Ainda não sei ao certo como começar... apenas sei que preciso fazer. Duas vezes comecei e nas duas falhei, inicio a terceira com o objetivo de terminar, agora com menos rodeios. Nasci em São Paulo capital em maio de 1976, na infância já era fascinada por histórias reais, fossem elas sobre mim,...Continuar leitura
Ainda não sei ao certo como começar... apenas sei que preciso fazer. Duas vezes comecei e nas duas falhei, inicio a terceira com o objetivo de terminar, agora com menos rodeios. Nasci em São Paulo capital em maio de 1976, na infância já era fascinada por histórias reais, fossem elas sobre mim, de quando ainda não tinha lembranças claras, ou da história de vida dos meus pais, mesmo quando era apenas para mostrar as dificuldades da vida deles comparadas com as facilidades das minhas. Assim fui me constituindo pessoa, tornando-me parte da história do Brasil, e nas minhas relações extra pessoais fui notando que era branca: pele clara, olhos verdes e cabelos encaracolados e castanho claro. Meu pai é italiano, e minha mãe miscigenada mulata de descendência africana, portuguesa e indígena.
Primeiro li meus parentes: tonalidades, moradias, culinária, ideologias...
Fui crescendo com a facilidade de ser branca na periferia de Diadema/SP. Até que cheguei a faculdade.
Janeiro de 1998, vitória, sucesso escolar, eu sou a primeira da minha família/parentes a entrar em uma universidade pública, antes uma tia materna e um primo mais velho tinha realizado o sonho do ensino superior particular. Em março começo Geografia na USP, junto com tantos outros alunos da periferia e outros não, fui descobrindo que a minha história não era possível de me classificar como branca (apesar do fenótipo apresentar que sim). Observava o quanto me faltava de cultura comum ao grupo que se dizia homogêneo na Geografia, e como destoava do grupo. Meu repertório cultural (salvo os livros que tive acesso por serem obrigatórios na escola) eram novelas ou músicas que faziam sucesso nas festas 'bregas'. Notei que tive uma cultura popular massificada, mas ingressei na faculdade por ter sido um sucesso escolar, mas não tinha a cultura popular dos grandes clássicos. Assim, fui identificando cada vez mais com a cultura negra da tradição oral, nas conversas e danças, no compartilhar gastronômico e preferencias de sabor, na necessidade estar junto ao outro. Estes começaram a ser os meus iguais... os alunos que ingressaram na universidade de origem das periferias. Bem, mas a minha leitura em busca de uma identidade não acabou fácil, eu não era negra, eu era filha de dois trabalhadores que não conseguiram estudar porque precisaram trabalhar. E penso que aí fiz um movimento de descoberta: sou 'filha' de trabalhadores que viu na educação, especialmente na superior, a oportunidade de olhar a 'roda da vida',
de se ler nela, e quem sabe ajudar a mudar.Recolher