FILOSOFIA DE VIDA Pra mim, estando aqui, estou no céu. Não quero nenhum outro lugar pra nós morar, que não seja aqui o Morro dos Prazeres. Todos neus filhos nasceram aqui. Tenho seis e todos seis nasceram tudo aqui. Graças a Deus estou muito satisfeito. Estou com 76 anos de idade... Desde cinc...Continuar leitura
FILOSOFIA DE VIDA Pra mim, estando aqui, estou no céu. Não quero nenhum outro lugar pra nós morar, que não seja aqui o Morro dos Prazeres. Todos neus filhos nasceram aqui. Tenho seis e todos seis nasceram tudo aqui. Graças a Deus estou muito satisfeito. Estou com 76 anos de idade...
Desde cinco anos, seis anos, que eu vim morar aqui. Tenho 76 anos de andar aqui. Porque com pouco tempo eu vim do Norte, uns dois anos, eu vim morara aqui mesmo, então tenho 76 anos aqui do morro.
RELIGIÃO Aqui agora, só tem a igreja. Tem a igreja de padre, e tem igreja de crente. Aqui em cima tem uma igreja do padre, controlada por aquele colégio lá o Assunção. No domingo eles vem celebrar a missa aqui.
E igreja de crente tem muitas. Agora estão fazendo até dentro de casa.
É. Tem uma aqui, em baixo tem outra. Logo vão fazer uma aqui em cima, que já tinha.Quando nós viemos morar aqui, nesta casa, a dona dessa casa fazia, tinha restaurante, e fazia oração.
Era de puxar igreja. Desde que nós moramos aqui, nunca foi usado. Todo mês a gente ia lá.
Nós fazia oração. Este ano as irmãs, continuam fazer oração lá. As alegrias que tinha aqui eram somente as igrejas e o Carnaval.
CARNAVAL Blocos
Tinha grupos que tocavam instrumentos e no Carnaval. Na década de 50, de 60, 70 e até 80. Descia um capeta,
nesses que votavam e algum aparecido. Iam para a cidade e só vinha de manhã Era o pessoal do seu Rubens.Da família do moço que tem ali em cima que chama Rubens. Da
barreira saia aqui uma escola de samba. Da barreira saía. Não me lembro bem o nome não. Mas tinha, tinha. As escolas de samba tinham nome. Era batizado, O Fim do Mundo e Sargento. Isso tinha. Acho que era batizado. Era Bloco do Morro do Sargento. A gente ia por lá. A gente de manhã cedinho, subia no bonde, um bocado subia pra lá da Barreira. Fantasia de Carnaval mesmo. Roupinha simples. Aquilo não era nem roupa. Era de papel. Era enfeite. Não era nem roupa a fantasia de Carnaval. O pessoal já morreu. Tanto homem como mulher já morreu quase tudo. Aqui nem escola de samba não tem mais.
MORRO DOS PRAZERES Comércio local Quando eu vim morar aqui, eles não criava nada disso. Eu era solteiro,
trabalhava na obra. Morava ali em baixo, na banca de jornal lá em baixo. Nunca tive idéia de criar, porque o tempo era pouco. Exista pouca gente pra gente criar essas coisas. Outros tinha até quantidade de galinha. Na época não tinha. O costume era porco. Nós não tinha açougue nem mercado aqui. Nós só tinha armazém. Armazém de comprar arroz, feijão, essas coisas. Ficava ali em baixo mesmo. No Rio Comprido, no Largo da Carioca. Aqui não. Aqui não tinha nada disso. Se você quisesse comprar qualquer coisa, um remédio, você tinha que descer ou pro largo do Macaco, ou pro Largo da Carioca, justamente aonde tinha as farmácias. Na passagem do metrô, aquelas farmácias que tinha lá no Largo da Carioca, aquilo foi derrubado tudo. Derrubaram tudo, prédios. Aí não tem. Mas tem farmácia mais perto. Sabe o
ponto do bondinho? Logo tem uma farmácia. Passou do ônibus, que é o 206, que é aqui em cima, a Esplanada do Castelo. Quer dizer, na travessa, não existia isso.
Origem do nome Toda vida. Desde que eu moro aqui, é o Morro dos Prazeres. Desde a década de 50, que eu vim morar aqui, eu conheço isso aqui como Morro dos Prazeres.
Vizinhança Ali em baixo, tinha a dona Tuca, que era nossa vizinha, É. Os filhos dela eram uma maravilha.
A filha, a mulher. Gente nobre mesmo. Todos meus vizinhos, eram tudo gente boa. Graças a Deus. Até hoje. Em 96, eu vim morar aqui nesta casa. Tem aqui oito casas. Não, seis casas e todo mundo aqui é gente boa. Gente mesmo feliz.
Convivência com os vizinhos A gente trabalhava. Todo mundo chegava em casa seis horas, sete horas. Ia jantar, ia dormir. A birosca que tinha naquele tempo era muito pouca. A gente se encontrava com uma mulher aqui, ia lá pra birosca e quando dava assim umas oito horas, aí ia pra casa. E aqueles que não bebiam, não iam. Ficavam em casa. A birosca fechava às oito horas. Mas isso já foi agora, na década de 60. Mas antes, era só mesmo o trabalho. Chegava em casa seis, sete horas da noite, jantava e ia dormir, pra no outro dia de manhã cedinho, sair pro batente. A vida
era muito difícil. E ia até o Leme. E a passagem era um tostão.
Moradia Minha casa antigamente era de estuque. Era de madeira. Tinha carpinteiro, mas esse pessoal tudo já morreu. Tinha os camarada que fazia esses barracos, fazia aquela armação. Ele fazia a cava na madeira, pegava o formão, virava, tinha as peças, botava dentro de uma cava, assim tipo um dente. Aquilo ficava firminho Se ele quisesse dar prego dava. E aí
assoalhava de piso ou de tábua de 30 cm. Aí fazia a parte décima, fazia mais um outro andar em cima, de acordo com a família, e aí ia
vivendo: se quisesse tábua. Aí limpava aquela madeira toda. Faltava mais um pouco de prego. Aí pegava barro nesse barranco, e naquele barranco,
onde jogava água, ia enrolando,
enrolando com as mãos. Ficava um por dentro outro por fora, pro barro não sair, com um pedaço de tábua. Aí fazia aquilo direitinho. E aí, aqueles que pudessem cobriam com areia e cimento. Ficava direitinha.
Ficava legal. Aí, foi mudando as políticas, a gente foi melhorando de padrão e hoje não existe mais casa de madeira.
Só não estou mais satisfeito porque o meu ordenado que eu ganho que eu ganho salário
- eu tenho que dar uma reforma na casa, fazer umas coisas. Isso a gente pode fazer. Não paga aluguel. Não ter essa despesa. Tem também o negócio na vila,
que também não é muito. A minha nora mora ali em cima, numa casinha que não me dá despesa.
Tem um filho também que vende gás ali em baixo, e ele vem dormir aqui, ele e meu neto. Nossa despesa é só seis pessoas só.
Desapropriação da casa O dinheiro foi pouco na época. Até dava pra eu ter comprado uma casa em outro lugar. Da indenização me deram 16 mil, mas como eu achei já que morava aqui, era muito amigo do meu pessoal, e que queria vender.
Aí eu falei pra ele. Perguntei quanto era? Era 25 mil. Tava em dois andar. Aí eu falei assim: Bom, eu vou falar com eles lá, porque eles disseram pra sair pra outro. Nós ia levar com seu direito, mas sendo que se a pessoa arrumasse uma moradia que passasse além do que eles tinham indenizado a Prefeitura inteirava. Ai eu levei lá os documento da casa e tal. Aí eles combinaram, inteiraram lá e aí eu passei, já estava bem adiantada.
Comunidade A comunidade foi bem organizadazinha.
Tudo tem suas casinhas de laje. De tijolo. Aqui não está rebocado por fora, mas o dono ainda tem esperança de rebocar por fora. Pintar direitinho. Cada um faz a sua parte. Cada vez que está faltando uma coisa.
O pessoal aqui tudo era a mesma coisa. Nunca teve assim política de dizer que o seu ganho é maior que o meu. Desde o meu conhecimento,
foi sempre a população muito simples.
Nada de maldade, ninguém queria ser mais do que o outro. Porque na época, parece que tinha pouco emprego pra dona de casa, quer dizer, quem trabalhava mais era o dono da casa. Os filhos também eram tudo pequenos, e assim ia levando a vida naquela tranqüilidade. Os vizinhos que moravam lá, os vizinhos tudo eram unidos um com o outro. E a gente ia levando a vida tranqüilo.
HISTÓRIA Ai foi indo, foi indo, foi indo, foi indo, a política mudou, em 54 foi a morte do Getúlio. O Getúlio era um bom presidente, mas era muito amarrado. Era muito amarrado e por isso o Brasil não desenvolveu, tantos anos que ele esteve presidente.
Pode-se dizer que esteve
quinze anos mandando em nosso país. Quer dizer que ele era um presidente amarrado. Presidente do povo. Ele só procurava organizar o povo brasileiro. Principalmente aqui no Rio de Janeiro.
Agora, na morte dele, foi mudado nosso presidente. Aí veio o Juscelino, inventou de tirar, fazer aquela capital da República que é em Brasília,e aí por diante, aquilo foi aumentando. Hoje o Brasil está na história do mundo. O Brasil está bem adiantado, é que aqui nós não anda, né?
Se a gente andar no Brasil, andasse aí, o Brasil não está atrasado não. Falta é mais um pouquinho de administração dos nossos governantes. E hoje, o nosso governante, quase que não pode trabalhar, porque abriram muito. Abriram muito as leis. As leis hoje está na mão dos poderosos.
INFRA-ESTRUTURA Transportes Era só bondinho e mais condução. Não tinha táxi. Se você quisesse apanhar um táxi lá em baixo, não existia. Tinha mesmo que esperar o bondinho. Se fosse aqui pela parte do Rio Cumprido, tinha uns carros, que eles traziam a pessoa e cobravam. Não tinha nada de marcar corrida nem nada.
Pegava no local e é aqui o ponto final. Quanto é? Ele dizia: Você me dá 100 mil réis, 10 mil réis. Era assim. Aí a gente dava o que tinha. A gente dava. Mas
com a continuação, o tempo foi aumentando. Quer dizer, não pode um país ficar tão atrasado.
Você vê: botaram uma empresa de ônibus aí. Agora, eles botaram uma Kombi. Que é muita gente. Um mundo nesses ônibus. Eu quase
que não tomo negócio de ônibus. Eu paguei pra uma vizinha por mês, ela vem e me leva lá em baixo. Mas, as pouquinhas vezes que eu fui no ônibus,eu tenho até medo que é muito cheio de pulo. Dá a impressão que o ônibus vai abrir. E muita gente, quando o ônibus vira pra cá, todo mundo cai em cima do outro. Aí, não sei que idéia que foi, eles arrumaram aí uma Kombi, e botaram pra ajudar. Não era nada de mais. Daí, tinha uma Kombi, de uma passou pra dois. Resultado, agora, eles, pra fazer mal pra alguém que tem a tal da Kombi, baixaram a passagem. A passagem era 1 real. Veio o aumento pra 1 real e 10. Eles agora baixaram a passagem, a mesma empresa, estava 80 centavos. As Kombi davam até bicozinho. Algum pessoal aqui, essa garotada que está na época de servir o exército, não tem serviço, trabalhava lá de trocador. Ajudava lá com uns trocadinhos pra comprar um sapato, comprar uma camisa. Agora, o próprio motorista está trabalhando
sozinho porque ele tem que pagar a diária da Kombi
pra quem não tem Kombi -
Resultado: tiraram o sapato do garoto que ajudava. O motorista da Kombi, ele mesmo recebe, e com o dinheiro pra pagar a prestação, a diária dele.
Caminhos Aí vem vindo, vem vindo, pararam também,
e aí vai saindo vai saindo e quando foi agora em novembro 96, 95, 95, por aí a fora, - aí começara a querer mudar essa rua. Quando foi de 96 pra 97e estava bem encaminhado. Falta aqui somente os arremates O prefeito era o Tonho, e também estava executando o serviço aqui da rua, e como em diversos lugar. Não é só aqui não. O serviço ia muito bem, mas terminou o tempo do mandato dele e esse prefeito que está aí agora, se candidatou, ganhou. Um ano e já foi embora. Está de licença.
Acidentes nos caminhos Aqui tem um rapaz, que é meu vizinho, ele levou um tombo tão danado ali mesmo, no tal caminho que eu estou falando, que deslocou ele. Eles arrumaram, levaram ele por hospital e botaram uma gangorra botaram na cabeça do rapaz, uns ferros. E esse rapaz que eu estou falando, ele anda ali, ele vai no médico, com um aparelho, que nem aqui no Brasil tem aquele aparelho. Mas eu concordo o seguinte: eu nunca vi aquilo na cabeça de ninguém. A primeira vez que eu vi isso era um pavor. Ele usava aquilo ali porque tinha alguma coisa. Eu perguntei: Por que?
Você não lembra do tombo que eu levei?
Um negócio externo pra botar a coluna na posição.
Depois disso e ficou por pouco tempo uma garota também, que é filha de uma vizinha minha caiu ali na mesma direção. Levaram a garota pro pronto socorro e a garota morreu lá, a partir
desse tombo. O menino lá, agora há pouco tempo, caiu lá no mesmo setor também. Deve ter um vergalhão. E aquilo ali está uma coisa que só Deus mesmo. Não sei como é que pode ter aquilo ali.
Caminhos Mas depois, eu acho que eles entregaram ou venderam pra Prefeitura, porque antes de fazerem essa rua aqui, o caminho daqui era um caminhozinho ali. Passava caminhão. Porque antes, caminhão não tinha. Era gás, era quem vinha por causa de horta. Era qualquer coisa que precisasse aqui, tinha um caminho aqui. Carro de Açúcar. Aqui não entrava nada. É. Tinha. A gente ia na birosca e comprava açúcar. Comprava açúcar, mas aí já tinha que fazer o pedido direitinho, o rapaz ia naquela mercearia ali, que vendia tudo, de arroz e feijão. Dali ele voltava. Como o caminhãozinho fazia a entrega no dia certinho a gente ia pegar lá. Porque o caminho era ruim. O caminhãozinho podia quebrar e aí o prejuízo ficava pior.
Água Morava tudo ali. Água tinha. Água sempre teve. Porque esse cano, que eu já falei uma vez, um cano de ferro que tinha ali, a gente fazia uns buracos, botava um braçadeira. Tinha um senhor, que fazia esse trabalho pra gente. Aí furava
o cano de noite,
botava uma braçadeira, botava um parafuso por cima e aí com o cano aquele tempo não tinha cano plástico. Era vara de ferro
aí botava o tal do registro...Sempre teve água pra quem morava na parte de baixo. A água vinha mais era do Silvestre. Vinha lá da mata do Silvestre. Lá tem... Eu cheguei a ir lá uma vez. Tem quatro caixas. Só de fundura deve ter uns quatro metros.
Quatro caixas e a água dentro, que a gente nem sabe de onde ela vem aquela água.
Luz Nossa Senhora. Apesar de que tinha pouquinha gente, tudo aqui era com sacrifício. Era água, luz. Luz nem pensar. E a luz era muito fraquinha. Nós não tinha geladeira,.
Chegou a ser de querosene aqui, mas não é do meu tempo. Eu cheguei aqui, tinha luz, mas a luz era muito fraquinha. Não tocava nada. Rádio? Nem pensar. Naquela época tinha aquela ilusão: era radio de luz, com caixa
de madeira. Acho que tudo isso. Ferro? Nem pensar. Ferro, só se fosse de carvão mesmo Era um ferro assim que as donas botavam carvão ali dentro, e passava a roupa.
Ainda eu peguei tudo isso aqui. Depois, de 50 a 60, aí a nossa luz melhorou. Tinha rádio em casa, mas menos que nada. Não funcionava. Falava muito baixinho, que a luz fraquinha. Esta hora assim, meu Deus. Não tinha nem graça.
Na rua não tinha iluminação. Nada, nada, nada. Era tudo escuro. Na década de 60. De 60 pra cá foi melhorando, porque quando foi mudado isto aqui pra Brasília, o primeiro governador daqui foi Lacerda. Aí, a primeira coisa que ele fez foi tirar o mercado. Mudar o mercado lá da Praça Quinze lá pra São Cristóvão, fazer aquele viaduto lá, fechar as barcas e botar a luz nas favelas. E aqui foi o único candidato. A capacidade de luz que tem aqui, tem lá em baixo. 110 volts.
Não tinha luz aqui não. A luz aqui era muito fraca na década de 50. A alta é 220 e a baixa era 110. Mas era um 110 muito
fraco, porque não tinha transformador. O transformador tinha lá na Almirante Alexandrino, e o outro lá no Rio Comprido.
Aí
não dava. Aí botou uma ali, outra ali, e melhorou. Agora, tem muitos anos isso.
Energia elétrica para geladeira Não tinha geladeira. Ninguém tinha geladeira. Era no dia a dia. Não tinha nada. Não comia nada estragado. Não porque não tinha. Se comprasse uma carne tinha que comer a carne tudo assim. Assar ela,
ou cozinhar, e deixar dentro da panela. Não tinha geladeira não. Guardava dentro do armário. Não tinha geladeira não. Fogão a gás? Ninguém ia
pensar. Nos barracos a turma cozinhava com querosene, com fogão de querosene, de duas bocas, de quatro bocas. Nessa loja aí também tem. E o querosene, comprava o querosene, o camarada vinha e deixava em casa, aqueles latão,
e ele vendia pra
vendinha e a gente comprava um litro de querosene, nosso consumo aqui era pouco, porque ganhava muito pouco na época, mais pouco que a gente ganha hoje. Existia pouca gente e estava aí, levando.
Segurança Aquilo ali na Almirante Alexandrino, que na época não tinha, aquele posto bonito que botaram ali. Aquilo ali era uma prefeitura. Onde é a sétima delegacia, na década de 50, por aí, ali não tinha polícia, ali não tinha distrito. Fez muita diferença sim, no meu conhecimento,
do tempo que eu moro
aqui, ver mudar a delegacia, o sétimo distrito. Ali era o posto da Prefeitura. Caminhão da prefeitura. Agora já é de um outro setor. Mas tem um posto ali da Prefeitura também do lado. Agora não é. Era antigamente. Hoje, já nem existe mais . Está lá no Catete existe. Lá em baixo.
Coleta de lixo Era muito sacrifício para recolher o lixo. Tinha um caminhão, que a capota do caminhão era duas bolas. Era aberta assim. Botava o lixo, aqui tinha umas caçambas de ferro assim, um peso mais ou menos de uns 60 quilos... Que
tinha muito pessoal que morava aqui na nossa comunidade, que era funcionário da prefeitura. Trabalhava no caminhão do lixo. E ali, eles ficavam em cima e tinha a pá. Eles botavam o lixo, subiam em cima do caminhão, socava assim com aquela pá e com o pé. Socando aquilo ali. Aí ia pra lá, ia pra cá até limpar tudo. Depois que limpava aquela rua, limpava tudo direitinho,
aquele caminhão, não sei se ia pro Caju, levar aquele lixo lá. Aí, não sei qual foi, um ano,
que pintou aquela betoneira e está lá até hoje ainda. Antes não tinha aquilo não. Era caminhão.
Nunca passou carro aqui. O carro vinha só até na Almirante Alexandrino. Era um perigo. Não tinha questão de lixo não. Agora tem. Tá tendo muita gente. Bota o lixo aqui e tem um rapaz que passa e joga na caçamba, e aí o caminhão vem. Agora não está mais passando. Na semana passada não chegou a trazer a caçamba, até ela levou a caçamba hoje. Não sei se ela voltou novamente. Pra poder o governo, o prefeito, pra melhor ficar.
Caminhos Subia por aqui. Depois descia pelo lado esquerdo, no caminhozinho ali. Isso aí foi
subido agora. Quem fez foi a Prefeitura. Botaram corrimão Aquilo ali é novo.
Colocação da caixa d’água Eu não me lembro se foi no fim de 50 ou começo de 60. Vamos botar que foi na década de 60. Um político que entrou aqui ia botar uma caixa d’água pra nós. Aí armou uma caixa d’água lá em cima. Lá em cima do morro. E outra aqui em baixo. E localizou uma bomba pra jogar água lá. Mas antes, não
tinha água lá não. O pessoal descia todo mundo, na década de 50, descia pra apanhar água no casarão, ia apanhar água lá no Corpo de Bombeiros. O Corpo de Bombeiro é novo aquilo ali. Nessa década não tinha Corpo de Bombeiro não. Mas antes, o Corpo de Bombeiro facilitava ou então o colégio, que eu estou falando. Lá também dava água pro pessoal que morava na parte de baixo. Mas depois que foi localizada essa caixa d’água lá, justamente por meio desse político, aí melhorou. Aí o pessoal passou a usar água de lá e não descia mais. Aí ficou, ficou, ficou, e essa caixa está funcionando até hoje. A Prefeitura botou uma caixa lá.
Muito grande . Assim fala o pessoal daí.
Eu nem fui lá ver. Mas lá não está funcionando. Ainda falta terminar. Foi na mudança do prefeito, o prefeito ganhou a política, o Seu César Maia e no fim não fez nada hoje, e está lá a caixa parada. Esta aqui também está pronta,
mas não está ligada. Tem que aprontar primeiro lá em cima pra poder esse negócio dar tudo certo.
Luz
Agora melhorou porque melhorou a água, melhorou a luz. Na época não tinha e hoje tem o relógio. Quem tinha um relógio tinha que botar aqui em baixo. Gastava mais de 500 metros de fio pra levar pra lá. Pra chegar lá e arrumar um vizinho de baixo que pra dar um bico de luz. Eu não ia negar
um bico de luz pro meu compadre. Mas também. Mas também, pra adquirir um relógio na Light, era o maior sacrifício.
Dificuldades para pagar as contas Era demais. Era uma coisa de cortar coração. Aí o pessoal ajuntava, pagava a conta da luz, combinava com a quantia que viesse, justamente um terço, a gente pagava a conta. Mas era muito difícil, muito difícil. E se atrasasse a luz, parece que era 20, 30 dias, a Light vinha e levava o relógio. Levava o relógio, e quando não levava o relógio. Era um cativeiro danado isso aqui na década de 50. Cortava o fio da gente lá no outro relógio, por falta de pagamento. Cortavam o fio. Cortavam um perna
só, que era aperna positiva e enrolava lá, lá no lugar lá. Se
você pagasse, eles vinham com a escada e ligavam no mesmo local, a luz. Se você não pagasse uma taxa lá, aí eles vinham, cortavam o relógio e levava o relógio que estava lá. Nem ficava o relógio. Só ficava a cabine, que era de madeira na época. E aí puxava o fio tudinho. Era a maior ingratidão que eles faziam com
a gente aqui. Na década de 50, 60.
O relógio de luz ficava numa caixa de madeira. Agora depois, eles vieram e puseram aquelas caixinha de ferro. As caixinhas de ferro durou bastante tempo. Eles agora botaram tudo de plástico.
PROFISSÃO Criador de Porcos Quando eu comecei a criação de porco, eu trabalhava ali, aí eu larguei da obra. Apanhei uma bronquite e aí eu me encostei no INPS, substituto do IAPI na época. Aí eu não podia mais trabalhar, que era muita cinza, muito forte. Aí me encostei no Instituto. Eu trabalhei negócio de horta. Mas depois deixei negócio de horta, fui trabalhar comigo sozinho. Comprei um bar, que tem
aí do lado, que era de uns rapazes, e aí depois tinha coisa tão fácil. Se você morasse
no interior, aqui não tem terra. Aí arrumei lá uns leitão pequininho e fui criando e depois fiquei ali onde é a bomba d’água. Fiz lá um chiqueiro e arrumei uma boa criação. Cheguei a ter ali 100 cabeças de porco.
A criação era para vender, mas no começo não
dava
muito também. Então no fim do ano, eu dava 10, 12 porco desse tamanho assim
pros amigos. Às vezes vinha comida de lá do restaurante. Eles não queriam, mas eu levava. O pessoal aqui dos bondes. Polícia também que trabalhava, sabe que, polícia não é brincadeira. É melhor você dar um pernil á um polícia, do que ele lançar uma multa e você ter que pagar. A lavagem, onde eu apanhava lá no Largo do Macaco. Um restaurante que tinha ali. Hoje o camarada não trabalha mais lá. Era um português. A comida era muito selecionada. Era lá dentro da casa dele, dentro do restaurante. Não era comida que botava na rua não. Comida
tudo sequinha. Embalada em saquinhos plásticos.
Dificuldades para alimentar a criação Comida mesmo pra criação de bicho. Eu trazia 15, 20 quilos de cada vez. Eu trazia de carro. A coisa melhorou um pouquinho e aí eu comprei uma Kombi. Com o dinheiro do porco. Comprei a Kombi, aí vendi um carro que tinha lá em Mundo Novo e em pouco tempo deu pra pagar a Kombi. Aí eu já tinha 10 capadinhos, 10 porcos desse tamanho assim e aí com quatro meses eles já estavam grandes. Aí eu tinha um amigo que trabalhava com os italianos. Ele chegava com o caminhão cheio de... desse negócio de frutas, batatas, coisas que ele devia abastecer lá o restaurante , e eu mesmo ajudava ele, e a gente tinha uma amizade de pai pra filho, com esse italiano. Aí ele falou: O que você faz aí? Falei: Eu moro aqui em Santa Teresa. Eu tenho uma pequena criação de porcos. Comida aqui deste restaurante. Falou :
Eu nunca te vi aqui
Pergunta ao seu Joaquim. Seu Joaquim era o dono do restaurante. Aí ele criou uma fé em mim. Aí ele criou uma fé em mim.
Aí, eu disse: O senhor vai pra onde?
Eu vou lá pra Santa Teresa.
O senhor vai por donde? Sobe aqui, pega aquela rua ali, é pertinho. Não gasta uma hora pra ir lá, não? Não. Que nada. 20 minutos, no máximo.
Aí ele falou assim: Eu vou levar comida pra você lá . Ele tinha um caminhãozão grande.
E aí eu botei os engradados no caminhão. Fazia assim . Isso não é perigoso não ?
Que nada .
Até eu comprar a Kombi, ele me trazia a comida aqui.
O italiano era um pai. Não era tanto que ele era carinhoso não. Eu queria pagar um agradozinho por lá no caminhão e ele dizia: Não. Não vai pagar nada.
E aí aquela amizade foi indo, foi indo e aí eu comprei a Kombi. Eu
comprei a Kombi em 82. Tava boa. Tinha quatro anos de uso. Por 850 cruzeiros na Kombi. A criação foi crescendo. Chegava no fim do ano eu dava aquele festival, dava um pedaço pra um pedaço pra outro...E assim foi indo uma maravilha.
Desapropriação do local onde criava porcos Agora, em 96, no início de 96, aí começou a vir mocinha pra cá com caderno, procurando quem criava porco, ta, ta ta. Aquilo foi me chocando, chocando, chocando, aí vendemos. Falei:
É. Agora o negócio está ruim
Aí vieram pra desapropriar aquilo ali, que é pra fazer a caixa d’água.
Aí mandaram tirar o chiqueiro e botaram mais pra baixo um pouquinho. Mas abaixo um pouquinho tiraram e botaram mais pra baixo um pouquinho. Foram assim embromando comigo e estou sempre criando porco. Já estava mais difícil, mas como o pessoal da obra tinha muito a gente, quando chegava a hora pra descarregar, eles ajudavam O pessoal mesmo, os peão da obra mesmo. Aí o fiscal chegou e falou assim:Olha, esse chiqueiro não pode ficar aqui mais. Aqui vai ser uma praça. No projeto da Prefeitura, aqui vai ser uma praça. Mas de fato fizeram uma pracinha.
Fim da atividade de criar porcos Aí
mandaram me chamar lá. Na Prefeitura. Aí eu fui lá falei com o chefe, e o chefe disse assim: Olha, a Prefeitura não tem nada com porco de ninguém lá. Quem quiser criar seus porcos que se vire. Não pode criar porco aqui colado com as casas, junto com a cidade, porque porco é um bicho sujo. Mas, aonde estava o seu chiqueiro, você pode continuar. Só não pode criar aqui,
porque como está aqui a planta, aqui vai ser uma praça.
Ele me mostrou a planta e eu vi lá. O que eles fizeram aqui
na planta estava lá.
E você não pode botar aquele chiqueiro ali pra baixo? Mais um pouco? Tira daqui e manda a Prefeitura que os homens ainda estão trabalhando, botar seu chiqueiro ali.
E aí eu me lembrei do fogo, tinha mais medo era de fogo,
que ali em baixo é um capinzal. Dali o projeto era lá em Barão de Petrópolis, mais de 500 metros
de distância. Muito longe. E havia uma casa cá outra lá, e muito capim. Eu fiquei com medo foi do fogo. Aí eu falei: Doutor, é o seguinte:
eu não vou dispensar sua idéia e meu esforço. O negócio de criação dos porcos que não vou ter mais.
E se a gente mora lá, tem um lugar de criar bicho, um porco, um cabrito. Não tem nada a ver lá. Tem alguma
reclamação do pessoal que mora lá. Mas duvido. Pode vir reclamação aqui, que você cria porco, que você cria cabrito. Mas você não vai atrás disso não. Porque se fosse na cidade, aí tinha que tomar providências. Mas lá não é. É fora da cidade. Você tem condições de criar um bicho lá. É justamente onde tinha o povo, mata, come, vende. Vocês estão fazendo uma parte na obrigação de vocês. Falei: Não, não, não. Não quero não.Então eu pedi tanto, que eles falaram: Passa aqui tal dia.No tal dia eu voltei lá, me deram um cheque, mas depois eu me arrependi, podia ter feito o que eles fazem com a gente. Botava os filhos lá em baixo, e eles ficaram ainda quase um ano trabalhando aqui, pedia ao chefe, o encarregado, dava um dinheirinho pra ele lá, mandava roçar aquele capim lá do chiqueiro, mandava botar lá um concreto, igual eles fizeram aqui, mas sempre de cabeça quente. Aí eu parei de criar porco. Eles me deram uma indenização lá em baixo, onde eu morava. E aí a própria Prefeitura inteirou lá o dinheiro, que eu comprei.
COMUNIDADE Favela-bairro É fizeram. Está lá com umas bancadazinhas.
Botaram umas lâmpadas altas. Umas lâmpadas não acendem. O serviço ainda não está pronto. Isso é o favela-bairro, Justamente.
PROFISSÃO Vendedor
Esse é o vendedor aipim. Ele vende quiabo também. Fresquinho. Ele vem lá da roça.
FAMÍLIA Filhos Meus oito filhos nasceram aqui mas tão tudo espalhado agora. Tem um que é Marcos, que mora em Minas e que casou aqui, mas mora em Minas. Uma, mora lá em Niterói. Agora mesmo estava até falando o nome dela. Está bem. Casou mas separou, está casada de novo. Tem uma que mora aqui no bairro também. Tem um que mora ali pro lado do Estado do Rio. Tem um que trabalha aqui num depósito de gás aqui em Água Santa. Mas dois mora em Minas. Esse nasceu no dia 8 de março de 58 O mais velho é outro que mora lá. Nasceu no dia seis de dezembro de 56. A mais velha. É Fátima. Eu tenho duas filhas chamadas Fátima. A primeira chamava Fátima. Tinha o nome de Fátima. A segunda
eu falei:
Vou registrar com o nome de Fátima também. Aí, tenho duas filhas chamadas Fátima. Uma mora aqui, é casada e tem três filhos. E a outra mora em Niterói.
CASARÃO DOS PRAZERES Descrição do casarão O casarão é o seguinte: A gente nunca chegava a se acercar lá porque lá morava um pessoal. Aquela entrada, quando sai da linha do bonde, embicando pra
lá, tinha um caminho, ali tinha um portão e até pouco tempo tinha as colunas lá de concreto, onde era o portão lá.
Então lá só entrava o pessoal do casarão. Carro, essas coisas. E tinha um portão aqui do lado aonde entrava o pessoal.
No ponto do ônibus, na entrada pra vir pra cá? Ali tem uma rua que sobe e que vai pro casarão. É a rua que vem pra essa aqui. Nessa época tenha um portão e parece que tinha até vigia.O camarada dono daquela casa ali, daquele terreno, era um pessoal rico. Gente que podia morar. Eu não cheguei a conhecer. Aí, mudou a política, porque na década de 50,
a Prefeitura cismou de abrir mais esta rua. Aí fez uma murada na parte de baixo. Terminou ali, onde é a caixa d’água. Ai deu um tempo, tempo, tempo e na década de 60 eles fizeram essa parte aqui de cima. Daqui até ali no ponto, onde tem uma barraca. Aí pararam.
Só no fim de 60 é que eles terminaram aquele pedaço até na pedreira.
Crianças Mas em relação ainda ao casarão, as crianças brincavam lá, demais. Demais. Brincavam muito, muito mesmo. Ali era até um ponto de brincadeira de criança. Na época tinha poucas bicicletas, mas o pouquinho de bicicletas que tinham, eles brincavam lá. Apesar, que o dono não gostava. Porque criança é um negócio muito arteiro. Criança, na mesma hora que está brincando, eles estão fazendo mal. Estão
quebrando, isso, isso. E o pessoal da família que morava lá botava uma grade alta.
Ações da Prefeitura Depois que essa família saiu, ficou meio abandonado porque antes da Prefeitura tomar essas providências no caminho, a
Prefeitura quis puxar um poste, botar lá uns postes de concreto. O rapaz lá, um senhor, não aceitou. Porque se aceitasse pra fazer a rua, ele ia perder os direitos porque onde passa a rua, a pessoa perde os direitos daquela área. Aí não deixou. Aí pagou pra botar um poste de madeira. Mas sendo, que aquele poste de madeira não foi afirmado lá. Não foi aprovado não. Foi pouco tempo, e não deu certo. Aí a Prefeitura entrou com aquela ação de fazer isso aí e aí a Prefeitura tomou conta da água no poço, do terreno, na casa dele. Não comprou. A cor não era vermelha. Agora está vermelha. Era quase uma cor rosa. Igreja não. Agora, colégio eu sei que foi.
Conscientização da importância do casarão Há muito tempo eu entrei no casarão. Muitos anos. Era tudo de madeira. Voltou, né? Agora o rapaz falou, que lá está uma beleza, com
essa reforma, mas eu não cheguei a ir lá ainda não. Até tem um cara ali na rua:
Vamos lá.
Ah. Depois a gente vai. Depois a gente. Eu gosto de andar pouco mesmo. Mas, diz que está muito bonito lá. Apesar de que tem que ter uma ordem lá dentro. Tem algum deles que entendem das coisas, faz direito, mas tem outros que faz o direito deles. Eles acham que o caminho é por aí, mas
o caminho não é o errado não, o caminho tem que ser um negócio certo. Aquilo é um patrimônio nacional. É do Brasil. Temos direito, mas aquilo é nosso, é do Brasil. Nessa campanha aí da dengue, faça tua parte, que todos ajudando,o dengue, a tendência dele é diminuir. Agora, eu limpo
aqui, a minha água está no pote, aquela planta eu não vou mais regar assim,
o outro lá não quer, usa a água de qualquer maneira.
Fornecimento de água Se pegava água no casarão do lado de fora com uma torneira. Outra casa que tinha a par do casarão também dava muita água pro pessoal aqui da comunidade. Na década de 50. Essa casa já foi desativada. Eu lembro que foi clube, aí foi desmanchada a casa.
Lá ainda está o lugar. No casarão, deve ter um cassino querendo vir pra cá.
Passa onde era essa casa. Essa casa que dava muita água pro pessoal. Tinha pouca gente na época. Mas antes disso, começou a melhorar depois que o político montou essa caixa d’água lá.
EDUCAÇÃO Escola Júlia Lopes Aquela escola que eu estou dizendo, que era ali perto do Corpo de Bombeiro, a Júlia Lopes. Na década de 60, num
temporal que houve lá, aqui na nossa comunidade, naquelas chuvas fortes, o colégio ficou lá meio em dúvida com a reforma. Aí, tinha que tirar todo o pessoal de lá, os bancos, cadeiras, as máquinas. Tudo o que tinha dentro do colégio, tudo saiu, justamente pra poder fazer a reforma.
Aquilo ali, tiveram que tudo subir lá pro colégio. Aqui ficou tudo desabitado. Não ficou ninguém não. Não fomos tudo lá pra baixo, pra cidade. Nas ruas lá do Rio Comprido,
num colégio que tinha ali. Foi tudo pro lá. Depois de uns oito dias nós entramos de volta pra casa.
ENTORNO Bonde Antes tinha só tinha bonde. Não tinha carro nenhum. Bonde tinha bastante. Tinha bastante bonde. Os bondes vinham só até ali. Ali tinha um ponto final e bonde, que ele deixava o reboque. O bonde era dois carros, o carro motor e o carro atrás, que chamava reboque. Aí eles deixavam o reboque ali e iam até o Silvestre. Ali perto da cabina. Ali na Almirante Alexandrino.Que você vem e salta do ônibus pra entrar pra cá, ali tinha um tipo de um trilho de bonde.
O reboque ficava ali e o carro motor subia e ia lá no Silvestre. Na descida, ele pegava o reboque. Mas aí, já estava cheio de gente,e
aí acabava de completar o resto e aí descia, até no Largo da Carioca, na estação dos bondes. Lá era a seção. Todo mundo saltava ali.
Daqui ia lá pro Leme, daqui até o quartel do exército. Quem não tinha dinheiro pra pagar o
bonde,
Quem descia de bonde, levava lá pra apanhar lotação.
Eu não tinha dinheiro. Descia aqui, apanhava a rua ali, a rua das Laranjeiras, passava perto do palácio Guanabara, entrava ali e entrava dentro do túnel e voltava por perto da
igreja, pra ir pro lado de lá...Tanto ia a pé, quanto vinha a pé. Hoje eu estou montado ali,
graças a Deus. Ganho pouco mas tenho liberdade. Não faço nada
mesmo. Eu queria trabalhar, mas agora não. Já com minha idade suficiente. Também eu fui criado, né?
Construção da Rio-Niterói Dava. Dava pra ver direitinho a construção da Ponte Rio Niterói. Dava pra ver.Só que aquela obra era uma obra...Só quem trabalhava lá é que podia divulgar. Mas mesmo a gente de longe, podia divulgar que era um navio muito grande. Aquele navio. E foi indo. Aquele navio parecia um negócio meio subterrâneo. O navio. Quando eu estava assim lá na baía, de dentro d’água saia uma coisa que a gente dizia assim:
Olha lá. Aquilo lá é as colunas. Pra ponte. A gente podia divulgar mesmo direitinho, quando eles começaram a botar, plantando, aquelas placas de concreto, onde passa os carros. Mas antes, a gente só via aquele negócio um atrás do outro. Só tinha coluna. Na década de
60? 70? É 70. Que não tem tantos anos assim.
Não lembro do ano. Mas aquilo ali foi depressa. Não demorou muito tempo não. Demora mais fazer um prédio aqui na terra do que ali aquela obra. Aquela lá foi depressa. Era pra demorar uns 10 anos e acho que não demorou três anos. Demorou pouco tempo aquilo ali.
Construção do Metrô Mas eu me lembro do metrô. Eu achava que aquilo ali era uma história que nunca ia ter fim. Eu falava:
Eu não acredito que vão fazer esse metrô e vai andar aí dentro, porque daqui até lá todo mundo já morreu.
E
foi ilusão minha. Eu via aí, nunca andei
num metrô porque eu não gosto de andar de metrô. Mas eu já vi um trem debaixo da terra. Já não gosto de metrô. É bem verdade que eu vinha aí na Central, eu parava aqui. Aí eu passava e via aqueles caminhões entrar naqueles tubos, andar naqueles trilhos
ali passava o bonde
Eu falei:
Meu Deus. Será que eu vou ver? Eu
pensava assim:
Será que eu vou ver esse tal de metrô, correndo aí debaixo?
Mas
aí, e até hoje,
já passou um ano. Mas aquilo ali é muito seguro. E no lateral. No lateral é muito seguro. Onde passa os ônibus, tem mais de um metro de altura, só de concreto. Eu vi espalharem concreto ali. Mas hoje está aí. Eu não gosto de andar de metrô, porque: primeiro, eu tenho medo. Segundo, o meu itinerário é daqui da Almirante Alexandrino, pra baixo,
Esplanada do Castelo.
Morro do Sargento Não tinha horta não. Algumas tinha umas galinhazinhas. Cabrito. Tinha um moço ali em baixo que criava cabrito, que andava muito aqui pra cima. Não compensa. A Comunidade dos Prazeres era desta rua pra cá. É batizada de Morro do Sargento. Dali pra baixo, é o Morro do Pinheirinho. Aqui
na parte de cima, é separado em duas, partes: Aqui é o Morro dos Prazeres, ali é o Morro do Pinheirinho. Sempre foi assim. Desde o meu conhecimento.
Aqui tem um presidente da comunidade. Ele conhece bem.
COLINA Lá a gente dizia
A colina . Morro dos Prazeres -
Vamos lá na colina ? E hoje ainda continua lá. Tem lá um campinho de futebol, que a rapaziada daqui faz um torneio... ‘A gente vai jogar onde?
A gente vai lá pra colina. E continua a Colina até hoje. É lá em cima, onde tinha a caixa d’água.
LAZER Brincadeiras
A pipa é uma brincadeira já antiga. Pipa, pião. O que tinha bastante era pião mesmo. Aquele tempo pra brincar não tinha espaço. Não tinha espaço
porque o caminho era apertadinho, mas criança é criança. Pra eles não precisa ter um mundo não. Qualquer lugar, em cima do telhado da casa do pobre vai, no caminho. Eles faziam aquela brincadeira, daqui a pouco eles desistiam, iam pra casa. E
assim o tempo foi crescendo, o tempo foi crescendo. Hoje já tem lugarzinho pra eles brincar. Tem aí na barreira. É lá na quadra. É coisa que batizaram por Barreira.
Vamos lá pra barreira
?
Ali tem até batizado por uma empresa de político. Ele perdeu a eleição na época, mas ficou essa praça na baixada com o nome dele. É que eu não me lembro o nome dele. Aí ele se esforçou na política, arrumou... Um tempo ele já vem. Eu sei se ele continua lá. Mas já tem bastante tempo isso.
FAMÍLIA Filhos É. Eles estudaram ali. Todos quatro. Todos seis. Todos eles estudaram ali. Não chegaram a concluir o curso não. Mas já dá pra fazer alguma... Dá pra ir vivendo. Dá pra tirar uma nota e fechar. Dá pra dar um voto. Pra tirar a carteira de identidade, tá bom.
Me parece que era melhor, porque o aumento não era assim da forma
que está não. O aumento era mais preso. Eu achava que no regime militar parece que era melhor um pouco, porque não tinha aumento das mercadorias. Não tinha salário. O salário era de quatro em quatro anos, mas as coisas eram coisas mais simples, mais de respeito.
A comida é daqui mesmo. Ela não gosta. A comida do Norte ela não gosta. A gente acostuma. A gente acostuma a comer o feijão vermelho. Ela não gosta de feijão preto. Ela gosta de fazer cozido. Comida carioca é diferente da comida do Norte. E ela sempre foi uma mulher que não era assim.. Comia mais era legume, salada, essas coisas. E nortista não gosta de comer muito salada não. Você pode comer assim, um bocado de carne, bife, pimenta com cebola. Aqui não pode comer essas coisas não.
CASAMENTO
Ela é daqui mesmo. Ela é nascida em Bom Jardim, mas saiu de lá pra aqui e se criou aqui mesmo, na nossa comunidade. Não conhece lugar nenhum que não seja aqui. Eu conheci ela pequenininha. Pequenininha, mocinha, já taludinha. Temos 10 anos de diferença de idade. 17, que ela está dizendo. É. 17 anos.
SONHO Eu penso assim. Sabe o que eu penso? Eu queria ser mais jovem. Queria ter meus 30 anos com a oportunidade que eu vi de vista aqui. O mundo me traz muita tradição. Traz uma vida assim, que eu tinha vontade de ter com 30 anos 35 anos, com a liberdade que tem o mundo, a natureza. Muito trabalho. Eu sou nascido no interior. Gosto de trabalhar E às vezes eu digo assim pra patroa:
Se eu fosse mais novo, sabe lá que eu ia construir outra vida, um padrão de vida melhor, pra ter um conforto melhor. Ter assim um bom local pra morar, o carro chega na porta, armazém, lojas de ferragens. Eu tenho pensamentos assim. Às vezes eu fico aqui olhando...Mas, não chegou a oportunidade. Eu acho que agora não chega mais não. Que a minha idade já está velho. Já está bem adiantada, 70 e poucos anos. Não vou perder a esperança. As vezes, se a herança vem pra mim e eu não posso aproveitar, eu dou pra um filho, um genro, uma empresa... As vezes eu estou aqui ou ali, chega uma pessoa,
puxa até um assunto comigo sobre trabalho, eu digo:
Bom. Pra mim eu não vou dizer que é bom porque talvez não vai dar certo. Mas, eu tenho um filho...Eu tenho um filho com tantos anos, tantos anos, tantos anos. Eu tenho um neto também
assim, assim, assim... Tenho uns amigos. Que não seja pra mim. Não dá pra um neto? Não dá pra um filho? E o caminho as vezes é por aí. Não é assim que as pessoas dizem assim: ‘ Eu vou mudar. Você
não pode mudar, mas há como a família mudar. Não é isso. E a vida assim é uma vida
formidável. Os lados aqui, tudo é igual. Tanto faz. Direita, esquerda. Tudo é
ótimo. Tudo é ótimo. A mudança foi muito pouca.A mudança foi quase nada. A mudança é da Natureza mesmo. Que aumentou. Tem muita gente.
COTIDIANO Eu me acordo cedo. É difícil que cinco horas eu não esteja acordado. Eu acordo cinco horas.. Tenho um filho que tem que sair cedo, ele diz assim, pra eu chamar ele cedo. Aí então eu chamo ele, cinco horas e ele levanta seis horas. Aí eu vou lá pra cozinha, faço o café. Daqui a pouco o padeiro chega ali e me chama. Me deixa o pão. Eu boto uma toalhinha ali em cima pra quando cortar o pão. Fica na toalha. Se a toalha não está aqui, corta ali fora. Aí eu boto a manteiga. A faca que é a de serrinha. Quando tem um leite, também eu boto a leiteira ali encostada. Boto a garrafa do café. Deixo tudo bem limpinho.
Aí eu venho aqui para varanda, fico aqui até o dia clarear. Aí já fazia tempo que eu recebi o pão. Por causa dos netinhos ali. Aí eles acordam e aí está tudo lá tomando café. Eles saem pra trabalhar e eu fico aqui mesmo, dentro de casa. Eu e minha velha. Ela também não trabalha também.
Só você vendo. Nossa
Hoje eu até falei assim:
O sol está muito quente, minha velha. Mas aí a gente pega... Daqui a pouco ele sobe. É. Uma coisa linda. Lindo mesmo. Lindo mesmo.
Sob esse ponto, Deus fez a coisa muito importante.
Daqui a pouco a gente almoça. Aí eu subo lá em cima, num salão que tem aí em cima, aí eu faço alguma coisinha que tem que fazer, vejo a caixa d’água, vejo o registro,
abro, vejo se tem o que pode entupir. Vejo a bóia da caixa d’água, se está muito baixa ou se está alta. Lá em cima, do terraço, Vejo se está tudo limpinho, pra se chover de noite não entupir. Vejo a luz, se está tudo certo. Vejo o relógio da luz. Ligo o interruptor. Ligo direitinho. Vejo se está funcionando tudo direitinho, e aí o tempo se passa e a gente vai dormir. Acabou o dia.
RELIGIÃO Católica Agora não vou a igreja. Desde criança, minha mãe era muito católica. Minha mãe, meu pai e minhas irmãs. Eu era criado assim: A nossa esteira - nós não tinha mesa - era botada no chão e tinha uns banquinhos
e sentava ali. Meu pai sentava lá, minha mãe aqui, eles botava a vasilha ali e cada um tirava a comida. Acabava de rezar, acabava de almoçar, todo mundo se ajoelhava. Rezava. Aí tomava a benção do meu pai, minha mãe. Na janta, do mesmo jeito. Era a mesma... A coisa que fazia no almoço, a gente fazia na janta. Eu fui criado assim. Minha mãe, quando era seis horas da tarde, a minha mãe fazia...Tinha um rosário, cantava um padre nosso e uma ave Maria. Íamos à missa... A nossa família era oito filhos.Com pai e mãe eram 10 pessoas. Ia ver o padre celebrar a missa. Quando acabasse a missa a gente vinha embora. Eu fui criado assim e vim aqui pro Rio de Janeiro bem jovem ainda. Aí eu fui freqüentar as igrejas dos padres. Aí vim morar aqui nesta comunidade, me casei quando tinha uns 15 anos. Era criança. Casamos na igreja. Nós casamos foi ali
no Colégio Assunção. Não foi ali? Foi sim. Casamos ali. E o cartório foi lá na estrada
de Itaquera. Aí, ela entrou pra essa
Igreja. Tem dia que eu vou tem dia que eu não vou. Tem as irmãs da igreja. Um dia desses eu fui. Eles vieram aqui um dia desses, fazer umas orações. Sete dias de oração. Minha vida está tudo correndo bem,
graças a Deus.
Graças a Deus eu não sou contra a igreja não. A minha nora também, ela é da igreja. Eu não sou contra não. No aperto, está no caminho certo.
Ali tem uma igreja católica e tem uma igreja de crente e tem um ibamba aí, que nego bate tambor em dia de batizado. Negócio de macumba. E mora aqui pertinho também. Não é longe não. Agora, eu não pertenço não. Se prestar bem atenção dá pra gente ouvir o batuque. É muito antigo. Terreiro muito antigo. Até uns caras que é falecido. É igual piolho. Passa de cabeça por cabeça. Tem dia de manhã, que eu estou aqui, o pessoal lá de baixo, vem tudo aqui.Recolher