Entrevistada Iara de Fatima Rodrigues ( I )
Entrevistadoras: Rosana Saito ( R )
R: Entrevista com Iara de Fatima Rodrigues, no dia 21 de setembro de 2013.
R: Por favor, qual é o seu nome, local e data ade nascimento.
I: É... Meu nome é Iara da Fatima Rodrigues. Eu nasci em São Paulo, capit...Continuar leitura
Entrevistada Iara de Fatima Rodrigues ( I )
Entrevistadoras: Rosana Saito ( R )
R: Entrevista com Iara de Fatima Rodrigues, no dia 21 de setembro de 2013.
R: Por favor, qual é o seu nome, local e data ade nascimento.
I: É... Meu nome é Iara da Fatima Rodrigues. Eu nasci em São Paulo, capital, no bairro do Ipiranga, em 4 de maio de 1954.
R: Qual os nomes dos seus pais?
I: Pedro Gabriel Rodrigues. Benedita Tobias Jeronimo Rodrigues
R: Qual a origem da sua família?
I: Eles são de Araraquara, interior de São Paulo.
R: Como você descreveria seu pai e sua mãe?
I: É... Meu pai é meu herói, uma pessoa que eu admiro muito, embora não esteja mais aqui, mas ele é meu modelo, meu exemplo. Uma pessoa que veio do interior, batalhou muito, conquistou espaço, uma casa... e deu conforto para família. Minha mãe a companheira ideal que sempre acompanhou né, nesses momentos difíceis, né? Então são modelos para mim.
R: Você tem irmãos?
I: Tenho, nos éramos em cinco filhos, o mais velho já é falecido, ainda tenho três irmãos.
R: Como era a casa onde você passou a sua infância?
I: Essa casa foi sendo construída aos poucos pelo meu pai, mas é uma casa que tem muitas arvores, tem um quintal, tem arvores frutíferas que ele plantava. Horti, nós tínhamos
horta, frutas, criava galinha, então foi uma infância bastante feliz, muita gostosa, tinha acesso a tudo. Tinha informação, muito acesso. Aprendi a plantar, a cuidar. Então era (
), brincava em cima das arvores, então era muito bom.
R: Como eram as brincadeiras de infância?
I: Eu gostava muito de brincar com os meninos também (risos), então eu soltava pipa, jogava bolinha de gude, subia muito em arvores, lia nas arvores. Gostava muito de ficar lendo... à tarde, nas arvores.
R: Você lia para um grupo... ficava sozinha... como era?
I: Sozinha. Eu comia as frutas, na época de frutas eu apanhava as frutas e ficava comendo e lendo na, na
árvore.
R: Que frutas eram essas?
I: Olha, em casa a gente tinha pêssego, tinha ameixa... minha favorita era ameixa, aquela amarelinha. Ameixa, nós tínhamos figo, tínhamos
diversas, tinha mexerica, tínhamos de tudo.
R: Como era o bairro, como era o entorno onde você morava?
I: Então eram todos, era um bairro residencial, que meu pai e os amigos deles naquela época, ajuntara, fizeram um grupo, tipo mutirão e um ajudou o outro a construir a sua casa. Então éramos todos muito amigos né, os filhos desses amigos do meu pai eram meus amigos, então era muito bom.
R: Você tinha então muitos amigos?
I: Tinha, bastante. Meus pais eram muito queridos.
R: Como era sua amizade com eles? Descreve um pouquinho para gente.
I: Era de criança mesmo, né, íamos à escola juntos. Quando nos ficamos adolescentes que nossa amizade se estreitou um pouco mais porque minha casa por ser grande, ter todo esse espaço era considerada a sede (indicando entre aspas). Então todo mundo ia para lá à noite, a gente ficava batendo papo, conversando, essas coisas de adolescente a gente fazia na minha casa. E nos finais de semana a gente fazia os famosos bailinhos, né? Almoço de aniversário... era tudo na minha casa.
R: Voltando um pouquinho, como foi então seu primeiro dia de escola.
I: Ah... foi muito bom. Porque eu sou filha temporã, então meus irmãos eram mais velhos que eu e eu já entrei na escola sabendo ler. Então foi bem gratificante porque eu tinha um certo conhecimento de tudo que estava sendo apresentado. Foi bem confortável pra mim.
R: Como chamava sua primeira professora?
I: Edla.
R: E você tem lembranças desses primeiros tempos de escola?
I: Tenho, tenho porque eu gostava bastante dela, né, me aproximei bastante dela, até ganhei livro de presente dela e dos amiguinhos também. ( ) Tinha uma Iara na minha sala que ela sempre, me lembro dela.
R: Quando você começou a sair sozinha ou com os amigos e o quê que vocês faziam?
I: Então foi nessa época que os amigos frequentavam minha casa porque nós, é... aos sábados fazíamos as nossas festinhas, nossos bailinhos e aos domingos a gente alugava um ônibus, nessa época ninguém tinha carro, e fazíamos uma, tipo excursão. Então a gente ia para Campos do Jordão, ou se não, íamos para casa da família desses amigos, era bem interessante. Eu já ia sozinha, tinha 14, 15 anos.
R: E qual foi o seu primeiro namoro?
I: Bom, como nós éramos um grupo bastante unido, a gente tinha os namoradinhos entre, né, o pessoal do próprio grupo. Então era mais assim, diversão. Nós trocávamos de namorado com as amigas, era bem... bem divertido.
R: E quando você foi para o colegial, como é que foi essa transição, como é que foi essa passagem da, do colégio né, da, do primário para o colégio, ginásio, o colégio...
I: Então, aí as coisas já mudaram um pouquinho porque meu pai faleceu quando eu tinha quatorze anos. Então eu já comecei a ter uma outra vivência, comecei a né, ver as coisas de uma forma mais diferente, eu fiquei um pouco mais retraída né, porque aí a gente começa a ficar um pouco mais responsável também. E... mas foi bom, aos dezesseis já comecei a trabalhar, então parei de estudar, fui trabalhar para ajudar em casa, e depois que eu retomei os estudos, então já era um pouco mais centrada, assim, mais séria.
R: E você morava no mesmo local?
I: No mesmo local, a casa é própria.
R: É... você fez faculdade? Como é que foi esse processo?
I: Eu fiz, mas primeiro eu trabalhei muito né, eu só vim fazer depois de adulta. É... Eu fiz letras, sempre gostei muito de ler, mas eu já era adulta, já estava nesse emprego que estou agora. Foi em 87, por aí, estudar faculdade.
R: E como foi isso, o processo disso, a ida para faculdade com um pouco mais de idade, como foi tudo isso para você?
I: Rompeu uma barreira né, porque assim, na verdade, quando eu, você faz, estudo, qualquer outra atividade na época correta,
acho que você fica mais a vontade. Então requereu um esforço maior, né, para poder romper as limitações. Eu estava acomodada, tive que voltar a aprender a estudar e tudo mais, mas foi muito importante na minha vida. Foi um marco, abriu muitas portas.
R: Você acha que foi um sonho realizado, como é que essa vontade? Era uma vontade como é que foi isso? Vendo suas fotos aqui, olhando para essas fotos tão... que você me passou do álbum, conta um pouco esse momento para gente.
I : Ah, mas essas fotos já são da segunda faculdade viu? (risos)
Eu fiz duas. Eu nunca estudei em escolas importantes, mas eu sempre me empenhei muito. ? E aí eu via que se eu não estudasse eu não ia conquistar as coisas que eu desejava, que eu sempre sonhei em realizar. Eu sou muito, (
) sou ousada, RISOS. Então nessa época, meu já falecido, era praticamente arrimo de família, a gente estava com algumas dificuldades, então eu percebi que eu precisava estudar. E eu tinha conseguido um emprego nesse local agora, que é uma universidade onde o estudo é muito importante, todo mundo valoriza bastante. Então eu voltei a estudar, fiz essa faculdade, foi a realização de um sonho e...
como eu te disse, foi muito valoroso para meu trabalho, mas depois de 25 anos eu percebi que estava um pouco defasada, em relação aos outros, porque a gente estava começando um novo processo lá na universidade. Vieram outras diretorias e começou a se dar um valor muito grande para quem tinha estudo. E para não ficar para trás, eu voltei a estudar, e aí eu fiz administração de empresas.
R: (Quando você fala em universidade) , conta um pouco pra gente como é o seu trabalho, quando você entrou neste trabalho, como foi essa sua trajetória profissional?
I: Então na..., eu trabalho na USP né, eu entrei lá em 1987 e eu trabalhava antes no Hospital das Clinicas, lá na divisão de farmácia, mas naquela época, eu, assim, eu tava, tinha muita dificuldade para realizar algumas coisas que eu queria. Eu queria viajar, eu queria montar minha casa eu queria dar uma condição diferente para minha família, e eu tinha muita dificuldade. Então eu ouvi é... no ônibus duas pessoas conversando e o rapaz falava para o outro: “você já foi fazer a inscrição lá USP, eles estão pegando pessoas, eu já te falei, o salário é bom, o emprego é bom, vai lá.", e eu estava lendo e peguei minha canetinha e ele disse: "vou te falar o telefone pela ultima vez." E ele foi falando o telefone e eu anotei o número e quando cheguei na minha casa eu liguei para lá, perguntei se eles estavam selecionando funcionários, disseram que sim, pediram a documentação e no dia seguinte eu já fui trabalhar com os documentos na minha bolsa. E... depois do trabalho, que eu trabalhava meio período né, depois do trabalho eu fui para USP, fiz minha inscrição e fui fazendo a seleção, eu ia passando, e tinha o... (novo) concurso, eu passava, e depois quando já estava, só faltava a entrevista, eu comuniquei com meu chefe,
que era uma pessoa muito bacana que me dava muito bem com ele, Doutor Vitor Hugo, e aí conversei com ele, disse que eu já tinha feito, precisava ganhar mais, gostava muito trabalhar ali, mas ali não estava sendo ideal para mim né. E ele me liberou, eu fui e fiz os últimos testes, fiz tudo, mas passei e fui pra Universidade. E aí lá, eles estavam iniciando também o processo de utilização de computador e eu entrei para ajudar a instalar um setor, era o setor de cadastros, de fornecedores, fiquei lá uns 3, 4 anos e depois eu já fui para as outras áreas. Então eu nunca saí da área de administração , mas eu trabalhei em diversos locais sempre assim, é... quando tinha uma, revitalização do setor, uma mudança na área eu ia para ajudar a estruturar aquela área. Então foi assim com o cadastro, depois com o almoxarifado, depois eu fui para veículos e agora estou no, no
serviço de administração de transportes, também uma revitalização
(de área).
R: Você mostrou umas fotos, é da sua equipe atual agora?
I: Não, não, Tudo dos antigos.
R: Conta um pouquinho para gente, parece que eles representam bastante para você.
I: É porque a universidade tem um programa para dentro da área de materiais administrativo, chama GEFIM, é Gestão Financeira de Materiais. Então a cada dois anos, eles reúnem todos os funcionários dessas áreas lá no Campus de Pirassununga, que é uma fazenda lindíssima, uma coisa muito prazerosa para todos nós funcionários, e a gente fica três dias fazendo um trabalho de reciclagem e também de padronização de trabalho, né. E isso é muito importante para gente ter contato com aquelas pessoas com quem a gente trabalha sempre não tem né, contato físico. E aí tem eventos o dia inteiro fazendo atividades, workshops, assistindo palestras, no final do evento tem um jantar, uma festa, é uma coisa bem gostosa, todos nós gostamos muito disso.
R: Uma foto que me chamou bastante atenção que é você abraça uma árvore. Conta pra gente como... que experiência é essa?
I: Bom eu... O meu nome já não nega né, sou meia índia, RISOS, meu lado indígena gosta muito da natureza né, e num desses GEFIMS lá em Pirassununga, na USP , tem essa árvore maravilhosa e todos nós estávamos abraçando a arvore né, porque é uma, um prazer muito grande abraçar uma arvore, parece que a gente sente a própria pulsação, mas tem a impressão que é a arvore que está pulsando. Porque quando a gente encosta na arvore, as veias, as artérias encostam e a gente começa a sentir a vibração do corpo da gente, parece que está interagindo com aquele outro ser... é muito rico isso.
R: Você me disse que começou a trabalhar muito cedo. Como era isso para você, para além do trabalho, é... o dinheiro que você ganhava, que destino, como você destinava o teu dinheiro, as suas coisas na época que você começou a trabalhar e vindo até os momentos de hoje ne?
I: Eu me considero uma pessoa bastante responsável,
acho que eu amadureci cedo, Porque com essa perda do meu pai, a gente teve que se adaptar né, uma nova realidade, ele era provedor da família, então eu passei a, vamos dizer assim, a assumir um pouco o lugar dele. Então aos 16 anos fui trabalhar, trabalhei, meu primeiro emprego foi na Companhia telefônica brasileira, eu era telefonista,
de interurbano, nem existe mais. E... Aí eu trabalhava meio período e depois eu comecei a conhecer mais pessoas né,
do trabalho e comecei a descolar uns bicos, então eu ia fazer hora-extra, era bastante prazeroso. Depois disso eu fui estudar, voltei a estudar também para melhorar. Então meu salário, meu trabalho era para prover minha mãe, principalmente né, já tinha uma certa idade e a gente tinha uma casa grande para administrar, então para prover a família das coisas que eram necessárias, né. Eu sempre fui muito voltada a isso, voltada para minha família, a prioridade era o bem estar da minha família. É ... Trabalhei três anos, mas era um trabalho assim que exigia muito, era...hum tem um desgaste emocional muito grande né, ficar lidando, eu era jovem também, ficar lidando direto com gente, pessoas, aí depois eu saí, fui trabalhar na meteorologia, fiquei lá... Eu fazia um intercalado, eu já estava na meteorologia... Minha cunhada trabalhava lá, eu eu fazia previsão, eu preparava os dados para fazer a previsão do tempo, também foi um trabalho bem interessante, eu gostava bastante. E via tipo de nuvens, vento, lia os equipamentos, era bem gostoso. E depois eu fui trabalhar numa corretora de seguros. Era, fui vender Volkswagen, corretagem de seguros. Eu comecei como telefonista, depois de uns três anos eu fui para área de ser, seguros de veículos sinistrados, é...que é aquelas cegonheiras que vão, iam, atravessavam o Brasil levando veículos da Volkswagen né, na boleia, e quando tinha um acidente a gente trabalhava com isso, pesquisa, via de quem era responsabilidade, essas coisas todas. Trabalhei por seis anos, saí de lá fui para o Hospital das Clinicas, trabalhei também por seis anos na divisão de farmácia. Nós produzíamos os medicamentos que eram distribuídos, tanto para os pacientes, os internos ne, quanto para os pacientes que iam buscar os medicamentos,
para seu tratamento. E eu trabalhava com o diretor da divisão de farmácia, nós prevíamos a quantidade de medicamentos que precisava comprar para abastecer o hospital, uma coisa bem rica. E acabamos fazendo um manual de, de todos os produtos que eram produzidos ali. O primeiro o manual foi feito nessa época.
É... depois aí estava nessa fase que não ganhava o suficiente para mim e aí fui para USP, nós fomos para implantar também o cadastro de fornecedores e aí já comecei a ter uma outra. ..foi um salto, foi bem bacana. Ah, e aí eu pude realmente tudo o que eu gostava de fazer e a gente mudou bastante o nosso estilo de vida. Fizemos mudança, reformamos a parte elétrica da casa, sabe, fizemos, demos uma boa estruturada na nossa casa, foi , foi importante tudo isso.
R: Você se casou?
I: Não, eu nunca me casei, não tive filhos também.
R: E os seus irmãos, se casaram, você tem sobrinhos?
I:
Tenho. Eu fui tia aos seis anos de idade né, devido a diferença de idade dos meus irmãos. Então minhas sobrinhas são como se fossem minhas irmãs. Todas me chamam de Iara, a gente cresceu junto, íamos para festas, bailinhos juntas, nós somos bastante amigas. E eu tenho sobrinhos-netos que já são adultos, né. Nessa minha formatura, nessa ultima, meu padrinho é meu sobrinho-neto. E eu eles tem bastante orgulho de mim porque eu estou sempre indo atrás de alguma coisa, e alguma coisa nova, viagem, trabalho novo, fiz trabalho voluntário. Então eles, é... me têm como modelo, é muita responsabilidade, mas é muito prazeroso perceber isso na família. Eu sou uma pessoa, assim, agradecida a Deus e eu sou muito respeitada na minha família. Isso para mim é muito bacana.
R: Como é sua relação com a sua casa? O seu local onde você vem descansar, como é, o que significa isso para você, como é que é isso?
I: Então, eu sempre vi meu pai batalhando muito e eu não me conformava dele ter tido cinco filhos, né,
ter batalhado, ter tido a casa dele e eu não tinha ainda minha. Eu achava que alguma coisa estava faltando,
não estava sabendo tirar proveito das oportunidades que eu tinha. Então eu fiz um esforço grande, falei não, eu preciso ter meu espaço. E..é...O que foi bacana é que essa casa ela não tinha essa cara, aos poucos eu fui conseguindo dar a minha cara para ela, ela ficou bem do jeito que e u gosto, que eu quero, é uma realização muito grande né. E eu gosto demais da minha casa, embora eu seja uma pessoa que não fico o tempo dentro de casa, eu não gosto. Eu acho muito bom saber que eu tenho um lugar para retornar. Essa segurança, saber que eu tenho meu espaço, minha casa, faço o que eu quero, vem quem eu quero. Então acho que isso é muito gratificante depois de tantos anos de trabalho, e tudo que tem aqui ‘é que eu gosto né. Minhas flores, sinto falta da, da, da
casa que eu cresci que tinha muitas arvores, muitas plantas, então, eu preciso ter um verdinho próximo de mim.
E de resto, é o meu, eu falo que eu não sou dona de casa, eu sou moradora, porque e eu venho, tomo banho, como alguma coisa, descanso, me preparo para o dia seguinte. E final de semana eu tento estar sempre em contato com algum amigo, tendo oportunidade eu viajo, passeio.
R: Falando em viagens e passeios, eu vi que você separou varias fotos de viagens. Conta um pouquinho pra gente essa lembrança das viagens e o que isso te traz de importante.
I: Bom eu gostaria de ter sido uma marinheira, (risos) porque eu tenho muita vontade de conhecer lugares, pessoas, isso eu acho que dá uma, uma... amadurece a gente, é uma troca muito boa né, convívio com pessoas diferentes conhecer gente nova, absorver ideias novas, eu gosto muito disso., Então sempre que eu tenho uma oportunidade eu viajo, ou com amigos ou... de preferência com amigos, eu não gosto de viajar sozinha não,
porque eu gosto de falar, eu gosto de compartilhar né. Então eu sempre que é possível eu vou. É ...Bom, você quer saber os lugares onde eu fui, coisa assim?
R: Lugares que te marcaram, importantes...
I: Então, vou falar mais então com relação a essas fotos. Eu estive em Chapada dos Veadeiros que é um local de, de
mata, muita mata, então nós ficamos praticamente 10 dias (emprenhados) dentro do mato, andando dentro de riachos, subindo grutas debaixo d'água, atravessando morros, vendo a paisagem maravilhosa, a gente subia em alguns locais que tinha que subir de quatro de tão íngreme que era. E isso é muito prazeroso né, a gente se arranhar, se machucar, eu acho que é meu lado masoquista que gosta disso, mas a.. mato, verde, me faz muito bem né. Em alguns locais que a gente tinha acesso depois de andar uma ou duas horas, são lugares paradisíacos, acho que poucas pessoas tiveram a oportunidade de ir porque era bem no meio da mata, tinha um lago né, então ficava refletindo toda aquela mata, aquele silencio, aquela paz, aquela oportunidade, se não você deitava no chão e ficava olhando de tão fundo, o despenhadeiro, um baixada tão profunda que você tinha que deitar no chão para ver o céu porque o resto era todo verde, árvores. Então você via as nuvens passando parecia que você que estava viajando. Só o ato de você olhar para céu era uma viagem, né. Eu tive o privilegio também de viajar com uns amigos para Rondônia, nós fomos de carro para lá, então foram três dias de viagem, muito gostosa. A gente parava em alguns lugares e conhecia algumas regiões que jamais teria visto. Eu acho que avião é muito gostoso, confortável, mas não dá essa sensação de você estar ali né,
ao vivo, parando e conversando, e desperta a curiosidade das pessoas ao longo do caminho. Então lá também, uma região riquíssima, muito bonita que,
a gente não conhece esse país, nós vivemos, eu amo o Brasil, eu adoro Brasil, acho que ele é lindo. Todo mundo deveria ter a oportunidade de viajar conhecer e eu conheceria de viver masis 200 anos para poder viajar e conhecer isso por inteiro. É... fui também para o Espirito Santo com essa família de amigos também, É...Curitiba... O quê mais... Campos do Jordão, essas coisas mais próximas também né. Litoral eu gosto muito, tenho alguns amigos que tem apartamento em São Sebastiao, aquela região do litoral norte eu amo muito. Já acampei lá, eu ia acampar quando era adolescente, nessa região também, que é praia com mata, também que é uma coisa muito rica, tirando os pernilongos e bichinhos que mordem a gente né, risos, mas é muito rico, prazeroso né, conhecer tudo isso.
R: Agora , eu vi uma foto aqui,
é África, onde é?
I: Ah, isso mesmo, essa é minha ultima viagem. Eu em dezembro eu fui com outra família de conhecidos eu estive em Camarões, né, Republica dos Camarões. Eu nunca tinha viajado para tão longe, e foi uma experiência muito bonita, muito gostosa, muito rica, mas também ao mesmo tempo muito dolorosa né, porque é assim, eu vi muitas similaridade entre Brasil e África. Alguns lugares que a gente pensa até que tá no Brasil, algumas regiões, parecem que tá em algumas periferias de São Paulo, que e agente que vive no centro, acho que a visão que a gente tem de São Paulo muito diferente do que São Paulo realmente é, do que o Brasil é. Eu tra...eu moro no centro, trabalho numa região nobre, no Butantã, então eu vivo muito nesses dois centros, sendo que São Paulo, Brasil e mundo é muito mais que tudo isso, muito diferente. Então eu acho que ter a oportunidade de fazer esse tipo de viagem, abre um pouco o horizonte da gente né. Vê de onde a minha família veio, de onde nos viemos, conhecer um pouquinho mais esse povo, né, sofrido que é ainda ser colonizado, que nós já fomos, mas perceber que no século 21 ainda tem pessoas
colonizadas, que não a liberdade de sair do seu país a hora que querem e para onde querem, eu precisei de autorização para entrar lá. Se eles tiverem que vir para cá, eles vão precisar de uma autorização para vir, né. Eles ainda têm muita dificuldade de... para tudo né, a vida para eles é muito mais difícil porque eles mantiveram a cultura deles viva, mas eu acho que o preço bastante alto porque, é... mesma parede que e os protege também nos isola né, nos aprisiona, então eu acho que a África está um pouquinho aprisionada dentro da cultura e do passado, eles precisariam, no meu entendimento, talvez eu não esteja correta, mas talvez ter contato com outros povos, sair mais, ir buscar inovação, tecnologia, levar para o país deles, para eles viverem um pouquinho melhor.
R: Como foi esse processo de escolha. Você que quis ir até lá, como foi que você escolheu Camarões?
I: É então, eu sempre quis mesmo viajar, nem sempre surge oportunidade. Como esses amigos iam passar um mês lá e me convidaram, eu não titubeei, nem pensei duas vezes, eu fui, eu queria conhecer.
R: Tem um menino bonitinho aqui na foto...
I: RISOS,
É lindo, ele é daqui do Brasil. Um dos meninos é filho dessa pessoa com quem fui, nos fomos todos juntos.
R: Além das viagens, eu vejo aqui algumas fotos de festas, algumas a fantasia. Conta um pouco pra gente como isso, essas festas que participou, que te marcou...
I: Então eu não sou uma pessoa muito festeira não, eu sou um pouco reservada, mas eu também tive a alegria, felicidade e o privilegio de fazer, de participar de um trabalho voluntario, do CVV, do Centro de Valorização da Vida e lá eu conheci muitas pessoas que acabaram se tornando pessoas importantes, que ajudaram na mudança da Iara né, eles ajudaram a criar essa Iara que eu sou hoje. E...e nós , aí nós fazíamos esse trabalho, atendíamos as pessoas por telefone, né, nos doávamos o nosso tempo para ouvi-las, para estar com elas, para fazermos companhia, para enfim..é...para acompanhar um pouquinho a vivencia delas, nós estávamos à disposição dessas pessoas. E nós também administrávamos esse local que a gente trabalhava, então a gente
que cuidava da conta de telefone, da energia elétrica, da limpeza, da manutenção e desse posto e para tudo nós fazemos uma série de atividades para arrecadar dinheiro para poder né, manter o posto funcionando. E aí nós tínhamos uma amiga, uma pessoa maravilhosa, muito querida e ela cedia o salão d festas do apartamento dela. Nós fazíamos essas festas, convidávamos amigos, nos divertíamos muito e ainda arrecadávamos dinheiro par a posto. Então essas fotos me remetem a essas festas, essas pessoas, nossas, elas... Aonde que que eu vá, elas vão comigo, são muito queridas.
R: Como você chegou no CVV?
I: Então... foi também um pouco inusitado, né. Depois que eu perdi minha mãe eu fiquei um pouco triste e aí eu decidi dar um novo rumo. Porque periodicamente eu preciso mudar o rumo na minha vida. Parece que são ciclos né, eu estava encerrando um ciclo, e aí eu decidi que eu ia mudar. Mas aí eu não sabia como fazer isso, como disse, eu sou reservada, eu não sou uma pessoa de sair... ficar em barzinho. Eu decidi fazer serviço voluntário. Eu entrei num coral para cantar né, e decidi também que eu não ia recusar nenhum tipo de convite, mesmo que eu não gostasse, eu iria para conhecer novas pessoas, abrir novas (frestas) de conhecimento. E foi assim, e aí eu busquei, CVV, e fui atrás, decidi me candidatar e (
).
R: Você ainda canta no coral?
I: Não, também foi por um período, foi uma fase maravilhosa também,, eu tive a oportunidade de conhecer muita gente gostosa, gente muito culta, com muito conhecimento, gente muito sensível, e... mas eu também, depois de uns 5, 6 anos eu saí. Chegue a viajar com eles, fui para Paraná, nós nos apresentamos em locais importantes aqui em São Paulo, na Praça da Paz no Ibirapuera, no Memorial da América Latina, na Prefeitura de Osasco e faculdades e foram experiências muito gratificantes né, muito prazerosas,...
T: Você hoje tem outras atividades para além do trabalho?
I: Então eu estou numa fase, estou tentando encerrar um outro ciclo para voltar a ter atividade. Porque depois da faculdade nos tivemos um, assim, um desenvolvimento de alguns projetos no trabalho. Então esses projetos já vêm desde 2011, eu espero que eles encerrem agora em 2014 para eu poder retomar
minha vida porque estava me tomando muito tempo né. É um aprazer grande
também, eu gosto do meu trabalho, sou muito grata a Universidade de São Paulo, tudo o que eu tenho devo a USP. Mas eu estou full time, só trabalhando, a gente tem ficado até 7, 8 horas da noite, todas as noites no trabalho, acaba não dando tempo. Mas os porjetos estão sendo concluído e eu espero poder retomar algumas coisas.
R: Voltando um pouco das fotos, da sua segunda faculdade, é... Conta um pouquinho como é... fazer uma segunda faculdade.
I: Então, é... eu percebi que estava né, ficando, vamos dizer assim, antiga de casa, um pouquinho defasada, muitos jovens chegando com ideias novas, senti vontade de me reciclar, mas ao mesmo tempo eu não queria só ir para estudar né. Como eu tinha terminado esse trabalho voluntário, não estava fazendo mais nada, senti necessidade de conviver com pessoas diferentes né, e aí eu decidi que queria estudar na Zumbi dos Palmares, que é uma faculdade voltada ao público negro, ao afrodescendentes porque eu também queria interagir mais com o povo, minha raça, saber que essas pessoas Negras estão fazendo na, no Brasil, né, as pessoas Negras inteligentes. Como que e é a vida de um professor negro, como é estudar numa faculdade de pessoas negras. Então também foi um outro prazer muito grande porque eu tive professores maravilhosos, eu conheci pessoas lindas, pessoas inteligentes né, eu consegui mostrar para mim, eu sempre tinha essa impressão, que eu era um peixe fora da água porque como negra eu não sou corintiana, eu não gosto de carnaval, eu não gosto de, né,
pagode, então eu me sentia um pouco fora da agua, um peixe estranho, um ser estranho. E lá fui encontrar meus pares né, porque muita gente estudando, muitos professores fazendo mestrado, doutorado, professor viajado, muito professor bem sucedido, muitas pessoas negras buscando outros caminhos né. E. então foi bem prazeroso o convívio com essa pessoas. Eu vi pessoas que no começo da faculdade eram pessoas simples, humildes, sabe, e depois no final, elas já estavam trabalhando em grandes empresas, em multinacionais. Então é um projeto bonito, eu apostei nesse projeto, e minha maneira de contribuir foi estudando na faculdade né. Aí eu estava lá, eu poderia falar com mais propriedade né, desse projeto.
R: A primeira faculdade foi Letras, você nunca deu aula? Como é esse processo? Das Letras. Por que você escolheu letras?
I: Bom, primeiramente, como eu aprendi a ler muito cedo né, meus irmãos liam para mim, contavam historias, meu pai contava historia, então eu adoro historia, adoro cinema, eu adoro livros né, então eu fui fazer letras para isso também, por prazer. Mas é,
quando eu estava concluindo que tive que fazer estagia, eu já comecei a perceber a dificuldade que era a vida dos professores, dos meus colegas né, é... teve uma colega professora que teve um aluno estagiário dela que acabou até invadindo a casa dela, Já naquela época, há 20 e poucos anos atrás. Eu já percebia também que ja estavam mostrando mudanças no nosso país, o professor, a palavra dele já não era tão respeitada dentro da escola, né, valia mais quanto o aluno pagava, quanto o pai do aluno pagava, é... tinha mais força e mais poder que a disciplina e o ensino que o professor queria implantar naquele aluno, naquela sala. Então essas coisas todas acabaram me decepcionando um pouco. E como eu já trabalhava numa faculdade, numa grande universidade, eu decidi que ia focar mais no meu trabalho mesmo, eu tinha realizado um sonho e ia continuar no meu trabalho, por isso que eu não fui dar aula. E agora essa segunda, foi já o oposto porque como eu trabalhei sempre na área de administração, eu tinha conhecimento, eu fui adquiri um pouquinho de teoria.
R: O que te importa mais hoje em dia? Que para você tem maior importância nos dias de hoje, quais são sua preocupações no dia de hoje? Não falo só em relação a sua vida, falo aí em relação ao mundo, á sociedade...
I: É... é ( um tema bastante) delicado porque eu sempre imaginei que conforme nos iriamos adquirindo mais conhecimento, a tecnologia fosse andando, avançando todo mundo teria acesso né, à Educação, melhores condições de vida, melhor qualidade de vida, que nós iriamos nos aproximar mais, sermos amigos amigos, mais humanos, mais né, solidários uns aos outros, mas é com muito tristeza que eu percebo que a Humanidade, no meu entendimento, aparentemente, tá se...isolando, tá deixando de ser amigo, tá deixando, nos estamos deixando de ser humanos, estamos perdendo um pouquinho das nossas humanidades. Os valores estão tão alterados, tão mudados, que eu acho que hoje em dia vale mais... não só que se tem, mas o que se diz que se tem né. Vive-se muito de aparência, (
), não sei, eu gosto muito de gente, meu material sempre foi gente, tanto que não ligo muito para computador, nem nada. Eu gosto é disso, de tá olhando para você, de tá vendo suas expressões, também está passando as minhas para vocês,
para mim isso é muito significativo, muito importante. Mas eu também sei que as pessoas não valorizam mais que valorizavam mais tanto quanto valorizavam um tempo atrás. Minha família, meus amigos sempre foram (contidos
)e mantidos né, com esses valores, baseado nisso, sempre tentei respeitar muito as pessoas, sempre me senti muito respeitada. Eu gosto de ser respeitada, mas vejo que isso não é mais, não é mais prioridade né. Eu vejo as pessoas conversando, meus amigos brincando, usando expressões pesadas, palavras ásperas, obscenas uns com os outros,
confrontos pais e filhos, mesmo os casais, então isso me deixou muito triste. E então eu falo que na adolescência e na juventude a gente muito contato com pessoas e a vida cada um segue um rumo e vai né, afastando as pessoas. E as pessoas depois de uma certa idade, depois de uns 40 ou 50 anos, elas não se permitem mais. Então já acha que não pode mais usar uma roupa de tal jeito, não pode mais se pintar, não pode mais sair, fazer alguma coisa. E eu não, sabe, eu quero morrer brincando para vida, quero até meu ultimo momento quero ta´querendo conhecer mais, querendo saber, fazer. Se eu tiver saúde, eu quero viajar, se eu tiver oportunidade, eu quero sair, se eu tiver, sabe, companhia, quero beber, brincar, celebrar a vida.
R: Quais são os seus sonhos?
I: Então... eu já conhecer mais gente, conhecer novos lugares e eu, eu acho que sou uma pessoa que tive muita, muita oportunidade, então eu tentei usufruir delas né,
de uma forma saudável, eu acho. E eu quero que Deus continue me dando essas oportunidades e continuar percebendo todas elas, né,
inclusive de estar aqui com você sobre isso, estou fazendo, estou repassando a minha vida, acho isso muito significativo, isso vai
ser muito positivo para mim. E... e continuar vivendo, eu quero ter saúde, trabalhar, ter saúde, manter a saúde que Deus já me deu um corpo saudável, perfeito,
quero manter isso, se Deus quiser, e continuar vivendo, conhecendo gente, meu objetivo é ser feliz. A gente não precisa de muito para ser feliz, é estar em paz, estar produzindo, se doando. Acho que o segredo da felicidade é isso, eu não ficar pensando em mim, nas coisas boas, nos meus defeitos, nas minhas qualidades positivas, negativas, estar indo junto com o outro, agindo junto com o outro, servindo o outro.
R: Como foi contar sua historia
I: Foi bom, me mexeu com emoções,
revivi coisas, pensei em pessoas é... É uma viagem. Foi bom!
R: Parabéns, muito obrigada pela entrevista.
I: Eu e que agradeço essa oportunidade, e... é um privilegio muito grande. Felicidade para todos.Recolher