Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Odaisa dos Santos Lopes
Entrevistada por Estela e Rosana Miziara
Duque de Caxias, 26 de abril de 2012
Realização Museu da Pessoa
Entrevista Nº MEC_HV002
Transcrição de Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
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Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Odaisa dos Santos Lopes
Entrevistada por Estela e Rosana Miziara
Duque de Caxias, 26 de abril de 2012
Realização Museu da Pessoa
Entrevista Nº MEC_HV002
Transcrição de Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Odaisa, você pode falar seu nome, data e local do seu nascimento?
R – Eu me chamo Odaisa dos Santos Lopes. Nasci em Alagoa Grande, fica na Paraíba. Nasci no mês, no dia, 29 de março de 1961.
P/1 – Quanto tempo você morou lá em Alagoa, nessa cidade, como é o nome?
R – É Alagoa Grande.
P/1 –É, na Alagoa Grande.
R – Nós viemos para cá com a idade de sete anos, nós tínhamos sete anos.
P/1 – Tinha sete anos?
R – É.
P/1 – E seus pais são de Alagoa Grande?
R – Minha mãe, sim. Aí minha mãe teve um namorado. Quando se apaixonou pelo namorado, o namorado veio para cá, ele veio também. Aí ele veio na frente. Aí depois ela veio atrás com a gente.
P/1 – O namorado era seu pai?
R – Não.
P/1 – Seu pai era da onde?
R – É... Eu não tenho pai, ele não registrou, não tenho pai.
P/1 – Você não tem pai, só tem mãe?
R – É. Só tenho mãe.
P/1 – E você lembra dessa sua casa lá em Alagoa Grande, com sete anos?
R – Lembro.
P/1 – Como é que era?
R – Era uma casa assim igual a de todo mundo de lá, não é?
P/1 – Como é que é? Eu não sei como é a casa de todo mundo de lá.
R –
Todo mundo, era uma casa assim, igual, e na frente da casa tinha assim uma calçada altona. Toda casa tinha aquela calçada altona onde as crianças de noite, assim, brincavam de pular de calçada em calçada, de calçada em calçada. Depois voltava de novo pulando.
P/1 – A calçada era num plano maior que a casa? A casa ficava mais embaixo? Não entendi.
R – Não. Tinha a casa, aí, na beirada da casa, na frente da casa, toda casa lá tinha uma calçada alta, bem alta. Mais ou menos dessa altura assim, na frente das casas. Aí era onde as crianças brincavam, ali, de pular de uma casa para outra. Aí depois voltava de novo, ia pulando. E assim ia.
P/1 – E quantos irmãos você tinha, tem?
R – Eu tenho sete, que dois ainda estão por lá ainda.
P/1 – Mas os sete moravam nessa casa?
R – Quer dizer, lá morava, assim, sozinha, minha mãe, minhas irmãs, meus irmãos, que dois nasceram aqui no Rio. E uma lá já era grandinha ela trabalhava fora. Não morava tanta gente, não. Quer dizer, morava minha mãe, meu irmão, eu, Olga, só.
P/1 – E quantos quartos tinha?
R – Quartos? Acho que eram dois.
P/1 – Vocês dividiam?
R – É. Ainda dormia em rede. Na época ainda era rede que se usava.
P/1 – Você dormia na rede?
R – Eu dormia na rede, é.
P/1 – E sua mãe trabalhava fora?
R – Minha mãe trabalhava fora.
P/1 – E com quem vocês ficavam?
R – Com a minha irmã mais velha e com meu irmão, com esse meu irmão também mais velho. E os vizinhos também, porque na frente da casa morava a minha madrinha, e ela tomava conta da gente.
P/1 – E quem que exercia a autoridade lá, era a sua mãe?
R – É. Acho que sim.
P/1 – E com quantos anos você começou a ir para a escola?
R – Então, já comecei ir minha para escola aqui no Rio. Aí, viemos pro Rio. Aí começou assim... Aí meu padrasto veio na frente...
P/1 – Por que vocês vieram pro Rio?
P/1 – O quê?
R – Porque meu padrasto... Acho que minha mãe se apaixonou... Acho que ela teve uma história e se apaixonou, assim, de loucura por esse meu padrasto. Porque aí ela vendeu a casa lá. Aí quando vendeu lá, não sei o que aconteceu, porque eu era muito criança e não entendi muito bem, eu sei que na época que vendeu a casa a gente não veio para Rio. Aí, que acho que ela se desencontrou, ficou sem se comunicar com ele, aí, fomos morar na casa da minha avó, que morava no mesmo bairro só um pouquinho mais distante.
P/1 – A sua avó morava aqui?
R – Não, lá no norte.
P/1 – Não, espera aí, vocês vieram para cá...
R – Então, aí quando...
P/1 – Veio ela com todos os filhos?
R – Não. Só veio eu, minha irmã, que é ela é essa, a dona dessa casa, e a Paula, que ela é muda e surda. Veio nós três e um vizinho que por acaso ele vinha pro Rio, aí deu uma carona para gente. Aí, no caso, que eu não esqueço nunca. Aí veio eu, minha irmã, a nenénzinha que era da minha irmã, minha mãe e o vizinho, em duas poltronas. Falei: “Caraca, a gente não veio encaixotada, não, mas quase que foi...”.
P/1 – Quanto tempo demorou a viagem?
R – Ai, foi muito tempo. Eu me lembro que aí, na época, tinha um rio, assim, muito grande que tinha que descer do ônibus pras crianças, ali, tomarem uma vacina para depois entrar numa barca, num negócio bem grandão, para atravessar aquele rio e depois entrava dentro do ônibus de novo .
P/1 – E aí quando chegou aqui no Rio, você lembra como é que foi? Aonde vocês chegaram?
R – Então, aí quando nós chegamos aqui no Rio... Antes disso a minha mãe vendeu a casa. Teve um desencontro... Nós ficamos na casa da minha avó. Aí, acho que nesse período, assim, deve ter gastado todo o dinheiro da casa, que acho que com criança deve ter gastado bastante. Acho que foi por isso que não teve dinheiro para pagar a passagem direitinho. Aí, é... Quanto tempo nós chegamos aqui, chegamos na rodoviária, chegou na rodoviária o padrasto não apareceu.
P/1 – Mas ela não tinha combinado com ele antes?
R – Não sei, porque nós éramos pequenos demais. Eu só lembro que ele não apareceu.
P/1 – Putz, mas e aí?
R – Aí ficamos dormindo lá na rodoviária, aí na época era aqueles bancos de pau de madeira, aquelas ripa. Aí ficamos lá deitadas, aí eu lembro que apareceu um senhor taxista... Onde levou a gente para casa dele, que ele morava numa avenida, aí...
P/1 – Conheceu o taxista lá?
R – Lá. Não é? Porque nisso também o conhecido que estava com a gente também já pegou o rumo dele, já foi, resolveu a vida dele. Aí, depois encontrou. Agora não lembro como que encontrou. Não sei contar como que ela conseguiu encontrar ele. Entendeu? Aí encontrou.
P/1 – O padrasto?
R – O padrasto. Aí fomos, fomos morar na casa do irmão dele, que morava num cubículo em cima do morro. Num cubículo em cima do morro com um monte de gente. Aí fomos morar lá. Aí depois...
P/1 – Quanto tempo vocês ficaram lá?
R – Eu acho que não chegou a um ano, não, assim. Porque criança não tem assim noção do tempo. Mas acho que não foi muito tempo, não.
P/1 – E você lembra como era nesse morro?
R – Muito ruim. Faltava muita coisa, faltava muita comida e muita gente, não é? Muito ruim. Aí, eu não sei como que ele conheceu o Seu Reinaldo que morava aqui. Aqui em Campos Elíseos. Isso nós fomos parar em Parque Araruama. Que eu pensava até que era em Araruama, falei: “Mas porque que vamos para Araruama?”, aí falou “Não”. Aí eu vi aqueles verdinhos lá, eu falei: “Não foi para Araruama, foi Araruama”. Porque a gente pegava dois ônibus para chegar até aqui. Aí ele conheceu o Seu Reinaldo onde ele...
P/1 – Seu padrasto?
R – Conheceu o Seu Reinaldo, não sei como. Aí, ele ofereceu, né... Porque o Seu Reinaldo ele criava vaca, cavalo, cabrito, é... E precisava de gente para ajudar. Aí ele conheceu, ele. Aí foi. “Então vamos?”, “Vamos”. Aí viemos de ônibus. Ele, turrão. Botou a mudança nesses carros grandões. E veio a pé de Araruama para cá.
P/1 – A pé? Quanto tempo?
R – Daí eu não sei, mas que ele veio a pé ele veio. Aí, quer dizer, até a metade do caminho, porque ele disse que na metade do caminho tinha uma feira, que não podia passar pelo meio daquela feira, mas ele tinha que passar com aquele carro por aquela feira, como é que ele ia passar com a mudança? Aí ele se invocou lá com a polícia, a polícia prendeu ele, deu uma coça nele, arrancou uns quatro dentes da boca dele. Sabe? Aí, tá. Aí ele entrou em contato com esse Seu Reinaldo. Aí o pessoal veio. Soltaram ele. Aí veio. Aí viemos...
P/1 – Isso com a mudança?
R – Com a mudança... Nós estávamos vindo de ônibus e ele com a mudança. Aí chegamos aqui, aí o Seu Reinaldo... Porque ele tinha um terreno muito grande, muito lá para dentro do Saraiva. Aí ofereceu para ele, para ele ajudar. E aquele pedaço ali ele dava para ele fazer a horta. Fazer a horta e vender, e o dinheiro seria nosso. Entendeu? Aí ele também me chamou para eu ficar na casa dele, aí eu ajudava a mulher dele a tomar conta das crianças.
P/1 – Você estava com quantos anos?
R – Na época eu devia ter uns oito.
P/1 – Oito?
R – É, por aí. Aí foi, ficou. Aí o tempo foi passando, o tempo foi passando, a gente ajudando também, ele dando leite da vaca para gente beber, então foi bom. Aí nisso não sei o que aconteceu, não sei se se desentenderam, sei que ele resolveu ir morar numa barraquinha lá no final daquele morro lá... Passo lá, vejo aqueles alicerces e mostro para minha irmã: “Olha lá onde nós moramos”. Aí, quer dizer, era um quadradinho assim, ó. Aí, era onde tinha que ficar eu, minha irmã e o bebê, e minha mãe e ele. Aí, eu fui lá na casa de uma moça fiquei um tempo, porque também não cabia. Minha mãe foi, arrumou conhecimento com um tal de Seu Campista que era um moço melhorzinho de vida também, que me botou nessa casa também. Só que nessa casa eu já não fazia nada, só ficava de companhia da esposa dele, sabe? Aí foi. Aí depois, passou esse tempo lá. Aí depois meu padrasto inventou de fazer um barraco lá em cima do outro morro. Longe para caramba. Aí arrumou um terreninho lá. Porque aqui sempre foi assim, o pessoal invade o terreno. Terreno... Sem terra mesmo, não é? Aí fez um... Não, daí ele comprou aqui. Comprou aqui, um barraquinho. Aí ficou dormindo aqui e lá. Aí depois, porque lá nesse barraquinho, também, pagava aluguel, não era de graça que a gente morava, não. Pagava aluguel. Aí ele veio, fez aqui e comprou um terreninho lá em cima do morro. Aí onde caçava essas tábuas caixotes, aí fez um barraco lá em cima do morro. Aí nesse meio tempo, minha mãe trabalhou de lavar roupa e mandou buscar os outros irmãos que estavam lá no Norte. Só que as outras duas não quiseram vir porque colocaram na cabeça delas o quê? Que era mentira dele. Que ele ia chegar aqui, trazer as duas e fazer elas de mulher. E explorar meu irmão. Aí, o que aconteceu? Aí elas não quiseram vir. Veio só meu irmão. Aí nisso, meu irmão ficava lá na barraquinha lá em cima do morro e ele aqui, aí de noite eu ia lá dormir com meu irmão lá em cima do morro e vinha. Aí, por fim, ele não se dava muito bem com meu irmão, porque ele era assim, tipo assim explorador, explorava as crianças, principalmente a mim. Porque eu era maiorzinha, a minha irmã era menor, ficava dentro de casa, aí como eu era maiorzinha, me explorava assim, era de serviço. Por exemplo, botava a gente para... Principalmente eu, por exemplo, catar vidro, que na época comprava vidro aí botava eu para catar aquele monte de vidro. Aí enchia aquele monte de vidros. Ele vendia e ficava com o dinheiro todo para ele, não dava nada para gente. E meu irmão ficava sabendo daquilo. E se não fizesse as coisas… Igual eu estava falando ali. Eu não sei o que é que tem criança. Eu quando era pequena eu adorava jogar bola de gude. Aí ele botava, assim, aquele monte de pregos para desamassar ou então prego para tirar da tábua para depois desamassar, para usar aquele prego. Aí, ele falava assim: “Eu vou em Caxias. Você vai fazer isso, isso e isso. Se eu chegar aqui e você não tiver feito, já sabe o que vai acontecer.”. Aí, ele pegava, descia o morrinho lá, eu já pegava minha latinha de bola de gude, ó, já ia lá para trás do quintal do pessoal, para jogar bola de gude. Ele quando chegava ele me batia.
P/1 –Ele te batia?
R – Doía muito.
P/1 – E sua mãe, o que é que falava?
R – Ah, não sei se minha tinha medo dele. Não sei se apanhava também junto. Entendeu? Porque ele batia, e batia muito. Apesar, que eu também era danadinha, porque, fica pensando, como é que... Aí na outra semana, ele ia para Caxias de novo, me dava tarefa de novo para eu fazer e eu fazia a mesma coisa e apanhava de novo. Quer dizer, eu era meio danada também. Aí foi que... Aconteceu que na época da horta ele enchia aquele caminhãozinho que ele trazia... Tipo uma carroça, mas era... Enchia aquilo de verdura, daí saía por aí vendendo, só que o que acontecia? Ele me levava com ele para eu vender. para eu ajudar ele a vender. Eu acho que, assim, é uma criança, o pessoal fica com pena e compra mais. Aquilo já era uma exploração. E depois ele saía por aí remendando um mudo. A gente morava lá dentro, lá para dentro, quer dizer, aqui para fora, ali para Primavera ninguém conhecia a gente, então ele saía remendando mudo para conseguir vender. Quando conseguia vender quase tudo ia nas lojas, nas quitandas, aí bebia uma, aí pagava um doce para mim. E falava para eu não contar nada em casa que ele tinha bebido... Só que em tudo quanto era barraca ele parava, quando chegava em casa já estava bêbado. Não é? Aí foi, foi indo, foi indo. Aí quando meu irmão veio, aí meu irmão...
P/1 – Você já tinha entrado na escola aí?
R – Ainda não.
P/1 – Ainda não...
R – Não. Aí meu irmão veio... Essa minha irmã inclusive não fala. Fiquei até com isso na cabeça, falei: “Tá vendo?” Ele remendava mudo e hoje a filha dele, que é a minha irmã, não fala, ela é muda e surda. Né? Eu fico assim pensando. Pode ser coincidência, mas eu fico assim, pensando assim: “A gente nunca deve remedar fazer.” Aí ele pegou... Meu irmão fez uma carrocinha de doce. para vender lá na Petrobrás. Minha mãe também, na época, fazia um caixotinho, não tem um caixotinho assim, bota aqui no pescoço... Aí, ela fazia cocada, aí botava eu e meu irmão. Meu irmão botava assim no carrinho e eu com aquele negocinho de doce vendendo nesses... Nos tanques. Porque aqui não tinha Petrobrás, aquilo era tudo casa, ali... Aí começaram a fazer os tanques na BR. Aí eu ia para lá vender, o povo comprava doce, cocada, cigarro a varejo. Quando não tinha nada botava sardinha e mandava vender a sardinha. E assim a gente ia levando a vida. Até que um dia ele pegou... Nós estávamos almoçando. Aí, minha irmã em cima da mesa. Aí ele pegou... O meu irmão pegou, esse que era já rapazinho na época. Pegou uma colher do caldo de feijão, estava acostumado a tomar aquele caldo de feijão cortado com hortelã, cebolinha, aquele, né cortado. Aí meu irmão pegou e botou assim na boca da minha irmã. Nisso a minha irmã caiu, virou e caiu. Aí, tudo de errado era eu que fazia, ele virou para me bater. Aí me bateu, me bateu, até que alguém se doeu, falou que não tinha sido eu que tinha colocado a colher na boca dele, falou que tinha sido meu irmão. Aí ele foi, bateu no meu irmão. Meu irmão já era rapazinho. Encarou ele. Pegou a garrafa, quis tacar nele, tacou, só que não acertou. Aí, daí para lá ele viu que tinha alguém para enfrentar ele, aí ele foi embora. Aí depois a gente começou a ir... Por exemplo, ele que dava...
P/1 – Sua mãe não falava nada?
R – Nada. Aí já estava na época de uns nove anos, dez, por aí... Aí os vizinhos já falavam assim: “Vocês têm que ir para escola. Você tem que aprender a ler”. Por isso que minha filha fala: “Mãe, a senhora viveu num problema tão grande, por isso que a senhora valoriza tudo”. Porque eu vejo um caderno às vezes na metade, o caderno no lixo. Eu falei: “Gente, na minha época, minha colega me ensinou a ler e escrever no chão, na areia”. Né, ela fazia assim, juntava lá, e depois o caderno que ela usava, que ela usava só uma parte, aí me dava e eu usava a parte de trás. E hoje você vê caderno novinho pro lixo. Aí, o que acontece?... Aí eu tinha uma colega. Eu tinha uma colega: “Vamos lá fazer sua inscrição. Você precisa ir”. Aí minha mãe: “Eu não vou botar você na escola, não. Porque você vai estudar para quê? Para escrever cartinha para namorado?” Aí eu falei, falei, falei. Aí reclamei, eu era respondona também, eu não era flor que se cheirasse também. Aí, fui lá para escola: “Mas minha filha, tem que ter um responsável para assinar por você”. Falei: “E agora?”. Aí: “Você não tem mãe, não?”. Aí eu: “Minha mãe morreu. Não tenho mãe, não... Não tenho mãe, não. Minha mãe morreu”. “Mas você não tem ninguém para assinar por você?”. Aí essa minha colega já tinha quase 16 anos, ela assinou por mim. Entendeu? Aí eu voltei, falei que tinha feito minha... né? “Quem vai comprar roupa para você? Como é que você vai comprar uniforme, caderno? Como é que você vai fazer isso?”. Falei: “Bel, e agora? A gente vai arrumar onde?”. “Então vamos arrumar emprego para você”.
P/1 – Essa sua amiga.
R –É minha amiga. Aí saímos por ali, aí procuramos, achamos emprego em frente ao colégio... Aí na época, eu tinha assim uns dez, onze anos, por aí. Aí tinha um senhor da... Era tipo assim um barzinho, que vendia lanche, biscoito, assim, refrigerante, cachaça também, cafezinho, tipo um barzinho. Aí ele tinha um problema nas pernas, aí eu ficava despachando o pessoal, ele ficava na cadeira de rodas. É... Assim, me dando apoio, olhando o que estava acontecendo. Só que essa mulher era tão ruim. Que a mulher... Era eu, ele e a mulher. Sabe o que a mulher fazia? Era um prato de comida, que ela mandava vir comprar numa pensão que tinha aqui, para nós três. Falei: “Gente, o que é isso?”. Aí, pedi para ela para não dormir... Não ficar dormindo mais lá, ir dormir em casa. Porque aí, poxa, pelo menos em casa pão duro tinha, outras coisas tinha. Porque lá no negócio do biscoito era para vender, não podia mexer. E era aquela comida, que ela comprava na pensão, que lá não fazia comida para nós três. Aí, minha irmã, essa minha irmã daqui, ela passou a ir me buscar. Dava assim oito horas... Aí estudava lá de manhã, de tarde ficava lá e quando chegava oito horas minha irmã ia me buscar e vinha nós duas. Eu com ela e vinha nós. Aqui não tinha luz, não tinha nada. Até que... aí estudei. Aí já fui para segunda série. Em vez de ir para primeira, já entrei na segunda, porque minha colega já me ensinava.
P/1 – Já sabia escrever...
R – Já sabia escrever. Não sabia assim tanto, mas já... né? Aí quando foi nas férias, porque tem as férias de julho. Aí, o que aconteceu? Aí eu me desanimei, não voltei mais para escola. Porque também não voltei mais para o serviço, também, porque a mulher era muito ruim. Ela queria que eu entrasse num negócio assim cheio de cachorro para botar comida pros cachorros. E eu gritava igual uma desesperada dizendo que os cachorros iam me morder e ela falava para eu perder o medo que se eu mostrasse medo... Aí eu achava aquilo ali um pânico, sabe? Aí fui, parei de estudar. Aí fui trabalhar nas casas de família. Aí quando eu fiz 14 anos, aí voltei para estudar, aí tinha uma escolinha, que era o Monteiro Lobato na época, que era uma casinha de tábua. Que ali fazia supletivo. Aí eu entrei de noite para fazer o supletivo. Aí eu estudei um pouquinho de tempo lá, mas também não durou nem uns dois anos. Porque também não fui à frente. Aí parei de novo. Aí depois foi onde comecei a namorar. Aí...
P/1 – Mas você continuava trabalhando?
R – É. Continuava trabalhando. Aí, comecei...
P/1 – Nessa casa?
R – Não. Nessa casa, não, eu já tinha saído.
P/1 – Depois você foi para onde?
R – Trabalhar em canto nenhum. Depois aí minha mãe arrumou um lugar lá em Botafogo. Falei: “Gente, que doideira”. Fiquei pensando: “Que doideira”. Ainda bem que a mulher já tinha filho senão não ia me carregar. Quer dizer, não conhecia ninguém. Aí vinha... Por exemplo, eu trabalho lá na cidade, eu conheço alguém que quer uma pessoa para tá ajudando. Porque uma criança não faz nada, só ajuda mesmo a botar alguma coisa, a varrer alguma coisa, não é? E eu deixo a pessoa sem ter uma garantia de quem vai ficar responsável por aquela criança. Aí eu fui para Botafogo. Aí, a moça... Fiquei lá com a moça. A moça não me tratava como empregada, não. Me tratava igual assim... Não fazia nada, assim, sabe? Aí, depois... Mas aí, o que acontece? A gente fica com saudade dos irmãos, da mãe, por pior que seja, tem uma saudade. Então você prefere ficar ali, passando necessidade, do que ficar longe dos teus irmãos, da tua mãe. Aí, a mulher ficou um tempão lá comigo. Aí quando veio me trazer, aí eu não quis mais voltar. Aí fiquei. Depois a idade foi chegando, aí já ia trabalhar e vinha de quinze em quinze dias. Entendeu? Lá para cidade. Vinha de quinze em quinze dias. Mas é que depois... Aí já começa a namorar... Aí começa tudo...
P/1 – Onde é que você conheceu esse namorado?
R – Esse que...?
P/1 – Seu primeiro namorado.
R – Meu primeiro namorado? Ih... Tem que contar?
P/1 – Não. Se quiser...
R – Não. Não quero contar, não.
P/1 – Você estava falando desse outro, então.
R – Então, esse outro, que hoje é meu marido... Veio aí para casa do conhecido dele. Um colega de trabalho. Aí nos encontramos, aí marcamos encontro, aí depois fomos morar juntos, aí estamos juntos até hoje… Estamos aí. É mais ou menos isso.
P/1 – Aí você... Deixa eu voltar... E na adolescência? O que você fazia na adolescência além de trabalhar? Como que você se divertia?
R – Aqui, aqui tá melhor agora porque tem alguma coisa, porque naquela época não tinha nada, nada, nada. Eu fico olhando... Outro dia estava eu e essa minha amiga Isabel, aí tinha uma macumba lá no final, que aí tinha esses negócios de festa deles lá. Aí a gente ia para lá porque não tinha lugar para gente ir. Mas aí a gente ficava somente no portão porque um ficava fazendo medo pro outro, porque diz que se sentar do portão para dentro não pode sair ficava na rua. Aí os jovens ficavam todos naquela rua ali, na macumba, porque não tinha nada.
P/1 – E como é que você conheceu seu marido?
R – Então, ele veio na casa do colega de trabalho dele. E era na mesma rua.
P/1 – Aí vocês se viram?
R – É. Não, eu estava lá, que esse colega dele, a esposa dele era minha amiga. Pessoal do Norte também. Eu já estava lá, quando ele chegou eu estava lá.
P/1 – Aí vocês se viram?
R – É. Aí nós nos vimos, marcamos encontro para de noite, que era época de Natal. Depois, aí foi, foi, foi...
P/1 – E aí, a sua mãe, seu padrasto, como é que estavam na época?
R – Então, aí meu padrasto depois desse desentendimento ele...
P/1 – Ele mudou.
R – Mudou. Foi embora, é? Aí voltando pro meu padrasto, para completar, ele… Quando nós voltamos na casa do irmão dele, encontrou aqui no Rio, encontrou ele com a mulher e com a outra filha, para completar ainda.
P/1 – O padrasto? Ele tinha mulher e outra filha?
R – Tinha mulher e outra filha. É tristeza, só. Mas aí, estamos aí...
P/1 – Aí você casou e foi morar onde?
R – No mesmo lugar.
P/1 – Mas morava com o irmão, com a irmã?
R – É. Nós morávamos com o irmão no mesmo lugar. Aí, o que acontece... Aí nós... Não. Aqui, deixa eu me lembrar primeiro... Muitos anos... Então, fomos morar num quartinho lá no final da rua. Aí depois ele recebeu uma indenização de uma firma. Aí ele tinha que me levar lá para conhecer a família dele. Aí toda vez... Isso não sai da minha cabeça. Toda vez, aí tinha uma ilusão que ele ia receber. Aí eu ficava em casa: “Arruma, arruma a roupa, que você tem que botar para casa da tua mãe, quando eu chegar, só para gente ir”. Aí quando ele chegava o dinheiro não tinha saído. Tinha que botar tudo de novo. Isso passou uns quinze dias. Sabe? Eu arrumando as coisas e ele indo lá, e o dinheiro não saia. Até que por fim fomos lá, chegou o dinheiro fomos lá, eu conheci a família dele.
P/1 – Que é da onde?
R – É uma misturada doida. Porque ele nasceu em São Paulo, foi registrado na Bahia. Foi registrado na Bahia e criado em Arcoverde. Uma confusão doida também. Sabe?
P/1 – E aí, mas vocês foram para onde?
R – Então, nessa época a mãe dele também já tinha largado o pai dele e estava morando lá com o padrasto em Belo Horizonte, pros lados de Furnas, por ali.
P/1 – Para lá que vocês foram?
R – É. Para lá que nós fomos, mas nós não fomos para lá para morar, só para conhecer. Aí, é... Capitólio, por ali. Aí fomos lá, passamos uma época lá com eles, aí voltamos.
P/1 – Ficaram quanto tempo?
R – Acho que nós ficamos um mês, um mês e pouco. Mas voltamos. Aí depois os filhos começaram a nascer, aí ficou mais difícil de... né?
P/1 – E você trabalhava nessa época?
R – Não, não trabalhava.
P/1 – E aí ele arrumou emprego?
R – Não. Ele trabalhava. Eu que não trabalhava.
P/1 – Mas quando vocês foram para lá ele tinha sido mandado embora...
R – Tinha sido mandado embora, aí depois quando voltou arrumou emprego de novo, foi trabalhar de novo.
P/1 – E você tomava conta dos filhos?
R – É.
P/1 – E aí?
R – E aí o quê?
P/1 – Não. E aí você ficou sem trabalhar. Você nunca trabalhou fora?
R – É. Fora? Já. Aí depois...
P/1 – Não. Até então, que você já tinha trabalhado...
R – Isso, isso.
P/1 – Estou falando depois que você casou.
R – Não. Aí fomos morar para cá. Voltamos, depois fomos morar para cá. Aí, o que aconteceu? Ele arrumou um emprego. Trabalhava ali em Angra dos Reis. Aí veio, aí vinha uma vez por semana em casa, que era longe. Aí veio. Depois desempregou de novo. Aí o que aconteceu? Morando de aluguel, né. Falei: “Aí vai arrumar dívida.” Tem que ir atrás do que comer, ainda tem que ir atrás de pagar o aluguel. Aí foi onde o meu compadre tinha um terreninho, tinha um barraquinho, assim, com aqueles pedaços de tábua. Sabe? Falei: “Mas é melhor eu ir para lá do que ficar devendo aos outros. Vai ficar devendo aos outros aí com que cara que a pessoa vai ficar. É melhor ir lá que pelo menos só corre atrás do que comer.”. Aí na época tinha um fusquinha, aí vendeu o fusca, só que a pessoa que comprou o fusca eu achei que era minha amiga.... Aí fizemos para pagar em três vezes. Vinte, vinte e vinte, que era sessenta. Aí eu falei: “Pelo menos o leite do...”. Nessa época só tinha o William. Pelo menos a alimentação do menino. Porque nesse período. Não é possível que até lá não arrume. Aí, o que aconteceu? Aí não pagaram. Aí esse rapaz... Pegou o fusca e já trocou por um carro mais velho, sem dar nem uma entrada. Aí, eu, muito amiga do pessoal ali... A menina chegou para mim, e falou assim: “Não fala nada que eu falei, porque senão vão arrumar briga comigo, mas o pessoal vai embora para São Paulo”. Falei: “Puxa vida, você que é minha amiga, hein?” Aí, tá. Aí ela me falou o horário direitinho. Aí quando eles estavam pensando que iam, aí estava eu e meu marido esperando lá onde eles tinham marcado com outra pessoa. Aí meu marido foi, deu um esporro nele, tomou o carro velho assim mesmo. Mas aí aquele carro velho ninguém dava mais nada, aquele carro muito velho. Aí eu falei: “Não. Então vamos morar ali no barraquinho mesmo”. Que meu compadre tinha me oferecido. Pelo menos, aluguel, a gente está livre de aluguel. Mas no barraquinho passava rato em cima de você. Aí quando nós fomos para lá já tinha Maicon. Maicon com quatro meses e um monte de ratos, eu digo: “Meu Deus”. Aí, tá. Aí, ele arrumou emprego de novo. Aí arrumou emprego, era à noite. Trabalhava de noite. Aí arrumou emprego... Agora vamos fazer... Porque a casa era de tábua, era tipo uma casinha de tábua e parecia de boneco, você para entrar você tinha que abaixar. E agora já é de ripa, de ripa. Aí ele arrumou emprego. Meu compadre foi e vendeu o terreno. Ele não tinha me dado na época, tinha cedido para eu morar. Aí meu compadre foi e vendeu o terreno. Aí falou: “Ô, comadre, eu vou te dar esse pedacinho. Vou te dar esse pedacinho vocês constroem e moram aí”. Aí, mas aí ele tinha arrumado emprego, ele comprou mais um pedacinho para trás. Aí comprou mais uma pedacinho e ficou maiorzinho. Aí meu marido: “Eu vou comprar umas tábuas para fazer aquele chiqueiro lá”. Falei: “Sai fora, eu prefiro ficar aqui. É tudo de tábua... De tábua... Vai fazer de tábua de novo. Não. Prefiro continuar aqui”. Aí foi que ele se esforçou: “Mas como é que vai fazer?”. Eu falei: “Ué, sei lá, nem que seja um cômodo, mesmo torto mas que seja de tijolo.”. Aí, assim ele fez. Aí tinha umas casas velhas que o pessoal, é... abandonaram. Porque aqui teve uma explosão. Não sei se vocês souberam... Uma explosão muito grande. Não sei se vocês souberam, nos anos 1970, teve uma explosão muito grande, o pessoal até hoje... Não voltaram ainda, sumiram. Não soube, não?
P/1 – Explosão aonde?
R – Na Petrobrás.
P/1 – Ah, tá. Como é que foi mesmo?
R – Nossa!
P/1 - Foi aqui na Reduc?
R – Foi. Aquelas bolas grandonas, assim, explodiu três daquelas. Aí de madrugada, só via nego correr aqui. E eu era criança, não tinha nem noção, estava vendo o pessoal correr e estava correndo também. Sabe? Aí, quer dizer, o pessoal dessa época não voltou. Aí as casas ficaram por aí abandonadas. Aí, o que acontecia? A gente, não só eu, um monte gente também, ia lá arrebentava, acaba de arrebentar, tirava o tijolo, limpava o tijolo e trazia para construir, para ajudar na construção da casa. Porque comprou um milheiro de tijolo, mas não dá para construir dois cômodos direito. E aí a gente tirava aquele tijolo da casa velha e trazia para fazer a casa nova. É entulho também, quando a pessoa joga esses caminhão de entulho, e gente pegava... É que eu não tenho retrato, devia ter tirado... Aquele entulho... Pegava, eu sentava de um lado, ele de outro, e a gente ia quebrando para ficar pedrinhas, para não precisar comprar pedra. Né? E assim foi. E eu olho assim para minha vida, assim, eu não tenho nada. Mas eu olho para minha vida, assim, e me considero uma vencedora.
P/1 – Aí vocês construíram a casa?
R – Construímos a casa.
P/1 – Quem construiu? Você?
R – Ele, ele. Aí trabalhava de noite...
P/1 – Fez tudo?
R – É. Ele trabalhava de noite e botava o tijolo de dia. Aí fizemos dois cômodos e uma varandinha. Depois aumentamos, aí botamos laje. E aí...
P/1 – É a casa onde vocês moram até hoje?
R – Até hoje.
P/1 – E cresceu a casa? Fizeram mais cômodos...
R – Crescemos, crescemos, crescemos. Crescemos mas o que aconteceu? Aí meu irmão veio e construiu a casa aqui do lado. Fizeram, veio, que me trancou assim. Aí a parte de baixo, eu fiquei assim... fica igual um túnel, não tem janela, mas... É, assim, muito úmido.
P/1 – Aí você foi construindo para cima?
R – É. Ele que fez. Botou laje e fez tudo, que eu não sabia botar um tijolo. É por isso que eu falo, basta a pessoa querer e ter força de vontade. Vai botando... Vai melhorando, não é?
P/1 – E aí você teve filho quando?
R – Aí, eu tive meu primeiro filho. Ele nasceu doentinho. Aí, deu uma infecção no intestino, só viveu um mês. Aí depois engravidei de novo, aí. Depois de novo e depois de novo. Tenho três filhos.
P/1 – Quantos anos?
R – Dezenove.
P/1 – Dezenove?...
R – Dezenove, o primeiro. Vinte e um, o segundo. Aí quando estava com quatro anos engravidei do Maicon, aí depois quando o outro estava com quatro anos engravidei da menina.
P/1 – Tem quantos anos?
R – Tem vinte e dois.
P/1 – E aí seu marido continua trabalhando fora?...
R – Ah, continua.
P/1 – E você?
R – Ah, e eu? Aí eu comecei, assim, qualquer dinheirinho que tinha lá, eu ia lá na Pechincha Modas, que tinha a tal Pechincha Modas, comprava uma camisetinha por R$ 1,00 e vendia por R$ 2,00. Aí comprava... Aí vinha. Qualquer dinheirinho que tinha, eu aprendi a fazer crochet, um sapato que estava na moda na época. Aí, inclusive tinha uma época também que o pessoal inventava de jogo. Por isso que eu falei com a minha vizinha lá: “Sai com esse negócio de jogo, que esse negócio de jogo não presta”. Porque o rapaz me deu a metade... Era R$ 5,00, cinco cruzeiros. Um sapato de crochê. Só que para fazer o sapato de crochê, eu tinha que dar uma entrada. Ele me deu a metade do dinheiro. O quê que eu fiz? Fui lá no jogo e perdi a metade do dinheiro. E aí para eu fazer o sapato do homem? Custou. Porque toda vez para fazer... Ah, o ânimo também, sabe? Porque não tinha mais ânimo de fazer aquele sapato porque sabia que eu já tinha perdido o dinheiro. Então, mas qualquer dinheirinho que entrava eu procurava multiplicar. Aí fazia cocada para vender. E assim... E ia. Sei que agora eu tenho uma lojinha. Lá na Rua do Quintal. Não é muita coisa, não, mas... não é?
P/1 – Você tem uma loja?
R – Tenho uma loja lá.
P/1 – Quando é que... Como é que você ficou sabendo desse projeto?
R – Então... Esse projeto é uma coisa abençoada, principalmente pras mães. Mas só que tinha que ter assim... É o que eu falo para Guiomar... Tinha que ter, assim, uma motivação pras mães levantarem. Porque nada cai do céu. É... Eu faço... Eu fazia, faço ainda, parte da Pastoral da Criança. Onde a gente também visita as casas e vê a situação de miséria que o pessoal vive.... E aí fiz... Cesta básica... Porque não tem dinheiro para pão. Foi onde assim... A Graça já era do projeto, então aí conseguiu fazer a creche lá no Caíque, perto do hospital. E a Graça, que é do projeto, me indicou para ficar no lugar dela no projeto.
P/1 – Que projeto?
R – No PBA. Aí me indicou. Aí, agora...
P/1 – Isso quando? Que ano?
R – Ai, lembrar de ano... Acho que uns sete, oito anos atrás, não é? Por aí... Mais ou menos. Porque eu como pastoral da criança eu visito só aqui na minha comunidade. Ali no Saraiva, por aqui por perto. A gente visita as crianças de menos de seis anos onde vê o peso, conversa com as mães, orienta. E o projeto já era para, assim, ir abrangendo mais famílias, aí já visita mais famílias. Campos Elíseos, Primavera, Saracuruna. E onde a gente viu a necessidade de ter algum aumento de renda dessas pessoas. Aí a gente já... Fizemos bijuteria... Aí pensamos no sabão, no óleo, que o pessoal joga fora. Aí eu falei pro Elan: “O óleo... Eu acho que a gente tem que se arriscar no óleo. Sabe por quê? Porque o sabão... Bijuteria, onde você vai vender bijuteria aqui? para quem você vai vender bijuteria? Não é? Você não tem como... Mesmo que você se especializasse. Não tem, não tem como. Sabão não, sabão é uma coisa que todo mundo, querendo ou não, tem que usar”. E acaba. Por exemplo, você vai vender uma bermuda, a bermuda você vai usar quanto tempo? Um short, alguma coisa. Demora muito. Agora o sabão você tem que vender. Toda semana você está vendendo. Tem que vender sabão para o pessoal. Aí, nós reunimos um grupo, no caso, na época era um grupo de dez. Aí começamos a fazer num balde. Num dia dava certo, no outro dia não dava certo. Aí teve um dia em que nós fomos lá e compramos cinco coisinhas de soda cáustica. Aí estragamos tudinho. Falei: “Ah, não. Desisto. Eu não quero mais não, porque, poxa, vai pro lixo, dinheiro”. Aí a Jandira: “Ah, Isa. Vamos tentar de novo? Sabe por quê? Porque aqui é tão bom. Mesmo que a gente não faça sabão, mas a gente fica conversando uma com a outra. Às vezes uma chega tão triste, preocupada deprimida, aí chega começa a conversar uma com a outra... Aí, começa... É um encontro bom”. Aí isso me animou. Falei: “Ela tem razão mesmo”. Aí, fomos fazendo, fomos fazendo. Fomos melhorando. Fomos pegando o ponto, fomos pegando o ponto. Aí hoje é difícil a gente perder. Mas foi uma coisa boa. Aí, a pessoa... Igual a Valéria. A Valéria é uma pessoa que você vê que... Vocês não vão ter oportunidade de entrevistar ela. Mas é uma pessoa que... Ela tem aquele menino, ela anda por aí, ela vende o sabão. Ela já conseguiu construir a casa dela... Ela já ajuda. Claro... Já conseguiu a comprar as portas, as janelas da casa dela, com sabão. Mas ela não fica sentada. Ela não fica sentada num canto, ela vem toda segunda-feira ajuda a gente, e vai para igreja, e vende o sabão, e é assim. E eu acho que é um... Eu acho, não. Eu tenho certeza que é um projeto que já deu certo. E a gente arrecada óleo, cata óleo por aí. Quer dizer, aí tem um pessoal assim, meio assim... Eu falei: “Não, mas a gente também não tem que dar o óleo pensando que a gente vai receber alguma coisa em troca. A gente tem que dar o óleo porque em qualquer lugar que a gente vá agora...” Eu dou o panfletinho que explica onde é que vai parar o óleo que elas jogam. Aí qualquer restinho de óleo elas vem e me dão.
P/1 – E como é que foi esse período de formação? Vocês tinham... A Chevron já tinha entrado no projeto ou ainda não?
R – Eu acho que a Chevron era... Trabalhava mais com jovens. Iniciação...
P/1 – Mas aí, quando ela entrou no projeto... Esse projeto, na verdade, é antes da entrada da Chevron? O Reciclorium?
R – Eu acho que sim. Porque a Chevron fazia um trabalho com os adolescentes, não era isso? Eu acho que foi antes, um pouquinho antes, mas foi.
P/1 – E aí vocês tinham curso? Vocês tinham aula do quê? para aprender a fazer, como é que eram as aulas?
R – As aulas? Veio um químico. Aí ele explicava para gente. Inclusive tem umas apostilas lá que ele me deu. Até falei com a Dona Inês: “Dona Inês, a gente está com a faca e queijo na mão, mas só que também a gente tem que ter tempo. Porque ele deu uma apostila para gente aprender a fazer detergente lava de pneu de carro, um montão de coisa, que ele deu. E aí explicou para gente o perigo os cuidados que tem que ter. Explicou tudo isso para gente. O sabão, assim, com o tempo quente dá uma reação, com o tempo frio dá outra reação. E a gente foi colocando em prática e fomos... E hoje o pessoal todo quer sabão. Aí eu fico falando para elas: “Bom, eu posso ir lá ajudar vocês a fazer o sabão, correr atrás para vocês. Aí vocês ganham a porcentagem. Agora, se eu vender o sabão, a porcentagem é minha, não vou dar para vocês. Vocês tem que levantar”. Não é? para ver se elas se animam e sei lá... Porque, por exemplo, você está sem o dinheiro para comprar um pão, pega 10 sabões, vai ali, que vende rapidinho. Que começo até que era mais difícil, porque ninguém conhecia o produto. Inclusive ela tem até um vídeo lá, a gente entrevistando o pessoal que passava na Rua 7, eles vendendo o sabão. Aí passou um tempo, assim, uns 15 dias, a gente voltou lá que a menina filmou e fez a entrevista do pessoal, o que o pessoal achou do sabão. Sabe? Aí a moça falou: “Até para seborreia, passa a sabão”. Então, aí, falando que o sabão é muito bom até para seborreia, para dar banho no cachorro que a gente não sabia. Muito bom. E eu acho que...
P/1 – Quais foram os principais momentos, assim, do projeto, que você lembra?
R – Principais?
P/1 - É. Assim, que tenha te marcado. Algum dia, alguma coisa especial?
R – Eu lembro dessa que eu queria desistir. E eu lá embaixo. Sabe? Aí veio a amiga e: “Ah, vamos continuar, porque...”. Isso me marcou demais, sabe?
P/1 – Você queria desistir por quê?
R – Porque o quê eu estava fazendo só estava dando errado, só estava perdendo dinheiro, ‘coisava’, jogava, quando via o troço talhava, tinha que jogar fora. Não prestava para nada, porque talhava. Aquela água ficava queimando demais, não prestava, tinha que jogar fora, era dinheiro jogado fora. Aí que a amiga falou assim: “Não, vamos continuar. É muito bom. É muito bom a gente estar aqui juntas”. Esse é o momento mais assim, que me marcou demais.
P/1 – Porque você já estava desistindo.
R – Já estava desistindo, é.
P/1 – Quem que foi falar com você?
R – É a Jandira. Ela está na foto ali.
P/1 – Aí você voltou?
R – Aí nós voltamos. Tentamos de novo. Aí foi onde o Elan, também, conseguiu o maquinário que foi bem mais fácil porque era com o balde.
P/1 – Onde vocês faziam esse material com o balde?
R – Lá na igreja.
P/1 – Na igreja?
R – É, é.
P/1 – Foi na igreja, da igreja vocês vieram para cá? Não teve a parte do Ciep? Que vocês foram pro Ciep?
R – Não, o Ciep está lá, mas lá é outra coisa.
P/1 – Não tem a ver com o Reciclorium?
R – Tem, assim, por exemplo, a gente arrecada óleo lá, mas não tem espaço lá, não tem jeito para fazer. Tem umas mães lá que estão até querendo vir aprender, mas aí tem que esperar nós estarmos lá para poder...
P/1 – Mas aí da igreja vocês já vieram para cá?
R – Para cá, é.
P/1 – E teve algum dia, algum caso, alguma coisa engraçada, um acidente, nessa confecção do óleo?
R – Não. O que eu achei engraçado também, foi que uma vez... A Paróquia de São Sebastião arrecada muito óleo lá para mandar para a gente. Aí no Dia de São Sebastião o Elan: “Vamos lá para gente divulgar e vender”. Aí fomos lá. Foi eu e Guiomar, Olga e Ana Paula, quatro. Aí pagamos passagem as quatro. Aí chegando lá, vendemos quanto? Dezessete pedaços de sabão. Eu falei: “Guiomar, ainda bem que o pessoal teve pena da gente e deu um tíquete para gente almoçar porque não ia dar”. Falei: “Achei muito engraçado”. Falei: “Ah, não, melhor a gente ir de casa em casa, de porta em porta, que a gente vende muito mais.” E achei engraçado. E também a bondade do pessoal, lá, de ter a preocupação de ver se tinha alguma coisa para gente comer lá e dar o tíquete para gente almoçar de graça. Eu achei muito engraçado. Aí ficamos lá rindo uma da cara da outra. Mas, graças a Deus, não aconteceu nenhum acidente, não. Nem vai acontecer.
P/1 – Vocês continuam, agora que vocês já estão fazendo, com um acompanhamento, uma supervisão? Como é que se dá esse aprendizado? Ele é contínuo? Vocês continuam tendo aula? Alguém supervisiona o negócio? Como é que acontece?
R – Não. É, no começo, né... A gente não sabia direito o que ia acontecer... A gente tem a apostila, de empreendedorismo sobre negócios, como lidar com negócios, como lidar com dinheiro, como fazer a... Já teve.
P/1 – Não. Eu sei. No começo você tiveram tudo isso. Mas agora que vocês já fazem e vendem, vocês continuam ainda tendo algum acompanhamento ou Chevron ou da Visão Mundial?
R – Não.
P/1 – Não tem reunião para acompanhamento do projeto?
R – Não. No momento, não. Porque no momento a gente está aqui, aí não tem nem como estar chamando as mulheres assim. Não tem nem lugar para estar, assim, para estar aconselhando a pessoa, direitinho. Porque na igreja era outra coisa. Tinha o... Como é que se diz? O salão todo em ordem, tudo organizadinho, tudo bonitinho, recebia as pessoas direitinho. E aí aqui a gente está assim.
P/1 – Mas e a participação do Chevron no projeto, como é que se dá?
R – Como é que se dá agora?
P/1 – É.
R – Nós tivemos aquela reunião, lá, não foi? Que nós tivemos lá, eu, Dona Inês, Valéria. Que estava você e a outra, não foi? Teve aquele encontro...
P/1 – Mas a Chevron ajuda? Financia? Você não sabe.
R – Não sei te dizer. Eu sei que...
P/1 – Mas vocês recebem dinheiro de algum lugar?
R – Não.
P/1 – É só o dinheiro...
R – Do sabão.
P/1 – Gerado com a venda.
R – É.
P/1 – E você vende esse sabão nessa sua loja?
R – Vendo. Inclusive, assim, falando de sabão... Quando nós começamos. Aí, por exemplo, nós pegamos 50% para quem vende. E depois pegamos R$ 15,00 para presença, para vir fazer. Aí o que sobrar a gente vai juntando. Aí em dezembro a gente vê o que sobra. Aí a gente confraterniza. Então no primeiro ano, a gente... Na nossa confraternização, a lembrancinha foi um potinho. De 1999. Aí esse ano já melhorou um pouquinho. Já foi jogo de prato, cafeteira, ventilador. Olha, que benção. Não é uma benção? Já está bem melhor. E acho que é um produto assim, se as mulheres pegarem com garra, tem como, assim, tirar um sustento para a sua família.
P/1 – Dá para tirar?
R – Dá para tirar. Porque é o que eu estava falando com a Guiomar, a moça ganha dez centavos para vender. Olha,o sabão… Sessenta centavos para vender. Olha a diferença. E é um produto que é aceitável para vender. Quem comprou compra de novo, com toda certeza. Depois ela vai mostrar a entrevista. Aí vocês peçam para ela mostrar a entrevista.
P/1 – E você vende, faz, você faz todas as etapas do trabalho? Você faz e vende?
R – Eu faço, vendo. Dona Inês também. Esse grupo também, que está aqui, faz e vende.
P/1 – Todo mundo faz tudo?
R – Todo mundo faz tudo e vende.
P/1 – E o projeto está aberto para participação de novas pessoas?
R – É. Depois que a gente estiver lá, sim. Porque aqui, é o que eu estava te falando, aqui não tem como, porque aqui a gente está na casa dela, que ela concordou, deixou... A gente ia para onde? Não tinha para onde ir.
Inclusive eu estou até convidando elas porque, por exemplo, para estar aqui dentro... A gente... Nosso grupinho está bom porque são pessoas conhecidas, a gente sabe que não tem ninguém, assim, com mau costume. Já sabemos quem vai entrar na nossa casa. Porque lá na igreja também, uma vez teve banco de alimentação, negócio de feira. A Guiomar pegou a gente no Ceasa e depois dava esses alimentos pras mães. Só que depois tinha que limpar os alimentos, assim, ensacar, pesar. Aí, como estava o grupinho de sempre, nunca tinha acontecido nada. Aí quando foi três diferentes o celular de uma sumiu. Aí, quer dizer, esse é o meu medo, trazendo pessoas diferentes para dentro da casa da gente. Então, assim, para vender, que pega o sabão e vai vender, está aberto para outras pessoas.
P/1 – Como é que é feita a venda?
R – Então, a venda para gente que faz parte da... Eu falo cooperativa. Já tem os 50% do sabão, o sabão é R$ 1,20. Aumentou esses dias, porque era R$ 1,00. R$ 1,20. Aí a pessoa que vende tem 50%, e depois R$ 15,00 pela presença, de estar vindo fazer. Só que para vender, aí a gente já tem que diminuir a porcentagem. Já dá 30%. E aí, por exemplo, quem vem aqui, ela já pega o sabão prontinho para ir vender, só tem o trabalho de vender.
P/1 – E quantos vendedores têm? Vendedoras?
R – Ah. Vendedor? Porque, por exemplo, tem gente também... É o que eu estava falando que tinha que ter formação. Tem gente também que vem e pega o sabão aí não volta para acertar nem a porcentagem. Aí você fica assim meio...
P/1 – Mas quantas vendedoras têm hoje?
R – Tem Seu Cláudio que vende... Assim, fora...
P/1 – Fora vocês.
R – Tem Seu Cláudio que vende lá fora para gente, tem a Ana, tem a Zana. Que a Zana, por exemplo, ela fica mais fora do que aqui dentro. Quem mais, meu Deus? É, acho que só... Acho que só. E a gente assim procura estar mais nos eventos. Assim, por exemplo, chamei Rafaela para gente ir à missa lá do... Porque aqui você vê que é um lugar pequeno não tem assim... Você tem que ir onde tem gente, que é para poder vender. Aí, eu estava chamando Rafaela, para a gente assim... Que ela é tímida. É aquela magrinha que já foi embora. Então ela só vem, assim, ajuda a fazer, anota direitinho. Quem levou quem deixou de levar, quem pagou quem não pagou. Essa é a missão dela. Porque ela é muito... Aí eu estava chamando ela para gente ir lá na igreja depois da missa para oferecer, até pra...
P/1 – De quais eventos vocês já participaram desde que vocês estão fazendo a sabão?
R – Ah. Nós já participamos dessa missa de São Sebastião.... Participamos de um evento lá de um colégio, acho que foi Graham Bell, que foi meio assim ambiental, do meio ambiente. Foi mais qual? Foi uma feira que teve lá no Ciep. Ah, não me lembro mais não. Mas participamos de mais, sim. Já participamos de mais, sim.
P/1 – Aí quando vocês vão a uma feira vocês montam o quê, uma barraca, um espaço?
R – É. Elan arruma lá umas mesas, a gente coloca os panfletos, bota... né? Mas aí também é pouco. Entende? Acho que no dia a dia, assim, porta a porta é que vende mais. Porque uma coisa é você vender um produto que a pessoa não conhece. Outra coisa é você vender uma coisa que já conhecem. Quer dizer, lá na minha loja... Aí a gente... Porque esse potinho aí a gente compra, então, já que seria um trabalho de reciclagem, então a gente recicla também o pote de manteiga. Só que a gente está tentando tirar a etiqueta, aquele rótulo, e não sai. Aí, passou uma moça. Passou uma moça? Não. Ela foi levar o óleo para mim. Falei: “Olha, não tenho sabão para te dar agora, mas eu vou te dar um potinho de manteiga, assim, um potinho de manteiga com sabão, para você usar”. Aí, tá. Nisso ela foi e falou pras colegas, para irmã, para cunhada e para outra irmã da cunhada. Aí ontem já foram buscar: “Nossa, esse sabão é bom demais. Nem deixa cheiro no copo. Ele dá brilho. É muito bom”. Aí foram lá e compraram. Quer dizer, quem já conhece, uma vai falando para outra... Agora, você vai num evento e ninguém nunca usou o produto. Né? Não sabe. Aí fica difícil, compara mais para te ajudar. Mas não é para...
P/1 – E como vocês fazem a divulgação do produto, do sabão? Como é que vocês fazem para divulgar ele?
R – Então, mas tem a questão que eu tinha ali.... Nós distribuímos aquele panfleto.
P/1 – Aonde?
R – Assim, aonde a gente vai a gente leva, Lá na loja também. Agora tenho até que levar mais um bocado que já acabou. E a gente... Aí é onde a pessoa também se conscientiza do mal que faz também para natureza. Mesmo que ela não ganhe um pedacinho de sabão ela está contribuindo para natureza.
P/1 – Quais são seus maiores sonhos hoje? Quais são suas perspectivas em relação a esse projeto?
R – Ah, eu acho assim que... Chegar na casa de uma criança assim, a mãe não venha assim dizer que não tem o pão para comer, não tem o leite para beber. Né? Mas para isso acontecer ela precisa levantar, ela precisa ir à luta. Porque nada cai do céu. Tem essa bolsa família, mas essa bolsa família, uns recebem, outros não recebem. E aí você vê que... O meu sonho era poder ver elas assim: “Não, hoje eu estou bem. Hoje eu estou assim...”. Não é? Igual a Valéria, a Dona Inês também. Dona Inês você vê que é uma pessoa já vivida, já de idade, não tem precisão assim de tanta. Com os filhos já criados. De neto a gente não tem obrigação de criar, quem tem que criar os netos são os filhos. Mas você vê que o pessoal mais novo precisa de um empurrão, precisa.
P/1 – Quais foram as principais transformações que o projeto trouxe na sua vida?
R – Acho que é a amizade. Apesar, que eu sou uma pessoa, assim, que me dou com todo mundo. Mas eu acho que o momento... Igual assim, o momento da confraternização no Natal, é uma coisa que você olha para trás você vê que teve conquista, não é? Então acho que é isso.
P/1 –O que você está achando... O que você achou da experiência de dar esse depoimento? Assim, sobre projeto, contar sua história de vida, contar aqui hoje com a gente, falando?
R – Achei legal. Você relembrar, lembrar aquilo que você já passou, por mais que seja difícil, mas é uma coisa que está na sua lembrança, que não se apaga. Aí você relembra aquilo tudo, mas você vê que você venceu você passou por muita dificuldade, mas tá aqui.
P/1 – Alguma coisa que você acha importante deixar gravado, registrado, que a gente não tenha falado com você, não tenha perguntado?
R – Não tenha perguntado? Não.
P/1 - Algum dia no projeto, algum fato?
R – De repente um dia a gente pode até lembrar, mas agora não.
P/1 – Ah, tá bom. Obrigada pela sua entrevista.
R – Obrigada.
Fim da entrevistaRecolher