Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Mauro Araújo
Entrevistado por Márcia de Paiva
Campo Marlim Sul – P-38, 27 de janeiro de 2005
Código: Entrevista: UN Rio – número 2
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Alice Silva L...Continuar leitura
Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Mauro Araújo
Entrevistado por Márcia de Paiva
Campo Marlim Sul – P-38, 27 de janeiro de 2005
Código: Entrevista: UN Rio – número 2
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Alice Silva Lampert
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Mauro Roberto Manhães de Araújo. Nasci em 20 de maio de 1966 em Itaperuna, Rio de Janeiro.
P/1 – Mauro, conta para a gente como é que foi o seu ingresso
na Petrobras?
R – O meu ingresso na Petrobras se deu em 1985. Eu tinha acabado a escola técnica, o segundo grau. Curso técnico. Já tinha dois irmãos trabalhando na empresa. Tenho até hoje. São duas, eu mais dois irmãos. E assim que eu peguei o Certificado de Reservista fiz um concurso, tinha 18 anos. Primeiro concurso que eu fiz eu entrei.
P/1 – Seus irmãos...
R – E eu estou até hoje.
P/1 – Seus irmãos eram mais velhos?
R – Mais velhos.
P/1 – Já trabalhavam? O que é que eles falavam da Petrobras? O que é que fez você ter vontade de entrar na Petrobras?
R – Eles, era a oportunidade que tinha na região, digamos, na época, o grande emprego, o bom emprego na época – e acho que ainda hoje é – a Petrobras. Então o que atraiu foi isso. A gente vem de uma família de classe média baixa. O meu pai é ferroviário, mãe professora. Era a oportunidade que tinha para você, digamos assim, fazer alguma coisa de bom na vida. Em termos de estabilidade, segurança. Em termos de construir família e tudo. Foi isso que atraiu.
P/1 – E quando você ingressou na empresa, onde você foi trabalhar exatamente?
R – Bacia de Campos.
P/1 – Não, você já veio direto para cá?
R – Bacia de Campos,
P/1 – E foi...
R – Fiz um treinamento na Bahia de 35 dias inicial. Ainda como bolsista em 1984. Em janeiro de 1985 quando eu entrei, assinei a Carteira de Trabalho e já embarquei, cinco dias depois.
P/1 – Você embarcou para que plataforma?
R – A primeira plataforma que eu embarquei foi Namorado II.
P/1 – Namorado 2.
R – Isso.
P/1 – Era uma plataforma fixa?
R – Fixa.
P/1 – E aí você trabalhou esse tempo todo então aqui na Bacia de Campos?
R – O tempo todo na Bacia de Campos. Então a única, o único tempo que eu fiquei fora assim, não embarcando, foi o tempo desse projeto aqui. Que acompanhei ali 8 meses em terra. No Rio de Janeiro, na época do projeto.
P/1 – Esse projeto da reforma...
R – Da P-38.
P/1 - ...da P-38.
R – E três meses em Cingapura. Que eu fui em missão internacional. Fiquei três meses fora.
P/1 – Acompanhando...
R – A montagem. A parte final da montagem deste navio.
P/1 – Também deste navio.
R – Hum, hum.
P/1 – E fora, você falou também que trabalhou em Namorado, conta um pouco então por onde você foi passando.
R – É, o primeiro ano eu rodei algumas plataformas, que era o período de estágio. Na época, eu era perfuração. Aí rodei Namorado I, Namorado II, Anchova. Basicamente. Depois eu fiquei muito tempo em Namorado II. Depois que eu saí da área de Perfuração e vim para a área de Manutenção, Instrumentação especificamente eu fiquei 15 anos em Namorado II.
P/1 – 15 anos? Um bom tempo.
R – É. Eu saí de lá vindo direto para este projeto. Então basicamente eu trabalhei, eu fiz agora em janeiro, no dia 7, 20 anos de empresa.
P/1 – Nossa.
R – 20 anos de embarcado, e trabalhei basicamente em duas plataformas: Namorado 2 e P-38. P-38 eu estou há 3 anos, desde que começou. E Namorado II eu fiquei 15 anos. Mais o tempo do projeto. O primeiro ano só que eu rodei. Foi o período de estágio. Depois que eu caí em um lugar, eu fiquei.
P/1 – Você se lembra da sua primeira experiência de embarcado, como é que foi?
R – Lembro, foi meio assustador assim. Porque eu cheguei e o pessoal me colocou para trabalhar a noite. E era um serviço de perfuração. Na época tinha uma, era uma pescaria. Que era um serviço fora do normal. E a sonda estava muito suja, muito...
P/1 – A pescaria é o que?
R – É quando você está fazendo um trabalho de perfuração, tem um tubo que vai profundidade dois, três mil metros. E esse tubo se rompe. Por algum motivo ele fica preso. Então você tem que descer uma ferramenta especial para tentar pescar para trazer essa parte da tubulação ou de alguma ferramenta especial que ficou dentro do poço.
P/1 – E aí você tinha que fazer essa pescaria de noite?
R – É, de noite. O trabalho era turno ininterrupto. Tinha então uma turma que trabalhava das 7 às 19 horas, e outra das 19 às 7 horas. E eu de cara já fui para 19 às 7 horas. Então já foi a primeira noite logo, pegando serviço pesado. E durante a noite inteira choveu. Então o primeiro dia, o primeiro contato foi: “Caramba, o que é que eu vim fazer aqui?” [risos]. Foi meio assustador assim.
P/1 – Isso você tinha quantos anos?
R – 18.
P/1 – 18 anos. E não, e tinha trote? Como é que era também?
R – Na realidade, nesse primeiro embarque não teve nem tempo de ter trote. Porque era tanto, a coisa estava tão tumultuada. Depois eu passei por alguns trotes, sim. Mas eu passei mais só quando eu saí da perfuração para a produção. No primeiro ano o serviço era muito corrido.
P/1 – Então você começou primeiro com a parte de perfuração.
R – Isso.
P/1 – Depois que você foi trabalhar...
R – É, só fiquei um ano na perfuração. Depois eu vim para a produção.
P/1 – E você escolheu, pode, ou você mudou? Como é que foi mudar?
R – Não, na verdade, na perfuração eu não escolhi não. Eu fui meio que sem saber para onde estava indo. Que eu fiz concurso para produção, me jogaram para a perfuração. Não me disseram o porquê. E eu fui sem saber. Na época, meus irmãos estavam embarcados e eu não tive oportunidade de tirar dúvida com eles. Agora, quando eu voltei para cá, que eu fui para a área de manutenção, foi concurso interno. Foi concurso interno e externo. Na verdade o primeiro concurso que eu fiz podia ter segundo grau só. Não precisava de curso técnico. Que logo depois eu fui, com oito meses de casa eu fiz um concurso para a parte de instrumentação. Que era a formação técnica que eu tinha. Aí passei, esperei ainda quatro meses e mudei de função. Uma promoção praticamente.
P/1 – E você preferiu vir para a produção?
R – Era melhor, em termos de tudo. Em termos de trabalho, o trabalho era mais técnico. Ganhava mais. Era bem melhor.
P/1 – Mauro, e teus irmãos trabalham também embarcados aqui na Bacia de Campos?
R – Também embarcados na Bacia de Campos, até hoje.
P/1 – Eles estão aonde?
R – Eu tenho um irmão que está em PNA-2. A gente trabalhou muito lá, muito tempo.
P/1 – Está aonde? Perdão.
R – Namorado II.
P/1 – Namorado II.
R – Ele está lá até hoje. Já tem fez 20 anos, ele fez 21. E eu tenho um irmão mais velho que já deve estar com 24 anos de empresa. Esse não tem plataforma fixa. Que ele não trabalha na parte de produção. Ele trabalha na parte de exploração. Então trabalha muito com navios, com sondas móveis. Então cada hora ele está em um lugar. Mas está até hoje também embarcado.
P/1 – Mas também aqui pela bacia?
R – Bacia de Campos também.
P/1 – E o que é que você, por exemplo, você quando entrou, você sabia já alguma coisa dessa ideia, desse projeto grande da águas profundas da Bacia de Campos? O que é que você...
R – Não, quando eu entrei, na realidade, o que eu sabia é que era uma oportunidade de um bom emprego. Era isso que eu sabia.
P/1 – Era isso que você sabia.
R – Era o que eu queria, ter oportunidade de ter um salário bom. E então na verdade não se tinha muita noção. Porque o que a gente, em Campos tinha muita gente da Petrobras, mas externamente, quer dizer, eles não conversavam muito do que é que era o trabalho aqui dentro. Eles conversavam mais do que é que era a folga. Na época era 14 por 14. “Ah, a folga é assim, [risos] a gente tem dinheiro, dá para comprar carro, dá para comprar casa”. Então era o que...
P/1 – E quando você foi tendo essa noção assim, você foi se enfronhando e sabendo das...
R – É, eu cresci, amadureci como profissional e até como ser humano dentro da empresa. Eu comecei com 18 anos, não podia ser diferente. Fiz faculdade embarcando. Depois.
P/1 – Você fez faculdade de quê?
R – Matemática. Fiz depois de alguns anos aí embarcando comecei a fazer. E administrando folga, embarque, fazendo prova em segunda chamada. Quer dizer, aí que eu fui, a princípio era mais a necessidade de emprego. Era entrar no mercado de trabalho, que era o que todo mundo que tinha feito curso técnico queria, né? Quer dizer, em 1985 já tinha o desemprego. O desemprego já era grande no país. E todo mundo almejava. Ou era Banco do Brasil...
P/1 – Ou...
R - … Petrobras e Caixa Econômica. Era o que todo mundo queria. E na época eu não tinha condição assim de fazer uma faculdade. Não tinha como fazer uma universidade paga porque eu não teria quem na verdade bancar isso para mim. Meus irmãos também estavam começando a trabalhar na época. Tinha todo um... Então, depois que eu fui aprendendo o que é que era a Petrobras. Aprendi a ser profissional aqui dentro. Amadureci mesmo como ser humano aqui dentro. E até essa coisa do orgulho de águas profundas, isso, na época, a gente não tinha noção disso. A gente foi...
P/1 – Isso foi crescendo também, né?
R – Foi crescendo.
P/1 – Você cresceu junto com a Bacia de Campos.
R – Exatamente. Até porque ela foi batendo recorde depois que eu já estava na empresa. Esses recordes não são de 20 anos atrás. Eles são mais recentes. 15 anos, por aí, atrás. Então, a gente, eu fui crescendo, praticamente, junto com a empresa. Na época que eu comecei, eu lembro de quando a gente bateu o recorde de 500 mil barris. Não lembro a data. Foi muitos anos atrás, mas foi comemorado. Hoje já está com mais de um milhão de barris. Já está se falando em autonomia para 2006, 2007. Então essa visão fui adquirindo no decorrer do tempo. Não tinha essa visão quando eu entrei.
P/1 – Mauro, você é sindicalizado.
R – Sou sindicalizado.
P/1 – Você, desde que entrou, desde quando?
R – Desde que entrei. Desde que entrei. Eu acho que foi um ou dois meses depois. Só aquele tempo de trâmite burocrático mesmo. Logo, assim, eu fui sindicalizado.
P/1 – Você chegou a participar de alguma reivindicação?
R – Participei.
P/1 – Ou no próprio sindicato?
R – Participei, bastante, até 1995. Que foi praticamente a última greve que a gente teve. Foi no governo Fernando Henrique. Foi a greve de 30 dias. Agora que o sindicato conseguiu que a gente tivesse a reposição dos dias que foram descontados na época. Inclusive de férias que a gente perdeu. Perdeu direito a férias porque se considerou a greve ilegal. Participei bastante disso. De 1989 até 1995. Na época que a gente entrou na empresa na verdade não se falava em greve [risos]. As primeiras manifestações eram engraçadas. Porque era greve de fome que se fazia [risos]. Era greve que não levava ninguém a lugar nenhum. E era um negócio até que meio que ridículo assim. Se fazia greve de fome para, greve de protesto, né?
P/1 – Isso lá na própria plataforma?
R – Embarcado, embarcado. E depois a gente começou a fazer umas paralisações. Parava serviço de manutenção. E depois a gente começou a fazer paralisação mesmo de produção. Mas isso já foi 1990, 1992. E a greve maior que teve, que eu me lembro, foi 1995. Foram 30 dias com parada de produção, ocupação de plataforma. Que foi quando o governo Fernando praticamente desmobilizou o sindicato por um bom tempo. Que ele multou o sindicato, descontou um mês de salário de quem fez greve. Aí quebrou tudo. Demitiu diretor do sindicato na época. Que era uma coisa até...
P/1 – Você chegou a participar? Teve algum cargo no sindicato?
R – Não, no sindicato não. Eu participei ativamente, assim, na unidade que eu trabalhava. Que era Namorado II. Participei ativamente lá do movimento da categoria, mas não tinha nenhum cargo formal. Nunca fui dispensado de minhas funções para ser diretor do sindicato.
P/1 – Tem alguma, é diferente a manifestação em uma plataforma de uma manifestação em terra?
R – É bem diferente, quer dizer, eu imagino que seja diferente. Que na verdade eu nunca participei de manifestação em terra. Mas na manifestação em terra, quando a pessoa faz a manifestação no portão da empresa para fora, de uma certa maneira ela está com… tem acesso a familiar, tem tudo. A manifestação dentro da plataforma, como todo trabalho dentro da plataforma é mais complicado, porque você não deixa o trabalho e vai para casa. O trabalho, você está dentro do trabalho. Você dorme dentro do trabalho, come dentro do trabalho, toma banho dentro do trabalho. Então quando você está em uma situação de revê, que é uma situação tensa, você fica naquela tensão 24 horas por dia. Você não vai para casa. Não fica do lado da família. E a família fica de lá preocupada, ligando e você… é complicado, a tensão é grande assim. É bastante...
P/1 – Mauro, que é que você faz nas suas horas de lazer aqui, quando você está embarcado? Aqui dentro?
R – Aqui dentro eu gosto muito de karaokê, a gente vem até a sala de karaokê, que é essa. A gente vem para cá, monta o karaokê, canta aí. Vejo filme. Os canais a cabo. Fico no quarto vendo televisão. Ou fico batendo papo. Geralmente é isso que eu faço no horário de lazer.
P/1 – E você tem, poderia me contar uma história engraçada? Mas você também não participa das cantatas? Quando eles fazem festa, fazem...
R – A gente sempre participa. A gente sempre faz festa, sempre tem participação. Toda data festiva a gente procura, para de uma certa maneira aliviar o fato de você estar perdendo o convívio da família, você fazer alguma comemoração aqui dentro. Natal, você tem comemoração. No Ano Novo você tem comemoração. É lógico, é limitado, porque você, a gente tem que trabalhar. A unidade tem que continuar produzindo. Então a gente faz alguma coisa. Aniversário. Aniversariante da semana. Sempre tem uma festinha no refeitório. Chega lá nove horas, tem bolo. A gente canta o parabéns, reúne os sete aniversariantes, sei lá, daqueles sete dias e faz uma comemoração. Então a gente sempre participa. E sempre tem piada. Porque aqui o bom humor tem que ser constante. Acho que é uma característica até do povo brasileiro. Então a gente sempre está brincando um com o outro, rindo com o outro ou do outro. A gente está sempre brincando.
P/1 – Tem uma camaradagem entre a turma?
R – É, tem. A gente acaba se afeiçoando assim às pessoas. Porque você convive aqui, você vê o colega passar o problema de família que você também, de repente, já teve. Aí um se abre com o outro. Você sempre escolhe aquelas pessoas que você tem mais afinidade. Então é uma relação bem particular. Relação profissional, mas ela é bem particular porque ela acaba excedendo os limites do profissionalismo, digamos assim. Até a relação que a gente tem tanto com o subordinado da gente quanto às vezes com o gerente, ela acaba sendo uma relação, ás vezes, um pouco paternalista. Em determinado momento - porque tem hora que você percebe claramente que a pessoa muda um pouco o padrão de comportamento -, aí você chama: “O que é que está havendo?”. Aí o cara vai, se abre. Às vezes ele está com problema de doença na família, está com problema de relacionamento na família. Ou com esposa, ou com filho, ou com pai, ou com mãe, ou com irmão. Ou um problema financeiro. E às vezes é difícil você, daqui, administrar isso. Então a gente sofre um pouco mais. Porque quem trabalha em terra, se ele tem um problema qualquer em casa, você eventualmente você fala assim: “Olha, eu vou precisar ir para casa. São três horas da tarde eu tenho que resolver um determinado assunto, eu vou”. “Ah, meu filho está na escola, se machucou, eu vou lá”. Você sai do trabalho. Aqui a gente não tem como fazer isso.
P/1 – Hum.
R -
Então você, no que chega notícia e até que você saiba qual o resultado final, você fica aqui na apreensão, sabendo de tudo por telefone, quando dá. Porque às vezes também não dá para saber por telefone. Então é bem difícil assim. É bem particular a relação.
P/1 – Você poderia me contar alguma história desses seus anos de embarcado? Alguma que tenha te marcado? Ou uma que seja engraçada? Você decide que tipo de história você quer contar. Escolhe uma história para me contar. Pode ser engraçada, pode ser a que tenha te marcado.
R – É, tem várias histórias assim. A que me ocorreu agora é uma história até meio triste. Porque lembrei de um colega que tinha um pai que estava com problema de câncer. E ele não tinha como acompanhar. Ele - o pai dele -
estava naquela situação de terminal praticamente, e ele tinha que manter o embarque dele. Ele não tinha como pegar licença. Então ele embarcava junto com
a gente, a gente percebeu que ele mudou o comportamento: “Pô, Fulano está diferente, está nervoso. Está dando patada em todo mundo”. Até um dia que a gente...que ele parou, ele estava assim no corrimão. Aí eu parei perto dele assim e ia puxar assunto quando eu reparei que ele estava chorando. “Pô, o que é que está havendo?”. Aí esperei. Fiquei um pouco do lado ali...
[pausa]
P/1 – Aí você estava contando a história.
R – É que...
P/1 – Ele parou para conversar com você.
R – Ele parou para conversar comigo, aí ele se abriu. Ninguém na plataforma na verdade sabia que o pai dele tinha câncer e que estava assim, em fase terminal. Estava consciente ainda. E de uma certa maneira até pior. Porque estava sofrendo bastante. Aí se abriu, chorou lá. Falou que se despediu do pai. Toda vez que ele ia embarcar ele não sabia se no meio do embarque ele ia ter que descer para uma emergência qualquer. E aquela história me marcou bastante, assim. Porque a gente ficou um tempo convivendo com ele, achando que ele estava ranzinza e tal. Dando patada em todo mundo. E na verdade o cara estava com um problema sério na família. E foi muito assim, como ele era uma pessoa forte, bastante fechada, foi marcante ver a situação que ele estava. Que ele estava passando. A gente tem sempre várias histórias emocionantes, engraçadas, tristes, mas agora me ocorreu essa, sim. Talvez até por eu ter perdido meu pai há pouco tempo. Foi em novembro. Mas felizmente eu tive chance de dizer tudo o que eu tinha que dizer para ele. A gente se despediu e eu sabia que ele tinha problema de saúde. Então a vida de embarcado ela é assim, bem peculiar. A gente tem que levar com bom humor o convívio aqui. Por quê? Justamente por causa dessas coisas. Às vezes um colega, ele sai um pouco do caminho e a gente tem que: “Não, agora é hora dele, deixa ele falar alto, deixa ele desabafar aí, porque deve ter algum problema”. Aí depois com mais calma a gente: “Vem cá, pô. O que é que houve? Por que você falou daquele jeito? O que está havendo?”. Tem sempre umas histórias assim de um, de solidariedade mesmo e de convívio. De apoiar, de ser solidário, ser amigo.
P/1 – Mauro, e sua esposa, já pôde vir visitar aqui com você? Como é que é?
R – Ela veio. Ela veio antes. A gente tem oito anos de casado. Ela veio antes da gente casar, a primeira vez, e depois veio mais duas vezes. Não estou nem querendo que ela venha mais, porque eu fico preocupado com o helicóptero [risos]. Mas ela esteve aqui no ano passado, 2004. Acho que foi início de 2004. Ela, ela...
P/1 – Aí pode dormir? Como é que funciona?
R – Não, na visita familiar, eles vêm, por exemplo, em uma sexta-feira para Macaé. No sábado, aí, tem uma reunião, tem uma preparação com psicólogo. Reúnem lá todos os familiares. Eles fazem toda uma dinâmica lá, o que é que vão perguntar. E depois vêm para cá e passam o dia com a gente. Vêm de manhã, a gente dá uma volta pela plataforma para conhecer a parte de acomodação, até a parte industrial também. Almoça, fica um pouco a tarde e vai embora no mesmo dia. Até porque eles não têm essa preparação toda de salvador, fica todo tempo um familiar acompanhando. É bacana porque dá...não dá a exata dimensão do que é que é o confinamento, né? Porque de uma certa maneira o familiar também fica confinado só que lá fora. Porque...
P/1 – Um outro tipo de confinamento.
R - ...é o confinamento do relacionamento. Filho fica longe, família, mãe. Então já trouxe minha esposa várias vezes.
P/1 – Como é que é o nome da sua esposa?
R – Vitória. Eu já trouxe ela, já veio três vezes. Duas vezes depois de casada e uma vez antes. E a visita familiar é de uns 15, 10 anos para cá, a Petrobras estabeleceu essa visita familiar na bacia, que é bastante positiva. E às vezes consegue de 2 em 2 anos, de 3 anos até repete. A gente tem chance de trazer de novo. Ela já veio.
P/1 – Tá. Mauro, eu queria perguntar o que é que você achou da iniciativa da Petrobras e do Sindicato estarem fazendo esse projeto, e se você gostou de estar participando?
R – Eu achei bacana. A empresa é os empregados. O maior patrimônio da empresa eu acho que é o que ela tem de trabalhador que agrega valor. Ou direto ou indireto. É isso que forma a empresa. Achei bastante interessante, sim. Gostei de ter participado.
P/1 – Então tá, Mauro. Queria agradecer a sua participação. Você ter vindo aqui colaborar com a gente. Obrigada.
R – Obrigado. Eu é que agradeço.
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