P/1 – Zé, pra começar eu queria que o senhor dissesse aqui pra câmera nome completo e depois nome artístico.
R – Pode ser agora?
P/1 – Pode claro.
R – Pois é, o meu nome de nascimento é Francisco Gonçalo da Silva, nome artístico é Zé do Pife. Porque esse nome é, muita gente diz...Continuar leitura
P/1 – Zé, pra começar eu queria que o senhor dissesse aqui pra câmera nome completo e depois nome artístico.
R – Pode ser agora?
P/1 – Pode claro.
R – Pois é, o meu nome de nascimento é Francisco Gonçalo da Silva, nome artístico é Zé do Pife. Porque esse nome é, muita gente diz assim, mas é não tem nada a ver Francisco Gonçalo da Silva pra Zé do Pife, mas é porque em São Paulo, em 73, eu tocava a música de João do Pife, aí lá mesmo, sem eu falar e sem nada, o povo ficava me chamando de Zé do Pife porque eu imitava João do Pife. Eu toco umas musiquinha dele. E então, rolou, rolou isso, viajei pra Pernambuco, depois vim pra Brasília, em Brasília tocando também o Pife sem eu, sem eu falar nada pro povo o povo ficava me chamando de Zé do Pife e Zé do Pife ficou. Por isso que eu tenho, meu nome artístico é Zé do Pife.
P/1 – Você nasceu aonde?
R – Eu nasci em São José do Egito, Pernambuco, mas eu não sou mesmo da cidade. Eu sou do sítio Riacho de Cima, pertinho de Juazeirinha, Riacho do Meio, Tigre, Vila do Tigre e, mas é município da minha cidade, de São José do Egito.
P/1 – E qual foi a data de nascimento?
R – É, 1943, a 24 de maio é que eu nasci.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama-se João Gonçalo da Silva, a minha mãe Josefa Maria da Silva. E meu pai paraibano de Conceição Piancó, minha mãe pernambucana da mesma cidade. Nasceu e se criou no Riacho de Cima e meu pai casou com ela e criou a família todinha lá em Pernambuco. Da minha cidade ficava avistando a serra da Paraíba, pertinho assim.
P/1 – Quantos irmãos que eram?
R – Eram, eram nove, vivo né, porque morto a gente nem fala, mas vivo foram nove, cinco homem e quatro mulher.
P/1 – E o seu pai, ele fazia o quê?
R – Olha, meu pai, quando ele era rapaz novo, ele tocava o pé de bode, que hoje chama sanfona ou então baixo né, antigamente era pé de bode. Meu avô também tocava pé de bode, marcava quadrilha, mas a maioria todinha era na roça, plantando milho e feijão é e tudo. E eu e meus irmãos e minhas irmãs, nós tudinho era da roça, sofremo muito na roça, plantando, limpando mato, que lá a gente chama limpar mato, não é capinar, a gente chama limpar mato. Dentro da formiga preta, dentro do toco, sofremos muito e nós sofremos muito, muito na roça. E depois eu tava com uns dez aninhos de idade é, as bandas de pife ao redor da minha cidade, que é da mesma cidade, acostuma sair pelo sítio de junho a julho, sempre tem festa lá, tocando para o sítio vizinho, tirando prenda para o leilão. E eles saíam de porta de casa em casa, com a banda de pife, a santa no andorzinho, quando tá aqui, a santa no meio de duas pessoas lá andando e aquela multidão de gente atrás e as banda de pife tocando. De longe a gente escutava o tom do pife, que o pife o tom dele vai longe. E eu ficava encantado com aquilo, eu digo: "Eu vou aprender a tocar que é muito bonito", eu era criança. Peguei por minha conta, fiz um pife de talo de jerimum, ou que fosse de talo de mamona, que é carrapateira, fiz
por minha conta e eu fui tentando devagarinho, sem ninguém me ensinar, sem ninguém me dar explicação, aí cheguei a aprender um pouquinho, aí as bandas de pife que era da minha cidade, que era já profissional, aprende sozinho, aqueles pifinho lá do nordeste. Eles aprendem ser ter aula de ninguém, aprende sozinho, eles viram que eu era esforçado, era eu e meu irmão, meu irmão também toca o pife, só que ele tá lá e eu tô lá em Brasília. E sei que nós dois aprendeu e eles viram que nós tinha esforço e tinha boa vontade de aprender a tocar o pífano. E eles pegaram e deram um aparelhinho de pife pequenininho, como eu tenho aqui na minha sacola, que a gente era criança, que os grande o espaço é largo, não dava pra gente, eles deram e a gente desandou, desenvolveu a tocar o pífano aí até que meu avô montou uma banda de pife, comprou zabumba, comprou caixa, comprou prato, triângulo, montou uma banda de pife. E nós desenvolvemos cada vez mais e nós era chamado pela cidade vizinha, povoado, sítio, o povoado admirava com a gente, que a gente era criança e, chegamo o ponto de aprender. Depois, depois já de adulto é, eu peguei fui tentar viajar pra São Paulo, viajei pra São Paulo, eu sozinho. Cheguei lá, me empreguei numa firma chamada Delta é, construtora Delta. Porque aqui tem uma Delta, aqui em Brasília tem uma Delta também, Delta Engenharia, acho que a de lá também acho que é a mesma coisa, construtora Delta. E na obra eu fazia o pífano de cano de PVC, que não tinha bambu, não tinha material pra fazer e eu fazia de cano de PVC. E eu tocava lá dentro da obra lá, o povo ficava admirado, meus colegas de trabalho, e dizia: "Mas o senhor por que não vai se apresentar no Silvio Santos?", eu digo: "Vou nada", eu nem sabia o que era isso de rádio de televisão: "Vou nada", é Pernambuco na Freguesia do Ó, Diamante cor de rosa também na Lapa, no forró do Pedro, sertanejo, forró do Zé Beto. E aí fiquei conhecido ainda mais. Depois voltei pra Pernambuco, tive lá uns tempinhos e depois eu digo: "Agora vou viajar pra Brasília". Viajei pra Brasília. Brasília eu também sou conhecido que só, bolacha em padaria. É, eu toquei no forró do Júlio, no forró do Pimentinha, a Globo já fez entrevista comigo, o Correio Braziliense tudo fez matéria comigo, o SBT e a Record. A Record veio fazer matéria comigo um dia desses, lá no UNB [Universidade de Brasília], uma grande universidade que tem em Brasília e tudo isso. É, eu aprendi assim sozinho que nem eu tô falando pra você, sem ter aula de ninguém, sem ter explicação de ninguém. Em Brasília eu dei, eu ensinei a 75 alunos e eu falei pra eles: "Vocês é, eu nunca tive explicação e eu aprendi sozinho, e hoje eu tô ensinando a vocês e vocês tenta e se interessa, tem um pouquinho de boa vontade, se esforcem pra aprender como eu aprendi, que eu aprendi sozinho e hoje eu tô ensinando a vocês". E eu fiquei muito alegre e satisfeito porque foi escalado cinco músicas, eu escolhi cinco músicas pra ensinar pra eles e eu ensinando pra eles na hora que eu tava tocando parece que todo mundo tava tocando igual comigo, eu fiquei muito alegre, que o meu prazer é grande, é imenso de uma pessoa comprar dos
meu pífano e a aula que eu dou, explicação, aprender a se brincar melhor do que eu, passar de mim em músico, tocar bem. Chegar dizer assim: "Um aluno seu, uma pessoa que comprou um pífano do senhor tá tocando melhor do que o senhor". Isso é um grande prazer que eu tenho, imenso, imenso. Que eu lá em Brasília eu fiz até uma poesia em repente: “Pode ser em aboio de vaqueiro, pode ser em verso de poeta cantador, dois violeiros num pé de parede cantando poesia”, eu fiz até uma poesia assim, como é seu nome?
P/1 – Thiago.
R – Thiago, vamos fazer de conta que você mora em Brasília. "Thiago, eu moro aqui no Distrito Federal, eu toco pife em Brasília e faço o povo chorar porque as banda de pife nunca pode se acabar", porque é muito bonito o pife, não é porque eu toque não, porque eu faço o povo chorar mesmo, eu falo porque eu me encontro com a pessoa assim, eu trabalho lá nas ruas de Brasília, como o repórter falam, que o Zé do Pife anda dentro dos _____ de Brasília tocando e alegrando todo mundo. E, e sei
que, que eu tenho aquele prazer grande, imenso que tudo isso aconteça a quem comprar meus pife, aprender como eu aprendi.
P/1 – Zé, qual é a história do pife então?
R – Olha, o pífano, a história do pife é a seguinte, eu quero lhe falar assim, o pife, muita gente pergunta pra mim, diz: "Seu Zé, de onde foi que veio o pífano, como foi que o pífano chegou a ter o nome de pífano, de onde foi que veio e como começou?" Que o pífano é, eu era criança e meu avô, meus pais, dizia que o pífano veio dos índios, foi criado pelos índios, o pífano, a pena, a flauta doce. Então e daí foi criando, muita gente aprendendo a tocar pife, muitas bandas de pife como tem sempre e, e eu te falo também que o pife é bonito como eu ia falar mesmo agora, que eu até esqueci, eu pensei um pouquinho. É bonito o pife, uma pessoa tocar o pífano sozinho, eu já fiz gente chorar em Brasília, sempre faço. E sendo dois caras que toca o pífano, ainda mais bonito é porque fica duas voz, primeira e segunda, tipo música sertaneja, é muito bonito. Eu tenho
meu irmão que tá lá no nordeste, que ele podia tá aqui mais eu. Eu fiz até outra poesia dizendo assim: "Ah, minha mamãe querida, ausente dos filhos seu, Helene mora em São Paulo que podia estar aqui mais eu, Zequinha meu irmão que é parceiro meu", que ele toca o pife também, que é meu irmão. E então é tudo isso aí, o pife criou disso aí, veio dos índios.
P/1 – Dos índios.
R – Dos índios. Disseram meu avô, meus pais que era as pessoas antigas, né, e eu botei isso na cabeça, quando as pessoas me pergunta aí eu nunca me esqueci. Eu digo, eu falo o que meu pai me contava e meus avôs que são pessoas já mais antiga. E então eu acompanho o, o ritmo deles falar pra todo mundo que o pife nasceu e veio dos índios.
P/1 – E o que que o senhor sentiu a primeira vez que tocou o pife?
R – Quando foi pra eu aprender?
P/1 – É quando foi pra aprender, mas quando foi pra tocar pro público.
R – Ah meu Deus do céu! É, é eu me sentia alegre demais porque tem aquela música do Genival Lacerda: "Ele tá de olho na butique dela", não é isso?
P/1 – Ahãm.
R – Pois é, o povo ficava tudo de olho na gente, aquilo ali era um prazer imenso. Eu e meu irmão tocando lá
no, no Tigre, Riacho do Meio, novena, festa junina. E
a gente tocando aquele povo mais velho tudinho de olho olhando a gente, achando bonito. E aquilo ali era um prazer pra gente, quanto mais a gente tocava, mais a gente tinha vontade porque a gente se sentia outra pessoa. Porque a música é, ela é cultura e é vida. A música é cultura e é vida. Então quer dizer que uma pessoa tá triste que nem muita gente se encontrou comigo lá em Brasília de pé andando assim, que eu ando vendendo meus pifes lá andando assim. E vi uma pessoa que nem eu encontrei uma mulher, ela vinha de vista baixa e ela chegou perto de mim ela fez assim pra mim que eu parasse, ela vinha chorando e ela disse: "Olha, o senhor fez eu me alegrar agora, eu fiquei emocionada que eu vinha triste, eu tô sentindo assim uma coisa dentro de mim triste e o senhor me alegrou". Isso aí é um prazer que eu tenho na minha vida, de eu tocar para o público e o, eu sentir que o povo gosta do meu trabalho, que isso foi um dom que Deus me deu.
P/1 – E o senhor se sente diferenciado, reconhecido quando as pessoas vem falar que o senhor é o Zé do Pife. Como o senhor se sente?
R – Demais até porque...
P/1 – É bom...
R – Pois é porque isso aí é, é coisa da nossa vida, de cada um da gente e eu me sinto feliz, alegre e satisfeito e eu não tenho hora só em hora que eu tô dormindo, mas onde eu tô eu faço brincadeira com o pessoal, o povo ri pra mim. É, eu sou uma pessoa que não falo muito bem, mas as minhas coisas que eu falo, ruim e pouco, o povo acha graça, pra mim é uma, pra mim é uma alegria, pra mim e pra quem tá me assistindo. Me sinto bem.
P/1 – O senhor ensina, dá aula né, é isso?
R – Olha, dei aula dois meses, é foi dois meses, mas eu fiquei muito alegre satisfeito porque 75 alunos, que era dois períodos, das dez ao meio-dia e do meio-dia às duas horas, eram duas turmas. Mas todas essas duas turmas, o que eu tava ensinando pra tocar pra eles, pra mim eles tava tocando todo mundo. Só tinha um que ele fazia só o jeito assim, mas ele não pegava, eu ia lá com toda calma, com todo carinho, dizia: "Olha é assim, assim assim, presta atenção". Eu ensinava pra ele, eu ficava de frente com ele, eu ensinava pra ele direitinho, bem devagarinho, mas ele não, não tinha jeito. E ele era esforçado, tinha a maior vontade de aprender e eu falei pra ele, digo: "Ó, você não aprendeu nada, mas qualquer coisa você me procura pra me pedir uma explicação que eu te dou, e eu te ensino fora de aula mesmo, eu te ensino com muito gosto e prazer". Então é, só fiz só dois mês que na lista tava Asa branca do Rei do Baião, A volta da Asa Branca, que é a irmã da Asa Branca, Maria Bonita, Mulher Rendeira, uma música minha, composição minha Caboré, que é uma ave de pena que fica lá no mato, é igual uma coruja, ele fica cantando e eu fiz uma musiquinha dele. Essa musiquinha, ele fica dentro da mata lá, vamos supor, você tá dormindo aqui, noite enluarada, claro, você tá escutando ele cantar lá dentro, fit fit fit fit fit, a vida todinha. Aí eu digo: “Dá uma música o canto desse caboré". Aí eu fiz uma música dele, eu e meu irmão. Aí um fica fit fit fit fit e o outro piririri piririri piririri piririri. E então e aí e a outra música era A briga do cachorro com a onça da banda de pife Caruaru. Então eles, fiquei muito alegre e satisfeito, demais até porque eles, o que eu tocava junto com eles tudo arrodeado assim, ficava de frente comigo assim, parece que eles tava tocando tudo igual comigo, aquilo ali era um prazer pra mim. E se eles um dia me assistir eles vão dizer: "Olha, seu Zé do Pife, onde é que ele foi parar!" E chegou o dia de eu chorar de tão alegre de eu ver o que eles tavam fazendo junto comigo, que eles nunca tinham pegado um pife. Porque o pífano ele é um instrumento difícil, ele é um instrumento difícil de você aprender, mas depois que você aprende, aí é a maior facilidade de você aprender se toca. Eu mesmo pode ter acordeon, pode ter zabumba, pode não ter pandeiro, triângulo, se você disser: "Toca uma música aí", eu toco sozinho. Eu sei sustentar o ritmo, tudinho direitinho, eu e tendo percussão pra mim, tendo sanfoneiro bom aí é que é melhor, a gente fica mais à vontade, aí ajuda muito, a percussão com outros artista. E sei que eu fiquei satisfeito e muito alegre, até eu chorar eu chorei que nem eu acabei de falar.
É porque eles, essas músicas todinhas eu ensinava a eles, quando eu acabava uma eu começava a outra e parecia que eles tava tocando tudinho, caía dentro dos meus ouvidos que parecia que eles tava tocando tudo igualzinho comigo. Quando era depois, digo: "Vocês já sabe fazer essa primeira parte, vocês não vão olhar pro meu dedo, vocês faz a primeira parte que eu ensinei pra vocês que eu vou pra segunda voz pra ficar suas voz". E assim foi, teve o encerramento, foi muito bonito. Nós saímos lá da sala onde eu dei aula até lá no minhocão, lá na UNB, tocando. Foi um encontro muito bonito de mim com os alunos, reportagem lá, todo mundo tirando foto e sei que fiquei muito alegre. E o meu prazer, o meu coração é grande. Eu não só quero pra mim, eu quero pra todo mundo.
P/1 – E qual é a diferença entre aprender o pife como o senhor aprendeu que foi ouvindo outras pessoas ou aprender com um professor?
R – É uma boa pergunta, sabe por quê? Isso aí como eu falei, a gente vê as banda de pife sair pelos sítio, pelo povoado, tirando prenda pra leilão. Você sabe muito bem o que é leilão né?
P/1 – Ahãm.
R – Então a gente via eles batendo com os dedos tal, mas nem explicação eles não davam pra gente porque eles não sabiam que a gente tinha aquela vontade de aprender, a gente ficava, ficava quietinho né. A gente olhava pros dedos dele, o jeito deles bater os dedos nos furos dos pífano e nós ficava quieto. Nem tivemos explicação de ninguém, nem nunca nós foi em aula, nem nunca a gente estudou partitura. Aprendemos sozinho assim ó, inclusive os pifeiro nordestino tudo aprende lá dentro da roça, lá dentro dos mato, vai plantar de manhã, vai capinar mato, quando volta meio dia vai treinando devagarinho. E tem banda, tinha, hoje não tem mais, tinha banda de pife na minha cidade que ainda hoje eu tenho recordação e senti muito eles morrer que eles tocavam muito bem. Aprenderam, aprenderam, como dizer, as banda de pife nordestino aprende tudo sem ter aula, sem ter, sem ser por __(?), por nada, sozinho. E tocavam muito bem e a gente faz música da gente mesmo, que parece música de outros artistas que já foi, foi já, tinha CD, disco, que naquela época era disco né, aqueles pratão redondo. E, sei que aprende tudo lá dentro dos mato, dentro dos mato, trabalhando junto com os pais, junto com tio, avô e quando nós tirava uma horinha, nós ia e ia aprendendo devagarinho, devagarinho, sozinho, sozinho. Até que meu avô, como eu acabei de falar, meu avô comprou zabumba, triângulo, prato, caixa e eu mais meu irmão já tocávamos, o povo se admirava com a gente que a gente era pequenininho, né. E a gente foi crescendo e crescendo e foi desenvolvendo cada vez mais e até que nós aprendemos. Olha, o pifeiro do nordeste, nordestino, pode ser qualquer campo não sei, mas os pifeiros nordestino pode perguntar a qualquer um deles, como foi que eles aprenderam, se tiveram aula, se tiveram pelo menos explicação, eles fala que não, eles fala que aprenderam sozinho.
P/1 – Seu avô e seu pai tocavam um instrumento, isso influenciou você a querer tocar também?
R – Meu pai?
P/1 – E seu avô tocavam instrumento.
R – Meu pai tocava pé de bode que antigamente chamava pé de bode, que hoje é oito baixo né, __(?), sei lá. Eu sei que uma época era o pé de bode, meu pai era tocador de pé de bode, meu avô também, meu avô era até marcador de quadrilha. Ele era chamado pra cidade, ele era um grande tocador até que quando eu me entendi gente, ele já tinha até parado que ele já tava velho já. Eu nem cheguei a ver ele tocar e tudo isso, nem cheguei, mas eu acho que é raiz né, é de pai pra filho. Meu pai e meu avô eles não, eles não, eles não tocavam o pife, eles não aprenderam a tocar o pife, isso é dom. Você tem um dom, ele tem um dom, ele ali tem um dom. Porque tem gente lá em Brasília que compra o pife, já tá com mais de ano diz: "Seu Zé, eu não aprendi nada até hoje, eu pelejo, pelejo, pelejo e não sai nada". Aí a pessoa vai e fala pra, diz: "É dom, eu não tenho dom pra isso, eu tanto que queria aprender, nem que seja um pouquinho que nem o senhor". É e fala isso é, tem um pifeiro aqui no Brasil que eu queria tocar ao menos um quarto do que ele toca que eu acho muito bonito ele tocar e todo mundo fala que ele toca muito bem, que eu acho que vocês até conhece ele, o João do Pife. O João do Pife é bom, já viu ele tocando pessoalmente? E nem em CD? João do Pife é bom, ele é bom e toca bonito, ele toca bem demais e até que eu toco até umas musiquinhas dele que eu aprendi lá em São Paulo em 73. E tudo que eu toco, se você mandar eu tocar alguma música, agora não foi ninguém que me ensinou não, é de ouvido. Muitos dos artistas lá de Brasília vai pergunta pra mim: "Seu Zé, o senhor estudou pra tocar o pífano?" eu digo: "Não", "O senhor aprendeu sozinho?", eu digo: "Sozinho". "E como é que o senhor consegue tocar o pífano?". Eu digo: "De ouvido". E eles fala que a pessoa cantar, tocar de ouvido, eles fala que é melhor do que partitura, porque ali você tá só escutando outro artista, vamos supor um sanfoneiro, tá tocando e você tá acompanhando ele, você sabe mais ou menos por onde é que a música tá indo e você tá acompanhando ele, fazendo arranjo o tempo todo. E por partitura não você tem que tá ali, só que por partitura você
não erra também pra quem conhece, porque aquilo pra mim é perdido, sou cego pra aquilo. Então aí eu toco assim de ouvido, tudo que eu toco é de ouvido.
P/1 – Mas o senhor acha que tem que ter um dom ou qualquer um pode tocar?
R – É dom que você tem, eu tenho, ele tem, qualquer um tem. Você tem um dom pra uma coisa, eu tenho um dom pra outra, ele tem um dom pra outra. É, não adianta você querer fazer uma coisa que você não tem dom pra aquilo. Pra começar, pense numa pessoa que acha bonito um cabra tocar acordeon como eu. Eu acho muito bonito um sanfoneiro pegar uma sanfona e tocar, eu acho bonito demais, tocar e cantar. Eu peguei, sabe o que foi que eu fiz? Eu já sabia tocar o pífano, eu digo: "Eu vou ver se eu aprendo tocar a sanfona". Eu comprei uma 32 baixo. Fui devagarinho, devagarinho, devagarinho, aprendendo umas coisinhas, umas musiquinhas cansado e tal, mas eu já imaginando que eu não ia chegar ao ponto que eu queria. Aí eu digo: "Será que é porque ela é pequenininha?". Peguei comprei uma 80 baixo escala de 120. Aí eu desandei, desenvolvi mais um pouco na 120. Eu cheguei a tocar em casamento ainda, cheguei a tocar em encerramento de escola, forrozinho assim, na casa dos meus pais mesmo um forrozinho que meus amigos pedia pra modo de fazer um forrozinho na minha casa, na casa dos meus pais. Os meus amigos: "Ah rapaz, domingo, do sábado pra domingo não tem nenhum forrozinho por aqui perto, inventa um forrozinho aí pra nós se divertir". E eu fazia. Eles dançavam a noite toda, nos domingos mesmo, depois do almoço, era assim de gente que vinha na estrada e que ia lá pra casa dos meus pais. Eu tocava a tarde todinha, tanto que eu nem cobrava nada, brincam aí, se divirtam. Mas quando eu vi que eu não chegava o que eu queria, no ponto que eu queria, que eu acho muito bonito, peguei abandonei, até que eu vendi minha sanfona, que eu podia nem ter vendido, ter deixado ela se acabar aos pedaços aí, pra ficar pelo menos de lembrança. Vendi minha sanfona hoje em dia eu não sei nem mais pegar, não sei mais nem pra onde vai. Aí eu imaginei assim, já sei que é dom que a gente tem, porque eu acho a sanfona, o sanfoneiro tocar a sanfona, mais bonito do que o pife acredita? Eu acho mais bonito, que é bonito demais um sanfoneiro fazer aquela introdução, fazer aqueles arranjo, ele cantando, tudo afinadinho com a voz da sanfona. Eu tinha a maior vontade, eu era louco pra aprender, mas cadê que eu aprendi? Eu tinha aquela força de vontade de aprender, mas eu não aprendi. Eu aprendi, mas não como eu queria, aí abandonei o acordeon. Eu nasci pra tocar o pífano, toco com facilidade esse instrumento aqui. O pife é o o, como é que chama? O homem que toca o pife que é o pau furado, que ele é cheio de furo. Sim, falava outra coisa, na aula que eu dei lá em Brasília, tive a oficina de furos, tudo isso eu ensino pras pessoas, que é um prazer grande, dei a oficina de furos lá na UNB. Dei lá no Sesc [Serviço Social do Comércio] de Taguatinga, tudo em Brasília. E UNB dei duas vezes e no Sesc de Taguatinga, que ninguém faz isso acredita? Tem muita gente que diz assim: "Seu Zé...", gente que fabrica pífano, flauta,__(?), coisa assim, diz: "Seu Zé, eu não dou aula não, pra ninguém não e nem ensino, porque quem comprar meus pífanos lá que se vire, lá que se vire". Eu não, é, eu gosto de fazer isso porque eu quero ver não a maioria, porque a maioria não vai aprender porque tudo que a gente quer conseguir é um pouco meio difícil. Mas pelo menos uns cinco por cento aprender porque foi que nem aquela poesia que eu fiz que o pífano não pode acabar, aprender um pouquinho que isso aqui não pode acabar.
P/1 – Me fala uma coisa, é essa coisa de construir, de produzir o seu próprio pife...
R – Hum...
P/1 – Essa coisa de produzir o seu próprio pife, próprio pífano é, isso também o senhor aprendeu sozinho?
R – Sozinho, sozinho, sozinho, muito bem. Eu peguei o talo do jerimum, foi a primeira vez, é fiz também do talo da mamona, que ele é oco que nem o bambu, a taquara e eu peguei, fiz por minha conta, desculpa, fiz por minha conta as escala, cortadinha assim, o tamanho de um furo pra outro, que os outros é no meio. Eu tenho que medir tudo igualzinho, igual tá aqui e desse espaço aqui que é do primeiro pra o último daqui, que é onde bate os dedos pra tocar, aí é o mesmo tamanho daqui do último pra o de soprar. Aí eu pego, peguei e dividi, dividi, deu um pouquinho de trabalho depois, eu fui bem foi uns três ou foi quatro e ele sem dar afinação. E eu fui medindo de um furo pra outro de cento a cento, depois eu fui fazendo um outro de cento a cento, até o derradeiro. Aí eu digo "pronto, agora ele vai ficar afinadinho". Aí eu medi a distensão dele, do primeiro furo ao último, que os outros tá aqui dentro desse aqui, aí aqui eu fiz isso aqui ó, que esse tamanho aqui no de soprar pra esse, é mesma coisa desse praqui, é o tal onde bate os dedo. Aí tem outros, tem dois segredos, vamos supor que aqui é um pedaço de bambu, ele é oco
daqui, ele é oco todinho pra cá. Aqui aqui tá o próprio nó da madeira, aqui tá o próprio nó da madeira, tem gente que pega um pedaço de bambu, vamos supor, desse tamanho. Isso aqui ele é maior, ele vem bem praqui ó. É mais ou menos desse tamanho, tem que ser cortado aqui porque num dava, porque tem gente que pega, faz deixa ele todinho porque fica bonito, mostrando presença, mas né. Mas se ele fizesse assim tem só boniteza que nem eu tenho visto, mas ele não dá afinação. Então esse espaço aqui é o mesmo desse, aí o outro seria, dois segredo que tem no pífano pra ficar afinado também que aqui ele tá afinado, aqui ó, dentro desse espaço aqui. Aí qual é o outros dois segredos, você sabe me responder?
Aonde ele também pode ficar afinado, que se fizer fora da escala ele fica desafinado, você não sabe? Vou te ensinar aqui, quem tiver nos assistindo é, o Zé do Pife que tá ensinando aqui com muito prazer e com muito gosto, preste atenção você que tá em casa, na sua casa, tá assistindo o Zé do Pife aqui tá vendo? Cê pega essa distensão daqui, desses três últimos aqui, você mede aqui a mesma coisa, pode cortar ele. O outro segredo cê sabe?
P/1 – Não.
R – Não sabe? O outro segredo é esse, aqui tá o nó dele ó, isso aqui é o nó da própria madeira, isso aqui é uns anelzinho que eu ponho, é pra, só pra enfeitar, mas tem anel, até de fita isolante. Então o nó tá aqui né, ele aqui ele tá desafinado porque eu fiz ele um pouco afastado do nó que é pro modo de ele ter mais espaço pra passar um pouquinho pra cá. Mas aqui se não colocar nada dentro dele você tem que fazer o furo dele bem aqui perto do nó porque o ar não fica preso pra cá. O ar tem qua sair todo pra lá. Então eu fiz ele nessa distância aqui, imagina o que é que tem aqui dentro? Cera de abelha, de aripoá (?). Eu preparo a cera com óleo de cozinha, deixo ela bem molinha, faço um bolinho redondo e jogo ela aqui dentro, eu tenho uma vareta lá, onde ela cai bem aqui, aí eu vou com a vareta por dentro e prenso ela. Depois eu vou com outro bolinho, que lá ela tem que ficar mais ou menos bem aqui assim ó, que o ar tem que jogar todo pra lá. Se você fizer aqui que nem muita gente faz, ou mais aqui porque fica mais bonito né, se ele não colocar nada aqui o ar fica preso aqui aí fica fanhoso. O segredo do pife é esse, eu aprendi sozinho, sozinho Deus. Eu me sinto muito alegre, muito feliz que isso foi um dom que Deus me deu que eu até eu agradeço no dia a dia, eu toco pífano e alegro todo mundo e e é isso aí.
P/1 – Antes da gente continuar, eu tenho mais algumas perguntas, mas toca pra gente um pouquinho, só uma música!
R – Ah você, você quer uma música né?
P/1 – Claro.
R – Olha eu vou, eu vou tocar aqui uma musiquinha do Luiz Gonzaga porque o povo gosta muito da música do Rei do Baião e, que é a alegria do povo né? Quando eu vou tocar num show o povo me convida, "Seu Zé, vai ter um show assim assim, você venha, dar pra você vir, não tem compromisso não, como é que tá a sua agenda?",e tal e tal, eu digo,"não, eu tô livre!", "venha fazer um showzinho". Eu fui no Centro Comunitário lá da UNB, fui sábado, parece que foi sábado pra domingo que passou. E eu fui e eu sempre num show eu abro assim, é porque tô meio rouco né, desculpa se a minha voz não dá - tosse - aí eu começo assim ó -(som do pífano - música)-
"Manhã, alegria do povo/ Baião olha eu aqui de novo/ pra alegrar o povo, olha eu aqui de novo/ Rei do Baião meu senhor/ Rei do Baião" - (som do pífano - música)- "Hei baião baião, eu já dancei balancei, chamei de samba xerem/ mas o baião tem um que que outras danças não têm/ morena venha pra cá/ juntar o meu coração/ morena eu quero te ensinar como é que se dança um baião." (som do pífano - música )(palmas)Obrigado, obrigado.
P/1 – Zé...
R – Oi.
P/1 – É, desde que idade o senhor compõe?
R – Desde que idade eu componho?
P/1 – É, compõe.
R – Compõe. Olha, desde os dezessete anos, porque de dez até os dezessete, até o vinte anos de idade eu ainda não compunha, eu num fazia música assim não. É porque é, depois é que a gente vai desenvolvendo tal e tal e a gente pega a pensar que eu, eu faço música até onde der dentro do ônibus, às vezes eu tô
batendo com a boca assim aí chega gente conversando perto de mim, eu digo "pois é", pá pá pá pá pá, eu digo "pois é", eu digo, "mas esse desgraçado não deixa eu fazer minha música". E eu faço música até dentro do ônibus, sabia disso? Pois é ó, eu fiz uma musiquinha de Brasília a Pernambuco, é um forrozinho. Você quer ver como é que é?
P/1 – Por favor!
R – Pois é aí lá em Brasília, na Samambaia, na quinhentos e um eu tinha, eu tinha uma barraquinha em frente a pista igual tem essa daí. Em frente a parada de ônibus eu vendia coco verde, melancia, jerimum, criado no nordeste chama jerimum, aqui chama abóbora né? Mas eu botei jerimum pra poder encaixar na música. E tinha uma menina que dava aula, ensinava umas crianças em frente a BR 060 que roda de Brasília a Goiania, ela dava aula lá. Ela morava na quatrocentos e dez no Samambaia também e ela vinha de manhã pra dar aula, tomava um cafezinho, fumava um cigarrinho e ia dar aula. Depois ela voltava, mesma coisa, de tarde. Aí eu digo, "ta, eu apelidei ela de Talia, que ela é a carinha todinha daquela menina do México, Talia, aquela atriz. Eu dido, "eu vou apelidar você de Talia, porque você é a carinha dela, o jeito de conversar tudo". E ela disse, "mas seu Zé o senhor escolheu um nome bonito", o nome dela é Andréia, ela era do Rio Grande do Norte, Natal. "Cê escolheu um nome tão bonito pra mim, um apelido". Eu digo "pois é, mas só porque você parece com Talia, aí eu vou fazer uma musiquinha". Aí ela ficou alegre, disse "Ah seu Zé pô eu quero que o senhor faça uma musiquinha pra mim". Eu digo "ó eu não escrevo, eu vou fazer nas musiquinhas de, de letra em letra, fazendo os pontinhos e vou decorando, depois que eu terminar aí eu canto ela pra você", que eu não escrevo e nem nada, eu faço assim por minha conta né. Eu imagino, imagino uma música, qualquer coisa, uma poesia, um poema e depois eu sinto ela. Eu tenho muita coisa que eu fiz que não dá tempo se não se ia ver mais coisa! Aí ela disse "pois faça que eu quero ver". Aí quando foi um dia eu armei essa, esse forrozinho todinho, de Brasília a Pernambuco, enchi com as cidades assim que tem ao redor de, de, de Brasília, mas não vou cantar ela toda não que ela é comprida. Ela é igual aquela do Luiz Gonzaga, "Triste Partida". (som de pífano - música) Essa entrada é só minha, coisa minha, depois é assim ó " Oh Talia morena me diz, quem quiser como gelado é na banca do Zé do Pife/ Ô Talia, ____(?)nós fomos passear em Conceição de Araguaia/ Em Brasília em Samambaia, lá na quinhentos e um eu vendia coco verde, melancia e jerimum, a mulherada na parada grita Zé do Pife é bom, ele é número um/ Ô Talia morena me diz, quem quiser coco gelado é na banca do Zé do Pife/ Ô Talia o barco navega e gira, é bom a gente morar na cidade de Brasília/ Talia já morou na quatrocentos e dez, um dia eu cheguei lá acompanhado com a Rose/ Mas o endereço de Talia é meio difícil, mas eu decorei e é treze vinte e dois/ Ô Talia morena me diz, quem quiser coco gelado é na banca do Zé do Pife/ Ô Talia o barco navega e gira é bom a gente morar na cidade de Brasília/ Campo Limpo e Santo Antonio descoberto Curumbá, tem uns vendavais e também tamanduá/ A ponte Alta é bonita pra tinir, mais bonita é a chácara de Valdemir/ Ô Talia morena me diz quem quiser coco gelado é na banda do Zé do Pife/ Ô Talia o barco navega e gira, é bom a gente morar na cidade de Brasília/ tem Piquiri, Uruama e também tem Catalão, a cidade de Anápoles, Brangida (?) e Amburana", pronto já tá em Pernambuco, Bragina e Amburana, "quando eu me lembro daquela festa bonita que a gente tocava lá em Tuparitama", agora vai ser só o nordeste, só um pouquinho. "Ô Talia morena me diz, quem quiser coco gelado é na banca do Zé do Pife/Ô Talia morena me diz que eu sou Pernambucano da capital de Recife/ Vitória de Santo
ntonio onde nasceu a Pituba em Catião(?) do Recife longe de Caruaru eu conheci um trio muito bom que era o Coronário, o Cobrinha e o Lindu. Ô Talia morena me diz, quem quiser coco gelado é na banca do Zé do Pife/ Ô Talia morena me diz, que eu sou Pernambucano de São José do Egito", que é a minha cidade né. "A minha cidade tem uma cidade linda, Afogada, Engazira, Tabira e Topetim/ Topari, Tamá em Brejo em Amburana toma do nome a cidade de Bonfim/ Ô Talia morena me diz, quem quiser coco gelado é banca do Zé do Pife/ Ô Talia morena me diz que eu sou Pernambucano de São José do Egito/ Eu conheço a cobra preta o neto da cobra coral , eu conheço o vagalume fazendo festa no ar/ Na goiabeira tem o canto do sabiá que eu sou filho de João Gonçalo, neto de Pedro Cajá." Pois é, isso é coia minha, ela vai, ela é mais longa, porque eu não vou cantar ela toda. Pois é isso é coisa minha, porque eu faço um verso de vaquejada, verso de vaquejada, coisa que eu faço é, verso de vaquejada, faço verso de poeta cantador, dois violeiro, tudo é coisa minha. Ó, lá em Brasília mesmo nessa Ponte Alta, do Gama, que eu falei na música aí, morei quatro anos lá e eu encontri um pé de angico lá
dentro do córrego , tem cachoeira lá, as casas tem piscina, é bonito lá, fim de semana é de festa. Eu ando lá dentro dos córrego eu encontrei um pé angico do Caton, que lá em Pernambuco tem muito. Dessa grossura assim, aí eu digo, "eu vou medir o tronco desse pé de angico porque isso aí vai dar uma poesia". Aí eu não dava pra eu medir sozinho eu chamei meu menino, Alcélio, meu filho. Eu digo "Alcélio eu encontrei um pé de angico lá dentro do córrego lá, a coisa mais linda, você quebra o pescoço assim ó a grossura". Ele disse "eu vou mais o senhor", o Alcélio filho meu. Daí nós peguemo um metro, aqueles metro que abre assim, cheguemo lá nós medimo o tronco dele, fiquei pegado aqui na, na coisa do metro, ele saiu rodeando assim, quando ele acabou de rodear ele olhou eram três metros e sessenta de tronco. Aí eu fiz a poesia, decorei aí eu cantei ela assim, faço (som de pífano - música)
"Encontrei um pé de angico, ventando forte ele aguenta/Só de tronco eu medi foram três metros e sessenta/ Tem mais de trezentos anos e mais de mil de potência". Qualquer coisa, às vezes eu faço essas coisas andando dentro do ônibus assim.
P/1 – E qual é a importância desse conhecimento do pife hoje em dia nesse mundo tão, tão pouco valorizados esses instrumentos mais antigos, tradicionais né, a gente quase não vê muito. Qual é a importância desse conhecimento pro senhor?
R – Mas é como assim?
P/1 – É tão, é difícil ver né hoje em dia as pessoas tocando pife, não é tão mais fácil, mesmo viola, instrumentos mais tradicionais e hoje em dia quase não tem. Qual a importância do senhor saber isso, passar pra frente, qual a importância do pife mesmo?
R – Ah porque é como aquilo que eu te falei, a gente pra aprender as coisas a gente tem que ter um pouquinho de boa vontade e o pife, eu acho um instrumento fácil, pra mim não tem dificuldade, o violão pra mim é difícil, o acordeon é difícil, mas cada um tem um dom pra uma coisa e cada um de nós faz o que gosta e o que faz, só isso.
P/1 – Como que entrou na sua vida então a Ação Griô?
R – Olha é eu nem, eu nem entendi quase a Ação Griô porque lá em Pernambuco é interior, pode ter lá no Recife que eu sei que lá tem que é cidade grande, mas aqui é, eu vim conhcer e saber o que era a Ação Griô porque, por causa do Chico Simões. Ele sempre me convidou e eu ia com muito prazer e como vou, que ele é uma excelente pessoa. Aí foi quando eu vim conhecer a Ação Griô que faz parte de tudo isso é que é a música nordestina, a música popular brasileira, cultura de, de raiz do nordeste. E foi quando eu vim conhecer e tô dentro dela e tô gostando e tô muito feliz.
P/1 – Qual é o significado pra você da Ação, agora o senhor entende melhor o que é a Ação?
R – Mais ou menos, mais ou menos a gente vai entendendo aos poucos né. É que tem gente que fala uma coisa pra você só uma vez e você já decora, já sabe o que é que vai responder, já sabe o que que faz. Mas eu, minha cabeça não sei, o povo diz que eu tenho uma cabeça boa, um computador porque eu faço as minhas coisas , mas eu tenho, a minha memória é meia cansada, meia pouca. Eu pra decorar uma coisa eu tenho que passar uma semana ou mais pra decorar aquilo que, que tem que acontecer e fazer, mas é assim mesmo.
P/1 – E é o primeiro encontro que o senhor tá vindo ou você já foi em vários encontros do Griô?
R – Olha, esse eu acho que é o terceiro encontro, parece que, parece que eu já tive um dois encontros com o Chico, ___(?)lá no SESC de Taguatingua, parece que lá foi o primeiro, que lá foi onde eu dei a oficina de pífano. Foi lá parece o primeiro e deixa ver o outro canto qual foi meu Deus, se lá na Invenção Brasileira também, lá em Brasília e aqui também. Me disse ele que em outubro eu, eu ___(?), mas em Lençóis, na Bahia, que é outra terra que eu, que eu conheço a Bahia um pouquinho pro lado de Iricê, Monte Chapéu, Jacobina, mais pra esse lado que de Lençóis eu não conheço. E eu quero ir com muito prazer. Aí aos pouquinhos a gente vai aprendendo né, que a gente
vê tanta coisa bonita que igual vi aqui que tem um rapaz até quase chora ali, eu também botei as lágrimas pra fora. Pois é, que a gente fica até, sente que aquela pessoa tá sentido. Tem um menino ali, hoje mesmo ele contando a história dele que ele tinha aquele desejo tal e tal de chegar lá e ele chegou lá, botava lágrima dos olhos e eu também botei. Porque a gente sente o que ele, o que ele quer, o que ele imagina de ser.
P/1 – E tem alguma outra coisa que eu não perguntei que o senhor queira falar?
R – Não, não, não. Bom, tem muita coisa tem, mas você que sabe.
P 1- Eu queria então perguntar, perguntar uma coisa e pedir uma coisa. Perguntar o que o senhor achou de dar a entrevista pra gente?
R – Maravilhoso, maravilhoso demais. Eu, cê nem sabe que prazer que eu tenho quando as pessoas me procuram pra esse tipo de coisa, entrevista é, é fazer pergunta sem ser pela reportagem. Se junta quatro, cinco pessoas e me faz aquelas perguntas, fica conversando comigo, fica ao redor de mim, manda eu tocar. Pra mim é maravilhoso essas coisas, muito bom.
P/1 – Então pra encerrar o senhor queria tocar mais uma música pra gente?
R – Mais uma música, agora vou partir pra um forrozinho.
P/1 – Então vamos lá.
R – (som de pífano - música) “Fumo de rolo eu tenho na rua, eu tenho pra vender quem quer comprar? Fumo de rolo eu tenho na rua, eu tenho pra vender quem quer comprar? Quer comprar alguma?". Só era isso.
P/1 – Obrigado.
R – Obrigado.
P/1 – Obrigado.
R – Eu que agradeço. Eu que agradeço.Recolher