Eu tive um casal de filhos – Lucas e Antonia. E ele estava trabalhando lá no armazém de Zotti André e viu a mulher passando. Eu já tinha falado pra ele que eu queria arranjar uma menina, porque era só eles dois, assim na hora que eles casassem, eu não ficaria sozinha. Ele falou: “Ah mãe, eu não aconselho a senhora pegar menina, dá muito trabalho, é muita preocupação. Não pega menina, não, se eu achar um menino eu pego pra senhora”. Eu falei: “Uai, mas menino cresce, vai pra rua, me deixa sozinha, no que menino me ajuda dentro de casa? Eu não quero menino, não”. Mas ele ficou com dó de ver a dona passando com o menino no braço. Um sol quente, o menino chorando. Era ele, né? O menino chorando, ele ficou cortado de dó. Ele falou: “Gente, minha mãe tá doida pra arranjar um menino, vou pedir se ela dá o menino pra ela, né?”. Saiu da onde ela morava, foi morar lá na Barriguda, na casa de um irmão dela, e o menino adoeceu de uma diarreia, uma febre, ela disse que passou a noite com o menino no colo esperando ele acabar, de tão ruim que ele estava. Ela falou: “Gente, eu não tenho condições de tratar desse menino, meu filho vai morrer à mingua, que eu não tenho condições de tratar dele”. Aí lembrou que o Lucas tinha pedido, né? E ela foi lá falar comigo, ver se nós queríamos ficar com o menino. Eu falei: ““A hora que Honório vir almoçar, eu falo com ele, se ele aceita”. Aí quando ele chegou eu falei pra ele. Ele falou: “Eu por mim não pegava porque a primeira vez ela achou que nós não tinha condições de criar filho dela, mas vocês é que sabem”. E os meninos doidos que pegasse, o Lucas mais a Antônia, eram doidos com o menino. Quando eu subi de lá, já passei lá na porta. Ela estava sozinha dando banho no menino pra sair pra rua pra entregar pra qualquer pessoa que ela encontrasse na frente. E aí eu chamei ela. Ela: “Quem é?”. Eu falei: “É Lucia”. “Ô Dona Lucia, entra aí, a porta...
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Eu tive um casal de filhos – Lucas e Antonia. E ele estava trabalhando lá no armazém de Zotti André e viu a mulher passando. Eu já tinha falado pra ele que eu queria arranjar uma menina, porque era só eles dois, assim na hora que eles casassem, eu não ficaria sozinha. Ele falou: “Ah mãe, eu não aconselho a senhora pegar menina, dá muito trabalho, é muita preocupação. Não pega menina, não, se eu achar um menino eu pego pra senhora”. Eu falei: “Uai, mas menino cresce, vai pra rua, me deixa sozinha, no que menino me ajuda dentro de casa? Eu não quero menino, não”. Mas ele ficou com dó de ver a dona passando com o menino no braço. Um sol quente, o menino chorando. Era ele, né? O menino chorando, ele ficou cortado de dó. Ele falou: “Gente, minha mãe tá doida pra arranjar um menino, vou pedir se ela dá o menino pra ela, né?”. Saiu da onde ela morava, foi morar lá na Barriguda, na casa de um irmão dela, e o menino adoeceu de uma diarreia, uma febre, ela disse que passou a noite com o menino no colo esperando ele acabar, de tão ruim que ele estava. Ela falou: “Gente, eu não tenho condições de tratar desse menino, meu filho vai morrer à mingua, que eu não tenho condições de tratar dele”. Aí lembrou que o Lucas tinha pedido, né? E ela foi lá falar comigo, ver se nós queríamos ficar com o menino. Eu falei: ““A hora que Honório vir almoçar, eu falo com ele, se ele aceita”. Aí quando ele chegou eu falei pra ele. Ele falou: “Eu por mim não pegava porque a primeira vez ela achou que nós não tinha condições de criar filho dela, mas vocês é que sabem”. E os meninos doidos que pegasse, o Lucas mais a Antônia, eram doidos com o menino. Quando eu subi de lá, já passei lá na porta. Ela estava sozinha dando banho no menino pra sair pra rua pra entregar pra qualquer pessoa que ela encontrasse na frente. E aí eu chamei ela. Ela: “Quem é?”. Eu falei: “É Lucia”. “Ô Dona Lucia, entra aí, a porta tá só encostada, abre aí e entra porque estou dando um banho no menino.” Eu empurrei a porta, entrei e fiquei lá em pé esperando. Quando ela veio de lá com ele enrolado em um paninho e ele já foi me olhando assim com aquele olhar pesaroso, né, coitadinho, e já foi logo agarrando na minha mão, que não soltou mais. Eu tomei ele dela, sentei, enxuguei ele, falei: “Cadê a roupinha dele?”. “Eu vou pegar.” “Mas você está me dando, é meu o menino?” “É da senhora, é da senhora.” Aí vesti-lhe a roupa e fui embora com ele. Ah, mas quando eles chegaram, que o menino (Lucas) chegou do serviço, ela (Antonia) chegou da praia, foi aquela festa. E aí não teve coisa melhor pra ele. Foi uma beleza, viu? E ó, por que eu tinha que pegar ele? Criei e ele logo arranjou namorada e quem é que está cuidando de mim? É a mulher dele. A mulher dele está ocupando o lugar de mãe. Que eu não tive mãe, não conheci mãe nem pai.
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