Eu sou Geraldo de Oliveira Costa Junior. Minha família sempre foi uma família, não vou dizer rica, mas bem sucedida. Sou da Vila Madalena, estudava no Machado de Assis, que era um dos melhores colégios que tinha em Pinheiros, e meu pai era diretor de um laboratório – ele era dentista, mas...Continuar leitura
Eu sou Geraldo de Oliveira Costa Junior. Minha família sempre foi uma família, não vou dizer rica, mas bem sucedida. Sou da Vila Madalena, estudava no Machado de Assis, que era um dos melhores colégios que tinha em Pinheiros, e meu pai era diretor de um laboratório – ele era dentista, mas começou a ter problema de tremor e teve que parar cedo a profissão dele – que tinha em Pinheiros e que se chamava Laboratório Pinheiros, era na Fradique Coutinho com a Teodoro Sampaio.
Eu sempre estudei em escolas boas e eu era um péssimo moleque, na minha infância eu realmente apanhava com um chicote que tinha em casa e que eles falavam que era rabo de tatu. Eu apanhava direto, só fazia besteira. Tudo que você imaginar de ruim de moleque era eu. E eu estudava nesse colégio Machado de Assis, lá tinha um quadro de honra das melhores notas dos alunos. Eu era o pior que se pudesse imaginar de tranqueira, mas meu nome não saía dali, meu nome estava sempre entre os cinco primeiros. O ano todo passava e estava lá meu nome. E eles não se conformavam: “Gozado, esse cara só faz besteira, briga, faz estrago e o nome dele lá”. Eles não conseguiam me expulsar por causa disso, porque a ideia era expulsar.
Aí aconteceu: “Vamos matar aula?” Reuni uma turma grande e eu sempre que comandava. “Vamos lá na azulzinha!”, onde é a raia hoje, ali era uma lagoa que chamava Azulzinha. Tinha a Salgadinha e a Azulzinha. A gente estava do outro lado do rio, tinha que passar aquela ponte de dois canos, tem as pontes lá ainda, mas não sei se ainda passa gente. Imagina atravessar aquele rio de gatinho por cima da ponte?! A maioria passava de gatinho e só um passava por cima do arco, aquele não tinha medo.
E um infeliz falou lá na escola: “Olha, eles se reuniram, mataram aula e foram tudo pra lagoa lá na Azulzinha”. Aí o diretor: “Você tá brincando! Vão morrer afogado!”. Lá já tinha vários casos de afogamento. Aí chamou o servente que tinha antigamente e disse: “Vamos atrás deles lá!” Deram uma volta tremenda para chegar lá e quando chegaram estava todo mundo dentro d’água, mas nadando pelado. Tiramos o uniforme e deixamos tudo ali. Você imagina uns dez moleques nadando dentro d’água tudo pelado?! Eles iam dar uma dura mas disseram: “Não, vamos fazer uma coisa melhor!” Aí foi até cômico, aquele uniforme que nós usávamos era marrom com a calça cinza, era muito bonito, mas eles pegaram todas as roupas e nós não vimos, isso que é o pior. Dizíamos: “Ainda não deu a hora! Vamos esperar mais um pouco!” Então o primeiro que saiu falou: “Roubaram as roupas”. De todo mundo, nossa! Então decidimos: “Vamos esperar escurecer para a gente poder ir embora”. Ali tinha muita mamona
e tinha umas folhas grandes. Eu falei: “Nós vamos de tanga! Todo mundo de mamona!”
Eu morava numa rua chamava Ferreira de Araujo e ela era próxima de onde eu estava, mas eu pensava: “Como eu vou chegar em casa? Eu vou ter que passar nessa avenida cheia de gente chegando do trabalho.” E nós com aquelas mamonas, tirando uns fios como se fossem linhas para ir amarrando tudo e parecia uma saia de mamona. E eu falei “Puxa, eu vou entrar em casa desse jeito, como?” Mas já estavam sabendo em casa, já tinham avisado os pais, meu pai já estava esperando. Aí foi o que aconteceu... eu levei um belo de um cacete e meu pai me batia no meio da rua, começou a bater lá fora. Aí que eu fui sem mamona mesmo pra dentro de casa, apanhei pra burro. Imagina como foi pra voltar pra escola depois, a cara de pau... Eu e o resto também. Foi a coisa que eu não esqueço até hoje. Até tinha um jornalzinho lá e eles fizeram questão de por a cara de todo mundo: “Os malandros da escola: se vocês vão voltar novamente para a lagoa ou não vão...”Recolher