P/1 – Regis, inicialmente, pra questão de identificação do nosso vídeo, eu quero que você fale o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento
R – Meu nome é Francisco Regis Benício Cruz. Nasci em Maranguape, mas fui registrado em outra cidade, Pindoretama. Nasci no dia 14 do cin...Continuar leitura
P/1 – Regis, inicialmente, pra questão de identificação do nosso vídeo, eu quero que você fale o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento
R – Meu nome é Francisco Regis Benício Cruz. Nasci em Maranguape, mas fui registrado em outra cidade, Pindoretama. Nasci no dia 14 do cinco de 66 e estou aqui pra representar um pouquinho da minha história, da minha vida, que é muito gratificante, pela primeira vez. E eu to muito satisfeito com essa gratidão que vocês estão fazendo comigo
P/1 – Regis, me fala uma coisa. Antes de entrar mesmo na sua história eu queria conhecer um pouco sobre a sua família. Então seus pais, sua mãe, seu pai, de onde eles vieram, o nome deles, o que eles faziam. Conta um pouquinho pra mim sobre eles, a origem deles
R – Bom, eu sou mais um pássaro que sempre voa, né? Voa para o mundo pra poder sobreviver às dificuldades da vida, à divisão social do nosso país. Fica muito difícil pra quem vive na pobreza, né? Eu não conheço meus pais biológicos, isso me afeta muito, eu fico muito emocionado. Na época quando comemora o Dia das Mães, Dia dos Pais e também nó Reveillon, os outros eu tiro tranquilamente, mas são as datas que me marcam muito porque eu não conheço a minha família biológica. Eu sempre busco, mas eu não encontro. Agora, a família que me criou, me adotou, me tiraram do orfanato lá de Maranguape. Inclusive eu sou fanzão do Chico Anysio, sou de lá, né? (risos) E me tiraram de lá e me trouxeram pra Fortaleza, capital. Como ele tinha uma fábrica me levaram também pra morar no interior, que é Pindoretama, e me registraram lá. Enfim, eu fui me adaptando com a cidade, criança, tal. Depois fiquei adolescente, trabalhei no canavial, ele tinha fábrica de produtos, de doces, minha família adotiva. E com o tempo a família foi evoluindo, teve muita prosperidade. São Paulo, Belém, Recife, Natal, tudo comprava os produtos dele, mas depois, com o tempo, eu fiquei assim meio afastado porque eu queria trabalhar. Ele me tirou muito cedo da escola para trabalhar no pesado, foi um grande erro da vida dele, mas, mesmo assim, eu sempre o respeitei e dei valor aos conselhos dele. A grande falha dele foi essa, ter me tirado da escola e tirou do que eu gostava também, o futebol. E a vida ficou por isso mesmo. Depois a minha mãe faleceu, a minha família adotiva foi muito cruel comigo, mas por causa disso eu não tenho receios, pelo contrário, né? No tempo eu achava bem melhor, hoje não, hoje tá mais difícil criar os filhos. Depois eles foram embora pro outro lado da vida e eu vim pra Fortaleza tentar uma vida melhor. É muito difícil morar na capital com pouco estudo
P/1 – Você veio pra cá só depois do falecimento da sua mãe adotiva? Veio novo, como foi?
R – Bem antes. Vim antes porque como eu lhe disse, ele tinha a fábrica. Quando eu estava com 19 anos eu que cuidei da fábrica dele, fui o gerente, fui tudo pra ele. Mas houve desentendimento das filhas dele, as cinco filhas que são minhas irmãs, achavam que eu ia usar de má fé. Então eu saí fora sem problema, pedi pra Deus ajudar elas todinhas e eu vim pra cá por esse motivo. E até hoje estou aqui
P/1 – Você lembra do seu primeiro dia aqui em Fortaleza? Conta pra gente como foi
R – Uma sensação muito difícil. Eu tive que morar na rua, passei 15 dias na rua, na Praça Coração de Jesus que fica ao lado da Praça da Criança e foi uma vida difícil. Uns 15 dias depois apareceu um cidadão que teve compaixão de mim e abriu uma porta para eu morar, reservou um quarto e eu fiquei lá uns dois anos. Eu consegui trabalho de contínuo, deu certo aqui no centro e eu comecei a evoluir toda a credibilidade, tudo. Depois eu consegui um trabalho melhor, de balconista em supermercado. E fui evoluindo. Depois saí de lá, fui trabalhar de vendedor. Depois de vendedor (risos) eu parei onde? Tive que ir pra São Paulo, pra conhecer São Paulo. Conheci São Paulo, passei lá oito anos, aí tinha uma namorada aqui, então nós fizemos uma família. Eu fui primeiro pra depois meu filho mais velho poder ir. Eu não poderia levar ela assim, né? Eu saí sem dizer nada pra ela e ela perdeu o contato por causa disso. Aí pronto. Quando meu filho completou um ano eu paguei a passagem, trouxe, dei todo o amparo pra ela ficar bem confortável, aluguei uma casa. Depois ela entendeu, pensava que eu tinha abandonado eternamente e aí fiquei. Depois veio nascer outro garoto, nasceu lá em São Paulo. E de repente bateu a saudade da família dela e ela resolveu vir pra cá e eu tive que vir pra cá. E foi pior ainda porque eu tive que criar sozinho os dois filhos porque ela abandonou, né? E ficou por isso e pronto. E hoje eu estou com eles, virei pai, mãe, já estão rapazes. Eu fiz esse projeto Golden Boys Futebol Clube e pra mim é uma satisfação imensa ter esse projeto, não só para eles, mas para todas as famílias, porque é um exemplo, né?
P/1 – O que é o Golden Boys? Conta pra gente de onde saiu, como surgiu
R – O Golden Boys surgiu no meio da pista, na periferia. É muito complicado lá em Messejana, muito complicado. Era a terceira mais perigosa do Brasil, levada com São Miguel. São as duas facções, Conjunto São Miguel, mas tem várias facções que dominam aquele território e aí se expande na capital. Já vi muitos garotos de oito anos, já cuidei de filhos dos outros, fiz de tudo pra poder ajudar eles. E por aí se vai, meus filhos foram. Eu tive essa ideia. “Puxa vida, se Deus me deu um emprego, acho que eu tenho que falar mais alto nessa cidade”. Então eu resolvi fazer isso, arcar do meu bolso todo o amparo e começou a evoluir. Comprei as travinhas. E o que chamou mais atenção das famílias foram as músicas que eu fiz e as famílias foram agregando, gostando. A gente ficava no meio da pista, as famílias sentadas, tudo. Foi muito bacana, foi gratificante. Depois eu tive que mudar para outro bairro porque eu ganhei uma casa, Deus honrou esse compromisso comigo, e eu fui evoluindo mais ainda. Fui para o campo de futebol, saí das travinhas e fui para o campo. E agora eu to aí cuidando de crianças, adolescentes e talvez vá ter o time feminino. Que esse projeto veio pra resgatar os valores do passado, das décadas de 60, 70, 80 porque hoje não tem mais os valores, é muito difícil hoje encontrar um valor de família, né? Porque pra colocar um filho no mundo é bom, agora cuidar é uma coisa muito especial, né? Eu tive a coragem de fazer isso, as crianças estão comigo
P/1 – Mas não é uma escola de futebol só, né? É mais do que isso?
R – É muito mais do que isso
P/1 – Eu queria entender melhor
R – É o seguinte. A primeira regra é essa, respeitar a Deus, amar a Deus sobre todas as coisas, respeitar Ele. E é o famoso Jesus Cristo. Houve uma reunião, as famílias não quiseram Maria e José, então preferiu o filho, Jesus Cristo. Então aceitei, assumi esse compromisso. E depois vem a família, respeitar e honrar a família. Depois vem o colégio. E por último, em quarto lugar, vem o futebol. Tem uma parceria com os clubes de televisão e rádio daqui, Fortaleza, Ceará, Ferroviário estão comigo. E pra mim tá sendo muito gratificante. Já tem seis lá no Fortaleza Esporte Clube, tem três na base que estão caminhando para serem profissionais e no Ceará porque a carência é muito grande por causa da mensalidade, da inscrição, tudo lá do Ceará Sporting Club. No Ferroviário já tem oito, já tem uma parceria com o Grêmio, já vai levar. Todo critério. Tem reunião de família, tem reunião dos atletas do Golden Boys. E tem as músicas que a gente tem que cantar
P/1 – Que músicas, por exemplo? Você consegue cantar uma pra gente aqui?
R – As músicas tem o hino oficial (cantando): “Golden Boys Futebol Clube, guardo sempre no meu coração. Tu tens glória e tradição, és amado, aplaudido por essa nação. Golden Boys garoto travesso, sua vida é jogar e vencer também. Tu tens fabuloso esquadrão, onde estiveres contigo eu estou, sempre te amarei”. Esse é o hino oficial do Golden Boys Futebol Clube que eu fiz. Tem a música da família (cantando). “Tudo eu sei, eu conquistei, minha família é todo meu amor. Esperei muito tempo pra isso acontecer, minha família, minha família, felicidade do meu senhor. Minha família, minha família, melhor presente que eu ganhei do meu Senhor”. Essa é a música da família. Tem a música da Polícia Militar, tem a música da Professora
P/1 – Mas vocês têm apoio da igreja, têm algum apoio?
R – Não temos, eu procurei o padre
P/1 – Os clubes não dão verba também?
R – Não
P/1 – Nada. São só os pais e você
R – É. Os pais pagam a mensalidade lá. Eles não pagam nada nesse projeto, inclusive eu pago a passagem porque eu moro no outro bairro, vou no ônibus, tudo com a estrutura do projeto. Na época eu gastei um mil e 800 reais. Também temos a escola do projeto Alegria de Viver, é feita na rua onde eu moro. E aí os garotos fazem, não é um reforço, é um colégio. Eu tento dar amparo para as professoras, que são as adolescentes, as famílias apoiaram. E esse projeto está aí, caminhando não para o futebol, é para resgatar os valores, né? Infelizmente nosso Brasil está numa decadência muito difícil
P/1 – Regis, me conta então uma história que foi marcante do projeto Golden Boys. Uma que você lembra. Ou de uma família, ou de um menino, enfim, uma história que tenha sido marcante. Ou quando você conseguiu verba. Conta uma pra gente
R – De um garoto que tinha nove anos, o Fabrício Mem marcou muito a minha vida e também o meu filho mais novo. Os caras do “mundo mágico”, que eu batizei, queriam levar meu filho pra vender cocaína, né? Não foi fácil, aí eu peguei no flagra, saí do trabalho aqui dos Correios, um dia que eu arrisquei perder o emprego, peguei no flagrante. E foi muito difícil pra mim. Começou pelo meu filho. E depois eu vi esse garoto de nove anos, o irmão dele foi para o mundo mágico e deram fim na vida dele. O pai dele entrou numa situação difícil, na decadência, mora no meio da rua. A mãe dele saiu do emprego pra cuidar do outro irmão dele. Isso me chocou muito e também do meu filho, sabe? Foi uma dificuldade muito grande. Meu filho mais velho também, os caras queriam ensinar ele a pegar revólver. Era uma barra muito grande. Eu cuidei deles de uma forma diferente, pagava as pessoas, mas elas não cuidavam, só queriam saber do pagamento. Isso aí foi muito marcante por causa disso. Outro fato também foi outro boleiro, esse Fabrício era atacante. Outro fato foi esse, tentei de todas as formas, conversei com a família, mas eu recuperei. Desses daí eu recuperei três, um vivia com dois revólveres no ‘mundo mágico’, os dois já estavam virando traficantes e graças a Deus estão comigo. Esse apoio eu to dando porque tem as visitas, não posso deixar só jogar futebol, tem as visitas. E isso me marcou porque eu tive outra ideia do banho de piscina, pago do meu bolso. Eles não pagam nada, o que eles pagam é o compromisso, a responsabilidade, não pode faltar. Agora quem vai manter o projeto são os próprios atletas cidadãos do Golden Boys, eles é que vão manter porque eu não tenho apoio. Nós estamos andando nas periferias para que venham ver o que é o Golden Boys. E os meus filhos pediram desculpa sobre isso, foi muito duro pra mim, foi marcante, levando pra igreja e tal. Ensinando. Criei a reunião de família, repassei pras famílias. Porque eu fui o idealizador da reunião de família que é muito importante, que as famílias não fazem isso, tem que ter reunião de família, saber onde está o erro do pai, saber onde está o erro da mãe, dos filhos. E saber até onde está o erro. Então, graças a Deus está dando certo e a vida continua de uma forma que eu não abro mão disso, eles têm que obedecer isso, são essas três regras que eles têm que manter isso aí, por último é o futebol. E a gente canta, a gente conversa com Deus, tem o nosso parceiro que é o Jesus Cristo, é um extraordinário jogador, ele é um dos melhores, né?
P/1 – E Regis, me conta o que é o troféu, o que é a medalha que eu to vendo que você trouxe aqui, o que é isso? Conta pra mim
R – É o seguinte, essa medalha aqui, eu fiz isso por causa dos meus filhos, pra mostrar pra eles a superação da glória que eu conquistei. Eu sempre digo que isso não é uma medalha, é uma glória. Cheguei a um ponto de conquistar essa glória. Ganhei o troféu e eu conquistei a marca de 56 minutos e 33 segundos, uma marca que muita gente fica admirada, né? Porque tem deles aqui que tem até treinador particular, os alimentos, vitaminas e tal. Eu não, eu sou um cara que trabalha de serviços gerais, zelador (risos) e aí eu tive essa ideia, homenagem aos meus filhos. Quando eu ganhei não disse nada, no outro dia que eles chegaram: “Papai, o que foi isso aqui?”. Fácil, a glória, isso aqui serve pra você. Você pode, você vai conseguir essa glória. A glória não é só pra mim não, serve pra você
P/1 – O que foi isso?
R – Foi muito bom isso aqui porque...
P/1 – Isso é uma maratona, é isso? O que é isso?
R – Sim, foi uma maratona dos Correios que me deu esse apoio, eu não esperava. E eu corri, cheguei dez quilômetros sem preparo nenhum (risos). Mas foi bom. Sem preparo nenhum e eu atingi isso aqui, sabe? E eu desafiei até a minha sombra. Por que eu desafiei? Eu disse pra minha sombra: “Ó sombra, você não vai passar de mim, eu vou ganhar! Sombra, você não vai passar por mim, não vai. Eu vou ganhar”. E a sombra: “Não vai, eu vou, eu vou”. Consegui e graças a Deus eu fiquei feliz, satisfeito por isso
P/1 – Só pra entender, isso foi uma maratona dos Correios de dez quilômetros, você foi lá e ganhou
R – Aí querem me levar mais além para eu poder participar da maratona do Sesc, é, estão querendo me levar. E talvez vão me levar pro Maranhão (risos)
P/1 – Sem treino, sem nada?
R – Sem treino. Basta ter saúde, né? E aí o que eu faço, o segredo tá onde? Lá no Golden Boys, tem a parte física. A parte física eu faço junto com eles, né? E eu desafiei essa sombra, que é a minha sombra, ultrapassei os limites e deu certo. Eu me emocionei muito porque eu me lembrei dos meus filhos, dos garotos Golden Boys, que é para a mina do Futebol e eu fiquei satisfeito com isso, sabe? Porque eu sempre digo pra eles, o verde é da esperança, o azul é do amor e o branco é da paz, são as cores do nosso Golden Boys Futebol Clube que é conhecido como clube da família aqui em Fortaleza
P/1 – Quantas crianças?
R – Ao todo já tem, já guardado, tudo inscrito, quem se inscreve é a família. São 225 já. Quando tem briga de casal tem que resolver lá, dar um toque pro padre, aqueles negócios. Se a família do jogador é evangélica, dá um toque pro pastor (risos). É o jeito, né? O importante é Deus. Aí tem que levar um amparo, pra dar um bom exemplo e ele ser um atleta cidadão. Tem as visitas também da família. Dá problema, eles ligam pra mim, tem telefone exclusivo do Golden Boys. Tem o contato também com a professora, que é a minha parceira. Aí minha parceira: “Não veio hoje” “Tá bom, tá certo, então vai ser barrado”. Aí pronto (risos). Também não podem perder as reuniões da igreja católica, os evangélicos também
P/1 – Regis, e os Correios? Como entra na sua vida?
R – Os Correios foi através, foi uma vida mais difícil também porque eu fiquei três anos na fila, né? Três anos, mendigo. Virei mendigo. Antes da minha esposa ir embora, abandonar meus filhos, eu virei mendigo. Por quê? Porque ela não aceitava. O que eu posso fazer? Pouco estudo, né? Aí ficava mais difícil aqui em Fortaleza. Foi uma surpresa, Deus olhou pra mim, tocou no coração de um cidadão de uma empresa. Eu ia atrás de emprego segunda, terça e quarta. Quinta, sexta e sábado eu ficava na rua pedindo ajuda, dez centavos, 50 centavos. Mas com a carteira profissional, os documentos, que de repente eu dava com um empresário e aí pronto, certo? E graças a Deus deu certo. Houve um desentendimento, eu estava trabalhando no Banco do Brasil uns oito meses, houve desentendimento de um funcionário, serviços gerais, zelador, me chamaram, eu vim pra cá e eu fiz minha história aqui. E eu virei um patrimônio. Eu sempre digo aqui, eu sou um patrimônio aqui dos Correios (risos). Por isso que eu fiz minha música da maratona, né? A música que eu fiz, é uma música muito bacana
P/1 – Qual é a música?
R – É bacana a música. Eu to tentando lembrar porque a música é muito importante pra mim, né? “Sou campeão da vida” é o nome da música. “Pra quem não sabe quem eu sou, sou campeão da vida. Tudo na vida eu passei, nas dificuldades da vida. Suor e dor, dedicação, na superação, na fé em Deus. Ó meu Deus, muito obrigado por ter campeão da vida. Ó meu Deus, muito obrigado por ser campeão da vida”. (emocionado) Essa música eu me emociono muito, eu lembro muito dos meus filhos porque pra mim é uma peça muito importante, sabe? Desculpe por estar emocionado porque é difícil a pessoa estar, ser pai e ser mãe ao mesmo tempo não é fácil, sabe, hoje em dia. Porque dá de comer. E eu criei meus filhos sozinho com a ajuda dos outros (emocionado), pedindo esmola. Não é fácil, viu? Hoje muita gente não quer a superação, na fé em Deus, por isso que eu fiz essa música. E a música me chama muito a atenção. Virei um compositor que eu faço minhas músicas dentro do ônibus, no meio da rua, não é trancado (risos). Eu não sou compositor que faz trancado, reservado, meu negócio é no meio da rua, contato com a natureza. Dentro do ônibus, aqueles estresse e eu escrevendo e vai fazendo. Já fiz muitas músicas aqui, são 43 músicas samba de mesa que eu tenho. Só não é registrada porque pedi apoio e não deu certo, está arquivado, mas se aparecer...
P/1 – Vai fazer
R – Vou fazer. Pode ser o “Samba Vip”, ou “Louca Paixão”
P/1 – Regis, desculpa. Você já está há muitos anos aqui nos Correios?
R – Já vai fazer 12 anos que eu estou aqui, por isso que eu digo que eu sou um patrimônio aqui (risos). E eu fiquei feliz que Deus me deu esse emprego, me deu uma casa pra morar. Saí da periferia muito pesada, terceira do Brasil. E aí eu sempre vou lá, mato a saudade deles, tem vezes que se emociona. Os jogadores que estão comigo porque eles queriam que eu ficasse lá eternamente, né? Era muito bom, as famílias me davam, até hoje gostam de mim, isso é bom, é gratificante porque o melhor presente que eu posso ganhar mesmo é cuidar do ser humano, o que está faltando é isso, é cuidar do ser humano. Cuidar do ser humano não é de qualquer maneira, é uma coisa especial, né? Porque eu sou um cara especial aqui na Terra, eu não vim aqui à toa, certo? Eu sempre digo pros meus filhos: “Você pode, você vai conseguir. Você vai lá, estude, procure estudar mais. Procure. Porque lá fora ninguém não quer a oportunidade que você tem”. Então procure que você vai ser vencedor. Os Golden Boys se você quiser
P/1 – Regis, me fala uma coisa, você tem uma relação de trabalho com os Correios e tal, né? Mas você tem alguma história sua, algum causo aqui dentro dos Correios, algo que aconteceu
R – Divergência?
P/1 – Não, não. Alguma história diferente, um dia que foi diferente. Ou você tem, por exemplo, a história de uma carta que você recebeu. Ou uma carta que você mandou. Você tem algum causo?
R – A história pra mim foi Natal, né? Que eu tive a ideia, gastei 60 reais do meu bolso, comprei flores para as funcionárias dos Correios e reservei dois presentes pros meus filhos, comprei uma bicicleta, deixei lá em casa, um presente pequeno. Quando eu abri, mandei parar a música lá: “Calma aí, pessoal é o seguinte. A festa tá boa, mas o melhor de tudo é isso aqui, é a família, certo?” Porque eu amo família, sabe? Eu amo demais família. “E vocês não podem se esquecer desse momento que eu estou vivendo com vocês. E outra coisa, eu nunca mais vou me esquecer do sorriso de vocês, onde eu estiver eu sempre vou me lembrar de vocês. E eu quero desejar pra vocês só isso aqui”. Aí eu peguei o buquê de flores, fui reservando pra cada uma delas, né? (risos). Aí os funcionários se emocionaram, bateram palma. Foi uma surpresa muito gratificante sobre isso, né? Uma surpresa legal, sabe? Aí eu abri o presente, eu disse: “Vocês são campeões da vida”, como eu dizia pra eles, parecia que eu tava prevendo isso aí, a música, né? Eles se emocionaram, foi muito bom, sabe? Foi um Natal muito bacana que ficou para sempre isso aí. De vez em quando comentam sobre isso aí, sabe? Ficou marcante isso aí pra mim
P/1 – Regis, qual é o seu sonho hoje em dia?
R – O meu sonho agora? O meu sonho do passado e consegui, era uma casa própria pra sair do sufoco (risos). E agora o meu sonho, não sai da minha cabeça, eu gostaria que o gerente daqui dos Correios, da agência central, ficasse comigo, desse todo o apoio, não só financeiro, mas me compreendesse. O meu sonho é de levar um filho meu pra ser profissional, sabe? Atleta cidadão profissional. E levar também os meus filhos do futebol, que eles chamam de pai, né? O meu sonho é esse, realizar esse projeto para o Brasil inteiro conhecer esse projeto. Eu gostaria que o Golden Boys estivesse lá em São Paulo. Eu gostaria que o Golden Boys Futebol Clube estivesse lá no Rio de Janeiro, em Santa Catarina, tivesse em Belo Horizonte, enfim, em todo Brasil. E ano que vem estamos com um projeto de ir pra Recife. Estou juntando dinheirinho do meu bolso pra pagar o transporte, nós vamos bater lá, certo? Então nosso sonho é esse, de levar, crescer
P/1 – Crescer essa rede
R – E visitar os presidiários, que a gente faz, a visita aos presidiários aqui, no ‘mundo mágico’. Visitar os hospitais, hospital do câncer já fizemos isso. E é assim, o projeto é pra isso, sabe? Visitar até a casa do padre (risos). Visitar a do pastor também (risos), é assim. É muito bom, sabe? Eu fico feliz com isso, eu sinto que eu estou, certo?
P/1 – Regis. Poxa, em nome do Museu da Pessoa, em nome dos Correios, a gente queria agradecer muito a sua história. Obrigado por ter participado. Uma pena que a gente tem esse tempo curto, mas muito obrigado
R – Eu só quero agradecer a todos vocês, meu muito obrigado, vai ficar marcado. Muito obrigado mesmo. Que essa glória sirva pra vocês também, de exemplo, a superação da vida. Não é só o mundo do esporte, né? Porque o mundo do esporte, eu criei isso, mas com a fé em Deus nós vamos chegar lá, um esporte pra atingir, quem sabe, uma parte do Brasil. Quero agradecer a todos vocês, meu muito obrigado, muita saúde pra vocês
P/1 – Obrigado
R – Certo? E que Deus abençoe. Sucesso pra vocês também, conquistem a glória de vocês e que Deus abençoe aí, viu?
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