Nasci em um bairro de São Paulo, minha infância foi toda lá. E desde a minha infância me recordo de reconhecer de longe uma pessoa que de certa forma virou um personagem em minha vida. Ele era vizinho, pai de um amigo dos meus irmãos. Ele era corredor, maratonista. Vivia correndo. Em muitos momentos de minha vida me deparei com ele correndo em minha frente, não importando o lugar que eu estava, sempre lugares inusitados. O tempo passou, ele virou um senhorzinho. Mesmo assim muitas vezes o vi correndo de dentro dos ônibus que já com minha vida adulta, me levavam para meu trabalho ou outro compromisso.
Não havia padrão, de manhã, de tarde, de noite, na chuva torrencial, céu azul, no calor, no frio, nas pontes sobre a marginal, em ruas comuns do próprio bairro, em ruas do centro de São Paulo. Eu sempre ria muito e pensava: meu Deus o que ele está fazendo correndo aqui? Eu continuei crescendo, a vida foi passando, me formei, me casei, tive um filho e me mudei para uma cidade do interior. Estava eu, um dia, seguindo para levar meu filho ao colégio, olho para o lado e lá está esse senhor, a correr, inacreditavelmente na mesma cidade em que fui morar. Liguei pra minha mãe na hora acreditando estar alucinando e descobri, rindo muito, que a filha desse senhor havia se mudado para a mesma cidade e provavelmente ele havia ido visitá-la. Ufa! não havia enlouquecido. Na volta, eu o avistei novamente e resolvi cumprimentá-lo, ele devolveu o aceno, não me reconheceu, obviamente e nunca saberá que em minha vida ele virou um personagem nessa minha história.