Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Wagner Pinheiro de Oliveira
Entrevistada por Rosana Miziara
São Paulo, 7/08/2013
HVC076_Wagner Pinheiro de Oliveira
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
História de vida
P/1 – Wagner, você pode fal...Continuar leitura
Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Wagner Pinheiro de Oliveira
Entrevistada por Rosana Miziara
São Paulo, 7/08/2013
HVC076_Wagner Pinheiro de Oliveira
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
História de vida
P/1 – Wagner, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Wagner Pinheiro de Oliveira, nasci no dia 7 de maio de 1962, em São Paulo.
P/1 – Seus pais são de São Paulo?
R – Meus pais são paulistas, a minha mãe é nascida em São Paulo, o meu pai nascido em Campinas.
P/1 – Como que é o nome do seu pai?
R – José Antônio.
P/1 – E da sua mãe?
R – Dinah.
P/1 – Seus avós maternos são de São Paulo?
R – São de São Paulo, quer dizer, são paulistas, a minha avó, não vou lembrar agora, mas ou nasceu em Botucatu ou num distrito de Botucatu que se chama Andrade Silva, meu avô em Jacareí.
P/1 – E seus avós paternos?
R – Também são paulistas, os dois campineiros.
P/1 – Eles nasceram em Campinas.
R – É, nasceram em Campinas.
P/1 – Você pode falar um pouquinho dos seus avós paternos, o que eles faziam, esses de Campinas?
R – Sim, o meu avô paterno, eu convivi muito pouco com ele, ele morreu quando eu tinha menos de oito anos, trabalhou em algumas empresas como representante autônomo, como auxiliar administrativo. Minha avó, que é viva até hoje, tem 99 anos, o ano de 2014 fará cem anos, ela passou a vida dela vendendo jóia, andava pela rua vendendo jóia, imagina hoje em dia você vender jóia, ela vendia jóia, não vendia bijuteria, não, ela vendia jóia a vida inteira dela, e viveram muito tempo em São Paulo, meus avós e meu pai, meu pai é filho único, e depois voltaram pra Campinas.
P/1 – Eles saíram de Campinas e vieram pra São Paulo, porque eles ficaram esse período?
R – Acho que por questões profissionais, não tem isso na história, porque vieram trabalhar aqui em São Paulo, tinham parentes em São Paulo etc., então vieram pra cá. E depois, quando meu pai casou com a minha mãe, eles voltaram pra Campinas quando eu tinha um ano de idade e estão lá até hoje, vivem lá até hoje. E, bom, e aí a minha avó paterna é viva até hoje, lógico, não trabalha mais, é uma velhinha que nem tem muita condição de
reconhecer a gente quando nós a visitamos, mas é viva até hoje, o meu avô, pai do meu pai, morreu em 1970.
P/1 – E seus avós maternos, o que eles faziam?
R – Os meus avós maternos, o meu avô materno, ele tinha um restaurante na estação, aqui em São Paulo, a Estação Sorocabana, chamava Sorocabana, era na estação de trem, eu ainda cheguei a conhecer esse restaurante, era dele e do irmão dele, meu tio-avô. E minha avó era dona de casa, cuidava das filhas, enfim, sempre cuidou de casa, viveram muitos e muitos anos aqui em São Paulo, morreram ambos em 1998.
P/1 – Você sabe como o seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Os dois se conheceram na escola, eles estudavam na mesma escola, meu pai frequentava a escola, minha mãe estudava, meu pai ia lá, e se conheceram na escola.
P/1 – Aqui em São Paulo?
R – Aqui em São Paulo.
P/1 – Porque ele voltou pra cá.
R – Sim, ele morou aqui.
P/1 – Ele morou aqui, que bairro que era?
R – Santana, eles se conheceram lá, namoraram, casaram e tão juntos até hoje, 52 anos juntos.
P/1 – O que o seu pai faz, fazia?
R – Meu pai sempre foi representante comercial na área de fertilizantes, adubos químicos, fertilizante, a vida inteira, nos criou vendendo adubo pelo Brasil a fora, hoje em dia ele é aposentado do INSS, mas também continua tendo uma representação pequena, vendendo carne no atacado para um frigorífico local de Campinas. Minha mãe é professora, foi professora a vida toda, não deu aula durante o período em que eu e meus irmãos éramos crianças, mas voltou a dar aula depois novamente e hoje também é aposentada pelo INSS.
P/1 – Me fala uma coisa, aí o seu pai e sua mãe se casaram e eles ficaram morando aqui em São Paulo o primeiro ano?
R – O primeiro ano, eu nasci, os dois primeiros anos, eles casaram em 61, em 63 nós mudamos pra Campinas.
P/1 – Por que ele decidiu voltar?
R – Ele foi trabalhar em Campinas na empresa que ele trabalhava pra cuidar do escritório regional da empresa de fertilizantes na qual ele trabalhava, que se chamava IAP, e ele foi cuidar dessa área da região de Campinas, por isso.
P/1 – Você nasceu lá em Campinas?
R – Não, eu nasci aqui.
P/1 – E seus irmãos?
R – Mas me sinto muito mais campineiro do que paulistano.
P/1 – Você tem quantos irmãos?
R – Três irmãos, só a mais nova nasceu em Campinas, os outros...
P/1 – Você nessa escala qual que é?
R – Sou o mais velho.
P/1 – É o mais velho.
R – Sou o mais velho, depois tem um, um ano mais novo do que eu, daí vem uma irmã que nasce em 66 e uma irmã muito mais nova que nasceu em 1978, essa que nasceu em Campinas.
P/1 – Vocês três nasceram aqui?
R – Nascemos aqui.
P/1 – Aí vocês mudaram pra lá, pra que bairro?
R – É, na verdade quando a minha irmã, a primeira irmã foi nascer a minha mãe veio pra cá pra tê-la, a gente já morava em Campinas, a gente morou, a gente chama lá de Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, moram até hoje.
P/1 – Como é que era esse bairro, a sua casa?
R – Bom, era um lugar obviamente de interior, aquela altura, 1960 e, ah, me desculpe, eu falei que, nós mudamos primeiro pra um outro bairro, perdão, nós mudamos pra um bairro que se chama Guanabara,
também num lugar que era tranqüilo aquela altura, que dava pra brincar na rua, tal, eu me lembro pouco desse bairro, tenho, assim, imagens só, por isso que eu até tive o erro aí, porque em 69 a gente mudou pra essa outra casa que estava contando como se tivesse mudado pra lá e não mudamos, mudamos bem depois, em 69. Essa minha infância lembro muito pouco, tenho imagens apenas da casa, alguma coisa da casa, mais pelas fotos, pelo o que meus pais nos contam, a gente brincava na rua, tinha carrinho de andar, andava na rua, andava na calçada, mas andava na rua também. Depois, nesse outro bairro é que aí a gente viveu toda infância, que eu já tinha sete anos, aí sim no Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, que eu estava falando, aí eu vivi toda a minha infância e adolescência ali, na verdade quase todo tempo porque eles moram no mesmo bairro, no mesmo lugar desde então e saíram uma ou outra vez pra morar fora.
P/1 – Como é que era esse bairro?
R – Esse bairro era um bairro super tranqüilo, recém asfaltado, por exemplo, e nem todas as ruas estavam asfaltadas, perto da Lagoa do Taquaral, um espaço de convivência em Campinas que, lógico, guardadas as devidas proporções, como se fosse o Ibirapuera em São Paulo, como se fosse, sei lá, a Lagoa Rodrigues de Freitas no Rio, repito, guardadas as devidas proporções. É um espaço que tinha campo de futebol, tem até hoje cartódromo, mas não usam mais, tem um ginásio de esportes enorme, até hoje o time brasileiro de vôlei, de basquete joga ali naquele ginásio, tem uma lagoa bonita. A gente morava ali perto e era um bairro super agradável, tranqüilo pra 1970, imagina, super tranqüilo, nós brincávamos o dia inteiro na rua, jogando bola, andando de bicicleta, andando de skate mais tarde, quando o skate apareceu, enfim.
P/1 – Como é que era na sua casa, quem que exercia autoridade, assim, seu pai ou sua mãe?
R – Ah, muito mais a minha mãe, minha mãe que exercia autoridade em casa, meu pai viajava muito a trabalho, chegava à noite e tal e ela que era, vamos dizer assim, a responsável por manter a autoridade na casa.
P/1 – Vocês tiveram algum tipo de formação religiosa?
R – A vida toda a minha família foi criada na formação religiosa católica, na igreja católica, eu e meus irmãos estudamos em colégio religiosos, tanto os homens quanto as mulheres e foi a vida toda, até o final do segundo grau eu estudei em igreja religiosa e praticando a religião católica, participando de comunidade de jovens, essa coisa toda.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Com seis anos, na época entrava com seis anos, entrei no pré-primário e depois, aos sete anos, fui pro Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, que foi o lugar que eu fiz toda a minha formação de primeiro e segundo grau.
P/1 – O Liceu Nossa Senhora Auxiliadora ficava perto da sua casa?
R – Pertíssimo, a gente ia a pé.
P/1 – Você ia com seus irmãos, como é que vocês iam pra escola?
R – É, ia eu e meu irmão, a minha irmã estudava num outro colégio, naquela época tinha a história de colégio só de homem e colégio só de mulher, esse colégio era só de homem na época, um horror, mas era.
P/1 – Que lembranças você tem desse período, você lembra de alguns professores, professoras?
R – Ah, lembrança maravilhosa, sim, lembro de muitos professores.
P/1 – De quais?
R – Ah, dá pra lembrar, eu lembro do professor do primeiro ano primário, quase certeza que se chama Dorival, me lembro do professor do quarto ano primário, na época era um só, não sei se hoje em dia é assim, acho que hoje já não é mais assim, Inácio. Depois alguns professores de Matemática, que eu gostava muito de Matemática, então lembro do professor da época da quinta a oitava série e do professor do segundo grau eu também me lembro bem, de Matemática e também alguns outros professores. E lembro dos meus amigos, tem alguns amigos que são meus amigos até hoje, porque minha família mora até hoje em Campinas, então eu não perdi todo contato, eu não moro mais em Campinas, mas eu não perdi o contato, tenho amigo que eu conheço desde o primário, primeiro grau.
P/1 – Nesse primeiro grau, nesse primário, do que você mais gostava de fazer na escola?
R – Ah, a gente gostava muito de jogar bola, paixão de moleque é jogar futebol, gostava também de empinar pipa, pipa pra alguns lugares, no Maranhão é papagaio, sei lá eu, a gente também gostava, fazia a própria, o próprio brinquedo e depois ia empinar, era, a gente adorava brincar na rua. E na escola tinha muito campo de futebol, esse colégio, Liceu, era um colégio que tinha muitos campos de futebol, tinha sempre campeonato de futebol. Na formação de Educação Física era uma formação bacana, na época, principalmente, da quinta a oitava série tinha uma lógica dos professores de Educação Física que eles davam vários esportes, não davam futebol de campo, mas davam outros esportes, eu me lembro bem, eu vou tentar acertar, mas era basquete, vôlei, handebol e futebol de salão e não dava futebol de campo, futebol de campo a gente jogava à tarde e tal. Então foi uma época que o esporte sempre foi muito presente, tinha olimpíadas do colégio, a gente tinha disputa de atletismo, era muito bacana.
P/1 – Você gostava de praticar esportes?
R – Gostava, gosto até hoje, não consigo praticar, mas gosto até hoje.
P/1 – E na sua casa, assim, que festa se comemoravam, comemorava natal, páscoa, o que era comum comemorar?
R – Todas, os aniversários de todos nós, o natal, o ano novo, a páscoa tinha encontro familiar, ou ia na casa da avó, da avó materna, ou então em casa a gente fazia almoço, sempre tinha.
P/1 – Tinha alguma comida que você lembra que sua mãe preparava, sua mãe cozinhava?
R – Olha, a minha mãe cozinhava muito bem, ela fazia quase tudo, mas uma lasanha maravilhosa, feijoada aprendeu com a mãe e com o pai, a minha avó materna e meu avô materno, os dois pais da minha mãe e ela faziam feijoadas maravilhosas, que são inesquecíveis, doces, vários doces, apesar de que quando eu era criança eu não era muito de comer doce, mas os doces eram também fantásticos.
P/1 – E a adolescência, você passou no mesmo colégio, na mesma casa?
R – No mesmo lugar, mesma casa não, a gente mudou de casa pra duas quadras de distância ali, mas o bairro era o mesmo, com pouquíssima mudança, a turma era a mesma, os amigos eram os mesmos.
P/1 – Mas o que mudou, os programas mudaram?
R – Ah, sim, muda o programa, mas, passa a sair à noite, vai na festa de amigos, depois de 18 anos saía pra, sei lá, ir em bares, como se faz hoje em dia, e uma ou outra boate, mas não era muito, e ia também no cinema, adorava cinema, essa coisa toda.
P/1 – Você ia muito no cinema?
R – Eu gostava muito de cinema, gosto muito de ir ao cinema, ia direto.
P/1 – Tem um filme daquela época que tenha te marcado?
R – Não, é gozado que quando, teve uma reapresentação de “E o vento levou” que fui eu e meu irmão e foi muito longo pra gente, passamos a tarde assistindo esse filme no cinema lá no centro de Campinas, eu me lembro disso toda hora, toda hora eu lembro desse filme por causa de ter ficado tanto, tanto tempo no cinema, mas eu ia ao cinema sempre, sempre, adorava ir ao cinema.
P/1 – Wagner, que músicas você escutava, você gostava de escutar música?
R – Gostava, rock, mas sempre gostei de música popular brasileira e escutava tudo que é música brasileira, mas fora do Brasil eu gostava muito do Queen, eu adorava e ouvia direto Queen, que era o que eu mais gostava.
P/1 – Wagner, nesse período você começou a formar, havia em você uma vontade profissional, alguma escolha profissional ou alguém que tenha te influenciado, tipo assim: “Quando eu crescer eu quero ser”?
R – Eu sempre pensava, mas eu não tinha, achava um desafio enorme e uma necessidade muito grande, ter que estudar muito pra ser médico, então eu sempre ficava: “Ah, mas estudar o que tem estudar pra ser médico, eu acho bacana, não sei o que”, eu pensava como criança, mas depois achei que a minha vida ia além de ficar estudando oito horas por dia aos 15 anos de idade, aos 16 anos de idade, 17 anos de idade. E eu pensei em outras coisas, pensei em Engenharia, e aí no terceiro ano colegial o colégio fez testes vocacionais e deu muito pra essa área de Engenharia, de exatas, Economia e eu tinha lá uma certa vontade e curiosidade e acabei tomando uma decisão por fazer Economia. E foi aí que, eu tava entre Engenharia e Economia no terceiro ano do segundo grau, é isso, terceiro ano do segundo grau, e aí tomei a decisão e fiz vestibular pra Economia e acabei entrando da Unicamp, fiz a graduação toda lá e enfim, estou satisfeito com a escolha que eu fiz.
P/1 – Você teve algum tipo de atuação política, na sua casa se discutia política, como é que era a política?
R – Nos anos 70 muito pouco, tinha um medo do caramba, e a minha família era uma família, vamos dizer assim, conservadora e que pouco se metia na política, na época da eleição tinha papo sobre a eleição, se vai votar aqui, se vai votar ali. Mas eu já com 16, 17 anos comecei a ter mais envolvimento na questão política, eu me lembro que uma eleição, de 78, se não me engano, a dúvida é se é 78 mesmo ou 80, eu ainda não era eleitor, acho que é 78, eu fui fazer distribuição de santinho na porta de escola, tal, fui empolgadíssimo, lembro dessa, essa imagem vem na minha cabeça sempre. E eu sempre me interessei por isso, depois na escola, na Unicamp, uma universidade mais politizada já, e aí eu tive uma vivência política desde então, que nunca mais deixei de ter do ponto de vista da militância política.
P/1 – Mas partidário era ainda estudantil, assim, centro acadêmico?
R – Era estudantil, mas de militância mesmo, eu, logo na segundo ano da faculdade eu comecei a trabalhar, então eu trabalhava e estudava, a Unicamp não era à noite, não tinha à noite, tinha só durante o dia, então era misturado a hora de eu trabalhar e a hora de eu estudar, então não tinha como fazer militância do ponto de vista de ser da direção do centro acadêmico. Mas eu sempre tive uma militância e depois, em 1988 eu acabei, bom, sempre, desde a fundação do PT me identifiquei com o Partido dos Trabalhadores e em 88 me filiei ao PT, mas sempre fui petista.
P/1 – Lá em Campinas?
R – Não, me filiei em São Paulo, já trabalhando no Banespa, o Banco do Estado de São Paulo, então desde 85, vim trabalhar em São Paulo e aí ampliei minha militância, minha militância também do ponto de vista do movimento sindical e acabei por me filiar aqui em São Paulo no Partido dos Trabalhadores.
P/1 – Deixa eu só voltar um pouquinho, você tem alguma lembrança dos Correios na sua juventude ou quando você era criança, de algum carteiro?
R – Não, o que eu lembro bem, eu colecionei selo, então eu adoro.
P/1 – É mesmo, como foi?
R – Eu, o que eu gostava de fazer, eu e meu irmão, a gente colecionava selo, a gente ia pro centro da cidade comprar selo, ia em loja filatélica, mas ia também na agência dos Correios, que até hoje é a agência central dos Correios em Campinas, agência histórica em Campinas. E a gente ia muito ao correio pra comprar selo, mandar carta pra avô, pra primo. Aí o selo com carimbo era mais legal de guardar, nem sei se tem algum valor, mas a gente achava que era mais legal, a gente não tinha nenhuma lógica do que é o filatelista, se falar o jeito que eu colecionava selo o filatelista vai falar assim: “Não, você juntava selos, não colecionava o selo”, mas pra gente a gente colecionava selo, então essa relação era uma relação cotidiana com a empresa.
P/1 – Você recebia ou mandava carta?
R – Algumas pessoas a gente se comunicava por carta, tinha alguns primos aqui de São Paulo, inclusive depois que mudaram pra Curitiba, a gente chegou a trocar algumas vezes carta, cartão postal também, quando viajava mandava cartão pra casa, pra casa dos meus pais, pra casa de amigo ou pra primo e da mesma forma recebia, dos meus avós também, existia essa troca de cartas e de cartões postais sim na nossa família.
P/1 – Mas você guardou alguma carta, algum postal, você tem alguma coisa guardada?
R – Ah, tenho, tenho alguma coisa guardada comigo de época de viagem que eu fiz ou que alguém mandou pra mim.
P/1 – E essa coleção?
R – Está lá guardada na casa dos meus pais até hoje, guardadinha, outro dia eu olhei, vi, achei bacana, mas está lá tudo guardadinho.
P/1 – Wagner, então vamos voltar, aí você entrou na, você está no Partido dos Trabalhadores desde a formação, eu vou ter que dar um gancho, eu não vou entrar na parte da Petros porque não vai ter tempo.
R
- É, na coisa da formação, quer dizer, eu era militante, eu não, quando o Partido dos Trabalhadores foi criado eu não me filiei ali no início, não, mas já fiz campanha pra PT em 82 como militante, não como filiado, como ativista e nem muito menos como dirigente, coisa que eu nunca fui, dirigente do partido. E aí no Banespa tive uma experiência com escriturário, logo que eu entrei no Banespa, em 1985, me formei economista no comecinho de 86, tive uma sorte danada, teve um concurso pra economista no Banespa, fazia décadas, uma década que não tinha, passei no concurso pra economista, vim trabalhar aqui em São Paulo como economista. Aí como economista trabalhei muitos anos no departamento de economia do Banespa, em 1991 fui cedido do Banespa, que era uma empresa pública, pra Assembleia Legislativa, onde fui assessor de orçamento e finanças da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, fiquei lá quatro anos cedido, fora da Banespa. Voltei pro Banespa, já era a intervenção do Banespa, do Banco Central, com vistas a privatização do banco, me engajei na luta contra a privatização, no movimento sindical, entrei pro movimento sindical, fui dirigente sindical da Federação dos Bancários da CUT de São Paulo e também mais pra frente fui dirigente da Associação dos Funcionários do Banespa, que existe até hoje, chama Fubesp, mas hoje são funcionários do Santander. Virou Santander, o Banespa virou Santander em 2000, quando o Santander comprou o Banespa em dezembro de 2000, por conta da minha formação passei a militar bastante na área de previdência complementar, fui eleito no comitê de investimentos do Banesprev, que é o fundo de pensão do Banespa, hoje Santander, mas o Banesprev existe até os dias de hoje. Mais pra frente fui eleito diretor financeiro do Banesprev, fui da diretoria executiva, passei a trabalhar lá, fiquei quatro anos e aí que o Presidente Lula foi eleito em 2002, participei da equipe de transição governamental e depois fui nomeado presidente da Petros, onde fiquei pelos dois mandatos do Presidente Lula, nomeado, lógico, pela direção da Petrobras, fiquei lá de 2003 a 2011 e aí que fui indicado, nomeado pela Presidenta Dilma pros Correios.
P/1 – Como é que foi seu convite pra entrar nos Correios?
R – Bem, eu conheci a Presidenta Dilma na transição de governo, ela também estava na transição governamental do governo Lula, nós nos conhecemos lá, ela foi nomeada Ministra das Minas e Energia e eu, quando ia ser indicado pra Petros, fundo de pensão da Petrobras, subordinado ao Ministério das Minas e Energia, nós acabamos tendo uma proximidade um pouco maior. Me relacionei muito tempo com ela como nossa Ministra de Minas e Energia, presidenta do conselho de administração da Petrobras, nos conhecemos, nossa relação profissional sempre foi muito boa, depois ela foi Ministra Chefe da Casa Civil, também tinha relacionamento, lógico, com a Petrobras, continuou presidenta do conselho de administração da Petrobras. E aí quando ela foi eleita ela me chamou, no dia 28 de dezembro de 2010, eu estava com passagem comprada, ia passar 15 dias fora do Brasil estudando inglês pra melhorar um pouco o inglês, fazer uma imersão pra dar uma reforçada na segunda língua, aí ela me chamou e falou: “Olha, eu quero que o senhor vá ser o Presidente dos Correios agora, a partir de segunda-feira, dia 3 de janeiro”. Aí eu aceitei o desafio, eu gosto de usar a seguinte frase quando me pergunto o que ela esperava da gente, ela falou: “Olha, o que eu espero da nova direção dos Correios é que ela esteja à altura da credibilidade que os Correios tem perante a população brasileira”, é isso que a gente tem se esforçado, ao lado de nossos colegas de diretoria, pra fazer valer o pedido da Presidenta da República.
P/1 – Quais os principais desafios que você enfrentou quando entrou?
R – Bem, eu acho que o grande desafio que eu tive, depois de ter passado oito anos da Petros, que é o segundo maior fundo de pensão do Brasil, mas não tem a grandiosidade que tem os Correios, na época 107 mil trabalhadores e trabalhadoras, presente em todos os estados e praticamente todos os municípios do Brasil, uma empresa que precisava, e precisa ainda, de revitalização, de uma busca de se atualizar perante a nova realidade mundial dos avanços tecnológicos. Foi um grande desafio eu ficar à frente de uma empresa com tamanha grandiosidade e é um desafio, continua sendo até hoje um desafio comandar e estar coordenando um grupo de trabalhadores e trabalhadoras dedicados, profissionais, mas que são milhares hoje, são mais de 120 mil. Nós fizemos um concurso que já contratou mais de 16 mil pessoas nesses dois anos e meio nos correios, vamos contratar mais pessoas no próximo período aí, nos próximos doze meses, mas é um, esse é o grande desafio, o desafio de gerir uma empresa do tamanho do porte dos Correios.
P/1 – Quais são essas medidas que você tomou, assim, especificamente e esse investimento pro desenvolvimento de novas tecnologias pros Correios?
R – Bem, novas tecnologias, o que nós temos feito? Nós estamos investindo muito na questão de usar smartphones pra ajudar os nossos carteiros e carteiras na entrega dos objetos, inicialmente nos objetos que a gente chama de rastreáveis, são objetos que a pessoa quando vai remeter registra e aí ele tem como acompanhar, ou seja, como rastrear esse objeto. São todos objetos que a pessoa quer que seja registrado e seja acompanhado, esse já um trabalho que da entrega dos nossos sedex, todos os sedex, hoje o carteiro que entrega o sedex já usa esse smartphone. Nós temos equipamento de rastreamento de veículos pra ajudar um pouco na segurança, que é o grande desafio hoje que nós temos, a segurança do nosso carteiro, do nosso atendente, do nosso cliente, tanto na nossa agência, quanto da encomenda, do objeto do nosso cliente. É um desafio muito grande, temos feito um esforço grandioso com a Secretaria de Segurança Pública estaduais, com a Polícia Federal, mas no nosso campo então rastreando objetos, colocando chip pra rastrear encomenda pra gente conseguir, ao lado da Polícia Federal, desmantelar quadrilhas que assaltam os Correios, já organizado, tem muita, principalmente em grandes centros, em especial São Paulo, Rio de Janeiro e também um pouco em Campinas. E tem muito roubo a agências nossas, principalmente no nordeste e nas regiões mais longínquas porque nós somos a única agência de banco lá, nós somos o Banco Postal do Banco do Brasil e lá tem numerário e a gente sofre muito assalto, principalmente nas regiões mais longínquas do Brasil. Também estamos comprando máquinas de triagem de objetos automatizadas, isso é um processo que já vem ocorrendo há algum tempo e a licitação está em fase agora nesse ano de 2013, temos também um projeto que nós chamamos de serviços postais eletrônicos, que é trabalhar muito no campo da internet, no campo digital, na questão da tecnologia de informação e oferecer serviços pra população pra que a gente continue a ser uma agência de distribuição de comunicação entre as pessoas, uma empresa que aproxime as pessoas, como nós sempre usamos, um dos bordões que a gente mais usa. Enfim, nós entendemos que temos que usar a tecnologia a nosso favor, a nosso favor significa usando essa tecnologia a nosso favor nós vamos estar usando a tecnologia a favor da população brasileira e do serviço de qualidade que a população brasileira sempre reconheceu que os Correios têm e que a gente quer continuar a ter.
P/1 – Vamos fazer uma só pra encerrar. Qual é o papel dos Correios no desenvolvimento do país?
R – Ah, eu acho que é enorme, tem sido enorme na nossa história, na história do que é Correios no Brasil, história de 350 anos, desde 1663, lógico que em cada momento da história brasileira com uma conformação institucional, com um jeito de ser, mas sempre a serviço do desenvolvimento social e econômico do Brasil, seja lá em que forma de governo que a gente estivesse, seja monarquia, seja democracia, república ou não república, com democracia ou sem democracia, mas sempre presente na história do Brasil. Nós temos contribuído com isso, aproximar as pessoas, de novo usando esse termo, mas sempre com vistas a contribuir nos tempos de hoje, nos dias de hoje, usando essa lógica, contribuir com o desenvolvimento social do Brasil buscando ajudar o governo federal em primeiro lugar, mas também os governos estaduais e municipais, a diminuir as desigualdades regionais, a diminuir as desigualdades econômicas e sociais que o nosso país tem e que são decrescentes graças as políticas que os nossos governos têm empreendido ao longo dos anos, mas que ainda existem e que são grandes e que a gente tem um desafio enorme ainda pela frente.
P/1 – Bacana, obrigada.
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