Projeto Vale Memória
Depoimento de Albuíno Cunha de Azeredo
Entrevistado por Eliane Barroso (P/1) e Rosane (P/2)
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2001.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CVRD_HV114
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Bom dia, seu Alb...Continuar leitura
Projeto Vale Memória
Depoimento de Albuíno Cunha de Azeredo
Entrevistado por Eliane Barroso (P/1) e Rosane (P/2)
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2001.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CVRD_HV114
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Bom dia, seu Albuíno.
R - Bom dia.
P/1 - Nós começamos sempre a nossa entrevista, pedindo que o entrevistado repita o seu nome, local e data de nascimento, por favor?
R - Albuíno Cunha de Azeredo, nascido em Vila Velha, Espírito Santo, no dia 21 de janeiro de 1945.
P/1 - O nome dos seus pais?
R - Meu pai era Albuíno Ferreira de Azeredo, minha mãe Normília Cunha Santos.
P/1 - E os seus pais são de Vila Velha ou...
R - Não, ambos lá do Rio. (interrupção)
P/1 - Albuíno, qual o nome dos seus pais, por favor?
R - O meu pai é Albuíno Ferreira de Azeredo, minha mãe Normília Cunha Santos.
P/1 - Eles são do Espírito Santo também? De onde?
R - Não, eles são do Estado do Rio. O meu pai é de São Fidélis e minha mãe de Santo Antônio de Pádua.
P/1 - E você conhece um pouco a história de como eles chegaram a Vila Velha, ao Espírito Santo?
R - Sim. O meu pai trabalhava em Campos, estado do Rio, porque era ferroviário da Leopoldina e ele foi convidado para trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce, vindo da Leopoldina e aí foi que ele foi para o Espírito Santo. De lá, acabou sendo contratado pela Estrada de Ferro Vitória-Minas da Vale do Rio Doce. E foi assim que foi morar no Espírito Santo.
P/1 - Você, quais as lembranças que você tem dessa Vila Velha de infância?
R - Olha, Vila Velha marca muito a gente porque tive, não só infância, mas como morei lá vários anos, né? Uma infância muita marcada pelas dificuldades, por obstáculos. Uma família pobre e, portanto, uma família que teve que enfrentar a vida para sobreviver, para vencer. Algumas marcas ficaram na infância. Tinha quatro irmãs, perdi o meu pai com 12 anos de idade e tive que tomar conta da família e, além dos quatro irmãos de sangue, a minha avó que morava conosco havia levado mais algumas crianças para dentro da nossa casa. Então, eram 10 pessoas, mais a minha mãe e minha avó, e o único que tinha condições de ir a luta era eu. Então, essa infância marcou muito essas dificuldades, embora elas não tivessem deixado nenhuma marca em mim de descrença no futuro. Pelo contrário, todos esses obstáculos, me motivavam a buscar a vencer na vida. Então, acho que tive uma infância que tem algumas lembranças bonitas. Também tive oportunidade de ter uma infância marcada pela pureza daquela geração que eu convivi, porque na época, o lazer era marcado pelo esporte, pelo futebol, pela praia. Não existia questão da droga, não existia o que se vê no mundo de hoje. Então, acho que essas marcas positivas foram muito boas para mim.
P/1 - E Albuíno, a escola, você frequentava escola próxima da sua casa no início, antes do seu pai falecer?
R - Eu fui alfabetizado numa escola singular que era próxima da minha casa. A gente ia a pé lá, mais ou menos, uma meia hora a pé, eu fiz o primeiro ano alfabetizado. Daí para frente, essa escola só tinha o primeiro ano. Então, não pude mais estudar, fui para outra escola num bairro bem distante, chamado Aribiri, a outra escola, onde tinha que pegar o bonde na época. Depois, descia, andava um pedaço à pé para estudar. A gente levava mais ou menos uma hora para chegar até a escola. Foi aonde eu fiz o meu curso primário.
P/1 - E desse convívio que você teve com o seu pai, que lembranças você guarda? Ele falava da ferrovia, como...
R - Eu guardo lembranças do meu pai, como ferroviário, o meu pai trabalhava no seletivo da Vale do Rio Doce. Então, eu guardo ainda hoje na memória o trabalho seletivo, que era um trabalho muito árduo, um trabalho de 24 horas. É um trabalho de controle de trens e meu pai sempre me falava sobre isso. Algumas vezes, me levou até o local de trabalho porque ele tinha plantão sábado, domingo. Então, isso marcou bastante a passagem dele na Vale do Rio Doce, na ferrovia, embora eu tivesse convivido relativamente pouco com ele.
P/1 - Você morava próximo a estrada de ferro, não?
R - Não, onde a gente morava, pegava o bonde até chegar na estrada de ferro, mas ainda tinha um trecho grande para andar a pé. Na época, não tinha outro veículo. O meu pai pegava o bonde, saltava mais ou menos a uns três quilômetros da onde ele trabalhava. Então, ele andava a pé um pedaço, a gente pegava o bonde e andava mais um trecho a pé, que era na Rua Estrada de Ferro Pedro (Nolasco?), primeira estrada de ferro da Vitória-Minas, que era onde o terminal da ferrovia para chegar em Vitória. Era lá que ele trabalhava e depois foi lá para o centro seletivo que era lá no Morro do Porto Velho, que era o centro seletivo.
P/1 - E Albuíno, e da sua mãe, quais as lembranças que você guarda dessa época de infância e de juventude?
R - A minha mãe, as lembranças são maiores porque vivi mais tempo com ela e, afinal de contas, foi ela que me deu a formação básica, não é? Ela, desde a infância, vivia mais intensamente comigo, eu diria que o meu caráter foi bem forjado por toda essa orientação dela, orientação que vinha dos estudos, orientação que vinha na postura, na maneira de ser do cidadão, né? Adicionava-se a essa orientação dela, a da minha avó. Convivi junto com as duas, Passei um período, inclusive, mais chegado à minha avó, quando a minha mãe teve um acidente. Ela foi queimada e ficou muito tempo fora internada no hospital e eu fiquei com a minha avó. E ela exercia uma certa influência em mim, em termos de orientação também. Não na área acadêmica em formação porque minha avó não tinha essa formação que a minha mãe tinha. Então, mais de cidadão, mais do espírito da fidelidade, da seriedade, da ética, né? Isso, não com essa denominação porque nessa forma, mas a referência e conceito de vida de cidadão, ela era muito fiel a isso. E as duas foram que me deram uma formação, uma orientação mais, digamos, mais profunda e hoje eu diria que eu tenho muito mais esta, esta proximidade com elas porque era com quem eu vivia mais tempo.
P/1 - Sua mãe trabalhava também?
R - Minha mãe trabalhava. Minha mãe era professora primária e já nesse tempo não foi professora desde o início, ela formou-se até velha como professora, não é? Mas, nessa época, porque quando minha irmã nasceu, minha mãe ainda não era professora, a minha irmã mais velha, ______ quatro anos. Ela se formou e quando eu tinha essa idade de seis anos, ela já era professora, né? Então, professora primária e ela ia até se aposentar, durante todo esse tempo, teve só essa atividade de professora, evidentemente tomava conta de casa. Em dado momento, as dificuldades foram tais que ela pediu licença e foi trabalhar em um hospital como enfermeira, que ela fez um outro curso de enfermeira. Então, ela foi parte do magistério, parte como enfermeira.
P/1 - A sua avó era avó por parte de mãe?
R - Avó por parte de mãe. Ela foi morar conosco, eu tinha justamente seis anos quando minha avó foi para casa morar conosco. Meu avô por parte de mãe faleceu, ela foi para nossa casa e ficou, né? Até quando faleceu.
P/1 - Qual o nome dela?
R - Maria Oliveira Santos.
P/1 - E ela ficou com vocês em Vila Velha?
R - Ela ficou. Enquanto minha mãe trabalhava, ela ficava em casa e ela exercia, né? Tinha uma ação muito incisiva porque ela cobrava também a nossa atuação, cobrava a nossa dedicação ao estudo. Ela policiava o nosso lazer, exercia uma ação de xerife dentro de casa porque o tempo da minha mãe em casa era mais reduzido e o dela não. Ela vivia tempo integral dentro de casa.
P/1 - Ela era um xerife eficaz?
R - Ham?
P/1 - Era um xerife eficaz?
R - Era um xerife eficaz. Ela enquadrava todo mundo com... De uma forma que a aceitação era muito natural, até com os olhos.
P/1 - E Albuíno, quando jovem, quais eram as distrações, o lazer, sobrava tempo?
R - É, o tempo era muito curto porque eu, desde garoto, comecei a ter que trabalhar. Então, o trabalho diminuía esse tempo de lazer. No trabalho, eu fiz de tudo nessa vida. Então, estudava, trabalhava e lazer era restrito. Então, o fim de semana, muito mais no domingo. No sábado não dava, tinha que trabalhar também e o lazer sempre dava um futebol, que eu gostava muito de futebol, e a praia. Lazer, raramente, se ia a um cinema, não tinha condição de ir ao cinema.
P/1 - E Albuíno, você
começa a trabalhar com que idade?
R - Eu comecei a trabalhar com 12 anos. Trabalho mais independente porque não tinha vínculo naquela época. Eu vendia doce que minha avó fazia e que era uma forma de sustentar a família. Depois, comecei dar aulas particulares, quando eu cheguei aos 13 anos, 14 anos. Então, dava aulas particulares e vivia do comércio vendendo doces, frutas em feiras e outros produtos.
P/1 - E quando surgiu a vontade de fazer engenharia?
R - Ah, desde estudante, sempre tive uma predisposição muito forte para alguma disciplinas como: matemática, física, que era meu forte. Eu gostava muito e tinha um desempenho muito bom e aquilo foi me levando para a questão de cálculo, levando para o ramo da engenharia, de tal maneira que aos 17 anos, 16, 17, eu já tinha essa vontade de fazer engenharia. Ainda não tinha definição de qual ramo da engenharia, mas eu precisava ter essa formação. Primeiro, que era uma questão de melhorar a condição de vida e sobre o ponto de vista técnico, é o que me parecia o que mais se adequava a minha capacidade de absorção.
P/2 - Nessa época, você ainda mantinha contato com a Vale, antes de fazer...
R - Não, eu não mantinha contato com a Vale. O meu pai faleceu, eu tinha contato com algumas pessoas da Vale, sim, não é? Meu pai tinha... Deixou em casa algumas fotografias. Me dava de presente, ainda quando eu era pequeno, um trenzinho, algumas coisas. Aquilo ali me fez também uma paixão pela ferrovia. Aquilo ali, eu gostava muito daquilo. Não tinha muita coisa, eu visitava algumas... Gostava de ver aqueles companheiros de meu pai que tinham em casa montado uma ferroviazinha, uma coisa, eu era louco como criança por aquilo ali. Então, eu gostava, mas com a Vale mesmo, eu perdi o contato com a morte do meu pai, embora eu, no ginásio, tinha alguns colegas com pai na Vale. E esses colegas me levavam também para visitas aos seus stands de fotografias, ou até mesmo de montagem de ferrovia, quer dizer ferrorama hoje, né? Aquela linhazinha com vagãozinho, uma locomotiva, eu gostava de ver isso.
P/1 - O senhor tinha quantos anos, quando seu pai faleceu?
R - Eu tinha 12 anos.
P/1 - E a partir desse período então, começou a intensificar mais ainda a sua vocação, vamos dizer, para as coisas da Vale assim, o interesse?
R - É. O interesse por ferrovia de um modo geral e da Vale pela história do meu pai, né? Eu, inclusive, teve um período que a minha mãe tentou. Eu, ainda não tinha ainda entrado na escola de engenharia, mas minha mãe... Aliás, eu estava começando a entrar na engenharia, antes de entrar, minha mãe estava tentando ver se me colocava na Vale naquela época, que eu gostaria de entrar na Vale, mas aí eu entrei na faculdade e não foi possível, aquilo naquela época. Depois, teve uma segunda tentativa. Também não foi possível, mas eu sempre tinha, tive um desejo de trabalhar na Vale.
P/1 - E Albuíno, o vestibular como é que foi? Foi muito tenso, a preparação....
R - O vestibular, eu nunca fui muito tenso, de tal maneira que o vestibular que, evidentemente, é uma fase muito difícil na vida de qualquer aluno, ela... É claro, eu estudava, eu estudava bastante, mas não fui muito tenso o vestibular em si, né? Eu fiz vestibular na época para a Universidade do Espírito Santo, mas eu também em busca de uma alternativa de remuneração, eu fiz também vestibular para... Na época, para Academia Militar de Agulhas Negras, que naquela época, a academia pagava, o aluno recebia para estudar e teria uma formação também de engenharia. Seria engenheiro militar, mas seria engenharia. Então, eu fiz vestibular na UFES e fiz também na Academia Militar de Agulhas Negras em Rezende. Inclusive, eu acabei indo para Rezende primeiro, depois vi que não era aquele ramo que eu queria, não tinha nenhuma história militar na família, não tinha... Aquilo ali foi mais em busca de oportunidade de remuneração e também por alguns colegas, nessa oportunidade vizinhas, que haviam enveredado por esse meio militar.
P/1 - Você chegou então a cursar a Academia...
R - Eu cheguei a ir para a Academia Militar de Agulhas Negras, fiquei um período, mas depois que eu havia passado no vestibular da UFES, eu acabei abandonando e voltando para a UFES. Eu vi que ali eu tinha... Primeiro, que a minha a minha família sentiu muito a minha falta, embora entendesse que eu estava em busca de algo que pudesse, no futuro, melhorar a condição da família e ter também uma remuneração, já que na academia, o estudante recebe para estudar.
P/1 - Albuíno, o senhor falava aqui nesse intervalo que alguns fatores desmotivaram a sua permanência na academia, você poderia falar um pouquinho disso, a começar pela inscrição, como é que se...
R - Na realidade, desde o início, quando decidi fazer o concurso, já encontrei algumas resistências, a começar pela expectativa de desistência, porque eu fui aconselhado a não insistir porque eu não tinha antecedentes militares, eu não tinha por que razão para seguir naquela trilha.... Além do mais, eles colocavam que era um obstáculo, que nunca ninguém tinha passado concurso como civil e que eu ia perder meu tempo. Mas, eu insisti em fazer a prova e acabei fazendo. Tive o constrangimento de, no dia da prova, eu sozinho numa sala, né? Colocaram comigo, não só o que estava aplicando a prova, porque era prova já toda impressa, mas colocaram também soldados dentro da sala, em uma sala sozinha. Então, era um constrangimento, que não me inibiu, mas aquilo ali me marcou. Era uma coisa que estava acontecendo que mostrava que ela colidia com o meu pensamento, né? Depois, que tivemos outros incidentes, um deles eu recebia a notícia de que tinha passado nesse concurso e que tinha que fazer a... Outros exames, exames médicos, exames físicos, né? Atletismo. E eu estava fazendo ainda as provas de vestibular de engenharia. Eu estava na terceira prova, prova de física e marcaram para fazer atletismo no dia em que eu ia fazer a terceira prova. Eu pedi lá para o tenente que pedisse ao comandante que mudasse o dia da prova para o dia seguinte. Ele me deu a resposta: “Não, tem que ser hoje”. E aí, eu pedi ao tenente que começasse a prova mais cedo para ver se eu chegava mais cedo na faculdade. E fui no dia na prova, fiz que ela não começou mais cedo. Pelo contrário, começou mais tarde, e aí eu acabei chegando no vestibular atrasado e a comissão se reuniu para ver se deixava ou não entrar no vestibular e como eu tinha tido bom desempenho nas duas primeiras provas, depois a comissão acabou aceitando que eu entrasse, depois de uma hora de atraso, né? Então, aquilo ali também me marcou, né? Depois, tive um outro incidente, que ainda quando eu estava para fazer a última prova, que era a prova de química, recebi a convocação para me apresentar na academia e aí faltou uma prova. “Eu me apresentar antes, vou perder essa prova, eu quero fazer essa prova”. Na época, eu fui conversar com o capitão médico que tinha feito meus exames, explicando para ele o que estava se passando e ele até me sugeriu, falou: “Olha, você que já está aí nessa dúvida, se vai para lá ou não, eu estou saindo do exército. Eu acho que você pode ser que você vá ou não, posso fazer a sua prova”. Eu falei: “Mas e a convocação?” “ Não, eu vou. Os seus exames de saúde que você tem algumas coisas para consertar, né? Anemia, algumas coisas e aí, você... A gente dá uns remédios, eu falo com o comandante, você vai,
se apresenta dois, três dias depois da prova”. Eu falei: “Está bom”. Daí, ele foi olhar, voltou, disse: “O comandante quer que você vá no dia marcado, na hora marcada”. E aí, eu fiquei na... O que fazer?
E ele mesmo disse assim: “Eu, se fosse você, eu faria a última prova”. E foi assim que eu fiz. Então, eu já comecei a ter umas marcas que foram me mostrando que era difícil conviver com essa forma, entende? E depois, eu fui para lá para a academia. Começaram as aulas. Em um belo dia, eu estava assistindo a aula e estava com o livro aberto porque era a repetição de alguma matéria que eu tinha já conhecimento e, de repente, o professor mandou que eu fechasse o livro. “Professor, eu estou acompanhando”. “Mas não pode. Fecha o livro”. Então, esses incidentes foram me desmotivando muito e eu acabei pedindo para sair da academia e voltei para a faculdade. Perdi algumas aulas que já tinham começado as aulas, mas enfim, eu voltei para a faculdade e fui fazer engenharia.
P/2 - E era em que ano isso?
R - Isso foi em 1963.
P/2 - E como é que era o clima político dentro da universidade?
R - Na universidade... Bom, a gente entrou numa fase da universidade, onde a presença da estudante era muito marcante. Era uma presença, em termos de participação das discussões,
das principais questões nacionais. Havia um grau de politização muito grande, as disputas pelos diretórios acadêmicos eram muito fortes. E havia um grau de conscientização política. Bem diferente do que se vê hoje. Hoje, é uma alienação muito grande. Naquela época havia uma conscientização, né? É claro que havia também uma profissionalização muito grande na política no meio das universidades. E hoje, o que não existe. Mas, essa fase foi importante porque debates de questões nacionais. Então, foi muito rica para nós. Eu tive oportunidade de, inclusive, ser dirigente de presidente do diretório acadêmico e aquilo ali foi muito bom na formação social, na formação política que a gente teve lá nesse período, embora tivesse num curso técnico, mas a gente também sentia que passava por ali também a nossa formação.
P/2 - Você fala, enfim que é um curso técnico, essas questões que norteavam o curso, né? Especificamente o transporte, a política de transporte era uma coisa debatida, com os estudantes?
R - Era debatida, sim. Nós tínhamos seminários internos lá, trazíamos alguns conferencistas de fora. Foi uma fase que a universidade não se limitava à formação acadêmica em si. Ela perdeu isso depois da revolução, mas mesmo no meu tempo, que eu entrei na faculdade em 1963 e saí, formei em 1967, foi muito rico esse debate. A gente tinha professores da universidade que contribuíam com
isso, eram palestras, conferência não remunerada. O diretório, às vezes, o máximo que a gente podia fazer era pagar a passagem, mas a gente tinha essa... Muitos voluntários participavam disso, inclusive nessa área de transporte tivemos vários debates. Tivemos alguns professores, inclusive da Vale do Rio Doce. Eu, quando fui para a Vale do rio Doce, fui levado por um profissional da Vale que era... Foi superintendente depois, o assistente, mas virou. O
José Himério da Silva Oliveira, ele foi meu professor de estradas. Eu tive um bom desempenho com ele nessa época. Ele é um profissional que muito encantava a faculdade, pela sua experiência, pela sua vivência e porque estava sempre atualizado e trazia para a gente, não só experiências brasileiras em termo político de transporte, como experiências internacionais.
P/2 - Como é que você
analisa o transporte nessa época, você tem lembranças disso?
R - Nessa época, eu lembro sim. O transporte, era visto de uma maneira bem diferente de hoje. Ele tinha prioridade absoluta, ou seja, havia uns investimentos maciços nesse setor. Eu me lembro que o transporte público, por exemplo, em termos de estrada de ferro, era muito maior do que os dias de hoje. Eu me lembro que, apesar da Vale ainda estar numa fase de crescimento, fase inicial, mas a Vale também tinha a convicção de que o futuro dela passava por melhorar o transporte. Ela fez isso e hoje eu não tenho dúvida em afirmar que uma das razões certas da Vale, entre outras várias razões, foi ela ter investido previamente no seu sistema de transporte.
P/1 - E você fala, por exemplo, do transporte ferroviário, ele é menos oneroso, ele, no seu ponto de vista, nessa época eram questões colocadas, questões pendentes?
R - Na época, o que se discutia muito dentro da faculdade é que um país com as dimensões do Brasil, um pais com as características brasileiras, um país que ainda durante muito tempo seria fornecedor de matéria-prima, um país de população cada vez mais crescente, que a modalidade ferroviária tinha que ter o seu espaço garantido, né? E ocorreu isso. O transporte de passageiro na época no Brasil, no Rio de Janeiro, que era na época para todos nós o Brasil inteiro, era a caixa de ressonância, a Central do Brasil era um símbolo, marcava muito a formação dos técnicos porque ali passaram os grandes profissionais de transporte ferroviário, pela Estrada de Ferro Central do Brasil. E tinha a Vale do Rio Doce e já com os primeiros sinais também na universidade que era uma companhia que dava ao transporte ferroviário a importância que precisava. Então, eu diria a Estrada de Ferro Central do Brasil, Estrada de Ferro Vitória-Minas foram as duas referências de transporte ferroviário na época na universidade.
P/1 - Além desse professor que trabalhava, que chegou a trabalhar com você na Vale do Rio Doce, algum outro professor marcou a sua formação?
R - Na época tinham vários professores ____ da Vale do Rio Doce. Eu fui trabalhar com um ex-professor, José Himério de Oliveira, mas tinham outros professores, que trabalhavam na época na Vale. Tinham outros professores também, não trabalhando na Vale que marcaram. Eu diria que, fora da Vale, eu tive um professor de química que marcou muito. Eu, quando comecei a universidade, no meu primeiro ano, eu fui escolhido monitor de química e fiquei muito tempo ligado a ele. Fui monitor de química durante três anos. Então, era o professor Roberto (Veflude?). Inclusive, ele tinha um irmão (Radagás Veflude?), que trabalhava na Vale do Rio Doce, na área de madeira, área de (dormentes?). A gente tinha uma relação muito estreita com ele, Roberto (Veflude?) e o irmão dele, que trabalhava na Vale, que foi o outro também que a gente teve uma relação muito grande na parte de (dormentes?), na parte de madeira. Ele não era professor, o (Radagás?), o Roberto é que era, mas a minha relação era com os dois.
P/1 - Você trabalhava nesse período da faculdade?
R - No período da faculdade, eu arranjei não um emprego, eu fazia um estágio na Companhia de Saneamento, a Cesan. Depois, o primeiro ano em 1963, depois... E dava aulas, né? A partir da faculdade, eu comecei dar aulas em cursinho vestibular, no colégio estadual, colégios públicos, colégios privados. Então, durante meus cinco anos de faculdade, eu vivia, que a sustentação era dada em cima do ensino, né? Só no quinto ano que, além do ensino, eu fui fazer estágio na Vale do Rio Doce durante o ano de 1967.
P/2 - Você então entra como estagiário em que departamento?
R - Eu entrei em 1967, foi departamento da estrada, como sendo engenheiro de via permanente. Então, esse departamento de via permanente da estrada de ferro Vitória-Minas nessa época de 1967.
P/1 - E você reencontrou os colegas de seu pai na Vale?
R - Eu encontrei. Na época que fui trabalhar lá, tinha o Cleomar, que trabalhava no seletivo, foi uma das pessoas que, eu garoto, ainda o conheci. Ele estava lá ainda, na contagem regressiva. Eu conheci Honório (Curto?) que também trabalhava no seletivo, no tempo do meu pai. Essas duas pessoas é que me marcaram, Honório principalmente. Caso do Honório, havia uma relação muito estreita porque uma das minhas irmãs, foi afilhada de um filho do Honório. Então, o meu pai tinha uma relação muito estreita com o Honório (Curto?), que era um homem que controlava o seletivo da Vale do Rio Doce. Então, tive oportunidade de ver algumas pessoas que eram ligadas ao meu pai.
P/1 - Enfim, nessa fase que seu pai trabalhava na Vale, quando você entra como estagiário, tiveram mudanças na ferrovia e que tipo de mudanças...
R - Ah, sim, a gente via a Vale em transformação constante e numa velocidade muito grande. Eu me lembro mesmo que, comparando a Vale do meu pai, a gente já começou ver algumas mudanças que me chamavam a atenção na época que, quando eu ia com meu pai na Vale, estava lá a locomotiva de vapor. Quando eu cheguei lá, já estava indo embora o _____ à vapor, já estava a locomotiva a diesel. Então, uma mudança muito grande e aí a Vale naquela época já estava... Quando cheguei, já estava Porto de Tubarão concluído. No tempo do meu pai não era. O minério ia para o (Paú?), já estava indo para Tubarão, dividia Tubarão com (Paú?). Então, mudanças muito grandes. Tubarão então foi um marco de mudança muito forte. A mudança da locomotiva à vapor para diesel também foi outra mudança forte. Então, a gente via a Vale mudando. E a gente entrou na Vale em 1967, durante o tempo que teve na Vale, eu vi umas mudanças também continuaram, desde a modernização da ferrovia, a expansão do porto, compra de novas locomotivas, novos vagões... Melhorias, por exemplo, do trem, mas ainda com locomotiva à vapor. Depois, já na década de 1960, já tem outro plano da Vale para transportar seis milhões de toneladas. Então, já era um plano, na época, já parecia um plano mirabolante, mas um plano que foi talvez, a partir daí, que a Vale começou a sair do desequilíbrio financeiro. Depois, a gente já teve oportunidade de participar de um plano para 20 milhões de toneladas e aí tinha, entre outras coisas, a sinalização da ferrovia, tinha os trens mais longos, os trens podiam aumentar o comprimento, aí foi para os trens de 160 vagões. A Vale começou trazer locomotivas maiores. Na época, tem locomotivas, até foi uma inovação, de 3600, quase 4000 hp, locomotiva de quatro eixos. Deu alguns problemas na via, inclusive, porque não havia experiência daquela no mundo com quatro eixos. Mas, a Vale a partir dali, começou esse plano de expansão para 20 milhões de toneladas, que já começou a gerar para a Vale perspectivas de superávit financeiro. A partir da década de 1960, a Vale partiu para essa diversificação da celulose e outros setores, já vislumbrando um superávit financeiro que esse aumento de capacidade, fruto das vendas, da garantia de mercado que a Vale tinha e da necessidade de melhorar o transporte e de aumentar a capacidade de transporte, a capacidade de oferta. E a Vale foi crescendo e a gente teve essa oportunidade de crescer com ela, de ter experiência profissional muito forte. A Vale ensinou muito, deu oportunidade de aprender, a Vale deu oportunidade de vários cursos, viagens, visitas ao Brasil, ao exterior. Eu me lembro que quando eu entrei na Vale, a Vale estava na inovação tecnológica, soldar os trilhos. Soldagem de trilho é uma inovação. Então, quem está soldando o trilho no Brasil? Então, está lá em Campinas, na Companhia Paulista de Ferro, vamos fazer um curso lá. Está os franceses ensinando a soldagem. Uma das primeiras saídas minhas na Vale foi em 1968, passamos um tempo lá em São Paulo e outras visitas técnicas que nós fizemos no Brasil e no mundo inteiro, que a Vale promovia isso. A Vale tinha um intercâmbio tecnológico muito forte com vários países no campo ferroviário, intercâmbio com a Alemanha, com a Universidade de Munique, profissionais da Universidade, pesquisadores, com o Japão, entidade japonesa ferroviária chamada (Jatik?), que era uma unidade japonesa de estudos e pesquisas na área ferroviária. Esses técnicos vinham ao Brasil, iam a Vale do Rio Doce fazer pesquisa sobre ferrovia. Então, a gente foi aprendendo muito com eles, foi trocando experiência. Então, foi um aprendizado muito forte
e a gente viveu essa fase de crescimento.
P/1 - E como era o contato na relação com os outros setores, ou seja, transporte ferroviário com porto, com a produção de minério, vocês tinham essa ligação e como ela se dava?
R - Olha, a Vale teve como um ponto forte dela, a chamada visão sistêmica. Quer dizer, visão que não bastava cada um ter o desempenho bom, é necessário que tivesse desempenho no sistema. Então, aí essa interação, essa convivência harmônica, embora em alguns momentos conflituosas entre os diversos departamentos. Quer dizer, o departamento de operação, por exemplo, departamento da via permanente, da própria ferrovia, eram dois departamentos que constantemente tinham os seus atritos porque quando tinha um acidente de um trem, o pessoal de operação queria sempre mostrar que era a linha que estava com problema e a pessoa da ferrovia: “Isso aqui foi problema de operação do maquinista.” Então, havia esses conflitos. A questão do porto, às vezes, atrasava um trem e aí não tinha minério no porto e a Vale tinha que pagar demurrage que é a multa pelo navio. Então, o porto apertava a operação que apertava a via porque o acidente foi da via, a via demorava a recompor. Havia alguns atritos, mas havia uma consciência de que essa integração, essa visão sistêmica, ela era fundamental para a Vale e eu diria que é uma das razões do sucesso da Vale foi sempre ter controle sobre esse sistema, da mineração, do transporte, da exportação, tudo na mão dela... Porto, ferrovia e mina na mão da Vale.
P/1 - Você falava de acidentes, teve algum acidente que marcou?
R - Nós tivemos alguns acidentes na fase em que a Vale ainda tinha uma via em fase de recuperação, de modernização, tinha alguns acidentes. Eu diria aí, dois deles que marcaram mais porque ocorreram justamente nos períodos em que... Aliás, mais ocorria acidente que era período de natal e período de ano novo.
P1 - Por que?
R - Era um período que, dezembro chovia muito nessa região. Então, era difícil não se ter aí acidente ferroviário. Uma coisa que marcou muito na Vale, _____________, que era difícil programar, ter um natal, ter um ano novo porque havia problemas. Eu lembro que, um desses acidentes, teve um tombamento de trem por causa de trilho soldado, tinha acabado de implantar o trilho soldado e o trilho expandiu e o trem tombou. Eu me lembro que aí fomos passar o resto do natal lá na linha. E, naquele momento, houve uma preocupação muito também da Vale, havia até uma proposição de acabar com aquilo, não soldar os trilhos. A gente resistiu isso como técnico e tinha um acidente, depois comprovado, que foi... Não seguiu-se a metodologia que devia adotar e aí foi mantido todas as normas e depois a soldagem foi um sucesso para a Vale. Mas, aí teve o preço por esse primeiro acidente, o único acidente. Depois, tivemos outros acidentes. Eu me lembro que tivemos acidentes lá num ramal que não era da rede ferroviária, mas era arrendado pela Vale, onde houve um acidente lá na ponte metálica. Essa ponte já era antiga e a fadiga destruiu a ponte e caiu o trem lá na ponte. Aí, para variar, também período que eu ia entre o natal e o ano novo. Então, mais uma vez, sacrifício de um ano novo por um acidente.
P/1 - Qual era importância da Vale no contexto nacional nessa época que você trabalhou?
R - Olha, a Vale era... Ela foi um símbolo de dedicação dos seus funcionários porque o funcionário da Vale vestia a camisa. Eu acho que era uma referência nacional. A Vale primava por estar em dia com os avanços tecnológicos e pela sua eficiência. A Vale tinha indicadores ferroviários que nenhuma outra ferrovia brasileira tinha a performance. Então, isso era usado como referência, embora a Vale tivesse que enfrentar alguns desafios porque essa sua performance e a sua eficiência não era suficiente para demover em nível nacional daqueles que detinham o comando político, algumas exigências e algumas normas absurdas. Eu me lembro, por exemplo, que fui imposto pela Vale do Rio Doce é largar a bitola dela, que a bitola dela é um metro, alargar para um metro e sessenta para que o produto da Usiminas saísse de lá para São Paulo com a bitola só. Norma do Departamento Nacional de Estrada de Ferro, um troço absurdo. Nós, durante muito tempo, contestamos isso na época, mas havia compromissos e as pressões do Ministério de Transportes sob a Vale. E nós, na época, comprovamos que era melhor a Vale manter a bitola, invés de trocar, ela trocar mercadoria. E vinha com a bitola, na hora que chegasse tinha que tirar a mercadoria de uma e passava para outra. Era muito mais barato, muito mais rentável. Para conseguir vender isso para o Ministério do Transporte foi um esforço muito grande, muitos anos porque é o irracional querendo prevalecer sob o racional. Então, apesar da Vale ter essa marca da eficiência, eficácia, ela teve muitas dificuldades lá atrás de conseguir vender ao ministério aquilo que era melhor para ela e para o país.
P/1 - E Albino, quando é que surgiu o convite para assumir a Intervale?
R - Eu fui fazer uma... A Vale tinha mudado em 1974, ela mudou a direção da Vale, uma nova diretoria apareceu e em 1975, eu fui visitar a Estrada de Ferro Vitória-Minas. Na época, eu estava num grupo de trabalho duplicando a ferrovia e sinalização. Fiz uma palestra para a nova diretoria e, a partir dessa palestra, eu constantemente era convocado por essa nova direção...
P/1 - Quem era, quem estava?
R - Era o Fernando Roquete Reis que era o presidente da Vale. Então, os diretores deles, depois dessa palestra, me convocavam muito para ir ao Rio para discutir alguns assuntos específicos. Havia questões que estavam para ser decididas e que havia algumas dúvidas. Então, tinham vários diretores e um que era antigo, o coronel Hélio Bento, mas tinha outros diretores novos e que nos chamavam para discutir algumas questões. E aí houve uma aproximação maior com essa diretoria, embora tinha também relações com João Carlos Linhares, que era diretor antigo e permaneceu. E aí, num desses encontros, discutiu-se a necessidade de uma participação brasileira na Venezuela, era participação onde havia interesse comercial do Brasil, em termos, envolvendo petróleo da Venezuela, envolvendo minério da Vale e outras coisas mais. O Roquete Reis aceitou um convite aí da Petrobrás para fazer uma associação da entidade para tentar na Venezuela vender serviços, a Vale quis vender e vendeu a ferrovia. Havia um projeto de uma grande ferrovia na Venezuela, projetada naquela época. A Vale queria entrar vendendo serviço, implantando a ferrovia e recebendo em petróleo na triangulação com o Ministério de Minas e Energia. Era o ministro Shigeaki Ueki, na época. Então, o Fernando Roquete Reis sugeriu o meu nome para ser diretor dessa companhia, chamada Intervale, que era a sociedade da Vale do Rio Doce, mais Interbrás, que é _________ da Petrobrás, mais a Ideca que é a Companhia Venezuelana de Petróleo, mais uma empresa privada de São Paulo chamada Camargo Corrêa. Então, foi feita essa empresa e eu fui escolhido como diretor pela direção da Vale.
P/1 -
Que tipo de atribuição você tinha, que grupo você tinha de trabalho?
R - Tinha diretor técnico e uma equipe que a Vale me colocou a disposição. Depois, pedi e a Vale contratou algumas empresas de consultoria para análise de projetos. Então, foi montado uma estrutura específica para essa diretoria.
P/1 - Chegou a acontecer esse...
R - Não, o que aconteceu foi o seguinte; a Vale ia passando mais de um ano, um ano e meio lá, entre a Venezuela e o Rio, fizemos uma boa proposta comercial. E aí começou a ver a Venezuela em um novo (rico?) da América Latina com o petróleo. Aí, veio justamente, foi em 1976, 1977 já começou a haver uma crise do petróleo, em termos de preço, que houve aquele boom em 1972, 1973. Esse boom gerou uma série de planos na Venezuela. Aí, a partir da queda da estabilidade do petróleo, que havia projeções de crescimento, a Venezuela teve que cortar alguns projetos e esse projeto acabou sendo postergado. Nessa época, o projeto não foi a frente e aí a gente ficou num aguardo e acabou esse projeto, até hoje não sendo comentado.
P/1 - Seria uma saída também para o Brasil para o Pacífico?
R - Não, não.
P/1 - Não?
R - Na realidade, não. Porque a Vale chegou num momento que além de vender minério, começou a vender serviços. E lá, a idéia da Vale era vender, implantar ferrovia e vender lá e, em troca, receber petróleo. Na época, o Brasil estava com dificuldades na questão do petróleo e o ________ queria fazer da Venezuela um parceiro. Então, na realidade, foi isso que colocou a Vale numa contrapartida ao petróleo e a Venezuela queria. Não tinha experiência na ______ ferroviário, queria... A Venezuela, na época, tinha um grupo americano que atuava nesse campo ferroviário. O Ueki queria botar o grupo da Vale lá dentro e em troca receber petróleo.
P/1 - E você fica na Intervale até quando?
R - Eu fiquei na Intervale até final de 1977.
P/2 - Nesse período, você continuava trabalhando como professor na área acadêmica também?
R - Aí, nesse período da Venezuela, eu tinha pedido licença. Fiquei dois anos de licença da universidade porque viajava muito para a Venezuela, não dava para ________. Então, 1976, 1977, fiquei licenciado da universidade.
P/2 - E voltou em 1978, é isso?
R - Eu voltei em 1978.
P/2 - Certo. E quando o senhor decidiu vir estudar computação e administração aqui no Rio de Janeiro?
R - Logo que eu entrei, 1967 estagiário, 1968 já como engenheiro, em 1969 vários cursos que a Vale promovia, fazia. E, na época, começou a era da informática para a Vale. A gente tinha um computador, eu acho que é uns (40?), não me lembro mais, e a Vale estava para comprar o (BAR 360?) que era o grande computador da época. E aí, os diversos departamentos, o meu que era próximo da estrada, começaram a promover treinamento para vários profissionais. Nós fizemos um treinamento interno e depois a Vale fez uma relação de profissionais que deveriam fazer esse curso fora. Então, vim fazer esse curso na PUC, 1969 parece. Então, a ferrovia começou a entrar na época da informática cedo na Vale. Eu me lembro que a Vale estava namorando aí o Canadá para comprar um programa de simulação operacional, chamado TPC,Train Performance Calculation, um programa que precisava de um conhecimento bem profundo da informática e foi uma das razões pelas quais a Vale mandou fazer esse curso.
P/2 - E o curso de administração?
R - Aí também, a Vale, naquela época, primava por tornar o profissional o mais eclético possível. A Vale tinha preocupação de não formar profissionais que ficassem exclusivamente com uma formação. Então, ela promovia, escolhia alguns profissionais para fazer curso de economia, curso de administração de empresas. Então, eu tive essa oportunidade, desde a parte de treinamento na área de computação como na área de administração de empresa e também na área de economia, vários cursos de análise de investimento foram feitos naquela época patrocinados pela Vale, dentro da própria Vale. A Vale trazia professores, por exemplo: o Paulo Jacobson, que era economista, para dentro da Vale e vários cursos foram feitos dentro e fora, como esse da computação e administração feito na PUC em São Paulo... No Rio de Janeiro.
P/1 - Albuíno, como surge a idéia de criar a Enefer?
R - Bom, eu fiquei um tempo na Vale e com uma boa experiência na área de transportes. Eu tinha em mente que sempre fui chegado a desafios, queria ter uma nova experiência, embora tivesse vivido um período muito bom na Vale, né? Como eu fui diretor da subsidiária, fui chefe de revisão e engenharia civil, mas sempre fui chegado a desafios, ver novas fronteiras. Então, quis ver como seria a minha experiência sendo um empreendedor, não mais um profissional de empresa de economia mista que tinha lá, todo mês, a sua remuneração, seu salário, queria um desafio e também vender essa minha experiência adquirida na Vale, vender para o resto do país. Então, eu e mais três profissionais da Vale também, disse: “Eu estou a fim de montar empresa de consultoria”.
P/1 - Quais eram os seus...
R - Na época foi o Sergio Misse, o Antônio Carlos Tancredo e o Saturnino Mauro, todos da Vale do Rio Doce. “Olha, eu vou sair da Vale, vou pedir licença e eu quero vender consultoria para ele. Em princípio, vou vender consultoria como consultor, mas depois vou montar uma empresa de consultoria”. Aí, eu saí, depois eles saíram e nós começamos. Fomos para o Rio de Janeiro, depois fomos para Curitiba, vender consultoria... A Rede depois nos contratou e ficamos fazendo planos para recuperação da malha ferroviária brasileira. Então, nós fizemos um trabalho do Rio Grande do Sul até São Luís do Maranhão. Visitamos todas as ferrovias brasileiras, todas, sem exceção. Quer dizer, levamos um ano para fazer um trabalho de levantamento...
P/2 - Quantas estradas de ferro existiam no Brasil?
R - Na época, sei que a malha tinha 30 mil quilômetros. A gente viajava (de alto linha?) em toda essa malha, fazendo um estudo das prioridades, execução do transporte, um plano de modernização das ferrovias, o que veio a ser depois apresentado ao BNDES para financiamento até o Banco Mundial. Então, foi um trabalho muito interessante e isso aumentou o nosso grau de conhecimento sobre as ferrovias e também oportunidade nossa, profissionalmente, sermos independentes, autônomos nessa profissão. Foi isso que nos levou a criar uma empresa de consultoria chamado Enefer que o nome significa “estudos engenharia ferroviária”, então, voltado para ferrovia. Evidente que ela foi se ampliando e ficando não restrita a ferrovia, mas transporte como um todo, porque aí veio área portuária, depois vieram mais agregação de outros profissionais. Mas ela começou como sendo uma empresa da área ferroviária.
P/2 - Ela era baseada no Espírito Santo?
R - Ela nasceu no Espírito Santo, sede em Vila Velha e depois, evidente, que a demanda maior era no Rio de Janeiro. A sede em Vitória, mas filial no Rio de Janeiro, escritório maior é no Rio. Tem escritório em São Luís do Maranhão, escritório em Recife, escritório em Belo Horizonte, escritório em Curitiba e tivemos escritório no exterior. Tinha um escritório na Inglaterra, onde fomos responsáveis por receber equipamentos de sinalização, componentes eletrônicos para a Ferrovia do Aço que foram comprados pelo governo brasileiro lá na Inglaterra. Então, nós tivemos que ter um escritório lá para fazer inspeção desse equipamento.
P/1 - Você participou da construção da Ferrovia do Aço?
R - Sim, nós tínhamos a Ferrovia do Aço e a Enefer também participou da construção da ferrovia lá no Iraque ________. Então, esse escritório na Inglaterra também era de apoio da turma da Enefer que estava no Iraque.
P/1 - E Albuíno, e a carreira política, quando e como surgiu o convite para secretário do planejamento?
R - A carreira política começou quando aceitei o convite para ser secretário do planejamento do governo do estado, em 1988. Eu estava no Rio, conduzindo a Enefer, e na Universidade do Rio de Janeiro, professor, e fui convidado a secretário. Eu já havia sido convidado algum tempo, mas eu nunca aceitei. Mas, chegou aquele momento que eu falei: “Bom, agora é a nova experiência de vida. Eu já estive na Vale, já estou na Enefer, agora eu quero um novo desafio. Ver o que é ser um secretário do planejamento de um governo”.
P/1 - Era um governo de quem?
R - Governo do Estado, do Marcos Mauro, que era o governador na época. Mas, confesso que, quando eu decidi isso, não era para seguir carreira política. Eu tenho experiência administrativa, que a experiência da Vale foi muito boa; a política de resultados, administração por objetivos, eu queria levar isso para dentro da vida pública, sabe? Achava que a vida pública precisava de profissionais com essa experiência que eu tinha. Então, era muito mais nesse sentido e aceitei ser secretário de planejamento. E fui lá, fiz realmente uma mudança no planejamento, na forma de gestão da administração pública e aquilo ali foi me aproximando da classe política porque até então, eu nunca disputei mandato nenhum, nunca fui vereador, nem prefeito, nem deputado. Fui secretário, dois anos secretário, e essa aproximação minha com a classe política, vendo os resultados da performance do governo, porque o governo tinha um desempenho muito ruim quando eu cheguei, e, de repente, começou ter o resultado diferente na política de planejamento.
P/2 - E o que você via de diferente, quer dizer você teve uma experiência numa empresa de economia mista, você passa para a iniciativa privada, criando a sua própria empresa e você vai para a administração pública. O que você trouxe de experiência para a vida pública e o que a vida pública trouxe de contribuição aí na sua carreira?
R - Olha, a experiência da Vale foi muito interessante. Eu pude usá-la na vida pública. Não 100%, porque na Vale tinha um certo grau de liberdade de agir, _______ tinha a Vale compromissos mais... De poucas ingerências externas, né? Na vida pública, as ingerências são maiores e há também uma diferença clássica. A Vale corria atrás da demanda. Quer dizer, quanto mais demanda, melhor para a Vale. Na vida pública, a gente... Não é fugir da demanda, mas a demanda é muito maior do que a nossa capacidade de atender. Então, nem tudo foi possível aplicar. Mas métodos gerenciais, a cobrança de resultados, relatórios gerenciais, tudo isso foi possível levar para dentro. Agora, o universo da vida pública é muito maior do que o universo Vale. O universo Vale é o cliente, são os técnicos. A sociedade está nesse universo, mas numa escala menor e a vida pública está em escala de verdadeira grandeza. Então, as dificuldades foram muitas, a irracionalidade que na vida privada, empresa como a Vale, é pouco comum, é vencida com mais facilidade, na vida pública, ela quando é vencida com muita dificuldade. Porque nem sempre se prima pela racionalidade. Outra coisa é que na Vale a gente tinha vários horizontes de tempo; de curto, médio e longo prazo. Na vida pública, a maior parte dos atores só pensam no curto prazo. Então, o conflito quando se tem que planejar alguma coisa, pensando no amanhã. “Mas, a parte do amanhã não interessa, eu quero hoje”. Quer dizer, a próxima eleição é o que importa. Então, esses conflitos criaram certa dificuldade, mas de qualquer maneira, eu acho que a gente conseguiu levar muita coisa que aprendeu na Vale.
P/2 - E quais os projetos que você gostou de ter implementado durante essa... Na vida pública, sobretudo como secretário de planejamento que, possivelmente, possibilitou a sua candidatura para...
R - Eu, lá na secretaria, acho que alguns pontos fortes foram... A gente fez um... Reformulou o transporte. Então, mais uma vez, o transporte na minha vida. Foi o transporte urbano de passageiros em Vitória que era um caos. Um projeto chamado Transcol foi uma revolução, eliminou superposição de linha, eliminou conflitos de linhas, criou-se terminais de integração, criou-se linhas troncais, linha tronco e linhas alimentadoras, a tarifa única para todo mundo. Então, essa inovação e esse projeto chamado Transcol, que a gente conseguiu financiamento do BNDES, um dos projetos, até hoje, elogiados pelo BNDES e foi implementado isso. Foi um dos pontos fortes que nos levou a entrar nessa disputa eleitoral... ________ da população. Outro foi a questão da democratização dos investimentos. Quer dizer, os recursos públicos lá foram distribuídos pelos municípios, independentemente, da questão de sílaba partidária, todos os municípios. A gente tinha uma visão de que o estado, o governo do estado tem que olhar para o estado como um todo, sem prejudicar A, B ou C por questões políticas... Então, isso aproximou a maioria dos prefeitos dos municípios, que foi um outro ponto forte que a gente teve. E o terceiro ponto foi a visão da busca de recursos para o estado. A gente conseguiu recursos do BNDES, por exemplo, conseguimos recursos do Banco Mundial para um programa, para um projeto de despoluição da Baía de Vitória, 300 milhões de dólares, um projeto do BID para a restauração da malha rodoviária. Tudo isso, foi caminhos que a gente trilhou, vindo da experiência da Vale do Rio Doce.
P/2 - E foi um caminho natural chegar ao governo do estado?
R - Olha, a gente não foi, não havia planejado chegar ao governo do estado. Fui secretário, tinha o compromisso de ficar dois anos e voltar para o Rio de Janeiro. Mas, aí foi a pressão, começou a pressão da classe política, dos prefeitos, outros _____ que eu não retornasse ao Rio e que eu entrasse na vida pública. Eu resisti durante algum tempo porque aí nesse particular, encontrei resistência em casa. A minha mãe não queria que eu entrasse nisso de jeito nenhum, mas foi esse apelo e eu fui também me empolgando, achava que eu poderia... Como secretário do planejamento estava fazendo alguma coisa interessante, como governador, eu poderia fazer mais. Aí, de repente, decidi disputar o governo do estado. Aí, disputei a eleição em 1990 e fui eleito governador. Foi o meu primeiro e único mandato até hoje. Nunca disputei nada, nem vereador, nem deputado, nem prefeito, nem nada e fui disputar o cargo de governador e fui eleito. Quer dizer, um técnico em secretaria do planejamento...
P/1 - Por qual sigla partidária?
R - Pelo PDT.
P/1 - E no seu governo, além da questão do transporte, quais eram as outras coisas que o senhor privilegiava na sua administração?
R - Administração nossa, nos preocupamos, evidentemente além do transporte, em transporte como um todo, recuperamos a malha rodoviária, o transporte urbano com a renovação de frota, com saneamento, água e esgoto. Foi o governo que mais investiu em água e esgoto de toda a história do estado com recursos próprios e financiamento. Um governo que investiu muito na área da saúde, construiu... Terminou uma obra inacabada que hoje, é o maior hospital do estado, chamado Hospital da Polícia Militar, uma grande obra que o governo fez. A democratização dos investimentos, que foi uma mudança radical, em termos de estado. Tivemos um programa de interiorização muito forte para a agricultura com a mudança da forma de financiar, chamado financiamento por equivalência a produto, onde o produtor toma o recurso e paga em produto. Isso dá a ele uma garantia e um seguro de que não vai tomar um dinheiro e amanhã o produto que ele está vendendo ter um preço menor do que o dinheiro que ele tomou e não vai pagar nunca. Então, essa inovação que hoje está sendo seguida por vários estados, foi um ponto forte também do nosso governo.
P/1 - E como driblar, quer dizer, o senhor falava que na vida pública, há demanda de toda ordem e existe uma demanda social e uma demanda, sobretudo no Estado do Espírito Santo, que tem diversas indústrias e que nem sempre acompanha essa demanda social, como ajustar esses dois filões da administração pública?
R - É uma conciliação extremamente difícil. Difícil porque a carência ______ é muito grande. O setor público tem que olhar para o social, a população, ela precisa do setor público. Por outro lado, o setor público também tem que ser parceiro do setor produtivo porque ele que gera empregos, ele que paga impostos e tributos. Se o poder público investe no social, é porque ele tem receita que vem os tributos, dos impostos. Então, se o setor produtivo não for um setor em crescimento, evidente que ele vai ter menos capacidade de atender o social. Então, tem que partilhar um certo equilíbrio, o apoio a esses dois segmentos. O que é uma questão sempre delicada, difícil porque ora o setor produtivo reclama que o setor público está, digamos, voltado exclusivamente para o social, esquecendo do econômico e ora a população reclama que o governo está voltado para o econômico ______ social. Então, um estado carente como o nosso, um país carente, esse equilíbrio é sempre muito tênue. Quer dizer, você está a cada momento tendo que rediscutir, rever posições porque não é um divisor de água muito claro, o que se tem.
P/2 - Depois dos quatro anos como... Quatro anos como...
R - Quatro anos.
P/2 - Como governador...
R - ... logo na semana seguinte me apresentei a universidade, retornei a dar as aulas lá no fundão e voltei a fazer consultoria, projetos, estudos que eu fiquei muito mais no Rio de Janeiro e voltei então, mesmo morando em Vitória, vinha para cá na segunda-feira e voltava na sexta de noite, fazendo projetos, estudos. Fiz estudos para CBTU, para outras empresas na área de transporte. Agora já com experiência de governo, na área de saneamento, na área de água, esgoto. Aí, já foi muito mais além das fronteiras do transporte. E fiquei no Rio esse tempo todo, como ainda estou até hoje. Fui chamado, desde o início, pelo governador do Rio, Garotinho, para ir para o Metrô, mas eu queria ficar mais como consultor em universidade. Mas, aí depois, acabei aceitando o desafio e fui para presidir o
Metrô do Rio de Janeiro e também presidi a
FLUMITRENS, que é os trens de subúrbio, né? E permaneci até abril desse ano, quando o governador me convocou para assumir a secretaria. Eu, no início, estava acumulando as duas empresas e a secretaria, mas realmente era pesado demais e pedi ao governo que me liberasse o Metrô e a FLUMITRENS e ficar só com a secretaria. É o cargo que eu estou ocupando hoje.
P/1 - E com relação ao Rio de Janeiro especificamente, quais são os projetos e comparado ao Espírito Santo que...
R - Olha, eu diria que a gente... O Rio, nessa questão de transporte público, está bem atrasado se comparar ao resto do Brasil. Eu diria que o próprio Espírito Santo tem um transporte público de melhor qualidade. E aí, a gente fica muito feliz por ter participado
dessa mudança no estado, que também não era bom o transporte. E a gente quer trazer aqui para o Rio, algo semelhante. Então, há um processo hoje de remodelação da ferrovia, por exemplo, que o transporte ferroviário é... O Rio precisa utilizar melhor essa malha ferroviária. Estamos aí, comprando trens novos com autorização do governador, né? É um investimento... Há muitos anos que o Rio não investe em ferrovia, inclusive com a inovação. O subúrbio vai ter em breve trem com ar condicionado, uma coisa que nunca houve aqui no Rio de Janeiro. Os primeiros 18 trens já estão sendo reformados com ar condicionado e estão no processo de compra de mais 20. Isso vai demorar muito tempo porque trem novo do exterior leva tempo. Só deve levar uns dois anos, mas os trens já estão sendo recuperados em março. Abril teremos os primeiros trens com ar condicionado. Estamos ampliando a questão do transporte aquaviário no Rio de Janeiro, porque no ano passado as barcas transportaram mais passageiros. Entre Rio-Niterói, havia um transporte de quase 200 mil passageiros por dia, hoje é 70 mil. Estamos ampliando isso com uma nova estação em Niterói. Charitas será construída, vai começar dentro de 60 dias. A Ilha do Governador que era mal servida de transporte aquaviário, vai ter um outro terminal e assim nós temos programada a expansão do Metrô para Copacabana. O Metrô vai chegar a Siqueira Campos, que é o coração de Copacabana. Ela chegava no meio do caminho que era Arcoverde e chega no coração de Copacabana. E estamos fazendo já concorrência, queremos dar início em março, abril do ano que vem, ao Metrô de Niterói para São Gonçalo, que é uma região também carente, em termos, de transporte urbano. E a melhoria, a remodelação do transporte de ônibus no Rio de Janeiro com a bilhetagem automática, eletrônica. Isso vai reduzir aí, os tempos de entrada e saída de roleta que é mais automático. A não circulação _______ os ônibus diminui o risco de assalto e também a questão da mudança dos terminais que hoje estão mal localizados no centro do Rio de Janeiro.
P/1 - E sobra tempo para a vida pessoal e familiar diante de tanta...
R - Aí, é difícil, é difícil porque o Rio é um desafio em todas as áreas, né? Da segurança ao transporte, a educação. A gente tem uma jornada que começa normalmente às 6:30, 7:00 e ela acaba antes de 11:00, 00:00. No dia de ontem, a gente saiu de casa às 6:30 e chega em casa às 00:45. Então, é uma jornada muito pesada e vai também sábado. Então, o lazer quase não existe, raramente. Mas, o trabalho motiva muito, eu gosto muito do trabalho que faço.
P/1 - O senhor é casado?
R - Eu sou casado.
P/1 - Tem quantos filhos?
R - Eu tenho três filhos.
P/1 - E que idade eles têm?
R - A mais velha tem 27, o menino tem 25 e a menor tem 23 e todos os três se formam em engenharia. A mais velha formada em engenharia e está seguindo essa área de transporte, está fazendo mestrado no IME, vai ficar nessa área de transporte...
P/1 - Qual é o nome dela?
R - Ana Flávia. A mais nova formou em engenharia, mas ela deve, vai ficar com engenharia de produção, está trabalhando no Rio, em uma construtora. E o menino formou agora, está trabalhando também, indo para Pouso Alegre, Minas Gerais numa construção de uma estrada de rodagem lá também.
Então, todos estão seguindo o pai.
P/1 - E o nome do filho?
R - O filho é Albuíno também.
P/1 - Como o pai e o avô?
R - É, como o pai e o avô.
P/1 - São os únicos Albuíno?
R - É, que eu saiba, são os únicos.
P/1 - E você sabe por que o nome Albuíno?
R - Meu pai trouxe esse nome de um antigo rei lá da África, lá não sei. Eu, inclusive, andei
procurando alguns documentos do meu pai, mas não consegui localizá-lo, mas sempre me dizia que isso aí havia sido retirado pelo pai dele de um rei lá da África. Mas, eu ainda vou conseguir reconstituir isso aí.
P/1 - E Albuíno, a gente está chegando ao final da nossa entrevista, eu queria perguntar a você, tendo essa trajetória de vida que você tem, você se arrepende de alguma coisa, você gostaria ou você faria exatamente o mesmo percurso?
R - Olha, sinceramente, estou muito feliz com essa minha trajetória. Eu, se tivesse sido traçada antes, era difícil acreditar que poderia se realizar. Então, o que aparentemente pode ter sido acidente de percurso foi bom. Eu ter saído do Rio de Janeiro como profissional, que me vivia em consultoria em empresa, e ir para o governo do estado, no meu entender, “como é que você vai largar isso aqui para a vida pública, você
é tão realizado profissionalmente, vai ter entraves e batalhas”. Mas, foi experiência muito boa para um profissional e como cidadão. Passei a conhecer um mundo real, um mundo que eu queria. Então, uma trajetória muito... Uma ida dessa... Eu não me arrependo, pelo contrário, faria novamente. Quando eu fui, eu confesso que em algum momento eu hesitava em ir ou não ir. Havia resistência em família, pela minha mãe por exemplo, outros companheiros meus que eram meus sócios: “Você vai largar isto aqui, vai para lá”.
Eu tive momentos difíceis aí, mas eu falei: “Eu sempre fui chegado a desafio, eu vou topar esse desafio”. Da mesma forma de quando eu decidi largar a Academia Militar de Agulhas Negras, eu.... “Mas, você está aqui, você é um bom aluno” “Não quero ficar mais aqui”, eu diria que eu não arrependo de ter deixado a Academia de Agulhas Negras e ter ido para o estado para ter experiência política no governo do estado.
P/1 - Você tem algum sonho?
R - Olha, eu diria que hoje, politicamente, não tenho grandes pretensões. Eu acho que, hoje, meu grande desejo é ver a transformação, ver a mudança significativa do transporte no Rio de Janeiro. Eu acho que meu grande desejo, meu grande sonho. Eu não tenho nenhum outro desejo a não ser esse de ver a mudança. Eu acho que o Rio tem um potencial muito grande para mudar, a população precisa dessa mudança. Uma cidade, uma região que tem passado, tem uma história, não merece ter esse transporte que tem. Eu acho que meu grande desafio no momento e meu grande sonho.
P/1 - E Albuíno, o que você acha desse projeto Vale Memória e o que você achou, particularmente, de ter dado, deixado seu depoimento aqui conosco?
R - Eu acho que a Vale foi em busca de algo que a gente há muito tempo tem comentado entre nós. Porque a memória acaba ficando na cabeça das pessoas, as pessoas morrem, desaparecem, nem sempre... Eu, por exemplo, hoje tenho pouca memória do meu pai, que trabalhou na Vale. Então, se eu tivesse tido, ou se a Vale tivesse feito um trabalho como esse, certamente dá para reconstituir uma memória mais ampla. Então, antes tarde do que nunca. Eu acho que esse trabalho da Vale é muito importante, ela vai conseguir preservar ainda parte da sua história, porque parte já se foi, né? Não tem como recuperar. Os que estão vivos hoje é possível que consiga o depoimento de alguns familiares que já se foram. Mas enfim, a Vale ainda dá para ela recuperar uma parte da memória importante porque tem a Vale do passado ainda na cabeça de muitos. A minha Vale de cabeça é de 1967, como profissional, mas tem a Vale de 1957, 1958 que era do meu pai. Aí, a minha memória de lá para cá e mais o que eu li em alguns livros. Claro, _______ que são livros, são lidos, mas não traduz tudo. Tem algumas peculiaridades que só as pessoas tendo algum depoimento. Então, acho que esse trabalho da Vale é louvável, não só para a Vale do Rio Doce, mas para o Brasil. O país tem pouca memória, infelizmente. O Brasil não aprendeu com os outros países aí que resgatam toda a sua história. O Brasil tem pouca história porque fica na cabeça das pessoas que vão embora e desaparece a história.
P/1 - Está ótimo. Muito obrigada pelo seu depoimento, acho que foi muito interessante, sobretudo políticas e... Muito obrigada, e terminamos a tempo.
R - A tempo. Obrigado à vocês também.Recolher