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História
Por: Museu da Pessoa, 14 de setembro de 2007

Histórias da aldeia Xokleng

Esta história contém:

Histórias da aldeia Xokleng

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Vêi-Tchá Uvanheccü Tëiê. Esse é meu nome completo. Aqui no Estado de Santa Catarina mesmo, que antes era o município de Ibirama, eu nasci. Na aldeia. A aldeia aqui, depois que a gente se conheceu por gente, era aqui mesmo, mas os índios, eles saíram do mato em 1914. Logo após, eu nasci. Em 1914, o pacificador, o nome dele era Eduardo de Lima e Silva Hoerhann. Era o pacificador. Ele veio para cá, com idade de 16 anos. Com 14 anos, dizem que ele matou alguém lá. Ele é lá de Rio de Janeiro. Daí, como ele era criança, o governo fez a pergunta: “O que ele queria ter na vida?” Ele disse: “Eu quero ser amansador de índio lá em Santa Catarina.” Ele veio. Quando ele entrou aqui, ele já sabia que tinha índio no mato ainda. Ele começou a querer tirá-los, a amansá-los.

Os índios foram chegando. Os primeiros que foram chegando perto, no encontro dele, foram o falecido meu sogro com o irmão dele. Os outros já foram chamar. Vieram. Tinha outro lá para o lado. Vieram. Acabando, quando saíram, eram cinco mil e poucos índios que saíram do mato. E ali, então, os índios, nós já começamos a aprender. Os velhos que vieram do mato, ele queria também ensiná-los a ler e escrever. Alguns já aprenderam, alguns não, mas boa parte dos pequenos aprendeu, que nem eu.

O branco, a gente vai começar a contar, ele já tem o caderno e a caneta na mão. Ele vai escrevendo. Tudo vai anotando. E o índio, não. De pequeno assim, ele conta, e o caderno do índio é esse. Caderno e o lápis. Aqui entra, aqui ele guarda tudo. Quando ele está assim, ele já sabe tudo. Quando está velho, ele casa. Quando ele casar, ele já conta para os filhos. Vai transmitindo para os filhos, para as filhas. Assim é.

O velho, ele não conta a história quando está velho. Desde que ele casa, ele já tem a família. A filha nasce, o filho nasce, ele já vai contando. Ensina, conta para ele todo o passado. Então, o pai fica velho, o filho já...

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Projeto Memória dos Brasileiros

Depoimento de Vêi-Tchá Uvanheccü Tëiê

Entrevistado por Thiago Majolo e Antônia Domingues

Reserva Indígena Xokleng , 14/09/2007

Realização: Museu da Pessoa

Entrevista número MB_HV049

Transcrito por Luany Promenzio

Revisado por Viviane Aguiar

Publicado em 14/05/2010

P1 – Qual é seu nome completo?

R – Nome meu? Vêi-Tchá Uvanheccü Tëiê. Esse é meu nome completo.

P1 – E o senhor nasceu aonde?

R – Aqui no Estado de Santa Catarina mesmo, que antes era o município de Ibirama, e eu nasci aqui.

P1 – Mas na aldeia mesmo?

R – Na aldeia.

P1 – E em que dia?

R – Vinte e três de setembro.

P1 – De que ano?

R – Nós fizemos documentos calculados, mas, pelo que o primeiro pacificador, que era o chefe do posto, ele me disse que eu fiz errado. Então, contando aquele, eu estou com 80 e já estou entrando em 85 anos. Mas estou no documento ainda com 70 e poucos anos, né?

P1 – Qual era o nome dos seus pais?

R – Nome do meu pai? Uvanheccü Tëiê.

P1– Eles eram ambos dessa aldeia?

R – Desta aldeia, desta tribo mesmo.

P1 – Queria que o senhor contasse um pouco da sua infância. Quando o senhor tinha até sete, oito ou dez anos, como era a aldeia? Conta um pouco para a gente como era essa aldeia.

R – A aldeia aqui, depois que a gente se conheceu por gente, era aqui mesmo, mas os índios, eles saíram do mato em 1914. Logo após, eu nasci. Em 1914, o pacificador, o nome dele era Eduardo de Lima e Silva Hoerhann. Era o pacificador. Ele veio para cá, com idade de 16 anos. Com 14 anos, dizem que ele matou alguém lá. Ele é lá de Rio de Janeiro. Daí, como ele era criança, o governo fez a pergunta: “O que ele queria ter na vida?” Ele disse: “Eu quero ser amansador de índio lá em Santa Catarina.” Aí que ele veio. Então, começou. Quando ele entrou aqui, ele já sabia que tinha índio no mato ainda. Ele começou a tentar, a querer tirar eles, a amansar eles, já caminhar no mato...

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Título: Histórias da aldeia Xokleng

Data: 14 de setembro de 2007

Local de produção: Presidente Getúlio

Autor: Museu da Pessoa

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