P/1 – Ana, boa tarde, gostaria de agradecer a sua presença pra conceder um depoimento pra gente, então eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você me dê o seu nome completo, o local e a data de nascimento, por favor, Ana.
R – Meu nome completo é Ana Lúcia da Silva, eu nasci em 2...Continuar leitura
P/1 – Ana, boa tarde, gostaria de agradecer a sua presença pra conceder um depoimento pra gente, então eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você me dê o seu nome completo, o local e a data de nascimento, por favor, Ana.
R – Meu nome completo é Ana Lúcia da Silva, eu nasci em 22 de janeiro de 1986 e mais o quê?
P/1 – Aonde que você nasceu, que bairro que você nasceu.
R – Eu nasci numa maternidade em Madureira, mas sempre vivi em São João de Meriti, aonde vivo até hoje.
P/1 – Sobre apelido, todo mundo te chama de Pérola como é que surgiu esse apelido, quando?
R – Ah, eu trabalhava na prefeitura, dentro da prefeitura como gari, aí resolveram, não sei quem, como me acharam, quiseram fazer uma reportagem pro jornal e tal e aí o rapaz colocou: “Pérola”, ele primeiro me perguntou: “Qual o seu apelido?” e aí eu falei vários, inúmeros, um monte, aí ele falou assim: “Pô, isso tudo, então ta, tudo bem”, só que na hora ele não colocou nenhum que eu falei, ele colocou: “Pérola no lixo”, aí eu: “Pô, Pérola no lixo? Não gostei de ele botou ‘no lixo’, mas tudo bem ele botou, fazer o quê?”, mas a reportagem ficou linda, beleza, dali por diante as pessoas me chamavam: “Você que é a Pérola que apareceu no jornal?” “Ah, sou eu” e como é que eu vou falar que não, é, eu que sou a Pérola, me perguntaram: “Qual é o seu nome?” “Ana” “Ah, você é a Pérola”, aí ficou Ana Pérola, foi ficando e as pessoas me chama de Ana Pérola até hoje, se eu falar que eu não a Ana Pérola, elas: “Não, é ela sim”, ta bom, não tem como, não tem como .
P/1 – O nome dos teus pais, por favor, Ana.
R – Maria Aparecida da Silva e eu não, eu tenho pai, só que eu nunca, não moro com o meu pai, nunca morei com o meu pai, ele também não me registrou.
P/1 – Seus avós, você conhece um pouquinho a história dos teus avós maternos, sabe de onde eles vieram?
R – Ah, eu sei, eu sei que eles eram primos, antigamente os primos tudo casavam minha avó ficou morando, morava em Minas e meu avô já tava no Rio, aí o meu avô tinha que esperar a minha avó ter a primeira menstruação, essas coisas, pra depois casar aí ficou morando um lá, o outro cá, esperando a minha avó ficar pronta, aí quando a minha avó ficou pronta, com 16 anos ela veio pro Rio, aí sim foi ficar com o meu avô e enfim aí estamos todos aqui.
P/1 – E você conhece um pouquinho, assim, que bairro que eles moravam, que bairro que a sua mãe nasceu, você conhece essa história?
R – Volta Redonda, se eu não me engano eles moravam em Volta Redonda, aí depois que compraram lá, meu avô que fez a casa, que a casa eles faziam antigamente com um pouco de barro eles não, eles misturavam barro com a massa, ficava uma misturada, minha casa é daquele jeitinho até hoje, é do mesmo jeito, ai meu Deus .
P/1 – Sua mãe tem irmãos, teus tios?
R – Ai, eu não sei quantos, sei que o meu avô teve muito filho, é porque morreram alguns não sei se foi 18 ou 17, mas morreram bastante e aí ficou não sei quantos agora, ai meu Deus, ficou um montão lá agora .
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão.
P/1 – Como é o nome dele?
R – Wesley, Wesley da Silva.
P/1 – Fala um pouquinho da sua mãe, ela trabalhava fora, como é que era a vida de vocês quando você era pequena?
R – A minha mãe sempre trabalhou muito ela sempre trabalhou bastante e a minha mãe, ela é cabeleireira, aí ela fazia o cabelo, assim, ela fazia o cabelo, o dinheiro do cabelo de hoje já era o dinheiro pra comprar alguma coisa pra casa, entendeu, era pro dia, o dinheiro do dia, entendeu, o dinheiro que era pra comprar macarrão, a gente nunca passou fome porque minha mãe nunca deixou, coisa, nunca deixou a peteca cair, sempre trabalhando, o dia que não: “Ah, hoje ta ruim”, aparecia alguma coisa, vinha a luz , que Deus é muito bom então a gente sempre acreditou muito em Deus, então é assim, quando você acha que as coisas não vão, opa, a luz vem e aparece um cabelo, um cortezinho rapidinho, é uma tintura, é um alisamento e quando vê, opa, tem tudo o que vocês precisam, é assim que funciona.
P/1 – Ela trabalhava em casa?
R – Trabalhava em casa pra poder ficar com a gente que ela optou por ter dois filhos ela sempre quis, minha mãe perdeu acho que quatro, três ou quatro filhos minha mãe perdeu, minha mãe sempre quis mesmo a gente com muita força, eu nasci de seis meses, então todas as pessoas me olhavam e falavam assim: “Esse bichinho aí não vai vingar não” , porque de seis meses é muito mirradinha e to aqui fazer o que ,
P/1 – Você por acaso tem memória de você pequena e a tua mãe e as mulheres que iam na tua casa cortar cabelo?
R – Não tenho porque eu era muito, muito miudinha, muito miudinha, aí depois a minha mãe se mudou pra casa da minha avó, aí a gente ficou morando lá na casa da grande família.
P/1 – Em São João de Meriti?
R – É, a mesma rua, só que quando a gente morava lá em baixo era eu, minha mãe e meu irmão e quando a gente foi morar na casa da minha avó ficou eu, minha avó, meu avô, meu irmão, minha mãe, um tio, outro tio, enfim, todo mundo.
P/1 – Fala um pouquinho dessa tua infância lá, como é que era a brincadeira?
R – Eu era a única menina e eu, a gente pulava muro, essas coisas , era um molequinho porque um monte de menino, meus primos eram tudo menino e eu a única menininha, ah, eu fazia, eu brincava com eles, então toda a brincadeira de menino eu brincava não tinha jeito, por mais que tinha meninas, assim, na vizinhança, o mais próximo eram os meus primos, então, ah, eles pulavam o muro, eu pulava também, subia na árvore, eu subia também, uma vez o meu primo ficou brincando de boxe, lá vou eu também, no outro dia com o braço acabado, mas tava eu, então não tem como é a vivência, todo mundo menino, eu fiquei um homenzinho .
P/1 – Mas em casa como é que era, por exemplo, domingo era dia de todo mundo se reunir, tinha almoço junto, tinha alguma festa que era mais comemorada, festa junina, natal, como é que é isso aniversário?
R – Não, até hoje, até hoje a gente ta sempre junto, teve o dia dos pais agora há pouco tempo e a gente todo mundo junto, a família toda, os tios de longe, vem todo mundo, que ali é a casa que era da avó, da minha avó então era a casa que era da mãe deles, então é a casa onde todo mundo se reúne, é dia dos pais, todo mundo vai pra casa que era da minha avó, que agora é nossa minha, da minha mãe e do meu irmão, aí lá é que é o centro.
P/1 – Mas como é que é um dia dos pais lá na sua casa, o que se como, o que se canta, o que se dança?
R –
A gente não bota muita música não, a gente fica conversando porque a minha família é muito engraçada, então a gente contando as histórias, as nossas histórias já é o suficiente, a gente já fica super feliz, as nossas histórias são muito incríveis, né: “E aquele dia que fulano caiu, e aquele dia que não sei o quê”, é ótimo, não tem bebidas alcoólicas, mas tem um refrigerante, tem bastante comida e come muito a gente come a beça .
P/1 – O que vocês comem, quem cozinha?
R – Ah, minha tia gosta muito de cozinhar, ai ai, ela que me levou pro samba, nossa, ela gosta de cozinhar pra caramba, domingo se você não comer a comida dela acabou, tem que comer a comida da tia Iara, se não comer ela fica louca.
P/1 – Mas o que a tia Iara faz melhor, o que você acha que a tia Iara faz melhor?
R – Ela faz salpicão.
P/1 – É a comida predileta da turma da tia Iara?
R – É, pelo menos minha, do meu irmão, é, dos meus primos, é.
P/1 – A gente vai falar depois, mas, quer dizer, é essa tia que você diz que te levou pro samba, é isso, quantos anos você tinha quando você foi pro samba?
R – Ah, eu não me lembro certo não, seis, sete, só que não podia desfilar, mas eu ia nos ensaios, não, na hora não deu pra desfilar, mas eu ia em todos os ensaios, fiquei muito triste porque não hora não pude, acho que por conta da idade, aí não podia.
P/1 – Que escola?
R – Era Unidos da Ponte, que é na Pavuna, que era na Pavuna, perto do valão da Pavuna, aí minha tia me levava lá pro Unidos da Ponte, era ótimo, eu lembro, tava até falando da Marrom, eu me lembro mais ou menos da música.
P/1 – Canta um pouquinho.
R – Deixa eu lembrar: “Canta, Marrom, mostra ao mundo inteiro quem tu és, quem tu és, porque hoje a minha Ponte, colorida e deslumbrante, arrasta essa avenida nos meu pés e viva meu São Luís, bumba meu boi vai dançar” .
P/1 – Uma homenagem ao Maranhão.
R – É, foi, é super bonito só que eu lembro da música até hoje, quando você é pequenininha tem coisas que entram e não sai mais.
P/1 – Ana, uma pergunta, a gente aprende a sambar como?
R – Não sei , como aprende a sambar?
P/1 – Você aprendeu, você ia aos ensaios, você tinha alguém que você considera o seu professor, você aprendia só de olhar os passos, como é que era?
R – Eu acho que quando você gosta muito de uma coisa, você vê alguém fazendo, você acha muito bonito, assim, acaba tentando fazer aquilo de qualquer forma e você consegue, tudo que você quer muito você consegue, eu acho, é uma coisa, é uma verdade que eu tenho pra mim, pra minha vida, que é uma verdade que dá muito certo pra mim, tudo que você quer muito, que você deseja muito, do fundo da sua alma, você consegue e era uma coisa que me encantava o povo sambando pra caramba, eu falei: “Isso aí é meu, eu tenho que fazer esse negócio também” e consegui.
P/1 – A tua tia sambava?
R – Minha tia sambava, mas ela não sambava muito não, ela ia mais pra me levar, ela ia, ficava lá com os amigos conversando, ela até dava uma sambadinha, mas ela não sambava muito não, eu que ficava lá o tempo todo sambando igual uma louca, até hoje se soltar o pé numa bateria acabou, ta ti cá tá, acabou.
P/1 – O que a gente sente perto de uma bateria?
R – Ah, muito gostoso a bateria, quando a bateria toca parece que mexe com o seu interior e você, eu, pelo menos, não consigo ver mais ninguém na minha frente, ta tocando a bateria eu fico, às vezes eu fico horas sambando e não me dou conta que eu to muito tempo sambando porque não tem, não existe um cansaço físico, quando você faz uma coisa por obrigação você sente o cansaço físico você fica: “Ai, não aguento mais”, só que quando é uma coisa que você faz com prazer porque você gosta, acabou, você fica cinco horas sambando, vai ta lá, ta ti cá ta, acabou .
P/1 – E como é que foi um pouco essa, a gente depois vai voltar à sua infância, mas como é que foi essa tua trajetória no samba, quer dizer, você começava indo de curtição com a sua tia.
R – Eu ia com a minha tia.
P/1 – Pois é, mas como é que começou a profissionalizar, a gente pode dizer que você é uma profissional do samba hoje?
R – Hoje sim.
P/1 – Então só conta um pouco essa tua trajetória pra gente voltar.
R – Então, eu comecei com a minha tia e tal, aí não consegui desfilar e minha tia também não pôde mais me levar, enfim, aí foi passando, eu fiquei algum tempo sem ir porque eu era muito criança, tinha que ir com alguém, aí comecei a pedir pra minha mãe me levar, daí a minha mãe começou a me levar, aí eu fui, comecei a ir, comecei a pescar mais como as mulatas faziam e pronto, cada dia que passava eu tava ficando melhor no negócio
e aí hoje eu me considero uma profissional do samba porque eu faço o samba por amor, porque eu gosto, mas também eu faço shows, faço eventos, entendeu e eu e é muito gostoso é muito bom.
P/1 – Qual é a sua escola?
R – Eu to na Mocidade e no Império, mas de coração eu sou Império, imperiano de fé.
P/1 – Como é que chama?
R – Imperiano.
P/1 – Imperiano de fé, e é em Madureira?
R – É.
P/1 – Olha só e você desfila todo ano, você é passista da escola, hoje como é que é?
R – Eu, hoje eu to na Mocidade como passista e como coordenadora de ala no Império Serrano.
P/1 – Qual é a função de uma coordenadora de ala?
R – Ela que organiza toda a ala de passista tudo o que for da ala de passista ela que organiza, ah, se eu preciso de cinco passistas pra ficar aqui na feijoada, pra se apresentar na feijoada da escola, tem que ta todo mundo com a roupinha bonitinha, tem que ta todo mundo no horário: “Fulano não chegou ainda? Não, eu falei pra você chegar tal hora”, maior responsabilidade.
P/1 – Mas quais são, assim, os, o que uma passista tem que ter, quer dizer, o que ela precisa para ser considerada uma boa passista?
R – Ela primeiro tem que saber sambar bem, tem que saber sambar legal, sabe sambar, ótimo, tem que ter um corpo legal, não precisa ter um corpo enorme, tem que ter um corpo legalzinho, não pode ter um barrigão, tem que ter o corpo direitinho e ter leveza nos movimentos, demonstrar simpatia, mostrar alegria, mostrar, fazer com que as pessoas que olhem pra ela vejam o que a escola pode oferecer, que é a simpatia, a alegria, entendeu, é uma coisa boa, você tem que passar uma coisa boa, uma coisa gostosa pra que as pessoas vejam isso, você ta representando uma escola, entendeu, você ta representando uma escola, então você tem que passar o que a escola ta querendo representar ali, eu to representando uma escola, então eu sou uma pessoa feliz, eu sou uma pessoa alegre, eu sou uma pessoa que to de bem com a vida, eu passo essa coisa boa que é o samba e um samba gostoso, puro, que hoje em dia ta um pouco difícil de mostrar essa coisa bonita do samba, que é o samba no pé, a alegria, só, sem querer nada em troca, a gente ta aqui sambando porque a gente quer ser feliz, porque o samba tem muito isso parece que é todo mundo uma irmandade, sabe, e as pessoas só querem mostrar que a gente é feliz e acabou, a gente samba e acabou, pronto.
P/1 – mas o que você acha que mudou no samba?
R – É porque algumas pessoas querem tirar outros proveitos do samba, infelizmente, o samba é muito mais que, igual algumas pessoas: “Ah, quero ser rainha da bateria, então eu vou dar não sei quantos milhões pra ser rainha da bateria”, você ta fazendo por que você ama aquilo? Não, então o gostoso é você fazer porque você ta gostando, aquilo ali é o maior barato pra você e você ta ali com o maior carinho, tem vezes que você tem que ta lá cinco horas da manhã porque tem que ir pra outro Estado, ou você tem que ta lá, saiu de lá cinco horas da manhã de um dia e tem que ta lá uma hora da tarde do outro, você ta vivendo ali, então você tem que fazer aquilo com amor, não porque eu paguei, vou ter que ta lá porque as pessoas da mídia vai me ver, não, to aqui porque eu gosto, porque aqui é a minha área .
P/1 – Como é que você se cuida pra ser uma passista da escola, representativa?
R – Eu não me cuido muito assim não meu irmão é profissional na área de educação física, meu irmão fala pra caramba no meu ouvido, ele quer agora que eu corra: “Vai correr pra ficar com um corpo legal”, “Ta bom, Wesley, eu vou correr”, não corro muito não, mas tudo bem .
P/1 – Como é que você se cuida?
R – Eu como legal, eu como de tudo, eu sou, eu não consigo ficar restringindo agora que o povo quer que eu pare de comer, quer que eu pare de fazer as coisas, eu não consigo parar de um dia pro outro um dia quem sabe eu consiga viver mais tranquilo, mais light, frutas e legumes .
P/1 – O salpicão da sua tia.
R – Ah, o salpicão da tia, poxa, e olha, se comer pouco ela ainda fica triste, tem que comer legal, imagina, como é que eu vou fazer? Não, vamos botar o salpicão lá no prato e vamos comer, eu, hein.
P/1 – Ana Pérola, vamos então voltar um pouquinho, eu queria falar de escola, conta um pouquinho da tua escola, que escola que você estudou, que bairro que era.
R – Eu estudei bem pequenininha no Colégio Alzira, que é na esquina da minha casa, o sinal batia pra entrar eu tava dentro de casa ainda, eu saía correndo, na esquina, mole aí eu fui crescendo, aí quando eu fui pro segundo ano, pro segundo, pro ensino médio, aí eu fui pro Olavo Bilac, em São Cristóvão, pra mim foi a melhor coisa, que você conhece pessoas diferentes, com outra cabeça, você sai um pouco daquilo ali, daquela, do pensamento de todos, só daquele pensamento e você consegue ver o mundo de uma outra forma, como outras pessoas veem o mundo, era perto de duas comunidade, que é a Mangueira e o Tuiti, então você via pessoas de todos os tipos, vários tipos de pessoas, tinha gente que morava na zona sul, tinha gente que morava na comunidade, então você convive com outras pessoas, com outra mente com vários tipos de pessoa e isso faz você escolher o que você quer, opa, eu quero ser como? Como essa pessoa ou como aquela? Ou não quero ser como nenhuma de vocês, aí você tira, mistura e fala: “Opa, eu sou diferente disso ou sou igual por esse motivo” então ali você consegue ver realmente o que você quer pra você, como você quer ser mostrada na sociedade como pessoa.
P/1 – E o que você acha que jovem você já sabia o que você queria, o que você não queria?
R – Ah, eu sei que eu sempre quis sambar, eu sempre quis dançar, que eu já dancei vários estilos, dancei hip hop, um monte de coisa, dançar eu sei que é uma coisa que é imprescindível, sempre eu vou dançar, ponto , mas uma coisa que eu não queria, eu não queria fazer nada só porque o outro impôs, nunca quis fazer nada porque o outro impôs ou porque alguém queria que eu fizesse, eu sempre quis fazer o que eu quis, independente se todo mundo aprovasse ou não sempre fui assim, sempre gostei de fazer o que eu quis, ah, eu fiz: “Por que que você ta aqui?”, “Porque eu quis, porque eu gosto, eu acho bom aqui”, porque muita coisa você pode: “Ah, não quero mais isso aqui não”, ir pra outra, mas eu não, tudo o que eu fiz na minha vida, tudo o que eu faço é porque eu gostei daquilo, quero fazer isso daqui porque eu quero, não porque alguém ta me impulsionado praquele caminho, acho muito importante você ter a sua visão de mundo e falar assim: “Opa, qual é a minha parte no mundo? Opa, é isso aqui, então isso aqui é bom pra mim”, bom pra mim, se não é bom pro outro, se não é bom pro outro, problema, mas pra mim, então ótimo.
P/1 – Mas no seu tempo de escola você precisava trabalhar, você tinha que ajudar em casa?
R – Eu sempre trabalhei, sempre trabalhei.
P/1 – Com o que, por exemplo?
R – Eu vendia...
P/1 – Trabalho você começou com quantos anos, você lembra?
R – Não me lembro com quantos anos.
P/1 – Mas era criança?
R – Eu era novinha, criança, criança não, eu era bem novinha, adolescente eu vendia as coisas, louca.
P/1 – Você tava falando do trabalho, assim, qual foi aquele que você pode considerar o teu primeiro trabalho? Vendi, vendia o que, o que você vendia, vendia na escola?
R – Eu vendia bijuteria, copo, qualquer coisa eu vendia, eu vendia de tudo, que eu tinha que ter um dinheirinho pra mim minha mãe nem sempre podia ficar me dando dinheiro pra eu comprar as coisas, pra mim, coisas minhas mesmo, então a partir do momento que eu comecei a vender uma coisinha aqui, outra ali, eu já não pedia dinheiro pra minha mãe pra nada.
P/1 – Mas ia aonde, comprava aonde e revendia, como é que era isso?
R – No mercado de Madureira, eu ia lá, comprava negócio, bijuteria, calcinha, não sei o que e vendia tudo porque era o meio de eu comprar um chinelo, um sapatinho, eu sempre fui muito cuidadosa com o dinheiro, entendeu, eu sempre fui muito responsável com o dinheiro, então eu preciso comprar o que eu to precisando, eu preciso de uma calça comprida que eu to sem pra escola, um exemplo, aí eu vou comprar isso aqui até dar o dinheiro pra eu comprar uma calça, pronta, não precisa ficar pedindo: “Ah, mãe, me dá dez reais, dá cinco reais, dá um real”, não precisa ficar pedindo o tempo todo quando necessitava muito eu pedia, claro, mas o máximo que eu podia tava fazendo por mim.
P/1 – E na escola como é que era, tinha alguma matéria que você gostava mais, que você detestava mais, como é que foi o período escolar?
R – Eu sempre fui muito mal na escola, eu sou péssima na escola, bem pequenininha eu nem escrevia, não gostava de copiar, não copiava nada, minha mãe, chegava em casa e minha mãe: “É, gente, não copiou nada, não tem nada no caderno da minha filha, eu vou lá falar com a professora”, chegou lá eu que tava o tempo todo falando pelos cotovelos, eu que não queria fazer nunca gostei muito de estudar, mas sabia que era importante, mas nunca gostei muito.
P/1 – Você terminou, você fez completo primeiro e segundo grau?
R – Não, fiz tudo direitinho, com as defasagens que tem mesmo, ai faltou um professor de não sei o que, aí no último ano chega um professor de Química e dá uma matéria, você faz, foi como se tivesse feito o ano inteiro, é ruim de aprender assim assim é ruim de aprender.
P/1 – Mas quando você tava na escola você tinha, assim, uma vontade do ponto de vista profissional, você, quando você tinha os seus 16, 17, 18 anos, quer dizer, o que você almejava, o que você já imaginava que você gostaria de se aprofundar, por exemplo, pra ter isso como uma profissão?
R – Olha, eu pensava até em várias profissões, sabe quando você quer tudo e não, mas uma coisa eu tinha certeza: “Eu vou ser dançarina”, sempre, isso sempre: “Ah, o que você vai ser?” “Eu vou ser dançarina” e aí conforme foi passando o tempo, essa coisa que todo mundo parece que tem que ter uma faculdade, né: “E aí, qual faculdade você faria?”, eu já pensei tanto, eu falei: “Eu acho que eu vou fazer Serviço Social, não, eu vou fazer Comunicação Social, não, eu vou fazer Educação Física”, eu falei: “Ah, gente, deixa o mundo me levar, a vida vai me encaminhar pra um caminho certo”, sei lá, Deus é que sabe dessa história , a pessoa que ama estudar como eu, né .
P/1 – E como é que você acha que na tua vida você foi se profissionalizando na parte da dança?
R – Eu comecei, eu trabalhei, eu comecei a trabalhar como dançarina, trabalhar profissionalmente mesmo como dançarina no Plataforma, eu trabalhava à noite dançando, aí lá eu dançava vários estilos.
P/1 – De que ano você da falando, Pérola?
R – Dois mil e seis, 2007, 2006, 2007, aí comecei a trabalhar lá e lá eu aprendi vários estilos, xaxado, carimbó, danças típicas do Brasil e o máximo, eu adorava, todo dia estar no palco, é muito gostoso todo dia ta no palco quando eu saí de lá eu achei, ai, o mais difícil pra mim era que eu não tava todo dia no palco, ai meu Deus, como é que eu não to?
P/1 – Você precisava?
R – Eu precisava, isso é muito importante , era muito importante pra mim estar no palco, abria a cortina, você está lá.
P/1 – Quem te levou pra Plataforma?
R – Eu tava numa festa dançando e tinha um pessoal que dançava lá: “Pô, por que você não leva ela pra fazer um trem lá, ver se ela serve pra dançar lá com a gente?”, que eu tava lá dançando de tudo todo tipo de música que botava no rádio tava eu dançando, botou, trocou a música, trocou o estilo, tava eu dançando, aí um pessoal falou: “Por que você não vai lá, tal, faz um teste?”, que tinha um vizinho meu que trabalhava lá também: “Então vou te levar lá”, aí me levou, aí eu toda feliz , aí fiz o teste, o teste era só sambar, eu pensei que eu ia ter que fazer um monte de coisa, aí eu falei assim: “Não, bota uma roupinha de samba, samba aí”, aí eu: “Só isso?”, aí eu sambei mas ainda com medo, não sabia como é que funcionava e aí aprovada: “não, tudo bem, ela não é muito alta não, mas vai ter que dar”, as mulheres enormes lá as mulheres de um e oitenta, mulherão: “Não é muito alta não, mas ela samba legalzinho, vamos botar ela lá pra ela treinar, quem sabe”, tipo assim, né. E lá eu fui cada vez mais aprendendo outras coisas e quanto mais você faz mais você fica legal tudo o que você faz bastante uma hora fica muito bom e assim foi, fui ficando e cada dia mais feliz da vida, pra mim a minha maior felicidade era estar todo dia no palco.
P/1 – Você morava em São João, ia trabalhar de noite?
R – Não, é, aí eu ia trabalhar à noite, aí em 2007, 2005 eu fiz o concurso de gari, em 2005, só que eles só me chamaram em 2007 e eu já tava trabalhando no Plataforma dançando, eu falei: “Ué e agora, como é que eu faço, eu largo?”, aí eu falei: “Ah, não vou largar não, vamos emendando os dois, vamos ver o que que vai dar vamos, ah, se não der certo alguma coisa vai acontecer e eu vou sair, vamos ver”, aí eu, em 2005 eu fiz o concurso, só foram me chamar em 2007, 2007 comecei a trabalhar como gari o dia inteiro e à noite ia dançar e fiquei nessa loucura, treinamento, eu fiz o treinamento tudo na rua, aí quando eu comecei a trabalhar eu comecei a trabalhar no prédio do prefeitura, que é interno.
P/1 – Só um minutinho, o que que deu pra você fazer um concurso de gari?
R – Ah, porque às vezes você fica sem, você não tem dinheiro, você não tem, você não sabe o que você vai ser da sua vida, o que vai ser da sua vida, sabe, eu era muito nova, eu falei: “Nossa, o que eu faço da minha vida?”, tem concurso, o meu irmão fez um ano anterior ou dois anos anterior, um concurso antes desse, não passou, aí nesse ele falou assim: “Ah, eu vou fazer também” e a gente sempre batalhando, alguma coisa tinha que dar certo pra gente, não é possível, aí nesse ano ele fez: “Vamos fazer, Sinhá”, ele me chama de Sinhá: “Vamos fazer, Sinhá”, aí eu: “Vamos, to”, eu tava gostando de tudo, tudo eu tava dentro: “Vamos fazer?”, “Ah, vamos embora”, era uma força psicológica pra ele porque ele já não tinha passado no outro, de repente indo junto ele passava e ele não passou de novo , mas eu passei, eu passei, ele ficava sem comer, ficou magrinho o meu irmão, tadinho, porque tinha, a prova tinha que ser, tem MMC, é MMC? IMC, sei lá, eu sei que é peso e altura, tem essa medida que ele tem que ta direitinho ele ficou magrinho, fez de tudo, só comia folha, meu irmão corria, light, não passou, eu passei, no dia eu nem levei o comprovante de residência, mas passei.
P/1 – Como é que foi o concurso lá, a prova?
R – Ah, eu achei que foi tranquilo, corrida, flexão, abdominal, ixi, depois teve a prova de fogo, depois de um tempo, aí depois que passa nessa aí tem a prova de fogo, era capina, aí tava eu capinando tudo errado, capinei tudo errado, aí veio um rapaz da prova, falou assim: “Por que você ta aqui, minha filha?”, eu falei assim: “Ah, porque eu quero trabalhar”, aí ele: “Então ta bom, aí anotou alguma coisa no papel e foi embora”, eu falei: “Ai, meu Deus, pronto, já me reprovou, eu não to conseguindo nem capinar direito” , deu tudo certo.
P/1 – Conta o teu primeiro dia de trabalho como gari, Pérola.
R – Olha, eu me lembro, eu não me lembro muito bem, eu me lembro que a gente primeiro tem que, como, tem que fazer, como é que fala? Tem que fazer a experiência você vai pra lá pro treinamento, na verdade, você vai pro local e a pessoa te treina: “Tem que varrer dessa forma, tem que fazer assim” e aí eu fui fazendo, o primeiro dia o braço dói muito, que a vassoura é grande, pesada, você não é acostumada a ficar o dia inteiro só varrendo, então nos primeiros dias realmente é muito difícil, que você não ta acostumada com aquilo, você tem que: “Vai essa rua”, aí um grupo de pessoas vai junto com você, eu tava achando tudo divertido eu tava, tudo me divertia, tudo eu achava divertido: “Vamos varrer essa rua daqui até lá”, eu: “Caraca, vamos varrer”, a gente parava, pedia água, parava, comer alguma coisa, é bom, e assim foi o meu primeiro, meus primeiros dias, fiquei um tempinho nessa.
P/1 – Aí de noite ia pro Plataforma?
R – De noite eu tinha que ir, não tinha jeito, senão não tinha rumo, o que é que eu ia fazer da minha vida?
P/1 – E até quando você conseguiu manter a vida como gari e como dançarina no Plataforma?
R – Acho que eu fiquei dois anos, dois anos assim, fiquei dois anos assim nessa loucura, assim, dos dois aí um momento eu me senti muito exausta,meu corpo não aguentava, não tava aguentando mais e aí na verdade eu não escolhi bem um ou outro eu achei que não tava mais, não tava me dando muito bem onde eu tava trabalhando como dançarina, eu falei: “Poxa, aqui não ta legal, aí, pô, não vou ficar mais aqui não” e não quis mais, as pessoas: “Poxa, você”, “Eu não quero mais ficar aqui, mas eu vou continuar dançando, não vou parar de dançar por isso, eu vou sair daqui, mas eu vou dançar em outros lugares, tanto lugar pra dançar o que mais tem é lugar pra dançar” e eu já tava como passista, teve uma época que eu tava trabalhando de dia e de noite e como passista da Beija-Flor, então quinta-feira era a minha folga à noite, era o único dia que eu ia pra casa descansar à noite, eu ia, minha folga era quarta, eu mudei pra quinta pra poder ir pro ensaio da Beija-Flor, eu ia pra Beija-Flor, no outro dia chegava de manhã em casa, ia trabalhar de dia, ia trabalhar à noite, dormia um pouquinho, fazia e assim foi, quer dizer, o dia que era o dia de eu descansar eu tava trabalhando, eu tava na Beija-Flor, louca louca, não dormia, não comia, nada, eu só queria saber de sambar, ta ti cá ta e pronta, o dia que era pra ficar em casa tranquila tava eu sambando na Beija-Flor e minha mãe junto tadinha, não tem jeito: “Bora, mãe” .
P/1 – Você não era menor de idade.
R – Não.
P/1 – Você já era maior.
R – É porque eu gostava, agora que ela não vai mais comigo, mas antes carregava a minha mãe pra tudo quanto era canto: “Mãe, vamos comigo, vamos embora”, pronto, tinha que ter a minha mãe do lado eu gostava porque ela tava, entendeu, é uma segurança, que eu me sentia mais segura com a minha mãe do lado, aí eu ia com a minha mãe pra tudo quanto era canto, ela não queria ir muito mais não, até agora ela: “Não, não quero muito não, minha filha, ficar em casa”, agora eu até respeito mas antes: “Vamos, mãe” , ai dela se não fosse comigo.
P/1 – Você trabalhou como gari até quando?
R – Até agora, até que dia?
Trabalhei como gari até...
P/1 – Você saiu da prefeitura, você continuava sempre dentro do espaço ali da Cidade Nova, é isso?
R – Eu trabalhei dentro da prefeitura, aí falaram assim: “O seu local de verdade é em Irajá”, aí eu fui trabalhar em Irajá na rua, fiquei um tempão trabalhando lá, trabalhei com a equipe de ceifadeira, tive uma rua só pra mim, tive uma equipe de capina, tive vários jeitos que você possa imaginar da Comlurb eu já trabalhei.
P/1 – O que é ter uma rua só pra mim?
R – Uma rua só pra você é, por exemplo, se eu trabalho nessa rua eu tenho que dar conta dela, se tiver um capinzinho eu que tiro, se tiver, eu sempre eu que vou ta aqui nessa região, então as pessoas vão ta sempre me vendo: “Ah, quem é gari daqui?”, “Aquela menina, a Ana, tal”, então você já ta sempre, já tem um contato.
P/1 – Menina? Que mulherão! Muita paquera na rua?
R – Ah, tem porque não consegue, homem não tem jeito, não pode ver mulher de jeito nenhum, é de gari, sem gari, de qualquer jeito homem.
P/1 – O que te falavam quando viam você, como é que você vestia, por exemplo, você tinha roupa da Conurb, você se produzia, como é que era o teu cabelo, você tava com brinco?
R – Sempre com brinco, sempre maquiada, sempre, sempre maquiadíssima, sempre.
P/1 – O calor de Irajá, era janeiro.
R – Não tem jeito, tava lá eu pingando, maquiadinha, a hora que dava a gente dá um jeitinho, olha no vidro do carro: “Opa, será que eu to bem?”, claro, um brinquinho, se der pra botar um colar de plástico pra poder não machucar a pele, alguma coisinha assim, ta sempre arrumadinha, porque não é porque você é gari que você tem que andar de qualquer jeito tem que ta sempre arrumadinha, sempre bonitinha, não é pra mostrar pros outros, é porque eu me sentia melhor dessa forma e no prédio a gente não podia botar um brincão e aí, como é que eu fazia pra ficar, mas a maquiagem tava lá, não tinha jeito .
P/1 – Como é que você aprendeu a se maquiar, sozinha, você teve alguém que te ensinou?
R – Quando eu trabalhei no Plataforma eu, a gente se maquiava muito a gente se maquiava muito pra poder e a gente que se maquiava pra poder entrar em cena, então não tinha jeito, aquelas maquiagens fortes, só que no dia a dia eu botava mais, um pouquinho mais leve tudo bem.
P/1 – Mas o que é pra você quando você se maquia, como é que você acha que fica, a sombra, de que cor?
R – Eu gosto de tudo muito exagerado, agora eu consigo ser um pouco menos , aí eu coloco um pouco menos quando é durante o dia, à noite eu ponho, eu já ponha mais, como eu tenho os olhos grandes então eu acho que o preto fica legal, eu boto bastante, eu gosto de maquiagem forte, mas eu uso forte, bastante forte mais pra noite, dependendo da ocasião também, já pensou?
P/1 – Vamos voltar um pouquinho pra gari, como é que era, você tinha amigos da mesma profissão?
R – Ah, tinha muitos, muitos amigos e o povo lá gosta de estudar, hein, , muitos, muitos garis formados ou que tão, que estão fazendo alguma especialização, nível superior, muitos mesmo.
P/1 – Vocês se encontravam, saíam depois do trabalho?
R – Pouco porque eu sempre fui uma pessoa muito com pouquíssimo tempo, se eu não to na escola de samba eu to, ou eu to, quando eu trabalhava à noite, quando eu não trabalhava à noite eu tava na escola de samba, o ruim sempre foi é que eu não tinha, as pessoas tinham um pouco de preconceito, como você trabalha à noite você é prostituta ao ver das outras pessoas, eu trabalhar à noite dançando, prostituta essa é a forma que as pessoas veem e eu nunca me, isso nunca foi um fator pra, que fizesse eu me, eu mudar qualquer coisa, qualquer opinião minha, se eu penso que o meu trabalho é digno, é honesto e é uma coisa que eu amo fazer, não é porque as pessoas pensam ou quando eu passo as pessoas ficam...
P/1 – Mas teve alguma coisa, alguma pessoa, algumas pessoas te disseram isso?
R – Muitas pessoas.
P/1 – Em que situação, conta pra gente?
R – Inúmeras.
P/1 – Por exemplo.
R – Na rua onde eu moro, eu trabalhava a semana toda durante o dia, à noite, o sábado e o domingo quando eu ia trabalhar no Plataforma, quando eu ia dançar as pessoas quando eu ia passando, você vê as pessoas: “Ó, ta descendo”, “Oi, tudo bom?”, mas é um “Oi, tudo bom”, tipo assim: “Ah, já vai já vai, sei que trabalho é esse”, sempre assim, entendeu, às vezes na rua, tal, vem uma conversinha diferente, você: “Não entendi porque falou isso pra mim, não to entendendo”, mas é assim, ralou e eu fingi que não ouvi nada, nada ta acontecendo, eu passava, assim e não falou nada pra mim, que não é uma coisa que me afeta.
P/1 – No Plataforma teve algum dia que te marcou, um causo, alguma coisa que aconteceu?
R – Sempre tem causos, onde tem muita mulher tem caos, um monte de mulher no camarim, caos formado.
P/1 – Conta algum causo que tenha acontecido.
R – Nossa, um caos que tenha acontecido.
P/1 – Não caos, um caso, pode ser alguma coisa engraçada, um episódio que tenha te marcado.
R – Não, engraçado foi o dia que entrei no, entre pra, no show, tava ainda sem a peruca, a gente inicia como índia, mas tem uma peruca da índia, aí eu tava sem a peruca, que a gente fica conversando na coxia, conversando, conversando, aí começou tum dum dum, começou a música, eu to assim, mas to sem a peruca, eu: “Ah, não”, a cortina já tinha aberto e eu: “To sem a peruca, eu fico ou eu saio” e eu assim ó: “Meu Deus, e agora?”, uma índia do cabelo duro: “Pai, o que que eu faço?”, alguém me deu um negócio, eu saí correndo, botei, depois já saí e já houve vários, já deixei o sapato no palco, ixi, isso aí demais.
P/1 – Como você deixou o sapato no palco?
R – O sapato ficou e eu continuei sambando, ta ti cá ta, com o pé manco, um pé sem , um pé pra cima, o outro pra baixo, sorrindo, feliz, sem um sapato, todo mundo vendo que eu tava sem o sapato, fato sempre acontece, já fiquei com um pé segurando o macacão, o outro e pra sambar? “Gente, e agora?”, sempre tem alguma coisa engraçada, na dança então, nossa, mas é bom é gostoso.
P/1 – E como gari, algum dia que tenha te marcado, um fato que tenha acontecido, assim, na rua?
R – Um fato que tenha me marcado, olha, é ruim, tem uma coisa de ruim que as pessoas, as pessoas, dizem agora que melhorou acho que melhorou um pouco, mas as pessoas pensam, veem o gari como que ele tem que fazer porque eu quero, eu tenho um supervisor, então esse meu supervisor é que dita as regras, entendeu, se ele falar pra mim: “Ana, você vai fazer isso daqui, eu vou fazer o que ele me pediu e as pessoas acham que a gente tem que fazer o que eles querem porque, ah, não, tem que fazer o que eles, e como, eu acho que era pior quando, nesse sentido, quando eu trabalhava dentro do prédio, né.
P/1 – Mas, assim, na rua aconteceu algum fato desses com você?
R – Não, porque não da tempo, não porque não da tempo.
P/1 – Assim, de ter alguma abordagem: “Você tem que limpar isso”, alguma coisa do gênero?
R –Não, o pessoal é camarada da rua, ixi, camarada: “Ó, tem umas frutinhas aqui pra você”, tal, sacolão, dá uma morosinha no sacolão lá, tem uma frutinha lá, como o que você quiser, beleza, passou lá numa lanchonete e o pão da lanchonete, só comia o dia inteiro, né: “Aqui ó, quando você voltar o teu lanche ta aqui, tal” e assim vai, tem, tinha uma moça que eu já, eu só varria quando ela tava lá na calçada dela, esperava, aí eu varria tudo, esperava, quando chegava, eu via que ela tava no portão, varria lá tudo, ela: “Aqui pra você o almoço”, “Ai, obrigada”.
P/1 – O lixo da cidade da gente, o que que se joga mais na rua?
R – De tudo porque o povo joga tudo na rua: “Ah, acabei de comer isso aqui”, mas a lixeira ta aqui pertinho, custa? Não é uma questão de você: “Eu tenho que sujar porque tem gente pra limpar”, é uma questão de princípio, se na sua casa você vai pegar um copo: “Bebi um negócio aqui, vou deixar aqui”, você vai pegar, vai botar na pia, depois alguém vai lavar ou você mesma vai lavar, mas você vai botar lá porque lá que é o local se ta ali você vai guardar no armário, se ta sujo você bota na pia, não, bebeu um negócio, jogou aqui, um Danone e você vê a mãe fazer isso com o filho, é uma questão de população mesmo, da forma que a gente é educado e a gente é assim, carioca é assim, a gente não pode falar que a culpa, não, a culpa é geral: “Ah, mas eu ensino o meu filho”, não adianta um ensinar e os outros não ensinar, o carioca é assim, ele come, ele deixa ali e se você falar: “Ah, é você que vai limpar?” “Não, poxa, não sou eu que vou limpar agora não vai ser mais eu” . Mas eu sempre tive isso comigo, essa questão de não jogar as coisas na rua, de dar lugar pro, porque é uma questão, é uma coisa, uma coisa vai ligando, é ligada com a outra dar lugar pro idoso sentar no ônibus, de você jogar um negócio na rua, isso é parte da educação de cada um, se você tem isso acabou então é uma questão de educação, não é porque tem gente pra limpar ou porque não, eu to mais cansado do que ele que eu trabalhei, ele trabalhou, não, então eu vou ficar sentada, é uma questão de educação, eu sempre tive isso comigo desde pequena, mesmo sem a minha mãe falar pra mim pra eu fazer, sempre tive, não que eu seja melhor que ninguém, mas é princípio cada pessoa é de um jeito mesmo.
P/1 – Pérola, agora eu gostaria de começar a falar um pouquinho, assim, como é que você tomou contato com esse tipo agora de linguagem, de arte, de televisão, como é que se deu, assim, você tinha interesse, como é que você foi convidada pra vir trabalhar na minissérie? Agora contar um pouquinho disso, você vê televisão, você é noveleira, como é que funciona?
R – Ah, eu gosto de ver novela eu gosto das novelas que tão bombando, ta bombando eu quero ver, opa, essa daqui é a da Carminha, então eu gosto de ver o que ta mais assim em evidência mas eu nunca imaginei que um dia eu pudesse ser atriz, ser atriz, eu levou um susto quando as pessoas falam assim: “Ai, essa é a atriz”, ai, meu Deus, eu não sou atriz estou atriz , um dia quem sabe serei
e eu nunca imaginei isso porque é uma coisa que é um pouco longe, na verdade intimamente você desejou alguma coisa, eu acho que tudo o que você deseja você consegue lá no seu íntimo se você deseja alguma coisa você consegue, tudo o que você deseja você consegue, se você desejou do fundo do seu coração você vai conseguir, pode demorar um pouco, pode, só se não for a vontade de Deus, mas se você desejar do fundo do seu coração você consegue e de repente por eu desejar voluntariamente ou involuntariamente, desejar, é que isso aconteceu, eu acho.
P/1 – Como é que se deu, conta pra gente desde o comecinho?
R – Pois é
eu tava no horário de almoço na rua, eu saio falando com gato, papagaio, periquito, todo mundo, eu saio falando com todo mundo no meio da rua.
P/1 – Você tava em Irajá, onde é que você tava?
R – Não, eu tava no centro, no horário de almoço, tava assim, tal, andando pela rua, aí o rapaz falou assim: “Posso tirar uma foto sua? Não é pra mim, é uma minissérie”, eu falei: “Ahn?”.
P/1 – Só um minutinho, você tava com que, aquela roupa, vestida de uniforme?
R – Tava de uniforme.
P/1 – Uniforme da Conurb.
R – É, meio a meio, tava com a calça do uniforme e com outra blusa, aí ele: “Não, posso tirar uma foto sua, não sei o que”, eu: “Olha só, moço, não pode tirar foto não porque pra você tirar foto você tem que pedir autorização, entendeu, é complicado, então pra não ser complicado nem pra mim nem pra você a gente não vai tirar foto não, ta bom?”, eu falei: “Esse cara ta querendo alguma coisa de mim, tirar foto minha assim do jeito que eu to? Ah, para , ele é louco”, aí eu não deu muita ideia não, ele: “Ah, então ta”, eu falei: “Olha só, se quiser tirar foto”, ele ficou insistindo, ele insistiu, meu Deus do céu, ainda bem, graças a Deus .
P/1 – Ainda bem que ele insistiu a beça.
R – Não, pra minissérie, explicou tudo direitinho, eu falei: “Gente, ele quer mesmo”, “Olha só, ta bom, eu vou pro viaduto, pro baile do viaduto, vai ser aniversário do bairro, lá vai ta cheio de gente, vai ta bombando, eu vou ta mais bonitinha, mais arrumadinha, aí você pode tirar foto minha, assim do jeito que eu to não vai ficar legal, mas lá não vou ta uniformizada, não tem que pedir autorização, aí você tira, ta bom?”.
P/1 – Peraí, antes da gente continuar conta um pouquinho o que que é o baile do viaduto, que os cariocas conhecem um pouco, mas conta mais o que significa dançar o charme, desde quando vocês fazem, é um lugar tradicional da cidade já.
R – Ah, muito gostoso o charme pô, dançar um charmezinho, pô, logo no viaduto que é conhecido pra todo mundo como lá é o foco dos charmeiros, aí eu gosto muito de ir porque lá é um local muito familiar, pode ir pessoas de tudo quanto é idade e as pessoas se sentem bem no local, entendeu, não é igual balada que o povo se vive embriagado, não, todo mundo na paz, todo mundo só vai pra dançar, pra curtir e pronto, lá é um local muito gostoso e era o baile do viaduto, o baile ia ta lotado, com certeza eu estaria lá, ah, como não? Aí tava eu lá no baile, no dia do baile.
P/1 – Ele foi no baile?
R – Ele foi, mas eu pensei que não ia.
P/1 – Quem que é ele?
R – Edson Branco, ele foi: “Oi, menina, tudo bem?”, eu já tinha visto ele, mas eu falei: “Não, vou fingir que eu não to vendo”.
P/1 – Ele é o que a gente chama de olheiro?
R – É, acho que sim.
P/1 – Descobrindo rostos bonitos.
R – Ele tava descobrindo, tentando, ele: “Ah, falei pra você que eu vinha e tal, eu: “Ah, gente, ele veio mesmo”, como eu vi que ele tava tirando fotos de outras meninas, não tinha nada de mais, não era foto indecente: “Ah, então ta, tira uma foto minha”, “Lembra que eu te falei da minissérie?”, eu falei: “Ah, tudo bem, ah, vai lá, isso aí, vamo bora, minissérie, isso mesmo”, eu falei: “Ah”, eu tava com o meu namorado, meu namorado achando: “Caraca, agora ele vai te chamar?”, eu falei: “Meu filho, para, ta achando, ele não vai me chamar, calma, você ta muito nervosinho, relaxa”.
P/1 – Ele deu a maior força?
R – Ficou todo muito feliz, eu: “Não, calma, o rapaz só queria tirar uma foto, ele tirou uma foto, ele ta perturbando minha vida, eu, hein, eu não sei o que ele quer de verdade”, a gente não sabe, chega uma pessoa na rua: “Quero tirar uma foto sua”, depois chega no local, vai lá pra tirar a foto, foi pra isso, eu falei: “Não, pode não ser uma coisa boa sei lá, eu não sei o que ele”, a gente não sabe o que esperar dos outros, cada pessoa é uma pessoa, eu sei o que eu penso, mas eu não sei o que ele tava pensando, por que ele queria tanto tirar uma foto minha, louco, eu com aquela roupa.
P/1 – Você é uma pessoa bonita, você é atraente.
R – Enfim, tirou a foto, tal, eu: “Tira isso da sua cabeça”, falei pro meu namorado: “Tira isso da sua cabeça, finge que isso não aconteceu, pronto” e foi passando os dias e eu não pensei mais, nem imaginei mais isso, aí eu, quase um mês depois, sei lá, o maior tempão depois, liga lá, liga pra minha mãe, ligou lá em casa: “Não, porque eu não to conseguindo falar com a Pérola, ela tem que fazer um teste lá na Globo”, minha mãe: “Ah, meu filho, tudo bem”, minha mãe toda feliz: “Ah, meu filho, tudo bem, qual o seu nome?”, bateu um papo com o rapaz, eu falei: “Mãe, a senhora não sabe quem é, não fica falando com as pessoas assim não”, aí ta, ela me passou o recado: “Não, é pra você ta em tal lugar, tal hora, liga pra ele”, aí eu liguei: “Não, pra você fazer o teste pra escolher, o personagem Jéssica, vou te mandar por email, pá pá pá”, eu: “Ah, ta, gente será que isso é verdade?”, ai falei: “Ah, na Globo, no Projac ele não ia fazer nenhuma besteira, não sei”, aí foi, fui lá fazer o teste, decorei o negócio, né.
P/1 – Foi sozinha?
R – Fui sozinha, com a cara e com a coragem, eu falei: “Eu não sou atriz, vou fazer tudo errado”.
P/1 – Mas quando você leu sobre a Jéssica o que que te bateu?
R – Inicialmente você não tem como saber, não tem noção do personagem direito, você sabe que ela ta brigando com todo mundo porque: “Ai, vai ter volta, não sei o que”, mas você não sabe direito o que que é você sabe por alto, ah, pega esse papel, aí o cara falou: “Ela é assim, ela é assado”, mas é a visão dele sei lá se é isso mesmo, então ta, eu fui na onda dele e fiz o teste, eu achei que eu fui mais ou menos, eu achei que eu poderia ter sido até pior, eu falei: “Eu achei que eu fui mais ou menos, eu não achei tão ruim não”.
P/1 – Como é que foi esse teste?
R – Ah, tinha uma câmera e eu tinha que falar pra câmera, nossa, eu não me lembro direito, eu só sei que: “você é o maior traíra, você vai ver só”, uma coisa assim, brigava, esbravejava e nossa, que legal, isso falar pra câmera, assim, pá, soltei os cachorros, aí beleza, fui pra casa: “Ah, vocês vão receber em casa”, eu falei: “Pronto”, quando eu cheguei lá só tinha umas mulheres com as pernas assim ó, pá, peito assim, pá, eu falei: “Gente, eu não to fazendo nada aqui, o que eu to fazendo aqui?”, mulherão tudo grande, a mulher grande, pá, toda grandona de tudo, eu falei: “Nossa, não”.
P/1 – Todo mundo concorrendo pro mesmo personagem?
R – Mesmo personagem, todo mundo sendo a Jéssica, caraca, não sei o quê, pá pá pá e todo mundo se arrumando pra fazer teste, a galera falando: “O que, eu vou fazer, fazer aqui, eu vou fazer isso, vou fazer aquilo”, eu falei: “Ah”, “Eu sou atriz, eu sou não sei o que, modelo, eu sou”, todo mundo era alguma coisa, eu falei: “Ah, gente, eu vou fazer, eu não sou nada disso, mas eu vou fazer” “O que você é?” “Eu sou gari” “Ah, você é gari, que legal” “Que legal?
Você é atriz, você é atriz, vai fazer o teste, você é atriz, eu não sou nada, como é que eu vou lá fazer? Me dá uma dica aí”, aí ela: “Não, na hora você vai saber e tal”, enfim amendrotadíssima e eu saí de lá ainda chegava mais mulher, uma mais bonita que a outra, uma mais peituda que a outra, uma mais bunduda que a outra, uma mais pernuda que a outra, eu louco, que isso, gente, como é que eu vou, será que é isso, que ele tava certo que era eu mesmo não pra vir pra cá, mas tudo bem, já que ele me chamou eu vim, fui pra casa, mas sem esperanças de nada, pô, só tinha umas mulheres três de mim, como é que eu vou fazer? Eu falei: “Ah, não, ta bom, chamou, fui fazer, fiz” “Ah, foi bem?” “Ah, foi lá, agora ta bom”, me chamaram pra fazer o segundo, aí eu: “Caraca, me chamaram pra fazer o segundo”, aí você fica mais, aí você começa a ter uma esperança: “Agora vai ser meu esse negócio, passei daquelas mulher todas, aqueles mulherão, aquelas toras” “Ah, só passaram quatro daquele dia”, ih, caramba, aí eu fiquei feliz, pô, um monte de mulher, uma melhor que a outra, eu passei, eu falei: “Ah, não, agora eu vou passar nesse negócio”, eu falei: “Não, isso aí vai ser meu”.
P/1 – Teu namorado vibrou?
R – Ele vibrou. Eu não falei pra ele inicialmente não, que se não ele ia ficar falando: “Ah, porque você tem que fazer”, não tenho que fazer nada, eu gosto de ficar calma e tranquila, ninguém perturbando a minha mente, pronto, fui fazer o segundo, decorei tudo, cheguei na hora eu não lembrei nada, não sabia nada que tava escrito no papel, tinha decorado com tanto ardor, eu falei: “Gente, eu não sei nada”, lembrava de uma frase depois esquecia o resto, eu falei: “É, to ferrada”, foram outras mulheres tão bonitas quanto as outras, tão grandonas quanto as outras, eu falei: “Pronto, agora não lembro o texto, nada, essa mulheres também aqui tudo enormes, acabou, das quatro alguém vai ter que sair desse bolo, tudo bem, vamos nessa”, cheguei lá, fui lá fazer, achei muito ruim, mas muito ruim mesmo.
P/1 – Você falou o que, você não lembrava o texto?
R – Ah, eu não lembrava, eu falei um trecho, ele falou: “Não, não precisa falar o texto então não, vai de acordo com o que você acha que a Jéssica é”, aí eu falei: “Ah, então ta”, fui falando, teve uma hora que eu fui ficando, cada hora que passava eu achava que eu ficava pior, a situação.
P/1 – O que você falava?
R – Ah, eu sei que teve uma hora que eu falei, ela tinha que dar o cordão pro Clayton, aí eu botei, botava o cordão, aí eu falava assim: “Porque você”, eu falava: “Não sei o que, meu rei”, eu sei que falava no final: “Meu rei”, eu falei: “Ah, mas eu sou a rainha” e aí eu comecei a me vangloriar e acabou, eu era a melhor da área e quando eu saí dali eu falei: “Pronto, acabou, acabou-se o que era doce, pronto, ninguém vai me chamar”, saí, falei: “Ah, gente”, tinha até umas pessoas que eu conhecia, eu falei: “Ai, gente, vai lá, eu não fui muito bem não, mas quem sabe vocês consigam, né”, triste porque eu já tava, quando me chamou pra segunda vez eu falei: “Ah, sou eu”, chorando, fui pro ponto chorando, chorando, fui pra casa chorando, mal, eu falei: “Pronto, eu não consegui”, mas no fundo eu falei: “Cara, isso aí tem que ser meu, eu tenho que conseguir, esse vai ser o papel que eu vou fazer, vai ser meu e ponto”, eu determinei, eu pedia todo o dia pra Deus, mesmo sendo horrível, achei horrível, eu achei horrível, eles devem ter achado bom me chamou, eu determinei: “Não, vai ter que ser meu, vai ser meu, vai ser meu e ponto”, todo dia eu falava: “Esse aí já é meu e acabou”, mas pra mim não pra minha família, pra ninguém, eu: “É, não deu”, mas dentro de mim aquele confiança, entendeu, que ia ser e acabou, não tinha pra outro não, ai essa mulherada tudo enorme aí, vai ser pra mim e acabou, no final das contas, acho que foi uma terça, sei lá, numa terça ou numa quarta, isso, na sexta-feira alguém me ligou, aí falou assim: “Ah, porque você vai fazer um teste lá, vai lá e você ainda não passou”, eu falei: “Não, eu não preciso ter passado” “Ah, mas aí você vê o horário do seu trabalho”, eu falei: “Não, que trabalho, qual é a hora que é? A hora que for eu vou, não tem esse negócio, você fala pra mim a hora que eu vou” e já tava muito firme de que era meu, tinha uma insegurança, não era firmeza total, tinha até uma insegurança dentro, eu podia ta quebrando a cara, que eu to ali com aquela firmeza louca mas é meu e acabou.
P/1 – As pessoas na rua te davam força, você falava?
R – Ninguém sabe até hoje, ninguém sabe, eu fiquei, faltei, faltei.
P/1 – Aquela senhora do Irajá quando te ver: “Meu Deus, é a Ana”.
R – Eu fiquei uma semana sem nem aparecer no trabalho.
P/1 – Você faltou direto?
R – Faltando e aí eu fui não fui trabalhar, não fui: “Que horas que é pra ta aí?”, “Tem que ta hoje, tem ta amanhã, tem que ta depois, ah,tem que estudar, tem que saber o que você vai fazer, tal” “Opa, vamos lá, vamos em frente” “E você no seu trabalho, Ana?” “Eu não to indo, eu não to aqui? Se eu to aqui eu não to indo lá ou não tem como, o horário não da, entendeu, ou um ou outro”, e mesmo assim eles falavam pra mim que eu não tinha passado.
P/1 – Ainda.
R – E eu não tava indo trabalhar, caraca.
P/1 – Você arriscou um bocado, hein, Ana?
R – E o que que eu vou fazer da minha vida se eu não passar nesse negócio? Eu falei: “Ah, ta bom, Deus proverá” e com aquela certeza: “Eu vou passar, eu vou passar” e fazia um e teve um teste, aí eu falei: “Caraca”, teve outro teste, eu fiz um monte de teste, teve outro teste com o diretor.
P/1 – Até então você não tinha estado com ele?
R – Aí teve um dia nessas reuniões da semana teve uma reunião com ele que foi todo o elenco e eu tava lá, a Jéssica, só que eu não sabia se eu ia ser mesmo, por dentro isso me comia, eu não comia, não dormia direito, pensava só nisso, eu falei: “E agora, eu dou ou não sou esse negócio? Eu preciso ter certeza”.
P/1 – Se eu sou ou não sou a Jéssica.
R – Eu sou ou eu não sou a Jéssica, meu pai? Fala pra mim, ou eu sou ou eu não sou, ai meu Deus e o grandão não falava nada pra mim: “Ai, meu Deus, esse grandão não quer falar nada pra mim, mas eu tenho que ser a Jéssica, eu tenho que ser, eu tenho que ser a Jéssica, pronto e acabou”, isso me confortava, essa minha certeza me consolava, entendeu, dessa minha aflição toda louca, que eu não conseguia fazer nada direito, se eu gaguejasse ali na cena, pronto: “Ai, pronto, já gaguejei, já acabou o mundo e agora, meu pai?”, entendeu, tudo pra mim era muito difícil, aí eu consegui, fiz o teste com o grandão, Luís Fernando fiz o teste com ele, aí ficou eu e um outro menino que tava fazendo o teste também pro Cleiton, falei: “Pronto, é hoje”. Nesse mesmo dia foi umas meninas lá, nesse dia foram umas meninas lá fazer o teste, aí só que elas estavam falando como se elas fossem Jéssica mesmo, “Fica tranquila, elas são”, eu falei: “Não, ninguém me falou se eu sou a Jéssica ainda, chegam meninas aqui, pronto, eu tenho que fazer esse teste hoje muito bem, cara, esse teste vai ser meu” e as meninas na verdade eram pra ser as amigas da Jéssica e o meu teste era depois com o Luís à noite, aí eu fiz o teste com o Luís, foi um teste, Nossa Senhora, eu nunca imaginei, você como ator não tem noção de como você pode dominar o seu corpo as suas emoções e é uma coisa incrível, entendeu, cada dia que passa eu aprendo mais, aprendo muito e aí eu não conseguia, caraca, eu falei: “É hoje”, fiz o teste com ele, beleza, acabou o teste ele falou: “Senta aí”, foi fazer o teste com outra menina, ele botou uma caixa de bombom, assim, bombom sofisticado, não qualquer coisa , não é qualquer coisa que a gente compraria, não, um negócio sofisticadíssimo, botou assim, aí eu fiquei sentada, eu falei: “Será que é pra mim, será que eu posso comer?”, que ele só botou, ele não falou nada, colocou, eu preciso que a pessoa fale pra mim: “É seu, coma”.
P/1 – Aquela educação da sua mãe.
R – Ah, será? Ai meu Deus, é meu, ele jogou assim, botei assim no meu colo e fiquei: “Será que é meu?”, pensando eu não sei, eu não sei, a pessoa bota um negócio no meu colo, é pra segurar, eu vou comer: “Não era pra você”.
P/1 – Era do teste.
R –
Aí ele fala que é o teste e já era, aí eu to ferrada, aí eu to ferrada, beleza to sentadinha lá, aí o rapaz, acabou de fazer o teste com o outro rapaz, aí o rapaz saiu, aí saímos nós dois: “Chama a Ana lá”, cheguei lá: “Oi?”, sempre naquele indecisão que me
comia por dentro a cada dia que passava, parecia que era um pedacinho de mim que ia embora, assim, era uma coisa louca, sabe, um a tensão que você pra comer, pra tudo, pra respirar, você só pensa naquilo eu falei: “Pronto, é hoje, oi” “Ta desanimada?”, não tinha mais força, ele: “Fala pra ela”, empurrou a menina na minha frente: “Fala pra ela”, aí eu: “Não quer nem falar, já ta mandando os outros falar no lugar dele”, aí: “Ah, você é a Jéssica”, eu sabia, eu tinha certeza, meu pai do céu, aí eu pulei, gritei, aí eu podia gritar fiz e aconteci, ai meu Deus, abracei todo mundo, chorei, pulei, fiz: “Ah, o bombom era pra você” “Obrigada”, aí eu falei: “Opa, agora eu posso comer”, eu não sabia se eu ia comer, como é que eu ia comer se o rapaz só botou no meu colo? Aí comi o meu bombom tenho guardado até hoje a caixinha, que eu sou assim guardei a caixinha do bombom, eu nunca vi esse bombom na minha vida.
P/1 – Tem um significado.
R – E eu nunca vi esse bombom na minha vida, eu não sei nem onde que compra daquele mas ele me deu, eu falei: “Opa, é isso aí mesmo” e fiquei feliz da vida, no outro dia tinha outra coisa lá pra fazer e eu já tava mais solta e já consegui, consegui relaxar mais, consegui ver mais na visão que eles queriam realmente e foi.
P/1 – E o menino, o Cleiton, foi aprovado?
R – Ele não foi aprovado, ele não foi aprovado infelizmente, muito gente boa, mas é assim que funciona, né.
P/1 – Fala da Jéssica um pouquinho, o que que tem, se tem alguma coisa do personagem que você se identifica ou que você, ao contrário, não gosta.
R – Tem muita coisa ao contrário, nossa, a Jéssica é a mulher, é a toda poderosa ninguém pode ir contra ela, é uma pessoa que...
P/1 – Ela tem quantos anos, a Jéssica?
R – Vinte e cinco, 26, não, ela tem 26, 26, a mesma idade que eu, é a toda poderosa, a loira falsa, ela é mais loira que isso que na hora fica mais loira.
P/1 – Esse cabelo é da Jéssica?
R – É, é mais loiro que isso, é loiro branco quase, enfim, é a toda poderosa, ninguém pode mais que ela e ela não deixa a peteca cair não, ninguém pode falar alto com ela, ninguém pode ser mais que ela, ela é a melhor e ponto, não tem gente, a Ana não, a Ana é tranquila, cada um tem o seu espaço, cada um
tem a sua verdade, cada um pensa de uma forma, eu não quero impor nada a ninguém, a Jéssica, ela impõe, tem que ser o jeito dela e acabou e é muito divertido fazer que eu pegou um pouquinho também de algumas pessoas do mundo do samba e eu relembro algumas coisas e eu acho, pô, eu acho, to achando ótimo e eu já falei que ninguém é igual a Jéssica, mas não tem algumas pessoas que têm algumas coisas, não totalmente, não o tempo todo, o dia inteiro, mas tem pessoas que tem um pouco de Jéssica não tudo nem totalmente, mas tem um pouquinho de Jéssica, ela é demais, ela é fogo na roupa , ela é muito.
P/1 – O que você traz de você, assim, pro personagem, quer dizer, a Jéssica também bomba nos bailes, ela dança?
R – Ela dança e eu amo dançar, a Jéssica dança e isso foi muito bom porque eu pude, caramba, poder dançar pra mim foi ótimo e atuar é uma coisa nova pra mim e eu acho e é difícil pra mim também, é muito difícil, eu tento aprender com as pessoas que estão próximas, o Flávio, o Oliveira, a Dani, eu tento aprender com eles, eu vejo eles fazendo: “Pô, caramba, que cena linda” e eu falo pra eles: “Caraca, você fez muito bonito, cara, como é que você conseguiu?”, entendeu.
P/1 – Você que conhece Madureira, como é que você ta vendo a Madureira retratada aí na minissérie?
R – Eu acho, porque essa Madureira de agora é muito diferente daquela dos anos 80 porque retrata os anos 80, 80 e pouco, quase 90, então é um pouco diferente eu não conhecia exatamente como era antes, só que ta, eu acho muito pacato nesse momento pacato, tudo bonitinho, Madureira é um fervo, é um negócio pegando fogo, é gente andando, descendo, falando, gritando e correndo e tudo ao mesmo tempo, é o que é a casa de mãe Bia a casa de mãe Bia é isso, é uma casa que não para o tempo todo e esse desce e sobe de Madureira de gente andando pra lá e pra cá é a turma de Jéssica, que não para um minuto, é, é a turma da Jéssica que ta o tempo todo andando e botando o terror na rua e não para, que é isso, é essa agitação toda que é a Jéssica que agita a história, a história é linda, é uma menina que veio do interior, linda a história, muito bonitinha, muito gostosinha, que eu choro quando eu leio, eu choro, nossa, super linda, só que a Jéssica é a pimenta da história, é ela que vai, ela vai disputar o tempo todo com um doce de pessoa que é a Conceição coisa mais linda, mais mimosa e o fogo é todo é pra Jéssica.
P/1 – O que é o subúrbio pra você?
R – O subúrbio é um local onde tem pessoas que são próximas, que os vizinhos são como se fossem parentes, que a gente pode ser íntimo com todas as pessoas, você fala com o seu vizinho da janela da sua casa, entendeu, é isso, é você ter mais contato com as pessoas, eu acho que o subúrbio é
muito gostoso é gostoso ser do subúrbio eu acho que é ótimo e eu acho que ta sendo retratado de uma forma maravilhosa, exatamente é isso que é a minha casa, quase uma casa de mãe Bia o povo entrando, saindo, falando ao mesmo tempo, ta falando com um, daqui a pouquinho o outro já ta se metendo, o outro já ta falando, aí um briga daqui a pouco já tão se entendendo, essa confusão é o subúrbio essa confusão gostosa e familiar que acolhe a gente é o subúrbio, são as famílias do subúrbio que acham que tem só coisa ruim, tem muita coisa boa, muita coisa boa, tem a parte de ruim que é a parte que retrata as comunidades a Jéssica com o bando dela , mas tem essa parte gostosa que é a melhor parte imagina passar a infância no subúrbio, a melhor coisa, você correr com o pé no chão pra cima e pra baixo, subir, soltar pipa na laje, as adolescentes dourar o pelo na laje, ah que coisa boa, vou pra praia nada, vou ficar com a marquinha aqui na laje mesmo, ta ótimo.
P/1 – Jéssica faz isso?
R – Jéssica faz tudo, a Jéssica faz tudo isso, ela é suburbana nata, ela é suburbana mesmo ela faz tudo isso, ta sempre com os pelinhos loirinho .
P/1 – Igual a Ana, a Ana também.
R – A Ana tem que pintar, a Ana, a Jéssica tem que ta com o pelinho loirinho, que tem que ta que o personagem pede isso, ela vai pra praia pra, passa e passa o seu descolorante na praia, isso é coisa de quê? Suburbano, que tem a cena da praia que ela passa descolorante na praia, tem que ta com o pelinho sempre loirinho a Jéssica, linda, maravilhosa, com os pelinho loiros .
P/1 – Você grava de biquíni, você vai à praia?
R – Vou à praia, tenho um maiozão, um fio ela é muito nua, é uma coisa muito sensual, muito, ela mostra tudo mesmo e não ta nem aí, quem não quiser ver que tape os olhos que a Jéssica chegou.
P/1 – Alguma cena muito difícil que você fez?
R – Muito difícil? Pra mim tudo é muito difícil porque atuar eu acho difícil eu acho difícil atuar, mas até o momento eu to achando tranquilo, eu não gravei muitas coisas ainda, que é a parte da Jéssica é mais a parte do baile que a gente vai gravar, mas eu acho que ta sendo bom, ta sendo gostoso, eu to aprendendo, cada cena que eu faço depois eu fico refletindo: “Poderia fazer melhor assim, mais assado”, a gente, sabe, tem essa coisa de querer, eu sou perfeccionista, eu acho que não ficou bom, eu poderia ter feito mais uma vez, eu acho que ficaria melhor.
P/1 – Você fala com o Luís Fernando?
R – Não, eu penso só, eu não falo pra ele porque ele ta gravando muitas coisas ao mesmo tempo, mas eu penso: “Caraca, será que ficou bom o suficiente?”, eu pergunto pras pessoas, eu pergunto se ficou bom: “Você gostou, seja sincero, não precisa falar porque ta na minha frente, você gostou? Você acha que poderia ser”, aí tem gente que fala assim: “Pô, eu gostei muito dessa, pô acho que essa aqui você poderia, entendeu, poderia melhorar, acho que nessa hora você poderia”, eu: “Poxa, é mesmo”, aí eu refaço em casa, pô, entendeu, eu tenho muito isso, eu quero que fique bom.
P/1 – Você pensa um final pra Jéssica?
R – Penso, eu acho que ela tem que ser a dona do morro , é, porque o Tutuca morreu, Cleiton, eu acho que ela tem que ser a dona do morro, acho que ela tem que acabar sendo a dona do morro: “Eu sou a dona do morro, ah, Cleiton, não tem mais ninguém dono do morro, agora sou eu”, eu acho o Luís Fernando é que sabe dessa história .
P/1 – Ana, a gente devagarzinho vai encerrando, em relação a sonhos, você tem muitos ainda, coisas que você gostaria alcançar?
R – Ah, eu só vivo sonhando, eu sempre tenho sonhos, quem não tem sonhos pode morrer, eu tenho, eu tenho um sonho de ter a minha casa, a minha casa, o meu quarto , sabe, um quarto pra mim, com a porta fechada, eu não tenho porta no meu quarto eu tenho sonho de ter uma casa que eu tenha um quarto, que eu tenha o meu cantinho, sabe, eu acho que todo brasileiro tem ah, eu sou mais uma nesse sonho de ter o seu canto ter um quartinho pra eu ficar, minha particularidade, essas coisas.
P/1 – E o namorado?
R – Eu tenho namorado, meu namorado é um fofo tudo, me apoia em tudo, ta sempre comigo pra tudo que eu preciso e que eu gosto muito dele .
P/1 – E a Conurb, vai deixar?
R – Já deixei, ela ta, não, ela ta lá quietinha, só que ninguém sabe que eu vou fazer ninguém sabe que eu vou.
P/1 – Você pediu demissão?
R –Não, eles não quiseram mais ficar comigo, eu não ia mais trabalhar, eu não fui mais, simplesmente.
P/1 – Não teve nem atestado que desse jeito.
R – Eu não fui mais, não, que atestado.
P/1 – Você desencanou?
R – Não, não fui mais, então agora o que, to sendo, ah, to fazendo não sei o que, então to fazendo isso daqui, ó, não fui mais, aí eles falaram: “Opa, então também a gente não pode ficar com você”, aí eles, fui desligada, aí eu fui desligada oficialmente direitinho, só que eu não ia mais, não fui mais, agora to aqui.
P/1 – E o samba, continua?
R – O samba eu continuo, às vezes eu to gravando, não da pra ir, o pessoal já entende que eu falei: “To trabalhando muito”, mas ninguém sabe o que que eu to fazendo, na minha família só a minha mãe e meu irmão, ninguém sabe que eu to fazendo porque eu acho que, eu não gosto que as pessoas entrem muito na minha vida, entendeu, no que, me deem muita opinião do que eu devo fazer, do que, não, eu vou fazer, aí depois você vê, eu vou fazer mesmo, não tem jeito eu vou fazer, depois quando você ver aí você fala se ta bom, se ta ruim, vai me dar um toque.
P/2 – E qual é a desculpa que você da pra essa sua ausência?
R – To trabalhando.
P/2 – Na Comlurb?
R – Não, eu estou trabalhando, eu faço eventos, faço show, faço um monte de coisa, eu viajo fazendo os meus trabalhos e to trabalhando, entendeu, eu continuo trabalhando da mesma forma, só que as pessoas não precisam saber exatamente o que a gente ta fazendo eu não quero também que as pessoas fiquem emocionadas com uma coisa que eu to reservando isso, eu to reservando isso, então eu quero viver isso junto com eles, quando eu aparecer na televisão e eu for ver eu vou achar o máximo, então eu quero curtir junto com eles, se eu falar agora eles vão curtir, falar pra todo mundo, vai falar, não é isso que eu quero, a minha intenção é de fazer um trabalho legal e que a galera ache bom o meu trabalho, não quero que as pessoas fiquem: “Caraca, a minha prima vai aparecer na televisão”, não quero, isso eu não quero.
P/1 – Você pode imaginar como é que vai ser o primeiro dia da minissérie, onde é que você vai ta, onde você vai ver?
R – Eu vou ver com a minha mãe e com o meu irmão , eu vou ver com a minha mãe, com meu irmão, eu vou ficar lá com eles sentadinhos, vamos ver, gente, aí meu Deus, quando eu aparecer eu acho que eu não vou querer ver não, não gosto muito de me ver, mas eu acho que vai ser bacana, vai ser bacana, mas eu não crio nenhuma expectativa, eu sei que vai ser bom porque to trabalhando com pessoas maravilhosas, mas não penso em nada depois, o que vai ser, nem quero pensar, sabe, Deus sempre me conduziu pelo caminho, por um caminho bom, sempre me levou pro lugar certo na hora certa, sempre, em todos os momentos da minha vida, então agora não vai ser diferente, não vai ser diferente, então quando, o que for que vai acontecer depois vai acontecer depois, então eu não quero viver agora o que vai acontecer depois, quando acontecer, o que for acontecer depois ta lá guardado, que vai acontecer ainda, então por hora eu to curtindo essa ansiedade de gravar: “Será que eu to fazendo bem, será que eu não to, será que vai ser legal fazer dessa forma? Eu vou experimentar assim, pô, será que fica bem?”, perguntar às pessoas que tem mais vivência, Carnevalli que ta sempre ali comigo: “Pô, Carne, e aí, foi bom?”, “Aí foi bom assim, pode fazer assim, assado”, entendeu, fazer um bom trabalho agora e depois como vai ficar isso tudo, eu quero assistir junto com eles e ter essa emoção junto com eles, com a minha família e o que vai vir depois disso é depois, então não to pensando nisso, eu quero viver isso agora, que ta muito bom, eu to aprendendo muita coisa e é isso.
P/1 – Ana, o que você achou de dar o depoimento contando um pouquinho da sua história de vida, da sua trajetória pessoal e profissional?
R – Eu falo muito achei o máximo achei muito bom, que alguém achar que a minha história é interessante achar que a história é interessante e a história é minha, é minha vida que eu vivi eu acho isso muito bom, nossa eu fico muito feliz das pessoas acharem bom falar sobre a minha história, então quer dizer que deve ter algum proveito isso, hein, , devo ta passando, devo passar isso pra alguém ou alguma coisa boa pra alguém eu acho que sempre, qualquer coisa que você for fazer na vida, qualquer coisa, seja lá o que for, você tem que ta querendo sempre passar alguma coisa boa por isso que eu falou que no samba tem que ter, você tem que passar uma energia legal pras pessoas, porque tudo o que você faz você tem que passar uma coisa boa, porque o que vai de bom volta de bom, então você passa uma energia boa você vai receber num olhar essa energia boa e você vai com aquilo pra casa, imagina que coisa boa você deu a energia legal pra pessoa, você recebeu aquela coisa boa e ficou tudo bom, ficou, o ambiente ficou, agora, se você, se a sua energia ta diferente a coisa já não vai na mesma vibe.
P/1 – Nossa, você energizou aqui. Muito obrigada pelo depoimento incrível, eu te agradeço a participação no projeto.
R – Obrigada vocês, muito bom.Recolher