P – Luiz, para a gente começar eu gostaria que você dissesse primeiramente o seu nome completo, local de nascimento e data de nascimento. R - Meu nome é Luiz Airton Correia. Data de nascimento é 06 do 08 de 62 e eu nasci em Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul. P – Fátima do Sul ...Continuar leitura
P – Luiz, para a gente começar eu gostaria que você dissesse primeiramente o seu nome completo, local de nascimento e data de nascimento.
R - Meu nome é Luiz Airton Correia. Data de nascimento é 06 do 08 de 62 e eu nasci em Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul.
P – Fátima do Sul fica perto de onde?
R - Fica a 260 quilômetros da capital de Mato Grosso do Sul, que é Campo Grande.
P – E você começou a trabalhar no Aché em que ano?
R - Eu comecei no Aché dia 10 de julho de 1989. Estou completando agora no ano 2002, 13
anos de companhia.
P – E como é que você ficou sabendo do Aché, que estava contratando? Como é que foi esse começo?
R - Olha, foi uma história assim bastante engraçada, até. Eu trabalhei em banco muito tempo. Eu trabalhei durante 7 anos em banco e logo em seguida, porque eu sou contador formado também, eu falei: “Não, eu vou trabalhar na área que eu conheço um pouco também.” E montei um escritório de contabilidade. Um escritório de contabilidade, mas pequeno, né? Bem pequeno mesmo. E nesse escritório de contabilidade eu desenvolvia trabalho de contabilidade, escritas fiscais, com tudo, né? E em um belo dia chegou um colega meu, que hoje está na Novartis, esse colega até então trabalhava no Laboratório Aché. E trabalhava comigo anteriormente no banco Banorte, entendeu? Ele já estava praticamente 2 a 3 anos no Laboratório Aché nessa época. E por incrível que pareça ele foi no meu escritório para que eu fizesse a carta de demissão dele no Aché. Eu fiz a carta de demissão dele no Aché normalmente. E a gente começou a conversar mais em relação àquela atividade dele, porque a gente fazia muito tempo que não se falava. E eu comecei a perguntar o que é que ele fazia, como que era aquele trabalho. Comecei, porque eu imaginava, eu verificava assim na rua muitas vezes aquelas pessoas com pasta na mão. E eu achava sempre interessante. Mas não sabia nem o que é que aquelas pessoas faziam até então. E ele comentando, explicando sobre isso e eu achei interessante. Mas como eu estava começando no ramo de contabilidade e o ganho era muito pouco, né? Ele falando em salário, comecei a despertar o interesse, né? Apesar de que naquela época o salário não era tão bom, né? Mas bom em relação ao que eu ganhava. E ele falou: “Olha, a semana que vem vai estar aqui em Dourados, Mato Grosso do Sul, o gerente de vendas. Ele vai fazer entrevistas no Hotel Bahamas.” Eu falei: “Tudo bem.” Ele falou: “Se você se interessar, você pode ir lá e conversar com ele.” Eu fiquei pensando nisso e então eu elaborei o meu currículo e mandei para esse gerente. Quando ele chegou na próxima semana, ele me chamou lá para conversar. E tinha muitas pessoas para fazer entrevista também. Fiz a entrevista, fiz um teste escrito, tudo mais. Demorou dois dias, e ele me procurou. O gerente me procurou lá no escritório, (risos) inclusive. E falou se era aquilo mesmo que eu queria. Se eu estava pronto para aceitar aquele desafio. E eu estava mesmo, né? Super interessante e tal. Estava, como o ramo de contabilidade estava começando, estava ruim, eu falei: “Não, eu vou encarar esse desafio.” E ele falou: “Olha, então você vai providenciar a documentação e a semana que vem você já vai para o curso de novos, que vai ser em Bauru.” E aqui estou. (risos)
P – Puxa. E isso já era em Dourados, quando você entrou?
R - Eu entrei em Dourados, mas contratado por Campo Grande. Campo Grande tinha uma regional do Laboratório Aché lá, que era um escritório regional, né?
P – Como uma filial?
R - Exatamente. Era uma filial, que até então era Filial Oeste que se chamava, que era em Campo Grande. Então toda a documentação, as reuniões inclusive, eram todas feitas em Campo Grande.
P – E a sua área de atuação nesse começo era aonde? Quais as regiões que você circulava?
R - Eu comecei trabalhando na região de Dourados. Dourados, com abrangência em Rio Brilhante, Maracajú, Jardim Bela Vista e também começando na linha de fronteira Ponta Porã, Amambaí, Iguatemi, Mundo Novo, Eldorado, Itaquiraí, Naviraí e Carapó. Que eram...
P – Itaquiraí?
R - Naviraí e Carapó. Carapó já estava se aproximando de Dourados. Então é uma linha, né? Você pega toda linha de fronteira, essas cidades, por exemplo, Amambaí e Ponta Porã, é fronteira. Todas são fronteiras.
P – Que é fronteira com o Paraguai?
R - Isso. Exatamente. São todas linha de fronteira. E são cidades, como Ponta Porã, aproximadamente com 30 médicos, Amambaí com 10 médicos e você fazia um percurso de uma semana trabalhando todas essas cidades. Uma semana.
P – E tinha outros propagandistas de outros laboratórios nessas cidades?
R - Nessa época, praticamente não. Praticamente só o Aché atuava nessa época. Hoje inclusive, tem vários laboratórios que visitam essas cidades. Devido até pela repercussão do Laboratório Aché estar indo visitar, algum retorno com certeza traria, né? E o pessoal ficou interessado e hoje tem alguns laboratórios concorrentes nessas cidades que a gente visita também. Não todas. Têm algumas cidades que nós vamos, só o Laboratório Aché.
P – Luiz, descreve um pouquinho como é a paisagem dessas cidades por onde você passava.
R - Nessa linha de fronteira que eu fazia, Ponta Porã, Amambaí, é uma linha de fronteira, eu falo em fronteira já é perigoso. Quer dizer, você passa, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, então eles te param praticamente em todos os postos de fiscalização. E teve casos interessantes que eles abriam o porta mala do carro. Eles querem saber a procedência das amostras, tem fiscais de Renda também, né? Fiscal do ICMS que querem a nota fiscal. Querem saber se eu estou vendendo aquelas amostras ou não. Até você explicar é complicado. E o policial, eles imaginam tudo. Será que está levando droga? Porque ali é linha de fronteira. Ali é corredor realmente de drogas mesmo. Então você passa, eles revistam o carro. Eles verificam se você tem drogas, né? Então é arriscado até certo ponto.
P – Você ficou quanto tempo fazendo essa linha de fronteira?
R - Essa linha de fronteira até hoje eu faço.
P – Até hoje?
R - É. Há 2 anos atrás, eu ia também em outra fronteira que seria saindo de Dourados a Corumbá. Corumbá faz divisa com Bolívia. Com a Bolívia, né? É cerca de 10 quilômetros de Corumbá já é a Bolívia. E nós saíamos de Dourados, 700 quilômetros mais ou menos até Corumbá. Fazendo também cidades. Passava em Nioaque, que era uma cidade, Aquidauana. Trabalhava um dia em Aquidauana, no outro dia fazia Miranda de manhã. Aí chegava a Corumbá. Chegando a Corumbá, essa estrada de Corumbá é uma linha, é pantaneira mesmo. A estrada pantaneira é uma estrada que não tem muito movimento, né? É uma estrada muito perigosa devido ao números de animais na pista, então...
P – Que tipos de animais?
R - Jacaré, por exemplo. É comum você parar na beira da estrada e ter inúmeros jacarés. Capivaras, né? É, todo tipo de animais. Cobras. Cobras é o que você mais vê na beira do asfalto. Mortos inclusive. Muitos mortos...
P – Cobra morta?
R - Cobra morta, jacaré morto, tamanduá morto, macacos mortos na beira da estrada.
P – Por que, mortos?
R - Porque eles atravessam a rodovia e os carros atropelam. Então em certo ponto é horrível essa imagem. E você vê muitos vivos, também. Muitos mesmo. Então você chega até Corumbá, aí nós pegávamos uma balsa. Iria de carro, pegava uma balsa para atravessar o rio Paraguai para trabalhar em Corumbá. Aí nós ficávamos uma semana em Corumbá trabalhando.
P – Quanto tempo demorava a travessia do rio Paraguai?
R - A travessia tinha épocas que demorava meia hora, tinha época que demorava 2 horas para atravessar. Até 2 horas, por quê? Porque muitas vezes o leito do rio estava muito baixo e a balsa tinha que descer 15 quilômetros no leito do rio e depois você teria que subir novamente para pegar a estrada para seguir rumo à Corumbá.
P – Puxa vida. E com esse monte de animais não tinha, quer dizer, você dormia em hotéis por essas regiões? Os animais se aproximavam ou não?
R - Não. Corumbá hoje é uma cidade grande, né? Uma cidade grande, uma cidade bonita até. Turística. Muitos pescadores, inclusive de São Paulo. O turismo lá é muito elevado. O pessoal desce mesmo para lá por causa da pesca no Pantanal. Nós ficávamos em hotel em Corumbá.
P – Em Corumbá.
R - Em Corumbá. Nós saíamos nessa linha, essa pantaneira que a gente fala, essa estrada, a gente ia e voltava por ela mesma. Porque não existe outro caminho. É só essa estrada que vai até Corumbá.
P – E não tinha cidadezinhas no meio do caminho?
R - Não, no meio não tinha. Ali daria mais ou menos 300 e poucos quilômetros de estrada sem casa, sem nada. Só ribeirinhos, né? Ribeirinhos são as pessoas que vendem iscas de peixe. Então, tem muitos na beira da estrada, porque o pessoal de pesca realmente compra iscas nessa região. Para pescar em Corumbá.
P – E você disse que Bonito fazia parte do seu setor.
R - Bonito fazia parte do meu setor também. Bonito é uma cidade, uma das maiores cidades, cidades mais lindas, né, ecologicamente falando. Saiu uma reportagem até no Globo Repórter, só de Bonito. Realmente, é lindo. Tem grutas, tem paisagens assim muito bonitas. Fazendas. Que Bonito é uma cidade pequena. Só que os locais mais bonitos mesmo são distantes cerca de 10, 15 quilômetros. Então você fica na cidade. Para você verificar os locais bonitos, são fazendas, grutas, né? Você vê águas límpidas, carpas. Você vê o fundo do rio, realmente, cachoeiras. É muito bonito mesmo.
P – Mas quando você ia para fazer propaganda não dava tempo de dar uma escapadinha?
R - Não dava tempo, não, não. Isso aí só no final do ano, que eu fui duas vezes a passeio mesmo. Mas como trabalho fica difícil. Porque não daria. Porque fica longe, né? Então a cidade na realidade, você não vê tanta coisa bonita dentro da cidade. Você tem que sair como eu falei 10, 20 quilômetros de distância para você conhecer os locais mais bonitos mesmo.
P – E com você rodando tantas estradas, quais eram as condições das estradas nessa época quando você entrou?
R - Péssimas. (risos)
P – É mesmo?
R - Péssimas, péssimas. É um risco, né, que a gente corria. Logo quando eu comecei no ramo farmacêutico, no Laboratório Aché, eu comecei com carro próprio. Um Fusca ano 78. E naquela época as condições que o laboratório dava eram mínimas, né? Não tinha condições. A diária era muito pouca e a manutenção do carro nesse aspecto ficava difícil. Então, pneu ressolado, problema de carburação, é comum, né? Com esses carros velhos. Então você sofria muitos problemas. A estrada, a poeira, nós fazíamos algumas localidades que você rodava 90 quilômetros para ir, de terra mesmo, e 90 para voltar. E quando chovia era terrível. Muitas vezes você pegava chuva nessas estradas. Então, era terrível.
P – Que tanto você chegou a rodar em um mês de quilometragem?
R - Olha, em um mês? Três mil quilômetros mais ou menos, em média. O mês a gente fala assim, em forma de ciclo, né? Nós trabalhamos em ciclo fechado. Em mês fica meio difícil. Então a primeira semana, a segunda semana, a terceira semana, quarta semana de trabalho. Na primeira semana de trabalho eu faço o giro da fronteira, né? Que eu comentei: Ponta Porã, saindo a Amambaí até Carapó. Faço o giro completo. Na segunda semana eu fico em Dourados. Dourados é uma cidade hoje de cerca de 180 a 190 mil habitantes. Temos uma Faculdade de Medicina na cidade, já. Está no terceiro semestre, terceiro ano já. E temos mais ou menos 160 médicos em Dourados. E nesse caso, nós trabalhamos uma semana em Dourados, tá? Aí na outra semana eu faço um outro giro de viagem, que é um giro onde eu pego Fátima do Sul, Glória, Deodápolis, Ivinhema, Nova Andradina, Bataiporã, Anaurilândia e Bataguassu. Que fica aqui já na divisa com São Paulo, né? E pego estrada de chão nessa região. E nessa região eu também fico uma semana fechado. E uma semana em Dourados para terminar o ciclo e fazer revisitas também. Mas, antigamente, logo quando eu comecei, teve um período, eu não recordo mais ou menos a data, que nós trabalhávamos em carro coletivo. A empresa dava o carro para você trabalhar com dois propagandistas.
P – Como é que era nessa época?
R - Ah, em um aspecto era bom, em outro aspecto era ruim. O aspecto bom é pelo fato de você ter uma companhia contigo ali viajando, né? Meu parceiro não me ajudava muito. Eu dirigia mais e ele dormia mais. Mas no aspecto de visitar o médico, era um pouco complicado. Porque você sempre chegava em dois no consultório, e isso aí muitas vezes dificultava um pouquinho mais. Mas deu para passar legal.
P – E você disse que tinha um amigo que viajava de trem e ia propagar a pé, não é?
R - Exatamente. Esse colega entrou junto comigo, é o Walter. O Walter começou comigo na empresa. Fez curso de novos junto comigo também. E ele pegou uma época interessante, Corumbá, que eu comentei contigo que eu fazia a linha de carro, e eles, até então, iam de trem. Eles não iam de carro até Corumbá. Eles iam de trem, sem o carro. Pegavam as caixas de medicamentos, colocavam as amostras, a pasta de propaganda e iam até Corumbá. Chegando no hotel em Corumbá, deixava as caixas, pegava a pasta e trabalhava a pé na cidade. Era bastante complicada a situação nessa época. Ele conta até hoje que sofreram bastante.
P – Nossa. E vocês faziam a venda nessa época também, então?
R - Sim. Na época, logo quando eu comecei no laboratório, era propagandista, vendedor e cobrador. Porque eu sou da época que eu vendia, eu tinha uma cota para cumprir. Eu vendia, eu propagava, aliás. Eu propagava e vendia, para cumprir a minha cota e depois eu recebia a duplicata para ir lá e cobrar do farmacêutico.
P – Era o famoso PVC?
R - PVC. Exatamente. A sigla PVC era nessa época, a gente exercia essa função. Você tinha que cumprir cota mesmo. Era interessante.
P – E você tem idéia de quando isso mudou?
R - Olha, é interessante porque a gente... As mudanças foram assim: de um ano para o outro, o Aché mudava para melhor, por incrível que pareça. De 89 para cá as mudanças foram assim. Todo ano tinha uma mudança. E essas mudanças eram cada vez melhores. Inclusive, na época a gente trabalhava nessa regional oeste. Fazíamos reuniões, por exemplo: quando a reunião era em Cuiabá, nós íamos de carro até Campo Grande. Até hoje a gente faz isso. Vai de carro de Dourados até Campo Grande. No caso específico aqui de São Paulo, que a reunião agora é em São Paulo, a gente vem de avião de Campo Grande a São Paulo, né? Antes nós íamos até Campo Grande, pegávamos um ônibus às 8 horas da noite e chegávamos às 5 horas da manhã em Cuiabá. Então você viajava a noite toda de ônibus para fazer reunião no outro dia. Reunião o dia todo, pegávamos o ônibus de volta às 8 horas da noite, chegávamos às 5 horas da manhã no outro dia em Campo Grande para ir até Dourados e... É complicado. Então, hoje eu posso dizer que a gente está no paraíso. (risos) Muito bom mesmo.
P – Certo. E deixa eu te perguntar uma coisa, na relação de propaganda, qual é o diferencial do Aché em relação aos outros laboratórios, aos outros concorrentes?
R - Você até comentou se em algumas cidades que nós visitávamos, a concorrência fazia. O diferencial do Aché hoje é que nós visitamos em nossa região toda cidade que tenha um médico. Esse é o diferencial. Se tem um médico naquela cidade, aquele médico é importante para o Aché. Então o diferencial nosso em relação à concorrência chega a ser isso. Porque enquanto a concorrência separa as especialidades para falar, separa os médicos
importantes para se falar, o Aché considera que todo médico é um potencial de prescrição para o laboratório. Então, que saia uma receita de Decongex lá em uma cidadezinha, é um ganho que o Aché está tendo, é um ganho que eu estou tendo. Inclusive, estou desenvolvendo um trabalho, porque tem algumas cidades que fica difícil você visitar. Na própria região, nossa cidade tem dois médicos que ficam fora, não dá para ir lá. Fica complicado para mim. A gente faz um trabalho de mala direta, né? A gente manda uma correspondência com algumas literaturas para o médico, para que ele tenha acesso a algumas informações que os demais médicos dos outros centros têm.
P
- E existe um jeito próprio da sua equipe trabalhar? Ou um jeito seu de lidar com o médico, de fazer propaganda?
R - Sim. Sim pelo fato... Eu moro em Dourados. Eu estou há 14 anos, há praticamente 13 anos na empresa. E eu faço praticamente o mesmo setor. Então o conhecimento com os médicos já é mais fácil. Os produtos não. Os produtos mudam de um ano para o outro. Eles vão mudando e você vai se reciclando. Mas com os médicos você passa a ter uma afinidade. Hoje na minha cidade eu jogo bola com os médicos todos os sábados. Então esse é o diferencial nosso em relação a alguns concorrentes. Porque nós vivemos ali. Porque você sai no final de semana com a sua família em um restaurante, você encontra um médico. Você sai na rua, você encontra o médico. Você joga bola com o médico. Então o seu relacionamento termina sendo muito próximo e isso ajuda muito na conquista de receituário nosso. Esse é o diferencial que eu acho, a atuação no meu centro de trabalho.
P – Está certo. E um jeito próprio seu, do Luiz fazendo propaganda?
R - Fazendo propaganda? Olha, é interessante porque a gente tem amizade já com o médico, mas muitas vezes eu não deixo que essa amizade atrapalhe o meu trabalho. Eu tento desenvolver o meu trabalho de acordo com que o Marketing pede. Pediu, a gente vai fazer a propaganda. É claro que existem algumas situações em que é difícil você fazer o que o Marketing pede, o que seria seguir a grade promocional certinha. Às vezes, são situações difíceis. Então muitas vezes, pelo próprio conhecimento que você tem com o médico, você conquista até mais o receituário por essa afinidade que você tem. Então eu aproveito muito isso. A amizade que eu tenho com o médico. Com essa amizade eu tenho mais possibilidade de cobrar dele. Eu cobro muitas vezes. Cobro na cara dura mesmo. Porque muitas vezes a gente tem amizade, então a gente tem que aproveitar todos os argumentos para reverter a situação. É difícil, não vai falar que não acontece, porque muitas vezes o médico está receitando algum produto de um concorrente que nem faz a visita, né? Poxa, por que não me prestigiar? Então a gente pega essa amizade e fala: “Poxa, doutor, eu estou aqui todo mês, há quanto tempo a gente se conhece? Por que não prescrever o meu produto e prescrever o produto do concorrente, que muitas vezes nem sabe que você existe aqui?” A gente tem esse argumento com o médico e...
P – Costuma dar certo.
R - Dá certo. Na maioria das vezes, dá certo.
P – Então, Luiz, nesses anos todos trabalhando no Laboratório Aché e fazendo propaganda, tem algum medicamento ao qual você tenha se afeiçoado mais ou que você goste mais de fazer a propaganda?
R - Olha, por incrível que pareça, tem um medicamento com que eu me afeiçoei muito, mas hoje não está mais comigo, está na linha um. É o Brondilat. O Brondilat, por incrível que pareça, foi o primeiro produto que eu fiz propaganda, quando fui fazer o curso de novos. Então, era decoreba mesmo. Você tinha que decorar o texto, e por incrível que pareça, até hoje eu lembro da propaganda do Brondilat, que está na minha cabeça.
P – Como é?
R - Na época, tinha uma literatura do Brondilat em que eles faziam analogia com instrumentos musicais de sopro. Porque o Brondilat é para tratamento das vias aéreas, superiores. E tinha, por exemplo, uma seqüência: era flauta, trompete e vários instrumentos musicais. Então em todo ciclo de visita era um instrumento diferente que eu trazia na literatura para o médico. Eu lembro dessa primeira propaganda em que eu entrava e: “Doutor, a flauta...” Na época, era a flauta. “Doutor, a flauta, a par das suas finalidades artísticas, assim como outros instrumentos musicais de sopro, colocam em prova a função respiratória. E para que a função respiratória do seu paciente não seja comprometida, Brondilat.” Então está até hoje arraigado na minha mente, eu não consigo tirar. (risos) Foi o primeiro produto que eu aprendi. Trabalhei com ele muitos anos, é um produto pelo qual eu tenho muita afeição. É claro que dos produtos que eu propago atualmente, como os demais do grupo, eu gosto também. De todos eles.
P – E alguma campanha mais marcante?
R - Campanha mais marcante? Tem várias. Tem várias.
P – Alguma mais criativa, com brindes?
R - Brindes? Assim, de recordar de momento... Tem tantas, né? Tem muitas, muitas, muitas...
P – Está certo. E na relação com o Aché, o que é que mais te agrada?
R - Ah, hoje eu poderia dizer que o geral, né? Hoje muito mais. Hoje a gente nota que a gente está tendo uma proximidade muito grande com o pessoal de outros centros, que até então a gente não tinha. Na relação com o Marketing, com o pessoal... Como hoje, por exemplo, a gente conhece pessoas que muitas vezes você conhecia através do vídeo, só. Então, isso é fantástico. Hoje você tem possibilidade: “Ah, existe mesmo. Está ali, né?” É interessante. Hoje tem condições de você discutir o material promocional que o Marketing fez, com a pessoa que fez aquilo lá. Então, você fala com ele: “Olha, como você fez isso aqui? Isso aqui eu não achei legal. Isso aqui está legal.” Então há essa possibilidade, essa sintonia. Até então, era impossível isso. Você tinha que acatar tudo e você não tinha esse acesso que você está tendo. E hoje, como as nossas reuniões estão sendo feitas em São Paulo, muito mais , né? Porque você conhece características de regiões diferentes da sua. E muitas vezes você pode até aproveitar algumas situações e implantar isso na sua região. Então, eu acho que de uma forma geral é bem legal. Culturas, né? Formas de você apresentar o produto e outras situações mais que você pode utilizar.
P – Legal. Luiz, você tem algum desses famosos causos de trabalho que vários propagandistas têm? Você já viveu uma dessas situações?
R - Ai, tenho. Tenho. Tenho uma situação que eu sempre brinco com o pessoal, né? Eu falo assim que o único médico que me maltratou – eu sempre brinco com os médicos, com os colegas de trabalho – o único médico que me maltratou dentro do consultório, está morto. Mas pelo amor de Deus, não... (risos) Eu fui fazer propaganda em um determinado posto de saúde na cidade de Dourados. Até então, o gerente estava no hotel. E ele me ligou e falou: “Você me pega às 7 e meia da manhã.” Eu falei: “Tudo bem. Mas antes eu vou passar no posto de saúde para visitar um médico.” Dois médicos, né? O doutor Pedro e o doutor Hitaro Yamasaki, que eu visitava nesse posto de saúde. Eu fui lá, entrei na sala do doutor Hitaro. Comecei a fazer propaganda para ele. No meio da propaganda, entrou um senhor. Logo em seguida, eu parei a propaganda e o doutor Hitaro me apresentou aquele senhor como médico. Até então, eu não o conhecia. Eu tinha acesso a todos os painéis médicos. E eu não conhecia aquele médico. Aí, eu logo falei: “Doutor, depois eu posso conversar contigo?” Ele falou: “Tudo bem.” Mas seco, né? E saiu da sala. E eu continuei a fazer propaganda para o doutor Hitaro. E quando eu saí, eu falei: “Ôpa, vou cadastrar mais um médico, né? Mais um médico no meu setor.” Fui lá e falei com a menina. Eu falei: “Eu queria falar com o doutor Leon.” Esse era o nome do médico. Ela falou: “Ah, tudo bem.” E no posto de saúde tem aqueles bancos de cimento na frente do consultório, onde as pessoas ficam. Então, é ruim até para você entrar no consultório. O consultório é pequenininho, tem uma mesinha no canto, o médico, uma prateleira e só. E a maca para fazer exame. E na frente do consultório aquele monte de gente. E eu entrei no consultório, a menina me anunciou e eu entrei para falar com o doutor Leon. Até então não conhecia, falei: “Vou cadastrar esse médico.” Na hora que eu entrei para falar com ele, ele olhou para mim e falou assim: “Se ponha para fora da minha sala.” Eu não entendi nada, né? Eu, eu fiquei... Eu tentei argumentar com ele. “Eu acho que ele está brincando comigo, né? Se ele conversou lá, falou que ia falar comigo...” E ele começou gritar: “Eu já mandei você se pôr para fora da minha sala Suma daqui” Sabe? E com aquilo eu fui ficando nervoso, tentando argumentar. Eu falei: “Está brincando.” E ele levantou. Na hora que ele levantou, eu falei: “Vou sair, né, porque esse homem vai me bater aqui.” E gritando alto. Na hora que eu abro a porta, eu não cheguei nem a abrir a minha propaganda, a pasta, né? Aquelas pessoas estavam com o olho desse tamanho, devido aos gritos desse médico dentro da sala.
P – Nossa.
R - Eu saí dali, a perna tremia, tudo tremia.
P – Arrasado.
R - Arrasado, porque nunca tinha acontecido aquilo. E sem entender também. Porque até então, eu falei: “Mas por que isso? Eu não entendo.” E eu entrei no carro e fui ao encontro do meu gerente. Comentei com ele, né? Comentei com ele o que tinha acontecido. Aquele dia para mim foi terrível, sabe? Foi um dia terrível. Falamos bem até. E no final do dia, eu lembro que estava no Hospital Santa Rita, conversando com o médico, o doutor Neyer, hoje ele está trabalhando em Campo Grande, e comentei a história com o doutor Neyer. O doutor Neyer falou assim: “Olha, você fez bem. Você fez bem porque esse médico está ali porque não tem lugar para ele. Ele está se aposentando.” Ele era de idade. Já tinha mais de 65 anos de idade, nessa época. Mais de 65, muito mais. E falou: “Esse médico é doente e tem problema de depressão. Ele bebe.” Uma série de coisas. Aí que eu fui entender. Aí ele comentou: “Olha, você fez bem em nem tentar ficar mais tempo dentro da sala porque corria o risco dele bater em você, né?” Então ficava mais feio para mim. Essa é uma história que eu conto até hoje que eu acho super interessante. Infelizmente, o doutor Leon veio a falecer. Ele tinha problema de pressão alta ou alguma coisa assim, e ele veio a falecer. Mas muito tempo depois, tá? Deixa bem explicado isso.
P – Claro. Legal. Luiz, e para a gente finalizar, eu queria que você dissesse o que você achou de ter deixado registrado um pedacinho da sua história.
R - Olha, é fantástico. Eu já tive oportunidade de mandar algumas historinhas, entre aspas, a do doutor Leon também eu mandei. Mas não teve oportunidade de sair na Propagaché. Até agora não foi escolhida para sair. Teve outras histórias muito legais que saíram. Mas a minha talvez esteja guardada lá para sair em uma oportunidade, para o pessoal conhecer essa história.
P – Provavelmente.
R - E outras histórias mais, que não dá para contar aqui hoje. Tem várias histórias legais. Mas, eu acho que esse espaço é fundamental. Eu acho que você participar, eu com 13 anos de companhia, eu gostaria de ficar muito mais. Sinceramente, muito mais. Eu tenho um filho de 14 anos e tenho um filho de 10 anos. Então, o de 14 anos estava novinho, né? Ele me conheceu dentro do Aché. O de 10 me conheceu dentro do Aché. Então a gente vive Aché, 24 horas Aché. Então, é uma satisfação muito grande participar desse projeto da história do Aché.
P – Está jóia. Eu gostaria de te agradecer. Muito obrigada pela participação.
R - Eu é que agradeço. Obrigado.Recolher