Projeto: Instituto Ethos
Depoimento de Mariana Pereira Martins
Entrevistado por Claudia Fonseca
São Paulo, 29/05/2008
Realização: Instituto Museu da Pessoa
ETHOS_CB015_Mariana Pereira Martins
Transcrito por Ana Lúcia V. Queiroz
Revisado por Raquel de Lima
P/1 – Pra começar, queria que você...Continuar leitura
Projeto: Instituto Ethos
Depoimento de Mariana Pereira Martins
Entrevistado por Claudia Fonseca
São Paulo, 29/05/2008
Realização: Instituto Museu da Pessoa
ETHOS_CB015_Mariana Pereira Martins
Transcrito por Ana Lúcia V. Queiroz
Revisado por Raquel de Lima
P/1 – Pra começar, queria que você dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Mariana Pereira Martins. Sou de São Luís do Maranhão e nasci no dia 22 de outubro de 1984. Tenho 24 anos.
P/1 – Você mora em São Luís?
R – Sim, moro em São Luís.
P/1 – Qual a sua atividade atualmente?
R – Sou formada em Publicidade, porém já trabalho há cinco anos no serviço público. Comecei numa fundação de cultura, com a programação de agentes culturais. São Luís tem muitos. Fui capturada pela Secretaria de Planejamento, exatamente pra começar um trabalho com o Fórum de Desenvolvimento Sustentável de São Luís. Comecei na feira da cidade, um evento que promove o artesanato: a disseminação, a produção local de artesanato e a venda nesta feira. Com a saída da secretária executiva anterior do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, eu assumi o cargo a convite do doutor Milton, que na época era o secretário adjunto, e da doutora Tati, que é secretária até hoje. Fico encantada com aquilo que faço, até agora e sempre, que é publicitar, incentivar as boas práticas em prol do desenvolvimento sustentável.
P/1 – Conta pra gente sobre o Fórum, pra gente ficar tão encantada quanto você.
R – Eu gosto muito. O Fórum nasceu em 2006, quando houve a primeira reunião plenária. Mas para que ele pudesse nascer para a sociedade civil, houve primeiro reuniões internas com o nosso secretariado municipal. Nessas reuniões, a gente decidiu o foco do Fórum, que seria tecnológico, social, cultural, controle social, ambiental, captação de recursos e econômico. São sete áreas de atuação, exatamente as sete cores que tem na nossa logomarca, que é uma estrelinha. Na verdade, são pessoas de mãos dadas em prol do desenvolvimento sustentável. Passada a reunião interna, surgiu a reunião com a sociedade civil, onde nós tivemos parceiros como o Banco do Brasil e a Companhia Vale do Rio Doce. Nós fizemos no auditório de uma faculdade particular chamada Fama, com a presença de cerca de 600 pessoas. Foi uma presença extremamente significativa, conseguimos nesse dia decretar que o Fórum seria permanente, não só um evento, mas uma quantidade de ações que viriam dessa discussão. Aí, começamos a elaborar o próximo Fórum que seria em 2007. Nesse meio tempo, fizemos em parceria com o Banco Mundial um encontro voltado ao desenvolvimento local, específico pra economia de São Luís, quando foi divulgado o relatório do business. São Luís apareceu como a quinta cidade para realização de negócios, além de outras posições que nós galgamos por um trabalho comprometido com as pessoas. Essa é a realidade, o nosso público-alvo são as pessoas. É aquilo que a sociedade está querendo e aquilo que a gente pode fazer para ela. Tenho muito orgulho de trabalhar na prefeitura, muito orgulho de trabalhar com quem e com o que eu trabalho.
P/1 – Como você conheceu o Instituto Ethos?
R – O Ethos foi uma surpresa para mim. Eu pesquiso muito, principalmente via Internet, o que está acontecendo fora do meu mundo, fora da minha ilha, fora de São Luís. E nessas pesquisas eu descobri não só o Ethos como o (______) São Paulo. Eu acho que o (______) São Paulo anda desenvolvendo exatamente aquilo que nós estamos encaminhando. É o mesmo caminho, o mesmo sentido na questão de mobilização social, na busca por melhorias públicas e naquilo que o governo pode fazer e não enxerga, não está fazendo. Às vezes porque não quer, mas no nosso caso, porque não sabia que era esse o caminho. Então, andar de mãos dadas com a população é o nosso sentido de ser na prefeitura de São Luís. Tanto que a nossa logomarca é Compromisso e Ação. A gente se compromete e age em prol da população. Nas minhas buscas no computador, descobri essa conferência e comecei a ler sobre o Ethos. Acho que o que o Ethos anda fazendo desde 1998, se não me engano sobre o ano, é exatamente essa mobilização não só populacional, mas principalmente voltada aos empresários, que são realmente a força maior. Porque o governo tem uma série de empecilhos, uma série de burocracias. Eu acho que se o governo se desburocratizasse, poderia enxergar melhor o povo, poderia conseguir realmente atingir aquilo que nós precisamos como população. Eu acho que se sentam numa sala uma série de pessoas e quatro mentes brilhantes vão decidir o que o mundo tá precisando. Quatro mentes brilhantes que têm carro importado, quatro mentes brilhantes que têm filho estudando em escola particular, quatro mentes brilhantes que têm seu carro blindado, o seu cargo que paga muito bem. Não é isso, tem que perguntar pro povo que não tem o que comer. Tem que perguntar pra quem não tem onde dormir, pra quem não tem trabalho. Pra quem acorda todo dia e olha para sua filha à beira de se prostituir e até mesmo que usa drogas e que não sabe como tirar a filha dali, não tem assistência pra ela. Mas, querendo ser clara, eu sou contra o assistencialismo. Acho que não é esse o caminho, acho que o caminho é capacitar as pessoas. Mostrar pra elas o quanto elas são maravilhosas, o quanto elas mudam o mundo. Eu acho que precisa resgatar a autoestima do povo, porque com autoestima ele tem a força de vontade para buscar outros meios, para buscar outra vida. Aí sim, entrariam os programas do governo, seja o Bolsa Família, que não é muito minha área. Não sou contra, mas não sou favorável a essa realidade.
P/1 – E como você vê as empresas? Você não sente que elas estão cada dia mais participando, tirando esse primeiro setor que é o governo? Você não vê que as empresas estão cada vez mais assumindo isso? Não sei como é em São Luís, talvez fosse legal você contar.
R – Eu vejo de três maneiras: a primeira é que existem as empresas que estão se comprometendo porque está virando moda, o que pra gente é bom, porque uma hora elas vão enxergar o que estão fazendo. Em segundo, as empresas que realmente têm a clareza do que estão fazendo. É aquela pergunta: o que eu quero pro meu amanhã? O que eu quero pros meus filhos? Elas fazem essa pergunta hoje em dia. E, em terceiro, empresas que são poluidoras e de alguma maneira têm que contrabalançar. Bem, é o que eu vejo, o que acontece em São Luís. Vou dar exemplo de parceiras nossas como a companhia Vale do Rio Doce, que hoje é Vale, a Alcoa, que se transforma em (_______) que é um consórcio em São Luís. Quando elas se instalaram em São Luís, tiveram uma série de barreiras da população. Primeiro de pessoas informadas demais e desinformadas demais. Desinformadas no sentido de não entender e achar que aquela megaestrutura estava sendo construída e que só ia poluir, poluir, poluir. Nós não somos cegos, sabemos que existe a poluição em todas as áreas: o seu carro polui e você como pessoa polui o meio ambiente. Porém, eu acho que quando ela faz um balanço, quando ela constrói como é o caso da Alumar [Consórcio de Alumínio do Maranhão] e tem um bosque imenso lá, quando ela faz a neutralização de carbono (ela tá apoiando o Fórum que eu trabalho nessa questão de neutralização de carbono em São Luís), quando ela incentiva programas que são programas verdes, programas que atuam na vida das pessoas, quando ela faz promoção de capacitação local e quando ela pega mão de obra local, acho que isso já é um grande ganho. Toda empresa polui, toda empresa tem que ser “sim, eu poluo, mas não vou mais poluir tanto. Eu quero mudar”. Ou então: “Eu quero ajudar o meio ambiente onde estou instalada.” É o caso dessas empresas lá em São Luís, da Vale e da Alumar. Então, quando se cria essa consciência e, principalmente, quando se cria a consciência e se dissemina essa consciência, isso faz com que realmente o mundo mude, o mundo vire. Porque o mundo são pessoas. A gente tá aqui, esta é a nossa casa, então a gente tem que se importar. E aí elas vão incentivando empresas de médio e pequeno porte. Porque elas começam a pensar: “Poxa, essa empresa tão grande está fazendo. Por que ela faz?” Incentiva. Já existem lá em São Luís institutos como o ICE [Instituto de Cidadania Empresarial] e o próprio Fórum que acabam chegando a essas empresas. Chega aos presidentes e diretores, a ideia principal, “eu não estou gastando à toa, eu não estou investindo numa coisa, como no caso da prefeitura, ah, eu estou investindo pro prefeito aparecer”. Não é essa a nossa política... É incentivar, pra que você empresário, pra que você empresa, ainda tenham como ganhar no futuro. Porque se você destruir, e aí? Do que você vai viver se não vão mais existir pessoas, não vai mais existir um bom ar. Não vai existir uma boa água pra você beber, um bom solo pra você plantar. A gente está acompanhando as intempéries climáticas no mundo todo, isso é culpa nossa. A gente tem essa consciência. Não é Deus que está mandando. “Ah, isso é uma providência divina.” Até poderia: castigo pelo que a gente poluiu.
P/1 – Como você vê os desafios do Instituto Ethos para os próximos dez anos?
R – Grandes, muito grandes. Eu vejo assim porque comparo com o que faço. Principalmente, eu acho que ele deu o pontapé inicial, já tem dez anos. Parabéns Ethos, parabéns mesmo. Por incentivar, por mostrar para que as pessoas entendam. Por se fazer entendível para o empresariado. Quando se faz entendido para a empresa, já se lê os funcionários dela. Esses funcionários já estão disseminando em casa. “Agora, com esse boom, eu tenho que salvar o mundo.” O Ethos está funcionando: “Eu já tô fazendo isso há dez anos. Eu já estou salvando o mundo. Que bom que agora você também quer salvar comigo.” Então, eu acho que agora são mãos dadas. Eu acho que é o princípio. É a troca de experiências, é o aprender, é o trazer as pessoas como eu, que estou vindo lá do Nordeste, de uma ilha lá de cima, mas que está vindo aqui pra aprender, pra ver aquilo que ele está fazendo. Pra eu levar essa perspectiva boa das lições aprendidas. Não cometer os mesmos erros. Porque a gente sempre comete erros nesse caminho. Mas o Ethos, eu vejo que está acertando tanto. Ele tá trazendo tão próxima uma discussão tão salutar: “Vamos criar consciência. O que você está fazendo, o que você pode fazer para melhorar?” Então, é isso que o Ethos proporciona. É essa ponte que liga grandes empresas à população. Ou melhor, que liga grandes empresas ao mundo em que elas estão vivendo. Eles estão trazendo essas empresas pra realidade. E trazendo as pessoas que formam essas empresas pra realidade. Com isso, incentivando e melhorando o mundo. Não só aqui em São Paulo, mas em todo o Brasil. E aí, no mundo, como ouvi de vários palestrantes aqui... Eu fiquei tão contente de escutar o que já está sendo feito lá fora. E como a gente aqui no Brasil, que tem uma imensa floresta, ainda tem, pra salvar, como a gente está tão evoluído! E lá, em dez anos, eles não conseguiram um terço do que o Ethos conseguiu aqui. E eu, com três aninhos lá no Fórum, já consegui tanta coisa também. Acho que é força de trabalho. Acho que o Ethos é vontade. O Ethos é fazer acontecer. É mostrar que acontece. Eu entendo o Ethos assim.
P/1 – O que você acha dessa iniciativa do Ethos de estar ouvindo as pessoas durante a conferência?
R – Perfeito. Eu acho que é retorno. É como se você fizesse algum bem pro mundo. Você só olha... Quando a pessoa fala, o Ethos tem a real noção: “Poxa, como eu tô mudando a vida dessas pessoas. Como eu estou mudando a vida de São Luís.” Ethos, você está mudando a vida de São Luís! Eu vou levar um monte de coisas que eu aprendi aqui. Eu acho que é o retorno do trabalho. Essa é a verdade: é o resultado. Ele vê o resultado das ações dele. Tudo bem, mas agora ele está escutando e vendo como pode mudar. Que o resultado dele não é uma ilha. É um arquipélago de pequenas ilhas que ele está ajudando a transformar.
P/1 – Muito obrigada, Mariana.Recolher