P1 – Marcos, eu vou pedir pra você falar seu nome, local e data de nascimento.
R – Marcos David Silva Machado de Carvalho, nasci dia 13 de janeiro de 1967, e aqui em São Luís, Maranhão.
P1- Seus pais são de onde?
R – São de Coelho Neto, Maranhão, interior daquele estad...Continuar leitura
P1 – Marcos, eu vou pedir pra você falar seu nome, local e data de nascimento.
R – Marcos David Silva Machado de Carvalho, nasci dia 13 de janeiro de 1967, e aqui em São Luís, Maranhão.
P1- Seus pais são de onde?
R – São de Coelho Neto, Maranhão, interior daquele estado.
P1 – E como é que eles vieram parar aqui, em Maranhão, São Luís?
R – Vieram desde pequenos, para estudar, os pais trabalhavam aqui, vieram estudar, e tal, aí vieram pra cá. Meu pai é representante comercial...
P1 – Vamos lá, seus pais são de?
R – Coelho Neto, Maranhão, interior.
P1 – Vieram pra São Luís?
R – Pra estudar e trabalhar. Meu pai era representante comercial, minha mãe veio pra estudar, terminando se conhecendo e casando (risos).
P1 – Você sabe um pouco, assim, as origens da sua família, seus avós?
R – Sei, sei, sei.
P1 – Tem algum imigrante?
R – Não, imigrantes, imigrantes, não. São todos eles brasileiros, moravam, a minha família, esse interior, Coelho Neto, foi fundada pela minha família. Agora, a minha família ela tem, depois lá, dos meus bisavós pra cá, ela enraizou, tem em São Paulo, tem Rio de Janeiro, tem em vários locais do Brasil. Na verdade, o meu pai é o único que ainda mora aqui no Maranhão, é o meu pai, o restante todo já mora no Sul do país.
P1 – Bom, aí você nasceu aqui em São Luís?
R – Nasci aqui em São Luís.
P1 – Quantos irmãos?
R – Quatro, eu e mais quatro.
P1 – Como é que era, em que lugar que você morava?
R – No bairro Coroado, Coroado tem em todo lugar, então, sempre, 100% Coroado, como diz todo mundo.
P1- Como que é esse bairro?
R – É legal, fantástico, gente bacana, gente boa, classe média baixa, classe média média. Todo mundo se divertia, brincava de bola, papagaio, que vocês chamam lá pipa, papagaio, peteca, brincadeira sadia, muito bom.
P1 – E você entrou com quantos anos na escola?
R – Comecei com cinco anos de idade, normal.
P1 – Oi...
R – Sim, aí só, a minha infância foi muito boa, né? Tranqüila, tenho saudade da minha infância aqui em São Luís, brincadeiras de rua, hoje em dia não se pode mais brincar nas ruas, é violência, trânsito, e tal, o ambiente era muito bom.
P1 – E aí você, e como que eram os seus irmãos em casa, o convívio familiar?
R – Na verdade, essa relação minha com meus irmãos é mais como uma, é uma coisa, foi, foi muito bom a experiência que a gente teve, porque meu pai viajava, ele era representante, viajava na segunda, só retornava na sexta-feira ou no sábado. A minha mãe estudava, então minha mãe fazia faculdade, hoje ela é formada, na época ela fazia faculdade. Então, quando ela saía de manhã, era aquela questão, os mais velhos iam cuidando dos mais novos, então, quando minha mãe saía de casa, deixava mamadeira pronta para os mais novos, aquela coisa, pronta. Agora, os mais velhos faziam a comida, faziam, faziam, arrumavam a casa, então, quando ela chegava, meio dia, já estava a casa arrumada, comida pronta, então, lá em casa todo mundo tem, hoje em dia todo mundo assim, é unido, os irmãos, por causa disso, um cuidava do outro. Eu sou o do meio, acima de mim têm dois, abaixo têm dois, então já é dizer, já não podia mexer com panela, com comida, e tal, porque os irmãos mais velhos já faziam essa parte. Então, eu que era o mais, digamos assim, o do meio, já podia ajudar, já ajudava a brincar com os mais novos, já ajudava, arrumava uma casa e tudo o mais. E à tarde a gente estudava, e à noite era o período que minha mãe estava em casa, botava a gente pra estudar, pra sentar, e tal, tudo mais. E, graças a deus, vamos dizer, hoje eu tenho um irmão que trabalha aqui na Vale do Rio Doce, tenho outro que mora em Goiânia, que está se formando também, em Análise de Sistemas, e a outra irmã também, está se formando também, graças a deus, por causa desse relacionamento e dessa educação que nós recebemos, que se colheu bons frutos. Eu tive oportunidade também, de me formar há dois anos atrás, fiz o meu curso superior, me formei também. E, graças a deus, não...
P1 – Em que ano que você entrou na Vale?
R – Eu entrei na Vale em 85.
P1 – Como que você entrou, como é que você ficou sabendo...?
R – Eu entrei na, essa seria até basicamente a história que eu iria contar, é a história, “como eu entrei na Vale do Rio Doce.” Eu entrei na Vale do Rio Doce, logo após o término do meu curso técnico, eu terminei meu curso em 84, e em 85 eu entrei na Companhia Vale do Rio Doce, precisamente no dia 3 de janeiro, que é o dia de meu aniversário, eu vim deixar os meus documentos aqui na Companhia, aquela coisa toda, tudo mais. Eu vim com carteira de identidade, com carteira de trabalho, com currículo da escola, aquela coisa toda, tudo o mais, e eu só vim com o dinheiro da passagem de ida e volta, e mais nada, só com aquele dinheiro mesmo. Então, quando eu cheguei aqui na porta da Companhia, aí a pessoa que recebeu, eu me lembro bem do nome dela, Ana Maria, recebeu meus documentos, conferiu tudinho, quando ela viu que era o dia do meu aniversário, ela disse: “Está faltando o CPF, tem que ter o CPF”, aí bom, eu só estava com o dinheiro de volta. Aí eu peguei o ônibus, na época, fui até a Receita Federal, chegando lá tinha que pagar uma taxa, na época era 3.000 Cruzeiros, e eu não tinha esse dinheiro, não tinha mais nada, já não tinha mais nada. Aí eu fiquei na porta e nas ruas vigiando carro, fiquei ali vigiando carro pra conseguir o dinheiro pra pagar a taxa.
P1 – Você já tinha feito isso na vida?
R – Nunca tinha feito isso na vida (risos). Então foi bem isso, fiquei ali na porta, ali vigiando carro, até conseguir o dinheiro, quando eu consegui os 3.000 Cruzeiros, na época, que era, acho hoje que valia uns 13 reais mais ou menos. Aí eu entrei correndo lá na Receita Federal, dei entrada, recebi aquele cadastro de CPF provisório, aquele papel provisório, batido à máquina ainda, aí vim de lá da Receita Federal até a Vale do Rio Doce à pé. Isso dá uns cinco quilômetros aproximadamente, aí vim à pé, cheguei aqui três horas da tarde, com fome, suado, cansado, aí entreguei, cheguei aqui e entreguei para a Ana Maria, entreguei para a Ana Maria, ela disse: “Ah, agora está certo.” Aí me deu a requisição dos exames médicos, aí eu vim, peguei a requisição do exame médico, fui para, cheguei em casa nesse dia à noite, porque aí fui da Vale do Rio Doce pra casa à pé, esse percurso hoje é uma média de 15 km, aí eu retornei pra casa à pé. Chegando lá exausto, cansado, e tal, minha mãe não estava em casa, o meu pai estava viajando, aí eu fui contar a história toda que tinha acontecido, aí descansei. Aí, no dia seguinte eu fui fazer o exame de fezes, exame de fezes, urina, e tal, tudo o mais. Naquela época, 85, não tinha coletor, que é esse coletor que se botava pra fazer as amostras, o vidro que eu achei em casa foi um vidro de Cebion, e antigamente a gente fazia, botava na geladeira, e no outro dia você levava para o laboratório; botei na geladeira, no dia seguinte enrolei num saco ali tudinho, e fui para o laboratório. Quando eu cheguei no laboratório, que botei o vidrinho de Cebion em cima do balcão, foi um estouro, bum!!!, a tampa foi parar, a tampa parou lá no céu (risos). Cheio de gente lá no laboratório, aí começou aquele odor, aquela coisa toda, todo mundo olhando, a menina do balcão bonitinha, eu com uma vergonha... (risos) Eu com uma vergonha enorme lá, procurando a tampinha, até que achei, tampei a tampinha, botei, entreguei pra ela de volta, e tal... Aí recebi o resultado dos exames, vim fazer a, entreguei a documentação toda, e tal, fui admitido como estagiário. Na época eu fui pra Açailândia, que é um município daqui do Maranhão onde a Vale do Rio Doce atua, fui lá e fiquei estagiando. Com três meses que eu estava lá, eu estava num... a gente morava num alojamento que a Vale tinha, um acampamento, com três meses eu cheguei do expediente, estava tomando banho, estava tomando banho e cantando, eu me lembro bem a música, “Porto solidão”, do Jessé, quando de repente ouço um grito: “Aaaaah!!!”, no quarto do lado, sabe? Aí eu parei, pensei que fosse o chuveiro, ou alguma coisa, e tal; quando eu saio para o lado de fora, tinham duas funcionárias da Vale do Rio Doce, a Madalena e a Antônia, do lado de fora, assustadas, nervosas. Aí eu perguntei o quê era, aí disseram que era um sapo, “era um sapo, um sapo!”, aí eu entrei todo valentão no quarto lá, peguei um chinelão 41 que eu tinha lá, e tal, aí entrei no quarto lá pra tentar matar o sapo. Quando eu chego lá, não vi sapo, não vi nada, mas, mesmo assim, eu peguei o chinelo e comecei a dar pelo chão, pá!, pá!, pá!, batendo no chão, quando eu voltei lá fora, aquele ar de valentão, aquela coisa toda, aí eu digo, falei que tinha matado: “Não, eu matei, acabou, matei, joguei fora...”, pá, pá, e tal, tudo o mais. Aí essa pessoa, uma dessas pessoas, a Madalena, que é funcionária da Vale do Rio Doce, aí a gente saiu nesse mesmo dia, num restaurante pra jantar, a gente se conheceu, ela trabalhava aqui em São Luís e viajava para o trecho para estar aplicando provas. Três meses depois disso eu vim pra São Luís, aí fui trabalhar no CCO, fui o primeiro estagiário do CCO a pegar turno, a trabalhar com o turno, nesse mesmo ano eu fui admitido, eu fui admitido e comecei a namorar com essa pessoa, que nesse dia eu tinha salvo ela de... ter matado o sapo.
P1 – Ai, que lindo!
R – Casei com ela, ela trabalhava na Companhia, ela trabalhou naquela companhia, a gente se conheceu, casou. Na época a Istoé, a Istoé, eu até tenho uma, a edição, a Istoé fez uma questão sobre a questão de casamento de empresa, pessoas que se conhecem na empresa e se casam, casam e tudo o mais.
P1 – Você tem essa matéria?
R – Eu tenho essa revista, saiu, até mandei...
P1 – Você não quer trazer pra gente, não, segunda-feira?
R – Vou trazer. Eu até mandei essa revista, uma materiazinha, saiu o meu nome lá na Istoé, e tal, tudo o mais. Aí, hoje a gente tem dois filhos, tem dois filhos lindos, maravilhosos; ela saiu da Vale em 85, saiu da Vale em 85 pra montar uma microempresa, montou essa microempresa, hoje ela trabalha por conta própria. Eu trabalhei na Vale até março, agora, de 2002, trabalhei até março de 2002, saí, estou numa prestadora de serviços, estou por conta aqui na Vale do Rio Doce e, vamos dizer, eu saí num momento bom, saí num momento fantástico, e também entrei, essa experiência que eu lhe falei. Então, pra mim é (inaudível) na Vale do Rio Doce...
P1- E aquela história que você falou, do...
que foi à pé até Carajás?
R- Não, essa aí é uma outra, é um outro colega nosso...
P1-
Me conta, me conta...
R – É outro colega nosso. Na época da implantação, estavam colocando a... passando a linha, estavam passando a linha e tudo o mais, então, eles estavam sinalizando, eles estavam sinalizando os circuitos de via, porque quando o trem passa, ele vai mandando uma informação para o CCO, para o painel, então, daqui de São Luís a pessoa tem como ver onde é que o trem está, então, aquilo ali é um sinal elétrico colocado no _______, tal e tudo o mais. E essa pessoa foi medindo a resistibilidade do solo, porque aquilo tudo tem que ser aterrado, então, essa pessoa saiu com um rolo de fio de 60 metros, três hastes de cobre, um martelo e um termômetro na mão. O que é que ele fazia? Ele foi à pé de São Luís a Carajás, parando de um em um quilômetro, onde ele batia as estacas, né, e media, botava o instrumento lá, media a resistibilidade do solo, media, anotava, depois tirava tudinho, juntava e ia mais na frente. E assim ele foi do Km 0 até os 890, medindo...
P1- Quanto tempo ele levou?
R – Olha, pelo que ele me falou, foi dois meses e tanto.
P1- Ele vai dar depoimento para a gente.
R-
Vai dar depoimento, eu pedi pra procurar vocês.
P1 – Como é o nome dele?
R – Valdinei, vulgo Bob. Pai da Dandara, da Janis Joplin e tem uma cachorra chamada Sharon Stone (risos). É uma figura, é uma figura o cara! (risos)
P1 – Obrigada, hein, foi ótimo.
R – Obrigado a você.Recolher