Meu nome é Joice Yumi Matsunaga, escrevo da Zona Leste da cidade de São Paulo. Hoje é 26 julho de 2020, o terceiro dia da minha jornada.
Pensar em tudo o que aconteceu na minha casa é como pensar em toda a minha história praticamente, porque eu vivo aqui desde que nasci, com meus pais e duas irmãs. Mesmo durante os meses em que morei em uma pensão, no ano passado, eu não deixava de vir no final de semana. Naquele período, eu passei a dar ainda mais valor ao meu lar e à minha família. Agora, com a quarentena, minha casa tem sido cada vez mais um refúgio. Digo cada vez mais porque a criminalidade fez com que sempre vivêssemos com medo da rua e sentíssemos segurança estando trancados; pelo histórico de violência que passamos aqui, muitos familiares evitavam nos visitar. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais eu lembrei de um natal que passei com toda a família reunida, a maioria dos irmãos do meu pai, na época em que eu era criança e minha avó paterna morava com a gente. Lembro que naquela tarde choveu muito, um raio chegou a partir uma árvore. Estávamos comendo quando deu um apagão. Ficou tudo escuro, mas logo resolveram. Minha vó pegou as lâmpadas do altar budista e colocou na mesa, meu pai acendeu um lampião que ele sempre usa quando acaba a energia, e continuamos a comer. Recordando aquela cena me vem o cheiro de vela queimada e da comida da ceia, e minha tia Lurdes arrumando a mesa. Quando a luz voltou, parece até que acabou a graça. Foi um dia bem diferente e legal. Nesse ano, em especial, quero aproveitar muito a casa porque me mudarei em breve, daqui uns meses. E, quando puder, eu quero reunir as pessoas queridas e criar memórias boas como essa. Nós nunca sabemos quando será a última vez em que vamos nos reunir com alguém, então, cada risada, abraço e conversa são valiosos - acho que nos dias de hoje isso deve ter ficado evidente para muitas pessoas.