Projeto CTBC Telecom – Museu do futuro
Depoimento de Luiz Márcio Ottoni
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Rosali Henriques
Uberlândia, 10 de agosto de 2000
Entrevista número CTBC_HV025
Transcrito por Neuza Guerreiro de Carvalho
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Bom d...Continuar leitura
Projeto CTBC Telecom – Museu do futuro
Depoimento de Luiz Márcio Ottoni
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Rosali Henriques
Uberlândia, 10 de agosto de 2000
Entrevista número CTBC_HV025
Transcrito por Neuza Guerreiro de Carvalho
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Bom dia, Sr. Luiz Márcio.
R – Bom dia.
P/1 – Eu queria, para iniciar, o senhor, por favor, me dissesse seu nome completo, sua data e o local de seu nascimento.
R – Luiz Márcio Otoni, nascido em 13 do onze de 1943, em Uberlândia.
P/1 – O nome de seu pai e de sua mãe.
R – Benedito Otoni e Antonieta Diniz Otoni.
P/1 – Os seus pais são naturais daqui da região também?
R – Não. Meu pai é natural de Pinhal, Estado de São Paulo, e minha mãe sim, é natural de Uberlândia.
P/1 – O senhor conheceu seus avós?
R – Não. Eu conheci só minha avó materna, Henriqueta, mas convivi muito pouco tempo com ela. Os avós paternos eu não conheci.
P/1 – O senhor sabe o nome deles?
R – Não, me falha a memória agora. Eu convivi mais com minha avó, então minha avó Henriqueta, sim. O meu avô a gente tratava pelo apelido, que era Quinca Camilo. E dos meus pais, como eu não conheci, e quando ele casou com minha mãe eles já eram falecidos. Não tive convivência nenhuma.
P/1 – De todo o modo o senhor sabe da origem dos seus avós, de onde eles vieram?
R – Olha, a origem de meus avós é italiana, eram filhos de imigrantes e se radicaram em Pinhal. Então, o meu pai viveu lá parte de sua mocidade e depois ele se transferiu para Uberlândia.
P/1 – Os seus avós, faziam o que em Pinhal?
R – Eles eram agricultores.
P/1 – Alguma cultura especial?
R – Não… Eu não tenho maiores detalhes, viu Luiz. Eu não tenho. E nós tivemos muito pouco contato com a família do meu pai, porque, como ele veio para cá, e ele só tinha uma irmã, e essa irmã dele ela foi para uma outra cidade eles perderam contato, então, nós tivemos pouco contato e notícias da família do meu pai.
P/1 – O senhor sabe porque ele veio aqui para Uberlândia?
R – Ele veio para trabalhar. Ele era alfaiate e então ele veio exercer a profissão aqui em Uberlândia.
P/1 – Quando ele veio para cá, o senhor tem idéia?
R – Olha, não tenho esse detalhe, Luiz. Eu nunca tivemos a curiosidade também de pesquisar isso não, sabe?
P/1 – O seu pai tinha uma loja, uma alfaiataria?
R – Ele trabalhou muito tempo em alfaiataria aqui em Uberlândia, mas no fim, na última atividade dele, ele trabalhava em casa.
P/1 – Alfaiataria geral ou ele tinha alguma especialidade?
R – E alfaiataria geral masculina.
P/1 – O senhor fez muita roupa com ele, certamente?
R – Não fiz, porque eu perdi meu pai muito cedo. Quando eu perdi meu pai estava com 6 anos, 5 para 6 anos de idade. Então eu convivi muito pouco com meu pai. Então é a razão até dessa falta de informação. Eu também nunca fui muito afeito a pesquisar, ir buscar informação, eu sou uma pessoa que sempre vivi muito o presente. Apesar que tem lembrança do passado, às vezes gratificante em determinado ponto, mais eu sempre vivi o momento presente e não fui muito afeito a pesquisar e a buscar informações.
P/1 – E a sua mãe tinha alguma outra atividade além do lar?
R – A mamãe até ela ficar viúva ela era estritamente do lar. E depois que meu pai faleceu, logicamente, ela precisou de ir à luta. Então ela passou a costurar para fora. Eu me lembro o nome de uma camisaria aqui de Uberlândia há muito tempo, que ela passou a trabalhar para esta empresa, mas em casa. E o tempo todo que nós estávamos aqui em Uberlândia, até a data de 1959, quando eu mudei daqui, ela exercia a função de costureira dessa camisaria. Depois nos mudamos para Franca e ela deixou, voltou só para a atividade do lar.
P/1 – Como é que era essa casa em Uberlândia, Sr. Luiz Márcio? A sua casa como é que era? Vamos descrevê-la, por favor.
R –
Olha, a minha casa era uma casa... A primeira casa que eu me lembro,
até era uma casa que nos foi fornecida por um tio meu, que é o Durval Teixeira, era uma casa da antiga telefônica Teixeirinha. Nós morávamos na rua Fernando Vilela. Era uma casa muito simples, mas um terreno muito grande. Lá era o depósito da Telefônica Teixeirinha na época. E nós morávamos, era praticamente uma quadra inteira. Mas a casa era uma casa de dois quartos, uma sala, uma cozinha, e eu me lembro, um terreno muito grande. Um pomar onde a gente brincava e
onde a gente fazia o nosso lazer de criança.
P/1 – Como é que eram essas brincadeiras?
R – Para te falar a verdade Luiz, eu não tive muito tempo para brincar. Nossas atividades, desde cedo que eu perdi meu pai, a gente teve que trabalhar. Então, trabalhando em uma empresa, a primeira que eu fui trabalhar foi a CTBC. Mas antes disso a gente fazia alguns trabalhos para minha mãe, tinha que ajudar na casa, em virtude de que ela tinha que trabalhar o dia inteiro. Então nós tínhamos que ajudar em casa e às vezes no sábado a gente tinha que vender uma fruta na rua. Então, todas essas coisas, não nos possibilitava uma liberdade total para brincar. Além disso nós tínhamos que estudar. Mas geralmente as brincadeiras nossas eram aquelas brincadeiras da época: jogar bete, bolinha de gude, subir nas árvores do pomar e essas coisas por aí.
P/1 – E a escola, Sr. Luiz Márcio, como é que era sua primeira escola?
R – A primeira escola, eu me lembro bem, que era o Grupo Escolar Bueno Brandão, na Rua Vasconcelos Costa, onde eu estudei até o quarto ano. Depois eu fui fazer o admissão, naquela época tinha o admissão, no Colégio Estadual de Uberlândia, onde eu estudei até a segunda série ginasial. Depois eu mudei para Franca e aí entrei em um estabelecimento também do Estado, fiz até a quarta série e depois fiz o Científico nesse colégio lá. E posteriormente, eu não fiz um curso superior, porque naquela época a gente tinha em Franca, o curso que nós tínhamos era só de Direito e eu não fui muito afeito à Direito. Nunca gostei da prática da advocacia, não era bem o meu estilo. Eu tinha pretensão naquela época de fazer Engenharia e tal, mas devido à dificuldades financeiras e de trabalho, que nós tínhamos que trabalhar para sustentar a casa, tanto eu como o meu irmão, eu não tive condição de sair para fazer o estudo que eu queria.
P/1 – São dois filhos, que os seus pais tiveram? São dois irmãos?
R – Nós somos três irmãos.
P/1 – O nomes deles?
R – Agostinho e Marisa.
P/1 – O primogênito?
R – O primogênito é o Agostinho. Minha mãe era casada a segunda vez e o Agostinho era irmão meu só por parte de mãe. E a minha irmã, que era já do segundo casamento, que já era irmã de pai e mãe, direta.
P/1 – Sr. Luiz Márcio, o senhor se referiu ao fato de começar a trabalhar muito cedo. Como é que eram essas atividades, digamos, de trabalho, para ajudar a sua mãe em primeiro lugar, como é que era?
R – Olha, por exemplo, eu já estava com idade de sete para oito anos quando eu iniciei no grupo, então eu lembro bem, que eu saía às vezes cedo para estudar no grupo e já passava na casa de alguns parentes meus e levava as marmitas, e eu saía do grupo, pegavas as marmitas e entregava essas marmitas. Depois eu ia para casa e eu tinha, como eu falei, eu tinha que ajudar a minha mãe. Então a gente era escalado. Cada mês, cada quinze dias, o meu irmão ou eu tínhamos que fazer determinada coisa de trabalho de casa: lavar os trens, arrumar às vezes a casa, limpava a casa, esses trabalhos que nós tínhamos que fazer. E, como nós tínhamos terreno muito grande lá, um pomar, tinha muita fruta, a gente colhia essas frutas e vendia na rua, quando nós tínhamos tempo suficiente para isso. E os sábados ainda me lembro bem, eu engraxava ainda, para poder ter, realmente, uma renda para sustentar a casa. O que realmente era o arrimo de família era o meu irmão, que era o mais velho e eu tinha que colaborar com essa renda familiar.
P/1 – Essa renda era toda revertida para as despesas da casa?
R -
Toda. A gente, desde pequeno até, eu me lembro muito bem, que até muito próximo ao meu casamento, nós entregávamos o nosso salário, o nosso rendimento tudo para minha mãe e ela que administrava essa renda familiar. E quando a gente precisava de dinheiro ela que fazia o adiantamento do que a gente
precisava.
P/1 – O senhor disse também começou a trabalhar na CTBC já aqui em Uberlândia. Como é que foi essa chegada?
R -
Foi. Como eu te disse, a gente tem uma ligação muito forte e hoje eu tenho certeza disso, que é uma missão que eu tenho, porque como eu te falei antes, desde lá, quando eu me entendi por gente, eu estava ligado às telecomunicações. Como eu te disse, a Telefônica Teixeirinha era do pai de um tio meu, o Durval Teixeira e ele que administrava essa empresa. Então eu morava nessa casa que era uma casa da Empresa Telefônica Teixeirinha, e tinha um depósito da Telefônica Teixeirinha.
Eu me lembro muito bem, que lá tinha o único veículo que a Telefônica Teixeirinha tinha, que era um fordinho daqueles 1929, de partida ainda na mão, tinha um galpão que eles guardavam lá e uma vez eu entrei nesse galpão e fui mexer nesse coiso, apertei aquela partida e quase que derrubei o galpão. Então, a minha ligação com telefonia ela começa daí, desde que eu me entendo por gente. Depois que a Telefônica Teixeirinha foi vendida para um grupo de empresários daqui de Uberlândia, no qual o Sr. Alexandrino foi o primeiro presidente, no ano de 1954 constituiu a CTBC e em 1955 eu já fui trabalhar na CTBC. Nós tínhamos a D. Ilce Fogarolli, que naquela época era gerente, muito amiga da minha mãe e, ainda me lembro, era menino, e a minha mãe falou: “Olha, você vai ajudar a educar o Luiz Márcio, vai ajudar a criar o Luiz Márcio.”
E eu entrei para a CBTC naquela época, para fazer serviços diversos lá com a D. Ilce. E a dona Ilce teve um papel fundamental na minha vida, de educação, porque realmente era uma extensão da minha casa. E muitas brincadeira, muitas coisas eu fazia no meu próprio serviço, porque, eu me lembro bem, quando estava reformando o prédio ali da João Pinheiro, quantas e quantas vezes nós subíamos no prédio para soltar papagaios, pipa, né, em horários que a gente estava de folga. Então, o nosso início na CTBC foi esse. Muito cedo, e foi a primeira coisa que eu lembro de trabalho em uma empresa, e daí para frente nós seguimos uma trajetória.
P/1 -
O senhor conheceu o Sr. Tito Teixeira?
R – Conheci o Tito Teixeira.
P/1 – Como é que era o Sr. Tito ?
R – Olha, eu não convivi muito com Sr. Tito. Tive algumas... Mesmo porque, naquela época, menino, não tinha uma liberdade com pessoas mais velhas. A gente tinha uma certa reserva com a criança, não é? Então, o meu contato nunca foi muito direto com o Sr. Tito. Tive algumas vezes com ele. Mas era uma pessoa que se vestia muito bem, uma pessoa extremamente educada, apurada, eu me lembro que ele tinha um hábito de vestir uns ternos daqueles brancos 120, sapato branco. Então, essa é a lembrança que eu tenho do Sr. Tito. Uma pessoa realmente, um cavalheiro, uma pessoa muito educada, era muito atencioso com as pessoas.
P/1 – Esse período de proximidade com a D. Ilce, quais eram as suas funções ali naquele trabalho?
R – A gente falava que trabalhava no escritório, aquelas atividades administrativas. E, naquela época, eu lembro um trabalho que eu fazia muito que era... Eu fiz de tudo, limpeza, serviços gerais, entregar recado, aquelas coisas. Um trabalho de office boy realmente. Mas uma coisa que me chama a atenção até hoje, porque nós tínhamos naquela época uma empresa telefônica que se chamava CTMG, que era a telefônica que fazia a parte interurbana, pertencia
grupo canadense, a Bell Canadá e que mantinha trato mútuo com as telefônicas, e as contas dos interurbanos não eram recebidas junto com a conta local. As contas interurbanas eram recebidas diretamente na casa de quem falava. Então eram expedidas aquelas cobranças, e eu fiz essas cobranças por muitos anos. Então eu saía com uma bicicleta e ia nas casas receber esse interurbano. Então é uma coisa que eu me lembro bem. E posteriormente a gente, na parte do escritório aí seguiu toda uma trajetória. Eu fui trabalhar na parte técnica, na parte de comutação, na parte central. Eu trabalhei na parte de distribuidor, na parte de DG, onde faz a interface da rede externa com a comutação. Depois eu trabalhei na rede. Então eu tenho realmente uma passagem por todas as áreas da empresa, sabe Luiz.
P/1 – Eu quero detalhes dessa trajetória, mas eu queria que o senhor atentasse um pouco mais sobre esse sistema de cobrança. O senhor recebia o dinheiro nas casas?
R – Recebia o dinheiro nas casas. Eu estou falando que eu me lembro muito bem disso, porque depois aquilo lá
eu ia acertar o caixa para uma auxiliar da D. Ilce, que chamava Rita. Eram
três pessoas que
eu conheci que eu não esqueço muito facilmente, que era a D. Ilce, logicamente, tinha a Rita e tinha a Iolanda. Eram as três pessoas que comandavam a telefônica daquela época. Então, tudo o que eu recebia, eu tinha que chegar à tarde e acertar com a Rita e aí sempre tinha sobra de caixa, e isso sempre me marcou, porque essa sobra de caixa me fez muita fartura, vamos dizer assim, porque efetivamente eu ganhava, ganhei muito com isso, era uma coisa que eu tive, uma renda que eu tive a mais do salário que eu tinha, que eu não me lembro quanto que era, mas me ajudou muito, por isso eu mantenho isso na cabeça até hoje.
P/1
-
Essa sobra de caixa era gerada por...
R – Era gerada por troco que às vezes não tinha, era difícil naquela época, ou as próprias pessoas davam, uma gorjeta, do troco. E isso no final do dia dava uma quantia que para mim era muito substancial.
P/1 – Que idade o senhor tinha nessa época?
R – Nessa época eu estava com aproximadamente 11 anos.
P/1 – Como é que era esse escritório onde reinava D. Ilce Fogarolli?
R – Olha, aqui na João Pinheiro nós tínhamos somente um pavimento, porque, logo que eu entrei na CTBC, nós tínhamos, Uberlândia tinha 500 telefones. Então em uma parte do salão era a Central Telefônica, a parte de Comutação e na outra metade existia a parte de telefonistas. Telefonistas, e agregado a isto existia uma parte de administração onde a D. Ilce ficava. Isso por um período curto de tempo. Porque após isso, logo que a CTBC entrou, logicamente, ela estava com um projeto já de mudar a central, de ampliar a central e
para isso precisou construir um pavimento seguinte, que foi o segundo pavimento, e preparar o prédio até para um terceiro pavimento.
Então, um curto espaço de tempo ficou dessa maneira e, posteriormente, feito esse segundo pavimento, onde foi alojada a central nova, onde foram alojadas as telefonistas e reformou essa parte de baixo da antiga e fez ali a administração com atendimento ao público, com caixa e tal. Um salão de diretoria, que está lá até hoje e é digno de ser apreciado, porque ele foi muito bem concebido e é uma obra de arte até hoje. Então esse era o quadro e daí para a frente começaram as ampliações e não pararam mais e então é realmente um histórico muito grande.
P/1 – E o Sr. Alexandrino, Sr. Luiz Márcio, nesse contexto que o senhor estava chegando na companhia, o senhor chegou a conviver com ele?
R – Muito com ele.
P/1 – Como é que era o Sr. Alexandrino?
R – Olha, o Sr. Alexandrino foi um homem que sempre teve muita pressa. Era uma pessoa muito simples e um grande educador. Muito enérgico e eu aprendi muito com o Sr. Alexandrino. Primeiro, eu aprendi, e que me serviu a vida toda, que está me servindo a vida toda, que é como administrar custo. E uma outra coisa, é qualidade. O Sr. Alexandrino, sem ter feito nenhum curso sobre isso, era um expert em qualidade. A exigência dele com relação à qualidade era para alguns até exagerada. Mas volto a te falar, o Sr. Alexandrino era uma pessoa muito simples, muito exigente, mas com isso aí nos propiciou grandes ensinamentos, principalmente nessa parte de administrar custos e fazer as coisas com qualidade, que até hoje nós seguimos esses passos muito fortemente. Então é coisa que serviu para a vida toda. E o Sr. Alexandrino, como eu te disse, era uma pessoa que tinha muita pressa, tinha uma visão muito aguçada e enxergava as coisas de uma forma, de uma amplitude muito grande. Prova é que os resultados que nós temos aí, mostram isso. A simplicidade... Nós aprendemos com Sr. Alexandrino a
simplicidade, e você preservar a simplicidade em tudo. E isso tem sido muito útil na minha vida também, sabe Luiz,
porque a gente fala que complica as coisas, às vezes a pseudo sabedoria das pessoas, no sentido de querer complicar as coisas. Isso complica a vida, complica a parte profissional, complica as empresas, então a simplicidade, ela gera velocidade, gera soluções rápidas, e foi isso que nós aprendemos muito fortemente com Sr. Alexandrino.
P/1 – O senhor tem alguns exemplos práticos, assim, do que vem a ser uma pessoa que sabia administrar custos, esse tipo de comportamento que tinha o Sr. Alexandrino?
R – Eu vou te contar,
foi uma experiência. O Sr. Alexandrino falava que ele poderia ser parceiro de todas as pessoas, só não abria mão do caixa. Eu vou te dar um exemplo disso. Uma época, já bem adiantada, já estava na segunda fase da... Começou faltar caneta, as canetas eram coisa primordial na CTBC, porque os
trabalhos eram todos manuais. Os trabalhos da telefonista, faziam os bilhetes interurbanos, era tudo manual então dependia, exclusivamente, da caneta. E começou faltar canetas, e a gente começou questionar isso tal. Então, “O Sr. Alexandrino não libera caneta, não libera, tal”. E eu vim à Uberlândia e fui lá conversar com ele, falei: “Sr. Alexandrino, eu queria que o senhor me explicasse uma coisa. Porque que é que está faltando caneta e o senhor não quer liberar.” “Eu vou te explicar”. Ele abriu uma gaveta dele estava cheia de caneta, estava até na tampa. Abriu a segunda estava cheia de caneta. Ele falou “Olha, eu sou o presidente da empresa, então, eu peço uma caneta eles me trazem cinco. Então todas essas canetas que eu estou pedindo e eles me trazem a mais estou colocando aqui dentro. Então, se está acontecendo isso comigo, imagino com as outras pessoas. Então eu segurei isso aqui para essas canetas aparecerem.” Então esse tipo de coisa, é uma coisa de administrar dessa maneira. Administrar custo é isso, né, você despender o mínimo para fazer o máximo. Isso é uma
das coisas. Tem várias outras.
P/1 – E com relação à qualidade, essa fixação dele com relação à qualidade.
R – A qualidade realmente era uma fixação, porque ele chegava na empresa, ele não suportava nada, uma poeira, uma coisa fora do lugar, detalhes, né? Ele se atentava muito à detalhes e eu aprendi muito isso com ele, que me serve. Você olhando o detalhe, muito poucas pessoas olham detalhes, olham mais o geral. Se
você olhar os detalhes, o geral tem muitas pessoas para olhar. Então ele tinha essa filosofia. Então, ele olhava os detalhes, abria uma porta, olhava atrás da porta, ia nos locais onde que poucas pessoas iam, ia nos almoxarifados para ver se tinha coisa a mais, se estava empoeirado, se estava arrumado. Então nesses detalhes ele era, realmente, de uma exigência a toda prova. Era fixação de qualidade em todo sentido, com relação ao serviço prestado para o
cliente.
Ele ouvia realmente o cliente em toda sua reclamação. Toda a reclamação que o cliente fazia era motivo para que ele pesquisasse até o fundo, e fazer daquilo realmente um exemplo para as pessoas de como nós não deveríamos
prestar um serviço inadequado. Então essas coisas ele realmente buscava em todos os pontos que ele administrava, sabe Luiz.
P/1 – E cobrava muito, Sr. Luiz Márcio?
R – Muito fortemente. Ele, realmente, como eu te disse, ele era extremamente enérgico e existia naquela época, existia realmente até um certo temor, as pessoas tinham um certo temor do Sr. Alexandrino, porque realmente ele era muito exigente e cobrava muito fortemente isso. Isso realmente era nosso aprendizado.
P/1 -
Na relação com clientes ele se mostrava também dessa mesma forma apressada, enérgica, ou ele tinha outra...
R – Não. Com relação ao cliente, ele sempre foi uma pessoa que ele ouviu muito o cliente. A gente teve uma fase, nós tivemos uma fase, que essa do início da CTBC, até a constituição da Telebrás, que nós vivemos muito o cliente. O Sr. Alexandrino nos ensinou muito fortemente a trabalhar com o cliente. Tivemos uma outra fase, que foi a fase das Estatais, onde esqueceu muito do cliente. A nossa empresa era a única empresa privada, nós tínhamos essa formação do Sr. Alexandrino, de ouvir efetivamente o cliente, de ter com o cliente uma relação muito próxima, e ele estava disponível a todo momento, não tinha dia, não tinha hora para ouvir o cliente. Ele atendia qualquer pessoa que chamasse a ele e fazia questão de atender esse cliente.
P/1 – E passava essas informações adiante?
R – Sim. Além de passar as informações adiante, naquilo que precisava ser consertado, ele não tinha também dia e não tinha também hora. O cliente tinha prioridade absoluta para ser resolvido os seus problemas, não é?
P/1 – Essa visão não conflitava um pouco com o comportamento geral dos prestadores de serviço na época?
O cliente não era...
R – Olha, Luiz, isso depende muito do negócio, porque o Sr. Alexandrino era um empresário que veio do setor de varejo, ele tinha experiência muito grande com o cliente. Na prestação de serviço ele nos ensinou isso. É lógico que aquelas empresas, por exemplo, o armazém daquela época. O dono do armazém conhecia o cliente como poucos. Então isso era próprio da época. Isso foi perdendo depois e voltou tudo a tona agora, porque hoje com novas técnicas está se procurando novamente essa intimidade com o cliente para poder tocar seu negócio e obter fidelização, obter realmente uma reciprocidade do cliente. Então é essa maneira não contrastava não, sabe? Contrastava depois de um determinado período, como eu te falei, onde nós passamos a ter as empresas já em um modelo estatal, aonde que nunca se preocupou com o cliente. Como nós éramos uma empresa privada... mas nós passamos a ser monopólio depois dessa legislação. Agora recentemente
com a abertura, é que nós temos essa história, que está todo mundo correndo, felizmente, atrás do cliente.
P/1 – Essa história é antiga, vem de muito tempo. Está gravada na alma da companhia.
R – Mas é isso aí, sabe
Luiz. Esse negócio do cliente
é exatamente esse...
P/1 – Então, podíamos recomeçar por aí.
Esse quadro, esse cenário de 500 telefones e que não respondia às demandas que a cidade já tinha naquele momento de crescimento econômico e isso um pouco estrangulava a comunicação entre as pessoas. A Companhia nasceu exatamente para suprir essa deficiência, correto?
R – Exatamente. A CTBC
efetivamente nasceu dessa necessidade de Uberlândia e da região ter um sistema de comunicação adequado para o seu afã de crescimento que a região necessitava. Então a CTBC, como eu te falei, ela iniciou aqui com 500 telefones e logo ela já programou a substituição da central antiga, Uberlândia já estava na frente por ser uma das poucas cidades, em nível de Brasil, a ter serviço automático. Mas a CTBC logo já programou uma nova tecnologia, um ano depois ela já implantou 2 mil terminais, melhorou realmente o interurbano aqui em Uberlândia porque, como eu falei, quando a CTBC iniciou, nós tínhamos 500 telefones, tinha uma linha interurbana para Monte Alegre, dependurada no meio do caminho uma localidade que nós temos, que chama Chapetuba e uma linha para Araguari. E eu me lembro bem, essa linha para Araguari era com arame, logicamente, que às vezes arrebentava e eles amarravam aquela linha no arame, faziam uma ponte, pegava lá na frente e dava sequência.
Então era um circuito que nós trabalhávamos naquela época,
circuito de arame, simples, ou de um fio só, e chegava aqui e ligava a outra ponta contra terra para você fazer um circuito. Para você poder falar, você tinha quase arrancar os pulmões. Então, essa imagem fica, porque foi realmente o início da CTBC. A partir daí ela começou não só a olhar Uberlândia, mas sendo requisitada por outras cidades da região do triângulo, e posteriormente ela transpôs o Rio Grande e foi para o lado do Estado de São Paulo, e nós temos hoje toda a região do nordeste de São Paulo que pertence, é área de concessão da CTBC. O trabalho da CTBC neste campo, nós podemos dizer que a CTBC fez um trabalho realmente de bandeirante, um trabalho onde, nas localidades que ela foi, geralmente, não tinha telefone, ou quando tinha, era sistema magneto, não tinha interurbano, cidades totalmente isoladas.
Então, a presença da CBTC nessas localidades, na sua história, na sua evolução, foi fundamental, por isso nós falamos que a CBTC cumpriu um papel de bandeirante, desbravador em todas essas localidades, com algumas exceções, que já tinha telefone automático, que foram poucas, todas elas, a maioria de telefones magnetos e a maioria não tinha interurbano. E aí essa trajetória foi até quando foi constituída a Telebrás, que a legislação, vamos dizer assim, proibiu ou fechou as áreas de concessão, que só poderiam ser do Estado. Então a CBTC parou de crescer a nível de cidade naquela época e passou, logicamente continuou crescendo nas expansões, no pioneirismo de tecnologia e assim por diante, Luiz.
P/1 – Como é que o senhor explicaria o empresário Alexandrino Garcia justificar a levar telefones a regiões de pouca renda, isto é, a cidades remotas.
De onde é que ele tirava essa intenção?
R – A primeira coisa que ele falava é que a importância das cidades, tanto de 50 aparelhos ou de 10 aparelhos, 20 aparelhos, tinha a mesma importância de uma cidade maior como Uberlândia. Ele tinha isso presente, porque, ele disse que o que nós ganhávamos aqui supriria essas necessidades dessas outras localidades, não é? Então ele via com os mesmos olhos uma localidade menor com a localidade grande.
Ele olhava a coisa como um conjunto e olhava a necessidade. Ele tinha isso como uma missão de levar realmente a comunicação principalmente nesses municípios menos assistidos.
P/1 – Mesmo que isso não gerasse uma renda suficiente?
R – É. Ele tinha esse pensamento, que as cidades maiores cobririam essa defasagem
ou, vamos dizer assim, essa demora do retorno do investimento.
P/1 – Essa estratégia de expansão foi uma coisa pensada pela direção da Companhia na época, ou foi uma coisa meio que solicitada pelas cidades visa à qualidade de serviço que ela já prestava nas outras localidades?
R – Olha que foi as duas coisas, sabe Luiz, porque, nasceu em Uberlândia, essa necessidade e, como eu disse, essa melhoria foi muito rápida, as outras localidades com as mesmas necessidades
passaram a procurar a CTBC. E aí, logicamente , com essa visão de estar servindo, também
vislumbrou nisso uma grande oportunidade de estar expandindo sua área de negócio. Então foram as duas coisas: necessidade, com a visão do negócio.
P/1
Como é que essa expansão era financiada, Sr. Luiz Márcio?
R – Olha, era... A gente tinha, logicamente,
para colocar um determinado serviço na cidade, geralmente, exigia um mínimo de investimento dos usuários, dos candidatos a usuários.
Algumas localidades, para poder implantar o serviço exigia-se um mínimo de clientes para que pudesse implantar o serviço naquela localidade. Isso era capital próprio da empresa, investimento da própria empresa. O retorno disso, logicamente, cobria e dava capital para poder investir em outras cidades. Cidades maiores, como eu disse para você, tem um retorno mais rápido e financiava também essas localidades menores. Então, o capital sempre foi um capital próprio e, acredito, do próprio empresário Alexandrino Garcia.
P/1 – E o sistema de subscrição de ações para esses futuros candidatos, isso foi uma coisa também bolada pelo Sr. Alexandrino?
R – É. Essas ações inclusive, posteriormente quando foi constituída a Telebrás, passou a ser um modelo, porque você adquiria os direitos de uso de um terminal telefônico e recebia em troca ações daquele valor que você investiu. Então, a CBTC adotou esse sistema bem antes da constituição da Telebrás.
P/1 – E isso também
ajudou a financiar a expansão?
R – Ah sim. Era justamente esse investimento do cliente é que pagava parte desse investimento.
P/1 – Curioso, porque é uma via de mão dupla, porque da mesma forma criava-se uma relação com o cliente, de negócio, mais do que apenas a prestação de serviço, é isso?
R – Perfeitamente. Foi uma maneira muito inteligente de poder viabilizar o negócio.
P/1 - Certo. Esse crescimento foi se dando muito em função dessa resposta...
R – Ah sim, porque como a cidade era muito grande, e a empresa, aquilo que ela sempre prometeu fazer ela sempre fazia. Sempre fez a mais daquilo que prometia. A credibilidade realmente era muito grande e é até hoje. Então, sempre superando as expectativas desses clientes. Ninguém melhor para poder levar essa notícia
para outras localidades do que os próprios clientes daqui. Quantas e quantas vezes recebia prefeitos de outras regiões, que vinham aqui reivindicar a presença da CTBC nessas localidades. E
mesmo depois
que a legislação coibiu ou fechou as áreas, vinha ainda, várias caravanas, vários prefeitos, várias autoridades, buscar a empresa para atuar nessas áreas.
P/1 – Como é que se deu a sua transferência para Franca? Foi em função da CTBC ou alguma questão familiar?
R – Não. Foi uma questão familiar, sabe Luiz,
em 1958 o meu irmão que trabalhava aqui na CBTC desde a época da Teixeirinha, como eu te falei, ele era técnico e o técnico era muito valorizado, e é até hoje. Mas naquela época era mais, digamos assim, a atividade mais nobre, era técnico, porque tinha muito pouco, e o aprendizado era muito difícil. Então, geralmente, quando as empresas que forneciam equipamentos e montavam, formavam um técnico da própria localidade. E esse técnico era muito requisitado. Franca, logo depois de Uberlândia, uma equipe aqui da Ericsson, que forneceu equipamento para Uberlândia, foi montar Franca. E montando o equipamento lá, quando ficou pronta essa central, quando inaugurou a central lá em 1958, eles indicaram o Agostinho, que é o meu irmão, para ser o técnico da central lá em Franca. E aí ele foi convidado, ele recebeu uma proposta muito vantajosa naquela época e aceitou. Logicamente, ele veio aqui, conversou muito com Sr. Alexandrino e explicou e Sr. Alexandrino incentivou, inclusive, ele muito a fazer isso, e ele foi. Como nós somos uma família pequena, nunca nos separamos, no
ano seguinte, em 1959, nós resolvemos mudar para Franca. E assim foi feito. E a mesma coisa, nós mantivemos um contato, eu mantive contato, naquela época, com o Sr. Alexandrino, expliquei o motivo para ele e desliguei da CTBC aqui em 1958, no final de 1958 e fui para Franca. E aí era uma empresa regional lá, que tinha um dono chamado Carlos Gaeta, que era Franca, Batatais, Brodowski, Altinópolis, essas cidades. Tinha recém inaugurado o serviço automático em Franca, com 1500 linhas e foi o nosso início em Franca.
P/1 – Como é que chamava a Companhia, Sr. Luiz Márcio?
R – Sociedade Telefônica de Franca Ltda. O dono dessa empresa chamava Carlos Gaeta, que foi até o ano de 1967, até o final de 1967. No dia primeiro de janeiro de 1968 a CTBC comprou a empresa do Carlos Gaeta e assumiu a partir desta data nesta região. Ela já tinha algumas localidades ali, que era Ituverava,
São Joaquim da Barra, então essa aí veio completar a
intenção que a CTBC sempre teve de ter aquela região, que era muito próspera e é muito próspera na sua rede interligando, sabe? Era a estratégia da CBTC.
P/1 – E como é que foi para o jovem Luiz Márcio essa mudança para uma cidade nova. Como era Franca na sua lembrança?
R – Luiz, eu desde o início eu me identifiquei muito com Franca, sabe? Eu sou natural logicamente de Uberlândia, mas eu me identifiquei com Franca por ser uma simplicidade maior que Uberlândia.
Uma cidade industrial, uma cidade muito operária e, logicamente, o estilo de vida de Franca, era um estilo de vida mais simples, e é até hoje. Não era um estilo de vida como Uberlândia, vamos dizer assim, mais requintado. Então eu me identifiquei melhor com Franca e desde o primeiro contato eu passei a gostar muito de Franca e, logicamente, depois da região toda. Eu sempre falo que Franca tem muito mineiro. Franca está na divisa de Minas Gerais e tem um outro estilo de mineiro, porque tem os mineiros mais aqui do sul de Minas e falam que é uma cidade paulista de estilo mineiro. E a gente sempre falou que Uberlândia é uma cidade mineira e o estilo paulista. É o contrário, não é? Então Franca por essa simplicidade nos cativou muito e as
necessidades, depois, eu comecei a ter a minha vida já na
juventude
integrada nessa sociedade. Procurei, uma coisa que eu gosto muito de fazer, que é
relacionamento, e eu passei a investir muito em relacionamento, naquilo que eu gosto de fazer com as pessoas. Isso é o meu patrimônio hoje, sabe Luiz, ter construído nesse tempo todo um relacionamento muito grande. Não só em Franca mas na região e logicamente criei raízes com relação à Franca.
P/1 – O senhor, quando foi para lá, sua atividade profissional continuou ligada à telefonia, como é que foi?
R – Sim. Eu fui para lá, eu não fui especificamente trabalhar, nem eu tinha definido que eu iria trabalhar na Telefônica. Mas chegando lá houve uma necessidade na área técnica e eu passei a trabalhar. Eu fui lá em 1959 e até 1960, até o início de 1960 eu não trabalhei, comecei a estudar e não trabalhei. Em 1960 eu entrei na sociedade Telefônica de Franca na área de central, na área de comutação telefônica. E fiquei um determinado período na parte de comutação e, posteriormente, eu tinha um problema muito grande lá e o dono da empresa tinha tentado várias experiências com relação à chefia de rede que é uma outra área muito importante da parte de telefonia, e não teve sucesso. E gente pediu uma oportunidade para poder gerenciar essa área lá.
E aí sim, eu assumi essa área da gerência da rede e fui muito feliz com essa gestão até quando a CTBC entrou lá em primeiro de
agosto de 1968.
E aí, como a gente já conhecia o Sr. Alexandrino aqui, também o Dr. Luiz Alberto, e pelas informações que o Sr. Carlos Gaeta, a gente era muito ligado a ele, ele sempre admirou nosso trabalho e é lógico que quando ele vendeu a empresa, ele deu uma ficha, vamos dizer assim, de todos os que trabalhavam naquela empresa, para os novos proprietários. E, para mim facilitou muito isso, para mim, para o Agostinho, que já tinha convivido aqui com o Sr. Alexandrino e o Dr. Luiz e eu, logo, três meses depois que a CBTC entrou lá, eu fui convidado para ser gerente da localidade de Franca. Eu fui convidado em março e acabei assumindo, porque tinha outro gerente lá, e até acertar com ele, eu fui assumir a gerência de Franca em agosto de 1968. E logo em seguida, nós, em virtude da expansão, que a CTBC já entrou e programou para as outras localidades da região, eu passei a ser o gerente regional daquela região ali. Então, eu posso dizer para você que fui o primeiro gerente da CBTC, o primeiro não, minto, porque quando eu entrei aqui em Uberlândia, teve um gerente logo no início, que chamava Alberto Faria, que ele foi o gerente aqui em Uberlândia com o qual eu convivi também. Mas depois a CTBC trabalhou muito tempo com encarregadas e as encarregadas das localidades, moças que eram
responsáveis
pelas telefonistas, que é o bojo maior, a quantidade maior, Então, eram as encarregadas da localidade. Eu posso dizer que eu fui o primeiro gerente, vamos dizer assim, da CBTC e o primeiro gerente regional que a CBTC teve. E depois, logicamente, foi dividida em regiões e passou a ter suas gerências.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho, Sr. Luiz Márcio. Como é que foi esse trabalho ainda numa companhia local, antes da CTBC, esse trabalho que foi tão bem sucedido na gerência de rede. Em que consistia o trabalho de um gerente de rede?
R - Olha, a gerência de rede tinha a parte de manutenção que era extremamente importante, porque a tecnologia daquela época era uma tecnologia, é ainda na rede, a parte mais sujeita às intempéries e, vamos dizer assim, a tecnologia naquela época estava muito mais exposta às intempéries do que hoje. Naquela época, para você ter uma idéia, eram cabos eram cabos de chumbo com o núcleo de papel que isolava os fios de cobre. Aquela época era papel. Então, qualquer rachadura que dava nesse cabo, entrava água, parava os telefones todos. Tinha um “bichinho” produto do próprio chumbo, a formação desse... Uma espécie de um carunchinho, que furava o cabo, ele fazia uns buracos minúsculos e quanto menor o furo, mais água entrava e aí molhava aquele papel e os telefones entravam em curto. Então, a parte de manutenção de rede era fundamental. O que consistia nisso? Eu tinha que ter um trabalho de qualidade fantástico em cima disso, porque você tinha que ter um trabalho preventivo, você tinha que ter um cuidado, uma qualidade muito grande de estar, na hora que você fazia as emendas desse cabo, tinha uma técnica toda de soldagem especial, de emenda especial para evitar que entrasse água. E uma outra parte de ampliação dessa rede. Você, logicamente, a tecnologia daquela época, você projetar uma rede, você tinha que ir a campo, e ainda usamos essa metodologia até hoje, levantar os interessados, aqueles pretensos clientes e fazer uma pingação daquela rede para você poder projetar, porque a base de rede você tinha que ter, você tinha uma central telefônica, geralmente situada na parte central da cidade, dali saía a rede, logicamente, um cabo mais grosso e ia fazendo ramificações atendendo às demandas que você tinha. Então era muito complicado isso, e é complicado até hoje, apesar que já você tem outros meios de tecnologia, porque você tem que sair um par de fios da central e ir até na casa do cliente, então, isso diferencia. Se eu não levar uma quantidade de pares suficiente, logo esgota aquela coisa, você tem que fazer uma nova rede da onde você está para trazer até naquilo lá. Então, tem uma técnica toda complicada. Então, basicamente, a parte da manutenção, essa manutenção preventiva, mais essa parte de ampliação era uma coisa que tinha, era muito difícil de fazer. Geralmente para esse trabalho eram contratados técnicos de empresas, que eu te falei, que montavam para estas telefônicas locais e o Sr. Carlos Gaeta lá teve muita dificuldade. Os técnicos contratados para gerenciar isso não deram certo. Uns saíram, outros não atenderam à expectativa, e ele teve muitas experiências negativas lá.
P/1 – Qual foi seu pulo do gato?
R – Foi, primeiro, quando nós assumimos lá, existia uma quantidade muito grande na rede, de emendas, porque eles usavam fazer as emendas, com falta de qualidade, abriam as emendas pegavam borracha e enfaixavam aquelas emendas para vir depois fazer essa soldagem, essas emendas adequadamente, e geralmente não fazia. E aquilo ali ficava, quer dizer, falta de uma manutenção preventiva. Então a primeira coisa que nós fizemos foi fazer um levantamento geral na rede, para poder atacar esses pontos que estavam deixando a desejar. E a primeira providência foi pegar a rede do ponto primeiro, fazer uma vistoria em toda ela, fisicamente, levantar todos os pontos falhos, todos os pontos que necessitavam ser revistos, e fazer essa manutenção.
Então, quando nós fizemos isso, nós já melhoramos consideravelmente a qualidade do serviço. Nós deixamos de ser vulneráveis com essa parte. Em segundo lugar, nós tínhamos aquelas áreas de congestionamento e que nós fizemos um estudo de levantamento em campo, aonde estavam os possíveis candidatos, onde estavam as áreas mais defasadas e fizemos um planejamento de rede, onde pudesse ampliar, as ampliações de emergência, né, para poder ampliar esses pontos que estavam estrangulados. E a partir daí, nós passamos a dar uma manutenção, além da corretiva, uma manutenção preventiva adequada. Foi um sucesso. Uma coisa muito simples, qualquer um poderia fazer, bastando ter realmente um conceito de qualidade adequado para o que se exigia e exige.
P/1 – Essa vistoria não deve ter mostrado para o senhor um quadro muito alentador, não?
R – Não, foi um quadro... Talvez foi a valorização do meu trabalho, foi um quadro desalentador. Foi um quadro realmente... Mostrou no primeiro momento, um quadro realmente que a rede estava abandonada, e quando levantamos isso e pusemos isso na mesa, inclusive os recursos para a gente fazer isso, nós tivemos que depender de recursos, tivemos que aumentar custos, tivemos que contratar mais pessoas, porque nós tínhamos lá uma equipe pequena de manutenção, nós não podíamos tirar essas pessoas da manutenção porque tinha o dia a dia.
Então nós tivemos que contratar pessoas, uma equipe separada para dar uma manutenção corretiva nisso e depois essa equipe nós aproveitamos... Nós tivemos também dificuldade de formar profissionais, aproveitamos para formar profissionais e a partir daí passamos a trabalhar com uma manutenção preventiva constantemente, passou a ser regra geral, isso não só em Franca mas depois nas outras cidades. E a razão do meu sucesso foi realmente esse trabalho na rede.
P/1 -
O senhor se lembrava, o senhor tinha insights, lampejos de lembrança do Sr. Alexandrino durante esse
período mais complicado, digamos assim?
R – É exatamente aquilo que eu te falei no início, esse conceito de qualidade que eu aprendi com ele me serviu e está servindo para minha vida toda. Esse trabalho que nós fizemos na rede lá, foi em virtude desse aprendizado. Porque nós aprendíamos fazendo, não aprendíamos o conceito. O Sr. Alexandrino não era de dar muitos conceitos. Você tinha que aprender fazendo. Então nosso aprendizado foi muito rico, porque nada melhor do que fazer para aprender. Então esse trabalho não só lá, e que nos norteia, foi baseado nesse princípio de qualidade.
P/1 – No seu caso especial, o fazer é que o levou a ter esse conhecimento da área técnica, até porque, o senhor não teve formação nessa área, não é?
R – Perfeitamente. Foi realmente uma área prática e, lógico, no decorrer desse nosso desenvolvimento prático, nós fizemos, logicamente, muitos cursos. Mas a nossa vivência prática é que foi realmente rica.
P/1 -
Essa sua primeira investida na gerência de rede, ainda na companhia de Franca, como é que isso se refletiu, no serviço o senhor explicou, mas no cliente, que resposta o senhor pode ter?
R – Foi exatamente, porque a empresa estava em uma situação muito difícil, por exemplo, dava uma chuva, parava um determinado bairro. Entrava água em um cabo daqueles, num cabo, por exemplo de 200 pares, parava 200 telefones. Então isso aí é a alma do negócio. Além de você causar uma grande insatisfação do cliente, você fica penalizado pela falta de uso do aparelho. Então você perde dos dois lados: perde em imagem e perde em receita. Isso não era naquela época não, é até hoje. Então imagine o reflexo disso, onde cada chuva acontecia uma coisa dessa. Esquentava o sol, os telefones voltavam a funcionar. Então isso
estava pegando a imprensa, a mídia toda local e estava praticamente massacrando a empresa, em virtude disso. Então você imagina quando você consegue eliminar esses problemas, o que o cliente sente. Qual que é o reflexo disso. Todo o negócio da empresa está baseado na rede. Por isso é que a rede é extremamente importante por ser ainda uma coisa extremamente sujeita à intempérie. Até hoje é assim, não é? Lógico, tem novas tecnologias. Mas é uma parte vulnerável, e de um custo, o investimento em rede sempre foi o maior.
Você imagine a economia de uma cidade da região. Então, a medida que você vai abrindo esse canal de comunicação, o PIB da cidade aumenta. E gera mais serviços. O progresso está todo atrelado em comunicação...
P/1 – Com toda certeza.
R -
Então, todas as cidades que nós entramos, por isso eu me sinto gratificado com isso, porque toda a cidade que nós entramos, a par, vamos dizer, do negócio o que a CBTC representou.
P/1 – Sr. Luiz Márcio, o Sr. Gaeta deve ter ficado muitíssimo satisfeito com o resultado do seu trabalho, mas eu gostaria de saber se nesse momento, ou logo posteriormente a esse momento, o senhor começou já a ouvir sobre a eventual possibilidade da CTBC encampar a Companhia de Franca. Como é que isso começou a chegar ao seus ouvidos?
R – Eu nunca perdi o contato com Uberlândia. Eu estava periodicamente em Uberlândia e a minha...
[Troca de fita]
R - …ele foi meu padrinho de casamento e tal. Eu tinha uma expectativa muito grande com relação à CTBC. A gente via que a CTBC, pelo sucesso que ela tinha aqui, e outras empresas, pela tecnologia de ponta que ela sempre buscou, pela perspectiva de uma melhoria profissional, pessoal, vamos dizer assim, e para a própria região, a gente tinha vontade que a CTBC
comprasse, nós torcíamos para que isso acontecesse. O Sr. Carlos era um empresário, que não era do ramo de telecomunicação. O ramo dele, naquela época, era um grande comprador de café, que era o negócio da região, então, o negócio dele especificamente era café, tanto é que, depois que ele vendeu, ele continuou com esse ramo por muito tempo.
Então a nossa expectativa era que realmente a CTBC comprasse isso e a gente estava em Uberlândia, sabia dessa vontade estratégica da CTBC comprar e algumas.... E a gente até já preparava, vamos dizer assim, o espírito das próprias pessoas que estavam lá.
Por ser de Uberlândia, por conhecer a CTBC e saber do interesse, a gente começou a trabalhar isso de um forma, bem antes de isso acontecer. O Sr. Carlos também não tinha interesse de vender, depois tem aspecto que é fundamental para ele poder vender, e a nossa vontade era que realmente a CTBC comprasse, por tudo isso que eu te falei. O Sr. Carlos até então, era um ótimo negócio lógico, e ele não queria se dispor desse negócio, apesar de não ser o ramo dele. Mas aí teve um fato fundamental. Ele tinha uma ligação muito forte com Sr. Portugal Gouveia, que era uma pessoa ligada ao setor de telecomunicação, ele foi da Telefônica Brasileira, ele era do meio de telecomunicação, muito influente, ligou pra ele e falou ”Gaeta, se você tem resistência em vender o seu negócio, venda, porque essas empresas vão passar por um processo de incorporação muito grande e você não vai resistir.” E que realmente aconteceu posteriormente, não é? E esse foi o fator fundamental para ele decidir a negociar com a CTBC. Então é essa história, sabe? Então, quando a CTBC entrou, Luiz, nós estávamos preparados para isso e essa era nossa vontade, por tudo isso que eu te falei.
P/1 – Agora curioso. Por que o Sr. Alexandrino e, já na época, o Dr. Luiz não tinham esse mesmo receio, isto é, de serem encampados?
R – É questão.... Primeiro, porque... É até uma questão, não vou dizer que foi falta de coragem do Sr. Carlos, mas, a tenacidade do Seu Alexandrino, a têmpera do Seu Alexandrino que nunca foi de esmorecer e ter medo de enfrentar situações, sabe Luiz, e, logicamente, a CTBC já contava com uma quantidade de localidades muito maior, e seria muito mais difícil para que isso acontecesse. Além de que, a qualidade do serviço prestado pela CTBC.
Então isso dava, isso deu uma retaguarda para o Sr. Alexandrino e o
Dr. Luiz,
muito forte, tanto é que nós tivemos algumas passagens ao longo aí, que foi decisiva à comunidade do nosso lado, para enfrentar vários desafios que nós tivemos aí, inclusive a renovação da nossa concessão. Então, essa tenacidade, logicamente, de têmpera, ajudou, foi fundamental para resistir. Confesso para você, que nós, que estávamos vivendo
determinado momento chegamos a temer, logicamente, talvez pela truculência que as coisas eram feitas. Mas felizmente prevaleceu essa coragem, essa resistência e foi, logicamente, a única empresa que subsistiu nesse cenário todo.
P/1 – Como é que foi o reencontro do senhor com o Sr. Alexandrino e já o Dr. Luiz,
no momento em que a CTBC assume a Companhia de Franca?
R – Isso foi muito prazeroso porque, eu sempre falo, que já está dentro dos nossos valores e a gente sempre repassa isso para as pessoas, com relação à conduta que a gente deve ter em todos os momentos de nossa vida, de você ser realmente uma pessoa que coloca os seus valores em prática.
Então, eu sempre cito o seguinte: se eu não tivesse tido uma experiência aqui, no meu início, de ter dado, vamos dizer assim, um retorno como empregado da empresa e de ter tido procedimentos adequados, eu seria logicamente a primeira pessoa a ser desligada lá. Somado à minha conduta inicial aqui, logicamente, e com as informações que
foram lá, que nós ficamos um período afastados,
e somado com
essas informações lá, o nosso encontro... Tanto é que três meses depois nós fomos convidados a ser gerente da empresa. Então esse contato foi muito prazeroso. Foi nos dado, realmente, uma missão de fazer, de reciprocidade, vamos dizer assim, tanto de minha parte como da parte da CTBC.
P/1 – O Dr. Luiz nessa época já estava na linha de frente, não é?
R – Desde Uberlândia.
P/1 – O senhor já convivia aqui?
R – Um pouco, porque ele já estava naquela fase, estudando ainda, mas quando eu saí daqui ele já tinha assumido as suas atividades na parte de engenharia da empresa. Eu convivi pouco tempo com ele na parte operativa, mas também já conhecia, mas logicamente nosso contato maior era com Sr. Alexandrino e eram contatos que ficaram.
P/1 – No momento em que a CTBC assume Franca e o senhor é guindado a essa nova posição, novos desafios apareceram, isto é, a expansão também se dava pela região que o senhor já estava instalado, não é? Com foi esse processo de ampliação?
R – Esse processo realmente foi muito estafante, foi muito sacrificado, porque nós não tínhamos recurso que nós temos logicamente hoje, tanto em tecnologia, tanto em termos de recursos, então nós tínhamos que fazer realmente, verdadeiros milagres para poder acontecer. E nós tínhamos uma missão, e foi todo, vamos dizer, o início. Por que? Você pega por exemplo Franca, quando a CTBC entrou, ela tinha 1500 telefones automáticos, mas uma tecnologia que naquela época estava em fase de mudança já na parte de comutação, e tinha ainda em Franca 160 telefones a magneto ainda. E uma dificuldade monstruosa em comunicações interurbanas.
P/1 – Como é que era essa dificuldade?
R – Olha, começando por Franca, né Luiz, Franca, que dessa região que eu estou te falando, é a cidade mais adiantada, agora você imagina as outras, tinha os telefones automáticos. Batatais pra você ter idéia tinha 700 telefones magneto, Brodowski tinha 100 telefones magneto. Altinópolis.... era tudo telefone magneto e interurbano praticamente zero. Falava entre si ali, mas não conseguia sair. Franca, quando a CTBC entrou, em 1968, ela tinha uma demora para São Paulo de 24 horas. Você tinha que fazer um aprazamento da ligação de 24 horas para
conseguir, quando conseguia. Ribeirão Preto, que é outro centro, é centro de região que nós tínhamos, extremamente importante para o nosso negócio, demorava de 5 a 6 horas para conseguir uma ligação. Essa dificuldade que tinha,
era estratégia da CTBC, além de programar a troca de centrais, de refazer redes, de adequar redes para essa ampliação, prédios adequados para receber uma central com uma visão já de futuro, de crescimento, era prioritário para CTBC, interurbano, porque a maneira de se comunicar com a economia, para poder expandir essa economia
e, logicamente, é o nosso retorno mais rápido em termos de receita. Essas dificuldades eram realmente muito grandes. A estratégia da CTBC era, para você ter uma idéia, Franca logo que a CTBC entrou, com essa dificuldade toda de interurbanos, quatro meses depois
nós interligamos Franca à rede da CTBC. Nós tínhamos uma rede interurbana
já em Ituverava que vinha até Uberlândia e, quatro meses depois, nós fizemos, via uma cidadezinha que chama Ribeirão Corrente, interligamos uma posteação e ligamos Franca imediatamente. Então, para você ter uma idéia, interurbanos que duravam 24 horas, como eu te falei, passaram a ser feitos praticamente em uma hora para São Paulo. Então você imagina o que aconteceu em termos de repercussão isso. Passou também Ribeirão Preto, praticamente, nós falávamos na hora, porque nós tínhamos equipamentos e uma nova tecnologia, que nós adicionávamos em cima da rede física, da rede de fios, que chamávamos o famoso DQ12 da época, um sistema de carrier que você ligava e imediatamente ligamos 12 canais para Ribeirão Preto.
Então, em um prazo muito curto, nós conseguimos botar Franca já com uma rede interurbana, que desafogou o tráfego. E aí nós falamos muito em concorrência, nós tínhamos uma concorrência na época lá que, quem fazia interurbano, naquela época, era só uma empresa, que era a Companhia Telefônica Brasileira, que eu me lembro até hoje, funcionava através de um código 01. E aí a CTBC entrou com o código 02 e passamos a fazer
interurbanos, então passamos a concorrer com a Telefônica Brasileira.
E aí, eu me lembro bem, uma estratégia que nós adotamos:
“como é que nós vamos fazer chegar isso ao nosso cliente?”
Bom, como nós tínhamos poucos, 1500 telefones, vamos fazer o seguinte, hoje se fala telemarketing,
vamos fazer um telemarketing da época, vamos ligar,
começar lá no primeiro telefone, naquela época a numeração era 2000. Vamos começar no 2000 e vamos até o 3499, chamar cliente por cliente e dizer para eles que nós estamos fazendo esse tipo de negócio agora, esse tipo de serviço. E assim nós fizemos. Isso foi um dos motivos para nós desbancarmos, para tirarmos a Telefônica Brasileira lá de Franca, porque era também estratégico para nós. Então esse foi um dos motivos que
levou ao nosso sucesso e infelizmente o insucesso da Telefônica Brasileira.
P/1 – É, não tem lugar para todo mundo. Isso redundou, suponho, em dois momentos muito críticos: uma imagem da Companhia que acaba de chegar e já oferece um serviço, digamos diferenciado, e outro, a possibilidade de expandir esse serviço para outras localidades. E o cliente, nesse meio tempo, fica encantado.
R – É. A
nossa dificuldade, sabe Luiz,
era exatamente essa. Quando você fazia
para uma localidade, nós éramos cobrados de imediato das outras localidades que não tinham aquela melhoria. Então nós tínhamos que administrar
isso também, e apesar de ter todo já um plano traçado de ampliações, nós tínhamos problemas com fornecedores, e temos até hoje, de equipamentos. Naquela época era muito mais difícil. Tinha equipamentos importados, a parte de comutação era toda importada, parte dos cabos era muito difícil, porque você tinha que vir medir os lotes, era uma coisa muito complexa naquela época, para você implantar um serviço telefônico. Então a gente era muito cobrado. Agora era, nessa programação toda nossa, que logicamente ocorria alguns atrasos, nós quase sempre nos antecipávamos
a essas necessidades.
Porque nós sabíamos, volto a falar para você, que aquele trabalho de bandeirante que nós fizemos, de pioneiros, isso está marcado na história
das localidades onde nós prestamos serviço. Por que?Na medida que nós implantamos serviço telefônico, implantamos telecomunicação, crescia o PIB das localidades. Imagine uma localidade, por exemplo, que dependia praticamente de Ribeirão Preto, que dependia de São Paulo, ter sua economia desbloqueada, com o serviço de telecomunicação o tanto que se expandiu. Uma cidade igual Franca, industrial, a capital do calçado, e as outras cidades assim por diante. Eu me lembro bem, Cajuru, que é uma cidade próxima à nossa região, quando nós chegamos lá, fomos chamados para assumir o serviço lá,
mais seis meses, o serviço que era ainda magneto não existia mais porque a rede estava toda deteriorada e não tinha condição de operar. E não tinha telefone, não tinha interurbano lá. Tinha uma linha que era partilhada com o serviço de Telégrafo, que ela falava hora ímpar para o Telégrafo e hora par para transmitir recado de telefonia. Você imagina uma cidade, você vai ter a oportunidade, se você não conhece, de conhecer,
Cajuru, e a gente acompanhou desde o primeiro momento, a expansão que ela teve até hoje, em função disso, de logo em imediato nós pudemos, dois meses depois que nós entramos, nós ligamos a nossa rede através de Serrana e Ribeirão Preto, interligando com a nossa rede e aí nós desobstruímos aquilo que vinha impedindo a cidade de crescer.
E a partir daí, toda essa região teve uma outra história de progresso. Isso está inserido nas comunidades que nós atuamos.
P/1 -
Essa idéia de levar o interurbano, logo no primeiro momento, tinha a ver com a economia de um lado, para que gerasse mais serviço e rentabilidade para a Companhia e imagem institucional de outro, não é?
R – Não resta dúvida. Era a maneira de você atender a parte institucional, a parte da comunidade, em consonância com o retorno que isso dava. Onde você tinha uma demanda maior, logicamente, ia ser mais utilizado. Então, o interurbano sempre foi, vamos dizer assim, o filé mignon do
nosso faturamento, das empresas de telecomunicação.
P/1 -
E quanto mais possibilidade de interurbano mais necessidade do próprio serviço. O serviço parece que se auto alimenta.
R – Perfeitamente.
P/1 – Sr. Luiz Márcio, nós estamos falando de um tempo em que o país vivia já sob um regime militar, e a partir desses anos em que o senhor está relatando, a gente tem um momento de fúria estatizante, especialmente no serviço de telecomunicações, com a constituição da Telebrás.
Como é que a CTBC resistiu a esse assédio, e qual foi o motivo, qual foi a razão que a fez sobreviver a essa estatização que era regra na época?
R – Luiz, foi fundamental esse respaldo da comunidade. Pois, como eu te disse, a CTBC cumpriu um papel fundamental na economia, na vida dessas localidades. Então, foi muito forte, e é muito forte isso, a comunidade do nosso lado. Então, nada fala mais fundo do que, primeiro,
uma
prestação de serviço com qualidade e ter o cliente do seu lado. Então, esse foi o papel fundamental para poder resguardar essa nossa área de concessão, de ter o cliente do nosso lado.
Nós tivemos várias provas disso, inclusive, eu já te falei, na renovação das nossas concessões, nós tivemos uma briga muito grande e realmente era uma coisa que era a nossa sobrevivência, foi a nossa sobrevivência, se nós não tivéssemos o papel da comunidade ao nosso lado, ombreando conosco nessa luta, a gente não teria, não teria conseguido. Então, o fundamental foi a gente ter atendido às suas necessidades e estar sempre inovando e sempre buscando o desenvolvimento dessas comunidades, para tê-las do nosso lado.
P/1 – Como é que foi esse episódio da renovação da concessão. Que lembranças o senhor tem disso?
R -
Olhe, como eu te disse, nós tivemos que fazer um trabalho muito forte a nível de ter que levar essa informação, e levar ao conhecimento dos políticos em Brasília, que iriam votar isso e, logicamente, sensibilizar o poder executivo e o poder legislativo para que isso pudesse ser viabilizado.
Nós nunca deixamos de acreditar nisso, lógico. Mas teve que fazer um trabalho efetivo, junto com a comunidade, para que as comunidades pudessem se manifestar junto a esses políticos. Foi fundamental isso. Os prefeitos, os órgãos formadores de opinião, as Associações Comerciais e etc., os clubes de serviço, manifestando seu apoio à CTBC lá, quase em um ritmo de pressão, principalmente, ao legislativo. Então, isso foi muito forte. Essa lembrança que eu tive, que foi um trabalho em toda nossa área de concessão, todos nós, por exemplo, de coordenação, teve um trabalho muito forte junto com as comunidades para buscar, não tirar a espontaneidade disso, mas poder organizar isso, fazer de uma forma estruturada para poder chegar essas informações lá. Eu me lembro que nós constituímos várias caravanas, dos próprios associados da CTBC para fazer um trabalho junto aos deputados, ir lá conversar com os deputados, ir lá convencê-los, levar informações e levar todo esse trabalho que a CTBC teve, e tem, junto à comunidade. Então, esse foi um trabalho maior. É lógico que teve o trabalho estratégico, de relacionamento a nível dos acionistas maiores, da direção da própria holding então, enfim, cada um no seu nível de responsabilidade, mas focado nessa ação, que eu estou falando, de dar a conhecer o que nós somos, segundo o nosso cliente pensava e pensa.
P/1 – A consistência estava exatamente em ter essa impressão da base
e não do topo.
R – Perfeitamente.
P/1 -
Isso de fato funcionou porque as manifestações acabaram mudando, ou pelo menos informando de modo mais qualitativo, a opinião dos congressistas que vivem na ilha da fantasia, não é?
R -
Perfeitamente. Tanto é que graças a isso e ao trabalho de todos nós ganhamos sobrevivência.
P/1 -
O fato de estar sempre dependendo, embora ainda privada, estar
sempre dependendo do Estado para negociação de tarifa, negociação de importação, o que isso significava no dia a dia da operação?
R – Luiz, eu preciso rememorar isso aí, um pouco antes disso. Antes, realmente era muito mais complicado. Porque antes de ser constituída a Telebrás,
para você ter uma idéia, nós tínhamos que conviver com esse tipo de problema com cada câmara de vereadores, de cada município que nós atuávamos. Então, todo aumento de tarifa, toda... O poder concedente era exatamente a municipalidade e, logicamente, à câmara de vereadores, nós tínhamos um trabalho insano. Você imagina, por exemplo, a dificuldade que nós passamos a ter depois a nível federal, mas não chegava aos pés dessas outras que nós tínhamos que ter que administrar em cada localidade, uma vontade ou uma necessidade. Isso aí, política sempre foi na base da troca e a gente, por ser uma empresa, algumas concessões nós não podemos fazer.
E está dentro dos valores da empresa, de sempre pugnar pela parte dos valores e umas coisas complicadas, porque algumas solicitações de cunho
pessoal. O negócio era muito complicado. E com a criação da Telebrás, isso veio de alguma forma facilitar isso. Nós passamos a responder para um órgão só e isso aí, logicamente, para quem não viveu
esse momento lá atrás, isso que passou a ser dificultador. Mas a gente que viveu lá,
e tinha toda essa operacionalização disso, de contato com... foi um alívio para nós quando passou para Telebras.
P/1 - Contraditoriamente um alívio, não é?
R – Foi um alívio. Então, por isso que a gente fala que as coisas que acontecem, é sempre uma oportunidade a mais. Então, com a criação da Telebrás, disciplinou, logicamente, apesar de ser em um período de força, de truculência. Foi realmente,
muitas ameaças e “n” problemas de ordem, de imposição, mas foi muito mais ameno, no meu entender, com relação a administrar todos esses problemas que nós tínhamos em cada município. Imagina hoje, nós termos que administrar em mais de 300 municípios esse tipo de problema. Seria quase impraticável.
P/1 – O senhor vivenciou, na área sob sua responsabilidade, algum episódio que denotasse essa truculência a qual o senhor se refere?
R – Nós tivemos aqui, inclusive, um que a gente pode falar que, por exemplo, nós
tínhamos a localidade de Morrinhos, aqui
em Goiás, que foi pura e simplesmente, eu posso falar, foi tomada, porque foi um decreto e que, saiu da CTBC e passou essa localidade para a área da Telegoiás. Então, esse é um fato que eu posso espelhar nisso, sabe Luiz? A localidade de Morrinhos que era da CTBC.
P/1 – Tinha alguma justificativa racional
para essa canetada?
R – A justificativa é que o poder concedente era do Estado e que as empresas estaduais, as empresas polo, é que detinham o direito de exploração do serviço. Esse era o argumento que realmente nunca nos convenceu.
P/1 – E do ponto de vista da capacidade de expansão, que mesmo ainda restrito à área de atuação até então conseguida, mas a expansão interna mesmo das linhas de telefonia. Como é que era, isso era possível? Era uma coisa que era possível de ser pensada de um modo estruturado, organizado?
R – Sim, porque a demanda, não é Luiz… Nós tivemos algumas fases aí. A legislação, ela sempre especificou sobre tudo o que a gente tinha que fazer. Ela inferia em tudo. Para você aumentar, fazer uma ampliação, você tinha que ter uma autorização. Para você vender um terminal telefônico, você tinha que ter um preço aprovado pelo Ministério. Então, a gente era obrigado a seguir os preços, os planos etc. aprovados pela Telebrás. E aí a gente tinha realmente, sempre tivemos, um dos maiores índices de telefones por habitante de todo o sistema. A CTBC sempre teve a maior quantidade de telefones por habitante de todo esse sistema. Então, essa programação não só de telefone local como de serviço interurbano nós sempre tivemos na frente. Então, havia um plano estruturado sim, de crescimento e houve um grande crescimento nessa época, e que há até hoje. Prova é que nós temos algumas localidades com alto índice de teledensidade telefônica.
P/1 – Perfeito. Quer dizer, isso começou a ser, digamos, construído nesse momento em que o crescimento só se dava do aumento da demanda dentro da área de atuação.
R – Perfeitamente. Correto. Não só na parte de crescimento de número de terminais, mas também na troca de tecnologia, tanto é que a CTBC sempre foi e é considerada uma empresa pioneira nessa mudança constante e atualização de sua tecnologia.
Nós fomos a primeira cidade do interior do Brasil a ter uma central de comutação de controle armazenado, as famosas CPA. Então a CTBC foi a primeira empresa a ter uma central desse porte. Na área de São Paulo, por exemplo, Batatais foi a primeira central do Estado com relação a essa tecnologia, e por aí afora. Nós tivemos aqui, fomos a primeira empresa a usar o cabo óptico a nível comercial. E outras tecnologias, que fomos pioneiros e continuamos sendo. Então, isso aí, não só o crescimento vegetativo, mas o crescimento qualitativo.
P/1 – Sr. Luiz Márcio, o senhor se referiu ao potencial de estar sempre com tecnologia de ponta, a que o senhor atribui isso? Isso era uma diretriz dos acionistas ou era uma necessidade mesmo que o mercado obrigava?
R – Acho que tem alguns pontos, sabe Luiz? Na CTBC as pessoas sempre tiveram, em qualquer época, uma liberdade muito grande em criar. Sempre foi dada aos associados uma liberdade muito grande para criar e manifestar essa criação. Todos nós fomos constantemente, desde o início, incentivados à isso, até pela própria necessidade do negócio. Como é uma empresa de tecnologia, a própria necessidade faz com que você busque. Quando você volta, vamos dizer assim, cria uma cultura para isso, ela, ao longo, vai só, logicamente, crescendo mais. Então, desde o início, devido a esta necessidade, primeiro a dificuldade que nós tínhamos de não ter nada. Quando você não tem nada, com a necessidade que você tem, você está sempre buscando. E com a liberdade de criar, que foi dada e incentivada, isso torna-se um processo constante em qualquer organização e foi o nosso caso, não é? Então essa busca, ela está muito no espírito que foi criado dentro da CTBC, por essa liberdade que eu te falei, pela necessidade e pelo próprio negócio nosso que é a tecnologia.
P/1 -
Quer dizer, acaba se criando um círculo virtuoso de operação, mercado e satisfação de cliente?
R
- Perfeitamente. E isso aí, cada vez mais, com essa velocidade que tem hoje, cada vez se amplia mais. Basta ter a cultura para isso, desde que criou a cultura, isso passa a fluir naturalmente.
P/1 – Como é que isso se manifestou ali na área sob sua responsabilidade, na área de Franca e região?
R – Volto a falar para você, a necessidade...Vou te dar um exemplo, nós tínhamos uma necessidade muito grande, sempre teve, de comunicação. Então, quando nós conseguimos resolver, vamos dizer, a parte de interurbano, apareceu uma nova tecnologia naquela época, que hoje não existe mais, que é o Telex. Então, apareceu o telex, principalmente
para
Franca que é uma cidade
empresarial, o telex era fundamental, porque era uma coisa mais barata, mais rápida. Era uma coisa documentada. Então, uma tecnologia... Nós fomos buscar isso, devido a essas necessidades. E aí, quando nós fomos implantar, nós não tínhamos condições técnicas, por exemplo, a central de Ribeirão Preto, que atendia a região ali, não tinha como nós ligarmos lá. Nós fomos ligar a primeira central, o primeiro telex em Franca, ligando à central de Brasília. Então, viemos, nossa rede até Uberlândia, conectamos com a rede até Brasília e ligamos na central de Brasília.
Então, nós nunca medimos esforços. A direção da empresa nunca mediu esforços, de onde tivesse condições de propiciar aquilo. Primeiro, a necessidade vinha em primeiro lugar, depois se pensava no retorno. Sempre vinha, é lógico que nós tivemos algumas coisas que não tiveram retorno, mas só de você ter propiciado soluções, isso está no bojo do espírito CTBC. Então esse caso, por exemplo, o Telex é um caso que eu estou te contando, porque, nós fizemos a instalação do telex público na Associação Comercial em Franca, então, todas as pessoas que precisavam de telex se deslocavam das empresas e iam lá passar telex. Então, isso por muito tempo, até que propiciou ligar os telex a nível individual, isso foi para Franca uma tábua de salvação, principalmente com Brasília, que tinha muito contato. Então, esse tipo de coisa, esse tipo de visão,
esse tipo de criatividade... Outra coisa, vou te falar uma coisa, quando na área interurbana nós fomos buscar, e passamos a usar muito rapidamente, esse sistema de
equipamento, que nós tratamos equipamento carrier, ou seja, de você colocar em cima de uma linha física devidamente construída para isso, que tem que ter uma tecnologia toda própria para isso, para ela poder ser, vamos dizer assim, o meio, você colocar o equipamento em cima daquele par de fios e transformava aquele par de fios em vez de um circuito, em 12. Quer dizer, o circuito físico e mais 12 canais.
Então, nós começamos a inovar. As necessidades faziam a gente inovar. Esse equipamento era recomendado ser usado até uma distância de 80 quilômetros. Nós tínhamos equipamento ligado de Uberlândia a Ribeirão Preto, quase 300 quilômetros. Nós achávamos uma solução para isso.
Nós buscávamos solução para isso. A nossa equipe, sempre com simplicidade, conseguiu achar essa solução. Outras coisas, dentro do próprio interurbano, nós precisávamos eliminar, vamos dizer, o contato da operadora para ser mais rápido. Então, o que a gente precisava fazer? Porque o princípio inicial, eu chamava a telefonista de Uberlândia, chamava a telefonista de Ribeirão, por exemplo. Chamava, a telefonista atendia lá e ligava: “Olha, me dá o número de Ribeirão, número tal, número de Franca número tal”. Então era feito telefonista com telefonista. Para poder melhorar isso aí, a gente buscava que a telefonista, por exemplo, de Uberlândia discar já diretamente o número de Ribeirão Preto, então, um processo semi automático de discagem de operadora. Nós tivemos que inovar nisso aí. Nós tivemos que construir alguns equipamentos, fabricação nossa, caseira, para propiciar isso. Então, nós fomos uma das primeiras empresas a operar com isso. Quer dizer, nós tínhamos um outro tipo de equipamento que as pessoas falavam é impossível fazer um tipo de discagem em cima desse equipamento, e nós conseguimos. A partir daí, todo o nosso negócio passou a desenvolver em cima dessa nova maneira de operar. Imagine o ganho que nós tivemos. Nós eliminávamos uma operação no meio do caminho. Quer dizer, a rapidez que nós conseguimos com isso. Então, esse tipo de coisa, e não foi só na área de tecnologia, nós temos no campo de administração, nós temos no próprio... Quando nós falamos talentos, e aí não é só CTBC, é em termos de grupo, você usar talentos humanos. Nós adotamos uma filosofia empresarial, que é única, empresa rede, que é específica do Grupo Algar e da CTBC logicamente. Então, sempre buscou, devido à necessidade, buscou formas alternativas e criativas de fazer as coisas.
P/1 – E padrões de excelência, não é?
R -
E os padrões de excelência, com qualidade.
P/1 – Na verdade, não é grande novidade daquilo que o velho empreendedor
pioneiro pensava, né?
R - É por isso mesmo que eu te falei no início que isso marcou a nossa vida. Nos ensinou a buscar isso. Então, isso aí, logicamente, o aprendizado você não vai nunca mais perder. Foi introjetado exatamente no nosso sangue esse valor, que permanece na empresa e no próprio grupo.
P/1 – Nesse sentido, o senhor considera que tudo isso está suficientemente impregnado na cultura do grupo, quer dizer, esse afã pelo conhecimento, pelo novo, pela criação, isso é uma coisa, que hoje, com toda a história que o senhor tem, o senhor não vislumbra
isso com bastante clareza?
R – Muita clareza, sabe? Eu acho que, inclusive, o que sobressai no grupo é essa presença.
E isso é percebido pelos nossos clientes. Todas as pesquisas que nós fazemos aí, nós temos essa resposta.
P/1 – Aí que está, digamos, o fundamento maior de tudo isso, ser percebido como tal.
R -
É. E lógico, nós precisamos melhorar nisso, mas já temos a base feita, nós precisamos logicamente agora é ter uma responsabilidade muito maior de manter isso aí como um atributo da empresa.
P/1 - Certo. Como uma missão o senhor diria?
R – É, como uma missão da empresa.
P/1 – Nesse cenário todo, única empresa privatizada, cenário estatizante, depois a abertura política, a abertura econômica no início dos anos 1990, e a empresa continuando, mantendo essa posição pioneira, essa posição de construção de base tecnológica sustentada e consistente. Como é que o senhor enxerga daqui para diante, quer dizer, esse mercado totalmente aberto, a desregulamentação caminhando a passos largos, chegando já à telefonia fixa muito em breve. Como é que o senhor enxerga, sem lhe pedir nenhum exercício de futurologia, esse caminho que se abre aí no horizonte?
R – Nós
temos o handicap, dois handicaps, que eu acho muito forte, sabe Luiz? Primeiro, essa presença, que eu te disse, junto à nossa comunidade, que é uma presença de 40 e poucos anos junto, nesse trabalho pioneiro, que eu te disse. E a outra, é que a CTBC é uma empresa, e o próprio grupo, é ímpar, não só a nível de Brasil, mas acho que a nível de mundo, por oferecer a universalidade de serviço. Poucas, eu não tenho conhecimento, de algumas empresas que tenham telefonia fixa, dados, telefonia celular e esses serviços agregados em um único grupo.
Então, este é um grande handicap que nós temos e de poder oferecer para o cliente soluções, não coisas pontuais. Então, quando você... E o que faz a diferença exatamente hoje, é essa solução que você dá, de um todo para o cliente, é que faz a diferença. Então, eu vejo que isso aí é muito forte na CTBC e no próprio grupo, não é? E a gente pode dizer porque é grupo em função de que a área de tecnologia da informação do grupo, essas coisas, eu não vejo elas separadamente, eu vejo ela como um todo, e eu acho que elas vão ter que estar muito presentes como um todo e não mais como, talvez, empresas separadas. Isso é a minha visão pessoal e sem fazer nenhuma... Na minha impressão é que a gente vai ter que trabalhar isso de uma forma como um todo, não mais talvez, como uma empresa isolada.
P/1 – Certo. E exatamente para fazer frente à competição cada vez mais acirrada é isso?
R -
Perfeitamente. Acho que nós temos que explorar esse handicap nosso, muito fortemente, que ele é a base de nossa sustentação.
P/1 – A concorrência mete medo, Sr. Luiz?
R – Eu te confesso que não.
No início, quando nós estávamos sendo preparados, vamos dizer assim, para buscar, para enfrentar essa concorrência, apesar, como eu te falei, eu pessoalmente, nós enfrentamos a concorrência já sob diversas formas, em um período anterior, a gente ficava temeroso em saber, não em função da concorrência, o que ia, como isso ia se processar.
Eu posso te falar agora que, lógico que nós temos muito que aprender, nós temos muito que caminhar, mas não nos mete medo não. Não mete medo porque nós temos esse ponto forte. Podemos não ser a maior, mas podemos ser a melhor.
P/1 – Como é seu dia a dia lá em Franca, hoje, Sr. Luiz Márcio?
R -
É... Primeiro a gente tem a nossa função
de estar olhando o mercado, olhando o cliente, e quando se fala olhando o mercado, nós acreditamos em uma coisa que chama-se representatividade. Eu acho que todos nós na empresa temos que praticar essa representatividade. Negócio é uma decorrência disso, essa intimidade que você cria com o cliente, essa intimidade que você constrói com o cliente, ela é a base de tudo. Então, o meu dia a dia é buscar preservar aquilo que nós temos e buscando cada vez mais aumentar essa representatividade da empresa. E fazendo de que forma? Não basta, por exemplo, o Luiz Márcio ter representatividade. Isso tem que ser a equipe toda tem que ter representatividade. Então o meu papel, o meu papel é de
facilitar isso para as pessoas. De que eu possa promover situações onde eu possa direcionar essas pessoas para ter mais representatividade. Quanto mais pessoas com representatividade tiver, mais a empresa vai ter. Para mim, a base de tudo é essa representatividade, essa
proximidade com o cliente. E logicamente a minha outra grande preocupação, e uma coisa que eu gosto muito de fazer, é estar com nosso associado, buscando passar esses valores que com o tempo nós aprendemos, vivenciar isso junto com os nossos associados, fazendo com que eles possam efetivamente ser uma equipe, na acepção da palavra, e não isoladamente se destacar em A, B, ou C, mas como uma equipe. Isso logicamente a gente não deixa de reconhecer o trabalho individual de cada um.
Mas esse trabalho tem que ser contínuo. Você fazendo isso junto com o cliente externo, que é a nossa razão de ser, e preparando nosso cliente interno, que é nosso associado, assim eu acho que a gente não tem barreira. Porque nós temos, vamos dizer assim, os nossos valores, se esses valores forem realmente vivenciados, nós vamos ser uma equipe imbatível, como somos. Nós somos uma equipe que, pelos nossos resultados aí, nós temos mostrado o nosso valor. Aquele negócio, nós somos pessoas simples, produzindo coisas extraordinárias. Então, essa é a minha preocupação hoje. É exatamente em função disso que eu estou te falando.
P/1 – Quer dizer, os indicadores todos são muito risonhos, do ponto de vista da produtividade, rentabilidade de serviço, densidade de telefonia...
R – Sim. É lógico, a gente está dizendo isso de uma forma, agora, como fazer isso acontecer, é lógico que você tem que ter
uma visão voltada para
resultados. E eu estudo até do aprendizado, nós tivemos um grande professor do grupo, que foi o senhor do Grupo, o Dr. Mário Grossi, que nos ensinou muito. Eu particularmente, aprendi muito com o Dr. Mário, com relação a administrar com resultados. Então, o nosso dia a dia lá, nós damos autonomia para nossa equipe, somos um facilitador dessa equipe, mas nós fazemos a nossa gestão voltar e aferir nos resultados acordados. Nós temos objetivos traçados, vamos fazer nossa gestão desses objetivos. Mensalmente, analisando, corrigindo os desvios tal, então, essa é a nossa maneira de trabalhar, de uma forma geral.
P/1 – Isso é um pouco a cultura mesmo da empresa, que se manifesta dessa forma, vamos dizer assim?
R – Perfeitamente.
P/1 – Sr. Luiz Márcio, o que o senhor, o que o senhor gosta mais de dizer à sua equipe exatamente para traduzir esse seu pensamento em ações? O que o senhor mais diz à eles?
R – Olha Luiz, a gente diz o seguinte: Primeiro, que nós temos que ser os guardiões desses valores que foram construídos, que foi adquirido pela empresa e que é o bojo da nossa organização. Nós temos os valores, aqueles valores universais, e os valores da empresa, onde nós temos que cultuar e ser os guardiões disso. E, nós
temos que buscar resultados, temos que ter, na coerência desses valores, a busca do resultado e trabalharmos sob um foco que, toda a empresa trabalha assim, que é olhando um equilíbrio entre os
três eixos que mantém a empresa, que é o acionista, o associado e o cliente. Então,
tudo o que nós formos fazer é em função desses três eixos estratégicos, e a gente, tudo o que a gente for fazer, se a gente fizer uma pergunta, se está atendendo um desses três eixos, é que é o certo. Então, não tem, a gente não trabalha
muito conceitualmente, a gente procura trabalhar mais na prática, mais na vivência das coisas e aproveitando naquele lado também de você transformar todos os acontecimentos em algo positivo. Essa é uma das receitas que a gente procura colocar nas pessoas. Por pior que
pareça a coisa, vá fundo naquilo e transforma aquilo em uma grande oportunidade. Quando você coloca isso no espírito das pessoas há uma mudança de perspectiva, tanto pessoal como profissional.
P/1 – Perfeito. Para finalizar, Senhor Luiz Márcio, o senhor é casado, tem família, tem filhos?
R – Sim.
Eu sou casado. Casei em 1967, foi no finalzinho de 1967,
foi logo que a CTBC foi para lá, um mês antes. Tenho uma filha, um filha única, também casada e mora comigo, mora lá em Franca e tem sua atividade de comerciante junto com o marido que tem uma fábrica de calçados. E é uma família pequena. Eu te falei que só tinha dois irmãos. Meu irmão faleceu a questão de um mês atrás, e eu tenho só uma irmã e tenho alguns parentes também aqui em Uberlândia, vamos dizer, a minha família direta, a família Diniz. E é uma família muito pequena. Então essa
é a minha família, vamos dizer assim, mais direta.
P/1 – A sua esposa é de Uberlândia?
R – Não, minha esposa é de Franca.
P/1 – O senhor a conheceu
lá?
R – Eu a conheci lá e nos casamos lá, como eu te disse em 1967, e não tenho mais nenhuma observação sobre isso.
P/1 – O senhor tem algum lazer, alguma coisa que o senhor gosta de fazer lá em Franca, um hobby?
R – Tenho sim Luiz, tem uma particularidade. Até 1989 eu
tive algumas mudanças radicais na minha vida pessoal, por exemplo, eu sou vegetariano, há mais de 30 anos que eu não como carne. Eu ainda bebia socialmente, fumava. Então, eu vinha há algum tempo tentando
dar uma mudada nisso e em 1989 eu tomei uma decisão. Eu falei, eu não vou beber mais nada de álcool, já tinha parado de fumar e o fator decisivo nesse lazer meu, é um jogging, corrida que eu faço diariamente, onde quer que eu esteja. Então, eu
corro diariamente 12 km. Então, a par do meu lazer, eu falo sempre que é meu seguro de vida. Então é isso, basicamente. É lógico que eu tenho alguns hobbies.
Eu gosto muito de esporte, eu gosto muito de música, gosto muito de plantas. Então, esse é o meu lazer fora do trabalho.
P/1 – Mas voltando um pouquinho para o trabalho. Digamos que se o senhor estivesse em contato agora com um associado recém chegado à Companhia, que ainda não conhece, ainda não teve a oportunidade de ter introjetado esses tais valores aos quais o senhor se referiu. O que o senhor diria a ele?
R – Tem uma coisa fundamental que as pessoas precisam entender que em qualquer situação, que é servir. Quando a gente fala servir, é efetivamente tudo o que você for fazer, você ter o prazer de servir, independente do que você vai ganhar, é muito bom você ganhar dinheiro, é muito bom você ter status, é muito bom você ter poder, mas é meio, não é fim. O fim é você ser feliz. O fim, para você ser feliz você tem que procurar fazer o maior número possível, criar vínculos o mais fortemente, cada vez mais. Então, o servir é a base de tudo. Então, se você coloca em prática esse exemplo de servir em tudo o que você vai fazer, você não vai errar nunca. E a nossa empresa, por ser uma empresa prestadora de serviço que está ligada diretamente com a comunidade, é fundamental esse espírito de servir. Porque as coisas acontecem em função disso, os resultados acontecem em função disso. Então, a gente procura muito e pede para as pessoas ir a fundo neste termo de servir. Pesquisar bastante sobre isso, estudar bastante o que é servir, porque vai se chegar à conclusão que tudo gira em torno de servir.
P/1 – Com certeza. O Sr. Alexandrino pensava da mesma forma também, não é?
O que o
senhor achou de ter dado esse depoimento, Sr. Luiz Márcio, o que lhe pareceu essa...
R – Luiz, é gratificante. Eu não sou, eu não sou muito saudosista. Eu sempre procurei, eu sempre procuro viver muito o momento presente. Eu sempre falo assim, o passado é uma referência para a gente, talvez eu até peque por isso, porque eu não sou de ficar muito no passado, porque eu falo, o passado já passou
e, ou você se arrepende de coisa que você fez ou arrepende de não ter feito. Então para mim, passado já passou, futuro é uma coisa que nós vamos construir, depende do seu presente. Então o presente é o momento que você deve viver. Essa retrospectiva que a gente faz é gratificante em função dos vínculos que a gente criou, pura e simplesmente com isso, que isso aí nunca a gente vai esquecer e nunca a gente vai deixar isso de lado. Agora, os acontecimentos, a gente lembra para
poder às vezes repassar algum exemplo para as pessoas mais novas, que precisam muito aprender. Então eu me sirvo muito do passado para trazer exemplos para o momento presente, para poder dar, de uma forma concreta paras pessoas, esses exemplos. Mas, esse momento para mim foi muito gratificante, porque a gente voltando nos vínculos que a gente criou, nos afetos que a gente granjeou, é extremamente gratificante.
P/1 – Eu lhe agradeço bastante esse depoimento maravilhoso que o senhor nos deu.
R – Obrigado você, viu Luiz?
P/1 – Obrigado.
Fim da entrevistaRecolher