Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Gilberto Rodero
Entrevistado por: Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB015
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Por favor, diga o seu nome completo, local e data de nascimento....Continuar leitura
Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Gilberto Rodero
Entrevistado por: Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB015
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Por favor, diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Gilberto Rodero, data de nascimento 7 de outubro de 1951.
P1 – Onde?
R – Santa Maria do Gurupá, Municipio Promissão, São Paulo.
P1 – E o nome de seus pais?
R – Afonso Rodero e Guiomar Rodero Rodrigues.
P1 – O que eles faziam, qual era a profissão deles?
R – O meu pai era funcionário publico e minha mãe era do lar.
P1 – Agora me conta pulando a sua vida toda a partir que você chega aqui, como é que foi a sua chegada aqui?
R – Aqui?
P1 – É, pra trabalhar aqui, qual é o motivo que você veio.
R – Eu trabalhei na Cesp na Usina de Água Vermelha, aí no ano de 75 mais ou menos nos convidaram pra vir pra cá.
P1 – Fazendo o que?
R – Pra eu trabalhar com fotografia e no ano de 76 eu cheguei aqui.
P1 – E como é que foi a sua chegada, a sua entrada aqui. Veio de fora, veio pra trabalhar, como é que foi?
R – Porque vários amigos vieram pra cá, uma parte da chefia no inicio de Itaipú era da Cesp e nos convidou pra vim pra cá, trabalhar aqui e nós viemos.
P1 – Uma turma?
R – É, as vezes vinha em turma, mas normalmente como o inicio do pessoal aqui veio da Cesp e varias outras Usinas, veio de Furnas, aí eles nos convidavam pra vir na época uma parte da chefia aí eles nos convidavam e viemos pra cá.
P1 – Mas quais as suas primeiras impressões aqui que você achou quando você chegou?
R – A minha primeira impressão quando eu cheguei aqui que eu só ia encontrar mata, eu ia fazer sobre vôo só na mata e um rio no meio, mas já não era bem assim.
P1 – O que já tinha?
R – Já tava o inicio das escavações comum da barragem, já tava iniciando a escavação em rocha onde foi feito o canal de desvio, é isso quando eu cheguei aqui.
P1 – Você tava aqui quando explodiram aí, conta como é que foi?
R – Você diz assim quando fez abertura do canal de desvio?
P1 – Isso.
R – Sim, eu assisti tudo eu filmei de Jusante, eu fiquei dentro de uma casa mata há 150 metros daquele muro que explodiu, não sei se você chegou a ver um filme aí, nós tínhamos a imagem e ficou por aí pela Itaipú, não sei onde enfiaram aquela imagem.
P1 – Como é que era essa imagem?
R – Era uma imagem que quando implodiu levantou água e pedra e formou tipo um leque assim, pra fazer o desvio esse é a parte de Jusante aonde eu estava, mas aí muitos outros tavam filmando, tinha muita gente filmando o que eu estava era na parte aqui embaixo da Jusante em frente há 150 metros eles construíram uma casa mata e nos colocou ali.
P1 – O que é uma casa mata?
R – Casa mata foi assim uma proteção feita de blocos de concreto que não teria perigo, por uma janelinha eu fotografei e filmei no momento tinha um radio quando começou a contagem nove e tal, quando chegou no três eu liguei a filmadora e...
P1 – Como é que foi assim, aquela coisa espalhando, foi muito tempo ou foi rapidinho?
R – Olha, o tempo fica meio parado, né, eu acho que foi rápido, foi muito rápido.
P1 – E o povo, qual é a reação que o povo daí teve com esse barulho, com essa coisa?
R – A reação até própria Foz de Iguaçu, você sabe que teve gente que foi embora pra Cascavel nesse dia, Paraguai saiu daqui e teve gente que não ficou aqui na região de medo porque foi carregado 25 mil toneladas de dinamite ali. Inclusive aí no arquivo onde tem as fotos que eu deixei tem eles fazendo aquele carregamento, aquelas bananas de dinamite, eles rosqueavam uma na outra e desciam um furo de 6 polegadas, existe aí eu não sei com quem tá isso, se tá com o pessoal do Paraguai, depois que me mandaram embora eu não tomei mais conhecimento disso.
P1 – Quer dizer foi uma reação de medo.
R – Não, foi muito pouca gente. Bom, isso eu também ouvi falar, eu não vi ninguém, normalmente quem faz um pouco essa fofoca é a imprensa.
P1 – E você ficou com medo?
R – Eu não.
P1 – Nem de tá assim tão pertinho?
R - Naquele dia tava o Presidente, quem era o Figueiredo, parece o que acionou o aero gás.
P1 – Que ano era isso?
R – 82. Parece que foram eles que acionaram, implodiu a montante e coisa de segundos implodiu a jusante a água passou por dentro da barragem pela asadufa aí chegar em baixo numa ponte não sei se a senhora esteve lá, quando a outra implodiu a outra se encontrou ali pra não ter problema de impacto, eles achavam que ia dá um impacto violento, não fez nada disso.
P1 – Que outras coisas marcantes você se lembra? No cotidiano do seu trabalho, no dia a dia.
R – Quando desceu a primeira caçamba de concreto, talvez aí tem a foto que tem a placa escrito porque pra imprensa foi feito um dia, mas a real mesmo a imprensa não estava, a primeira caçamba de concreto.
P1 – Conta direito que eu não estou entendendo, a primeira caçamba...
R – Foi 30 de setembro...
P1 – Não importa o que aconteceu?
R – Quando desceu a primeira caçamba de concreto.
P1 – Pra dentro da onde?
R – Na estrutura da barragem.
P1 – Tá, o que aconteceu? A imprensa não estava.
R – Não, aí pra imprensa eles fizeram simulação em outro local, em outro dia.
P1 – Porque?
R – Aí foi dia 10, dia 11 de outubro me parece. Na primeira tava chovendo eu me lembro que nessa lista que tem, tem o Doutor Rubens Viana, né, eu me lembro que ele jogou uma moeda na hora de cair o concreto, que foi o General Costa Cavalcanti e o Deberna do Paraguai que acionaram a caçamba, ele jogou uma moeda em baixo aí tinha um alemão que trabalhava no setor de concreto, ele saiu correndo “Aqui tá caindo dinheiro” e catou quase que jogaram o concreto em cima dele.
P1 – Escuta, mas tremeu tudo, como foi essa história da dinamite.
R – Não tremeu muito.
P1 – Não foi uma coisa terrível?
R – A gente já tava acostumado que eles dinamitavam 6 horas da manhã, ao meio dia, 6 horas da tarde todo dia, isso era todo dia.
P1 – Todo dia? Então todo mundo já tava acostumado mesmo. Você tem mais alguma história engraçada, assim, exótica que tenha acontecido porque não é uma coisa comum, porque nós temos que terminar logo, se você tiver uma história vamos rápido.
R – Ah, se você me perguntar assim tem muita coisa que você se lembra.
P1 – Tem muitas?
R – Tem.
P1 – Agora me diz uma coisa, fora o caso de explosão e tudo tem alguma coisa mais assim interessante do cotidiano, mas teria que ser bem rapidinho.
R – Uma coisa que eu me lembro na época das explosões, o Ligeiro Monteiro pediu pra mim filmar uma explosão lá na Montante, aí eu sai correndo com a minha caminhonete, aí chegando lá o segurança não deixou eu entrar, a gente quase não conheci foi em 77, aí o segurança eu falei: “Pô, mas com quem que eu tenho que falar?”, quem tinha me mandado lá era um da Interpol que era o chefão “Você tem que falar com o Bispo”, “Vai a ...”, falar com o Bispo, aí eu xinguei o cara depois eu tive que voltar e pedir desculpa porque eu não sabia que o Bispo era chefe dele, o cara que era chefe dele chamava Bispo, aí ele pediu pra falar com o Bispo. O Bispo trabalhou com esse Zanella, que veio de manhã que lutou com o Maguila, eles trabalharam juntos.
P1 – Hoje você tá aposentado, você faz o que?
R – To aposentado e desempregado.
P1 – E o que você acha desse projeto de pegar memória de Itaipú através do relato dos funcionários.
R – Eu acho que é uma boa porque a maioria, tem varias pessoas que trabalharam desde o inicio aqui e tem muita gente ainda, os velhos tão meio loucos, né.
P1 – E o que você achou de dá esse depoimento?
R – Pra mim é uma história normal.
P1 – Muito obrigada pela entrevista.Recolher