O nome Milho Verde aqui foi quando os bandeirantes passou aqui. É, descobrimento dos minério, né, os bandeirantes passou aqui e só existia um par de mato, aonde existe uma casa fechada lá perto da Mercearia dos Prazeres, indo lá pra Igreja da Matriz, lá é a primeira casa que existiu aq...Continuar leitura
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resumo
Geraldo fala brevemente sobre a composição de sua família e comenta acerca de seu analfabetismo e seu problema de catarata, vindo desde criança. Em seguida, fala sobre o trabalho desde sua infância e como conseguiu guardar notas e moedas raras do tempo de Dom Pedro II. A partir daqui, fala sobre a história de Milho Verde e, em meio a cantos, explica o costume da marujada da cidade, que acompanha as festas religiosas, como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
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Memórias dos Brasileiros
Depoimento de Geraldo Carmo Santos
Entrevistado por Tiago Majolo
Milho Verde - 04/08/07
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MB_HV036
Transcrito por Paula Leal
P/1 – Geraldo, diga pra gente o nome completo do senhor.
R – Meu nome?
P/1 – É. Inteiro. R – Meu n...Continuar leitura
Memórias dos Brasileiros
Depoimento de Geraldo Carmo Santos
Entrevistado por Tiago Majolo
Milho Verde - 04/08/07
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MB_HV036
Transcrito por Paula Leal
P/1 – Geraldo, diga pra gente o nome completo do senhor.
R – Meu nome?
P/1 – É. Inteiro. R – Meu nome é Geraldo Carmo Santos.
P/1 – O senhor nasceu onde? R – Aqui em Milho Verde.
P/1 – Em que dia? R – Nascido e criado dentro de Milho Verde.
P/1 – Em que dia? R – Dia 12 de Outubro.
P/1 – Mas de que ano? R – De 1933.
P/1 – E como era o nome dos seus pais? R – Meus pais? Meu pai chamava Sebastião Ribeiro dos Santos e minha mãe Maria Ribeiro dos Santos também, é Maria. Aí nela casada ficou Ribeiro Santos também.
P/1 – E qual é a profissão deles? R – Lavrador.
P/1 – Quantos filhos eles tiveram, o senhor e mais quantos? R – Ah?
P/1 – Quantos filhos eles tiveram, o senhor e mais quantos? R – Os filhos era, nós somos quatro filhos, um é falecido, minhas duas irmãs mora em Belo Horizonte. É Zulmira, agora acho que o sobrenome dela é Zulmira da Conceição Santos e a outra é Teresa, Maria Teresa do Santos também. Mora lá em Belo Horizonte. O outro morreu, chamava Raimundo Expedito dos Santos.
P/1 - Geraldo, e quando era criança como que era Milho Verde?
R - Milho Verde aqui? Ah, Milho Verde era muito sofrido. Eu mesmo sou analfabeto. Nem assinar meu nome eu não sei. Tô falando a pura verdade entendeu? Porque a gente mentir não é, não tem valia nenhuma, andar com mentira. Aí eu sofri demais mas graças a Deus de todo jeito a gente vive acompanhando Deus, o caminho certo de Deus, a gente segue todo o caminho, de bom, né? Agora minha família não, minha família toda sabe ler, sabe escrever. Eu até eu ficar velho demais eu até não quis mexer com leitura de aprender a escrever nem nada, uma porque eu fiquei oito anos sem enxergar por causa do trabalho, de mexer em serviço bruto, ser servente de pedreiro, inclusive a vista minha direita eu não tinha nada dela, essa daí eu fiz avaliação dela e não enxergo nada dela porque não teve como operar ela, não adiantava. A outra leite de mamão, eu tava trabalhando e fui pra apanhar um mamão, saiu leite no meu rosto, assim, tingiu ela, aí virou uma catarata, pro resto foi virando, mexendo e virando tapou a outra vista de cá, né? E aqui foi cimento trabalhando com pedreiro, batendo, assim, com ponteiro de ferro veio uma lasca de cimento que tava desmanchando, que já tava desmanchando pra tornar a fazer de novo, né, aí bateu na aba do chapéu aqui e picou na menina do zóio, eu não cuidei, na época eu não cuidei direito, pegou foi, criou essa catarata, por causa desse mamão. Agora no final desses oito anos essa daqui pegou, eu vi que não tava coisa, aí procurei tratar dela lá em Belo Horizonte, no Hospital São Geraldo, eu tenho até um cartão magnético aí, a moda de um cartão magnético que eles me deram de lá do Hospital, qualquer coisa que tiver nessa aqui eu tenho direito de ir lá e fazer o outro exame lá nela, né, tratamento lá no mesmo Hospital. Aí fiquei esse tempo que eu tô falando com você, mas assim, é serviço bruto, né, que aconteceu comigo. Inclusive essa daqui, vou contar os seus detalhes todo direitinho, foi na caixa d´água primeira que eles colocaram aqui, a caixa d´água ainda existe. Um pedreiro veio pra fazer outra caixa d´água, já tinha uma, fez pra aumentar mais a água pra comunidade, inventou de fazer outra caixa pra ter mais comportação, de comportar mais água pra nossa comunidade, né? Eles fez a caixa, a caixa deu vazamento, nesse vazamento o outro pedreiro entrou para consertar o serviço do outro que tinha feito. Pegou e me deu um ponteiro pra descascar assim o esmalte na parede, nós era cinco, aí cada um ficava de um lado, assim, dentro da caixa porque ela deu vazamento, bom, nós entremos lá pra dentro, descascando pra ver onde que era o vazamento. Da turma dos cinco que tava lá quem, aconteceu comigo lá acidente, no bater, assim, na parede, assim, batendo assim com o ponteiro de ferro é que veio a ponta, assim, feito casca de ovo, bateu aqui e veio no meu zóio, e eu não tratei, é isso que aconteceu. Então foi lá.
P/1 – Mas não tinha escola quando você era pequeno em Milho Verde? R – Aqui tinha. Tinha escola, inclusive meus irmãos todo aprendeu, minha irmã sabe, pouca coisa, né, primeiro ano, segundo ano, elas aprendeu. E eu mesmo não aprendi. E o senhor sabe só aprendo de mexer e eu ajudava mais meu pai, né, pras rochas, trabalhando pros outros pra aqui, pra ali, sempre eu ficava ajudando ela pra não haver falta dentro da casa, enfrentar roça, trabalhando pra ganhar um mil réis, dois mil réis. É, fala mil e quinhentos mas é uma prata de mil réis e quinhentos réis. Inclusive, eu fiz um cofre, pedi pra fazer um cofre, e eu ainda tenho resto na, você viu o moço saindo daqui, um fortão com carrinho, colocando carrinho? Aquele que tá lá com o resto das prata, lá você pode apresentar lá pra você ver, tem de trezentos réis, tem de quinhentos réis, aquelas prata amarela, tem de tostão, tem de quatrocentos réis, tem de dois mil réis, tem de mil réis, tem de todas as peças dessa que eu tô falando com você tem lá, ele vai formar uma mesa e vai bordar a mesa toda com essas prata. Eu dei a ele de lembrança, o fio mais velho meu. Tá lá, que ele vai fazer a mesa e vai, porque eu virei a idéia só pra isso, não mexia com leitura, né, trabalhava, aí chegava e me chamava pra trabalhar, lá vai eu ficava o mês inteiro trabalhando só pra uma pessoa só, e aquele dinheiro que coisa, tirava pro meu pai, pra nós dentro de casa e punha dentro do cofre, né, o resto foi chamado a troco, esse eu na época eu não levei pra trocar, levar no banco pra trocar, né, porque chamado o troco pode jogar fora, né, aquelas pratas eu não jogo não, peguei, guardei deixei guardado, as prata amarela, branquinha, tem duzentos réis, trezentos réis, quatrocentos réis, a prata de quinhentos réis, prata de mil réis, de dois mil réis, que tinha da época, Dom Pedro II, essas prata toda.
P/1 – E onde que o senhor trabalhou? R – Era amarela, né, não era branca, era amarela. Mas ainda tem, eu mostrei, a poucos dias eu tava mostrando pra eles, se eu não ganhar dinheiro, trabalhar pra mostrar o que eu fazia de novo, né, e não deixava o meu nem a família dentro das água, chegar dentro das água, eu ia pro armazém, lá pra venda, pra não caçar fiado ia lá no cofre, frouxava a, uma, eu fiz um abridor nele de modo que frouxava a tábua, soltava cada prata lá e ia lá comprava, fazia a dispensa e levava pra casa, as água tá caindo e eu tô comendo e bebendo sem ficar devendo, aí o emprego tem chuva eu tô trabalhando pra por outro no lugar, pra quando chegar outra temporada que não dava pra gente sofrer debaixo da chuva a gente ficava dentro de casa, tá comendo, tá bebendo e não tá devendo ninguém. Se todos fizesse assim, e assim também minha família tá aí, oh, pra dar um bom exemplo pra ele, pra outros, né, que vê aquilo, que quisesse vê aquilo, né, que é assim que leva a vida, é ué.
P/1 – Desde que idade que o senhor trabalhava? R – Ah?
P/1 – Desde que idade que o senhor trabalha, desde que era pequeno?
R – Idade? Ah, eu de idade mesmo que eu peguei trabalhar, sete anos, de sete pra oito anos já aguentava fazer qualquer coisa que eu pudesse fazer eu ia ajudar a fazer, né, é, ajudar a levar uma comida na roça, ajudar a cozinheira a lavar uma vasilha ali, um prato, o que fosse, se fosse pra casa, tivesse plantando milho, ele me ensinou plantar milho cinco sementes assim, com grão de milho, feijão era quatro grãozinho de feijão, arroz pegava com os dedo assim, com os dedo assim, as cuia tá ae e você faz assim, oh, jogando nas cova, né? Eu aprendi a fazer tudo e sei graças a Deus minha família toda sabe fazer o mesmo que eu também, o mesmo que eu fui passando, passei pra eles todos. E pra mais que me acompanhava alguns menino, no garimpo sofri muito no garimpo, carregando caimbé, trabalhando pros outros, ganha dois mil réis, levantar de madrugada pra secar água no canudo, puxar água canudo, né, não existia bomba, era aquele canudo bom de ferro com boquete, boquete de pau, lá punha o boquete água vira água, pra topar com a outra lá do coisa, né, virava no canudo e fazia uma, até a água uma pegar a outra, né, ia pegando, secando até secar aquela capa, e depois secar carregar caimbé, largava aquilo, eu que tomava conta de secar, punha outra e a gente já ia pro caco carregar caimbé, fazia aquelas banana, chama capim, é um capim de fazer trabalho de forro, fazia colchão, né, pegava aquelas coisa, torcia o capim e fazia aquele maço com cordão, amarrava o coimbira que amarra, amarrava aquilo tudo pra por aí em cima da cabeça, que não havia chapéu pra gente igual assim não, era um chapéu de pano, punha na cabeça, lama tá descendo pro pescoço abraço, caimbé, né, caimbé de pau, de madeira, eu tenho aí que posso mostrar pra vocês o tipo do que que é o caimbé, né, hoje em dia essa serve pra soprar milho, soprar café, levar o café no pilão, pilar só pra poder soprar cana, a gente soprar em peneira, tudo isso eu posso falar pra vocês, tudo é certo, tô falando procês.
P/1 – Por que que chama Milho Verde aqui, Geraldo?
R – Ah? Milho Verde aqui foi quando os bandeirantes passou aqui. É, descobrimento dos minério, né, os bandeirantes passou aqui e só existia um par de terra, aonde existe uma casa fechada lá perto da Mercearia dos Prazeres, indo lá pra Igreja da Matriz, lá é a primeira casa que existiu aqui dentro da comunidade, e tem lá, tinha a plantação dele no brejo, que tem um brejo lá, né, existe um brejo do mesmo jeito, aí eles toparam ele lá, tinha pra onde agasalhou, os bandeirantes chegou e achou aqui foi pamonha pra comer de milho, né, que ele plantava assim, acabava um plantava outro, e sempre jogando, você sabe lá tem fonte, tem tudo lá, aonde ele pegava lá pra cuidar da horta, da plantação dele. E quando passou ali não havia nome certo, eles falaram “O que nós achamos aqui foi a pamonha do milho, já que nós achamo e aqui não tem nome vai ficar chamando Milho Verde.” É os bandeirantes, né, quando tava descobrindo as mina de ouro, diamante, né, que foi muito descoberto, muita lavra de diamante, ouro. Hoje em dia que não existe mais, né, porque foi destruindo tudo.
P/1 – Quem te contou essa história? R – Ah?
P/1 – Quem te contou, foi seu pai quem te ensinou isso? R – Ah,isso é os velhos, o povo. Eu conheci gente que foi nego cativo, tinha um padre Tiburço, ele falava cantando, cantando que eu vou te falar, ele só falava assim, cantando, cantando que eu vou te contar isso, contava, né, Tiburço. A outra era Luzia de Luciane, uma negra africana, ela morava ali pra lá da Igreja, onde tem aquela casa, não tem a casa ali, vocês não viu ali a casa, daqui da porta dá enxerga a casa dela. Em cima ela é aberta, ali era a casa dela, e ela morava num baú, lá naquele baú, no quilombo. Luzia. Inclusive eu tenho um genro que é dessa família, dessa geração, um genro meu. A Luzia contava muito caso. Aqui em baixo tinha fazenda de pinheiro, que era senhor dos negros, né, aqui na Manga do Prego, chama Manga do Prego, aí contava o caso tudo pra gente. Passava, um ia passando pro outro, né, meu pai me contava, mesmo com ele, ele contava alguma coisa que precisasse saber. Inclusive no caminho da Barra da Cega que desce lá pra, um lugar que chama Barra da Cega, né, aí tem lá um lugar que exigia abrir um valo, e tinha a turma dos pobres, do povo que é sofredor que é o, do tempo da escravidão, abriram o valo, e tinha o moço d´água, o bombeiro, né, com carote de madeira, que hoje em dia quase não existe essas coisa, umas pipazinha, uns carotezinho assim feito de madeira, né, ele chamava Deneto, aí tem uma velha que me contou, que toda a vida eu gostava de ficar perguntando as coisas, até hoje eu tenho esse defeito, aí lavou pras Data mas ela ia pé, passamos na fazenda Santa Cruz pra sair nas Data, né, pra chegar nas Data, aí nós fomos fazer essa viagem lá. Aí eu passei na Santa Cruz da Deneto e perguntei ao seu Chiquinha, ela chama Chiquinha, “Oh seu Chiquinha quem que morreu aqui, que caiu aqui na estrada que morreu aqui, que morreu aqui, né, nesse local aqui.” Ela falou “Ai meu filho estourei foi um olho d’água no tempo que fizeram esse valo.” Ai nós descemos e ela desceu junto. E aqui foi Deneto, ele era um nego cativo bombeiro, buscava água pros outros, ficava trabalhando, né. Os outros trabalhando e ele buscando água, ai lhe deu uma dor braba, fala é dor de barriga, né, ele sentiu uma dor de barriga muito forte e, o que que acontece? O Doriano primeiro chega lá pra olha eles trabalha e vê se tava trabalhando tudo direitinho, chega lá encontra o pobre do Deneto ruim e na hora ele chegou na onde que os outro tava trabalhando e perguntou “Ai, cade Deneto? Que eu tô dando falta de Deneto, cade ele? Ele não tá buscando água.” O cara “Acho que tá ali, tá de baixo da árvore ali.” Ele falou “Não, Deneto tá ali e o senhor vê que o Deneto tá li e vosmecê não vai mexer com ele não, se vosmecê for mexer com ele, ele tá com uma dor braba de barriga e nós já rapemos raiz”, que de primeiro é no campo, arrancar raiz né, nos matos, bem na raiz tem “ E vosmecê vê nós já tratemos dele e ele tá la dormindo lá debaixo, vosmecê vê que ele tá lá, vosmecê não mexe com ele não que ele tá ruim e ele já ta até melhorzinho mas vosmecê não vai mexe com ele não.” Ele falou “ O que, tá com preguiça? Ele tá é com preguiça, ele não quer trabalhar, não quer buscar água, ele não quer trabalhar, ta caçando um jeito de outro ir no lugar dele buscar água e ele ficar lá dormindo debaixo da árvore.” Foi lá pegou o pauzinho do Deneto e coro nele. Com a taca que tava, que foi montado na mula, com a taca, né, batendo em burro, ele bateu, levantou o Deneto de lá com a taca, caiu a taca fazendo o pobrinho do Deneto. Quando soltou ele, o braço dele pra lá, e lá mesmo ele já caiu morto, ele já caiu, né, ai foi, danou a chorar, foi pra cima dos outro que era parceiro dele, que tava trabalhando, ai os outros falando “Nós não falamos pra vosmecê que não mexesse com ele, que ele tava doente, vosmecê aguarde que agora nós vamos, nós vamos seguindo o que nós tava trabalhando e fazendo o que vosmecê mandou, mas agora vamos fazer o outro serviço que não precisava fazer, que era carregar ele pra senzala, ai teve um que foi na senzala, foi la busca coberta e que trouxe, pôs ele na coberta e levo la pra Manga do Prego onde era a senzala dele. Chega la, quase no outro dia, trazer ele aqui, oh, pra enterrar, né, e ele já ficou sem isso, ele já ficou, né, o Doriano Primeiro, ele é o senhor dos negros, morou aqui na Fazenda, tá lá a casa, o terreno na Manga do Prego.
P/2 – O Seu Geraldo, qual que é a origem dos seus pais? Seus pais nasceram aqui?
R – Se é daqui? É daqui. Agora meu pai não foi nascido aqui não. Nascido em Terra Branca, perto de = Galinheiro, pro lado de, de, fugiu da minha cabeça, tem uma cidadezinha que mora, que fala, eu sei que pra cá, eu já trabalhei lá nessa região, é Terra Branca, pra esses lado aí, num lugar chamado Terra Branca, pra lá que eu nasci. Agora o pai dele era daqui, é porque saiu daqui pra ir pra Minas e ficou lá uns tempos e depois voltou de novo pra cá.
P/2 – O Seu Geraldo, quando o senhor era novo, quando o senhor era menino, cê via muita festa por aqui?
R – Ah?
P/2 – Tinha muita festa, encontro?
R – Do tempo que eu conheço, que eu fiquei conhecendo, que do meu conhecimento, toda vida teve, e é sempre perto do Rosário, perto de Nossa Senhora dos Prazeres, como agora em agosto, já teve a de Nossa Senhora dos Prazeres. E a outra do Rosário é agora em setembro. Tem a outra festa que eu não cheguei a conhecer, não é do meu tempo. Tem a Festa de São Sebastião, essa de São Sebastião ainda tem, né, a São Sebastião ainda tem, São João, que foi aqui no Cruzeirinho, oh, dia 24 de junho, né. É dia 24 aqui no Cruzeirinho. Mas é Festa de Nossa Senhora do Rosário, Senhora dos Prazeres, tem Semana Santa, inclusive que tem até Guarda Romana, né, é, por si só a Semana Santa é completa porque da quinta-feira pra frente já é o padecimento do Nosso Senhor da Boa Morte, né? Então do encontro quinta-feira, Sexta-feira da Paixão tem o ... da morte, e domingo é do Santíssimo, é só que agora é quinta-feira, o padre vem e fica aí, vai embora é domingo de tarde ou segunda-feira sempre.
P/2 – O Seu Geraldo, e como que era a Festa dos Prazeres?
R – Nossa Senhora dos Prazeres é com banda de música, né?
P/2 – Mas tem apresentação dos grupos, de Marujada?
R – Não, só na do Rosário que tem.
P/2 – E qual que é a que o senhor fez parte?
R – Nossa Senhora dos Prazeres, tem o Mastro, né, sábado é o Mastro e domingo a Procissão, né, da Nossa Senhora dos Prazeres, é a procissão.
P/2 – O Seu Geraldo, conta pra gente como foi que o senhor conheceu a Marujada.
R – Ah?
P/2 – Como que o senhor conheceu a Marujada?
R – Ah, foi com os véio, né, meus tios, tios do meu pai e lá dos meus familiares, né, que também só assim, de pai pra fio, de fio pro pai também, um passando um pro outro, igual eu vou fazer dessa vez, meu tio Antônio que passou pra mim, que ele era Doutor do Grupo de Folclore e tinha um primo dele que era contra-mestre e um outro patrão, né, que o tio dele passou pra esse que eu to falando, o Salestiano era pai do Jorginho e do Isac que era sobrinho do Salestiano, e ele então pra dançar e acabou que ele aprendeu né e de resto ficou só ele do grupo antigo, mais velho, ficou ele, ficou o Salestiano, morreu ficou o Isac e o Jorginho, aí depois também vem, e papai também que era do grupo também, né. Aí foi morrendo e Seu Antônio pediu pra não deixar agentcabar, deitado naquela cama que tá ali, oh, nós ensaiando aqui, que ia haver a Festa, ele não podia dançar, nós o trouxemos da casa dele, pusemos ele ali, oh, ele foi que pediu, falou “Não deixa acabar não, não deixa acabar não” ele era muito dançante, hoje em dia acabou, né, porque muitos morreram.
P/2 – E como é que era, conta pra gente?
R – Ah? P/2 Como que era?
R – ah, eu aprendi com eles as música toda, né, fui aprendendo as músicas.
P/1 – Mas quando foi a primeira vez que o senhor viu?
R – Ah?
P/1 – quando foi a primeira vez que o senhor viu a Marujada? O senhor lembra?
R – Eu tava pequeno, eu tava com oito anos quando entrei no grupo, eu tava com oito ano, aí eu aprendi, né, aprendi as marcas toda, marcada no caderno não tem, não tem marcada, tem na memória, né, a gente na memória da gente a gente tem as marcas tudo, quando a gente dá pra lembrar. Eu já tô passando pra Vani, agora a Vani tem um caderno, tá formando um caderno das marcha, tudo, porque são as marcha, homenageando a Nossa Senhora do Rosário, dia dela, né, tem as marcha tudo cantada, aqueles cânticos que é, é uns cântico da religião da devoção da pessoa com ela. A gente tem que cantar na entrada da Igreja lá, tem como a gente tirar a Marcha cantando, no Reinado com a Rainha, Rei, Rainha, né, aí tem que cantar, tem as máquina se precisar, né, e assim vai, de cada dia, o que é de sábado é de sábado, o que é de domingo de domingo e o que é de segunda-feira é de segunda-feira. Aquelas marchas que ficam de sábado no domingo não, essa aí se tiver espaço. Segunda-feira pra gente cantar ela, a de segunda-feira já é diferente. Agora se não dá pra cantar segunda-feira e se vai terminar a festa no domingo a gente vai e pega metade das outras, né, a gente vai, pega e diminiu aquelas que não tem coisa, né, e tira aquelas que é necessária daquele dia de despedida, tudo, a de despedir, do começo da Festa com as bandeiras, a gente vai, tira a marcha, tudo direitinho.
P/1 – Como que eram os ensaios?
R – Ensaio? Ensaio é pra gente já ir treinando, treinando a turma pra quando chegar no dia todo mundo já tá certinho com aquilo que tem que cantar, né, que tem que apresentar, né, na marcha.
P/1 – E o que o senhor sentia quando tocava a Marcha?
R – Agora se vocês querem saber, da que começa, do dia que começa, do dia de domingo, desde o dia de segunda-feira, né. São três marchas que a pessoa, que eu sei, do princípio, a do fim. Tudo a gente pode ir fazendo escala, né, a do dia da Bandeira, você começa tirando a Bandeira, que a gente começa, a gente chega lá depois do terço, depois que acaba o terço daí entrega a gente entrega à gente pra gente cantar e tira marcha, aí a gente entra com o grupo e tira a marcha. “Oh Maria, Senhora com o senhor, Santo Sacrário, foi imperadora dos anjos, oh Maria, Santa do Rosário, imperadora dos anjos, oh Maria, Santa do Rosário.” E aí fala a turma, repete, igual eu cantei aqui agora, né, aí depois é assim “Nós sabemo reconhecer que a senhora é conosco, nós sabemos reconhecer que a senhora é conosco.” Agora repete outra vez “Oh Maria, Senhora com o senhor, Santo Sacrário, foi imperadora dos anjos, oh Maria, Santa do Rosário, imperadora dos anjos, oh Maria, Santa do Rosário. Anunciou, pai e filho, do espírito, com santo, amém.” Aí vai até chegar na, vai passando de uma marcha pra outra, né, chega no caminho a gente pega outra marcha “Toque da caixa, puxa a pieira, toque da caixa, puxa a pieira, juremo na Bandeira, aí vai até, aí no dia do mastro, né, aí no dia do mastro, lá vai levando a bandeira, subindo o mastro bem no alto da Igreja. Agora no final a gente canta, no final, no domingo a gente canta no Reinado, né, chega pra tirar Rei, Rainha, a gente tira pta tirar o Rei, como na hora de levar pra missa, pra ouvir a missa, né, a celebraçao do Padre na Igreja, a gente chega e tira Rainha, Rei “Meu Rei, meu rei, eu vim te batizar, meu rei, meu rei, eu vim te batizar, hoje aproveita a santa festa que é hora de marchar, aproveita a santa festa que é hora de marchar” e aí é hora da missa, já fomo pra missa, tira o Rei, depois vai da casa do Rei vai procura a Rainha, vai levando o Rei, com juiza, já vai levando tudo, chega na porta lá da casa da Rainha e tira a marcha também, né, pra tirar a Rainha “ O Rainha, minha senhora, o me manda ter um filho” ai vai tirando a rainha, ela entra no quadro também, a gente já vai seguindo pra Igreja, né, e vai de volta de novo, tirando a marcha, aí é a turma de Catopê que é o grupo de Catopé, né, e aí por entre essas marcha tem outras marcha também que não vai dar pra mim explicar procês, né, mas essa é de domingo, no dia de Reinado do Rei e Rainha. E a gente ainda canta depois que dá um espaço, que às vezes o Catopê o outro grupo não entra cantando a marcha dele a gente ainda canta “O Rainha, o minha senhora, o me manda, o meu caminho” aí é o dobrado da marcha, né? E no dia do, agora segunda-feira, agora de despedida, né, se não der pra, a gente despede, vai lá na casa da Rainha, vai na casa do Rei, vai lá e despede dele, né? A gente canta até “Olha Deus que a deu, o porto do mar, a todo a Deus, eu quero embarcar, a eu sou filho da fortuna que saiu pra te abençoa, eu não posso sair com o povo desse lugar” quer dizer, o amor é o Rei, a Rainha é a juíza, entendeu? A gente já ta despedindo de todo mundo e tá vendo todo mundo, tá despedindo de todo mundo, né, que terminando, ainda tá terminando, né? E tem marcha também, “O glória Deus, amor, pra Deus amor, eu já me vou embarcando, mas é com grande sentimento e com pesar de te deixar, mas é com grande sentimento e com pesar de te deixar.” é a marcha que canta também pra cidade, pra cidade, pro pessoal, né, da cidade, o povo todo que mora ali “O glória Deus, amor, vou embarcar, vou navegara Deus a Deus, a Deus amor.” é dobrado dessa marcha, né, a outra não, a outra é assim “Olha pra Deus cidade, olha pra Deus cidade, praia dos peixe mas não com tristeza, eu de ti não deixo, mas não com tristeza eu de ti não deixo.” aí tem os dobrado da marcha, né. É muito bacana, vou falar procês, com sentimento eu vou te falar, eu adoro, né, e tenho que passar pra outro pra quando a gente não existir aquilo não acaba porque sempre tem a lembrança, porque todo mundo gosta, né?
P/2 – Como que o senhor ta ensinando?
R - Aí é despedindo, aí não adianta despedir, né, a gente tem que, quando chega um Coronel aí com os preso na cadeia sou capaz de chegar e apresentar lá na, cantar pros preso, passar na porta da cadeia e cantar pra eles lá, né? “Foi lá nas grade da cadeia, lá nas grade da cadeia, que se de um mendigo, que se de um mendigo. Quem quiser ver crueldade, quem quiser ver crueldade, é lá nas grade da cadeia, é lá nas grade da cadeia. Para ver os preso chorando, para ver os preso chorando, se encandeia.O carcereiro da cadeia, não seja rigoroso, não seja rigoroso, abranda este ferro, abranda este ferro. Eu não sou tao criminoso, ah eu não sou tao criminoso.” Aí depois dobre ela também “Abre essa porta que eu me sinto ofendido, abre essa porta que eu me acho ofendido, o uma estocada dada pro meu inimigo, o uma estocada, dada pro meu inimigo.” e aí ele vai saindo fora também.
P/1 – Seu Geraldo, conta pra gente também como que é a roupa da Marujada.
R – A roupa, nós temos a farda, sem farda, é a vestimenta, a vestimenta foi de fita, chapéu, né, chapéu todo enfeitado de fita, e a casaca, a calça é branca, a blusa é de couro também, né, de couro, e é toda enfeitada de fita com renda.
P/1 – Que cor que é a blusa?
R – A cor tem cor-de-rosa, tem verde, tem azul, né?
P/2 – E tem mulher também? Tem mulher na Marujada?
R – Não, só, menino tem, né, que é preciso de ter apresentação do marinheiro, né, na, quando na praia , né, quando fazer a parte do A Barca Afundou que canta “Marinheiro a barca afundou, marinheira a Barca afundou na beira do mar, com terra e no sobremar.” essa parte quem faz é o marujo e um menino, são três menino “Marinheiro a barca afundou...” agora quando tem igual vocês tão aí eu só estou com um cabra desse chegando assim, aí cantar procês também, tem ué. Nós fomo uma vez lá, ai como que chama gente? É, em Governador lá do Belo Horizonte, ele foi festeiro...
P/2 – Milton Cardoso?
R – É, nós fomo numa festa lá ele era mordomo da festa daí quando chegou na hora da estiração da bandeira ele chegou pra, aquele é o mordomo, né, aí ele chegou na casa, aí a bandeira da casa, aí ele tava lá nós cantemo pra ele, oh, quando ele chegou queremo tirar a marcha pra ele “Oh chegou, o chegou, oh já chegou nosso capitão general.” e pode cantar pra ele como pode cantar proces aí. “Soldador, não ponha fogo, vem nosso capitão mandar. Chegou, oh chegou o capitão general.” Era cantar pros maioral, né?
P/1 – Oh sou Geraldo queria que você contasse pra gente quando você é menino e entra pra marujada, você entra como o quê? Qual que é a sua função?
R – Ah?
P/1 – Quando você entra na marujada, menino, você entra como na guarda?
R – A gente entra como gajeiro, na marujada é gajeiro.
P/1 – E depois?
R – Chama gajeiro né. Como é que fala? A gente fala é... agora é o novo sistema que fala é o, é, componente. Os componente, componente quer dizer os companheiro né, da fila.
P/1 – E depois de componente?
R – É os mestre, tem uns menino que são os calafaia... calafate que eu tava fazendo, calafatinho né?
P/1 – E depois do mestre?
R – Do mestre tem o contra-mestre, doutor e o patrão, que fala patrão.
P/2 – O senhor é o que?
R - Mestre, é o patrão, é o patrão.
P/1 – E qual que é os instrumentos que vocês tocam?
R – Ah é pandeiro né, pandeiro, caixa né, talvez um tamborilzinho, tamborim.
P/2 – Geraldo, quando que o senhor conheceu a dona Geralda?
R – Ah? P/2 – Quando que o senhor conheceu a dona Geralda?
R – Quando que eu conheci? Desde menino.
P/2 – Conta a história pra gente?
R – Ah?
P/2 – Conta a história pra gente?
R –Nós fomos tudo criado tudo com o neto dele. Ela, só que ela ficava e eu tinha meu.... eu morava em casa né, e ela trabalhou muito foi de assim de... empregada na casa de família e eu também, pelo menos, também trabalhava com cano, com outros mexendo, trabalhando pra um, pra outro, na roça, garimpo, e ela olhando, desde menina, desde pequena, olhando criança nas casa de família.
P/2 – E ai o senhor começou a namorar com ela?
R – Ah?
P/2 – E ai o senhor começou a namorar com ela quando?
Dona Geralda – Ah já, ele começou a namorar uma prima de treze anos, primeiro, mas eles eram primo-irmão, ai o bispo não deu ordem pra casar porque eles eram primo e irmão, ai o bispo não deu ordem pra eles casar, ai eles terminaram e ai nós começamos a namorar. Eu cheguei na casa dele e achei ele lá chorando, ele morava aqui numa casinha aqui em baixo, cheguei lá ele tava chorando que eles tinham terminado, daí eu falei não precisa de você ficar chorando que eu vou consolar ocê, e dessa hora em diante nós começamos a namora e ai casamos, tem 46 anos de casados. R – A outra chamava Conceição, ela casou com uma japonês, não é japonês não, é... ela casou foi com um, como fala? Nossa língua é?
P/1 - Português.
R – É, ela casou com um português.
P/2 – Português?
R – É, ela casou com um português...
Dona Geralda – Ela foi pra São Paulo e casou com um português.
R – Chama seu Manuel, ele ainda é vivo, agora ela já morreu. Ela morreu. Dona Geralda – Seu mané é Portugal.
R – Ele é português.
P/1 – Oh seu Geraldo, conta pra gente o que o senhor acha de ter contado um pouco a sua história pra nós?
R – De que?
P/1 – Da marujada, de milho verde, o senhor gostou de conta pra gente?
R – Ah?
P/1 – O que o senhor acha de ter contado a história pra gente?
Dona Geralda – Os instrumento que eles tocam na marujada, que é aquelas caixa, é ele mesmo que faz.
P/1 – É mesmo?
Dona Geralda – É.aquele é o filho mais velho.
R – E aqui é um outro colega...
Dona Geralda – que bate caixa... e ali é Geraldo, tocando a caixa.
P/2 – O senhor gostou desse papo aqui?
R – Ah?
P/2 – O senhor gostou dessa conversa nossa?
Dona Geralda – Você gostou da conversa deles?
R – E... que?
Dona Geralda – Se você gosto? É que ele ta escutando pouco.
P/2 – O senhor gostou de conversar com a gente?
R – Gostei, o que que isso.
P/2 – Obrigada pela atenção Geraldo.Recolher
Título: Mestre de marujada
Data: 04/08/2007
Local de produção: Brasil / Minas Gerais / Milho Verde
Personagem: Geraldo Carmo Santos Entrevistador: Thiago Majolo Transcritor: Paula Leal Autor: Museu da Pessoahistórias que você pode se interessar
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