu participava de uma, como é que eu vou colocar? Na distribuição das áreas eu tava muito mais junto com os homens do que a
ngela, tinha uma área separada de serviço social que era um espaço mais preservado. E eu me lembro que eu ficava doida da vida quando a gente tava conversando um assunto importante, interessante, todos os homens entravam no banheiro antes do almoço e aí o assunto continuava lá dentro, mas eu tinha que esperá-los do lado de fora e não sabia como terminava. Então assim, eu falava assim: “Que droga isso daí, né? Os banheiros deviam ser juntos, já que todo mundo conserva e a gente continuava os assuntos, né?” Na ocasião assim eu tinha um gerente, que era o Geraldo, ele é falecido já, Geraldo de Cássio de Oliveira. E o Geraldo ele era muito engraçado e ele era um mineiro que gostava de deixar meio claro que a mulher não era pra tá ali, né, então era interessante essa, o discurso da Avon era a valorização da mulher, mas o dele... Mas a gente se dava muito bem, ele me dava um excelente espaço de trabalho. Esse desafio então do crescimento da mulher é interessante. Eu acho que um desafio também era o desafio de crescimento mesmo, né, a gente tinha que provar crescimento. O Brasil tinha, o Brasil como subsidiária americana, né, tinha dificuldade da questão da dolarização, então os resultados que a Avon eram brilhantes aqui, mas de repente você não via a mesma coisa quando falava de corporação, então muitas vezes quando eu tava em outras unidades da Avon em treinamento, tudo, a gente via que os outros países que dolarizavam tudo, né, o México, por exemplo, tinham uma cadeira mais importante, tinham um valor maior, né? Então eu acho que isso era um desafio, quase que uma tristeza, né, que a gente tinha. Deixa eu ver um outro desafio... Acho que o meu desafio pessoal mesmo, né, maior foi a perda do meu marido mesmo, porque eu tinha que redirecionar a vida, tinha que redirecionar até a carreira, né, eu até imaginava que talvez eu não fosse continuar dentro de uma empresa, que eu queria ter uma loja, eu queria ter alguma coisa que eu pudesse realmente dar uma vazão maior a ser mãe, né? E no fim não foi assim, mas o desenho ficou bom porque eu vejo hoje o resultado da minha filha, tudo, ela é tão amiga minha, eu achava que eu não tinha dado tanto tempo pra ela. Mas eu vejo assim que ela conta todas as coisas, eu sou muito participante dos sentimentos dela, das emoções dela, as crises agora com namorado, amor, desilusão, tudo isso é comigo que ela conta. Então assim, eu acho que essa coisa foi boa. E também paralelo disso, sem dúvida, eu sou uma pessoa cristã, então a fé ela acompanha, então ela dá a base sólida de você enfrentar, de você ter em quem se apoiar, então eu não tô sozinha nunca, então isso é uma coisa legal.
P/1 – E quais foram as principais alegrias?
R – Ah, eu tive muitas alegrias, na Avon muitas alegrias, tive premiações, né, eu participava, eu gostava, eu era muito envolvida com as coisas. Então eu lembro que nós inventamos uma vez, a Selene, era uma jornalista muito bacana que cuidava da área de comunicações, uma vez nós inventamos de ter um vídeo jornal dentro da Avon. E aí, claro que não tinha verba pra tudo isso, então nós fomos aprender a filmar, e saímos nós lá com uma câmera filmando e ela fazendo entrevistas, e falávamos do chá que era servido na Avon, falávamos de: “O que que você acha de participar de uma pesquisa de clima organizacional?” E falávamos várias coisas. E aí esse, e aí nós fizemos, eu fui convidada pra liderar uma pesquisa de clima dentro da Avon, foi a primeira que foi feita, eu acredito que 1980, por aí, e veio uma pessoa do Rio de Janeiro, um sociólogo, sócio-político, alguma coisa assim, ele veio pra gerenciar isso, era uma empresa internacional que a Avon contratava em outros países, e eu pude trabalhar muito perto dele, Amauri de Souza era o nome dele. E aprendi muito, muito, hoje é uma área que eu adoro que é clima, cultura organizacional e eu, a base foi lá. E aí a gente desenhou todo o processo dentro da Avon e foi maravilhosa a primeira pesquisa, nós treinamos as pessoas pra poder liderar discussão dos resultados, e a gente levava essas pessoas pro SESC pra ficar longe da empresa e ter isenção de discussão, foi um processo muito bacana. Então assim, eram desafios, né, fazer o vídeo jornal pra perguntar pras pessoas o que elas achavam de fazer uma pesquisa, e depois mostrar aquilo, treinar as pessoas pra poder fazer de conta que é jornalista, eram umas loucuras boas do tempo que a Avon era menor, né, era bacana. Eram oportunidades que a gente teve de aprender, de por a mão na massa, crescer.
P/1 – E como o relacionamento com os colegas de trabalho?
R – Ah, sempre foi muito bom, muito bom. Havia sempre, em toda empresa tem a questão política, a gente tem que saber dosar, olhar e atentar pra onde você tá pisando, né? Mas eu sempre tive um trânsito muito fácil, eu não tive, eu nunca fui envolvida em questões muito de divisão política, eu sempre tive um trânsito, um acesso fácil pra baixo e pra cima em função do treinamento. Então dar treinamento dentro da Avon me fez, assim, uma pessoa que conhecia muito as pessoas e que também era conhecida. E a gente falava coisa boa, você nunca treina pra fazer, falar coisa ruim, então as pessoas eram gratas, tinham essa facilidade. Ainda depois que eu terminei o trabalho com a Avon na parte de seleção, eu voltei a fazer consultoria pra outras áreas, né, então até treinamentos, uma parte ligada à avaliação e desempenho e eu revia muitas pessoas lá dentro, né? Então era uma coisa bacana porque, primeiro assim, todo mundo lembrava da minha filha: “E a Mirella, como vai?” “A Mirella, como vai?” Mirella é quase uma funcionária lá, então é interessante isso porque todo mundo viu, e também o acidente que causou a morte do meu marido foi muito forte, né, uma coisa que mexeu com todo mundo porque ninguém nunca tinha ouvido falar que um bujão de, um barrilzinho de chope podia explodir e matar alguém, e ele explodiu e matou. Então assim, os funcionários estavam juntos, as pessoas estavam junto, foi uma coisa muito forte. Então todo mundo passava muito no berçário, ela tava com seis meses, e o berçário ainda na Avon tem um vidro, né, então todo mundo olha aquele aquário lá, então sem dúvida todo mundo ia lá ver. E lá também foi um refúgio maravilhoso pra mim porque eu ia lá chorar muito, eu ficava lá naquele cantinho chorava e chorava, e me alimentava de novo e voltava pra trabalhar e foi bom, eu não quis ficar fora, eu não quis ficar afastada um tempo pra isso porque eu precisava, na verdade, obter força onde eu era a fonte, e o trabalho dá essa força. E ainda a minha filha ali do lado, às vezes era muito difícil voltar, por muitas vezes eu chegava e não subia pro apartamento eu ficava na garagem com ela dormindo, não tinha coragem, falava: “Fazer o que lá dentro?” Porque lá no trabalho de qualquer maneira eu tinha uma forma, né, de tá levando o dia, terminava o dia tinha que voltar, isso era difícil. E aí a gente vê também a solidariedade nesse relacionamento que você... porque eu tinha, eu tive assim o apoio de muitos amigos dentro da Avon mesmo, às vezes fornecedores, eu lembro assim a preocupação das pessoas em que eu tivesse, que eu tivesse bem, que eu pudesse envolver com as coisas. Até esse projeto mesmo do Compromisso Avon com a Mulher foi um convite, assim, inédito pra mim que veio da área de vendas, RH geralmente não participava das coisas de vendas, né, e foi bacana porque eu pensei que eu não ia ter condição, mas essas coisas vêm como força. Essa mesma época eu tava assumindo a presidência da AAPSA, eu me lembro que eu falei, eu ia assumir, eu tava sendo preparada pra assumir, eu falei: “Eu não vou ter condição, não me peça isso que eu não vou ter como”, e uma pessoa maravilhosa que não é da Avon, é o gerente de RH da Semp Toshiba, o Wolf, ele falou pra mim: “Ana, me permita conversar com você, a gente vai conversando a respeito das coisas da associação, não toma uma decisão agora, vamos esperar.” E foi ótimo eu não ter aberto mão disso porque foi importante pra minha carreira passar esse tempo como presidente da associação, eu tive apoio de novo. E de novo, o fato de você tá em dificuldade faz com que outras pessoas cresçam e que você não centralize poder, então isso me ajuda até hoje, eu não sou uma pessoa que goste que as coisas fiquem só centradas em mim, é gostoso dividir, é gostoso fazer parte, né? Então isso facilita o trabalho, é mais fácil pra mim trabalhar em equipe. Então nesse relacionamento, como você perguntou, eu acho que eu tive bastante facilidade, eu tenho, acho que, essa flexibilidade pra trabalhar.
P/1 – E você lembra de algum fato pitoresco, assim divertido que aconteceu ao longo desses anos de Avon?
R – Eu lembro de uma situação que envolveu o Eduardo e eu. Tem uma passarela que sai do escritório pra ir pra fábrica. Aquela passarela é no chão mesmo, ela não é alta mas ela... é muito vento que faz ali, muito vento. E eu me lembro que eu tava com a mão cheia de material e tava junto com o Eduardo passando aquela passarela e conversando, e o vento começou a subir a minha saia, eu falei: “meu Deus!” E ele ficou desesperado porque ele não sabia se ele colocava a mão para abaixar a minha saia, e eu falei: “Segura isso pra eu segurar!” Porque a saia ia subir, então foi uma cena engraçada que eu falei, “Puxa vida, ele tava com a ideia certa, mas não ia ficar bem.” Foi engraçado isso daí, acho que essa daí eu tô lembrando agora não sei se tem outra. Não sei se vou lembrar, essa daí veio agora.
P/1 – Tudo bem. Agora vamos conversar, conta um pouquinho pra gente da família.
R – Ah, então, nós somos em seis irmãos, né? Eu tenho uma irmã que mora em Goiânia, essa minha irmã é a irmã mais velha que é filha do primeiro casamento do meu pai, mas ela sempre foi uma referência super importante pra mim, né? Foi uma amiga, a irmã mais velha é meio mãezona, meio conselheira, a minha mãe era mais rígida com as coisas de namoro, era ela que sabia das minhas coisas assim, que aconselhava, era muito bacana. E ela é viúva, hoje tem dois filhos e tem três netos, então eu já sou tia-avó pela quarta vez, tem um sobrinho-neto aqui também. Eu tenho uma outra irmã que mora em São Paulo, que é a Lenita, tem três filhos, um netinho, então eu tenho um outro sobrinho-neto de, vai fazer dois anos, é o Bernardo. Aí tem um irmão que é o Altair, que é do primeiro casamento do meu pai também. Aí tem a outra irmã que era a minha companheira mais ligada que é a Eledir, a Eledir hoje é a diretora da associação, a AAPSA, onde eu fui presidente e ela também é, ela tem a divisão de eventos da Giamarino, ela que toca essa parte aí. E tem um irmão caçula que é o Nilton que hoje é diretor de seguros na Vera Cruz, Mapfre, e também tem uma filhinha adotiva. Então foi muito interessante a história da Mariana também porque quando o Celso faleceu, ele faleceu no dia 10 de janeiro de 92, e a Mirella nasceu dia 12 de julho de 91, ela tava com seis meses, e todo mundo sabia que eu queria dois filhos, pelo menos duas filhas, né, então todo mundo queria me arranjar a segunda filha porque eu queria meio próximo. E nessa ocasião nasceu um bebê, né, mas eu falei: “Não tem menor chance”. E aí meu irmão, aí eu falei pro meu irmão: “Nasceu a tua filha.” E aí ela tinha nascido no dia 30, então ele adotou a Mari que é a coisa mais linda, elas são amiguinhas, eles são muito felizes, é uma linda sobrinha, a minha cunhada e meu irmão são muitos felizes com ela e o outro filho que eles têm, então foi bacana. Então são essas, essa é a constituição da minha família, acho que eu falei de todos. E agora assim há um ano e meio morando lá, eu tenho um distanciamento maior deles, né, que parece que às vezes a gente quando tá perto não se visita tanto, quando tá longe se visita mais. Então agora, próximos dias aí minha filha faz 17 anos, então eu tô aguardando que a família se reúna pra gente comemorar aí os 17 aninhos dela.
P/1 – O que que você gosta de fazer nas horas de lazer?
R – Eu tenho muito trabalho no projeto social e da igreja, né? Então assim, eu tô muito junto com os jovens, a cidade de Tatuí é uma cidade com muitas carências, né, e como a minha filha é novinha, né, então eu tenho assim, o grupo de amigos dela estão sempre por perto em casa e tal. Eu gosto muito de tá com eles, de conversar, de orientar mesmo, né? “O que você quer fazer, carreira? O que você gosta? Como é que é?” Porque eles têm assim, às vezes, pouca esperança em relação as coisas que acontecem por lá, né? E lá também tem, anexo à igreja, tem um projeto social muito bacana que é o Recanto Bethel que atende crianças de 4 a 16 anos com relação a, assim, projeto após a aula, né, tem a aula normal da escola depois vai pra lá, tem música, tem dança, tem culinária, tem artesanato, é muito bacana. E com isso eu conheci um grupo novo de pessoas, então tem o Dinho e a Érica, o Dinho trabalha com música, uma pessoa fantástica. Tem o Wagner e a Juliana que são... Então eu formei um novo grupo muito diferente do que eu tinha aqui, e muito gostoso. Eu gosto demais de artesanato, eu sempre que dá tempo então eu trabalho com quadros, com pasta de modelagem, com coisas diferentes, tenho vários quadros meus na minha casa, faço pros outros também e gosto de mexer com pintura em madeira, decoupage. Agora eu tô inventando aí de aprender um pouco sobre patchwork porque eu gostava tanto de costurar, e agora no final do ano a gente fez um mutirão pra fazer, produzir muita coisa com os tecidos que eles ganharam lá e eu fiz uma porção de panos de prato, eu falei: “Ah, eu acho que eu vou começar a mexer com esses tecidinhos gostosos”. Então eu tô com uma porção de panos lá pra fazer, mas tô com muito trabalho também. Então eu tenho que dividir um pouco o que, uma coisa e outra, né?
P/1 – Então agora a gente vai partir assim, pra uma avaliação, né, mais pra concluir a nossa entrevista. Pra você qual é a importância da Avon, né, pra venda direta?
R – Ah, eu acho que o estilo, né, a forma como a Avon nasceu, né, com a história toda do vendedor de livros tudo isso, ele veio, essa maneira veio pra trazer um equilíbrio. Hoje eu penso muito a questão família, a gente tem os valores da sociedade sendo totalmente destruídos porque a gente não tem mais a base familiar constituída. Então se a gente pegar de 20 anos pra cá a gente não tem a família que era antes: pai, mãe, pais casados bastante tempo, filhos que aprendem que casamento é uma coisa boa e que é pra sempre. Então hoje as crianças aprendem que casamento se não der certo você troca, mas não precisa casar também, não precisa ter benção da igreja, não precisa ter uma benção, uma legalização por parte da lei, né, casar no cartório direitinho. Então essa questão destruída ela traz uma porção de defeitos pra tudo que vem pra frente, pra pessoa que tá dentro da empresa, como funcionário, pras pessoas que lideram, pras escolas e tudo mais. E aonde que eu vejo a venda direta aí como um benefício enorme? É uma possibilidade da mulher fazer a sua renda cuidando da sua família. Eu acho que aquela visão que era tão futurista daquela época hoje, no pós-moderno que a gente fosse falar, a gente deveria resgatar, por que o que eu fui buscar pra mim? Que eu pudesse trabalhar dentro de casa, olhando o que acontece na minha casa. E é um perigo enorme porque eu mesma tive que reorientar um monte de vezes a minha filha sobre internet, que que eu sei que ela olha lá? Hoje, no meu escritório, tem um escritorinho pra ela também, eu sei o que ela tá acessando, a gente compartilha as senhas. Agora, quantas mães que não tem mais isso? Quantas coisas estão destruídas? Então até no social eu vejo isso, fora a questão econômica, né? A questão econômica eu acho maravilhoso porque não existe crise na venda direta, nenhuma vez você vai ouvir na história da Avon crises que sejam, assustam sim, a cada três semanas a gente tava lá naquela “Deu? Como estão as vendas? Como estão as vendas?” Mas é uma empresa que não vai falir, enquanto houver uma mulher que tem vontade de se cuidar, e isso vai ser eterno, vai ter um produto a disposição dela, vai ter um catálogo que chega na mão dela de qualquer jeito. Em Tatuí, onde eu estou, eu vejo lojas Avon, não é o sistema direto, mas é a maneira como eles encontraram lá e excelente isso. Então a venda direta tem um aspecto econômico super forte, vantajoso e tal. Mas tem uma aspecto cultural, social e de resgate de valores que, puxa vida, não sei quem que poderia trabalhar isso porque seria ótimo, seria ótimo. A gente olha assim as cidades menores, as crises, os problemas familiares. Não que quem esteja num nível maior de... na pirâmide social, não teria que tá com a mesma preocupação, até maior, mas a base maior tá embaixo. Se a gente conseguisse ter essa questão mesmo, valorização da família através da mulher mais presente dentro da casa, aí eu não tô nem falando que precisa dividir os papéis ou não, tudo bem, o homem pode lavar a louça, pode cuidar das coisas dele tá bom, tem que fazer mesmo, mas é pra mulher mesmo que sobra a sensibilidade de educação, a sensibilidade do dia a dia, o jeito de cuidar, né? Eu fiz um artigo uma vez que eu falava desse equilíbrio, e esse resgate está na mão da mulher e não vai perder por ser mais profissional ou menos profissional, vai ganhar.
P/1 – E os produtos da Avon chegam aos lugares mais distantes, mais inacreditáveis do país, né? O que você acha disso?
R – Ah, eu acho maravilhoso, maravilhoso. Agora vou contar, posso contar mais uma coisinha?
P/1 – Claro!
R – Eu achei, eu tava uma vez em Nova Iorque no Carnegie Hall, tava lá o presidente da Avon, era o Jim Preston. E aí eu tava assistindo, eu tava participando de alguma reunião e aí como todo mundo tinha que ir pra lá eu fui também, e junto também tava o Luis Carlos Varrine, que foi um diretor de finanças da Avon, só que eu vi ele do outro lado, era um lugar muito grande. Mas fizeram uma caricatura, chegou lá uma artista contratada, né, e fez uma cena de que estavam vendendo, trocando produto da Avon por galinha e por ovos, e uma coisa assim, né? E aí eu fiquei meio ofendida, isso no Brasil lá na Amazônia, falei: “Ah!”, falei: “Puxa vida, isso é desagradável porque estão fazendo uma gozação” mas na verdade o que acontecia quando chegava o produto lá em Serra Pelada naquela ocasião? Trocava por pepita de ouro, por pedras preciosas, então saiu toda uma reportagem na Veja da época, na Época e na Istoé, porque aquilo foi tremendo, porque é o comércio de escambo mesmo, era a troca, se não tinham o dinheiro trocavam por alguma coisa que fosse precioso. E aí desodorante eram trocados sim, por galinhas, mas perfumes muitas vezes trocados por pepitas de ouro, então isso daí é fantástico, né? Eu lembro de histórias das gerentes de vendas, das promotoras de vendas passando por aqueles rios em canoinhas, dormindo em rede, fechavam toda a rede porque até era perigoso, eram mais homens que mulheres que viajavam aquilo lá. Mulheres valentes entregando produto em qualquer lugar. Eu acho que existe muita história. Eu sei que vocês devem ter também aí registrado, mas são histórias maravilhosas das revendedoras, maravilhosas.
P/1 – E na sua opinião qual a importância da Avon pra história dos cosméticos?
R – Ela é a pioneira, né? Eu acho que é a democratização, até porque, a gente conversava até disso, tem muita gente que não tem a coragem de comprar, experimentar um batom, uma sombra numa loja e nem tem acesso, e o fato de chegar na tua casa um catálogo você olha ali e fala: “Ah, isso daqui eu compro, depois eu experimento”. Tem os dois lados: tem gosto de experimentar e ver na hora, mas tem quem tem, só pode ter o acesso se o catálogo chegar lá, se o folhetim chegar lá. Então essa distribuição, essa democratização mesmo. E até o ensino do uso, quando o Avon chegou na China tinham banquinhas, barraquinhas pra ensinar a usar batom, ninguém sabia, é fácil de aprender mas acho que na hora precisa saber direitinho: abre assim, vira assim tal, é bom que você tenha duas cores.
P/1 – E qual foi o seu maior aprendizado de vida lá?
R – Nossa! Muita coisa, né? Dá um livro isso daí. Mas eu acho que é a base da minha carreira, né? Eu acho que eu fui felizarda mesmo de trabalhar numa empresa séria, uma empresa com oportunidade de crescimento, no momento em que ela tava no auge do crescimento. Então toda base profissional que eu tenho eu aprendi lá, né, relacionamentos, tudo isso, as conquistas. Muito importante.
P/1 – E o que você acha da Avon estar resgatando a memória dela através desse projeto?
R – Nossa eu fiquei, eu me senti tão honrada quando eu li isso. Isso é a Avon! Ainda quando eu recebi a ligação não sei de quem, que ela disse assim: “Não, a gente pode mandar um táxi buscar você”, eu falei: “Eu moro no interior, pode deixar, eu chego até aí, depois a gente se vira”. Mas assim, esse cuidado, nossa. Eu me senti realmente muito, muito honrada de participar. E bacana também porque a história de uma empresa ela não se faz com concreto e nem com os dólares que se coloca, que aparecem na última linha do... ela se faz com as vidas que foram ali, é muito pesado falar sacrificadas, mas doadas, né? Eu acho que a gente tem uma troca muito importante, é um campo fértil, quem pode aproveitou e é uma troca mesmo porque você cresce e você faz o outro crescer, a empresa cresceu mas, sem dúvida, eu cresci muito lá dentro. Então...
P/1 – Tem mais alguma coisa que você gostaria de contar pra gente?
R – Nossa, eu falei tanto! Eu acho assim que todas as pessoas falam muito que a Avon é como um vício, é como uma família, uma coisa assim, isso não é piegas porque a gente, quando você se identifica com os valores de uma empresa e numa época em que, eu não sei como é hoje, me entristeço porque muitas empresas não são, não podem ser hoje como foram no passado, mas eu tive a grande chance de participar de uma empresa maravilhosa pra se trabalhar, maravilhosa. Às vezes eu me entristeço de não ver a Avon aparecendo nas revistas como uma das melhores empresas pra se trabalhar, aparece acho que como uma das melhores pras mulheres trabalharem mas ela é maravilhosa! Então esse resgate do entendimento da Avon por quem participou de outros anos acho que é legal, pra dar esperança até pra quem tá lá. É porque é bom, é bom trabalhar. Foi muito bom trabalhar lá, muito bom.
P/1 – Bem, então, em nome da Avon e do Museu da Pessoa, nós agradecemos a sua participação, obrigada.
R – Eu que agradeço e me senti muito honrada, obrigada eu.Recolher