Projeto Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Hallorino Machado Júnior
Entrevistado por Márcia Trezza e Lucas Torigoe (?)
São Paulo, 18/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB019_Hallorino Machado Júnior
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – A g...Continuar leitura
Projeto Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Hallorino Machado Júnior
Entrevistado por Márcia Trezza e Lucas Torigoe (?)
São Paulo, 18/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB019_Hallorino Machado Júnior
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – A gente pode chamar você de Júnior, de Hallorino?
R – Hallorino. Quero que o Brasil conheça esse nome.
P/1 – Tá bom. Hallorino, qual o seu... Só pra deixar registrado, qual o seu nome inteiro, onde você nasceu e que dia?
R – Que dia eu nasci?
P/1 – É.
R – Onze de maio de 1987. Meu nome é Hallorino Machado Júnior, e eu sou de Tibagi, interior do Paraná.
P/1 – Tibagi. Onde fica?
R – Campos Gerais. Região dos Campos Gerais. É centro do Paraná, ali pertinho de Curitiba, 200 km de Curitiba, 18 mil habitantes, pequeníssima a cidade. Quando eu nasci, tinha 17 mil e tava transitando para o 18 mil. E eu descobri que foi pra 18 quando eu trabalhei no IBGE, há quatro anos.
P/1 – Ah, é? Qual o nome do teu pai e da tua mãe?
R – Hallorino, meu pai Hallorino, por isso ele se vingou, falou: “Ah, vou colocar Hallorino também”. E eu tenho um tataravô também que se chama Hallorino. E a minha mãe se chama Ilda. Não tem nada a ver. Ela fala que é nome japonês, eu falo: “Não, é nome aqui da vila, não é japonês”. Ilda é nome é japonês, ela adora fazer essa viagem. Mas minha mãe se chama Ilda e meu pai Hallorino.
P/1 – E de que famílias que eles são?
R – Então, os dois são Machado. Os dois são da família Machado. Coincidentemente então não precisou meu pai passar o nome pra minha mãe, ela já veio com o nome Machado de família também. Minha mãe eu acho que deve ter uma origem meio indígena, meu pais dos negros. Mas eu tenho uma cara meio de árabe. Você pode ver que eu tenho uma cara meio de árabe. Eu tô sem barba, eu tirei a barba recentemente, mas eu fico muito homem-bomba assim se eu deixar a barba, então eu não sei se não tenho alguma coisa lá atrás que tem a ver com os muçulmanos, não sei, os árabes, não sei. Mas a minha mãe acho que é índia e meu pai é negro mesmo.
P/1 – E o que eles fazem, ou faziam?
R – Minha mãe, hoje ela trabalha numa escola municipal, de zeladora, meu pai é bombeiro civil. Meu pai por muito tempo foi peão de empresa, e ele tinha o sonho acho que de ser bombeiro e ele realizou depois de velho, cara. Teve um projeto no Estado, recrutavam as pessoas, e ele acabou se tornando bombeiro civil.
P/1 – E você cresceu nessa cidade onde você nasceu
e cresceu lá?
R – Vinte anos da minha vida eu vivi lá. Eu fui embora pra Curitiba com 16, 17 anos, com 25 reais no bolso. É uma história muito louca, eu arrumei trabalho em dois dias. Fui com 25 reais. É até uma história interessante, porque a minha mãe... Eu tinha esses 25 reais, eu descobri que ia embora pra Curitiba num domingo, eu falei: “Terça-feira eu vou embora pra Curitiba estudar teatro, fazer alguma coisa”. Eu e um amigo meu, o Wagner Vieira. Tudo bem, eu tinha esses 25 reais, guardei dentro de um tênis, quando eu fui pegar os 25 reais na terça-feira pra pegar o ônibus, não estavam lá os 25 reais. Eu falei: “Mãe, cadê os 25 reais?”. Ela falou: “O que você quer?”. Eu falei: “Eu vou embora pra Curitiba. Eu não contei pra vocês?”. Ela falou: “Não” “Então, eu vou embora pra Curitiba tentar a vida, virar humorista, virar artista e tal”. Ela falou: “Não, mas eu comprei leite para o João” – que é meu irmão. Daí eu falei: “Ai ai ai, e agora?”. Ela falou: “Não, mas é isso que você quer e tal? Eu vou te dar o dinheiro e você vai”. Deu-me 30 reais, fui de carona. Consegui guardar os 30 reais, fui de carona. Cheguei lá, fiquei na casa do filho do prefeito, que era meu amigo. O cara falou: “Cara, eu moro aqui, vou te deixar aqui uns dias”. Em dois dias eu fui deixar currículo e tinha um cara que era dono de um cartório lá em Curitiba e ele viu meu nome, ele falou: “Mas esse nome, de onde é esse nome?”. Eu falei: “Cara, eu acho que só eu que existe, e meu pai”. Ele falou: “Quem é seu pai?”. Eu falei: “Hallorino” “Hallorino da onde?” “Tibagi”. Ele falou: “Cara, eu estudei com o seu pai, cara”. Eu falei: “Você tá...” “Eu estudei com o seu pai, sou amigo do seu pai, não sei o quê”. Não, estudou não, ele era amigo do meu pai, conhecia meu pai de Tibagi e me empregou. E eu quebrado de dinheiro, ele me deu vales-refeições pra eu viver durante um mês, ele me adiantou, falou: “Toma, vou te dar 250 reais”. Na época, 2007, 250 reais era... Pô. “De vale-refeição pra você comprar o que você quiser e sobreviver aí”. Não deu certo no cartório porque minha escola de teatro era quatro horas da tarde, então eu ficava precisando sair. Ele falou: “Olha, eu não vou te prender. Vou te dar mais um tanto pra você sair”. E daí eu acabei arrumando um trabalho que dava certo, que era de telemarketing, e aí eu consegui conciliar com o teatro. Eu consegui conciliar o trabalho com o teatro. Ganhava menos, mas dava pra eu me dedicar. Então vivi em Tibagi até meus 20 anos, mas eu tive esse tempo de 17 a 18 em Curitiba. Aí dei um pulo no Rio de Janeiro, onde eu fui tentar aprender um pouco mais de TV e cinema. Tive a oportunidade de fazer figuração lá, achava que figuração ia me deixar famosaço na cidade. E na cidade ficou, saiu uma matéria no jornal da cidade assim: “Ator tibagiano faz sucesso na Globo”. Tinha uma foto minha embaçada, que os caras tinham um plano... Os caras estavam em primeiro plano, era final da novela Sete Pecados, da Globo, era a luta do Malvino Salvador, e eu fiquei muito embaçado atrás dos caras, minha foto no site da prefeitura era eu assim, tudo embaçado: “Ator tibagiano faz sucesso na Globo” (risos). Foi muito engraçado isso. Eu tive esse período no Rio de Janeiro de três meses, e aí voltei pra Tibagi, falei: “Não, vou desistir de tudo. Pra mim deu tudo. Acabou”. Arrumei trabalho em prefeitura: “Ah, vou desistir”. E me formei em Publicidade nesse tempo, porque eu já tinha desistido da carreira de ator, de artista. Falei: “Ah, vou fazer uma carreira pelo menos que eu possa usar minha criatividade”. Fiz Publicidade e no meio do curso de Publicidade surgiu uma oportunidade pra fazer stand up. E era legal porque era um trabalho de faculdade assim: “O texto mais cômico vai subir ao palco”. Mas não é todo mundo que quer subir ao palco. Então todo mundo da sala já falou assim: “Não, deixa o Hallorino ir. Eu faço o trabalho, ganho nota, mas leve-o”. E todo mundo foi, a sala inteira foi no primeiro dia de stand up meu e foi um sucesso. Convidaram-me pra fazer parte do grupo, aí não parei mais. Não parei mais de fazer stand up, logo depois veio o personagem que eu faço, hoje é o carro-chefe, que é o Carmo. O Carmo é um pobre, vagabundo, que mora com os pais, não quer saber de trabalhar, e as pessoas se identificam muito com ele, não sei por que (risos). Porque ele tem um jeito simples de viver. Tem um jeito simples e é um cara muito inocente. E foi o primeiro personagem de sucesso que eu criei, que eu sabia o que eu estava fazendo. É difícil criar um personagem, tem que ter uma vida por trás dele, o que ele come, de onde ele veio, tal. Então foi o primeiro que eu criei com essa técnica de teatro, e bombou. No Paraná, o Carmo é sucesso, interior de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. E um dia antes de a gente gravar esse vídeo aqui, eu lancei outra personagem, que é a Lurdes, uma senhora fofoqueira, que também no Facebook já é sucesso. E aí eu tive essa transição na faculdade, de voltar a viver da arte depois de um trabalho de faculdade.
P/1 – Antes do trabalho de faculdade, você tava no teatro, mas não era comédia, é isso?
R – Era comédia. Não tinha como não ser comédia, porque eu adoro fazer drama, tento fazer drama, mas as pessoas riem. As pessoas riem quando eu tento fazer drama. Até tem uma parte do meu show que eu praticamente quase choro no palco, eu me considero um bom ator de drama, viu, senhoras e senhores? E as pessoas vão sendo induzidas por aquilo, aí no final eu dou uma quebra, e as pessoas: “Ah, mas era isso que você tava falando?”. Então eu consigo ser um ator dramático, mas as pessoas gostam da comédia. Eu até prefiro a comédia, até por ser mais difícil fazer, é um desafio maior.
P/1 – Você acha mais difícil?
R – É bem mais difícil fazer. Porque arrancar um riso... Hoje eu descobri que a piada é uma matemática, dois mais dois, quatro, isso, isso, vai te causar riso, uso uma técnica aqui, que eu faço isso, isso e aquilo, e a risada vai vir. Porque eu li, vi vídeos, estudei sobre a comédia. Então a comédia é uma matemática, um mais um, dois e pronto. São técnicas de queda, surpresa, identificação. Muita gente acha que “ah, sobe ao palco, faz qualquer coisa”. Parece que é, mas não é. Então antes da faculdade... Eu nunca parei com o teatro. Comecei com 13, 14 anos, nunca parei, mas profissionalmente, na faculdade eu não conseguia, era só coisa assim, eu fazia uma peça por ano, um showzinho por ano, sabe assim? Depois que eu entrei no stand up, que eu criei o personagem, que também era um trabalho de faculdade, que eu tinha que fazer um viral: “Até sexta-feira vocês precisam fazer um viral pra internet”. Tinha que ter 300 acessos. O Gustavo Lima foi fazer um show na cidade de Ponta Grossa, era numa quarta-feira. E ele atrasou, chegou duas horas da manhã numa quarta-feira, onde as pessoas tinham que trabalhar no outro dia de manhã. E ele tava sabe onde? Na academia, malhando, enquanto os caras do som montando o som pra ele, tal. Adoro o Gustavo Lima. Gustavo, um beijo pra você. Olha, mudou minha vida, né, cara? E ele citou, inclusive, meu personagem no show dele esses tempos e tal, os bordões do personagem. E eu peguei: “Ah, vou fazer um ponta-grossense, um paranaense, decepcionado com o Gustavo Lima”. Não o ofendi em nenhum momento, só falei: “Oh, Gustavo, eu to triste com você, rapaz. Saí do meu trabalho, fui mandado embora do meu trabalho, cruzei aqui da 31” – que é um bairro – “Até o centro do evento pra assistir ao teu show e você não foi, rapaz”. E soltei esse vídeo no outro dia no meu perfil. E eu saí, tal, e um monte de mensagem: “Cara, o que é isso? O que tá acontecendo?”. As pessoas achavam que o Carmo realmente era um cara revoltado com o show do Gustavo Lima. Porque virou notícia aquele lance do Gustavo Lima na cidade inteira, só se falava na quinta-feira no Gustavo Lima que faltou, uma cidade de 300 mil habitantes. E tinha um cara que fez um vídeo: “E olha só que esse cara aqui fez representando a gente, não sei o quê”. Aí deu 50 mil acessos no YouTube no dia, a mente publicitária pensou o quê? Não posso parar. Agora é a virada. Já fiz outro vídeo falando de todas as baladas da cidade: “Olha, ontem recebi um dinheiro, fui lá à balada tal, não deu certo, fui à outra”. Então eu peguei todos os nichos: classe C, classe A, classe B, cowboy, roqueiro, coloquei tudo num vídeo só. Como eu conhecia todas as baladas, foi mais fácil pra mim. Então foi outro vídeo também que foi... Não deu 50 mil, mas deu 20 mil, que já é alguma coisa, e de lá pra cá eu nunca mais parei de postar vídeo. Hoje todo dia tem vídeo no canal, há quatro anos.
P/1 – Foi em 2013?
R – Nove de dezembro de 2013.
P/1 – Você sabe a data certinha?
R – Sim, porque foi uma reviravolta na minha vida. Foi loucura. Caraca. Aqui já acabou.
P/1 – Você lembra, assim, sei lá, qual foi a primeira vez que você falou assim: “Pô, sou engraçado”. Como foi isso aí? Você sempre foi assim?
R – Não, eu sou gago, eu era gago, até sou um pouquinho gago, hoje não mais tanto quanto eu era quando eu tinha 13 anos. Um gago, feio, com nome feio, e pobre, e tudo que tinha pra dar errado, tá ligado? E na escola. Todo mundo entrando no colégio e as professoras falavam: “Hallondrino”. E eu: “Presente”. Falavam meu nome errado, sabe? Halloriano. Nunca Hallorino. E o pessoal zombava, né? Na época não tinha bullying, era zoeira. O pessoal zoava, eu falava: “Cara, por que eu sou a vítima de tudo, por causa do meu nome, por causa de tudo?”. E eu era gago, não conseguia falar, não saía nada. Aí eu entrei no teatro (risos). E o meu nome, olha a revelação, hein, senhoras e senhores, é com A, o H e dois Ls é nome artístico. Então meu nome é com A. E eu mudei isso e hoje é registrado, tal, nos atores, tudo eu sou com H, mas no documento é com A. Então era com A, então no teatro a professora falou assim: “Vamos nos apresentar aqui para os colegas pela ordem alfabética”. Ou seja, eu era o primeiro. Por isso que eu mudei para o H, falei: “Agora não sou o primeiro mais”. E eu subi ao palco do teatro pra me apresentar, que eu queria ser um ator de drama.
P/2 – Pode só repetir essa última frase: “E eu subi ao palco...”?
R – Eu subi ao palco pra me apresentar pra turma do teatro querendo ser um ator de drama e me apresentando. Cara, juro, travou. Imagina as menininhas bonitinhas da cidade, a galerinha, e eu ali: “Ha-Ha-Ha...”. Não saía nada, eu gaguejei, e o povo começou a rir, cara. O povo começou a rir da minha cara, não do que eu estava falando, da minha cara, isso é horrível. Quando ri do que você tá falando, beleza, teu texto é ótimo como humorista, mas da sua cara, “véi”, é humilhante. E estavam rindo, rindo, rindo, quando eu falei o meu nome, aí foi uma explosão de riso. Imagina, não tava saindo, quando saiu, aí... Eu achei interessante. Por mais que riram da minha cara, eu achei interessante, eu falei: “Cara, que legal. As pessoas estão rindo, cara”. E eu achava legal isso. E daí beleza, eu fui, fui, fui. E durante a escola de teatro, a aula de teatro, eu tentava fazer drama, mas eu tinha umas sacadas engraçadas. Eu tentava “Ser ou não ser, eis a questão”, mas eu fazia um olhar que as pessoas: “Não. Não tá dramático, tá engraçado”. E eu optei por... E eu fazia imitações de vozes e tal, imitava minha mãe, minha avó, meus professores e tal, então isso foi tudo se encaminhando para o humor, não tinha como fazer outra coisa.
P/1 – Quando você era criança, você lembra o que você gostava de ver de humor?
R – Cara, na minha época eram Os Trapalhões, Escolinha do Professor Raimundo, as referências que eu tinha. Não tinha stand up naquela época. Existia naquela época, mas a gente não tinha acesso. Stand up veio com o Diogo Portugal aqui em 2006, 2007, então eu já fazia humor em 2002 com essas referências, Os Trapalhões. Por isso que até hoje eu crio personagens, gosto desse humor de personagens e tal. E daí eram Os Trapalhões, Café com Bobagem, Hermes e Renato, Pânico, as referências eram essas. Não tinha muita coisa. Chico Anysio tinha bastante, bastante programa dele. Depois de 2006 que eu comecei a conhecer... Eu fui ter computador com 20 anos de idade, 18, 20 anos de idade. Eu vivia em Lan House procurando coisa. E fui ter acesso a TV a cabo, pô, faz três anos. Nem isso, dois anos, cara. Então a referência era muito... Minha família também, eu tenho dois tios que são malucos, eles nem sabem que são engraçados, mas são engraçadíssimos, eles é muita referência pra mim. E de também de televisão é só coisa mais brasileira, mais Chaves... Chaves não, não é brasileiro, mas coisa mais que a gente tinha acesso. Os Trapalhões, Escolinha do Professor Raimundo.
P/1 – Você pensando assim, o que um humorista acha engraçado nas outras pessoas?
R – Em minha visão, naturalidade. Naturalidade. Porque assim, o humor é muito relativo. Por exemplo, tem coisa sem graça que é engraçada. O ato de estar sem graça é engraçado. Quando é muito forçado, muito: “Ah, vou contar uma piada para vocês”. Talvez isso até seja engraçado, porque você fala: “Não, esse cara não vai ser engraçado” – e você vai acabar rindo. Então eu acho a naturalidade das pessoas muito engraçado. Quando eu vejo, sei lá, qualquer coisa, às vezes não é nem algo engraçado, o cara tá: “O que você tá achando na corrupção no Brasil” – e dando o microfone na boca de alguém e essa pessoa fala: “Complicado, né?”. Tipo assim, ela não sabe nem o que tá falando, não sabe nem... Então essa frase “Complicado, né?” pra mim foi engraçada, porque, tipo, ele quis dar uma resposta, ele foi natural, ele falou: “É...”. Então isso era uma matéria de televisão e a gente acaba dando risada. Então o riso pra mim vem da naturalidade das pessoas.
P/1 – Agora, você antes de fazer teatro, você achava que ia fazer outra coisa da vida, como era isso aí?
R – O menos que eu pudesse trabalhar, eu queria. Então eu achava que ia ser professor de Educação Física (risos). Não, brincadeira. Desculpa o professor de Educação Física, trabalha bastante. Mas, não sei, eu queria alguma coisa que fosse de lazer, sabe? Eu sempre fui contra você não... Você tem que amar o que você faz. Você tem que gostar do que você faz. Isso não é nem trabalho, isso é uma diversão. A gente que trabalha com entretenimento, eu adoro o que eu faço, eu vou dormir quatro, cinco horas da manhã, entendeu? Editando vídeo, criando, porque eu gosto do que eu faço, então nem considero como trabalho. Eu queria fazer alguma coisa na minha vida que fosse algo relacionado a lazer. Eu via professor de Educação Física jogando a bola para as pessoas, eu falava: “Acho que eu quero ser professor de Educação Física, trabalhar com esporte, tal”. Mas isso foi por pouco tempo. Logo que eu comecei a fazer teatro, nos meus 16 anos eu tinha certeza do que eu queria. Eu falei: “Cara, eu quero ser um artista”. As pessoas zoavam: “Você mora em Tibagi, cara. São 18 mil habitantes, você vai ser artista?”. E essas pessoas que me zoaram antes, hoje são minhas amigas, enfim. Mas eu acho que com 16 anos eu tava certo do que eu queria. Apesar da desavença com família, com pai e mãe, porque eles têm razão: “Você tem que ser um médico, você tem que ser um engenheiro, pra ter essa carta na manga”. Só que eu penso, pô, esse tempo que eu vou ter de cinco anos estudando pra ser engenheiro ou médico pra ter uma carta na manga são cinco anos que eu vou perder não criando coisas para o que eu realmente quero, que é ser um artista. Então optei por focar, optei por ir embora pra Curitiba, esconder da minha mãe que eu pedia comida, que eu dormia na rua. E ela ligava, falava: “Tá tudo bem?”. Eu falava: “Tá tudo bem”. E me virar e depois colher os frutos, como a gente tá colhendo agora, do que ser uma pessoa infeliz no que eu não gostava de fazer.
P/1 – Como é essa história que você falou dessa dificuldade?
R – Foi em Curitiba, 2008, foi quando eu saí do Marketing pra focar realmente em teatro. A gente morava num albergue que eram cem reais por mês, a gente não tinha cem reais por mês pra pagar o Albergue. A gente ficou um mês lá, nunca largando o teatro, a gente dava um jeito de pagar o teatro. E teve uma época que foi bem difícil, que daí a gente não tinha dinheiro pra pagar o albergue, a gente dormiu na rodoviária, onde a gente inclusive foi assaltado. Sério, eu não sei como eu fui assaltado até hoje, porque a gente revezava, eu e o Wagner, cada um cuida da mala enquanto o outro dorme. E na minha vez de cuidar da mala, eu coloquei a mala aqui e coloquei a mão aqui, olha. Eu acabei dormindo, só que eu acordei com a mão aqui, sem a mala. Eu imagino o que esse cara não fez comigo, mas, enfim. Eu acredito que ele cortou a mala e tal. E depois ligaram pra gente de uma loja de mala devolvendo só os documentos: “Olha, a gente achou a sua mala aqui, a gente tá com os seus documentos e tal”. Enfim, a mala não foi encontrada. Uma mala bonita, uma mala florida assim. A gente artista é meio gay, a gente gosta dessas coisas. Uma mala florida e tal, aí a mala sumiu, os documentos a gente recuperou e tal. E teve um domingo que a gente não... A gente tava 48 horas sem comer, a gente ria, sempre riu disso, a gente nunca chorou: “Ah, porque não tem o que comer”. Não, achava engraçado isso, porque eu falava: “Meu Deus, o que eu to fazendo da minha vida, cara? Se eu for embora pra Tibagi, eu tenho arroz e feijão, mas eu to aqui passando fome porque eu quero ser um artista, sabe?”. Domingo de manhã, a gente acordou, e eu o Wagner, a gente foi tomar um café, que tinha lá uma cafeteira, paguei dez reais numa cafeteira, fizemos o café, a gente acordou, foi tomar o café e tinha um mosquito no coiso, eu falei: “Olha, até o mosquito tá comendo, a gente não tá comendo, cara”. Já fazendo piada. Daí o Wagner falou assim: “Cara, vamos sair e pedir alguma coisa, ver o que dá” Falei: “Vamos”. A gente saiu e, cara, a última coisa que passa na cabeça da gente é fazer alguma coisa de errado, assaltar alguém, ou fazer alguma coisa, a gente não tem essa cabeça. Tem gente que nasce pra isso. E eu não sei, cara, não via isso pra gente, a gente ia pedir. Já pedi pão assim: “Ô, seu João, tem um pão pra me dar aí, tal?”. Mas esse da comida me marcou muito, que no primeiro lugar onde a gente foi, o cara deu. No primeiro lugar. Não foi, tipo assim... Era um domingo, a gente saiu assim, virou à esquerda na rua, falei: “Cara, olha, a gente não tem o que comer. A gente só quer comer, não precisa nem dar carne pra gente. Dá arroz, feijão, qualquer coisa, eu faço o que você quiser, varro aqui pra você, lavo a louça”. Ele falou: “Não, fique tranquilo”. Fez dois pratões pra gente, nossa, eu lembro como se fosse hoje, aquela coisa assim. A gente sentou lá fora. Eu falei: “A gente vai sentar lá fora pra não incomodar”. Sentamos lá na frente, aquela colherona assim gostosa, nossa senhora, me lambuzava, cara. E aí a gente pediu. E daí teve uma situação muito chata também, que a gente tinha que vender os ingressos da peça e dar o dinheiro para o teatro. E tava complicado, tal, eu pensei assim: “Cara, eu vou...”. Eu vivo um dia de cada vez. Hoje o meu estilo de vida é: eu vivo um dia de cada vez. “Eu vou vender esses ingressos, vou comprar comida pra mim e para o Wagner, e sexta-feira, que é o dia de entregar o dinheiro para o teatro, eu me viro e eu entrego esse dinheiro”. E eu comecei a vender os ingressos e tal, por uma boa causa, porque a gente tava morrendo de fome, tal, claro que é uma coisa errada, porque o dinheiro não era meu, mas eu achei que eu ia resolver a situação, e aí um funcionário do teatro viu isso e me “escachorrou” na frente de todo mundo: “Você é um ladrão, não sei o quê, para com isso, você tá errado, some daqui”. E não deu tempo nem de explicar o que tava acontecendo, que eu tava com fome e tava vendendo aquilo pra comer e na sexta-feira ia pagar. E ele falou: “Não, não sei o quê, sai daqui, sai daqui, sai daqui”. E acabou acontecendo esse algo errado. Não guardo mágoa, nada. Sei lá, acho que tudo tem que acontecer um aprendizado. E foi essa fase difícil, cara. No Rio de Janeiro também eu tinha... Eu lembro que eu tinha, sei lá, uns 40 reais, eu tinha 40 reais pra passar o mês. Daí eu descobri um negócio que vendia pão de hambúrguer com suco por um e 50. Todo dia eu ia comer nesse lugar, só que eu acordava às duas pra não almoçar. Eu ficava me enrolando, me enrolando, quatro horas eu comia esse negocinho, me enrolava e tentava dormir cedo, entendeu? Então eu tinha que economizar esses 40 reais pra viver durante mês, até receber dinheiro das figurações, que sempre demoram dois meses pra receber. Cara, foi bem complicado assim.
P/1 – Quem olha hoje, não imagina…
R – Nada, cara. Nada. Até agora eu tenho a parceria em Curitiba com o Norton, que é um cara que faz comida japonesa, e sushi, e yakisoba também ele faz, ele me convidou pra gente gravar alguma coisa, até pra incentivar as pessoas, a gente doando um alimento para as pessoas, yakisoba, nesse frio a gente... E eu optei por a gente entregar lá onde eu pedi essa comida. Eu optei, falei: “Vamos lá à Visconde de Nacar, onde eu pedi aquela comida, e vamos achar alguém ali”. Uma forma de retribuir, sabe? Sei lá. Eu optei por esse lugar assim e foi bem legal.
P/1 – Qual o nome do teatro, ou escola?
R – Não, a escola que eu fiz lá era o Teatro Lala Schneider, que é o mais conceituado de comédia em Curitiba. Mas onde eu pedi comida foi na Rua Visconde de Nacar, que é logo depois... É bem no centro de Curitiba ali, aí eu optei por entregar ali.
P/1 – Quem é esse Wagner? Conta pra mim.
R – O Wagner é um amigo meu... (interrupção – troca de bateria). Cara, essa história já tá em livro, já tá em... Tem o documentário da RBS lá em Porto Alegre.
P/1 – Quer comentar um pouco isso?
R – Sim, porque eu fiz parte do Pretinho Básico, não sei se vocês conhecem, é um grupo de comédia, durante um ano. E vai ser o documentário deles agora de nove anos de programa e eu contei essa história também. Só que assim, sabe o que eu gosto de fazer? Eu conto a mesma história de jeitos diferentes, que eu sei que aqui, como vai pra um portal e tal, eu preciso entreter... Eu tenho essa mente... Eu preciso entreter as pessoas que estão assistindo e que elas tenham interesse em continuar assistindo. E no livro, eu tentei deixar um pouco mais dramático, porque é um livro, é um romantismo, as pessoas querem saber de onde veio tal coisa. Cara, porque assim, pra não ficar uma coisa: “Ah, eu já vi essa história no vídeo, já vi essa história no...”. Sabe? Mas é a mesma coisa.
P/1 – A mesma história que você contou assim?
R – A mesma coisa. A mesma coisa, cara. Só que, por exemplo... Eu esqueço o nome de todo mundo, desculpa.
P/2 – Márcia e Lucas.
R – Lucas, o que eu quero dizer contigo, em vídeo, eu gosto de contar isso de uma forma que as pessoas deem risada: “Pô, passou fome, cara”. Eu quero que as pessoas me olhem contando isso e riem nesse momento, e que não sofram com isso. No livro, eu já opto que as pessoas reflitam um pouco mais lendo aquilo. (interrupção).
P/1 – Eu tava te perguntando do Wagner. Como você o conheceu? Como ele era?
R – Cara, o Wagner é um cara que... Eu falei do Wagner aqui muito e acabei nem explicando quem era o Wagner. O Wagner era um cara que a gente estudava no mesmo colégio, ele era mais novo que eu um ano, dois anos, e era um cara muito engraçado, muito engraçado. Ele corporalmente é muito engraçado. Ele pra falar pra você, ele esticava o braço, sabe? E é um cara que queria se enturmar com a gente mais velho pra poder ingressar no Grupo Histeria. Grupo Histeria é um grupo de teatro que a gente tinha na cidade que só fazia piadas locais. E a gente ficava meio assim: “Pô, mas esse cara quer entrar, como assim? Você é mais novo que a gente”. Sabe aquela coisa de... “Vamos fazer um teste.”. Ele foi, fez um Histeria e foi um arregaço, o cara arrancava riso de todo mundo. Depois ele ingressou no grupo de vez. E eu era o único do grupo, a gente era dez, que falou: “Cara, vamos tentar a vida. Vamos pra fora, vamos tentar a sorte”. Ele me incentivava muito. Ele que inclusive falou: “Olha, eu consegui uma carona pra gente, vamos terça-feira e tal, tal, tal”. Foi muito engraçado, que o ato de ir embora foi num domingo, a gente tava sentado no calçadão da cidade assim, olhava em volta, falava: “Meu Deus, uma cidade pequena, a gente não vai ter muito futuro aqui como artista. Cadê as pessoas da rua? Não te ninguém na rua. Aqui é um domingo à tarde e não tem ninguém na rua”. Daí ele falou: “Cara, vamos pra Curitiba embora?”. Eu falei: “Vamos”. Nunca tive um não na minha cabeça. Eu falei: “Vamos. Posso me arrepender depois, mas falo vamos”. E ele falou: “Beleza”. Na segunda-feira à noite ele me lembrou: “Amanhã a gente vai, consegui uma carona”. Eu falei: “Pra onde?” “Pra Curitiba, cara. Eu não te falei?”. Falei: “Nossa, é verdade”. Daí eu fui atrás dos 25 reais lá da minha mãe. E ele foi comigo pra Curitiba, ele trabalhava com veterinária lá em Tibagi, depois conseguiu trabalho veterinário também em Curitiba. Ele não entrou na escola de teatro, não conseguiu entrar na escola de teatro, mas a gente não parava de fazer nada, nunca, nunca parou de fazer. E foi para o Rio de Janeiro comigo. E ele está no Rio de Janeiro hoje. Não vive mais da arte, tem uma filhinha, senão me engano, casado, cobriu a tatuagem dele do teatro com outra tatuagem, segue uma linha de vida hoje totalmente linda, dedicada a sua família, um cara tranquilo. E a gente se fala muito pouco, mas eu sempre dou uma stalkeada na internet e vejo que ele tá bem. E saber que eu acabei levando-o para o Rio de Janeiro, o deixando lá, e hoje ele tem uma vida linda com a família dele, acho sensacional. Independente da arte ou não, ele é feliz no que ele faz.
P/2 – Deixe-me te perguntar uma coisa, só voltando um pouquinho pra infância, você decidiu entrar numa escola de teatro com 13 anos.
R – Primeira oficina de teatro com 13 anos.
P/2 – Então, e o que te levou a isso? Como era quando você era criança? Como funcionava essa história?
R – Então, eu sempre fui essa criança criativa. Eu sempre me achei um cara criativo e rápido no pensamento de dar uma resposta sempre engraçada. Quando era criança mesmo, tinha uns seis, sete anos de idade. Meu irmão é assim hoje. E por conta da gagueira. Da gagueira e da timidez. Eu sou muito tímido. Até hoje eu sou muito tímido. Se você me colocar numa situação que eu... Eu não consigo sair dela. Não adianta, a timidez tá dentro da gente, não adianta. Então o cara que tá falando para a câmera é um artista, é um cara formado em Publicidade, que tem o dever de saber se comunicar, mas fora daqui, gente, é: “Oi, tudo bem?”. Sabe, eu não consigo, eu sou um cara tímido. E foi a timidez e a gagueira que me fizeram: “Ah, oficina de teatro em Tibagi. Venha fazer e tal”. E quem tava na oficina era só mais a galerinha que: “Meu filho vai ser um artista e tal”. E eu era o único pé rapado lá que... Enfim, isso aqui foi bem legal. Eu gostei dessa experiência e nunca mais parei, mas foi por conta da timidez e da gagueira mesmo, primeira oficina de teatro que eu fiz.
P/1 – Você tem irmãos? Que a gente nem perguntou. Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão. Tenho um irmão de 13 anos e ele também é muito engraçado, cara. Ele é muito engraçado. Ele me contou uma piada esses dias, deve ter visto na internet, alguma coisa, só que me fez sentir um pouco de orgulho, porque ele tem o que eu tinha na infância, que é o timing da comédia. Não saber o que tá fazendo, mas ser engraçado no momento certo. Ele falou: “Ah, você sabe... O pior professor do mundo é o professor de Natação, porque ele ensina, ensina, ensina, e o aluno nada”. Só que assim, eu senti orgulho de ele me falando isso do nada, sabe assim? Sabe o que quer dizer... Deu a letra, falei: “Você tem futuro, rapazinho”. Que sabe? Ele tem que gostar do que faz.
P/1 – Quando você começou no teatro, também começou essa coisa de namoro, ou não?
R – Na época não, cara. Não, porque eu sempre fui um cara... Eu touro, eu sou psicólogo, eu olho pra você, eu sei se você tá mentindo ou não. Então eu sempre fui muito amigo das meninas. Até meu pai falava: “Você não tem namorada, fica amigo das meninas, o que você tá pensando?”. E falo: “Não, pai, e aí se eu for só amigo?”. Quando eu começava a me envolver, eu ficava amigo. Eu ficava amigo das pessoas. Eu tenho uma amiga que ficava quatro anos de amizade com aquela menina, todo mundo achava: “Você tá ficando com ela?”. Eu falava: “Não, cara, ele é minha amiga”. Até hoje eu sou muito assim de conversar com as pessoas. Os caras, meus amigos, já falam: “Olha aquela menina linda”. E falo: “Pô, legal”. E a gente ia trocar ideia e via que a pessoa é mais do que linda, ela é linda por dentro, ela conta histórias, ela é uma pessoa mágica, uma pessoa rica além da beleza exterior, entendeu? Então eu sempre tive essa dificuldade de ser um cara: “Não, vou lá pegar aquela menina”. Não, cara, eu acho que um pouco mais disso. Eu sou casado hoje há nove anos. Aliás, casado, desculpa, eu estou com a mesma pessoa há nove anos, estou com ela morando junto há quatro anos. Carol, um beijo pra você. É linda. Ela é linda. Ela me ajuda em tudo.
P/2 – E com ela, como aconteceu? Pra namorar, como foi?
R – Com ela, eu estava no Rio de Janeiro...
PAUSA
P/1 – Como você a conheceu?
R – A Carol foi o seguinte, eu cheguei a ser meio que vizinho dela por um tempo, só que ela era muito mais nova. Ela é mais nova que eu cinco anos. Só que ela sempre foi grandona, bonita assim. Ela tinha 14 anos, parecia que ela tinha 18 assim, sabe? Eu olhava essa menina, falava: “Cara, quem é essa menina aí?”. Lá no meu bairro lá. E eu já era cinco anos mais velho que ela. E eu fui embora para o Rio de Janeiro, eu sempre mandava mensagem pra prima dela, falava: “Ou, me ajeita lá a Carol, não sei o quê?”. E eu fui embora para o Rio de Janeiro, daí repercutiu essa coisa do: “Pô, tem um cara tibagiano que tá no Rio de Janeiro fazendo novela”. Então muitas pessoas começaram a me adicionar pra saber quem era mesmo, no Orkut. Na época do Orkut, cara, nem Tinder, nada, nem Facebook, era Orkut. Daí as pessoas me adicionavam: “Oi, também sou de Tibagi. Pô, que orgulho de você estar representando a cidade e tal”. E ela foi uma dessas pessoas que me adicionou. Só que quando apareceu “Carol te adicionando”, a menina que eu falava pra prima dela: “Pô, me ajeita a Carol, ela é linda, tal, tal, tal”. Adicionou-me, parou assim. Sabe quando parou? Você fala: “Não, espera aí, é minha oportunidade agora”. Ela só me adicionou, eu mandei um... Na época era um testemu... Era um...
P/1 – Depoimento.
R – Depoimento, cara, pra ela falando assim: “Nossa, a menina mais linda da cidade me adicionando, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê”. Daí ela falou: “Nossa, calma, quem é você? Oi, tudo bem? Tal, tal”. Eu falei: “Não, cara...”. Pra mim, parece que não ia ter mais oportunidade nenhuma, eu falei: “Não, porque eu sou apaixonado por você, eu gosto muito de você, quero ficar com você”. Ela: “Tá, cara, mas e aí? Mande-me um SMS aí” – naquela época era SMS – “Pega meu telefone, tal”. Isso foi em janeiro de 2008. Em março de 2008 eu fui pra Tibagi, voltei pra Tibagi. Foi muito louco, cara, porque eu voltei pra Tibagi por falta de dinheiro. E eu sei que ia ter um teste pra Malhação em agosto, se eu não me engano, e disse que lota o teste da Malhação. E o Felipe Pontes, que hoje é meu amigo, do Pânico, eu morava com ele nesse albergue dos artistas no Rio de Janeiro. Conheci o Felipe lá. E aí o Felipe falou assim: “Pô, Juninho, não vai para o Paraná, não, cara, a gente tá com uns projetos legais e vai dar tudo certo na nossa vida, cara. Vai dar tudo certo”. Eu falei: “Não, Felipe, eu vou, mas eu volto. Só vou buscar um dinheiro lá em Tibagi e já volto”. E encontrei a Carol em Tibagi e nunca mais voltei para o Rio de Janeiro, cara. Apaixonei-me por aquela menina e, poxa, é louco, eu fico um dia longe dela... Acabei de mandar mensagem pra ela: to morrendo de saudade, tal. Ela é linda, maravilhosa. Tudo bem, a gente ficou ali junto, arrumei trabalho em Tibagi, aí entrei na prefeitura. Passaram-se quatro ou cinco meses, nós assistindo televisão, Zorra Total, o Felipe Pontes no Zorra Total. Falei: “Conheço esse cara”. Não fiquei aquela coisa: “Não, se eu tivesse lá, era a minha chance”. Não. Eu sempre fui assim: não era pra ser aquela hora. Não era a minha chance. Felizão pelo Felipe estar no Zorra, depois ele foi para o Marcos Mion, agora tá no Pânico. E hoje a gente trabalha junto, cara, em vários projetos, então assim, o mundo dá muitas voltas. Não era pra ser aquele momento, aquele momento era pra eu achar a mulher da minha vida e pronto. Entendeu? Eu fui pra Ponta Grossa embora fazer faculdade e ela foi atrás, tipo assim, eu vou embora junto com você. Fui pra Curitiba, ela foi também. A gente teve um período agora, agora no começo de ano, de separação, mas não teve briga, não teve nada, nada, nada, nada, era mais a questão de eu acabava que não tinha muito tempo, eu saía de casa sexta-feira e voltava na outra quarta. A gente confundia muito profissionalismo com casamento, hoje a gente não faz mais isso, a gente é completamente apaixonado um pelo outro, a gente sabe separar o que é trabalho, o que é coisa, e a gente viu que a gente nasceu um para o outro, só que a gente teve um período de dois meses pra comprovar isso, que foi horrível assim por sinal. Então essa é minha história com a Carol, começou no Orkut em 2000 e... A gente se conheceu dia quatro de março, eu sou um cara de datas, viu, em 2008, pessoalmente, assim olhando pra ela. Eu via na rua, mas de falar assim: “Oi, tudo bem? Prazer, Hallorino, eu sou o cara que fala com você lá”. E foi quatro de março de 2008.
P/1 – Você falou do stand up, você lembra antes de ser o dia que você entrou pra fazer stand up, queria que você falasse também como foi a primeira vez que você entrou no palco, mas como você fez o texto? Você sabia como você ia fazer? Como foi isso?
R – Então, eu tinha muita sacada. Eu nunca fui de anotar nada, eu guardo tudo na minha cabeça e nos arquivos de vídeo mesmo que eu tenho. Eu sou um cara de muita sacada boa, uma sacada boa, cara. Só que eu não sabia como transformar isso num texto de stand up com começo, meio e fim. Hoje o meu show é uma longa história de uma hora. Eu começo falando do meu nome, quem deu foi minha mãe, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, que mora no interior, até chegar ao final. E tem colega que não, que faz pilulazinhas de piada. Eu não consigo fazer isso, eu gosto de contar histórias. E naquela época, a referência que eu tinha de stand up eram os pilulazinhas. Pá, pá, pá, piada. Pá, pá, pá, piada. Então eu não fazia história ainda. E eu peguei todas essas sacadas que eu tinha de escola e uma das piadas era sobre o meu nome, que eu falava: “Gente, Hallorino, é horrível se chamar Hallorino quando você tem um irmão que se chama João Gabriel. Ele tem dois nomes bonitos e eu não tenho nenhum”. Só que eram pensamentos que eu fazia em casa, falava: “Orra, mãe...”. Só que as pessoas riam disso: “Ah, Hallorino, eu liguei para o Serasa e perguntei se meu nome tava lá, a moça falou: ‘Não, aqui a gente tem nome sujo, não nome ridículo’”. Então essas sacadas que eu tinha com o meu nome, eu comecei a contar no palco, depois comecei a contar o fato de vir de uma família pobre, essas coisas da ignorância e tal, e as pessoas começaram a rir dessas coisas que eu já tinha na minha cabeça. Mas quando eu sabia que naquele sábado eu tinha um show de stand up, na semana inteira eu comecei escrever isso aí. Fiz piadas que funcionaram, piadas que não funcionaram, eu não sabia o que eu estava fazendo, depois que eu fui ler e procurar o que era aquilo. Mas eu fui fazendo o que eu tinha na cabeça. Sabe, eu lembro que tinha uma piada que eu fazia sobre a Carol, inclusive a Carol é loira, daí eu falava: “Carol fez Enem, e ela é loira” – a prova do Enem é colorida, as provas são coloridas – “E daí a professora deu a prova rosa pra amiga dela e azul pra ela. Ela levanta a mão, fala assim: ‘Professora, você me deu a prova dos meninos’”. Eram coisas bobinhas que eu a zoava e achava que aquilo era o stand up, tal. Mas foi assim que eu comecei, cara. Depois que eu comecei a ler e ver e vi que não. Isso é legal. Isso é legal, mas quanto mais verídico, quanto mais uma coisa, tipo... O stand up hoje pra mim é: o que eu acho dessa situação aqui? Eu posso chegar hoje ao show das seis horas e contar o que aconteceu aqui de uma forma engraçada. Hoje eu consigo fazer isso. Dois mais dois são quatro. Aconteceu isso, fui recepcionado, blá, blá, blá. “Gente, eu tava tão nervoso e aconteceu isso.” As pessoas vão rir. Eu posso mesclar a verdade com a mentira e transformar numa piada, entendeu? Mas de coisas verídicas. Hoje eu to contando uma piada nova no meu show, uma vez que eu fui a uma igreja evangélica anunciar um... Isso é verdade. Isso aconteceu de verdade. Numa igreja evangélica narrar um rodeio de uma festa de criança, tinha touro mecânico, e cama elástica. Essa é uma piada que não está pronta, eu to trabalhando-a no palco, eu gosto de fazer no palco, não tenho medo de errar, nem nada. E aí o pastor me chamou, me deu 70 reais pra eu passar o dia lá brincando com as crianças no touro mecânico. E eu fiz amizade com o cara que cuida do touro mecânico, que é o cara que fica com aquele coiso ali, mexendo no touro, e ele não podia extrapolar porque era o filho do pastor que ia subir ao touro. A gente levou uma caixinha de cerveja escondida, porque na igreja evangélica não pode tomar, a gente levou escondida, fiquei tomando com o cara to touro mecânico, e na hora de narrar o rodeio na igreja evangélica, o Guigui, que é o filho do pastor, subiu ao touro e eu falava assim: “Lá vai ele” – fazia voz de locutor – “Lá vai ele, vai Guigui, vai Guigui, lá vai Guilherme, subiu na boca do brete” – não sabia nem o que tava falando – “Guigui subiu na boca do brete, vai Guilherme na boca do brete, Guilherme subiu ao touro, lá vai Guilherme, vai com Deus e Nossa Senhora”. Na igreja evangélica. Nossa Senhora na igreja evangélica? Só que assim, eu parei. Eu em vez de continuar, tipo: “É, Nossa Senhora, eita vida, meu Deus do céu. Não, só com Deus”. Não eu continuei, tipo, todo mundo me olhou assim. Então é assim, é algo que aconteceu na minha vida quando eu tinha 17 anos de idade, eu resolvi trazer hoje para o palco e transformá-la em piada. Aí depende da minha expressão facial, depende do meu timing. Então eu to trabalhando com ela ainda. Daqui... (interrupção). Tem uma piada que eu criei, minha mãe me batia com a espada do He-Man quando eu era criança.
P/1 – Você assistia He-Man?
R – Assistia, era fã, eu queria porque queria a espada do He-Man, cara, Nossa Senhora. E ela comprou. Só que tem diferença a mãe do rico dando um presente e a mãe do pobre, que a mãe do rico dá um presente, ela fala: “Filho, seu presente está aqui”. A do pobre fala: “Olha, tá aqui essa merda aqui. Você vai cuidar dessa porcaria...”. Dá-te um presente te xingando. E eu aprontei, ela me surrou com a espada do He-Man. Eu fiz essa piada, eu gosto de criá-la começo, meio e fim. Eu fiz essa piada, tinha dois minutos. Eu fui gravar esses dias no Curitiba Comedy Club, eu falei: “Joca, grava a minha piada do He-Man, que eu vou por na internet”. Tinha 18 minutos. Tipo assim, de um ano, eu comecei, ela tinha dois minutos, hoje ela tem 18 minutos, a mesma piada. Porque depois que ela tem começo, meio e fim, eu só vou incrementando coisas no meio.
P/3 – Não, fiquei curiosa, curiosa com essas técnicas. Quais são essas técnicas que você falou que dois mais dois são quatro. Você poderia contar um pouco isso? Sem revelar os seus segredos, mas se pudesse contar um pouquinho.
P/2 – Eu queria perguntar também.
R – É porque é assim, a gente que vai ao um show de comédia pra assistir, não sabe o que o cara tá fazendo, mas de repente, vou dar um exemplo de uma piada minha que eu fazia, no Paraná a gente chama salsicha de vina, vina é salsicha, e eu conto assim, que a minha mãe, a gente vivia à base de vina, isso é uma premissa que eu tô fazendo, eu tô fazendo você entenderem a lógica da piada, vocês já captaram isso. Por exemplo, eu queria comer um cachorro quente, eu falava: “Mãe, vamos comer um cachorro quente?”. Ela falava: “Não, tem vina na geladeira”. Eu falava outro dia: “Mãe, vamos comer uma carne diferente no almoço?” “Não, tem vina na geladeira”. Dois: cachorro quente, almoço. Agora vem a terceira, que se chama regra de três, eu falava... Eu tava tão pilhado com a tal de vina na geladeira, que um dia eu tava assistindo Scooby-Doo, o Salsicha falou: “Eu tô com fome”. Eu achei que o Scooby ia falar: “Tem vina na geladeira”. O que aconteceu? Vocês captaram a mensagem, vocês entenderam e depois receberam a mensagem. Beleza, eu faço vocês se esquecerem dessa piada. Enfim, que vida eu complicada que eu tinha, blá, blá, blá, isso nos dez minutos de show. Nos 30 minutos de show eu falo: “Gente, sou formado em Publicidade, tal, tal, tal, eu não entendo alguns comerciais”. Faço regra de três, cito o comercial do Itaú, cito o comercial do Neymar, na terceira eu falo: “Vocês viram o comercial da Fátima Bernardes que ela fala que ela foi atrás de um cara, esse cara girou o mundo atrás de um cachorro quente. Se esse cara vai lá em casa...”. Você entendeu que você já tem na cabeça a referência lá atrás da vina na geladeira? Eu não preciso nem terminar a piada: “Se esse cara vai lá em casa...”. O teu cérebro já deu a resposta: tem vina na geladeira. Então essa é a matemática, é a regra de três, é a surpresa quando a pessoa fala: “Nossa, esse shopping aqui tá tão feio”. Por exemplo, assim, você vai levando a pessoa, induzindo a pessoa pra um negócio e você quebra. Tem a comparação, tipo: “Ah, é tão esquisito quanto algo”. É uma comparação de uma referência que você tem. E a identificação. A identificação é o que eu mais gosto de fazer, que é tipo assim: “Ah, na minha rua é desse jeito, a gente jogava bola desse jeito”. Você vai falar: “Nossa, na minha rua também era assim”. Você pode falar: “Nossa, eu tenho pessoas que são assim. Eu conheço amigos que são assim”. Eu uso muito a identificação. Mas essa regra não tem erro, usar essas regrinhas. Tem a de contradição, tipo assim, tem um cara fazendo muito sucesso com isso agora, que é o Jorge da Borracharia, que é um cara muito forte, é o Cris Pereira, muito forte, bombado, tatuado, dois metros de altura, e ele fala: “Tudo bem? Eu sou o Jorge da Borracharia, sou mecânico, sou homossexual”. Tipo, você não tá esperando aquilo dele. É uma quebra, é uma surpresa dentro da técnica. Mas isso tem tudo na internet, tem livros. É só você se interessar um pouquinho que a gente... Eu no início tinha preguiça, depois eu vi que aquilo era mágico, falei: “Caraca, como pode?”.
P/2 – Mas o que você fazia espontaneamente, e depois conhecendo todas essas técnicas, você acha que teve muita mudança?
R – Não. Eu só fazia e não sabia que estava fazendo. Mas, por exemplo, eu dou algumas consultorias pra colegas, as pessoas vão ao meu escritório, a gente senta, analisa o texto deles. Teve um colega esses dias que ele fez uma piada muito boa, mas ele usou quatro exemplos, então a pessoa recebeu, entendeu e já estava esperando a resposta final, e ele jogou mais uma, então o riso vai ser menor, porque não precisava daquele outro exemplo. Era uma coisa tipo: “Ah, em casa tá tão frio, que eu pego na maçaneta da porta, tá gelada, eu pego na minha calça, tá gelada, eu pego na parede, tá gelada”. Não, essa aqui, a terceira, já tinha que ser a piada, as pessoas já entenderam que tá gelado. Então ele é um cara engraçado, mas talvez com a técnica ele já faria a regra de três, entende? Então a espontaneidade é legal, ser engraçado assim espontaneamente, mas depois que você sabe o que você tá fazendo, se você quer ser um humorista ou um ator de comédia, isso vai ser... O timing, dois, três segundos, é muito importante pra uma resposta, uma respiração. Às vezes a gente nem sabe, uma respiração muda uma altura de riso ou não.
P/1 – É quase... Por isso que o teatro ajuda muito.
R – Ajudou-me bastante, porque eu faço muito corporal hoje no teatro. Eu tenho um diferencial que quando eu vou falar assim: “Ah, minha mãe me falou um negócio hoje de manhã, que ela falou...” – eu faço a minha mãe falando. O teatro me deu isso. Tem alguns artistas que não têm o teatro, que eles só dão a frase. Eu faço a minha mãe falando, me faço recebendo a informação, e entrego para as pessoas como se cena estivesse acontecendo. Tem uma brincadeira que eu falo: “Vocês notaram que e mãe do pobre, ela xinga o filho? A mãe do rico não, ela chama a atenção, ela fala assim: ‘Tsu, tsu, tsu, Luís Otávio...’” – daí eu dou uma quebra, quebro a corda pra eles – “Porque o filho do rico se chama Luís Otávio, e o do pobre se chama Creverson”. E vou entrando em outra história, então assim, eu consigo mostrar a mãe do rico realmente chamando a atenção do filho e não só: “Ah, ela chama atenção tsu, tsu”. Não. A pessoa precisa ver. Precisa olhar em mim e ver aquela pessoa fazendo aquilo. Então é um diferencial que eu tenho, o teatro me ajudou muito hoje no palco do stand up também.
P/1 – Como é essa relação de humor e as classes?
R – Cara, eu posso ser iludido com isso, mas eu acho que é uma classe unida. A gente faz show hoje com personagens, com cara que faz só stand up, com peças de teatro. Esses dias a gente fez um festival em Santa Catarina, tinha improviso no começo, depois tinha stand up, eu fiz personagem. Eu acho legal unir tudo isso. Eu vejo essa união. Eu acho que existe essa união. Claro, tem um ou outro que fala: “Não, porque eu não gosto de teatro”, tem preconceito com o stand up. Eu não tenho e não vejo isso. Pode ser que exista, eu não vejo essa dificuldade.
P/1 – E o Risadaria, como é pra você? Como você conheceu? Como tá aqui?
R – O Risadaria é o próprio exemplo disso, que tem vários gêneros de comédia dentro do Risadaria. O Risadaria, cara, foi muito louco, porque tinha um concurso no Risadaria antigamente que era o de open mic, que era o cara que tava começando, você mandava o seu vídeo para o Risadaria e você participava de um concurso em São Paulo que você ganhava um troféu e ficava conhecido no meio da galera. E eu sempre mandava esse vídeo, sempre mandava esse vídeo. E não sei, era muita gente, eu não era selecionado. Não era selecionado. E aí eu falei: “Não vou mandar mais. Não vou mandar mais”. Beleza. Dois anos atrás, eu fui chamado pra fazer o primeiro Risadaria, que foi em Curitiba, participar do evento Risadaria com meu stand up, e o ano passado eu fui chamado pra fazer em São Paulo já aqui, aí fiz no Comedians, agora no shopping, que é uma experiência nova, um desafio. E por incrível que pareça, tem um prêmio Risadaria agora, que é o maior prêmio que tem do Brasil, que premia os artistas, o melhor programa de TV, melhor imitador, é o Oscar da comédia. E quem indica, quem dá essa indicação são os próprios colegas. Tem uma curadoria, tal, os colegas indicam quem são as pessoas. E eu recebi a ligação, acho que da Tati, me falando: “Olha, você tá entre os três melhores criadores de personagem”. Pra mim foi uma surpresa, porque... Eu falei: “Tá, mas eu tô concorrendo com quem?”. Ela falou: “Não, você tá concorrendo com a Nina da Praça é Nossa e com o Marco Luque”. Eu falei: “Tá. O importante é competir”. Eu falei: “Cara, o que tá acontecendo?”. Porque o Brasil tem milhares de criadores de personagem, o Nordeste é muito rico em criadores de personagem, os dois estão na televisão, eu tô só no YouTube, agora entrei no Treme-Treme, do Multishow, mas eu tava só no YouTube até então. E ver esse reconhecimento dos colegas comigo, que estão no YouTube, enquanto tá todo mundo fazendo vlog, falando com a câmera, pá, pá, pá, o ouro não sei o quê, o meu canal é uma TV, cara, eu faço vários personagens: um dia é o Tony Ramos que conta spoiler de filme, outro dia é De Costas com Gabi, ontem estreou a Lurde, tem o Carmo, tem o Carmo Gil, Pra Quem Você Tira a Cueca. Então assim, eu faço vários personagens e acabei transformando o meu canal numa TV mesmo, tem o meu dia a dia. E os colegas reconheceram esse trabalho e me indicaram no prêmio Risadaria. O primeiro ano que eu participo de fato no Risadaria, eu já entro concorrendo a um prêmio. E eu fiquei feliz de ter perdido, cara. Pô, eu perdi para o Marco Luque. Quem apresentou o prêmio foi o Serginho Groisman, e eu lá babando, falei: “Cara, o que é isso aqui, velho? Eu sou um cara de Tibagi, cara, que pedia comida. Tá ligado? Eu sou o cara de Tibagi, dois mil habitantes lá, to concorrendo a um prêmio nacional de melhor criador de personagem do Brasil”. Então eu não tenho dúvida que é tudo foco. Foco e trabalho. Eu nunca desviei. Nunca. Nunca saí, fui pra outro caminho. Nunca tentei ser médico ou engenheiro, eu foquei. Eu falei: “Ou eu vou me dar mal, ou eu vou me dar bem”. Hoje eu acredito que eu esteja me dando bem.
P/2 – Eu tenho duas coisas que a gente poderia perguntar, mas só pra situar mesmo, a maior parte do seu trabalho então é no YouTube?
R – Sim. Hoje, se eu tô na TV, eu tô na TV local do Paraná, que é o SBT e Rede Massa, é por conta do YouTube. O prêmio Risadaria foi por conta do YouTube. Meus shows lotam por conta do YouTube. Sem dúvida, a entrada do YouTube na nossa vida como artista, qualquer um pode postar vídeo no YouTube, mas você se manter nele é mais difícil, tem que ter talento, tem que ter dom, tem que ter um bom conteúdo, E eu consegui fazer isso. Eu consegui me manter no YouTube, viver do YouTube, paguei minha faculdade e da minha mulher com o YouTube, a gente se pagou, ela me ajudava bastante. Então assim, sem dúvida, eu acho que tudo que... Eu posso sair da TV hoje, eu posso não... Eu vou continuar no YouTube, o meu público tá lá e eu devo muito à internet também, não tenha dúvida.
P/1 – Para o futuro, você tá planejando alguma coisa? Como você tá vendo aí que vai ser esse ano e o ano que vem?
R – Como eu disse, eu vivo um dia de cada vez, mas eu tenho sonhos. Eu quero muito ser um apresentador, sabe, cara? Mas um apresentador de um programa bagaceiro. Sabe aqueles programas trash? Pensa no Ratinho, mistura com o Pânico, piora um pouco. Porque eu acho muito rico coisas que me entretém. As pessoas odeiam a televisão no domingo. A televisão do domingo, eu olho aquilo, eu mijo de rir. Quando eu vejo o Sílvio Santos: “Porque o Dudu Camargo vai se casar com a Maísa”. E o Dudu: “É, porque não sei o quê...”. Eu falo: “Cara, isso é mágico. É a coisa mais trash que tem no mundo”. Eu gosto de coisa trash, sabe, que, porra, o Ratinho leva um casal pra fazer DNA no programa dele, ele vestido de traje de gala, um ratinho falando no fundo, jogando o microfone nas pessoas. Eu falo: “Cara...”. Eu sou um cara que eu tô aqui vendo alguma coisa, eu olho pra televisão, eu paro pra falar: “Que merda é essa que tá acontecendo aqui?”. E eu quero ter um programa desse, cara. Tipo assim, trash. Eu quero ter um programa trash, que eu leve gente feia, cantor ruim, sabe, e fazer a alegria do povo, cara. Acho que o povo ri. Tem muita desgraça, a gente precisa rir de tudo, de tudo. Então o meu sonho, o meu foco, sei lá, é ter um programa ruim de bom.
P/2 – Tá ótimo. Tá ótimo.
P/1 – Obrigado.
R – Obrigado a vocês, gente. Valeu.
P/1 – Queria ficar mais tempo, mas...
R – Pô, legal. Eu gosto de dividir isso...
FINAL DA ENTREVISTARecolher