Ponto de Cultura Museu Aberto
Entrevistado por Marta Delellis e Guiomar Ramos
Depoimento de Guiomar Rocha Alvarez
São Paulo 17/11/2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV_206
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Fernanda Regina
P/1 – Boa tarde dona Guiomar!
R – Boa tarde.
P...Continuar leitura
Ponto de Cultura Museu Aberto
Entrevistado por Marta Delellis e Guiomar Ramos
Depoimento de Guiomar Rocha Alvarez
São Paulo 17/11/2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV_206
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Fernanda Regina
P/1 – Boa tarde dona Guiomar!
R – Boa tarde.
P/1 – Para começar eu queria que a senhora dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Guiomar Rocha Alvarez, nome completo... Ah... 23 de novembro de 1908.
P/1 – Em? Em que cidade?
R – Cento... Quase cento e um, né? Eu completo cento e um agora.
P/2 – Você nasceu aonde Guio? Em São Paulo?
R – Em São Paulo, na Rua Barão de Tatuí, terrenos da Dona Angélica de Barros, foi onde meu pai construiu a casa.
P/1 – E a senhora sabe alguma coisa das origens da sua família?
R – Da minha família? Ah sei! Do lado de meu pai, português, não sai do português, porque o meu avô era filho de um... João Caetano, como era o nome dele? ... Hugo Aba... Ele tinha vindo para o Brasil, parece... Tudo indica que não era um degredado e como há certa coincidência, a gente não gosta de falar porque parece, assim, uma pretensão, parece que ele foi fugido de uma revolta em Portugal, e como é que o nome de?... Bocage... O Bocage estava também metido, e há um soneto, pode ser um verso de Bocage, em que ele fala o Alvarez. Então, nós temos a impressão que seria essa origem. Ele veio fugido, por motivo político.
P/1 – E a mãe?
R – Hein?
P/1 – E a mãe?
R – Mamãe era, dentro daquela... Bom, burguesia era burguesa, nobreza paulista, paulista e de fazendeiro. Ela nasceu na fazenda da avó, e essa fazenda era bem grande, porque ela depois dividiu para os filhos, e diversos tiveram fazenda. Agora o meu avô não tinha essa fazenda. Quis uma casa em Itapira, onde ele... Naquele tempo nem era Itapira, o primeiro nome era Penha do Rio do Peixe.
P/1 – E dona Guiomar, o seu pai, o que ele fazia?
R – Hein?
R – O que ele fazia, o seu pai?
R – Papai era Engenheiro Civil. Ele se formou no Rio de Janeiro e veio para São Paulo e ele foi trabalhar na Mogiana [Companhia Mogiana de Estradas de Ferro], daí ele foi para Ribeirão Preto, pra morar em Ribeirão Preto. Ele primeiro trabalhou na Mogiana, ele conheceu a minha mãe lá em Itapira, onde ele se casou; e aí, casado foi para Ribeirão Preto como Engenheiro da Mogiana. A Mogiana estava fazendo o traçado da estrada, para chegar em Ribeirão Preto, que era prá... Eu tenho ideia, aqueles Fazendeiros todos, os Barões do Café queriam o trem passando na fazenda deles, para pegar o café. Então... (risos), diz que ali há muita curva para atender aos Fazendeiros, que queriam que o trem entrasse nas terras deles. E lá em Ribeirão Preto nasceram meus primeiros irmãos, foram até, foi o Mário, Alexandre, Caetano, Divino e Chico. Os cinco primeiros nasceram todos em Ribeirão, depois aqui em São Paulo, eu nasci já aqui em São Paulo, e mais duas irmãs também nasceram aqui, em São Paulo.
P/2 – E seu pai veio da onde, Guio?
R – Papai era do Estado do Rio, eu tenho a ideia de que ele era de um lugar chamado Rodeio.
P/1 – E como que era o nome dele?
R – João Caetano Alvarez.
P/1 – E a senhora era, então, a quinta ou sexta filha?
R – Eu?
P/1 – É.
R – Eu sou a décima primeira.
P/1 – Décima primeira filha? De quantos irmãos?
R – De onze. Agora mamãe criou só oito, e infelizmente um morreu moço.
P/1 – Então a senhora era filha caçula?
R – Era caçula, eu fui mesmo caçula. Hoje em dia, eu me lembro... Eu era naturalmente, a pequenina da casa, então todo mundo tomava conta de mim. Mas papai veio para São Paulo porque ele nunca gostava de filho interno. Ele veio morar em São Paulo e trabalhava muito no interior. Ele pegou uma época de muita empreitada, se desligou da Mogiana, e, por exemplo, eu sei da cadeia, o prédio da cadeia de Jaboticabal é construção dele. Agora não sei mais, construía muito no interior.
P/2 – Você falou que ele veio para São Paulo, que ele não gostava de filho interno? Foi isso que eu entendi?
R – Ele não gostava de filho internado.
P/1 – Como assim?
R – Foi interno num Colégio, né, ele ficava em Ribeirão, o filho que... Mário chegou a ser interno, mas Mário não gostava.
P/2 – Era costume na época, era muito comum ter filho internado.
R – Muito comum, muito comum. As meninas iam pra aqueles Colégios, tinha um em Itu, que tinha muito bom nome, as meninas iam pra lá. Os meninos eu acho que eram mais no Arquidiocesano, os Padres de São Bento, não sei...
P/1 – Dona Guiomar, essa casa, da sua infância, a senhora se lembra alguma coisa dela?
R – Ah, muito, por quê? Era uma casa, meu pai... A primitiva casa era uma casa de esquina, era a Barão de Tatuí com a Alameda Barros, e... Eu me perco um pouco... Ah, a casa era daquele tipo antigo, não é? Uma sala na frente, tinha dois quartos em cima, uma sala de jantar bem grande e o porão todinho habitado. Depois ele, em 1912, mais ou menos, reformou a casa, nós até fomos para uma outra casa, e aumentou. Então em cima tinha um, dois, três, quatro quartos e embaixo era um porão muito bom. Uma parte era toda assoreada, que os rapazes moravam mais lá embaixo.
P/1 – Os rapazes moravam no porão?
R – Era.
P/1 – E vocês recebiam também os primos, que vinham de fora.
R – Ah, papai era um... Muito... Muito assim, como é que se pode dizer, uma pessoa muito sensível às coisas... Ele tinha muito preocupação com as mulheres. Nove em casa, todas estudamos para ter um diploma. Depois ele dizia: “Uma só, se fizer sozinha, vai morar sozinha, nada de morar em casa de irmão. Aí eu que concluo, antigamente vocês sabiam das biografias, há muito filho assim, a moça vai morar com a mãe e acaba acontecendo essas coisas. Precisa ver que a mulher, naquele tempo, tinha um horizonte muito pequeno, quanto mais pra trás... Papai tinha muita preocupação... Então, o pessoal queria estudar... Ia lá pra casa, e a minha tia mais moças, também... Se formou lá em casa, a tia Ernestina.
P/1 – Dona Guiomar, e nessa casa da Barão de Tatuí com a Alameda Barros, quais eram os passa-tempos das crianças? Como que as crianças brincavam?
R – Naquele tempo as crianças tinham mais imaginação. Eu brincava de esconde-esconde, barra manteiga, não é? Pegador de um jeito, pegador de outro jeito, mas, tudo...E eu gostava também de boneca (risos). A minha irmã, a Britz, que toda vida fez muito bem roupinha de boneca, e também fazia boneco de pano, sabe? Então, por exemplo, você tinha uma família, de repente faltava o pai, então, pegava um boneco, pintava um bigode, aquele passava a ser o pai. Você vê, tudo era mais imaginação. A gente tinha coelhinho, desenhava coelhinho, de xicrinha e tudo... Lá em casa tinha uma erva cidró, que dava um chá gostosinho... Ah, como nós fizemos chá de cidró. Servia o chá, pondo o açúcar, e aquelas xicrinhas estavam assim, era um tempo diferente, havia vizinho, entendeu? Na Barão de Tatuí, o primeiro quarteirão a gente conhecia todas as pessoas daquele quarteirão, e havia uma família, que ficou muito ligada a nós porque a senhora amamentou minha irmãzinha, que quando estava muito mal, ela que amamentou. Então, foi muito ligada a nós.
P/2 – Eram os Hummel?
R – Hein?
P/1 – Os Hummel, que você falou outro dia?
R – Hummel?
P/1 – É.
R – Seu Frederico Hummel e dona Cecília Hummel, e a Jaques Jardim também. Eles eram ali da Zona Norte, de Guaratinguetá, e... Bom, agora eu já me perdi...
P/1 – Que tinha vizinhos, e que as crianças também deviam se relacionar com os filhos dos vizinhos.
R – Chegava à tarde, ia tudo pra calçada. Não tinha... Não havia movimento. Você conhecia as pessoas que tinham carro. Eu já grandinha,
me lembro, que era um Alvarez Lima que tinha um carro, todo dia ele subia a Barão de Tatuí, Alameda Barros e ia lá pra Avenida. Acho que depois ele ia andar na Avenida Paulista. O pessoal fazia Corso na Avenida Paulista [carnaval de rua da elite paulista], mesmo fora de Carnaval. No Carnaval o Corso era lá, e depois foi aumentado muito, aí começou a descer pela Angélica, fazer muita volta. Mas a origem era: o carro aberto, o pessoal sentado na capota, e ali, com serpentina, confete ficava essa brincadeira de carro pra carro. E nessa época, foi a época das grandes fantasias. Havia aqui uma família, acho que era Nóbrega. Tinha diversos meninos, não sei, faziam umas fantasias lindas, e eles sempre ganhavam prêmios. Nesse tempo era o Clube Harmonia, que havia um grande baile e onde era escolhida a melhor fantasia. E eu me lembro que aquela Ritinha Seabra filha do Doutor Alberto Seabra, que moravam ali na Avenida Angélica, teve um prêmio, com uma fantasia pavão branco. Nessa época eu era pequenininha, então essas coisas todas...
P/1 – E dona Guiomar, a senhora lembra das primeiras lembranças de escola?
R – Como é, bem?
P/1 – De escola?
R – De escola? Eu fui para o Grupo do Arouche, naquele tempo já era procurada a escola modelo Caetano de Campos, ali na escola normal. Aquela escola foi fundada lá porque as próprias Mesquitas, filhas do Júlio Mesquita estudaram nessa escola normal, ainda. E era um pessoal fino, que ia para a escola normal. Acho que foi uma coisa ligada a Rangel Pestana, aliás, as filhas dele, as duas eram professoras.
P/1 – E a senhora se lembra de alguma professora, assim, de pequena?
R – Lembro. Hein?
P/1 – Quando a senhora era pequena?
R – Quando eu fui para o primeiro ano, era Dona Rosa Pereira, que era até uma senhora bonita, e depois dona Eulália, também gostava muito dela. Agora, eu não fui muito feliz no curso primário, porque quando eu cheguei ao quarto ano, não sei como eu fui parar naquele Caetano de Campos e a professora, sem dúvida nenhuma, não gostava de mim. Era uma coisa marcante. Aí, eu acabei saindo, e aí eu encontrei uma pessoa que até hoje eu sou grata, a dona Maria Augusta D’Ávila, era uma professora muito religiosa, ela tinha um internatozinho na Rua Rego Freitas. Era uma sala só, e eu me lembro que no fundo, as irmãs dela faziam, sabe esse biscoito de goma? E tinha um rapaz, um meio aleijado que saía com uma sacola dando, uma cesta grande, com esses biscoitos para vender. Ela mandava pra gente quando eu estava lá. Ela era uma caçula ótima. Eu sempre digo, ela é um ser que para mim me fez feliz. Eu vinha tão chateada dessa escola da Caetano de Campos, com a professora, e ela não, ela só chamava “Menina de Ouro”. Então eu a adorava.
P/2 – E os seus irmãos, ajudavam, Guio, porque nessa época, a sua irmã, a Jovina, né?
R – É.
P/1 – Ela já dava aula, né?
R – Ah, ela já dava aula...
P/1 – Nas casas, né?
R – Aliás, ela já dava aula e a Britz fez concurso, a Britz foi uma pessoa que fez concurso mesmo, de prova, para ser professora primária, e ela foi, acabou sendo nomeada, naquele tempo, não foi para Grupo Escolar, ela foi nomeada para a Escola Isolada. Ela foi trabalhar no Moinho Velho, lá no Ipiranga, aquela Diego Bueno, no fundo da Diego Bueno, a gente já via aquele ar dos tais arcos, que era o início da Estrada para Santos. Ela trabalhou lá, e é interessante como a função da professora, ela trabalhava de manhã... Uma colega, de tarde, ela. Essa minha irmã tinha mesmo uma disposição especial, mas sabe, fica uma espécie de... Por que na Prefeitura, tudo o que acontecia era a Britz que tinha de achar o caminho, o povo começou aquela imigração do Centro da Europa, e os lituanos foram morar perto da escola dela. A escola era uma venda, um armazém, com porta para a rua, e dentro era a classe, mas dava para dar aula, porque não tinha esse movimento que tem hoje. E ali morreu um menino, foi quando apareceu o tifo exantemático, aí, então, ela foi telefonar para a Polícia, para o Serviço Sanitário porque para tirar... Então, você vê, a professora tinha uma função... Agora, que era horrível, aquele tempo a fossa, mas não fossa asséptica, o pessoal fazia fossa. Quando eles limpavam a fossa, que enchia, ela não precisava nem dizer para o inspetor, ela não ia e nenhuma criança ia, porque era um mau cheiro horroroso então nem precisava ordens de inspetor para não abrir a escola, porque não havia possibilidade. Era no fundo do local que ela trabalhava.
P/1 – Dona Guiomar, eu queria voltar um pouquinho, pra essa época de juventude, dos primeiros estudos, o que vocês faziam para se divertir? Como é que as pessoas passavam o tempo naquela época?
R – Como é?
P/1 – O que vocês faziam para se divertir, qual era o entretenimento daquela época?
R – Olha, o entretenimento, sabe que família grande é diferente, né. Éramos três meninas, e esse meu irmão era muito jovem, ele gostava muito... Então a gente tinha uns jogos de bola com as vizinhas também, com as Hummel, que iam lá pra casa, e havia aquela coisa do anel, uma coisa mais, né? Passava a mão, e foi...
P/1 – A Marta falou mais de entretenimento de infância, né?
R – Hã?
P/1 – De infância... Mas assim, ela estava pensando também da sua juventude, né? Você, quer dizer, mais nova, você também via seus irmãos. Qual era, assim, a forma de entretenimento...
P/2 – De passar o tempo...
P/1 – Assim, de mais jovem. Você tinha me falado que a sua mãe levava suas irmãs ao cinema...
R – Ah bom...
P/1 – Falou que mais jovem, né?
R – Ah, isso é uma coisa antiga, mamãe com as mais velhas, porque mamãe nunca foi muito de sair de casa, porque mamãe foi uma pessoa doente. Depois que eu nasci, ela foi desenganada, e aí, surge em nossa família a figura do Doutor Augusto Militão Pacheco, que mamãe estava desenganada, papai muito desesperado, e ele disse para papai: “Não, vamos tratar. Ela pode viver dois meses, pode viver 10 anos e pode enterrar você”. E a mamãe passou a viver tomando só homeopatia, nunca pôs alopatia na boca. Aí tinha mesmo isso. Naquele tempo uma mulher não saía sozinha. Por exemplo, minhas irmãs queriam ir à cidade, eu tinha de ir junto porque ela não podia... Uma mulher não andava sozinha. Uma de nós ia com elas, e mamãe era a mesma coisa. E aí, isso de ir ao cinema, lá em casa éramos seis: eu era muito mais criança, mas eu sei que mamãe falou, que ela.. Havia um cinema que era o melhor o My Life, no Largo do Arouche, na mão direita de quem sobe, e do outro lado havia um outro cinema, o Bijou.
P/1 – E como que as pessoas se vestiam, para ir ao cinema?
R – Ah, naquele tempo você não saía sem o chapéu na rua, eram todos vestidos, naturalmente punham a roupa melhor e chapéu. Isso eu peguei ainda, o chapéu. Eu posso dizer prá você que até 39, eu não tinha coragem de entrar no ônibus sem chapéu. Eu cheguei a sair com o chapéu na mão para ver se tinha coragem, mas quando vinha o ônibus eu metia o chapéu. Aí eu estive no Rio de Janeiro, o Rio é muito bom, porque tem aquele clima, eu não usava nem meia e nem chapéu. Cheguei a São Paulo eu me senti outra, fui trabalhar, sem meia e sem chapéu. Uma colega me chamou, disse: “Guiomar, você está sem meia?” Eu disse: “Estou”. Ah, no dia seguinte ela não estava com meia, e a maioria das colegas tinham ido sem meia.
P/1 – E esse trabalho foi o primeiro trabalho da senhora?
R – É, eu entrei, e foi... Eu dei um pouco de aula particular, mas não foi... Chegamos a ter um Colégio, o Colégio Rocha Alvarez, que eu tinha organizado com uma colega, mas aí a colega arranjou um cargo na Agricultura, e então, nós ficamos sozinhas e mantivemos o Colégio por uns dois ou três anos, mas era uma época que ninguém achava que devia pagar bem um Colégio. Nós... Quase era uma miséria o que a gente cobrava. Pois havia uma família que quando chegava no dia primeiro de julho tirava os filhos da escola. Porque de um a dez desse tempo, tinha aula, então você ganhava nesse mês de julho. E para não pagar o mês de julho, eles tiravam as crianças.
P/1 – De um a dez, o horário?
P/2 – Não de junho, julho. Trabalhava-se de um a dez de julho, e pagava o mês todo.
P/1 – Ah, sim...
P/2 – E ela tirava para não pagar julho, não pagar as férias.
R – Para não pagar. Aí foi... Olha, nós que tivemos Colégio, fechamos; as Vicente de Carvalho, tiveram Colégio e fecharam, o (___) que era um professor de Matemática, também fechou, e uma Meireles (___) que tinha viajado para a Europa, para estudar coisas sobre o Jardim da Infância, e tinha um material muito grande, é isso? Também não conseguiu manter. Hoje em dia você... Qualquer um abre um Colégio e toca, né.
P/1 – E a senhora se identificou com ser professora...
R – Hein?
P/1 – Lembra de alguma leitura importante dessa época de juventude?
R – Que eu li?
P/1 – É.
R – Eu me apaixonei por Alexandre Dumas, Dartanhan, 20 anos depois, esses livros eu lia demais, adorava (risos). Eu com minhas irmãs, eu acho que eu aprendi a beber foi nesses livros, porque eles bebiam tanto que eu leio e tenho sede (risos), mas eu bebo só água, mas era uma leitura gostosa, e depois eu comecei a ler um pouco os franceses, esses livros meio de policiais, sabe? Essa coisa. Agora não tive... Só mais tarde que eu tive uma leitura mais... Gostava muito também, isso eu li muito jovem, Júlio Diniz, que é português. Júlio Diniz, depois Eça [de Queiroz], Os Maias, que eu adorava, Os Maias, Cidades das Serras, também muito bom... Ah, outros de Eça também bons.
P/1 – Nessa experiência de professora, a senhora se lembra de algum aluno especial?
R – Hein?
P/1 – A senhora se lembra de algum aluno?
R – Não, eu tive, mas não... Aluna particular que era assim... Não via muito, né. Todas muito boas. Tive uma menina, que eu ensinei que era muito, muito boa, mas fica uma relação... Não é como uma professora que ensina uma classe, né. Isso é a minha irmã. Minha irmã teve uma vida muito bonita, a Britz, como professora.
P/2 – O primeiro trabalho mesmo, foi mais a Secretaria, né, Guio?
R – É. Quando eu consegui entrar para a Secretaria, porque eu fiz concurso para a Secretaria da Fazenda, e para a Secretaria da Agricultura. Eu fui aprovada nos dois, mas na Secretaria da Agricultura, nunca entendi, foram classificadas doze, e eu era uma das doze, nomearam outra, então, eu fui consolá-la a vó com Vivina, Vivina foi lá conversar com o secretário: “Por que tinha sido aquela”. Ele embrulhou, embrulhou, não disse nada, eu sei que a Vivina naquele modo dela:”Bom, uma questão de preferência pessoal”. E também na Fazenda, eu tinha dificuldade de entrar, por que lá tinha um diretor geral, seu Pergentino que era um homem muito direito, e entrava porque o Freitas Vale, punha as protegidas dele na secretaria, pela força que ele tinha no Governo. Eu tinha duas colegas que tinham sido postas pelo Freitas Vale, aliás, ele tinha fama, ele dizia que eram filhas dele. Uma, que era minha colega, olha, não é querendo falar mal, mas era a cara do Freitas Vale, era a Soler, mas eram boas funcionárias, não eram más funcionárias, eram boas funcionárias.
P/1 – Dona Guiomar, quando a senhora prestou o concurso da Fazenda, quantos anos a senhora tinha?
R – O concurso foi...
P/1 – Mais ou menos, a época.
R – Acho que foi na década de trinta.
P/1 – E por que essa decisão de deixar de ser professora e prestar um concurso?
R – Por que a gente queria ganhar, e eu para ser professora, naquele tempo, eu era nomeada para o interior, e eram fazendas. Você saía da sua casa, ia morar em uma fazenda, e o fazendeiro dava para você o quarto que ele tinha, sendo que muitos poucos eram corretos, e de fato eu tinha medo, porque essa história de (___), não era comigo, tá. Mas em todo caso, essa minha irmã, a Britz, ela sempre teve muita força em relação a mim, entendeu? E ela disse: “Você para o interior, não vai?” Eu sei que ela foi conversar com uma conhecida que trabalhava na Fazenda, sobre... E aí houve um concurso e eu fiz. Eu estudei Contabilidade, porque tinha que fazer Contabilidade, eu tinha todas as provas, as pessoas que tinham escola de Comércio não precisavam fazer Contabilidade, aí eu estudei Contabilidade e Máquina também, Datilografia, mas nunca fui boa Datilógrafa, eu reconheço, nunca fui boa Datilógrafa, tinha mão ruim, sabe? Mão fraca.
P/2 – E Guio, quando que a sua mãe morreu, e o seu pai?
R – Papai morreu em 1919, e mamãe em 24, sendo que no meio morreu o Chico.
P/1 – Chico era o irmão?
R – Hein?
P/1 – Chico era o irmão?
R – Era irmão. Um irmão muito...Bom, a gente se dava muito bem com todos, mas ele era o mais moço dos homens, né. E depois era muito ligado a gente, ele era engraçado. Ele gostava da vida, sabe? Namorador, né... Tinha namorada pra todo lado, né... Ele... Daquele tempo, né...do flerte. Mas isso de fato desestruturou um pouco a nossa vida.
P/1 – Do quê que o Chico morreu?
R – Febre Tifóide.
P/1 – E era jovem, né?
R – Muito jovem, estava com 22 anos. Ele já era Segundo... Ele tinha se formado na Escola Militar, era Segundo Tenente, e já estava promovido a Primeiro e removido para o Rio Grande do Sul.
P/1 – Dona Guiomar a gente vai ter que parar um pouquinho para trocar a fita.
(TROCA DE FITA)
P/1 – Dona Guiomar, a senhora contou que o Chico morreu muito cedo, né? E que ele era namorador, e tinha essa parte do flerte. Como que era essa época do flerte, nessa época?
R – O flerte era esse namorico, que era... Eu não sei... Usava essa palavra flerte. Esta flertando fulano, não sei até de onde vem.
P/2 – E isso era para o Chico, né? E como era para as meninas?
R – As meninas, nem saía de casa, minha filha. Quem tinha vontade de namorar era a Britz, né? A gente não tinha namorado.
P/1 – Mas nessa época tinha uma maneira diferente, né, de namorar?
R – Ah bom! (risos). Quando ficava noivo, é que entrava na casa, aí podia ainda segurar na mão. Mas sempre uma pessoa junto do casal, nunca sozinho.
P/1 – E as meninas da sua família eram... Tinham namorados, como é que era?
R – Na minha família não, não eram muito namoradeiras não. A Clélia tocava muito bem o piano, e estudava muito piano. A Britz foi para o ensino, aí eu também não sei, né, porque ela ia muito ao Chá do Mappin, não sei se ela... Mas nunca teve assim um namoro sério.
P/2 – Mas e a vovó, a Jovina?
R – A Jovina, já naquele tempo, era muito bonita e um rapaz gostou dela (risos). Eu não gosto muito desse tempo de dizer essas coisas, são muito desagradáveis, sabe. Não fica muito bem, porque põe ela não... O rapaz, papai conheceu o rapaz e conversando com ele, ele disse: “Nós somos em cinco.” (risos). Foi a morte dele. Nós somos em cinco, não sabe falar português... Ah... “nós somos em cinco”... Acabou... Acabou. Na família de mamãe acharam uma injustiça, porque ele era tão bom rapaz, mas não foi adiante. E depois ela encontrou o seu pai, que eu acho que ela foi muito mais bem que Luanda, né, juntando com seu pai.
P/2 – Meu avô...
R – Seu pai não, seu avô.
P/1 – Dona Guiomar, então vamos voltar lá no concurso para a Secretaria da Fazenda. Como que foi essa notícia que a senhora tinha sido aprovada? A senhora se lembra desse dia?
R – Meu irmão conversou... Foi conversar com um parente nosso que trabalhava na Secretaria da Fazenda, aliás, era um alto funcionário, muito bem quisto. Ele morreu durante a Revolução de 32. E foi conversar com ele, e ele era alto funcionário, disse para o meu irmão: “A Guiomar foi classificada em terceiro lugar”. Agora, eu entrei, pela mão da Política, porque o seu Pergentino, eu fiquei... Eu não ataco a ele não, sabe? Ele era um homem muito direito. Como entrava muita gente assim, ele fechava, mas aí, o meu primo que era primo irmão de mamãe, que era político, fechou o cargo assim, ele disse: “É fulano, está com eles, acertei a política”. Era aquela política da Mogiana sabe? Era Mogi Mirim, Mogi Guaçu, Itapira, Serra Negra. Aquela zona ali. O Secretário da Fazenda era desse grupo e o Secretário da Agricultura também. Aí ele exigiu, né: “Um de vocês nomeia a minha prima.” “Ahhh... Isso...Aqueles...” “Não quero saber de nada. A situação dela é essa, ou vocês nomeiam ou nós rompemos”. E aí eu entrei para a Secretaria da Fazenda, com contrato, contratada, depois é que eu fui efetivada.
P/1 – E como que era esse trabalho, lá na Secretaria?
R – Bom, eu trabalhei muito numa parte de Imposto, primeiro nas Indústrias e Profissões, depois nas Vendas e Consignações, tudo ligado a Imposto.
P/1 – E onde era esse prédio da Secretaria da Fazenda?
R – Olha, eu trabalhei em diversos prédios. Eu trabalhei no Largo do Palácio, naquele primeiro prédio. Ali, foi a Secretaria da Fazenda.
P/1 – No Centro?
R – Hein?
P/1 – No Centro?
R – É.
P/1 – No Centro da Cidade?
R – No Pátio do Colégio, né. O primeiro ali... Trabalhei ali. Dali eu acho que fui trabalhar no Regina, no antigo Regina, Largo Santa Ifigênia. Depois trincou, e nós fomos para um prédio ali da General Carneiro, perto daqui da Casa de Louças, e aí, só depois daí, que eu fui direto para a Rangel Pestana.
P/2 – E Guio, antes de você continuar essa coisa de trabalho, quando a sua mãe morreu, tinha dezesseis, né? E aí vocês saíram da casa de Barão de Tatuí, porque o seu pai já tinha morrido, né, e você foi morar com quem e aonde?
R – Nós saímos, aí que a Jovina comprou um terreno, onde é hoje a João Arruda, e nós construímos, somente as que ganhavam, né... Eu não, que eu era só estudante, mas construíram um sobradinho lá. E era super deserto, era Chácara Beleza, e não tinha nada, nada lá, só a casa, a antiga casa que era do Padre Beleza e o nosso sobradinho.
P/1 – E quem eram as que construíram?
R – Hein?
P/1 – Quem eram as que construíram? As que ganhavam?
R – É, as que ganhavam porque eram a Jovina, a Britz, a Clélia, eu não contribuía com nada.
P/1 – Então eram só mulheres, nessa época.
R – Daí eram só mulheres.
P/1 – Liderando uma construção de uma casa. Como é que era isso?
R – Não, porque... As minhas irmãs sempre tiveram muita energia, e o construtor foi um homem muito bom, senão me engano o nome dele era Zacarias. Ele construiu com muito... Agora, tinha um irmão Engenheiro que de vez em quando ia lá olhar, né? Não dirigia propriamente a obra, mas verificava tudo se estava direito.
P/1 – E essa rua, a Chácara Beleza, que Bairro que era?
R – Perdizes.
P/1 – E como que era esse Bairro, essa época?
R – Perdizes até a Rua Caiubi, era uma Zona boa, de classe média, com boas casas. E depois da Rua Caiubi, era uma barreira só, até lá embaixo, onde era a Chácara Beleza. Lá tinha, a Rua, que dava no... Como é que chama ali? Sumaré... Dava na Avenida Sumaré, mas não existia a Sumaré, era um buraco coberto de vegetação, não tinha nada. No fim dessa rua tinha um cabreiro, ele tinha cabras, aquele som que depois andava pelas ruas, vocês não pegaram isso. Eles pegavam, ligavam uma cabra na outra, pela coleira, e andavam com elas pela rua e tiravam leite pra quem preferia, pagava um tanto, e tiravam um copo de leite para ganhar a vida deles. Acho que devia de dar algum dinheiro, porque eles andavam tanto.
P/2 – E quando você foi morar lá com as suas irmãs, Guio, você tinha que idade?
R – Dezoito, eu estava me formando na Escola Normal.
P/1 – Como era para chegar lá? Que transporte se usava?
R – Era só o Bonde Perdizes que ficava na Rua Caiubi, fazia manobra e voltava. Nós não tínhamos condução lá embaixo. Nós subíamos a ladeira de qualquer jeito.
P/2 – E era um lugar perigoso, assim, por ser afastado?
R – Naquele tempo não havia tanto perigo, não é? Nunca... Quando aparecia um... Mas olha, nunca... Eu tenho ideia, naquela ocasião apareceu um tal de Febrônio [foi um assassino em série brasileiro], mas eram coisas isoladas. Ali em Perdizes não havia nada. O que nós percebíamos era gente que queria roubar coisas do nosso quintal. Isso sim. Nem isso. Que a única vez que as minhas irmãs atiraram para afugentar, que nós ouvimos mesmo barulho, nós achamos que era uma empregada que nós tínhamos que estava de namoro com... Porque
no fundo ficavam os quartinhos que eram onde moravam os negros, que a gente... Mas todo mundo não... Era nível baixo, mas não era ladrão. Eu acho que um deles foi viver com essa... E ele entrava no nosso quintal Então nós ouvimos barulho, em uma ocasião, a Clélia e a Jovina que atiravam.
P/1 – Mas elas sabiam atirar? Como é que era isso de ter uma arma?
R – Sabia atirar, não sei. Elas fizeram um pouco de exercício com o meu irmão, primo. Mas eu, por exemplo, nunca tive força para puxar no gatilho. Agora a Clélia sim... (risos). A Clélia, eu me lembro numa ocasião, ela desceu a ladeira com o revolver assim, mas não havia nada assim, nunca tivemos nada de muito sério.
P/2 – E quantos anos vocês ficaram nessa casa, Guio?
R – Deixa eu ver... Não foi muito tempo não. Sua avó viajou para a Europa em 1926, aí... Em 1926, e eu estava no Rio, para fazer um tratamento de dente, e estavam só as duas aqui. Aí, a Britz, um dia, estava um pouco cansada de morar aqui e não poder fazer nada. Aí, elas... Não, eu ainda voltei para São Paulo, aí um dia nós resolvemos sair de lá. Fomos primeiro para uma pensão, na Rua Piracicaba esquina com a Duque de Caxias. Naquele tempo, de bonde, minha filha, de manhã cedo a gente não podia dormir, porque tinha trilho cruzado, e você sabe? Quando o Bonde da Piracicaba entrava na Duque da Caxias era aquele barulho de... De lá que nós fomos para um apartamento na Marechal Deodoro, onde nós ficamos muito bem.
P/1 – Dona Guiomar, deixa eu voltar um pouquinho. A senhora disse que o avô, aquele da Guiomar, foi para a Europa, em 1926.
P/2 – Não, foi a Jovina.
P/1 – Da Jovina.
P/2 – Foi encontrar a minha mãe.
R – Como é que é?
P/1 – Foi encontrar com o seu avô. Eles já eram casados?
P/2 – Não.
P/1 – Não? Como que a Jovina conheceu o...
P/2 – Samuel.
P/1 –
O Samuel?
R – Do papai, papai e mamãe, eram amicíssimos, o doutor (__) era uma pessoa e dona (__) era outra pessoa. Eles eram amigos antigos. Eram muito amigos. A Jovina estava cansada de conhecer o Samuel. Agora, a paixão, não sei. É uma coisa particular.
P/1 – E ele foi morar na Europa, é isso? Ele foi viajar para a Europa?
R – Não, ele viajou, ele teve uma bolsa para estudar a questão da malária, dessas coisas, lá pra aqueles lados, Tchecoslováquia... E ele foi pra lá, pra isso. Ficou estudando. Agora ele já estava namorando com a Jovina aqui em São Paulo. Ela que não estava querendo levar a coisa adiante. Eu tenho essa impressão, quando afinal quando ele foi para a Europa, ela foi também.
P/1 – E aí ela viajou também para a Europa.
R – Viajou.
P/1 – Isso sem se casarem sem nada.
R – Hum?
P/1 – Eles não tinham se casado ainda?
R – Não.
P/1 – E eles vieram a se casar?
R – Casaram, se casaram.
P/1 – Depois.
R – Mais depois.
P/1 – Tá. E essa pensão da Rua Piracicaba com a Duque de Caxias, vocês foram todas as irmãs?
R – Fomos nós três: a Britz, a Clélia e a Guiomar. E fomos para o apartamento também, só nós três. Aí a Jovina já estava casada e estava até morando, ela morou uns tempos em Rio Claro, que o Samuel foi convidado a trabalhar na Paulista.
P/1 – E aí ficaram as três: Britz, Clélia...
R – E Guiomar.
P/1 – E Guiomar, morando juntas...
R – Morando juntas.
P/1 – Então, essa relação entre as irmãs sempre foi muito boa, né?
R – Foi muito boa, muito boa. Eu acho às vezes até que, como elas são assim fortes, pode ser que uma atrapalhe a vida da outra, eu não sei... Mas elas são muito amigas.
P/1 – Muito amigas. Vamos voltar para o que a gente estava falando de trabalho, um pouquinho, da Secretaria da Fazenda.
R – Não tenho muito pra falar lá...
P/1 – Mas era um trabalho que a senhora gostava?
R – Ah, era, isso um chefe, quando lançou uma ação sobre uma pessoa, ele dizia: “Gosta de tudo o que faz. O que faz, faz com... procura fazer bem feito”. E de fato, só queria, eu entrei... Eu não sou nenhuma intelectual, mas em todo caso , quando eu entrei na Secretaria da Fazenda e fui para um Diretor, ver onde eu punha, eu era Professora, tinha concurso, dois concursos aprovada, e ele pôs no Expediente, eu só trabalhava com uma (Servente ?), não tinha mais nada. Mas aí é que eu me fiz, né, porque de repente, me deram umas fichas para eu fazer uns fichários com as fichas, porque o pessoal quando entregavam o requerimento, lá embaixo na portaria, eles davam um cartãozinho, com um número do requerimento. Agora, o requerimento era posto numa capa, e subia com esse cartão lá pra cima. Aí é que eles iam registrar num livrão, que ficava numa roda, que eu podia rodar. Mas as fichas... Tinha tanta ficha, quando eu fui arrumar, tinha tantos “diversos”, que eu perguntei para o rapaz: “O que é aquele “diversos”?”. “Ah, quando é uma pessoa, uma porção de outras que assinam”. Eu disse: “Pois tinha que ter pelo menos o nome da primeira pessoa, porque “diversos” nunca mais ninguém vai achar. E esse processo se perder a ficha, acabou”. Aí eu falei para o senhor que tinha me posto lá, e eu acho que foi aí que criaram o Protocolo da Secretaria da Fazenda, que eram mesas de aço com divisões dentro, de papelão, que tinha também uma tabela pelo nome, sabe? Por exemplo, eu, Guiomar Rocha Alvarez, eu, era pelo Alvarez. Eram três, mas tinha dentro do três, tinha de A a G. Então, depois era do G, Guiomar, entendeu? Então, com essa tabela a gente classificava todos os... Era bem classificado, né? Mas mesmo assim, sabe, quando eu saí da Secretaria, eu já tinha dito, eu com o Protocolo começou com quatro mesas, depois foram aumentando as mesas; agora lá na Rangel Pestana, era um salão imenso, cheio de mesas, eu até comentei: “Aqui, é só querer meter uma ficha fora do lugar que nunca mais é achada, porque é demais”. Tinha até uma firma Bola, que estavam estudando lá, e concordava. Mas antes que eu fosse dar uma solução, veio o computador. O computador é que resolveu.
P/1 – Mas e? Fala...
P/2 – Mas Guio, só para voltar um pouquinho, porque você às vezes me contou coisas, né, e aí que eu acho interessante. Você estava falando da ida da minha avó, da Jovina, né, e que o meu avô foi antes, né?
R – Hein?
P/2 – Você tinha me dito, que naquela época, havia muita leitura na verdade, né, algumas leituras, você estava falando, lembra?
R – Leituras?
P/2 – Leituras. E que a minha avó era contra o casamento, lembra?
R – Ah....
P/2 – Quer dizer, uma das razões também, dela ter adiado, é que o meu avô queria muito casar, e ela já tinha aquelas ideias, né, não era isso?
R – É. Bom, isso na... Depois da Primeira Guerra, né. Depois da Primeira Guerra veio o La Garçon, que era cabelo cortado, cigarro, né, começaram a fumar, francamente... E, vieram também... Da França, principalmente, viu... Porque mesmo na Itália, que nós estivemos lá, era bastante liberdade, mas não, você não
achava como se fosse na França. Mas porque eu ia falar aí da França?
P/1 – Mas vocês fizeram uma viagem para a Itália?
R – Hein?
P/2 – Bem mais adiante...Não era nessa época. Você estava falando Guio da influência da França nos costumes logo depois da Primeira Guerra.
R – É. Aí, foi o La Garçon, e também, uma corrente mais adiantada das mulheres, começou a falar, eu acho que já foi um pouco de “amor livre”, viu, e havia um francês, um escritor francês, acho que era Paul Marguerite, ele tinha um livro, esse eu li, que era um casal que se gostam muito, ela ficou grávida, tem um filho, e ela, imediatamente registra o filho no nome dela, e pelo código francês quem registra primeiro é que tem o direito do filho. Pelo menos era assim. Então, aquele sentimento dele, da mulher ter feito isso, né, mas ele sente, discutia-se isso lá em casa, aí era a minha irmã Britz, que tinha uma... A Britz só perguntou: “Vocês já leram o Código Civil Brasileiro?” (risos). Porque o Código Civil Brasileiro não tem nada disso, se é primeiro ou segundo, o direito, se o pai reivindica é do pai, não é? Ou era? Agora eu também não sei mais. Agora modificou muito, né? E que mais você lembra?
P/2 – Mas essa questão, Guio, eu só estou lembrando a você, vocês viveram muito mais em relação às primas do Rio, né?
R – É.
P/2 – Porque no Rio de Janeiro era diferente.
R – Ah, o Rio era muito mais adiante. São Paulo foi muito província. São Paulo, eu acho que depois da Segunda Guerra, é que ficou, no nível até acima do Rio de Janeiro. Porque a minha irmã leu um livro do... Acho ... Um Amado, de um Francês Amado, e ele contava, acho que o Genuíno Amado, ele contava que quando chegou ao Rio de Janeiro, ficou atrapalhado, porque ele foi a um Teatro, num concerto com um amigo, e ele disse assim: “Aquela senhora ali, é amante de fulano; esse aqui, amante daquela”. Ele ficou, imagina se no Nordeste alguém podia falar desse jeito, não é? E lá já havia muito isso, dessas escapatórias.
P/2 – E vocês tinham a prima Noêmia, né?
R – Hein?
P/2 – A Noêmia.
R – Você quer que eu fale da Noêmia?
P/2 – Fale da Noêmia, Guio.
R – Essa minha prima, ela foi criada mais por minha avó. Essa minha tia não tinha saúde, nunca pode olhar os filhos. Era a vovó que... Elas viviam com a vovó. E essa minha avó paterna não era fácil. Ela não era fácil, porque ela era dessas: “O homem tem direito de tudo, a mulher não”. O homem se dizia que chegou de uma farra, ele dava risos, assim; mulher, não precisava dançar, não precisava nada. E ela morou com vovó, e o meu irmão disse um dia, em casa: “Tenho pena de Noêmia, porque Noêmia não tem casa, vovó não deixa ela receber ninguém”. Mas enfim, ela entrou para a Escola Normal. Ela era muito bonita, nessa época, ela era de chamar a atenção, não que fosse o tipo de beleza, mas ela era muito clara, cabelos muito loiros. Eu me lembro de sair com ela e ela chamar a atenção das pessoas. E na Escola Normal ela conheceu o Roquete Pinto, e aí eu não sei dizer pra vocês... Ele se apaixonou por ela e eles acabaram vivendo juntos, por muitos anos. E ele teve, bem mais tarde uma filha, que é a Carmem Lúcia Roquete Pinto, ela trabalha, ainda hoje ela trabalha. E ela sempre que há alguma coisa do pai, ela aparece.
P/2 – Mas a Noêmia não tinha ideias contra o casamento, Guio? Por que a Noêmia não era casada...
R – Ah, é.. Naquele tempo, sabe, a pessoa se amarrava de um jeito no casamento, era um absurdo, e eu me lembro que começaram a falar em divórcio. A igreja, nesse ponto, é tremenda para meter a colher de pau no meio e atrapalhar tudo, porque é como dizia o meu irmão: “Se não tem filho, cada um vai pra um lado. Agora se você tem filho, assegura o direito dos filhos”.
Mas o que adianta ficar um com o outro se detestando, não é? E o homem, é claro, que não fica sozinho. Pra mulher, é difícil, ela é difícil, mas o homem não, sabe?
P/1 – E a Noêmia?
R – A Noêmia casou, ficou com o Roquete, depois no fim da vida eles se separaram, mas...
P/2 – Mas Guio, a Noêmia, na verdade, o Roquete já era casado, né? Não tinha filhos quando ele conheceu a Noêmia, era bem mais velho que ela. E ela, na verdade, pelo que você sempre me falou, é que ela nunca quis muito ficar com ele, porque ela era contra casamento, né, ela tinha uma postura bem radical, né?
R – É. Ele queria ir para o Uruguai com ela para se casar, e ela não quis. A mulher dele se separou, depois ela teve um companheiro, não sei se depois pôde casar por um tempo ela tinha uma vida absolutamente para os filhos. E os filhos gostavam muito dessa pessoa com quem ela foi viver, e chegaram a dizer: “Não, o avô dos meus filhos é Fulano, não é o Roquete, que nunca se aproximou.” Mas o Roquete
passou um pouco a ter a vida dele.
P/1 – Dona Guiomar, a senhora falou da Segunda Guerra, a senhora se lembra quando estourou a Guerra, como é que a senhora ficou sabendo?
R – Eu fiquei sabendo, eu estava no Clube Pinheiros, no campo de esportes com meu irmão, quando um senhor alemão, empregado do Clube, se aproximou e disse: “Doutor Caetano, estamos na Segunda Guerra, porque a Alemanha invadiu a Polônia”. Nessa hora que eu soube.
P/2 – O Clube não era Pinheiros ainda, né, Guio?
R – Hein?
P/2 – O Clube era Germânico, não era?
R – Ah era, era da Germânia. Era assim, aliás, que era ótimo, sabe? Eram essas coisas que a política era um... Tão ruim... Foi um tempo bom da minha vida e de minha irmã, foi que nós éramos sócias do Clube. A gente, aos domingos, íamos cedo para lá. O Presidente gostava muito de Remo, então nos pôs remando e como sempre a Clélia era muito forte, eu não, sempre fui fracota. E começamos a remar, subíamos rio acima, depois descíamos... Como era gostoso... Não é? Era barco de quatro remos, barco de dois remos a gente juntava tudo, aquele mundo de gente, havia um Clube dos funcionários do São Bento, lá em cima, que também nós tínhamos direito de entrar e almoçar, sabe, então era uma vida muito gostosa. Outra coisa, para dançar, a primeira vez que eu vi, como nós tínhamos uns preconceitos, vamos dizer meio idiotas, né. Você chegava a uma festa, sentava, ficava olhando para um lado, os rapazes do outro, até que chegasse alguém e apresentasse a moça para ele. No Clube Germânia, nós entramos no Clube Germânia, o Presidente, (___) ficou muito contente de nós ver lá, e disse: “Olha, aqui é família, não tem apresentação. Agora nós estamos naquela mesinha lá naquela mesa, a senhora vê que tem a faixa do Clube, lá está a Diretoria, qualquer coisa que a senhora não goste vão lá falar conosco”. Olha, daí em diante eu dançava, eu me liguei bem... Nós quisemos bem aos alemães, olha que não perdemos o sábado, dançávamos
a noite inteira.
P/1 – O que se dançava, nessa época?
R – Ah, no Carnaval sempre foi Marchinha, né, e os outros eles também eles gostam da Valsa, né. Agora, outro eu não me lembro muito bem não. Havia uma muito bonitinha, mas que eu me esqueço o nome.
P/2 – E quando vocês mudaram ali para perto do Clube, lembra Guio? Vocês mudaram para perto do Clube, em frente.
R – É.
P/1 – Conta um pouquinho de como era o Rio Pinheiros nessa época que era limpo, que as pessoas usavam o Rio, né?
R – É. Eu conheci o Rio Pinheiros como rio. No tempo da enchente, enchia até o Clube, sabe, o Clube a água ficava alta, bastante barrenta, mas era muito gostoso pra gente... Nesse tempo eu não sei, remava muito não, porque havia muita coisa na água, não é? Mas era uma coisa agradável. À tarde eles tocavam umas músicas, a gente ia tomar um lanche antes de ir para casa, conversava, às vezes dançava um pouquinho, não é? Mas o rio, às vezes era, quando não estava cheio demais, era bonito. Tinha umas corredeiras que eram... Nós andamos também de (___) de dois lugares, eu e a minha irmã, e a gente passava nas corredeiras, e aprendia certas coisas, a fazer certas coisas, enfrentando as dificuldades do rio, sabe? Era muito bom. Aí, quando retificaram, o Clube ganhou uma faixa grande, mas hoje em dia pelo que eu tenho lido é só pernilongo (risos).
(TROCA DE FITA)
R – Eram terrenos, ali junto ao Clube, eram terrenos, eram umas chácaras antigas, e essa aí era de um (Cifese ?) e o genro dele, o Rubens, resolver fazer... Construir lá dentro, e começou, levantou esse prédio, que era só de três andares, sobre pilotis e com apartamentos. De fato era tudo simples, mas muito gostoso. E não sei, eu tinha ido com uma irmã ao Clube, a minha irmã dançando, a minha irmã: “Ah, vamos ver esse prédio aí? Eu estou cansada de onde nós moramos, porque você nunca tem onde encostar o seu carro”. Fomos ver, gostamos, falamos pros rapazes, não sei o porquê, eles ficaram interessadíssimos em nos vender, e aí, ela, além de mim, essa irmã, a Clélia, trabalhava na Caixa Econômica Federal, e ela trabalhava nessa parte de exame de documentos, para ver se podia dar financiamento ou não. E ela nos pediu tudo o que nós tínhamos de fazer, ela mesma falou com os Advogados, não tinha nada errado mesmo, e aí nós pudemos comprar o apartamento. Quando nós fomos pra lá não era nem calçada a rua, depois é que foi calçada.
P/1 – Que ano que era isso, a senhora se lembra, dona Guiomar?
R – Hein?
P/1 – O ano que era isso? Que vocês compraram esse apartamento?
R – O apartamento? Eu já digo para você.
P/1 – Foi depois da Segunda Guerra, né? Já tinha acabado a Guerra?
R – Foi, depois que já tinha acabado a Guerra.
P/1 – Ali tinha uma obra do Shopping Iguatemi também, não teve, depois?
R – Quando nós fomos para lá era um terreno fechado, que diziam que era do Matarazzo e tinha até uma jaula com uma onça lá dentro. Eram as coisas que corriam lá. Depois que nós estávamos lá, é que o Alfredo Matias resolveu fazer o Shopping.
P/1 – E a senhora se lembra da obra do Shopping?
R – Lembro. Era muito mais bonito, né. O Shopping era gostoso, você chegava em certos lugares você tinha vista para o fundo, era fresco, depois foi fechando, fechando, fechando, hoje em dia é como um outro qualquer.
P/2 – Vocês não chamavam de Shopping, né, Guio? Era Centro de Compras.
R – Isso eu não lembro não.
P/2 – Pelo menos a minha avó só chamava de Centro de Compras.
R – Agora a sua avó tem aquela coisa de não querer falar nome americano, né. Mas deixa eu ver o ano que foi isso (pausa). Foi, a Clélia casou em 39.
P/2 – Foi antes ou depois da viagem que vocês fizeram para a Europa, depois da Segunda Guerra?
R – Ah foi... Não, foi depois.
P/2 – Foi depois da Segunda Guerra
R – Depois nós fomos para a Europa, nós estávamos na Rua Barão de Tatuí, não é? É. Já estávamos na Barão de Tatuí, tanto que nós alugamos a casa para um casal, alugamos a casa com tudo e eles ficaram o tempo que nós ficamos na Europa, eles ficaram na casa. Eu acho que nós fomos para a Europa em 60.
P/2 – Em 40, em 48.
R – Em 48.
P/1 – Dona Guiomar, e porque a sua irmã não gostava de falar nome americano?
P/2 – A Jovina.
P/1 – A Jovina?
R – A Jovina era muito política, aliás, nós somos muito políticas. Ela, por exemplo, a Coca Cola entrou na casa da Jovina, olha, nem sei quando, porque Coca Cola não entrava na casa dela. E acho que aquela coisa de tudo... Que, aliás, era um perigo também um pouco, hein, mas você no fundo não tem nada em português, estão falando agora, como é que chama... Essa marca que vocês usam agora?
P/1 – Computador?
P/2 – Internet?
R – Vocês não dizem um nada que eu entenda, porque é delivery isto, aquilo... Hoje em dia ninguém mais diz (__), é delivery. Ah, eu não gosto disso. Nesse ponto o francês tem razão, o francês não admite, passa tudo para o francês e tem que falar o francês, que, aliás, eles precisam mesmo, que eles foram potência principal e hoje em dia não é.
P/1 – Mas a senhora estava dizendo que vocês eram muito políticas. Qual era o envolvimento que vocês tinham com a política?
R – Sabe, acho que começa com o meu avô, o pai do papai, era um republicano violento, e era republicano abolicionista. Ele como abolicionista ele fazia coisas incríveis para ajudar a soltar escravos e muito republicano até que quando reinventou a Guerra, a Revolução da Armada, no tempo de Floriano ele morava com papai, em Ribeirão Preto, a gente morava em Ribeirão Preto, ele sumiu de Ribeirão Preto, aí ele telegrafou, estava no Rio de Janeiro e ele ficou, ele era chamado de vovô, porque ele acabou ficando no Batalhão dos Acadêmicos e ele tem um título, tenho aí, dele quando se despediu de Floriano, Floriano perguntou o que ele queria. Ele disse: “Eu quero tudo o que eu usei aqui, a farda, tudo”. E de fato, Floriano mandou dar tudo, e... O que eu ia contar aqui...
P/1 – Por que vocês eram políticas? Que a família já vinha de uma tradição republicana.
R – Já tinha, do lado de papai, ainda tinha muita política, porque se gostava da política não propriamente fazer política, tomar logo partido, por exemplo, o dos outros o Forte, né. Imediatamente, menina, foi o Exército lá em casa, pelo 18 do Forte. E é assim, 70, não, 18 por 24, agora 24 foi São Paulo inteiro, viu, porque o que deu de Izidoro depois da Revolução de 24 não tem graça, minha filha, todo mundo tinha filho, punha Izidoro. O Izidoro ficou com uma figura assim meio mítica, sabe, e nós também.
P/1 – Se falava muito de política, então, em casa? Discutia muito.
R – Falava-se muito, muito, muito. Eu me lembro, eu meio menina, papai discutindo com o meu irmão Caetano, assim na mesa do almoço. Eu lembro perfeitamente, papai era do Hermes e o Caetano era Civilista, como chamava aquela... Quem era por Rui Barbosa chamava Civilista, e o papai era pelo Hermes, aliás, nunca vi um... Acho que foi o Presidente mais ridicularizado. Até hoje, e ele não fez nada para abafar. Isso eu acho que tem que ficar como um mérito para ele.
P/1 – Como que ele era ridicularizado, Guio?
R – Eu não gostava dele, ele ficou noivo também de uma mulher muito inteligente, mas que naquele tempo ninguém abria para ser.... Ele ficou um ano na (___), era uma Revista Careta, que fazia muita charge com ele, então... E tinha músicas, que na época a Clélia cantava, (_____), e eu nunca me esqueci dessa: “O Lulu é avarento, tem traseiro de jumento.” (risos). Era coisa pesada, nunca soube que tomasse uma providência, e depois é que veio o pessoal da... Não se podia tocar na farda, essa coisa de farda.
P/1 – E aí essa influência, influenciou as filhas também, de sempre acompanhar a política.
R – A gente fazia... O Lindolfo, o meu primo irmão, morava lá em casa e no tempo do... Depois da Revolução de 24 saíam umas coisas para serem dado conhecimento. Nós tínhamos, saíamos Lindolfo e ele rodava um poste, (___) e ela ...
P/1 – E depois mais tarde qual que era a posição da família, quando aconteceu Getúlio Vargas?
R – Não era a favor de Getúlio, não.
P/1 – Não?
R – Não. Olha, no caso do Getúlio, o democrático, o partido democrático, ele... Eu acho também que precisava derrubar aquela coisa de política do Café com Leite. São Paulo, Minas... Minas, São Paulo. Mas eles não foram muito felizes. Eles foram buscar o Getúlio, eu me lembro até fotografia, os Mesquitas, a turma do (__), tudo, com o Getúlio. O Getúlio chega aqui não dá um carro para o partido Democrático, põe o som aberto como um interventor em São Paulo. Aí também vem aquele sentimento: “São Paulo é dos Paulistas, por que baixar a crista? São Paulo é dos Paulistas, não sei o que baixa a crista.” Eu desci a rua XV de Novembro gritando isso, com minhas...Nós todas lá de casa, e iam até as Mesquitas, que eram aquele carretel também estavam na... A gente ia: São Paulo... O que é baixa crista, meu Deus? É dos baianos...
P/1 – Não vamos baixar a crista, porque não baixa a crista... Sei lá.
R – Baixa a crista, mas eu não sei quem é, pra quem que existiam... Eu estou ficando com a cabeça ruinzinha. Daí foi um tempo... E quando veio 32, não é... 32, foi todo aquele sentimento dos paulistas contra a Ditadura. Porque aí ficou a Ditadura mesmo. Aí eu me perco um pouco, porque antes de Getúlio, depois ainda houve outro golpe, né, depois da entrada do Getúlio, que foi 30, que ele faz a Polaca, como chamava, né, era uma Constituição completamente reacionária. E eu tinha de ler um pouquinho.
P/1 – E aí fica Estado Novo até 45, acho.
R – Até 45.
P/1 – Aí a gente pode parar daqui Dona Guiomar, para a senhora almoçar, e a gente volta outro dia.
R – Está bem, bem. Eu até aqui só tenho prazer.
P/1 – E aí eu queria retomar dessa história depois, como é que vem a história dos comunistas.
P/2 – Do partido Comunista, mas depois a senhora conta, da outra vez, tá?
R – Ah, tá.
(FINAL DA GRAVAÇÃO)Recolher