Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Alan Libardi Baptista
Entrevistada por Tereza Ruiz
Linhares, 03/06/2014
NCV_HV19_ Alan Libardi Baptista
Transcrito por Ana Carolina
Realização Museu da Pessoa
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Alan, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Alan Libardi Baptista. Nasci no dia 27 de janeiro de 1989. Nasci aqui em Linhares, no Espírito Santo.
P/1 – Agora o nome completo dos seus pais e se você souber data e local de nascimento também.
R – Nossa. Nereu Benedito Baptista, 12 de maio de 1958. Nasceu natural de Linhares também. Minha mãe é Dulce Maria Libardi Baptista, nove de março de 1963. Nasceu em Linhares. Hoje atual Sooretama.
P/1 – E o que os seus pais fazem?
R – Meu pai é representante comercial, trabalha já tem mais de 30 anos na área. A minha mãe era bancária, minha mãe é falecida, e ela era bancária depois ela ficou aposentada por invalidez.
P/1 – E seu pai era representante comercial de quê?
R – Ele vendia alimentos, né? Produtos pra supermercado, essas coisas assim. Essa área de alimentação mesmo.
P/1 – E conta um pouco como é que seu pai é de temperamento e como é que sua mãe era.
R – Meu pai é um espetáculo. É um cara brincalhão até, muito sério nas coisas dele, mas ao mesmo tempo ele não se importa muito com as coisas. Ele é mais desapegado a muitas coisas. Gosta de ter pessoas em volta dele, gosta muito de crianças, gosta mesmo de ser família assim. É um cara muito bacana. A minha mãe, na época que a gente viveu com ela, minha mãe sempre foi mais carinhosa, mais meiga, aquela mulher de casa mesmo, que cuida, zeladora das coisas, né? Mas uma mulher também muito amada.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho uma irmã, a Natalia.
P/1 – O que a sua irmã faz? Ela é mais nova ou mais velha?
R – Ela...
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Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Alan Libardi Baptista
Entrevistada por Tereza Ruiz
Linhares, 03/06/2014
NCV_HV19_ Alan Libardi Baptista
Transcrito por Ana Carolina
Realização Museu da Pessoa
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Alan, eu queria que você falasse pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Alan Libardi Baptista. Nasci no dia 27 de janeiro de 1989. Nasci aqui em Linhares, no Espírito Santo.
P/1 – Agora o nome completo dos seus pais e se você souber data e local de nascimento também.
R – Nossa. Nereu Benedito Baptista, 12 de maio de 1958. Nasceu natural de Linhares também. Minha mãe é Dulce Maria Libardi Baptista, nove de março de 1963. Nasceu em Linhares. Hoje atual Sooretama.
P/1 – E o que os seus pais fazem?
R – Meu pai é representante comercial, trabalha já tem mais de 30 anos na área. A minha mãe era bancária, minha mãe é falecida, e ela era bancária depois ela ficou aposentada por invalidez.
P/1 – E seu pai era representante comercial de quê?
R – Ele vendia alimentos, né? Produtos pra supermercado, essas coisas assim. Essa área de alimentação mesmo.
P/1 – E conta um pouco como é que seu pai é de temperamento e como é que sua mãe era.
R – Meu pai é um espetáculo. É um cara brincalhão até, muito sério nas coisas dele, mas ao mesmo tempo ele não se importa muito com as coisas. Ele é mais desapegado a muitas coisas. Gosta de ter pessoas em volta dele, gosta muito de crianças, gosta mesmo de ser família assim. É um cara muito bacana. A minha mãe, na época que a gente viveu com ela, minha mãe sempre foi mais carinhosa, mais meiga, aquela mulher de casa mesmo, que cuida, zeladora das coisas, né? Mas uma mulher também muito amada.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho uma irmã, a Natalia.
P/1 – O que a sua irmã faz? Ela é mais nova ou mais velha?
R – Ela é mais nova. Eu tenho 25, ela tem 22. Hoje ela é técnica em segurança do trabalho, trabalha numa empresa de sólidos aí da cidade.
P/1 – Conta um pouco pra gente como é que era a casa em que você passou a infância? Onde que era, descreve um pouco como é que era, como é que era o bairro.
R – Olha, a casa que eu passei a infância até hoje é a minha casa, né? Com algumas diferenças, porque era casa de conjunto habitacional antigo, então, era casa bem pequena. A minha infância foi sempre na rua brincando com os meus amigos, brincando mesmo, com as minhas atividades, indo pra escola, que era perto da minha casa. Então, era muito pequenininha. A minha casa era pequena, eu e minha irmã dormíamos juntos porque eram dois quartos naquela época ainda, era tudo pequenininho. E aí a minha infância foi sempre divertida, bem alegre. Meu pai sempre me deu liberdade de ficar na rua, mas naquela época era mais tranquilo assim.
P/1 – E qual que era o bairro?
R – Juparanã, de Linhares.
P/1 – E como é que era o bairro na época da sua infância? Era muito diferente de hoje assim?
R – Olha, a estrutura é a mesma, não mudou muita coisa. Mas, querendo ou não, o desenvolvimento na cidade é bem maior, então, ele ficou mais movimentado. As ruas já são mais movimentadas. A minha rua mesmo, que é a principal do meu bairro fica agora muito movimentada, não dá mais pra brincar. Mas a vizinhança é sempre a mesma, não mudou muita coisa, não. Mais casas mesmo.
P/1 – E quais que eram as brincadeiras de infância? Você citou que brincava bastante na rua, quais que eram?
R – Olha (risos), recordar a infância agora, vamos lá. Era muito pique-pega, pique-esconde a gente brincava muito. Pique-bandeirinha, né? Futebol, garrafão. Também tinha um bairro do lado que estava crescendo o desenvolvimento, a gente ia muito brincar de bicicleta, de rampinha. Era muito arteiro. Carrinho de rolimã, a gente já chegava na época já de carrinho de rolimã. Era bem bacana, bem legal.
P/1 – Tinha uma favorita? Você tinha uma brincadeira favorita?
R – Olha, sempre fui fanático por futebol. Desde pequeno eu fazia escolinha de futebol, jogava bola. Mas essas corridas mesmo, mas assim o que mais eu gostava era o futebol. Até hoje.
P/1 – Era o preferido. E como é que eram as refeições na sua casa quando você era pequeno? Quem que cozinhava, o que vocês comiam?
R – Olha, no início, logo quando eu era menor, nós tínhamos uma empregada, aí comia a refeição normal. A gente sempre... Aqui na cidade, aqui em Linhares é pão francês que vocês conhecem, é pão de sal. Então sempre foi o pão de sal com iogurte, com café. As refeições normais mesmo, um arroz e feijão, tudo muito básico. Nada de muita coisa não. E sempre seguia a tarde, de manhã, a tarde e a noite sempre as refeições básicas mesmo, nada de muitas coisas assim, não. Era mais simples também.
P/1 – E você tinha um prato favorito?
R – Olha, na época... Eu sempre gostei de macarrão com carne moída. É uma coisa simples, mas que eu sempre gostava, ainda mais quando a minha mãe fazia, né? Macarrão com carne moída. Então fazia aquele prato, até hoje eu faço também.
P/1 – Pratão.
R – É.
P/1 – E café? Vocês tinham o hábito de consumir café na sua casa?
R – Olha, a vida inteira café. O café desde pequeno. O meu pai cresceu... Eu acho que eu gostei mais do café, de bebida hoje por causa do meu pai que me ensinou mais. Porque todo dia de manhã, por ele acordar sempre cedo, às seis da manhã, cinco e meia, aí ele já deixava pronto o café pra gente para eu ir pra escola, já tomava café em casa mesmo. Às vezes, não era nem um pão, mas um café tinha que tomar pelo menos só pra seguir em diante.
P/1 – E como é que o café era preparado na tua casa na infância?
R – Olha, no coador mesmo. No fogão normalzinho, naquele coador de pano ainda. Até hoje, lá em casa até tem ainda, mas agora já tem os de filtros. Mas era mais o coador de pano mesmo, a garrafinha pequena porque era mais eu, o meu pai e minha mãe mesmo que tomávamos café, então sempre foi pouca coisa mesmo.
P/1 – E você sabe onde vocês compravam o café?
R – Sempre compramos no supermercado. Sempre supermercado, nunca foi comprando em alguns lugares, não. Da minha infância sim. Hoje agora mais adulto que já trabalho em outro lugar, pega em outro lugar.
P/1 – Hoje você pega onde?
R – Eu pego um pouco do café atual da fazenda que eu trabalho, né? Eu pego, faço as misturas, a gente toma. Compro um café arábica puro, a gente faz um diferencial. Porque como cresceu de pequeno, agora eu sou um apreciador de café, então é até um vício.
P/1 – Na tua casa mesmo você faz mistura?
R – Sim. Sim. A gente sempre faz uma mistura, né?
P/1 – E como é que é? Conta um pouco como é que prepara essa mistura.
R – Olha, sempre a gente compra mais é o café arábica com o café conilon, mas não é sempre. A gente pega o café arábica puro, pega um pouco, uma porcentagem, mais ou menos 50% do conilon, faz aquela mistura e faz. Então a gente sempre tem esse café e fica um pouco mais forte também, então é até melhor.
P/1 – Você torra em casa também?
R – Não. Torrar a gente não torra, não. Já compra pronto, né? Compra puro, mas pronto. Porque querendo ou não tem que ter o torrador, a gente não tem isso ainda, não. Tem como fazer, mas a gente não arrisca, não.
P/1 – Tá certo. Queria saber se dessa fase de infância você tem alguma história marcante, uma coisa que você sempre lembre, que você conte pros amigos ou que dentro da sua família vocês sempre se lembrem.
R – História marcante... Relacionada a qual coisa? Que sentido?
P/1 – Qualquer coisa. Uma coisa assim da infância, da fase da infância que você sempre lembre ou, às vezes, sabe, a família sempre lembre, aquele causo que a família sempre conta.
R – Olha, como eu já falei que eu gosto de futebol, uma coisa que eu sempre gosto porque o meu pai sempre me lembra, quando eu era pequeno o meu pai, a primeira coisa, um dos maiores presentes que ele deu foi a camiseta do Fluminense, quis que o seu filho fosse fluminense. Depois apareceu o meu tio que é o meu padrinho hoje, que foi lá e começou a me encher de dengo, encher de bola, de camisa do Vasco e tudo mais, hoje eu sou vascaíno. Aí toda vez, qualquer lugar que o meu pai vai, falam: “Ah, o seu filho é o quê?” “Meu filho é vascaíno.” “Mas você é fluminense então...”. Aí começa a contar aquela história toda. É uma coisa que sempre fica, é um detalhe. Tem muitos, mas é um detalhe que sempre fica.
P/1 – É a maior decepção pra ele.
R – Pra ele. Pra mim, alegria.
P/1 – Você tem um ídolo assim de futebol?
R – Olha, não um ídolo assim, mas eu gosto do futebol do Edmundo. Pela raça, pela garra. Pelo caráter nem tanto, mas é um cara que eu sempre vejo o esforço que ele fazia dentro de campo. Ainda mais porque eu peguei a época de 98, a época de títulos do Vasco, então sempre foi tipo assim, foi um diferencial pra mim, né?
P/1 – Um cara que você admira assim.
R – É. Exato.
P/1 – Tá certo. Agora eu queria falar um pouco da escola, o momento que você entra na escola. Quantos anos você tinha?
R – Olha, eu entrei bem novo. Eu entrei com quatro anos. É. Quatro ou cinco anos.
P/1 – E era próxima da sua casa?
R – Era uns 400 metros, mais ou menos. A primeira infância, o ensino infantil sempre foi perto ali mesmo. Comecei acho que foi com quatro anos. É. Quatro, cinco anos.
P/1 – E quais que são as primeiras recordações que você tem da escola?
R – Olha, era uma escola muito pequenininha. A escola não era pública, era particular, mas muito pequena. As salinhas muito pequenas. A infância que eu lembro eram as cadeiras pequenas, eu lembro que depois eu estudava... Tinha amigos que agora eu to voltando, que estudaram comigo, que eu não lembrava, mas era uma escola muito boa que eu gostava realmente de ir, professores muito bons. Até hoje eu tenho até alguns amigos que são professores, porque desde aquela época lá atrás a gente fez um diferencial. Porque por ser muito pequena ela era muito acolhedora, então ela tinha um diferencial, não era aquela escola ampla.
P/1 – Você se lembra do nome dela?
R – Escolinha Primeiros Passos.
P/1 – Existe ainda?
R – Não. Fechou.
P/1 – E era só ensino infantil ou ia pro fundamental?
R – Era só ensino infantil. Na hora que começava o fundamental tinha que ir pra outra. Era só ensino infantil.
P/1 – E teve algum professor marcante dessa fase? Era muito pequenininho, né?
R – Eu lembro a fisionomia, mas as professoras que ensinaram eu até esqueci o nome. Mas eu tenho assim, eu sei que a irmã do Diederson, de um amigo meu, que fez até faculdade comigo, a irmã dele me deu aula. Professoras bem legais que eu lembre.
P/1 – Você era muito pequenininho pra lembrar o nome.
R – É. Muito pouco.
P/1 – E depois quando você vai pro Fundamental I, pra que escola você vai?
R – Fui pra Cooperativa Educacional de Linhares, que era CEL o nome, né? Aí eu fiquei até terceira série. Escola muito boa também, particular também.
P/1 – Como é que ela era assim de estrutura em relação a sua escola anterior? Bem maior?
R – Não, bem maior. Isso. Já começava de primeira à oitava, não tinha ensino médio ainda, mas era primeira à oitava, professores até hoje eu tenho... Agora eu me lembro da professora, Bernadete. Professora Bernadete pra mim era sensacional. Tipo assim, você tinha um carinho, professora de português. Porque também acho que era a que mais me cobrava pra fazer as coisas, porque português sempre fui dedicado, mas não fui... Teve notas boas, mas sempre foi essa que destacou mais.
P/1 – Ela marcou assim?
R – Marcou.
P/1 – E você tinha na época algumas matérias preferidas?
R – Olha, Educação Física. Mas eu sempre fui... Gostei um pouco de Português também muito pouco, mas Matemática era um diferencial pra mim, né? Não que eu era inteligente em Matemática, mas assim, eu gostava de aprender. Na área das exatas assim dava um diferencial, eu gostava.
P/1 – Era assim das preferidas?
R – Uma das preferidas. Isso aí.
P/1 – E você ficou só até a terceira série nessa?
R – Isso.
P/1 – Aí depois você foi pra qual escola?
R – Depois eu fui pro CAIC. Samuel Batista Cruz é o nome da escola, mas é aquele projeto CAIC, tem no Brasil inteiro.
P/1 – O que é esse projeto? Explica um pouco.
R – É uma escola tipo escola padrão do governo, o nome é CAIC. A maioria das cidades tem um CAIC, não todas, mas assim, eu sei que aqui no Estado do Espírito Santo algumas cidades maiores têm. A escola Samuel Batista Cruz que eu fiquei até a oitava série. Era da quarta série até a oitava.
P/1 – E essa escola, como é que era?
R – Olha, é uma escola muito boa. Professores muito bons. Querendo ou não o ensino eu não sei se era diferenciado do ensino particular pro público, na hora que eu saí do particular eu fui até bom, notas altas, sempre fui um aluno dedicado, aluno exemplar. Eu tinha uma tia que trabalhava dentro, aí ela que pegava no meu pé mesmo pra estudar, era até bom. Sempre fui um aluno, tipo assim, dedicado. Exemplar, não.
P/1 – Ela era professora a sua tia ou não?
R – Ela era supervisora. Ela é supervisora, então qualquer coisinha que fazia ia pra ela, aí ela puxava a minha... E ela é uma das tias por parte de pai mais brava, aí que...
P/1 – É aí que você... Pegava no pé.
R – Pegava muito.
P/1 – E você lembra se nessa fase de infância, já de adolescência, o que você queria ser quando crescesse?
R – Olha, você me pegou. Eu sempre, até os 14 anos, eu tinha um sonho querendo ou não de ser jogador de futebol. A gente cria. Mas nunca passava pela cabeça o que eu queria realmente ser. Pensei em ser vendedor igual meu pai, porque querendo ou não você puxa um pouco sardinha pras pessoas que estão dentro da sua casa, mas nunca tinha esse sonho de o que ser. Nunca pensava, não. Meu foco era acho o presente, não lá na frente. Essas coisas assim.
P/1 – E nessa fase de adolescência, o que mudou em termos de lazer? Porque muda um pouco da infância pra adolescência. O que você fazia pra se divertir, se você tinha uma turma de amigos, onde vocês saíam?
R – Olha, eu tinha muito... Sempre foi... Futebol sempre foi a marca, né? Eu treinava numa escolinha de futebol, aí tinha uns campeonatos na cidade, no estado, a gente sempre viajava. Então, eu era muito focado. Segunda, quarta e sexta treino, final de semana viajava. Eu sempre tive esse vínculo de amizades, tipo assim, em torno disso daí.
P/1 – Qual que era a escolinha?
R – Antes era Linhares, depois virou Leão Esporte Clube. Participava da Copa Gazetinha, que é um campeonato aqui do estado. Aí sempre jogava fora, jogava nas cidades vizinhas. Já fui pra longe no sul do estado. Então era diferenciado assim.
P/1 – Até quantos anos você jogou?
R – Olha, joguei até... Com 15. Terminei com 15. Quando eu ia fazer 16 eu parei. Quando eu ia fazer 16 eu parei, eu vi que realmente não tinha futuro, não. Era só mais um lazer. Mas eu sempre... Na minha cidade tem muitas lagoas e, querendo ou não, as planícies eram... Tem que ter montanhas, alguma coisa, não muitas montanhas, mas depreciações, aí a gente sempre dá uma de maluco de brincar de fazer... Fugiu o nome. De fazer, de bicicleta, trilha. Isso. Até hoje eu tenho até algumas marcas no corpo por causa de uma trilha que eu fiz. Era até um trabalho de escola, a gente juntou as duas coisas, trabalho de escola com a trilha, quando eu fui ver eu acabei me acidentando, machucando, quebrei, desloquei o braço. Até hoje eu tenho sequelas.
P/1 – Onde que foi isso?
R – Foi aqui em Linhares mesmo, né?
P/1 – Mas a trilha era onde, o lugar assim?
R – Era perto da Lagoa Nova. A gente fala que é Rio Pequeno. Onde a Lagoa Nova sai pra... A água sai pro Rio Doce, que é o principal rio da cidade. Desemboca, é isso. Aí a gente sempre fazia naquela parte ali assim, perto da Lagoa Nova.
P/1 – E era um trabalho de faculdade você falou? O que era?
R – Não. Era trabalho ainda de escola, de ensino fundamental. Eram as belezas naturais de Linhares. Aí eu falei: “Vamos tirar foto das lagoas”. Porque, querendo ou não, a cidade sempre teve um marco, as lagoas, né? Sessenta e nove lagoas. Tem até um diferencial. Muito bonito.
P/1 – E como é que foi o seu acidente? Como que você se acidentou?
R – A gente tinha marcado um sábado, era coisa meio de maluco assim: “Ah, vamos fazer”. Aí leva a câmera, leva um monte de coisa, leva um monte de biscoito, a mochila nas costas. A minha bicicleta tinha quebrado o freio aquela semana, só tinha o freio da frente. A gente tentou ajeitar lá, nós ajeitamos alguma coisa, mas só assim: “Ah, vamos ver o que vai dar”. Eu fui na loucura mesmo, maluquice. Aí daqui a pouco, pelo meu freio ser o pior, eu falei: “Deixa eu ir na frente, se acontecer alguma coisa vocês vão atrás”. Realmente aí eu fui. Na hora que eu peguei descendo, ela alcançou uma velocidade muito rápida e eu não consegui frear com o freio da frente. Eu puxava, antigamente as bicicletas tinham um fiozinho que puxava embaixo assim. Aí eu não consegui frear direito, eu falei: “Ah, vamos ver o que vai dar”. Eu soltei. Na hora que eu soltei tinha um cupim de solo, que é o cupim que faz no solo. Aí ela rampou em cima assim, na hora que eu bati, eu consegui até bater, mas na hora que ela voltou o raio era fino, aí entortou a roda da bicicleta eu caí. Na hora que eu caí eu desmaiei, não me lembro de mais nada. Saí ralado. Meus amigos: “Alan, Alan, você tá bem?”. Aí desceu, quando viu que eu tava desmaiado. Depois de um tempo eu acordei, desamassou a bicicleta, tava todo machucado. No final não teve foto, só teve um pequeno passeio, não fizemos trabalho, não fizemos nada.
P/1 – Você foi pro hospital?
R – Fui. Cheguei a ir pro hospital. Na hora que eu tava chegando em casa meu pai falou: “Não quero nem ver”.
P/1 – Você deve ter batido a cabeça.
R – Bati a cabeça, ralei os dois braços, os dois joelhos, a lateral aqui. O que me salvou ainda um pouco que na hora que eu saí lixando no chão a bolsa pegou, mas ainda me machuquei muito.
P/1 – Foi grave. Deu sorte na verdade.
R – Foi. É. Muita sorte.
P/1 – E dessa fase assim do futebol que você viajava jogando, tem alguma coisa assim, uma história marcante, um campeonato que tenha sido mais marcante?
R – Olha, eu lembro um jogo de futebol lá em Pedro Canário que era as fases finais pra gente ir pras quartas de final em outra cidade, que era oitavas, depois você ia pras quartas. Era um jogo nosso marcante no futebol que eu lembro até hoje. Eu era sub-14, 15 que eles falavam. Acho que era 12, 13 naquela época ainda. Por eu ser grande, eu lembro eu era até o capitão e eu era um zagueiro talvez alto, assim. Aí daqui a pouco a gente ganhou o jogo de um a zero, era a cidade Pedro Canário, na divisa com a Bahia ali. Na hora que a gente ganhou o jogo era tipo assim, quem ganhava ia pras finais, pras quartas, lá em outra cidade. A gente ganhou de um a zero. Por ter ganhado eles ficaram com muita fúria, então os pais, não sei se eram os pais ou se eram amigos, não sei se é a cultura deles, daqui a pouco a gente teve que sair correndo porque começaram a apedrejar o nosso ônibus querendo arrumar briga com a gente. A gente saiu feliz, mas corrido da cidade, apreensivos, e fomos embora. Deu nisso.
P/1 – Mistura de medo e euforia.
R – E euforia ao mesmo tempo. Mas era muito bom. A gente tinha umas amizades muito sadias quando era 12, 13 anos, né? Acho que levava mais na brincadeira do que na seriedade, mas sempre com foco também de ser campeão. Nunca fui campeão também não, no campeonato. Só algumas cidades que o nosso time sempre foi o melhor.
P/1 – E festa nessa fase de adolescência? Tinha? Você frequentava, ou barzinho ou festa? Tinha isso?
R – Eu comecei... Meu pai foi sempre liberal comigo, mas ele me dava uma... Ele falava sempre uma coisa pra mim que, tipo assim, eu precisava ser responsável pelas minhas atitudes. Então, ele me liberou pra uma festa, acho que eu tinha 14 anos, acho que foi minha primeira festa. Foi numa quinta-feira que no outro dia eu tinha que trabalhar também, que eu era ainda menor aprendiz, eu trabalhava. Eu fui numa festa e aí depois com 14 anos eu comecei a sair mesmo. Sair pra festejar, essas coisas assim.
P/1 – E era que tipo de festa?
R – Eu lembro até hoje, minha primeira festa que eu fui foi o Calypso, não sei se você lembra, lá do Pará. Nossa.
P/1 – E como é que foi?
R – Olha, nem lembro. Foi com um amigo meu. Eu sei que o pai dele veio buscar a gente depois, e fiquei na casa da minha tia que era perto dali, porque ficou perto do meu trabalho. Porque como acabava de madrugada, então, eu dormia mais perto do serviço, aproveitava mais a noite pra dormir, três horas de sono depois ia pro trabalho. Mas foi a primeira. Aí depois foi a primeira de muitas, eu sempre gostei de axé, de swingueira. Naquela época era muito axé, Ivete Sangalo, essas outras bandas assim. Eu sempre fui de micareta, né? Essa fase foi o início de muitas até certo tempo.
P/1 – E esse trabalho aí que você mencionou, o menor aprendiz, foi a primeira experiência profissional que você teve?
R – Sim. Primeira experiência.
P/1 – E o que é o projeto? Onde que foi?
R – Então, é um projeto que as empresas contratavam menores que estavam estudando ainda, como se fosse um estágio. Então foi na... Qual o nome até hoje lá? Centro Educacional Josefina Gomes de Araújo, alguma coisa assim. Atual é Faculdade São Francisco lá no bairro de São Francisco. Tanto assim, era um projeto mais na área educacional, de professores, cursos de professores, cursos mais profissionalizantes de professores. Então era nessa faixa. Mas eu era administrativo, auxiliar, essas coisas assim.
P/1 – O que era exatamente esse seu trabalho?
R – Olha, eu ficava... Porque documentos, documentação, que tem que ter documentação, eu pegava as documentações, anexava, guardava, fazia tipo um banco de dados mesmo. Ficava auxiliando nessas coisas. Mais ali dentro limpando, alguma coisa assim.
P/1 – E era remunerado?
R – Era remunerado.
P/1 – Você lembra o que você fez com os primeiros...
R – Ah, eu gastava só com besteira.
P/1 – Tipo o que assim?
R – Olha, eu comprava muita roupa, mas era com muito... Era muito lanche. Eu gastava com lanche. Eu gastava com: “Ah, quero comprar um tênis. Vou comprar um tênis”. Então nunca fiz uma poupança, nunca tive isso, não. Mas assim, mais com coisa pessoal mesmo, comprar um perfume, comprar um tênis, comprar ingresso. Comprava ingresso pra ir pras festas porque ainda mais era outra cidade, aí guardava um dinheirinho pra ir pras festas em outras cidades. Não era muita coisa, mas fazia muita coisa com aquele pouco.
P/1 – Mas teve alguma coisa que você comprou que você queria muito e que aí o estágio possibilitou você a comprar, que antes você não podia?
R – Olha, comprei uma bicicleta. Pra mim era muito bom, comprei uma bicicleta boa, com amortecedor. Sempre gostei de bicicleta também.
P/1 – Você não tinha ainda ou você tinha, mas tinha uma mais simples?
R – Eu tinha, mas era uma mais simples, né? Aí eu fui lá e comprei uma melhor e tudo o mais. E comprei um tênis da época, paguei, nossa, 600 reais. Foram dois salários meus só pra... Dois, três salários só pra pagar um tênis. Então era porque assim, não, queria ter um tênis daquele.
P/1 – Qual que era o tênis, você lembra?
R – Olha, eu acho que aquele Nike Shox. Não. Era o Adidas. Acho que era da Adidas, que tinha mola em todos. Nem lembro. Eu sei que eu juntei dinheiro pra comprar ele. Meio que durou até.
P/1 – É. Desejo de adolescente mesmo.
R – A gente não tem um foco lá na frente, a gente não pensa em nada. Pensa no hoje, né? Aproveitar o hoje, as brincadeiras, por aí vai.
P/1 – E quanto tempo você ficou nesse emprego?
R – Eu fiquei mais ou menos um ano e oito meses, eu acho. Um ano e meio, um ano e oito meses. Depois eu saí.
P/1 – E depois que você terminou a oitava série você ficou no mesmo colégio? Não, né? Você mudou, lá não tinha...
R – Não. Aí eu fui pro Escola Emidio Macedo Gomes. É o estadual aqui da cidade, que eles falam. Uma das escolas mais conhecidas, estadual. Aí já eram 15 turmas de primeiro ano, 15 de segundo, era enorme. Aí foi um diferencial também. O primeiro ano eu quis até estudar, até tinha um foco também. Comecei a estudar mais, essas coisas assim. Conheci muitas pessoas novas, porque você muda de escola, então você muda de ambiente, você muda de amigos, de colegas, né? Você muda as pessoas, aí um vínculo muito bom. O problema é que eu juntei numa turma que tinha muita gente que... Era uma galera muito gente boa, mas aí a gente... Ao mesmo tempo em que a gente era muito estudioso, a gente era muito bagunceiro, então, a gente dava muito trabalho. Até hoje eu lembro.
P/1 – E você falou que você começou a estudar mais, você já tinha em mente assim o que você queria fazer de vestibular?
R – Não. Querendo ou não, assim, o meu ponto de vista, as escolas estaduais não direcionam pra o que você quer já pensar em fazer lá na frente. Você quer fechar o seu ensino médio. Ponto. O que você quer fazer lá na frente eles não direcionam. Eles comentam. Não é que comentam, porque você vê os seus professores formados em matemática, português, letras, história, né, nessa parte assim. Então você imagina, mas ainda meu foco não tinha nada. Eu queria terminar o meu ensino médio, queria terminar os meus estudos pra depois trabalhar. Nada de... Não tinha um foco mesmo em alguma coisa, não.
P/1 – E você tava trabalhando nessa época em alguma coisa ou quando você terminou o estágio você parou de trabalhar e tava só estudando?
R – Não. Nessa época... Na hora que eu entrei nessa escola, que eu já tava estagiando. Aí eu tive até que mudar no segundo ano, eu era do primeiro turno da manhã, depois fui pro vespertino e aí eu tive que mudar por causa do serviço também. Aí eu estudei depois um ano no vespertino, depois eu voltei pro matutino, depois que eu saí. Depois eu fiquei parado certo período, nem lembro direito.
P/1 – Não teve outro trabalho logo depois dessa...
R – Não. Eu fiquei parado. Fiquei parado. Isso. Fiquei. (pausa)
P/1 – Vou pedir pra você retomar pra... Quando é que você decidiu e como é que você decidiu o que você ia fazer de faculdade?
R – Então, depois que eu terminei o meu ensino médio eu não tinha pensado. Eu pensei em fazer, aí eu imaginei... A minha família, até me esqueci de falar, minha família tem sempre amigos que vieram de fora, trabalhavam numa empresa na reserva natural daqui da cidade, aí eles eram engenheiros agrônomos, engenheiros florestais. Aí eu falei: “Não, vou fazer Engenharia Florestal, pensou? Poxa, como deve ser legal e tal”. Querendo ou não você espelha em alguma pessoa. Eles eram bem de vida, pessoas tranquilas assim, eu falei: “Vou tentar fazer”. Aí eu pensei em fazer Engenharia Florestal, mas eu também não fiz uma inscrição, porque querendo ou não o vestibular é intervalo... Assim, no meio do ano do ensino médio, do terceiro ano do ensino médio. Eu nem fiz a minha inscrição, nem fui atrás, mas o desejo tinha, fazer Engenharia Florestal. E a única Engenharia Florestal que tinha no Estado era na UFES. Passou, depois eu nem comecei a trabalhar, aí eu fiquei ainda... Aí logo depois dessa oportunidade que eu pensei, logo quando eu acabei o ensino médio, abriu uma turma de Agronomia na cidade vizinha, em Sooretama que é a cidade do lado de Linhares, daqui da minha cidade. Aí eu falei: “Não. Vai essa mesmo”. Porque Agronomia mexe com café, mexe com outras coisas, mexe... Querendo ou não, é um pouquinho parecida com floresta. Eu falei: “Ah, não. Vou fazer essa daí mesmo. Minha família já está engajada em roça, nessas culturas. Vou fazer essa aí”. Mas assim, entrei sem nenhuma perspectiva de nada, de crescimento, o que era realmente. Nunca tinha estudado realmente o que é Agronomia, o que estuda. Não. Logo depois que eu fiz a minha matrícula, que eu ia fazer a prova... Melhor, eu ia fazer a prova, o vestibular, aí eu comecei a estudar o que é Agronomia, mas assim, fui no pontapé mesmo, nem imaginei. É aquela história, caí de gaiato mesmo no navio lá e falei: “Vamos ver o que vai dar”.
P/1 – Deu certo.
R – Passei. Comecei a fazer.
P/1 – Qual que é a faculdade, você falou?
R – É Faesa. Passei na Faesa, faculdade particular, ali em Sooretama. Eu comecei a fazer, aí começou a desandar. No início foi difícil pra mim porque como você não tem ensino... O ensino médio, querendo ou não, eles não te forçam tanto a estudar. Eu sabia um pouco. Pra mim sete tava bom, mas quando você cai na faculdade você vê que realmente você precisa se dedicar mais, você precisa estudar. Então você não vinha com esse vínculo de estudos, aí é... Eu falei: “Opa. Agora eu tenho que arregaçar a manga e ir estudar”. Querendo ou não é diferente, não é mais uma escola qualquer.
P/1 – E fora essa coisa assim de ter que estudar mais, o que mais mudou na sua vida? Na vida universitária o que tinha de diferente, as coisas que vocês faziam, turma de amigos, o que mudou na sua vida a faculdade?
R – Criei um pouco mais de maturidade, né? Mais responsabilidade, isso sim. Querendo ou não você tinha que buscar. E mais, era em outra cidade, então, eu comecei a ter que me virar com as minhas coisas. Meu pai me dava um apoio, mas não me levava, trazia, não. Isso eu tive que encarar. Tinha que pegar ônibus, tinha que pegar carona, que era muita carona que a gente pegava e a gente ia. Logo depois também apareceu oportunidade de emprego na cidade, na reserva que o rapaz trabalhava que eu pensei em fazer Engenharia Florestal. E aí eu consegui um estágio... Não é estágio. Eu fiz um estágio da faculdade lá, mas o meu trabalho em si mesmo começou a fazer dentro dessa empresa mesmo, ela é terceirizada, dessa reserva natural...
P/1- Qual que é a reserva? Qual que é a empresa?
R – Reserva Natural Vale. A Vale tem o Instituto Vale aqui, então eu era terceirizado que eu fazia as medições, isso aí chamam de inventário florestal. É o inventário florestal, e a gente faz pra conhecer dimensão de árvores, crescimento de plantas. Tem uns projetos, vários projetos também, cada dia mais pra sustentabilidade também. Eu comecei a trabalhar nessa empresa e pra mim foi bom, porque eu trabalhava nela já em Sooretama, eu já voltava, já ficava na cidade. Ficava numa casa, tinha uma casa alugada, tomava banho e ia pra faculdade, depois voltava de carona ou de ônibus pra casa. Aí era esse ciclo. Era meio cansativo porque acordava cinco horas da manhã e chegava 11 horas da noite, aí tinha que fazer outras coisas ainda além de estudar, tudo mais. Você vai se acostumando.
P/1 – E qual que era exatamente o seu trabalho? Era um estágio, você falou? Qual que era a sua função?
R – Eu fiz o estágio, mas era auxiliar operacional. Mas o que era mais? É você... Tinha as pesquisas dentro da reserva, a Vale monta pesquisa já tem mais de 30 anos, as pesquisas dentro e você vê dimensão, dimensionamento de árvores. Quanto mais ela cresce por ano, aí você ficava medindo. Eu era mais a parte de anotação. As pessoas iam medindo, iam fazendo esse trabalho pra ver a evolução da floresta, crescimento de plantas. Também, tipo assim, classificação de espécies, quais espécies que eram. Eu não fazia muito isso, não. Tinha uma equipe montada, tinha um rapaz que identificava as plantas, mas eu era mais assim, mais o anotador, né? Então a gente fazia essa evolução das pesquisas, dava continuidade, dava andamento as pesquisas.
P/1 – E você tinha um dia a dia bem puxado, você falou agora assim. Dava tempo de fazer alguma coisa pra se divertir? Mudou um pouco o lazer na época de faculdade.
R – Não. É, mudou. Perdi o meu lazer. Querendo ou não, não ia dar mais, a minha faculdade era de terça, alguns dias de terça, mas era mais ou menos de quarta e sábado o dia inteiro. Então você chegava no sábado à noite, logo bem no início tipo não tinha muita... Eu falei que eu tinha festa na minha infância, minha adolescência, eu tinha muita festa, às vezes, eu matava aula, realmente, matava aula e ia pras micaretas da cidade. Mas aí depois você vai vendo que você vai sentindo falta, você perde algo. Então aí você começa... E outra, o cansaço do dia a dia. Lógico que você joga, você tem um pique, gás a mais pra você talvez: “Ah, to estudando tanto, to trabalhando tanto, vamos divertir um pouco”. Não, mas aí querendo ou não, às vezes, chegava um sábado à noite queria descansar mais um pouco, no domingo, né? Aí ficava mais em casa. Tem tudo isso mesmo.
P/1 – E depois desse estágio na reserva você fez algum outro estágio durante a faculdade ou não?
R – Não. O meu estágio foi durante toda a reserva. Eu fiquei dois anos e nove meses. Então, eu fiquei dos cinco anos de faculdade, três anos e meio eu fiquei dentro da faculdade, dentro do serviço dentro da faculdade. Então, tipo assim, eu consegui conciliar esse meu serviço fazendo estágios na parte mais de silvicultura, essa parte que aborda pouca coisa da agronomia, mas tem, silvicultura. Então eu consegui conciliar e contou pontos pra esse estágio meu.
P/1 – E teve assim algum momento que você tenha decidido durante a faculdade ou foi posterior a faculdade que você decidiu assim que você ia trabalhar com café, ou foi uma oportunidade de trabalho? Como é que foi isso daí?
R – Não. Foi engraçado e foi providente, eu falo. No dia que eu fui apresentar a minha monografia um amigo meu... A gente apresentou a monografia, ia apresentar à tarde, seis horas da tarde a banca, e aí três horas da tarde... Não. Nove horas... Três horas da tarde do dia anterior um amigo meu me falou: “Olha, tem um amigo meu me ligou, tá precisando de um rapaz pra ir trabalhar junto com ele e aí vai fazer uma entrevista lá”. Aí no dia da apresentação da minha monografia eu vim na empresa, na fazenda, aí ele tava precisando de uma pessoa pra auxiliar o serviço dele porque tinha muita coisa então ele não tava dando muita conta. Ele queria uma pessoa aqui da cidade, de confiança pra começar a dar continuidade. Até hoje é o meu atual trabalho. Eu sempre falo, no dia que eu ia apresentar a minha monografia eu já comecei a trabalhar, né? Aí é uma coisa até engraçada porque nos sinais, quando tá no oitavo período de faculdade, sétimo, você já pensa em já criar um rumo, especializar-se em alguma coisa. Aí eu falava com... Minha família sempre foi de pessoas.. Família agrícola mesmo. Meus avós, meus tios são cafeicultores. Como eu vi uma região, muitas coisas também, tipo assim: “Ah, eu não quero mexer com café porque já tem muita gente que sabe muita coisa”. Então eu falei: “Ah, vou pra fruticultura, olericultura, vou buscar outra coisa, mas com café eu não mexo”. Na primeira oportunidade que eu tenho, onde eu vou parar? No café.
P/1 – E qual que é a fazenda?
R – É a hoje, atual, Fazenda Modena. Eu trabalho até hoje aqui, tem dois anos e meio já.
P/1 – A entrevista foi direto com o seu chefe? Como é que foi isso?
R – Não. Foi com o meu ex-gerente. Hoje eu sou o atual gerente da fazenda e foi com o ex-gerente, ele me deu a oportunidade, eu fui auxiliar dele durante um ano. Já tem um ano e meio que eu estou nessa função também. Aí ele passou pro meu patrão, conheci logo o meu patrão também. Foi muito tranquilo, peguei as coisas muito fácil. Também o desejo de trabalhar pra mim era grande, né? Você sai da faculdade motivado, você sai também com desejo e você entra numa fazenda que você vê que ela tem um potencial muito grande, tem um diferencial enorme das demais. Não desfavorecendo, não menosprezando as outras, mas você vê que ela quer buscar um café de qualidade diferente. Aí você começa... Você não tem essa visão, querendo ou não, na faculdade. Você tinha a visão do café, os tratos culturais, como é feita adubação, tudo o mais, mas o diferencial pós-colheita, café de exportação, café de qualidade, aí que a gente abre a mente, falei: “Poxa, interessante”. Querendo ou não você tem um desejo a mais. Café certificado. Onde o Espírito Santo tinha café certificado? Começaram algumas. Até a própria Nestlé apareceu já com o café 4C, mas outros, o Rainforest, UTZ, não tinha. Então, você olhava assim e falei assim: “Que diferencial, né? Na marca”.
P/1 – Explica um pouco pra gente qual que é, você falou essa diferença da visão que você tinha quando tava na faculdade e quando começou a trabalhar aqui, por quê? Era uma questão de qualidade de café que era uma coisa que você não entendia, não tinha muita consciência ou era dentro da cadeia produtiva depois da colheita? O que é de diferente assim que foi uma descoberta?
R – Exatamente. É o pós-colheita que a gente chama. Porque o normal daqui, da nossa região, café secar depois de colhido, café verde, maduro, não interfere. Café sempre na região nossa aqui é depois da Semana Santa começa a colheita. Não é quando o café tá maduro, não. Depois da Semana Santa vamos começar a colheita. Traz o pessoal, começa a colher, joga no secador, enche o secador. Quanto menos horas, querendo ou não, o produtor rural parece que ele compete, né? Quanto menos horas de secagem pra ele é melhor, porque não, otimiza, mas querendo ou não perde a qualidade ali na frente. Você chega, você já tem uma mentalidade formada sobre o café, sobre mais ou menos isso, aí você chega numa fazenda que trabalha com fogo indireto, que não vai fumaça da palha mesmo, vai sem a fumaça da... Não a fumaça, mas assim, o ar quente da chapa. Aí você vê também café despolpado que até tira a poupa, tira a mucilagem, tudo mais. Você vê que é um café diferenciado, café de exportação, o tipo de bebida, o diferencial. Aí você conhece o gosto da bebida que é o café produzido lá fora, você vê esse café, a diferença. Poxa, é um diferencial a mais. Então, você começa a ter outros olhos, você começa algo a mais, né? Você já tem a base, mas você começa a ter um diferencial aí. Aí te desperta a querer também você ver esse diferencial.
P/1 – Você falou que tinha família, não era seus pais, mas eram tios, que mexiam com café.
R – Isso.
P/1 – E eles são produtores, é isso?
R – Sim. Meu tio foi um ousado. Meu tio também era bancário, na época de se aposentar ele voltou pra roça, que a roça ficou um pouco tempo... Minha família veio pra... A gente chama êxodo rural, mas nem tanto isso. A roça ficou lá guardadinha, mas a gente veio pra cidade.
P/1 – E onde era a roça?
R – Era no subdistrito de Sooretama, era aqui do lado também. A gente voltou, aí meu tio, tipo assim, estressado com banco, com as outras coisas mais falou: “Não, falou vou querer voltar agora pra minha origem”. Aí ele voltou, ele investiu na roça, trouxe um tio meu também que colocou junto deles, aí deram continuidade no trabalho. Tinha uns coqueiros plantados. Arrancaram o coco, plantaram café, maracujá. E querendo ou não nessa infância minha, nesse início de adolescência meu tio, como ele era meu padrinho, ele gostava muito de mim. Ele é um cara solteiro, então ele sempre me levava pra roça e, querendo ou não, eu tinha um vínculo com café. Mas assim...
P/1 – Você ajudava?
R – Nada. Eu acho que eu ajudava a gastar o dinheiro só. Mas ainda na produção assim (pausa).
P/1 – Só retomando, você tava contando um pouco então do seu tio que cansou da vida na cidade, virou produtor rural de café.
R – Virou produtor rural, aí sempre me levava pra lá, eu sempre ficava junto com ele. Ia mais passear, não mesmo trabalhar no campo. Vinha e olhava as pessoas trabalhando, mas nunca tinha desejo de trabalhar nisso. Eu sempre tive uma admiração pelo meu tio, pelo que ele fez, pela história dele bonita, pelo que ele é hoje. Então, tipo assim, tudo mais. Mas assim, nunca imaginei parar no café em si, mas aí eu sempre tive esse vínculo mesmo.
P/1 – Conta um pouco então como é ser gerente geral hoje aqui. É isso que é o cargo?
R – Sim. Gerente agrícola.
P/1 – Gerente agrícola, né? Qual que é o trabalho do gerente agrícola?
R – Olha, o gerente agrícola coordena, você faz a fazenda andar. Assim, grotesco mesmo, né? Mas você vê, você arruma equipe pras atividades, tratos culturais da fazenda. Você negocia produtos pra aplicação dos fungicidas, inseticidas, herbicidas, adubação. Por eu ser engenheiro agrônomo eu faço também as análises. Eu pego as análises, interpreto e faço a quantidade necessária. Qual a produção que a gente estima ter, tudo mais. Então, a gente tem um trabalho bem assim, consistente nessa parte. E, querendo ou não, trazer melhorias pra fazenda e otimizar também custos, pra ser mais sustentável e viável a produção do café.
P/1 – Qual que é a área que vocês têm aqui?
R – Olha, são 160 hectares hoje; 110 produzindo, o restante é estradas e APPs, reserva legal o restante. Totalmente irrigada, 100% irrigada. 95 hectares, não, é menos, 85, é isso aí, de pivô linear, o pivô, e a outra parte também com microaspersor.
P/1 – Com microaspersor?
R – Microaspersor.
P/1 – Que é?
R – Aqueles canhõezinhos. Uns canhõezinhos que fica por cima da copa do café jogando café, uns pequenininhos, né? É porque é uma parte mais acidentada onde o campo, o pivô não tem como andar direito. E aí fica nesse processo.
P/1 – O que você citou agora são essas duas técnicas de irrigação, é isso?
R – Isso. Os dois sistemas de irrigação. Exatamente.
P/1 – Explica sucintamente pra gente... (pausa) Então, você estava explicando pra gente quais são os sistemas de irrigação que vocês usam aqui. Só sucintamente assim, qual que é a diferença, quais que são?
R – É o pivô linear, que tem o pivô que são as seis torres. Ele anda em torres aqui, não é igual aquele pivô central que muitas vezes a gente vê, que é um círculo, olhando do alto é um círculo, mas é o pivô linear que ele vai andando lateral. E o canhãozinho que já são canos fixos que faz aquela malha de água por cima. Então ele molha a área toda.
P/1 – E qual que é a diferença assim de efeito?
R – Olha, esse diferencial do pivô linear porque ele molha onde a raiz do café se concentra. O outro, do canhãozinho que a gente chama, é microaspersor então ele molha a área toda. Não é toda área que o café tem as suas raízes, então, querendo ou não, desperdiça um pouco de água. Então esse é o diferencial.
P/1 – E por que mistura os dois, não usa só um deles?
R – É por causa do terreno, do relevo. Quando é plano, né? Porque o pivô anda na planície, igual da nossa área. Aquele é um pouco declinado, então tem esse diferencial.
P/1 – E pensando nessa coisa de técnica, tecnologia ligada ao cultivo do café e tudo, quando você pensa no que você conheceu de propriedade quando você era mais novo, propriedade do seu tio ou outras propriedades, e nessa daqui, você vê uma mudança assim no decorrer dos anos nas técnicas e tecnologia?
R – Olha, o café conilon em si cresceu muito em tecnologia. A técnica do café conilon é imensa, mas é... Porque como eu já peguei essa fazenda montada, então, você tem que se adequar de acordo com a realidade dela. Ah, o pivô linear é o mais adequado? Talvez não. Talvez seja pra aplicação do fungicida, talvez algo mais rápido, mas assim, da onde eu vim, da onde eu conheci é diferente. É mais um microjet, mais um gotejamento. São sistemas de irrigações, é um pouco diferenciado. O cultivo é mais familiar, lavouras pequenas. Aqui a lavoura é muito maior. É o conceito mais aqui de empresa, não mais família. Então, tipo assim, querendo ou não, tem uma diferença. As técnicas são praticamente as mesmas coisas, tratos culturais são parecidos, mas assim tem um diferencialzinho nessas diferenças de sistema de irrigação agora também, outras coisas a mais.
P/1 – E você falou agora dessa diferença desses produtores rurais pequenininhos pra essa aqui que é uma coisa mais de empresa, de empreendimento. O que é a diferença, você acha, de um cultivo menor e desse que já é um empreendimento?
R – Olha, o cultivo maior você consegue talvez trabalhar com um preço mais barato, ainda mais na compra de produtos. Você consegue também abrir mercados maiores, porque como você tem uma quantidade maior de produtos, de matéria prima, então você consegue já fazer vendas diretas. Não que os pequenos não tenham, mas é uma facilidade maior, você já fazer uma venda direta e tudo mais. Você otimiza o uso de alguns tratores, porque você compra um trator que vai precisar pra muita coisa. Às vezes, o produtor pequeno, eu olho pela minha família, pelos meus tios lá, os amigos assim, então, às vezes, usa emprestado, aluga, empresta esse daqui, ou empresta outro. Então tipo assim, é mais uma coisa de troca, um pouco mais, e eles vão se adequando. Aqui não. Aqui já é grande, então, você precisa ter umas coisas sempre, porque, querendo ou não, o olhar é maior.
P/1 – E você acha que o produtor tem uma mentalidade diferente, o pequeno e o grande produtor?
R – Olha, sim. Tem. É notável. Às vezes, a visão dele não é como empresa, a coisa dele é mais como realmente um passatempo, um ganha pão realmente, mas assim, lógico que ele tem a visão também como se fosse o sustento dele, mas ainda não tem voltado. Principalmente hoje onde eu trabalho, na parte de certificação que precisa agora ter carteira assinada, tudo certinho, tudo em dia. Preciso ter um técnico de segurança de trabalho, um representante pelo menos. Agora, por a gente trabalhar com mais de... Hoje não mais porque ano passado eram 80 funcionários na colheita. Hoje a gente trabalha não passa de 20. Então, tem o designado da CIPA que é alguma coisa de segurança do trabalho. PCMSO, PPRA, uns documentos para comprovação como empresa grande, uma indústria precisava ter. Então, os pequenos não têm ainda, mas eu não sei de acordo com o andar do tempo se vai precisar, mas assim, nós precisamos ter tudo isso mais ajeitado, as coisas mais em ordem. É esse diferencial, essas coisas assim. Ter um gerente agrícola, um engenheiro agrônomo responsável só pra essa área. Eles têm consultores, pessoas que passam, não que a gente não tenha, tem também, mas um responsável só pra essa área é mais viável porque compensa você ter uma pessoa aqui. Eles são produtores rurais com conhecimentos vastos também, mas uma coisa mais “tecnificada” você tem dentro da fazenda então você consegue ter esse olhar amplo.
P/1 – Eu perguntei pra vocês quanto vocês produzem hoje? Não, né?
R – Não.
P/1 – Quanto vocês produzem hoje?
R – Olha, o hoje em quantidades piladas... Ano passado foi aproximadamente umas 5500 sacas. Média de 55 por hectare. Esse ano a gente vai conseguir mais. A gente vai dobrar... Dobrar, não, mas vai aumentar mais ou menos uns 40%, chegar quase a 90 sacos por hectares. Pra nossa realidade, pra nossa quantidade de adubação que a gente fez, pras nossas técnicas é compensatório, muito bom. Como fala? Uma produtividade que a gente deseja alcançar mesmo. Lógico que outras variedades saíram agora, a gente precisa também agora renovar lavouras, mas ainda, tipo assim, não é a realidade da nossa fazenda, a gente precisa renovar que chegam até, não a média, mas assim, a produção de 140 sacas, a média de 110, 120. Então, a gente precisa melhorar isso, mas com tempo também, com pé no chão.
P/1 – Quando você fala de outras variedades você quer dizer o que exatamente? O que são essas outras variedades?
R – São variedades de café, mas são mais clones, clones de café. Clones mais produtivos, clones mais suscetíveis à ferrugem, clones que não têm mais broca das hastes, que a gente tem um problema aqui. Clones que não têm... Então assim, consegue com esse balanceado de fungicidas, inseticidas que não ataquem tanto. A gente consegue trabalhar mais nessa parte usando menos produtos químicos e também aumentando a produtividade com adubação. Quantidade de adubos menos que a planta responde a capacidade de produção dela. Então, tem esses diferenciais, esses clones na região, principalmente, que a gente precisa até... Já está sendo melhorado, mas a atualidade da fazenda ainda está a caminho, está caminhando pra isso.
P/1 – Alan, eu quero te perguntar um pouco sobre o Nescafé Plan e a relação com a Nestlé. Mas antes vou voltar só numa pergunta que ficou pra trás da vida pessoal assim. Queria saber se até hoje teve, nessa esfera mais afetiva, se você teve alguém especial, se teve um grande amor, se teve...
R – Ih...
P/1 – Pronto.
R – Num tá gravando?
P/1 – Tá gravando.
R – Olha só, tiveram pessoas marcantes, sim. Eu comecei a namorar muito cedo. Eu comecei com 17 anos... Assim, cedo, com 17 anos pra mim é cedo. Eu já tive umas cinco... Tive umas cinco, seis, cinco namoradas, né? Mas assim, a primeira foi período mais longo. Depois as outras foram períodos médios, mas assim...
P/1 – Como é que você conheceu a primeira? Foi a mais marcante assim até hoje?
R – Olha, não. Não foi. Não foi a mais marcante, né? Desculpa. Mas assim, não foi mais marcante. Mas assim, uma pessoa sensacional também, foi um pouco mais assim aquela coisa de adolescente, vamos ver o que vai dar, vai acontecendo, vai acontecendo, no final durou um ano e quatro meses. Então a gente, tipo assim, foi até bacana, foi legal, a pessoa sensacional hoje. A gente tem um contato, um convívio não intenso, mas a gente troca às vezes mensagens assim, mas mais pela amizade, pelo respeito que um teve pelo outro, né? E também, querendo ou não, por passar na história da pessoa. Então é bastante legal, mas assim pessoas marcantes, teve uma menina marcante na minha vida que assim, querendo ou não, abala às vezes porque era a pessoa que mais você chegava a aproximar. Mas pelo destino, pela vida, por talvez não era pra acontecer, pelas escolhas minhas ou dela, fizeram com que a gente se distanciasse. Ficaram marcas, mas ainda assim, tranquilas. Já estão cicatrizadas assim. Hoje eu não tenho namorada. Estou conhecendo algumas meninas... Algumas não, é uma. Vão pensar que eu sou... Mas que assim, eu busco também um pouco mais de valores, mas não... Mas assim, a marca mesmo pra mim são os valores que ficam, aquilo que permanece, aquilo que consiga construir. Não imediato, mas aquilo que é duradouro.
P/1 – Tá certo. Então agora vou começar a entrar um pouco nas questões que estão mais ligadas a essa parceria com a Nestlé, ao Nescafé Plan.
R – Sim.
P/1 – Eu queria saber como é que você conheceu o Nescafé Plan.
R – Olha, Nescafé a gente conheceu pela... A gente já tinha a certificação, o Rainforest, o Rainforest, UTZ que é uma certificação também internacional, que o produto... É rede de agricultura sustentável. Então a fazenda quando eu já entrei aqui ela já tinha esse Rainforest. Então a gente começou a desenvolver, já tem quatro anos, em 2014 fez quatro anos que a gente já está com esse trabalho. A UTZ já é nosso terceiro ou segundo ano, não lembro direito. A gente começou também por mais um pouco de rastreabilidade, da onde o café sai, o que é usado no café até chegar no consumidor final pra ter um parecer do produtor, o que ele está pegando na mesa, o que está sendo consumido na mesa dele. Então isso é muito importante. E com isso a vinda do Nescafé para a nossa região, que ele é um café conilon também, e aí as oportunidades da vida, o mercado nos levou a também ter esse café Nestlé Nescafé. Então foi esse diferencial. Como a gente já tinha uma coisa assim, uma estrutura bem montada, a gente só veio pra agregar valor mesmo com alguns ajustes, porque tem que atender algumas normas, algumas adequações, mas não muito longe daquilo que já era realidade na nossa fazenda.
P/1 – Mas você sabe como é que a Nestlé chegou até vocês, qual foi o primeiro contato assim?
R – Olha, o primeiro contato foi com o meu patrão, o responsável pela fazenda. Ele tem muitas pessoas, muitos... Qual é nome do rapaz? Não é consultor, mas assim, pessoas envolvidas no mercado de café. Então, como a gente já trabalha com um diferencial de café de qualidade, então por que não a gente dar esse algo a mais? No início foi por conversa, boca a boca, e depois tiveram alguns técnicos mesmo, alguns consultores que a Nescafé, a Nestlé mesmo já trouxe para nós para começarmos esse trabalho dinâmico e diferenciado num café mais de qualidade, o café conilon.
P/1 – E você teve contato assim com algum desses técnicos?
R – Sim. Hoje o Douglas, talvez, ele é conhecido hoje, ele trabalha na região. O Paulo também. A gente teve contato, teve algumas adequações, alguns questionamentos pra melhorar a nossa conduta dentro da fazenda. A gente sempre está em conjunto, às vezes, eu ligo pra ele, ele liga pra mim pra gente tentar fechar alguma coisa, pra ver algumas tendências do mercado, quais produtos são mais acessíveis, quais utilizados, quais os manejos que são mais aconselháveis, principalmente pra atender essa cadeia assim. Então a gente tem um contato muito bom...
P/1 – Como é que é? Conta um pouco, assim, nessas visitas que eles fazem ou nesses contatos telefônicos além das visitas, sobre o que vocês falam, qual é o auxilio. Como é que é essa parceria assim? Como é que é o diálogo? Que tipo de coisas vocês discutem?
R – A gente discute mais técnicas de tratos culturais. “Alan, vamos tentar melhorar o trabalho no nitrato, vamos trabalhar alguma coisa assim em potássio”. Pra quê? Pra gente tentar trabalhar na qualidade de bebida. “Alan, vamos tentar fazer um trabalho diferenciado no café despolpado”, que a Nescafé já também pensa nisso, né? Café de qualidade, com um gosto mais assim diferenciado. Então tipo assim: “Alan, talvez está um pouco fermentado. Vamos diminuir mais, vamos fazer alguma coisa. Essa queima talvez podia passar por um terreiro ao invés de ir direto pro secador”. Então assim, tem esse diferencial, é isso mais. Outras coisas que a gente tenta buscar é, por a fazenda já ter um meio já que já vem essas, né, são algumas coisas assim que são esquecidas às vezes. “Lenha em tapagem coberta, vamos tentar otimizar mesmo a quantidade de uso de água ou pro gasto diminuir, por exemplo, vai fazer alguma coisa a mais, vamos tentar fazer essas coisas assim pra gente otimizar sempre”. Então assim, é mais nessa área e também só pra... A gente compara, às vezes, eu ligo pra ele nem tanto pra conversa técnica, mas: “Aí, como tá o mercado? Como tá? E aí, cresceu a bolsa...” as bolsas, Nova York, Londres “Caiu? Aumentou?”. Mais essa... “Tá tendo uma tecnificação de colheita mecanizada. Vamos tentar dar uma olhada lá”. Logo no início deles eu fui tipo assim, não o carro chefe que eles atendem muita coisa, mas assim, eu acompanhei o trabalho deles de implantação, de exploração da lavoura, direcionei para... (pausa)
P/1 – Então deixa só eu entender um pouco. Eu queria entender como é que foi esse passo a passo de aproximação. Esses técnicos, ou os agrônomos, e o pessoal que trabalha com a Nestlé veio, conheceu a propriedade.
R – Sim.
P/1 – Que tipo de coisa eles avaliaram? Qual foi o retorno que eles deram pra vocês? Entender um pouco o passo a passo mesmo. Como é que foi a aproximação.
R – Eles se aproximaram, né? Tem uma Unidade de Comercialização, alguma coisa assim, eles indicaram a nossa fazenda. Ele veio aqui, olhou o espaço, porque, querendo ou não, tem umas normas para serem atendidas. Aí tipo assim, foi fazendo uma sequência: “O secador pode ser direto, mas já tem indireto, bacana”. Tá todo mundo com carteira assinada, já tinha. Outorga da água, né? Saber a liberação de água pra uso. Então, assim, todas essas cadeias. O uso demais de herbicida, tudo mais. Até um ponto, porque, querendo ou não, eles trazem um pouco do arábica. O arábica tem assim, não uso muito de herbicida, né? Aqui a gente usa um pouco mais de herbicida entre as ruas do café e eles: “Ah, por que não fazer um sistema de condicionamento de solo melhor pra que otimize talvez ao invés de você passar o herbicida pra acabar com os matos, mas vamos tentar fazer alguma coisa, uma roçagem, uma roçadeira, vamos tentar fazer umas leguminosas” “Porque não usar um produto que aumente a matéria orgânica?”. A gente foi se adequando, tudo mais, à realidade e também às técnicas que a gente já tinha como experiência e novas deles pra melhorar cada dia mais essa cadeia de café.
P/1 – E no que você acha que isso... Se ajuda, se você acha que isso ajuda o produtor, no caso de vocês aqui e no que você acha que ajuda? O que você acha que isso traz de mudança assim?
R – Olha, a coisa mais importante é que tipo assim, você consegue clarear as coisas dentro da fazenda. Você sabe quanto que custa o valor de uma coisa, de outra. Então, você tem o sistema nas suas mãos, você consegue controlar melhor, você consegue obedecer as leis dos órgãos governamentais. Você consegue ter uma coisa mais certa. Não que todo mundo esteja errado, mas uma coisa mais certa. Você consegue uma fazenda mais regularizada. Socialmente, mas assim, consegue também trabalhar com a fauna, com a flora que não interfere tanto na natureza, no ambiente. Isso é importante, né? Conservação também. E também nas práticas, mais ou menos, mais sociais. Eu vejo de pegar pessoas mais da nossa região, de trabalhar com a gente ao invés de talvez trazer matéria humana lá de outros lugares. Claro, só se não tiver mais qualificada, né? Mas a nossa região a gente consegue trabalhar mais um vínculo de comunidade, menor. Então, a gente consegue trabalhar mais a nossa realidade. Não que esteja longe, mas as pessoas, as coisas perto. Então, a gente consegue trabalhar nisso mais.
P/1 – E você acha que o projeto ajuda nisso, nessa aproximação?
R – Sim. Com certeza.
P/1 – Mas em que sentido, de que maneira?
R – Olha, mais nessa parte social como eu falei. Esse projeto traz a qualidade do café, traz a qualidade nessa parte também de trazer mais assim um diferencial do café, uma qualidade do café. Querendo ou não, tipo assim, quando você ajuda o produtor, você não ajuda somente o produtor, você ajuda quem está lá atrás. Então você ajuda toda a região. Quando o produto é mais valorizado na sua região, então não é somente o produto e o produtor que ganham, é toda a cadeia em si, que querendo ou não quanto mais você ganha, você quer mais investir, você quer também fazer algo a mais, você quer também inovar, você quer talvez investir. E com isso esse ciclo é contínuo e cada dia mais você vai crescendo para que cada vez mais cresça o mercado cafeeiro, as técnicas, esse diferencial. Eu acho que é nessa parte que eu acho que a gente consegue trabalhar melhor. Nisso aí.
P/1 – E vocês? Você falou que vocês tinham algumas certificações, duas quando a Nestlé chegou aqui, mas não o 4C ainda.
R – Não. O 4C ainda não.
P/1 – Então fala um pouquinho pra mim do 4C e que adequações, tem normas, quais são essas normas, que adequações vocês fizeram, estão fazendo?
R – As outras certificadoras são mais exigentes em relação a alguns produtos que não podem ser utilizados lá fora, no exterior, que já é proibido. Então, tipo assim, querendo ou não, foi uma adequação muito pequena, pra nós foi muito pequena. A gente nem precisou fazer tantas coisas, não. Mais regularidade de papéis. Mais um pouco de papéis, de documentação, mas assim, as técnicas já, queima indireta a gente já tinha, lenha guardada em local certo. A palha a gente devolve pra roça, porque vira uma matéria orgânica depois de decomposta. Então consegue fazer isso daí. E também já tendo também o mercado já praticamente, não certo, porque o produtor é de acordo com quem dá mais ele vende, mas assim, Nescafé que eu vejo, na Nestlé o programa 4C é não uma troca, mas é uma ajuda de consultoria. Querendo ou não duas cabeças pensam mais do que uma. Eu aqui dentro da fazenda com o consultor a gente consegue talvez inovar e trazer melhoras, essas técnicas que ele aprende lá fora também e traz pra cá. Tem ainda mais, a Nestlé que nos disponibiliza quantidade de mudas, então isso faz com que, igual falei das variedades anteriormente, das variedades, dos clones novos, que maior produtividade, que não tem mais suscetíveis as doenças, as pragas. O que a gente faz? Pega essas variedades, esses clones novos, eles disponibilizam uma parte pra gente, então, a gente consegue fazer um ciclo de lavouras novas, de lavouras mais tecnificadas, de lavouras melhores. Com isso, querendo ou não, quanto mais saudável a planta, menos utilização de produtos, de defensivos. Isso favorece não somente o meio ambiente, mas também a nós, o nosso bolso e tudo mais.
P/1 – Com é que é essa história das mudas? Conta um pouco pra gente como é que a Nestlé entra com as mudas, como é que funciona isso?
R – A Nestlé quando você é associado da 4C, quando você tá dentro do programa, tem uma porcentagem, eu não lembro se na região são 200 mil mudas, eu não lembro direito, to um pouco por fora. Mas assim, eles têm viveiros cadastrados, então quando a gente fala: “Quero renovar a minha lavoura”. Então o que eu faço? Faço um pedido junto com esses técnicos, eles entram em contato, veem a quantidade necessária realmente, tem uma avaliação, tem todo um estudo pra talvez assim, dentro da cadeia cem produtores, um talvez pegar todas as mudas que talvez são disponibilizadas. Fazem assim, você pega uma quantidade agradável, aí você faz o pedido, eles fazem com um custo até mais barato. Não sei se quando é doado, mas assim, até hoje a gente não fez, ainda mais assim, é um custo até mais barato. Então esse algo a mais, esse diferencial na venda do café tem uma porcentagem que fica como se fosse um banco pra trabalhar em projetos que nos ajudem a buscar mais tecnologias. Olha, vamos estudar hoje sobre adubação, aí os consultores da Nestlé vêm aqui, adubação nisso, é melhor, é melhor, melhor. Não que eles te forçam a fazer, mas eles te mostram. É como se fosse uma bandeja, você faz o que você quer. Mas você precisa atender também umas normas dentro da... Então assim, eles te trazem algo novo, te trazem técnicas novas, te trazem coisas mais mastigadas, podemos falar ao pé da letra, pra que a gente possa aproveitar disso tudo.
P/1 – Deixa eu te perguntar uma coisa. Essa questão da renovação da lavoura, como é que funciona isso? De tempos em tempos é necessário renovar? Como é que é decidido isso? Por que precisa fazer renovação?
R – Hoje o café a gente começa a crescer, tipo assim, a gente tem uma busca de maior produtividade. Depende muito. Às vezes, você produz muito, mas também o seu gasto, o seu custo é muito alto. Então, às vezes, se for colocar não é tão viável. Mas assim, querendo ou não, você busca essa renovação de lavouras, porque igual, a nossa lavoura que a gente trabalha hoje tem oito anos. Então são clones que já estão, não defasados, mas com as pesquisas do meio ambiente, podem colocar mais clones para que... Porque o conilon é fecundação cruzada, para que não sofra tanto na polinização, então faça com que a produção, o fruto saia depois da roseta, da flor. Então essa lavoura querendo ou não tem umas... Isso depende da variedade, esse estudo de variedade, o clima, tudo isso varia muito, quando ele é tardio, quando ele não é precoce, o café precoce que a gente colhe antes, mais cedo, em abril praticamente, o ciclo. Então isso é tudo avaliado. Não é que talvez tenha oito anos que é ruim. Não. Isso varia de acordo com as técnicas utilizadas. Hoje a gente vê na região que existe outras variedades melhores, então, você precisa buscar cada dia mais o melhor. Você precisa se inovar também de acordo com a realidade, mas você precisa buscar com tempo e fazer o escalonamento da lavoura, escalar a lavoura pra colheita porque a mão de obra está um pouco difícil, então você vai e coloca um médio, um tardio, você trabalha com poucas pessoas, você consegue fazer um ciclo bem longo. Então, tipo assim, isso interfere muito. Isso não é avaliado: “Ah, passou de seis anos tem que arrancar o café”. Isso são vários estudos, é um projeto, você tem que fazer sempre essa analise total da região, mas principalmente da realidade da fazenda, da lavoura e tudo mais.
P/1 – E você acha que o selo 4C agrega qualidade e também tem uma entrada maior no mercado, assim a competitividade do café? Como é que você avalia quais são as vantagens de ter o selo 4C?
R – Olha, a vantagem dele é primeiramente pra quem é consumidor ver a procedência do café, da onde ele sai. Porque você pode estar bebendo um café que lá atrás tem produtos que foram aplicados de maneira errada e talvez você, ao invés de estar bebendo café de qualidade, você pode estar bebendo um defensivo que foi talvez modo errado, jeito errado, tudo mais. Os consultores nos ensinam, nos ajudam, lógico que os agrônomos, eu principalmente, a gente já tem uma noção, mas, às vezes, algumas coisas precisam ser melhoradas. Então, a gente ajuda no modo certo, na hora certa, com atender uma praga que está atacando, como a gente vai conciliar isso aí, qual o método de aplicação. O 4C nos traz esse diferencial. Nos traz esse diferencial, mas primeiramente se importando mais acho que com o consumidor, porque a realidade de preços também não foge muito, mas tem um diferencial e isso é bom pra gente. Querendo ou não um real ou dois reais a mais, isso já faz uma diferença pra quem, igual eu falei, produz 9000 sacas. Dá um diferencial. Então, é um custo que é vantajoso, é um custo que vale a pena, que tudo mais assim. É uma resposta daquilo que a gente faz e essa resposta vem. Quando a gente utiliza o 4C, principalmente as certificações em geral. Então é isso.
P/1 – Você tá envolvido com o Nescafé Plan, está envolvido porque está envolvido com a fazenda, com essa propriedade e tal. Queria saber quando você avalia numa esfera pessoal e profissional também, se você tem algum aprendizado nessa participação do projeto, se isso muda alguma coisa na sua prática profissional, nas suas perspectivas de carreira?
R – Muda muito. Porque, querendo ou não, eu, como eu falei no início, tive um olhar diferenciado da fazenda, então o Nescafé é uma sequência daquilo que eu planejo seguir em diante. Um café de qualidade, um café de melhor procedência. Porque o mercado te exige alimento de qualidade, alimentos bons, alimentos assim saudáveis, alimentos que tenham a procedência boa. Então tipo assim, mais pessoal eu vejo que é um ramo muito forte de crescimento, principalmente nos países europeus, eu vejo um olhar nesse assim... Mas o mercado interno não foge muito porque não é só o resto do café que fica no mercado interno. Nós temos cafés bons também no mercado interno. Então precisam ser trabalhados, precisam ser colocados a prova do consumidor. E com essas técnicas que eu já venho trabalhando, essas técnicas diferenciadas, com esses produtos diferenciados, produtos que não fujam das classes nem de dosagens, de Emilia, né? Tem tudo isso dentro desse processo, então tipo assim, isso dá um diferencial a mais, isso particularmente é um ramo que precisa ser melhorado e seguido por quê? Porque você vê que da onde você tira o seu sustento, sustento da fazenda em si, não sustento financeiro, mas o solo do café. Então, se você não condicionar uma resposta para o solo, se você não condicionar uma melhora contínua do solo, um condicionamento melhor do solo, a matéria orgânica do solo, ele depois com o tempo ele não vai te responder e onde você vai produzir? Então isso é um ciclo, é uma cadeia produtiva que volta nesse ciclo, então você precisa melhorar a cada dia mais. Com essas técnicas, com tudo isso que você aprende, você vê que você não pode fugir muito disso. Não é o hoje. Não pode olhar só o hoje, você tem que olhar também daqui a dois, três quatro anos na frente pra que não acabe tudo mais isso. Particularmente assim.
P/1 – E quais que você acha... Acho que você já falou um pouquinho isso, mas quais você acha que são os principais aprendizados que você teve desde que se estabeleceu essa parceria com a Nestlé, desde que vocês entraram no Nescafé Plan?
R – Aprendizado...
P/1 – É. Dessa troca assim que você tem constantemente com os técnicos da Nestlé e vocês e essa mudança nas práticas. Você acha que você aprendeu alguma coisa e se aprendeu em que sentido assim?
R – É o olhar diferente. Igual eu falei, eu vim de produtores rurais que faziam tudo de maneira diferente. Não largada, mas diferenciado. Não tinha um trato, onde não tinha essa visão. Mais organizacional eu vejo. Uma parte mais organizacional não somente da documentação, do RH da fazenda, mas até eu acho é o geral, tudo. Essa parte também nas técnicas agrícolas. Nessa parte de você ver que com as análises, com documentos na mão, com relatórios, que você faz muito relatório, você vê a quantidade de produtos que você usou num ano, você faz o comparativo, você consegue dimensionar, tipo assim, analisando as planilhas, analisando tudo mais. Porque a gente monta planilha pra fazer esse diferencial. Você consegue onde: “Opa, eu preciso melhorar aqui. Não. Aqui tá faltando alguma coisa. Vamos melhorar daqui”. Então esse ciclo contínuo você consegue ver que você pode andar cada dia mais buscando sempre o melhor. É mais essa parte organizacional também que, querendo ou não, se a organização tá boa, lá na frente tá bom. Então a produtividade tá boa, a relação pessoal de funcionário tá boa. A cadeia. Tudo interfere.
P/1 – E você acha que os trabalhadores rurais também aprendem com esse projeto?
R – Sim. Porque antigamente a gente nem tinha banheiros químicos na roça. Hoje eles são direcionados a fazerem suas necessidades em locais apropriados. Lixo não se joga mais na roça, como a gente vê muito em realidade diferente. A gente tem todos os lugares certos de jogarem o lixo, a gente tem a coleta seletiva. A gente vê que a gente não pode mais... A roça, mesmo que seja solo, como a nossa casa, como o nosso quintal, buscando sempre o bem, o bem do solo, o bem do meio ambiente em si. Então assim, eles aprendem muito. Mas também sobre também... Eles aprendem um pouco mais assim na... Eles têm noção daquilo que eles fazem, não é somente um funcionário que: “Ah, você vai fazer isso” “Mas por que eu to fazendo isso? Mas por que é melhor dessa forma e não é melhor dessa forma? Por que talvez eu vou...”. Querendo ou não a gente tem os cursos, tem cursos, tem treinamentos que a gente dá, principalmente de audição, de visão, a gente sempre faz uns cursos, alguns treinamentos para que a saúde do trabalhador venha ver a importância que ele tem pra ele, mas para que ele também possa buscar cada dia mais crescer com a atividade do trabalho dele, que ele possa buscar cada vez mais o melhor pra ele. Pra que lá quando der 60 anos, 70 anos não interferir nisso aí.
P/1 – Então vocês, de alguma maneira, repassam isso que vocês vão modificando e aprendendo no projeto pro trabalhador rural?
R – Sim. O projeto, querendo ou não, a gente tenta buscar todas as certificações nossas. A gente busca um projeto de fazer uns treinamentos com eles pra eles terem uma noção daquilo que eles estão fazendo. Não é somente um serviço, um trabalhador rural. Não. “Por que sou um trabalhador rural? Por que eu devo fazer dessa forma? Por que não dessa forma? Por quê?” Eles sabem o que eles estão fazendo, não é somente mandar, mas assim, dar uma sequência lógica pra eles. Então acho isso muito interessante também. Querendo ou não faz com que eles cresçam. Amanhã se eles não estiverem mais comigo, lá na frente eles falam: “Poxa, eu aprendi lá atrás”. Então isso é mais também uma parte humana também. Isso é importante.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar agora pras perguntas finais, mas antes de fazer essas três perguntas finais queria saber se tem alguma coisa que a gente não perguntou e que você gostaria de falar ou deixar registrado.
R – Não tenho, não. Mais a parte da minha mãe, a gente logo no início eu falei da minha mãe. Minha mãe foi sempre uma mulher que sempre acreditou em mim. É uma coisa que eu trago dentro de mim, ela acreditou no dia que... Ela não viu eu formando, mas o sonho da minha mãe era me ver formando, então, eu acho bonito dela porque ela sempre acreditou, perseverou. Então, aquilo que eu busquei foi porque um dia alguém acreditou em mim, cultivou dentro de mim uma esperança de buscar algo melhor. Hoje eu falo que é tipo como se fosse uma resposta de alguém acreditar em mim. De meu pai acreditar naquilo que eu faço, nessa interação principalmente família. A minha família interage muito comigo, então, eu digo assim de querer o bem da minha família, porque se eu estou mal na minha casa talvez eu possa trazer esse mal também pra dentro do meu trabalho. Se essa relação família trabalho está tudo bem, não que tá assim, precisa separar, mas assim, os afetos, se estiverem bem, então a gente consegue trabalhar bem. Isso é uma marca que eu guardo pra mim, da beleza de alguém que um dia acreditou em mim. É isso.
P/1 – E queria saber, hoje fazendo uma avaliação da sua trajetória, da sua vida até aqui, qual que você acha que é o maior desafio que você já enfrentou, a maior dificuldade e como é que você superou?
R – Maior dificuldade de vida ou de trabalho?
P/1 – Tanto faz. Pode ser da vida pessoal ou profissional.
R – Olha, a dificuldade foi a perda da minha mãe. Eu estive sempre apoiado em Deus, pra mim é o centro da minha vida. Então, eu sempre tive essa base muito forte, a religiosidade muito grande dentro da minha família fez com que eu tivesse essa noção, que ele é o princípio de tudo e ele me motiva a fazer as coisas novas. Então, eu fui sempre pautado nisso. Quando eu estou bem interiormente, a minha alma, tudo meu, eu consigo fazer bem as outras coisas. O meu maior desafio foi a perda dela.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha 19 anos. Cinco anos atrás. Foi no dia primeiro de janeiro. Quando você tá no primeiro dia do ano você perde a sua mãe, você fica meio desnorteado, sem entender, mas você vê que talvez ali tinha um propósito. E na luta profissional é buscar aprender mais. A minha dificuldade hoje é largar, abrir mão de alguns apegos da minha família, porque eu falei de talvez buscar alçar outros voos de outros lugares, de propostas que eu já tive melhores, não que seja ruim aqui, mas de talvez buscar algo melhor lá na frente, de talvez se apegar um pouco aqui atrás. É mais esse desafio, de talvez buscar trabalho. Os novos desafios de trabalho é o que eu falo, hoje na realidade, trazendo pra fazenda, é mão de obra. Mão de obra principalmente qualificada, porque, querendo ou não, o nosso cenário é um pouco difícil.
P/1 – Por quê?
R – Porque a nossa realidade da cidade, por ser perto da cidade... Linhares teve um crescimento muito grande de indústrias e com isso tomou a mão de obra que a gente tinha. Então, ficou mão de obra não desqualificada, mas pessoas mais de certa idade, os novos querendo buscar sair, porque talvez trabalhar lá seja melhor. As condições boas que a gente concede na fazenda, mas aí a gente não consegue fazer um plantel bom de profissionais, de trabalhadores duradouros. Então, querendo ou não, você tem que ficar buscando toda hora, principalmente nesse período de colheita que é do café em si. É um período muito difícil pra gente, de buscar profissionais específicos pra essa área.
P/1 – E como é que vocês têm resolvido isso?
R – Olha, na correria do dia a dia. Uma coisa que é certa que a gente vai fazer no ano que vem é buscar em outras regiões, nos estados vizinhos, Minas Gerais, Bahia. Pessoas lá de fora que talvez não tenha tanta oportunidade de trabalho lá, que a gente tenta trazer, principalmente nesse período, pra que a gente dê continuidade a esse ciclo de trabalho. Porque realmente é difícil. Hoje, se for olhar na cafeicultura, hoje é o maior desafio, mão de obra. Então é isso.
P/1 – Então agora é a penúltima pergunta, quais são os seus sonhos hoje?
R – Meus sonhos? Primeiramente constituir uma família. Eu sonho em ter uma família, eu sonho em ter... Eu sonho ter a minha própria terra, buscar algo. É algo que tá se concretizando, mas já tá... Buscar você cultivar aquilo que é seu, né? Cultivar aquilo que é seu, ter uma família. Mas viver principalmente uma vida simples e viver bem. Não tento muitas coisas, eu quero viver uma vida simples. Então tipo assim, o meu maior sonho mesmo é ter aquilo que é meu, que eu possa deitar e dormir, descansar mesmo. Ter pessoas ao meu lado, amigos ao meu lado, meu sonho, amigos verdadeiros ao meu lado que buscam ter essa relação de amizade cada dia mais. Meu sonho também é de ver um mundo sem violência. Um mundo melhor, sem drogas principalmente. Eu sonho com isso, eu acredito.
P/1 – Por fim, com é que foi... (pausa) Por fim como é que foi contar a sua história?
R – Por fim como?
P/1 – Como foi contar a sua história? Como foi dar esse depoimento aqui?
R – Diferente. Diferente, né? Porque depende da visão que a gente olha, mas essa visão geral da minha infância... É recordar, e recordar é viver, né? Então se eu recordo algumas coisas lá atrás isso é bom. Você faz lembrar algumas coisas que talvez, dentro de você, do seu inconsciente estava guardado e desperta. Eu acho, tipo assim, independente de como você viveu a sua história, mas eu acho que a minha particularmente é uma alegria, de você ver que até hoje eu consegui, olha onde eu cheguei. Olha onde eu estou, olha o que eu estou buscando. Olha primeiramente quem eu sou, não o que eu tenho, mas quem eu sou. Através das escolhas, as respostas, é do cotidiano que isso me traz. Muito bom.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada.
R – De nada. Eu que agradeço.
FINAL DA ENTREVISTA
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