Entrevista de Nelma Rocha Santos
Entrevistada por Bruna Oliveira e Luiza Gallo
São Paulo, 09/09/2021
Projeto Mulheres no Mercado Rodo- Porto - Ferroviário - Rumo Logística
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1076
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Bruna Oliveira
P/1 – Vamos lá! Nelma, para começar, eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome, a data e o local do seu nascimento.
R – Meu nome é Nelma, Nelma Rocha Santos, nasci na cidade de Ruy Barbosa, Salvador, Bahia.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava João Rocha Santos e minha mãe se chama Maria Neusa dos Santos.
P/1 – E o que eles faziam?
R – A gente morava no interior da Bahia. Minha mãe era do lar, trabalhava na roça e meu pai trabalhava de vigilante fora e a cada quinze, vinte dias ele ia para casa. E minha mãe ficava com toda responsabilidade de cuidar de seis filhos.
P/1 – E como você descreveria o seu pai e a sua mãe? E você sabe como eles se conheceram?
R – Como eles se conheceram eu não sei. Eu nunca tive curiosidade de procurar pra eles, mas eu amava muito quando ele chegava de viagem porque, como minha mãe trabalhava mais para a roça, trabalhava por conta, a gente ficava mais pra dentro de casa, o mais velho cuidando do mais novo. E quando meu pai chegava, nos vinte dias, quinze dias que ele estava fora, aí era uma felicidade, tanto pra mim, como pra todos os irmãos, né? Porque aí ele levava a gente na lanchonete, que lá era mais barzinho. Naquela época lá não tinha lanchonete que nem tem aqui agora e levava a gente para comer salgado. Às vezes, levava a gente para caçar, porque ele gostava muito de caçar naquela época e foi um dos melhores momentos que eu tive na minha infância. Foi uma vida muito sofrida, devido ao lugar, devido a ser criada só pela mãe, com bastante irmão pequeno, mas eu amo minha família. Não tenho meu pai, faleceu, mas agradeço a Deus por tê-lo me dado como...
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Entrevistada por Bruna Oliveira e Luiza Gallo
São Paulo, 09/09/2021
Projeto Mulheres no Mercado Rodo- Porto - Ferroviário - Rumo Logística
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1076
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Bruna Oliveira
P/1 – Vamos lá! Nelma, para começar, eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome, a data e o local do seu nascimento.
R – Meu nome é Nelma, Nelma Rocha Santos, nasci na cidade de Ruy Barbosa, Salvador, Bahia.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava João Rocha Santos e minha mãe se chama Maria Neusa dos Santos.
P/1 – E o que eles faziam?
R – A gente morava no interior da Bahia. Minha mãe era do lar, trabalhava na roça e meu pai trabalhava de vigilante fora e a cada quinze, vinte dias ele ia para casa. E minha mãe ficava com toda responsabilidade de cuidar de seis filhos.
P/1 – E como você descreveria o seu pai e a sua mãe? E você sabe como eles se conheceram?
R – Como eles se conheceram eu não sei. Eu nunca tive curiosidade de procurar pra eles, mas eu amava muito quando ele chegava de viagem porque, como minha mãe trabalhava mais para a roça, trabalhava por conta, a gente ficava mais pra dentro de casa, o mais velho cuidando do mais novo. E quando meu pai chegava, nos vinte dias, quinze dias que ele estava fora, aí era uma felicidade, tanto pra mim, como pra todos os irmãos, né? Porque aí ele levava a gente na lanchonete, que lá era mais barzinho. Naquela época lá não tinha lanchonete que nem tem aqui agora e levava a gente para comer salgado. Às vezes, levava a gente para caçar, porque ele gostava muito de caçar naquela época e foi um dos melhores momentos que eu tive na minha infância. Foi uma vida muito sofrida, devido ao lugar, devido a ser criada só pela mãe, com bastante irmão pequeno, mas eu amo minha família. Não tenho meu pai, faleceu, mas agradeço a Deus por tê-lo me dado como pai.
P/1 – E a relação com a sua mãe, como é que era?
R – Ah, a relação com minha mãe é boa e também é meio rígida, porque minha mãe é meio rígida. Aquele povo, sabe, daquela época, mas é uma pessoa muito boa. Sofreu muito, muito batalhadora e que, inclusive, eu já fiz de tudo para ajudar. Aos quatorze anos fui cuidar de criança, trabalhei em casa de família, para ajudá-la, né?
P/1 – E você falou que você tem seis irmãos, você está em qual posição, assim, do nascimento? (risos) E como é que é a sua relação?
R – Eu tenho seis irmãos, mas, estes seis irmãos que eu tenho são do meu pai e da minha mãe. Minha mãe já tinha um casal, antes de conhecer meu pai. E, dos meus seis irmãos, eu sou a segunda do meu pai. Não, a primeira fui eu e o segundo foi meu irmão. Eu sou a primeira. Aí eu tenho uma irmã e um irmão mais velho, que foram do outro casamento que minha mãe teve.
P/1 – E você conhece a história dos seus avós?
R–Ah, mais ou menos, porque eu não conheci meu avô, conheci minha avó. Era uma pessoa muito boa, gostava muito dela, mas quando ela faleceu, eu não estava presente, porque ainda na minha infância, eu saí da cidade que eu nasci, para morar em Salvador. E ficou minha avó lá. Tanto minha avó por parte de pai, quanto por parte de mãe. E as duas faleceram e, quando faleceram, eu não estava no momento lá, estava em outra cidade. Aí eu não consegui ver mais minha avó, mas pouco tempo depois que eu fui pra Salvador, eu fui pra lá pro interior, na cidade de Ruy Barbosa e fiquei uns dias na casa da minha vó. E minha avó era uma pessoa muito boa, um coração muito bom, ajudava, acolhia todo mundo. Se você chegasse na casa dela e falasse que não tem onde ficar, mesmo ela não te conhecendo, ela abria a porta dela e eu amava muito a minha vó e a amo ainda, né? Só ficou a saudade, mas quando ela faleceu, eu não estava, no momento.
P/1 – E a sua família, quando você era bem pequenininha, você lembra se sua família tinha costumes? Comida, data comemorativa, assim, que você lembra que era comemorada?
R – Olha, uma coisa que eu gostava muito e que fazia na minha infância e depois não fiz mais e que, inclusive, eu tenho muita saudade dessa época: na época do Natal, reuniam todos os meus tios, minhas tias, meus avós e faziam aquele banquete. Uma das épocas que eu mais gostava era São João, eu tenho uma tia que ela sempre é mestre de cozinha, ela fazia tudo aquilo que é de São João, tudo ela fazia. E era uma época que foi a única que eu podia ganhar alguma coisa de presente, o mais simples que fosse. Uma tia ou outra dava alguma coisa, entendeu? E era uma época que eu lembro muito, até hoje não esqueci, era época de São João, onde minha tia fazia aquele banquete e reunia toda a família. Depois que a gente se mudou para a cidade de Salvador, aí acabou, porque, só foi minha mãe e meu pai pra lá, meus irmãos. E ficou difícil para manter essas coisas, meu pai trabalhando de vigilante, fora. O que eu tenho saudade mesmo são dessas épocas.
P/1 – E você sabe a história do seu nascimento e como foi escolhido seu nome também?
R – Então, essa dúvida eu tenho até hoje, porque eu já perguntei para minha mãe o porquê desse nome porque eu, na verdade, acho feio (risos) e eu queria saber o significado, que até hoje eu não consegui saber. Mas ela não soube me explicar o porquê do nome, ela falou que foi o meu pai que escolheu, mas não falou nada mais a respeito e é isso.
P/2 – Nelma, como era um dia normal, na roça? Quais eram as atividades? Cada um tinha uma atividade? Como é que era?
R – Quando eu morava lá na Bahia?
P/2 – Isso.
R – Então, era assim: eu cuidava dos meus irmãos mais novos, porque era mais velha, eu cuidava do mais novo. Enquanto a minha mãe ia trabalhar na feira, tinha uma barraca de feira e ela estava lá sempre, aí eu ficava, mais ou menos, acho que com dez, onze, doze anos, eu já cuidava dos meus irmãos. Eu cuidava dos meus irmãos menores, da casa, limpeza, tudo, tudo era eu. E aí minha mãe estava em casa sempre no fim da tarde. E quando a gente ia para a roça, era a mesma coisa, ia todo mundo e ficava ali, o dia inteiro na roça. E era uma época que, hoje, olhando bem, tem gente que não gosta, mas era uma época que eu amava muito, sabe? Se eu pudesse, eu criaria meus filhos todos na roça também, (risos) porque o tempo está difícil.
P/1 – Você falou que você foi pra Salvador. Com quantos anos você foi?
R – Eu fui pra Salvador eu devia ter uns doze anos, mais ou menos, eu tinha doze anos e aí fiquei lá até os quinze. Aos quinze anos, eu vim para São Paulo, aqui pro interior de São Paulo, para Sumaré.
P/1 – E você lembra, voltando um pouquinho para sua infância, como era a casa em que você morava, quando você era pequena?
R – Então, a casa era daquelas casas de piso queimado vermelho, tinha um fogão de lenha que minha mãe fez, ela mesma, a gente cozinhava de lenha e na época, não tinha água encanada também, a gente tinha que andar muito distante para buscar água. A gente buscava água no sítio daquelas pessoas que tinham chácara, sítio, e doavam água. Aí a gente, nessa época, buscava água para poder fazer comida, lavar roupa e limpar a casa. E a casa era um piso queimado, lembro que a casa era bem grande, tinha uns três ou quatro quartos. Mas bem grande mesmo e o fogo de lenha. E tinha muito quintal em volta, tinha um pé de laranja e, nessa época, eu amava brincar debaixo dos pés de árvore, fazer comidinha, era uma época, assim, que eu me sentia criança. Uma época que eu cuidava dos meus irmãos menores. Aí, tinha umas amigas na época, que a gente brincava e fazia comidinha de verdade, como tinha bastante pé de chuchu, essas coisas, a gente fazia. E era muito boa a nossa época na roça.
P/1 – E como era o bairro e a cidade em que você morava?
R – Então, a cidade é uma cidade pequena, casas muito simples, tinha muitas casas de taipa, feitas com madeira, batia o barro. E as ruas eram simples, a maioria das ruas não tinha calçada, era mais terra mesmo e muita serra. Aquelas serras enormes e nessa serra a gente ia, né? Minha mãe ia buscar umas flores chamadas Parasitas, que ela vendia na feira. É uma flor que vendia muito, cheira muito, durava uma semana dentro de casa. E a gente andava muito, muito para chegar nessa serra, subir morro, pra pegar essas Parasitas, pra poder ela vender na serra. E foi uma época, assim, sofrida e boa, porque foi a melhor época da minha vida, né, na verdade. Foi a minha infância, com meus pais, meus irmãos menores e eu gostava muito dessa época.
P/1 – E você falou das brincadeiras, que brincadeiras eram as suas preferidas? E você brincava com seus amigos, como que era?
R – Então, as brincadeiras que eu mais gostava eram aquelas em que a gente fazia comidinha, brincava de casinha, só que as nossas casinhas já eram debaixo das árvores, aquelas árvores cheias, com espaço embaixo, a gente fazia fogo, aquele fogãozinho a lenha mesmo, no chão, fazia comida e eu tinha duas amigas que gostava muito naquela época, que sempre estavam comigo. E depois a gente começou a brincar com essas brincadeiras de pular corda, pega-pega, tinha uma brincadeira que eu gostava muito ______, que era de elástico e a gente gostava dessas brincadeiras antigas, sabe, que hoje a gente não vê mais. Eu amava essas brincadeiras.
P/1 – E você pensava, assim, quando você era pequena, se tinha uma coisa que você queria ser quando crescesse, assim, uma profissão, você sonhava com alguma coisa?
R – Então, quando eu era pequena, eu queria muito ser policial, eu amava, sabe? Muito, muito, mesmo, ser policial. Aí eu falava para minha mãe que, quando eu crescesse, eu ia ser policial. Mas não deu, né? Devido a minha situação, tudo, meio de vida, não deu para conseguir, mas chegou uma época também que eu queria fazer enfermagem, trabalhar com saúde, mexer com pessoas, ajudar as pessoas. Mas, até agora, no momento, eu não consegui fazer, mas quem sabe um dia? (risos)
P/1 – E você, nessa época, antes de ir pra Salvador, já tinha ido para a escola?
R – Então, eu estudava, só que a escola era muito longe, era mais de hora para chegar na escola e eu tinha que ir andando. Nessa época, a minha mãe não tinha condições para comprar material escolar. Eu lembro que a gente conseguiu caderno e não tinha mochila, a gente levava os cadernos em sacolinha normal de mercado, mas eu ia muito feliz, muito feliz mesmo pra escola, mas era muito longe. Chegava muito feliz na escola, só que aí, às vezes, eu ia, às vezes eu não ia, porque dependendo minha mãe tinha que manter a casa sozinha, tinha meus irmãos menores e eu tinha que cuidar. Aí, tanto é que eu fiquei meio pra trás, quando eu fui embora pra Salvador, eu tinha acho que uns onze, doze anos e eu não tinha quase estudo nenhum, sabe? Não tinha quase estudo nenhum. Quando eu fui pra lá, eu estava o quê? Na segunda ou terceira série, quarta série, um negócio assim, mesmo. Aí foi lá que eu fiz um pouco e vim terminar aqui, depois de adulta já, que eu vim terminar os meus estudos.
P/1 – E, nessa época, qual é a primeira lembrança que você tem da escola? Você lembra?
R – A primeira lembrança que eu tenho é que tinha muita vontade de aprender. Tinha muita vontade de aprender, inclusive quando eu comecei a aprender a ler, eu fiquei muito feliz, foi uma felicidade tão grande. E também ficava muito feliz de ir pra escola mais por causa das merendas, porque na época tinham coisas que davam na escola que eu nunca comi em casa, não tinha. E, naquela época, naquela escola da Bahia, eles davam muita coisa diferente. Eles davam coisa que até hoje não dá nessas escolas daqui: eles davam feijoada, arroz doce, davam canjica, porque lá o nome é mugunzá, davam todas essas ‘coiseiras’. E, na verdade, eu e meus irmãos íamos muito felizes, era merenda também, que a gente não tinha em casa, nessa época. Mas eu gostava muito da escola, o dia que eu não podia ir pra escola eu chorava, tinha dia que minha mãe falava assim: “Não, hoje você não pode ir, porque hoje eu vou ter que fazer tal coisa e você tem que ficar com as crianças”. Porque meus irmãos eram todos menores e eu cuidava, eu lembro que eu tinha dez, onze anos, nove, dez, onze anos e eu cuidava. Tinha uma irmã minha que já tinha um aninho, outro tinha dois aninhos, aí vinha outro depois, aí vinha outro irmão. Era uma responsabilidade bem grande, né? Mas não deu, naquela época, para terminar muita coisa lá, mas eu corri atrás depois. Foi uma época muito boa. Eu não consigo esquecer, que era a época de convivência com a minha mãe, meu pai, coisas que com o tempo depois, perdeu. Com a separação deles depois, perdeu.
P/1 – E ainda na escola, você teve algum professor, alguma professora, que foi marcante para você?
R – Eu tive uma professora que eu gostava muito, só que eu não lembro mais o nome dela. Eu a amava muito, ela era uma professora muito boa. Ensinava bem, ela era muito dedicada e eu gostava muito dessa professora, naquela época eu achava que era uma segunda mãe. Mas eu não lembro mais o nome dessa professora, devido tanto tempo, né? Eu gostava muito dessa professora. E, naquela época, tinha uma coisa que eu gostava muito. Naquela época, tinha aquela história da palmatória, a professora podia bater, podia colocar atrás da porta no milho, sabe? Eu já vi, já. Lembro que tinha colegas que ficavam direto atrás da porta, ajoelhados no milho, porque aprontavam muito e já vi muito aluno que a professora batia mesmo, de palmatória, nas mãos, porque naquela época era autorizado pelos pais e tudo, né? E eu me lembro dessa época e era uma época boa. Eu acho que deveria voltar isso aí. (risos)
P/1 – E quando você tinha doze anos, você falou que você se mudou, né? E por que vocês foram para Salvador, você sabe? E como que foi?
R – Então, quando a gente foi pra Salvador, é que é assim: meu pai trabalhava fora, ficava cada quinze, vinte dias fora. E ele trabalhava em Salvador, na verdade, trabalhava num colégio chamado Colégio São Paulo, que é um colégio particular que tem em Salvador ainda tem até hoje. Ele trabalhava de vigilante nesse colégio e, como ele estava muito tempo trabalhando fora e minha mãe cuidando só da gente, ele conseguiu uma casa, num bairro chamado Sussuarana Nova, em Salvador e aí ele foi e buscou a gente, buscou minha mãe e a gente para ir pra essa casa e era uma casa bem simples, aquelas casas bem simples, mesmo. Lembro que na época que a gente chegou lá molhava, tinham aquelas ratazanas, foi o sofrimento dele para arrumar, cuidar e a gente ficou um tempo ali, até vir embora pra São Paulo. E a gente ficou um tempo ali, mais ou menos até 1992, eu acho que em 1992, aí meu pai se separou da minha mãe, né? Aconteceu um fato, eles se separaram e aí, a gente teve que se separar. Minha mãe veio pra São Paulo, ficou aqui com as minhas duas irmãs mais novas e meu irmão e ficou três lá com meu pai, que fui eu, mais dois irmãos. E aí ele estava trabalhando e estava ficando ruim dele cuidar da gente, aí ele foi e mandou a gente pra ela, mandou os três pra ela de volta. (risos)
P/1 – E ainda em Salvador, quando você morava no interior, né? Aí você foi pra Salvador, você lembra como foi pra você chegar em Salvador? Como que foi?
R – Então, a gente foi de ônibus, né? Demorou acho que, mais ou menos, umas nove horas de Salvador até o interior, mas eu lembro que eu fiquei triste de ir pra lá, porque eu deixei minha vó lá, que eu gostava muito, eu lembro que na época eu chorei, quando eu estava vindo, mas quando eu cheguei em Salvador eu fiquei muito feliz, porque meu pai e minha mãe estava, todo mundo junto, meus irmãos, lá estava todos separados e foi melhor, porque a gente estava mais junto com o pai e com a mãe. Aí a minha mãe arrumou uns bicos de faxina, de limpeza de condomínio e lembro que, nessa época, ela colocou minha irmã mais nova na escola e nessa época a gente entrou na escola também, só que no horário que a gente não estudava, iam eu e meus dois irmãos mais velhos ajudá-la nessas faxinas no condomínio. Foi um momento muito bom, a gente viveu muito assim, sabe? Praticamente a vida toda cuidando dos irmãos, fazendo faxina para ajudar em casa. E eu lembro que, quando eu cheguei em Salvador, acho que uns dois anos depois, fui trabalhar numa casa, porque começou a faltar as coisas em casa, a casa estava pequena, não tinha espaço para pôr cama pra todo mundo e eu fui morar nessa casa, era uma casa de uma polícia civil. Uma delegada civil que morava em Salvador e eu fui morar no apartamento dela e ia para casa só nos fins de semana. Mas fiquei um tempo com ela, depois, com quatorze anos eu arrumei uma casa. Eu cuidava de sete crianças numa casa (risos), para receber cinquenta reais por mês, era o jeito que eu tinha pra ajudar. Naquela época não tinha como, muita coisa, né? Aí foi assim, eu fui seguindo em frente.
P/1 – E o dinheiro, todo o dinheiro que você ganhava era pra ajudar em casa?
R – Então, é que não dava muita coisa. Eu ajudava em casa e, quando dava, eu comprava uma peça de roupa. Que não era sempre, assim, de vez em quando eu comprava.
P/1 – E quando você… primeiro vem sua mãe para Sumaré e você sabe por que ela veio pra São Paulo? Por qual motivo ela decidiu vir pra cá?
R – Então, é que aconteceu um fato de separação com meu pai. Não estava dando mais certo, estava tendo muita briga e ela pegou e veio. Porque aqui em Sumaré, a gente tem a minha tia, era a única irmã que ela tinha, que ela tem. Minha mãe só tem uma irmã, minha avó teve um casal de gêmeos que faleceu e só restou viva minha tia, que é irmã da minha mãe. Como a minha mãe não tinha mais a mãe dela, tinha falecido e ela só tinha a irmã dela que estava aqui, aí ela conseguiu uma casinha e veio pra aqui, ela resolveu ficar perto da irmã, como separou do meu pai, ela preferiu ficar perto da irmã. Aí, por isso que ela veio.
P/2 – E, Nelma, como foi esse momento para você, como você se sentiu, com a separação dos seus pais? Você primeiro ficou com seu pai e depois você foi morar com a sua mãe, né?
R – Então, eu me sentia muito mal, eu fiquei triste, porque eu queria muito que os dois ficassem juntos, eu fiz de tudo, mas você sabe que criança não manda em nada, né? E, inclusive, quando eles brigaram, que eles iam separar, eu por duas vezes tentei tirar minha vida, tentei me enforcar, teve uma outra vez que eu fui à praia e me joguei, alguém me salvou, que eu não sei quem é até hoje. Plano de Deus. Mas eu fiquei muito triste, fiquei muito abalada, meus irmãos ficaram todos abalados, mas aí passou o tempo e a gente se acostumou.
P/2 – E você comentou da sua avó, teve alguma história marcante com ela?
R – Com a minha avó?
P/2 – É.
R – Ah, tinha sim, porque a minha avó era uma pessoa que se dava com todo mundo, tinha muita amizade e quando ela ia na casa daquelas pessoas, minha avó tinha criação de porco e ela sempre ia nas casas das pessoas que tinham mais condições, buscar restos de comida para dar pros porcos e ela sempre me levava. Eu amava sair com ela, a gente saía cedo e voltava de noite. E tinha os momentos que minha avó sofria muito, na época, com meu avô. Aquelas pessoas que não ajudavam e não largavam também, mas queria que a pessoa ficasse com ele, de qualquer jeito, dentro de casa, não fazia nada em casa. Meu avô era desse jeito, mas minha avó ia e minha avó foi assim, foi uma boa avó, me dava muito carinho, a gente saía muito e ela vivia batalhando também, para cuidar da casa, pra cuidar de tudo.
P/2 – Minha última pergunta: (risos) Nelma, como você foi se reerguendo, após a separação?
R – Não entendi.
P/2 – Como você foi se reerguendo, após a separação dos seus pais? Voltando a se sentir bem, como aconteceu isso, você consegue identificar?
R – Então, depois que minha mãe veio pra Sumaré, acho que durou uns dois, três anos e eu ainda estava meio assim. Mas aí foi passando o tempo, comecei a estudar de novo, comecei a fazer supletivo, comecei a trabalhar de novo de bico, a cuidar de criança e foi passando o tempo. Mas sempre eu estava ligando pro meu pai, pra saber como que estava. E é isso, até quando chegou o dia que ele faleceu. Inclusive, foi muito triste esse dia, porque eu tive um sonho à noite, meu pai falava assim para mim: “Nelma, você sabe onde tem alguma parte da Bíblia, que faz acalmar um coração angustiado?” Ele falava desse jeito. Aí eu peguei e falei: “Pai, leia o salmo 91, é muito bom!” Isso foi no sonho. Aí, quando foi, acho que dois dias depois, a gente teve a notícia que ele tinha falecido. Meu pai morava sozinho e ele foi achado morto depois de três dias e ele faleceu no mesmo dia do aniversário do meu filho. Meu filho faz aniversário dia sete de julho, aí a gente recebeu a notícia que ele tinha falecido e ele faleceu no mesmo dia, pelo perito ele faleceu no dia 07 de julho de 2012. Aí, nesse dia foi muito ruim pra mim, porque eu pensava em fazer um bolo para o meu filho e não consegui, tive que viajar correndo, mas não consegui chegar lá no enterro, porque já tinham achado o corpo dele tinha três dias e, desse dia pra cá, eu ‘tô’ levando a vida. Não voltei mais lá em Salvador, fui em 2012 para o enterro dele. Inclusive, tem uma irmã minha lá que sempre se preocupa, está sempre ligando, falando que está com saudade. Eu já marquei umas três vezes para ir visitá-la e não consegui. Eu estou pedindo a Deus para dar tudo certo, pra eu vê-la.
P/1 – Nelma, e quando você veio pra... quando seu pai te mandou pra São Paulo, para Sumaré, como que foi chegar aqui?
R – Então, ele só falou que ia ter que mandar a gente. Estava eu e meu irmão mais velho... quer dizer, o mais velho mais próximo de mim. Porque eu sou a mais velha. Ele falou que ia ter que mandar a gente pra minha mãe porque, como ele trabalhava à noite, trabalhava de vigilante, ele não estava conseguindo manter, cuidar da gente, ele estava preocupado, aí ele foi, comprou a passagem, colocou a gente no ônibus. Eu lembro que eu nem queria vir também, preferia ficar lá. Estava acostumada lá, tudo e meu irmão ficou meio triste, mas a gente veio. Mas aí, quando eu cheguei em Sumaré, eu fiquei meio assim, conheci minha tia que eu nunca tinha visto. A irmã da minha mãe. Conheci uma família que eu nunca tinha conhecido e a gente foi levando a vida, a gente se matriculou na escola. Ia também quando podia, não ia direto. E foi assim. Aí, quando tinha dezesseis anos, eu conheci o pai dos meus dois filhos mais velhos. Era uma época em que a casa era muito pequena, não tinha espaço pra nada, aí eu fui morar com ele, eu tinha dezessete anos e tive esses dois filhos, um menino e uma menina, que agora tem dezoito e ela fez vinte e três, mas eu convivi uns nove anos e não deu certo, porque ele era muito, muito ciumento, muito briguento e eu fiz de tudo para sair fora. E aí fiquei cuidando dos meus dois filhos sozinha. Sem ajuda dele, de ninguém, fazia faxina pra fora, saía de manhã e chegava de noite e aí estão aí, todos crescidos.
P/1 – Eu ia te perguntar: antes de você conhecer o pai dos seus dois filhos mais velhos, como era a sua adolescência? Você trabalhava e o que mais você fazia nessa época?
R – Então, eu fazia bico, cuidava de crianças. Cuidava de duas crianças no Centro, mesmo, da cidade. E ajudava em casa, na limpeza de casa, ajudava cuidando das minhas irmãs, preparando pra ir pra escola. Eu vivi minha vida quase toda desse jeito. Aí eu comecei a estudar também, que eu tinha parado. Eu me lembro que eu estava na quarta série. Acho que eu tinha dezesseis, dezessete anos e estava na quarta série ainda, aí eu comecei a estudar quarta, quinta e eu lembro que depois eu fiz supletivo, já tinha meus dois filhos, já, depois que eu fiz supletivo.
P/1 – E como era essa rotina, nessa época? Principalmente quando você foi morar com seu primeiro marido.
R – Então, a minha rotina, antes de morar com ele, era que eu saía cedo, ia cuidar de duas crianças, aí voltava, tomava banho e ia pra escola. Depois acho que eu fiquei uns meses namorando com ele, pra depois morar com ele, mas aí a rotina, ele queria me obrigar a sair da escola, aí começou a briga. Ele não queria que eu estudasse e eu queria estudar, debatia, eu falava que eu ia largar dele, que eu só ia ficar com ele se eu terminasse meus estudos. E nessa eu briguei, briguei, briguei, que eu consegui continuar estudando. Eu lembro que eu estudei até minha filha nascer, do meu filho também. E foi assim, saindo cedo de casa, fazendo faxina, voltando, fazendo limpeza de casa, cuidando de criança e depois, um tempo eu fiz um curso, eu arrumei um serviço como operadora na produção mesmo, eu trabalhava com extrusora, essas coisas. E eu fiquei um tempo nessa empresa, nessa época meu filho era pequeno. Ele trabalhava à noite e eu trabalhava de dia e a correria sempre a mesma.
P/1 – E como é o nome dos seus filhos?
R – É Juliana Santos da Silva, ela tem 23 anos, ela é de dezembro. E o Gabriel Honorato Santos da Silva, que ele fez 18 anos mês passado. E agora eu tenho… quer dizer, depois de tudo isso eu consegui, tenho um novo relacionamento, que eu sou amasiada, né? E eu tenho um menino de três anos e sete meses. Depois de 15 anos eu tive um menino de três anos e sete meses, só por Deus. É difícil. (risos)
P/1 – E como é o nome dele?
R – É João Pedro. Tem três anos e sete meses.
P/1 – E como foi se tornar mãe, naquela época e agora? Porque tem uma diferença, né? Mas como foi, naquela época?
R – Naquela época, assim, que adolescente não pensa muito. Naquela época eu não consegui engravidar, na verdade. Eu tive que fazer um tratamento com o ginecologista para eu engravidar, porque, naquela época, eu tinha o quê? Uns dezoito já, dezenove anos e eu não engravidava. Então, eu fiz um tratamento com o ginecologista, meu marido queria muito filho, aí eu tive minha filha. Aí eu coloquei o DIU, aí um tempo depois fiquei grávida, estava com o DIU, fiquei grávida e tive que tirar. Engravidei do meu filho aos dezoito anos, com DIU. E naquela época eu queria muito a menina, o menino eu chorei muito quando eu descobri, fiquei muito triste, porque eu não queria. Por causa da questão de vida, meio de vida, essas coisas e quinze anos depois, também estava com o DIU, senti muita dor, muita cólica, fui ao médico, chegou lá, meu DIU estava fora do lugar. Tive que tirar, esperar, por isso que engravidou. Dois meses depois eu estava grávida, (risos) depois de quinze anos, me bateu o desespero, chorei muito, muito mesmo.
P/1 – E naquela época, quando você ainda fazia faxina, você lembra como foi a primeira vez que você foi trabalhar, você lembra como você se sentia?
R – Então, eu conheci uma mulher que tinha uma empresa aberta no nome dela e ela mexia com esses negócios de faxina. E ela pegava duas ou três funcionárias e levava, deixava na casa e buscava só à tarde. E naquela época eu e minha cunhada íamos, só, ficava em cada casa, botava duas, três, dependendo do tamanho da casa. Deixavam a gente de manhã e pegavam no fim da tarde. E eu lembro que, às vezes, eu não tinha condições, não levava marmita e ficava o dia inteiro trabalhando e tinha casa que dava marmita, o pessoal dava comida e tinha casa que não dava. Inclusive, tinha pessoas que, às vezes, a gente queria comer e a pessoa não deixava, queria que terminasse logo. Inclusive, teve uma vez que a gente estava fazendo um serviço bem pesado, num término de construção, raspando tinta do chão, limpando vidro e eu lembro que, na época, a minha ex-cunhada parou, a gente parou uma hora da tarde, para comer alguma coisa e eu lembro que a dona daquela casa ficou brava, ela brigou, falou um monte: “Vocês nem terminaram a limpeza e vocês estão comendo”. Aí a minha cunhada ficou meio triste, queria parar de comer. E eu fiquei brava, falei: “Eu não vou parar, já é uma hora da tarde, a gente nem tomou café”. Aí, foi muito sofrido, na verdade. Porque você se depara com pessoas boas e se depara com pessoas muito ruins, que a pessoa está comendo, a pessoa está com a panela cheia, tem bastante alimento, mas a pessoa não deixa você comer. A gente já se deparou muito com isso, também. Inclusive, a minha cunhada ficou triste, que ela foi numa casa e chegou na hora do almoço, ela foi lá fazer limpeza, na verdade e a família daquela casa todos comeram, guardou o que tinha, o que sobrou e falou pra ela que lá eles não davam comida, que ela tinha que levar de casa. E ela ficou o dia inteiro trabalhando com fome. A gente passou muito por isso. Tem isso ainda, muito triste. Foi muito sofrido, depender dos outros e você viver, mas foi a única maneira que eu encontrei, para cuidar dos meus dois filhos, para criá-los, para que eles não viessem a passar fome. Foi a maneira que eu achei, para poder sustentá-los, foi fazendo faxina, limpeza, no caso, cuidando de crianças e, graças a Deus, deu tudo certo.
P/1 – E quando você parou de trabalhar com faxina e foi trabalhar como operadora, naquela época?
R – Então, teve uma época que eu parei, porque eu consegui um serviço, eu trabalhava na produção. Consegui um serviço numa firma pequena, num bairro próximo, que dava para eu ir andando e ir de bicicleta. E foi meu primeiro registro que eu tive. Eu lembro que era bem pouquinho, mas era registrado, aí eu fui à produção dessa empresa, trabalhei acho que uns dois anos nela, três anos e eu ia na hora do almoço em casa, comia, voltava. Foi nessa empresa mesmo, nessa época que eu tive meu bebê, o que fez dezoito anos. E eu sei que eu trabalhei até ele nascer, aí depois deixei uma prima dele cuidando, pagava pra ela e aquela correria, sabe, para ir dar de mamar pra ele, naqueles trinta, quarenta minutos que tem direito, antes, depois. E fiquei dois anos nessa empresa, só que essa empresa era uma empresa que era bem pequena, era uma reciclagem e essa empresa eles começaram, assim: você estava todo dia lá, você trabalhava, mas chegou uma época que eles não estavam mais pagando o salário do funcionário. Aí alegavam que era porque a empresa estava em crise, pagava aluguel e nessa eu fiquei um tempo ainda. Saíram duas pessoas, botaram na Justiça nessa época e teve uma menina que perdeu dois dedos nessa empresa. A gente mexia com máquina, essas coisas, fazia todo serviço e, por causa dessa menina que perdeu o dedo, eles fecharam a empresa e eles foram embora e não pagaram pra ela. Aí, resumindo, ficaram três pessoas sem receber. Eu recebi alguma coisinha só, mas eu lembro que meu tempo de serviço que era descontado no holerite no PIS, lá do Fundo de Garantia, eu cheguei lá e não tinha nada também, não depositaram nada e eu perdi três anos e depois eu arrumei uma outra, dentro da fábrica da Honda, não sei se você conhece. Tem a Honda aqui de Sumaré, a fábrica de carros. eu fui trabalhar lá também, numa empresa de limpeza, para cuidar dos escritórios, tudo, eu fiquei um tempo lá. Aí, eu fiquei quatro anos numa empresa lá dentro, na limpeza. Depois eu passei para uma outra, terceirizada, que pagava um pouco mais, que era uma reciclagem. Só separação e trabalho na prensa, prensando e separando o material que era colhido, só da limpeza da Honda. Eu fiquei sete anos ao todo, ali dentro, naquela empresa. Fiquei três em uma e quatro na outra, mas ali dentro. Aí depois eu saí, teve aquela crise que teve uma época atrás, em 2014, teve uma crise em 2014 e mandou muita gente embora, eu saí. Na verdade, eles não queriam me mandar. Eu pedi várias vezes para mandarem embora e eles falavam que não podiam, que não tinham motivo, aí falavam que não tinha motivo para me mandar embora, que eu nunca dei problema pra empresa, que eu nunca dei trabalho e não iam mandar. Só que aí, foi uma época que estava tendo chuva, estava tendo enchente e eu já cheguei a acordar de manhã e a casa estar cheia de água, porque a água subia tudo pelos ralos, pela encanação e ia pra dentro de casa e eu lembro que a casa que eu morava só tinha uma porta, que era a porta de entrada e saída. É uma porta que só tem pra entrar, mas não tem outra pro fundo, não tem nada. E a água entrava e ficava tudo pro quarto. Já chegou a ir ratazana morta, já chegou a ir bicho morto para dentro de casa. Nessa época minha irmã estava grávida e se separou do marido dela e estava comigo, grávida dentro de casa, dormindo no chão. E a gente acordou, o colchão, a água pra cima do colchão. Aí, foi o único jeito que eu o convenci a me mandar embora, pra eu poder pegar o dinheiro do tempo, para dar uma arrumada na casa, que aí eu conseguia mexer com a encanação, colocar piso, que não tinha, aí deu uma melhorada. Aí eu saí de lá e depois eu fiquei um tempão trabalhando de faxina de novo, limpando condomínio, prédio, essas coisas, apartamento. Eu lembro que tinha três faxinas, um dia num apartamento que era condomínio e outro dia pra limpar as escadas do condomínio, encerar a entrada, essas coisas. E eu vivi minha vida assim, toda.
P/1 – E nessa época, quando você conta da chuva, da enchente, você ainda era casada com seu ex-marido ou não?
R – Não. Foi a época que eu estava sozinha, com os meus dois filhos mais velhos e foi a época que eu mais passei apuros, porque era uma área de risco, uma área que, toda vez que tinha enchente, enchia, alagava e tinha muitas rachaduras nas paredes, porque eu morava próxima da fábrica da Honda e lá tinha o setor da prensa, que prensava e era muito forte, quando dava aquele baque na casa, você ouvia lá a janela tremer, você ouvia as portas tremerem, tinha muita rachadura e essa época eu estava sozinha. E nessa época eu conheci uma pessoa lá da igreja, ficamos um tempo namorando, aí me casei com essa pessoa. Só que aí não deu certo. Fiquei três anos casada, não deu certo, aí eu me separei. Aí a vida continuou. (risos)
P/1 – E como você fazia, nessa época, para dar conta de trabalhar, tanto na firma de reciclagem, na faxina, em todos os trabalhos que você fez e ainda ser mãe, cuidar dos seus filhos, como que era?
R – Então, eu consegui colocá-los na creche. Minha filha não estava mais na creche, na época ela estava com idade já pra estar na terceira ou quarta série, mais ou menos, não lembro bem, mas o menino estava na escolinha o dia inteiro, consegui creche. Na verdade, os dois ficaram na creche o dia inteiro. Foi o que me ajudou muito, eu consegui pelo governo _____, na prefeitura, consegui colocar na creche. Inclusive, quando meu filho era pequeno, ele teve anemia várias vezes, ele adoecia muito e eu vivia muito da ajuda de assistente social, na época a assistente social dava leite pra ele, dava Mucilon, dava Sustagen, porque eu não tinha condições de comprar essas coisas. E eu lembro que eu pegava todo mês, na assistente social. Na verdade, eu vivi mais por ajuda mesmo, ajuda da igreja também, de cesta básica, essas coisas. Aí eu fui mantendo nesse ritmo, até que depois eles não estavam mais na escola o dia inteiro, aí eu tive que pagar pra uma pessoa, eu fazia faxina, aí eu tinha que pagar um valor por mês, um valor mais em conta, assim, que eu podia pagar, eu pagava pra prima dele, que é parente do pai deles. E ela cuidava do meu filho e ficou um bom tempo assim, cuidando dele. Aí, depois chegou uma época que a menina já tinha dez, doze anos, ela ficava em casa sozinha e ela ficava com o menino também, às vezes, dependendo, quando não tinha aula ou quando ele estava doente, ela já ficava. E aí eu fui mantendo, até eles terminarem os estudos e ficarem maiores.
P/1 – E como foi que você entrou na Brado?
R – Então, nessa época foi assim: eu tenho uma cunhada minha que trabalha na portaria, na parte de vigilante aqui na Rumo, ela é controladora de acesso. Na época, ela entrou aqui e eu estava fazendo essas faxinas nos condomínios. E ela pegou e ligou pra mim, falou que ficou sabendo que ia entrar uma empresa aqui dentro da Rumo, que chamava Brado e ela ficou sabendo que ia precisar de uma pessoa na limpeza. Ela perguntou se eu não queria e eu falei: “Lógico que eu quero”. Aí ela pegou meu currículo e entregou pra uma pessoa, na época, que trabalhava aqui e não está mais, aí teve entrevista e tudo, eu fiz, fui selecionada e fiquei aqui. Eu entrei aqui em 2016, na verdade foi bom até eu ter conseguido essa vaga, porque foi uma época muito triste, foi a época que meu irmão faleceu, que era o esposo dessa minha cunhada que arrumou essa vaga, ele fez redução de estômago e ele ficou acho que três meses na UTI e, assim que ele faleceu, demorou uns meses, aí eu consegui essa vaga. Foi bom pra mim, porque eu estava muito em casa, chorava muito, estava muito triste, porque era um dos meus irmãos que mais se preocupava comigo, meu irmão que sempre estava lá em casa. Toda semana ele ia, perguntava como eu estava e aí eu fiquei muito triste, por causa disso. Esse emprego veio, assim, deu pra dar uma ajuda, porque eu não estava muito em casa pensando nele, porque eu chorava todo dia, eu chorava à noite e aí eu fui mantendo, esquecendo um pouco, porque ficava muito mais preocupada com o serviço. Entrei na Brado em 2016 na área da limpeza e eu comecei a falar com o pessoal que era chefe mesmo da Brado, algum que já saiu, não está mais. E eu falava que queria uma oportunidade, porque o salário era muito baixo, eu mantinha minha casa sozinha, o pai dos meus filhos não dava pensão. Aí um deles falou pra mim: “Olha, se você fizer o curso de empilhadeira, eu te dou essa oportunidade. É o único serviço que dá pra te dar oportunidade”. Eu lembro que eu peguei dinheiro emprestado, pra fazer esse curso. (risos) Peguei dinheiro emprestado, fiz esse curso. Eu estava num horário em que eu entrava das três às seis e quarenta e oito e eu fiz esse curso à noite. Foi muito corrido esse curso pra mim, foi um sacrifício muito grande, porque além de ter pegado dinheiro emprestado, eu tinha que estar na correria de chegar em casa e cuidar das coisas e depois ir e fazer esse curso. Eu chegava em casa às onze horas da noite, o curso acabava às dez e alguma coisa e o ônibus passava de duas em duas horas. E eu fiz esse curso, mas ficou um tempo, a pessoa que me prometeu a vaga tinha mudado, não estava mais. Aí entraram umas outras pessoas e eu conversei, falei o que tinha acontecido, conversei na época com a pessoa que estava aqui ainda e não está mais, a Ana Carina e ela falou que ia me ajudar, ia ver o que podia fazer por mim, que quando surgisse uma vaga, ela ia me ajudar. Essa vaga surgiu, tem dois anos e quatro meses, vai fazer dois anos e quatro meses que eu estou na empilhadeira. Acho que foi em 2018 ou 2019, eu não lembro muito bem, que eu comecei a trabalhar na empilhadeira, mas, graças a Deus, eu penso só assim, fazer outros cursos, melhorar, dar o meu melhor. Mas, antes desse curso que eu fiz, de empilhadeira, eu cheguei a fazer um curso de vigilante, eu consegui um serviço de vigilante, mas eu fiquei acho que dois meses, só. Eu pedi a conta desse curso, desse serviço de vigilante que eu estava. Eu tive que pedir conta, porque minha casa foi derrubada, como era área de risco, estava muito ruim, a prefeitura derrubou minha casa e todo pessoal que a prefeitura derrubou a casa, a gente conseguiu aqueles apartamentos do Minha Casa, Minha Vida. Só que, assim, tinha que receber de mil e cem pra baixo, porque senão passa do teto, pra você ficar com o apartamento. Meu apartamento já estava tudo certo, só que aí o rapaz falou pra mim: “Você vai perder seu apartamento, porque está passando duzentos reais do valor que é a meta do governo”. Aí eu tive que pedir conta do serviço que eu estava, pra eu não perder o apartamento porque, senão, não tinha pra onde ir. Aí eu pedi conta, foi que depois eu entrei na Brado, fiquei um tempo fazendo faxina, aí a minha cunhada conseguiu aqui na Brado.
P/1 – E você lembra como foi o seu primeiro dia de trabalho? Você já tinha entrado aí, como era? Como foi entrar aí também?
R – Eu nem conhecia, na verdade, aqui. Quando eu vim fazer a entrevista, eu fiz no refeitório da Rumo, o refeitório que nós usamos, foi feita ali mesmo a entrevista. Depois, quando foi pra ir lá no comecinho da Brado, era um ‘escritóriozinho’ pequenininho, cheio de gente, bem pequenininho, aí eu cheguei e falei: “Nossa, que lugar difícil de chegar, você anda muito aqui dentro do terminal”. Mas comecei, sabe, daquele jeito, com vergonha de todo mundo, tímida e aí foi passando o tempo, fui fazendo amizade com o pessoal e deu tudo certo.
P/1 – E como é seu trabalho agora, de operadora de empilhadeira? Como é que é?
R – Então, eu chego e faço o check list das máquinas, vejo óleo, vejo a água das empilhadeiras e já marco o que tenho que marcar e eu trabalho descarregando caminhão, carregando caminhão, colocando material dentro dos contêineres, pra ir para o trem e é o dia inteiro isso. Carregando e descarregando, carga e descarga.
P/1 – E você já enfrentou alguma dificuldade no seu trabalho, por ser mulher?
R – Ah, eu já enfrentei pela pessoa que diz que é amigo que, na época, assim, tem muitos que não aceitam. Ficavam falando coisas e botando pra baixo, mesmo. Inclusive, uma vez eu comentei alguma coisa com um deles e ele falou assim: “Ah, por ser mulher, está bom até demais”. Desse jeito. E eu fiquei muito triste, porque ele falou isso. Deu a entender que mulher não tem valor nenhum, que mulher não pode ganhar mais, que mulher não pode fazer serviço de homem. Eu fiquei triste nessa parte, mas aí passou, graças a Deus. (risos)
P/1 – E tem bastante mulher trabalhando aí no terminal e na sua função, também?
R – Não, na minha função, de mulher só tem eu e tem uma outra mulher, que veio fazer um serviço aqui por uma terceirizada, na empilhadeira e que a empresa precisou dela fazer um outro serviço na Terex, como ela já tinha o curso, ela pediu uma oportunidade e deram pra ela. Aí, demorou um tempo e a chamaram, ela está trabalhando na Terex, nessas ‘maquinonas’ grandes, que erguem container. Aí só tem eu e ela também, que mexe com coisa de empilhadeira, trabalha na operação de empilhadeira, essas coisas, o resto é tudo homem mesmo.
P/1 – E como é trabalhar? Ser uma das únicas mulheres a trabalhar nesse universo tão, assim, cheio de homem, enfim?
R – Eu acho interessante, eu gosto de fazer o que eu faço. Cada vez mais eu procuro melhorar no meu serviço, tirar dúvida no que falta, no que não falta, o que está melhor, o que não está. E eu sempre estou atenciosa pra estar sempre melhorando, para que eu mantenha esse serviço por muito tempo.
P/1 – E você já passou algum momento desafiador no seu trabalho, que você se lembre?
R – Eu já passei poucas vezes, bem no comecinho, como eu não tinha experiência, tinha que treinar. Aí, às vezes, chegava um caminhão com coisa 'paletizada' e eu tinha que mexer com uma máquina com um garfo enorme, que pega dois pallets de uma vez e eu ficava meio assim: “Será que vai dar certo?” Mas eu ia bem devagarzinho e dava certo. (risos) Até que agora bem melhor, 80% melhorou.
P/1 – E como foi dirigir a primeira vez, a empilhadeira? Fiquei pensando. Foi no curso, né? Mas, depois, trabalhando, como que foi, assim?
R – Então, no começo foi meio assim, meio devagar, porque você tem que saber mexer, manusear bem cada detalhe, deslocar, locar, tudo. Mas eu tive um treinamento. Tem uma pessoa que tem muitos anos aqui dentro, um senhor, que ele que estava me treinando. Ele falava pra mim o que estava certo, o que não estava, o que eu deveria mudar e aí foi um tempo e já fui perdendo o medo. Na verdade, não era medo, era receio de dar errado, de acontecer alguma coisa, mas aí eu fui pegando, pegando, graças a Deus, eu nunca machuquei ninguém, graças a Deus eu nunca bati em nada e está indo.
P/2 – Nelma, como foi a transição da área da faxina, para área operacional? Você imaginava, você desejava isso ou as coisas foram acontecendo? Como foi pra você, o que isso representou?
R – Então, quando eu saí da limpeza, pra ir pra essa área da empilhadeira, eu sabia que ia ser diferente, porque na área da limpeza você sabe tudo que você vai fazer, o que tem que fazer, o que já tem no dia, no momento que você vai usar e o que não vai. E na empilhadeira não, na empilhadeira você vai fazer, vai depender do que chegar, você não sabe o que vai chegar, você não sabe o que vai descarregar, o que você vai carregar, é só naquela hora e naquele momento. E é totalmente diferente, não é igual. Que na limpeza você chega lá e tem seu baldinho, seu pano, seu rodo, você já pega e vai pro seu canto, já faz o que tem que fazer. Lá você depende de outra pessoa, de liberação, depende de conferente, depende se o produto está liberado, se está tudo okay. E cada dia é diferente, é um material diferente, é coisa diferente, é totalmente diferente, de um pro outro.
P/1 – E tem algum tipo de descarga, de algum material que você prefere descarregar, prefere manusear, tem algum tipo?
R – Tem, eu gosto muito de descarregar quando é bag, esses bags de mil quilos, dois mil quilos. Eu gosto muito de descarregar as carretas de bag e gosto muito de colocar nos contêineres também os bags, que aqui a gente chama como estufagem. A gente coloca no container e o container no trem, pra ir embora. Eu gosto muito da estufagem. Só uma coisa que eu tenho receio, que é quando mexe com coisa 'paletizada', sabe, com pallet? Que você tem que ter mais atenção, porque o que está ali são coisas que, se bater, você rasga, fura, às vezes, é barril de óleo, às vezes, é sacaria de cimento. Cimento, se você encostar, só de você encostar um pallet nele, já fura. Esses eu tenho mais receio, mas eu gosto muito de mexer com bag, mesmo. Porque do bag a gente mexe com uma empilhadeira que a gente ergue dois bags de uma vez, o garfo é bem comprido e é bem mais rápido e o 'paletizado' é um por vez, bem mais devagar, mais cuidado. Aí, esses eu tenho mais receio.
P/2 – Desculpa, é Bag?
R – Bag é aquele saco bem grande, que tem quatro alças, que é mil quilos, dois mil quilos, que você ergue com a empilhadeira. São uns bags bem grandes mesmo, bem redondos.
P/1 – E você sabe o que tem dentro deles?
R – Então, fertilizante, enxofre e tem Bentonita, que é um produto que eles usam pra fazer coisas de ração, é um pozinho bem fininho, como se fosse areia, como se fosse argila que vem, mas tudo um pozinho seco mesmo e produtos em grãos, granulados.
P/2 – Tem algum, dentre esses, assim, que seja mais fácil, ou pelo peso é igual?
R – Por ele estar em bag, que é bem grande, com quatro alças, é mais fácil manusear e eu acho todos iguais, pra mexer. Só muda mesmo o 'palletizado', é o que muda um pouco.
P/2 – E do momento que você entrou aí na empresa, até hoje, assim, você consegue perceber alguma mudança? Seja, assim, de tecnologia, de treinamento, ou até questão de entrarem outras mulheres, ou se manteve igual?
R – A empresa, a cada dia que passa tem mudado muito, ela tem melhorado. Tipo assim: eles dão oportunidade, muito, pra funcionário crescer aqui dentro. Tem muita oportunidade pra crescer, eles dão oportunidade mesmo e eles não olham assim: mulher, homem, esse é diferente desse, não. Todos eles dão direitos iguais. E tem muita melhoria, cada dia que passa tem melhoria na parte de segurança, cuidados, preocupação com os funcionários. Eles se preocupam muito. E cada dia que passa está melhor.
P/2 – E, Nelma, me conta uma coisa: tem alguma história marcante, de algum dia de trabalho? Pode ser algum sufoco, alguma história engraçada, ou algum dia que tenha sido importante pra você?
R – Tem uma história que é meio complicada. (risos) É assim: eu conheci meu marido atual, o que eu estou, aqui na empresa e foi bem na época que eu falei pra você: eu estava em depressão devido ao falecimento do meu irmão, eu chorava muito, muito ainda e essa pessoa sempre estava do meu lado, falando que Deus, se aconteceu foi com a permissão de Deus e que nada é por acaso, sempre estava ali. E foi me dando força, me dando força, eu conheci e a gente ficou um tempo namorando e a gente, depois teve um filho, que é esse de três anos e sete meses. Aí a gente mora junto. Tem essa criança de três anos e sete meses e ele trabalha aqui. Eu o conheci aqui, na verdade.
P/1 – E como que você enxerga? Eu estava pensando, assim: no seu trabalho, de que hora a que hora você trabalha e como você enxerga essa dupla jornada, de ser mãe do João pequeno, ainda e ainda trabalhar e conciliar outras demandas da sua vida, como é que é pra você?
R – Então, meu horário aqui eu estou entrando das seis às duas e vinte e é assim: eu consegui colocar o João Pedro na escolinha. Eu consegui uma vaga pra ele, ele tinha quatro mesinhos. Na verdade, ele nem tinha quatro mesinhos, ele ia fazer ainda. Como é difícil conseguir vaga, tudo, eu conversei com uma pessoa, busquei ajuda de um vereador, na época estava tendo negócio de eleição e eu busquei, conversei com esse vereador, falei que eu ia tinha que voltar a trabalhar em um mês e eu não tinha com quem deixar, estava morando em um bairro que eu não conhecia ninguém e ele me ajudou, me deu uma força, mandou eu ir até o local, me indicou e a pessoa me atendeu bem. E eu consegui fazer a matrícula do João Pedro, quando ele ia fazer quatro meses ainda, ele era bem nenezinho e eu tinha que levá-lo dia sim, dia não, ficava duas horas lá, pra ir se adaptando, até eu voltar a trabalhar e ele já ficou na escolinha o dia inteiro. Tanto é que ele ama a escola, ele ama a escola. Ele foi pra escolinha, tinha quatro meses. Que eu voltei a trabalhar também, mas aí começou esse negócio de coronavírus e na época ele tinha dois anos e pouco. Ele comia, ele comia frutinhas, comia legumes, comia as coisinhas, aí entrou esse ‘bagulho’ de epidemia, fechou as escolas e eu estava deixando-o com a minha filha, mas a minha filha nunca cuidou de criança. Assim, de bebê nunca cuidou, nunca deixei, quando eu tinha meu menino mais novo, nunca ficou nenezinho com ela. Eu deixava na escola o dia inteiro, ela veio cuidar dele quando ele tinha uns seis, sete anos. Mas aí, ela que ficava quando não tinha aula, essas coisas, com ele. Com isso, ela não insistia na papinha, na comida, na alimentação e eu estou com esse problema até hoje. Ele não come. Ele realmente parou de comer comida, ele não come nada de comida. Inclusive eu passei no médico, o médico falou que fez exame de sangue, fez tudo e nada. Ele não come nada. Ele não come carne, ele não come arroz, ele não come feijão, ele não come nada. A única coisa que ele come são nuggets fritos, ele é viciado nesse negócio, eu já tentei tirar, mas não dá. É a única coisa que ele come. E só toma leite com Mucilon, é o que está mantendo-o, só o leite com Mucilon que o mantém. Inclusive a médica já pediu até pra eu tirar, deixá-lo sem, pra ver se ele volta a comer e eu falei pra ela que não dá, porque eu trabalho e a escolinha não está conseguindo fazê-lo comer comida. Se ele parar de tomar mamadeira, aí ele vai ficar doente mesmo, aí vai ficar difícil.
P/2 – E, Nelma, assim, última pergunta sobre o seu trabalho: como é que é trabalhar no terminal, assim? É muito corrido, é muito grande? Como é que é esse lugar assim, no dia a dia?
R – Não é tão grande o terminal, não é tão grande, é mais o armazenamento dos contêineres, é tirar pra pôr nos trens, não é tão grande, mas é algo diferente, né? Eu gosto muito de trabalhar no terminal, assim, nunca trabalhei nessa área, mas é algo que eu gosto muito, achei legal, sabe? Eu gosto dessa área.
P/1 – E como é seu dia a dia, quando você não está trabalhando, seu tempo de lazer, como é que é?
R – Então, eu nem tenho tempo de lazer mais, eu saio do serviço às 14h20 e já tenho que passar na escolinha pra pegá-lo, já tenho que ir andando da escolinha até em casa, é meio longe, não é tão perto. Aí já tenho que ficar com ele, porque é assim: meu marido entra no serviço à tarde, ele trabalha à tarde, ele entra 14h20 no serviço e 14h20 eu estou saindo. O intervalo de um e quarenta, que ele o deixa, até o intervalo de eu chegar, eu pego porque, às vezes,inclusive, a escola estava abrindo semana sim, semana não. Aí, tinha que ver alguém, pra ficar com ele. E essa correria sempre. Aí, chego em casa e tem muita coisa pra fazer, tem que mexer com janta, limpeza de casa e tanto é que no mês passado eu fiquei num apuro tão ruim. Eu peguei Covid no mês passado, eu peguei Covid e dengue, tudo junto. Fiquei muito ruim, eu não conseguia lavar uma louça, não conseguia nem dar banho nele, porque minha plaqueta abaixou muito, tive que tomar muito soro na veia, tive que tomar soro na veia umas três vezes, porque eu peguei dengue junto. Aí fiquei muito ruim. Mas tem umas três semanas que eu voltei a trabalhar, mais ou menos, por causa da Covid. Segunda vez que eu pego. E é muito complicado e eu fiquei com medo de passar pra ele, porque dentro de casa somos eu, ele e meu filho, fiquei muito com medo. Graças a Deus, eles não pegaram, tanto é que ele fez até o teste, fez o teste pra ver e ele não pegou. Nossa, eu agradeci muito a Deus por isso, que deu tudo certo, sabe? Que agora eu estou melhor. Ficou sequela, né? Alguma sequela fica, fiquei com muita, muita, muita, muita dor nas costas, dor nas pernas, dor de cabeça direto, mas, em vistas do que eu estava, 80% eu melhorei e assim eu vou levando a vida, mantendo, né? Tentando fazer o melhor, às vezes, eu o pego e desço um pouquinho lá embaixo, tem um parquinho do condomínio, tem um parquinho de criança, aí, às vezes, a hora que dá eu levo, hora que não dá, eu não levo. Às vezes, peço pro meu filho levá-lo um pouquinho. É a parte de lazer que ele tem também, porque o local que dá pra levar é meio difícil, por causa desse negócio de Covid e, também o tempo que eu trabalho, chego em casa, muita coisa pra fazer, pra poder me preparar pro outro dia, seguinte, é sempre correria.
P/1 – E eu ia te perguntar como a pandemia afetou seu dia a dia, mas você já falou um pouco, mas, se quiser falar um pouco mais, sobre como afetou a sua vida, o seu trabalho, como foi pra você esse período? E também, as duas vezes que você pegou, como foi, né? Não precisa contar como foi que você pegou, que ninguém sabe, (risos) mas, assim, como foi pra você passar por isso, o que você sentiu?
R – Então, a primeira vez que eu peguei, primeiro foi minha filha. Ela começou a passar mal, sentir muita falta de ar, tinha dia que ela não dormia e eu achei que ela ia morrer. Muito ruim ela ficou, ela não conseguia andar, não conseguia descer escada e como a gente estava todo mundo junto, eu tive que ficar junto com ela também, afastada da empresa e uma semana depois que ela estava sarando, aí eu fiquei ruim. Eu fiquei muito ruim, nossa, atacou minha parte digestiva, intestino, eu tinha muita dor no estômago, eu gritava, não conseguia comer nada, não conseguia beber água, eu fiquei várias noites só deitada, com uma dor muito forte no intestino... no estômago. Inclusive, o médico pediu até uma endoscopia pra eu estar fazendo, pra ver o que foi que afetou, né? E eu não consegui fazer ainda, cancelou por causa do negócio da pandemia, porque estavam um tempo sem mexer com esses exames e aí eu fui me mantendo, me mantendo, aí depois, agora, de novo, peguei de novo. Aí, dessa vez eu comecei a sentir muita dor de cabeça, comecei a sentir febre, eu lembro que eu fiquei três dias ainda trabalhando, com dor de cabeça, corpo ruim, que eu achava que era uma gripe, né? E eu comecei a sentir o corpo muito ruim, aí eu fui ao médico, eu falei que eu estava com o corpo muito ruim, que não estava aguentando, não estava entendendo nada. Aí o médico falou assim: “Olha, a suspeita do que você está sentindo é de Covid”. Só que aí eu falei pra ele: “Eu acho que não, porque eu já tive dengue duas vezes e é o mesmo sintoma de dengue”. Aí ele pegou e falou pra mim: “Não, é suspeita de Covid”. E eu falei: “Não, mas eu já tive dengue e já tive Covid, eu falei que era suspeita de dengue, porque eu já tive dengue duas vezes”. Aí ele pegou: “Então, vamos fazer o seguinte: como você está tão ruim, eu vou pedir um hemograma...” - que eu fiz no mesmo dia na UPA esse hemograma, ia sair à tarde o resultado - “... e eu vou te passar um teste do Covid, pra você fazer”. Como o teste do Covid da UPA demora dez a 12 dias, às vezes, fica até quatorze dias e não sai o resultado, aí eu peguei e fui, saí do UPA, do bairro próximo que eu moro e fui até a Unimed, porque eu tenho convênio aqui da empresa e eu conversei com o médico, contei o que estava acontecendo. E ele me deu outro pedido, uma guia pra eu fazer o teste da Covid e eu fui fazer, só que ele falou assim pra mim... eu fui dia 05 de agosto: “Vai no dia 06, para dar a data, pra não dar negativo”. Aí eu fiz o exame dia 06 e quando foi dia 10 saiu o resultado, saiu positivo. Só que o da dengue já tinha dado positivo, minha plaqueta estava cem e o médico falou que o normal era trezentos e cinquenta a quatrocentos, estava muito baixo. Aí, até sair o resultado do Covid, eu sei que eu tomei medicamento para dengue, estava tomando medicamento só pra dengue e, nessa, ao invés de melhorar, eu estava cada vez pior, porque eu não conseguia andar nem dentro de casa. Eu levantava e batia muita tontura, fraqueza, sabe? Se eu continuasse, eu desmaiava, não estava conseguindo lavar a louça, não estava conseguindo nem dar banho no meu filho, por causa desse negócio. Aí eu estava assim, não conseguia andar num quarteirão, não conseguia andar. Muita dor de cabeça e me atacava muita dor nas pernas, cada perna minha parecia que tinha vinte quilos a mais, eu não aguentava erguer a perna, na verdade eu não aguentava andar. E se eu insistisse em andar, eu desmaiava, porque eu não aguentava mesmo. Aí, como minha plaqueta estava muito baixa, eu tomei soro na veia, fiquei na UPA tomando soro, fiquei a tarde, umas duas horas tomando soro, voltei pra casa com um monte de medicamento, eu estava tomando muito suco de laranja com inhame, que o médico mandou eu tomar, porque tinha que aumentar minha plaqueta, que estava muito baixa. Eu nem sabia ainda do teste da Covid, que ia sair com quatro dias depois, eu estava fazendo o tratamento para dengue, que não estava melhorando e só quatro dias depois que o resultado deu positivo, aí tive que trocar todos os medicamentos, aí eu lembro que meus medicamentos foram trocados umas três, quatro vezes, pra eu poder melhorar. Aí, graças a Deus deu tudo certo, tem umas três semanas, mais ou menos, que eu voltei a trabalhar, mas tem umas sequelas ainda, muita dor. Tenho ainda muita dor de cabeça, muita dor nas costas, a parte digestiva, intestino dói muito. Não sei se afetou meus rins, eu estou sentindo dor nos rins. Eu estou esperando um tempo, para fazer a endoscopia, que o médico pediu. Mas cada dia que passa, estou melhorando. É muito ruim, muito ruim mesmo, filha. Se dengue é ruim, imagina os dois juntos! É muito ruim. E eu agradeci muito a Deus, sabe, agradeci muito a Deus por ter dado tudo certo, por ser a segunda vez que eu peguei covid, dengue eu já peguei duas vezes, é a terceira. Porque eu morava num bairro que era uma área verde, era uma favela na verdade e tinha muito, muito mosquito de dengue. Essas outras duas vezes eu peguei lá, onde eu estava. Graças a Deus deu tudo certo, agradeci muito a Deus, por meu filho não ter pegado Covid, mesmo estando comigo, dormindo comigo, estar sempre em cima de mim, porque, nossa, aquele lá é um espoleta. Que nem esses dias eu estava falando, meus dois filhos mais velhos, eu era mais nova e eles eram tão calminhos e agora que eu estou mais velha e não tenho mais paciência, vem esse outro, que é uma espoleta. (risos) É difícil. (risos)
P/1 – E eu ia perguntar, primeiro eu ia perguntar como é o nome do seu companheiro, se você queria falar, deixar registrado na sua história e também perguntar se você tem alguma história marcante agora com seus filhos, se tem algum momento, alguma atividade que vocês gostam de fazer juntos?
R – Então, o nome do meu marido é Luiz Carlos, é funcionário aqui da empresa também e ele, é assim, fica mais com meu filho na parte da manhã, que eu trabalho de manhã e ele trabalha de tarde, quer dizer, a parte da manhã inteirinha, quando meu filho não está na escola, está com ele. Inclusive ele fala que ama o pai dele, que tudo dele é o pai dele. Eu perdi, sabe? (risos) E a gente não tem momento de lazer junto, porque é correria, muita, eu não tenho tempo. Mas o que me faz muito feliz, que eu fico muito feliz mesmo, é de ver que meus filhos, mesmo criados sem pai, só eu criando, nunca me deram nenhum trabalho na escola, nunca tiraram nota vermelha, sempre foram um bom filho e uma boa filha e os dois foram criados dentro da igreja evangélica, tanto é que meu filho toca instrumento na igreja e eu fico muito feliz de vê-lo ensaiando em casa a guitarra, ensaiando baixo. Eu fico muito feliz de ver o compromisso dele com Deus, na igreja, sabe? Eu fico muito feliz e agradeço muito a Deus, por eles não terem mexido com coisas erradas, entendeu? Porque eu vejo muitos adolescentes que mexem com coisas erradas, param de estudar e não estão nem aí pro pai e nem pra mãe. E meus filhos, mesmo minha filha tendo 23 anos e ele tem 18, sempre, tudo que eles fazem perguntam pra mim se pode. Às vezes, ele vai pro culto, pro ensaio e ele pega e fala: “Mãe, eu posso ir à lanchonete, com os meninos da igreja? Mãe, eu posso ir à pizzaria, com os meninos da igreja?” Ele sempre pergunta se ele pode, ele não vai sem perguntar, se eu falar não, ele não vai. É o que me deixa feliz, um dia mostrar para eles que o que eu passei para eles foram só coisas boas, que eu fiz a minha parte, porque daqui pra frente, se mudar isso, já é com eles. É o que me dá felicidade. E, às vezes, eu fico reclamando, assim, porque quando eu fiquei grávida do João Pedro, eu reclamei muito. Porque eu não queria aceitar, quinze anos depois, eu fiz três cesáreas com a dele e eu não queria aceitar. Só que agora, olhando pra ele, sabe, uma criança tão meiga, carinhosa. Ele fica: “Eu te amo”. Ele abraça, ele beija, ele está sempre em cima de você, sempre brincando. E quando você está quieta, num canto, ele vem e te dar tapinha, ele é desse jeito. E, às vezes, eu brigo com ele e ele fica triste, ele fala assim: “Você não gosta mais de mim, você não gosta de ‘eu’, não sou mais seu amigo”. Aí eu penso: “Ai, meu Deus, obrigada pelo Senhor ter me dado um filho assim, com saúde”. Aí eu penso: “Será que os outros dois vão se casar e, quando eu estiver bem velha, eles vão me abandonar e esse vai cuidar de mim?” Porque é muita diferença, sabe? Mas, graças a Deus, agradeço a Deus pela minha vida, mesmo sendo tão sofrida, mesmo eu ter chorado muito, por causa de muitas coisas que aconteceram, pelo falecimento do meu pai, do meu irmão. E eu agradeço a Deus por tudo, agradeço por Ele ter muita misericórdia, porque minha mãe tem diabetes, vários problemas de saúde, até hoje ela não pegou Covid e ela não se cuida, nem tomou a vacina ainda, não quer tomar. É muito teimosa e eu falo: “Isso é coisa de Deus, Deus sabe o que faz”. E aí, assim eu vou levando minha vida. Pretendo, se for da vontade de Deus, um dia fazer outros cursos, ir melhorando em todas as minhas áreas.
P/1 – E se você for, assim, num momento de reflexão, pensar em sua trajetória profissional, toda ela, de todos os trabalhos que você teve, quais foram os maiores desafios e os maiores aprendizados?
R – Olha, o meu maior desafio, que eu acho que foi o ‘mais ruim’ da minha vida, foi quando eu trabalhava com faxina, de bicos, que meus filhos eram pequenos. Porque, na quela época, o pai deles não dava pensão, eu tinha que me virar sozinha e eu ficava assim: “Como eu vou cuidar de duas crianças sozinha, com a ajuda de um, ajuda de outro?” e chegou uma época que minha filha, quando era pequena, chorava muito. Nessa época tinha uma vizinha que morava do lado da minha casa e, às vezes, ela via a criança comendo Danone, bolacha e eu não tinha como comprar, nessa época. Tanto é que teve uma época que ela quis comer, não lembro o que foi, adoeceu, eu não tive como dar pra ela. E ela pedia, nessa época eu falei: “Não tenho, não tenho como comprar” e eu lembro __________ e eu vi que ela ficou triste e eu chorei muito, à noite. Porque ela queria, mas eu não podia dar. E eu fiquei brava com ela, pra ela parar de pedir, porque eu não tinha como comprar. Só que eu chorei, porque eu briguei com ela. Mas aí passou, sabe? Eu ainda lembro desse fato que aconteceu. Eu acho que foi o momento pior que eu tive na minha vida, para poder manter uma casa, cuidar de duas crianças, sem serviço registrado, sem a ajuda do pai, fazendo bico e eu saía de casa de manhã e chegava de noite e às vezes eu ia, do jeito que eu ia, voltava, não almoçava, ficava o dia inteiro sem comida e aí foi um momento muito difícil. Foi uma época, assim, que marcou muito e muito também, muito sofrimento foi quando eu perdi meu irmão. Ele ficou nove meses na UTI e todos os dias eu estava lá, todos os dias eu estava lá, com ele. E justamente no dia que ele falou pra mim: “Fala pra Cal...” - Cal é minha cunhada, a esposa dele - “... que eu ‘tô’ bem, fala que eu ‘tô’ bem”. Ele falou isso de manhã, quando a gente chegou de noite, ele estava entubado e eu não consegui mais falar com ele, nesse dia. Aí, ficou um tempo, ele faleceu. Foi, assim, um dos piores dias da minha vida. Receber a notícia que meu pai tinha falecido e, pior ainda, no dia do aniversário do meu filho e aí é vida que segue. Porque tem gente que tem esses momentos bons, momentos ruins e agradecer a Deus por ter os momentos ruins e os momentos bons. (risos)
P/1 – E, Nelma, o que é importante pra você, hoje?
R – Olha, o que eu acho mais importante pra mim, hoje, são meus filhos. Porque eles são tudo que eu tenho. Eu vejo muitas pessoas, assim, focadas só no trabalho e esquecem que têm família. E eu acho assim: o serviço é muito importante, porque sem ele você não tem como se manter, nem manter sua casa, mas, se você perde um filho seu, você não o tem mais de volta. E é o que eu acho muito importante pra mim hoje, são meus filhos. É algo que eu me preocupo muito, sempre me preocupei com eles. Inclusive, minha filha arrumou bico, ela arrumou bico no shopping, estava desempregada. E ela chega em casa muito tarde, às vezes, tem dia que é onze e meia, quase meia-noite e ela está chegando em casa e eu fico muito preocupada, com muito medo. Porque o amor é igual, como se fosse criança, adulto é o mesmo e eu fico preocupada, mas minha família, assim, eu acho que é tudo.
P/1 – E o que ser operadora de empilhadeira, hoje, representa para você, na sua história?
R – Ah, é algo que eu gosto muito de fazer. Às vezes, é novidade, porque tem alguém que me vê assim, com a empilhadeira: “Nossa, mulher com uma empilhadeira!” Aí, às vezes, pega um homem que fala: “O que você faz aí?” Aí eu falo: “Trabalho com empilhadeira”, aí ele fala: “Nossa, que novidade, porque nunca vê mulher nessa área”. Aí eu falo: “Mulher nessa área não tem muito, porque a maioria das mulheres gostam mais de escritório, essas ‘coiseiras’ e eu não, eu já gosto mais de serviço corrido, serviço de homem”. Que nem, eu fiz curso de vigilante, vigilante é mais homem, essas coisas. Eu fiz agora de empilhadeira e eu queria fazer um curso de auxiliar de necrópsia. Aí minha filha fala: “Mãe, você é louca, vai fazer esse curso?” Eu falei: “Ah, eu queria fazer o curso de auxiliar de necrópsia, um dia eu faço”. Aí ela fala: “Não, você é doida”. (risos).
P/1 – E de onde vem essa vontade, de fazer esse curso?
R – Não sei, eu sempre... é que, assim: eu sou uma pessoa que sempre gostei de mexer com a área de saúde, tipo, cuidar de gente e também eu tenho curiosidade de conhecer, por incrível que pareça, como é o morto, como é mexer com morto, essas ‘coiseiras’ toda.
P/1 – E, Nelma, quais são seus maiores sonhos?
R – Os meus maiores sonhos? Primeiro, eu tenho um sonho muito grande que eu tenho, de ter uma casa própria. Que eu moro em um apartamento muito pequeno, um apartamento do Minha Casa, Minha Vida, é meu, estou pagando, mas é muito pequeno, eu não posso ter nenhum bicho, não posso plantar nada. Meu sonho mesmo é ter uma casinha, nem que seja pequenininha, mas que tenha espaço, para eu fazer o que eu gosto. E meu maior sonho é ver meus filhos casados, cada um com sua família direitinho, empregados e eu saber que eles estão bem, entendeu? Esse é meu sonho.
P/1 – A gente está chegando no fim, tem mais três perguntinhas e daí acaba. Muito bom ouvir a sua história e eu queria te perguntar: você gostaria de acrescentar alguma coisa na sua história, alguma coisa que eu não tenha perguntado, ou você quer deixar alguma mensagem? O momento é seu.
R – Não tenho nada a acrescentar, quero só deixar uma mensagem, porque eu sei que, assim como eu, com tudo que eu passei, e Eu sofri muito, lutei para chegar aqui e não adianta você parar, porque a pessoa covarde se torna um tolo, você nunca vai conseguir o que você quer, se você parar e ficar pensando: “Ah, vai dar certo, ah, não vai dar certo” Eu falo assim: “Ter fé, ter fé e agir, correr atrás. Que tudo a gente consegue, se a gente tem fé a gente corre atrás, a gente busca em Deus, a gente sempre consegue o que a gente quer.” E eu creio que Deus tem o melhor pra mim, basta eu correr atrás e não perder a minha fé.
P/1 – E o que você acha da proposta de mulheres do mercado Rodo Porto Ferroviário contarem sua história, num projeto de memória, o que você acha disso?
R – Ah, eu acho legal. Porque, às vezes, eu pego os vídeos no Facebook, tem várias histórias e eu gosto de ver. Inclusive, tem histórias que eu começo a ver e começo a chorar também, porque eu lembro do que eu passei, meio parecido. E é bom, porque através da história de uma pessoa, você aumenta o ânimo de uma à outra, a outra se ergue, se levanta, cria força.
P/1 – E a última pergunta: o que você achou de ter contado a sua história, hoje?
R – Ah, eu achei legal, porque eu lembrei de coisas que parei para pensar durante o vídeo. E eu lembrei de coisas da minha infância, do meu pai, da minha mãe, da minha vó. Lembrei dos momentos com meus filhos pequenos, tem coisa que é triste, mas tem coisa que é boa também. E os dois tem que ser lembrados. Nada pode ser esquecido. Porque através dos momentos ruins que a gente se torna uma pessoa forte, não é assim que diz?
P/1 – Muito obrigada, Nelma, foi ótimo, adorei ouvir sua história, foi muito importante para a gente ter esse registro, de uma mulher tão batalhadora, junto com a gente. Vai ficar para o acervo do Museu, mas também vai ficar pra sua história esse fato de estar no Museu. Então, a gente fica muito feliz, eu agradeço muito.
R – Obrigada!
[Fim da entrevista]
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