Hoje, quero registrar um pouco da história de meu pai, pessoa da qual me orgulho muito, por sua vida simples, honesta e justa. Ele nasceu em 28 de novembro de 1937, em Sapé, Goiás. De suas origens, sabemos quase nada, pois ficou órfão de mãe, ainda bebê, ocasião em que seu pai lhe deu para u...Continuar leitura
Hoje, quero registrar um pouco da história de meu pai, pessoa da qual me orgulho muito, por sua vida simples, honesta e justa. Ele nasceu em 28 de novembro de 1937, em Sapé, Goiás. De suas origens, sabemos quase nada, pois ficou órfão de mãe, ainda bebê, ocasião em que seu pai lhe deu para uma família, em Ipameri, interior de Goiás. Papai nunca foi adotado, nem legalmente, nem afetivamente, nunca o registraram, não lhe deram um sobrenome. Ao completar 18 anos, ele mesmo foi ao cartório e se registrou, com o nome pelo qual era chamado, e o sobrenome que pensou, ali, naquela momento, escolhido por achar bonito. Nasceu, naquele instante, Altamir de Oliveira, já um grande e determinado homem. Desde criança, papai sofreu, na família em que foi colocado, violências físicas e psicológicas. Lembro-me de ouvi-lo contar que a matriarca da família, certa vez, lhe deu uma surra tão grande que ele passou dias escondido, com muita febre, sem que qualquer pessoa o procurasse para lhe dar afeto ou curar suas feridas. Lembro-me, também, de seus relatos sobre sua infância sofrida, mas cheia de conquistas pessoais, quase todas, conseguidas às escondidas, haja vista, ter que trabalhar, desde muito jovem e repassar o seu dinheiro para a família. Uma das conquistas de meu pai foi estudar violino - escondido da família - e tocar muito bem. Ele dizia que, já casado, passou em um concurso para a Orquestra Filarmônica de Brasília e que só não assumiu, por ter sido aconselhado por um amigo que não seria, aquela, uma profissão de pai de família. Crescemos o ouvindo tocar e a nos falar de grandes clássicos da música erudita. Além da arte de tocar violino, aprendeu a afinar piano, e, nas horas vagas, trabalhou, em Goiânia, por um tempo, nesse ofício. Outra lembrança que tenho de papai é o relato que ele nos fazia sobre o fato de que sua vida mudou muito depois que conheceu mamãe. Dizia-nos que ela era linda, que havia entre eles muito em comum, inclusive, o fato dela também ter ficado órfã de mãe, enquanto bebê, e ter sido dada a famílias, para trabalhar, ainda na infância. Eles se casaram, em janeiro de 1963, em uma cerimônia simples, com a cara e a coragem, sem qualquer perspectiva de futuro, apenas, com a certeza de que constituiriam uma família e de que tudo seria melhor do que havia sido até então. A família sonhada foi sendo constituída - seis filhos -, com amor, fraternidade, disciplina, educação, princípios religiosos e o maior legado deixado por ele, a união. Não foi fácil! Não, mesmo! A situação ficou mais desafiadora quando papai, entre os 30 e 40 anos de idade, adoeceu, com problemas cardíacos. Passamos, então, a viver em função dele, de sua saúde. Em maio de 1989, ele faleceu, nos deixou. Papai nos deixou mas permanece conosco, seu exemplo de luta, de honestidade e o irrefutável legado, a união. Somos uma família unida, dividimos as alegrias e as tristezas, o problema de um é por todos enfrentado, em busca de solução - e sempre há uma saída. Temos, atualmente, condições privilegiadas frente as que tiveram nossos pais, e isso só foi possível porque tivemos o exemplo de superação, dado por eles.Recolher