No São João, os festejos sempre eram gloriosos, comemorava-se o dia dos três santos, Santo Antônio, São João e São Pedro.
Nem sempre as fogueiras se davam na Laranjeira Velha, meu lar, havia uma rotatividade entre os vizinhos. Todos queriam ceder seus terreiros ao menos uma vez no ano, para ...Continuar leitura
No São João, os festejos sempre eram gloriosos, comemorava-se o dia dos três santos, Santo Antônio, São João e São Pedro.
Nem sempre as fogueiras se davam na Laranjeira Velha, meu lar, havia uma rotatividade entre os vizinhos. Todos queriam ceder seus terreiros ao menos uma vez no ano, para que fossem realizadas as tais comemorações.
Todo mundo participava de alguma forma, já logo cedo, os homens encarregavam-se da armação da gigantesca fogueira milimetricamente alinhada, parecia mais, uma obra de perfeita engenharia.
As moças, encarregavam-se de esticar as bandeirolas coloridas, presas à longos cordões que traziam pendurados também, muitos balõezinhos coloridos.
Todos os cordões abraçavam os galhos de árvores mais altos, que houvessem no terreiro, às vezes, agarravam-se aos mastros de sustentação do telhado da varanda. Ficavam ali, bem esticadinhos, tinindo de tanta cor e reluzindo a folia.
Muitas mulheres na cozinha cuidavam das iguarias, algumas ralavam o milho para fazer a canjica, outras o punham a cozer em grandes panelões de alumínio, sobre a chapa do fogão de lenha, mais adiante as pamonhas eram embaladas nas palhas.
Durante todo o dia entrava e saia gente com bolo de milho na mão, amendoim torrado, paçoca de pilão, amendoim cozido com casca, arroz doce com leite de coco e cravo da Índia, cocada de todo o tipo, doce de abóbora com coco queimado...
As mesas postas no terreiro, traziam toalhas de renda, trabalhadas com primor, algumas tinham até motivos juninos, feitas especialmente para a ocasião.
Decoradas ricamente com louças que fora herança de um ente querido e agora cheias de delícias sobre si, enfeitavam a festa junina.
O pau de sebo deixava a molecada enlouquecida!
Tratava-se de um mastro com uns dois metros de altura, besuntado de gordura de sebo, para que deslizasse absurdamente, impedindo assim, que os candidatos conseguissem alcançar a
sua extremidade e retirasse de lá algum prêmio, ofertado pelo dono da casa, para animar ainda mais a brincadeira. O quebra pote era a diversão mais esperada por todos, até as crianças podiam participar, um pano vendava os olhos do sujeito e faziam-lhe dar três voltas em círculo, tornando ainda mais engraçado o evento, davam-lhe também uma vara fina e comprida, pois batendo-a no pote com toda força, este, também pendurado numa estaca muito alta e recheada de doces e lembranças, espedaçava-se, deixando cair as surpresas que satisfaziam a imaginação.
Os homens traziam a cachaça, podia-se sentir o perfume da mais pura cana de açucar ao serem destampadas as garrafas, repletas do aguardente. O licor de Genipapo nunca faltava em nenhum dos festejos, era o carro chefe das bebericações, cheiro delicioso!
Aguçava meu olfato, fragrância de fruta doce desconhecida que trago até hoje na memória.
À boca da noite, todos iam chegando com seus melhores trajes de festa e maiores sorrisos de alegria.
Ninguém vinha vestido de caipira, este rótulo, não existia. Caipira era não saber apreciar os momentos de verdadeira amizade, confraternização e gratidão por toda riqueza singela e necessária, com a qual a vida lhes presenteava todos os anos de suas vidas.
Alguém dedilhava na sanfona uma música de São João, dizia que com a filha dele, Antônio ia se casar, mas o tal do Pedro, fugiu com a noiva na hora de ir para o altar. Mesmo com o ocorrido tão triste, todos se ajuntavam aos seus pares e dançavam até o sol raiar.
As crianças só adormeciam quando eram vencidas pelo sono insistente, eu também, exausta, vencida, com as pálpebras dos olhos encerrando o dia, adormecia ouvindo lá longe...
Viva Santo Antônio! viva São João! viva São Pedro!Recolher