Nasci no dia 02 de março de 1957, em Uberlândia, MG. . Em novembro de 1960 minha família se mudou para Ituiutaba, MG., onde de 1964 a 1967 estudei no Grupo Escolar Professor Ildefonso Mascarenhas da Silva. Em fevereiro de 1968 mudamos para Capinópolis, MG., onde fui estudar em um grupo, do qua...Continuar leitura
Nasci no dia 02 de
março de 1957, em Uberlândia, MG. . Em novembro de 1960 minha família se mudou para Ituiutaba, MG., onde de 1964
a 1967 estudei no Grupo Escolar Professor Ildefonso Mascarenhas da Silva. Em fevereiro de 1968 mudamos para Capinópolis, MG., onde fui estudar em um grupo, do qual, no momento, não me lembro o nome, neste grupo fui muito mal recebido, pois lá havia duas salas de aula do 4° ano, a
4ª "a"
e
a
4ª "b", fui colocado na 4ª “a" e isto revoltou alguns alunos, pois um menino que sempre estudou com eles foi colocado na 4ª "b" e fui responsabilizado pelo fato, dizendo que eu estava naquela sala somente por proteção, por ter vindo de Ituiutaba que é uma cidade maior, por isso passaram a me rejeitar e com isto, inicialmente, vieram as agressões verbais, foi um período horrível, era isolado, empurrado, os meninos não me aceitavam em suas brincadeiras,
as meninas viravam o rosto para mim, pediram a professora que me mudasse de sala, como não foram atendidos a hostilidade aumentou, fiquei sem chão, não tinha a quem recorrer, minha vontade era de não voltar mais aquele grupo, várias vezes quis faltar as aulas, ficar vagando pelas ruas até que terminasse o horário das aulas, mas dentro de mim algo me impedia de fazer aquilo, pois teria que mentir para minha mãe, e acabava indo às aulas, para o meu calvário, ouvir chacotas, achincalhamentos, ver as meninas virarem o rosto para mim, os meninos ameaçar me bater, até que um certo dia me agrediram após às aulas, corri, consegui fugir, porém no outro dia teria que voltar, foi um dia longo no qual fiquei imaginando o que fazer, faltar as aulas, sem cogitação, ou será que poderia fingir estar doente, não, pois havia a possibilidade de
ser levado ao médico e tomar injeções. o que seria pior ?. Não, teria que ir às aulas, talvez, quem sabe, não voltaria a me fazer nada, bem teria que ir, isto era certo, fui, mas o que receava aconteceu, neste dia fui agredido com mais violência durante o recreio, todos os alunos da sala estavam em volta, insuflando a agressão, foi a primeira e a única que alguém me bateu, e o pior, na frente de todos os alunos do grupo, é uma humilhação muito grande, impossível de esquecer, a vontade é de desaparecer no ar, se tornar pó, invisível, uma sensação de fraqueza, incapacidade, as vistas somem, escurecem, você quer correr mas as pernas não obedecem,
foi quando uma professora a Dona AURELIZA ALCANTARA DE SOUZA me socorreu, me ajudou, me amparou, tomou as minhas dores e resolveu definitivamente aquela situação. Sabe a Dona Aureliza é a única lembrança boa daquele grupo, daquele ano chato e sem graça, passei a sentir um carinho e gratidão muito grande por ela, que por um motivo pessoal, o qual prefiro não relatar, tinha motivo para não ter agido daquela maneira, mas agiu. Tenho uma gratidão muito grande por ela, que passou a ser a minha imagem de professora. Infelizmente aquela alma boa faleceu pouco tempo depois. Eu acho que ela é que era a minha professora, não consigo me recordar, pretendo ir atrás para saber, a única “dificuldade” é voltar a capinópolis, não sou muito chegado a ir lá. Após aquela agressão e da intervenção da Dona Aureliza a turma passou a me “aceitar”, porém ficou um mal estar, continuei com a sensação de estar onde não deveria estar, de ser um intruso, usurpando aquilo que não tinha o direito de ter, pois estava tomando o lugar de outro menino que tinha o direito de estar onde eu estava. Não me lembro de quanto tempo durou toda aquela situação, acho que foram uns três meses, mas para mim foi como se tivesse durado uma eternidade. Outro fato foi quando da formação da fanfarra do grupo, uma Senhora adentrou à sala e perguntou se tinha alguém interessado em participar, me prontifiquei a participar, pois tinha muita vontade de participar da fanfarra, mas os meninos me constrangeram, não me apresentei. Porém algum tempo depois tive uma alegria, o ano letivo de 1968 havia terminado, ano negro, longo, difícil de terminar, mas havia terminado. Em 1969 iria iniciar no ginásio e para isto teria que fazer um exame de admissão, que era uma espécie de vestibular, onde participava todos os alunos dos grupos escolares, postulantes à iniciação ao ginásio. Neste exame passei em 3º lugar e isto me deu um alento em todas aquelas sensações, em 1º lugar ficou uma Senhora que era professora primária na zona rural, e iria fazer o ginásio para poder continuar lecionando, pois em conhecimento estava bem à frente de todos os demais postulantes, em 2º lugar ficou um menino que sempre foi o primeiro da turma, e em 3º lugar fiquei eu, por este feito ganhei um premio do Diretor do Colégio, o Dr. João Felipe, foi o livro “A Foca acordeonista”, um livro com uma história simples, gostoso de ler, que para mim foi como um troféu, pois certificava que estava entrando no Colégio por mérito próprio, não estava por proteção, não estava tomando o lugar de alguém, eu havia conquistado, e conquistado bem, o meu lugar. Agradeço o Dr. João Felipe, pois ele nem imaginava o quanto aquele livro foi importante para mim. Bem, vamos ao Mascarenhas, pois foi a partir dele que comecei a descobrir o mundo, a conhecer coisas novas, pessoas que moravam em outras ruas e bairros, a me aventurar por caminhos desconhecidos e quero aqui relatar alguns desses fatos, que não estarão necessariamente em ordem cronológica, pois me lembro dos fatos e não de datas. Para o meu primeiro dia de aula fui levado por minha mãe, que me ensinou o caminho que deveria fazer, com a recomendação de não mudá-lo, como morava na Rua 28 esquina com a Av. 11, deveria subir a 28 até a 17 e daí descer até a 20, onde ficava o Mascarenhas. Já no segundo dia fui sozinho, à porta do grupo havia uma senhora recebendo os alunos, perguntei-lhe se a Dona Clorinda estava a mesma me disse que a Dona Clorinda ainda não havia chegado, eu simplesmente voltei para casa, quando descia a 28 de volta para casa, meu pai, que estava saindo em um carro da Moto Ituiutaba, onde trabalhava, me viu e
perguntou o que eu estava fazendo ali, pois deveria estar na escola, disse-lhe que a professora ainda não tinha chegado, por isto estava voltando para casa, meu pai me levou de volta ao grupo, onde encontramos aquela mesma Senhora, que me disse que quando chegasse poderia me dirigir a porta da sala de aula aguardando a professora para poder entrar, pois os alunos só entravam na sala de aula em fila, após isto comecei a ficar mais “sabido”. Outro fato que não me esqueço, foi quando certo dia, após as aulas, já me aventurando por caminhos diferentes ao que minha mãe me havia ensinado, subi a 17 e virei na 22, quando em frente a loja Móveis Progresso, estava junto com, acho, mais dois colegas, vi pela primeira vez, uma televisão em exposição que estava ligada, ficamos observando aquilo com admiração, a imagem era cheia de bolinhas que ficavam como que pulando, e havia no canto inferior esquerdo a imagem de um boneco, ou, não me lembro corretamente, a imagem de um índio, do qual saia um caminho em direção ao canto superior direito e nada mais, a imagem não mudava, não mexia, o som era só um chiado, diferente do que ouvia falar da tal de televisão. Não achei nada demais naquilo, preferia mesmo era ir às matinês no Cine Ituiutaba, ou será que era no Cine Capitólio? Não sei mais em qual, mas era no que ficava na Av. 22, pois nos filmes no cinema os artistas mexiam, falavam, bem diferente daquela tal de televisão. Assim foi a minha apresentação a televisão. Também na 22 certo dia, após às aulas, vi logo após a 15 uma aglomeração de pessoas bem maior que a de costume, que estavam olhando para um carro, onde tinha algumas pessoas, perguntei a alguém o que era aquilo, que me disse que era uns cabeludos que não eram da cidade que a policia tinha pego e cortado o cabelo deles, fazendo caminho de rato em suas cabeças, indaguei o porque fizeram aquilo com eles, me respondeu que era porque eles deveriam ser comunistas, perguntei o que era comunista, me disse que comunista era terrorista que queria derrubar o governo, sai sem entender direito aquilo. Chegando em casa,
minha mãe estava conversando com duas vizinhas, a Deó e a Dona ...., não estou lembrando o nome dela no momento, sei que era a mulher do Doca, ai contei a elas o que tinha visto na 22, uns caras que eram cabeludos e que a policia tinha pego e cortado o cabelo deles, fazendo caminho de rato em suas cabeças, só porque eles eram comunista terrorista, perguntei porque a policia tinha feito aquilo, foi quando a Deó me disse que comunistas eram pessoas más, que se tornavam terrorista e matavam e roubavam as pessoas, por isto a policia tinha que fazer aquilo com eles. A partir desse dia passei a ter medo de comunista terrorista. A Deó era uma vizinha que estava sempre por dentro das ultimas noticias, ela recebia uma revista chamada Seleções e também comprava as revistas de noticias, como O Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotos, e também gostava de ouvir rádio, que era o meio de comunicação mais rápido, isto a fazia sair informando os vizinhos sobre as ultimas noticias, algumas que me lembro foi a morte do Presidente Kennedy, a renúncia do Presidente Janio Quadros e uma estranha noticia que, no Rio de Janeiro, o governo estava acabando com os mendigos, amarrando pedras em seus pescoços e
jogando-os no mar. Após sermos informados das notícias pela Deó, ficávamos aguardando a chegada das revistas para nos informar melhor, onde poderíamos ver fotos e saber de mais detalhes, e ver algumas notícias que costumávamos acompanhar como,
o mistério do triângulo das bermudas, o monstro do Lago Ness, e umas estórias de casos sobrenaturais. Quanto ao fato do Rio de Janeiro estar acabando com os mendigos, ficava com dó do Ganga e do Zé do Óleo que eram, sei lá, mendigos, doidos, bem não sei, só sei que o governo aqui de Ituiutaba poderia querer jogá-los no Rio Tijuco, já que aqui não tem mar, porém os dois são bonzinhos, não fazem mal e não machucam ninguém, o Zé do Óleo gosta mesmo é de consertar carros, ele não pode ver um carro parado na rua com defeito, que quer consertá-lo, ouvi dizer que o Zé do Óleo ficou doido de tanto estudar, queria ser Engenheiro Mecânico. Em Ituiutaba acontecia uma festa na Praça atrás da Prefeitura, onde eu gostava de ir para ver os bonecos enormes que se apresentavam e também o palhaço Pindoba, do qual nunca me esqueci. No Mascarenhas aprendi muitas lições de vida, uma dessas lições foi com a Dona Clorinda, portanto em 1964, quando um dia durante a aula, uma menina, que era muito tímida e quieta, que se sentava no fundo da sala à esquerda da professora, ficou com vergonha de pedir para ir a “cazinha”, não conseguiu segurar e fez xixi na calça, alguém viu e deu o alarme para os demais alunos, quase todos, inclusive eu, começou a rir achando graça da situação, foi quando a Dona Clorinda a pegou pela mão e a levou ao banheiro, passado algum tempo a Dona Clorinda voltou sozinha, se posicionou de pé entre o quadro negro e sua mesa, ficou olhando para os alunos, um a um, sem nada dizer, seu olhar não tinha raiva nem ameaças, era um olhar firme de desaprovação,
penetrante que por si só valeu por mil palavras, após estes “longos segundos” ela começou a falar a todos, senti(amos) como que se ela estivesse falando particularmente a cada um de nós, vou tentar relatar mais ou menos do jeito que ela falou, porém por falha de memória poderei mudar, acrescentar ou omitir alguma palavra ou frase, mas o sentido procurarei manter o mais fiel possível àquilo que ela nos quis passar, disse-nos
“ Você esta rindo, achando graça da situação, mas o que você
acharia se estivesse no lugar dela, gostaria que rissem e debochassem de você, como você está fazendo com ela, pense nisso, e fique sabendo que você vai passar por muitas situações constrangedoras como esta, algumas como testemunha e outras como vitima, quando se é apenas testemunha o fato parece ser engraçado, motivo de risos, chacotas, e ao se afastar daquela situação esquecemos tudo e a vida volta ao normal, porém quando se é a vítima os risos e as chacotas
incomodam, humilham, constrangem, e isso ninguém quer para si, e o que você não quer para você não deve querer para o seu semelhante, portanto toda vez que estiver diante de uma situação na qual a sua
atitude irá afetar outra(s) pessoa(s), se pergunte primeiro de como gostaria que agissem em relação a você,
obtendo uma resposta sincera, haja
de acordo com esta resposta, certamente você irá errar e ser menos injusto em suas decisões.”
Obrigado Dona Clorinda, a Senhora me ensinou a ser um cidadão melhor, a errar menos, a ser menos injusto em minhas decisões, muito obrigado, tenho muitas saudades da Senhora, daquela turma.
A única poesia que consegui decorar, foi no Mascarenhas, tive que recitá-la diante da turma, o que para mim sempre foi muito difícil devido a minha timidez, não me lembro mais dela inteira, mas era assim,
CETIM
Zalina Rolim
“Eu tenho um gatinho chamado Cetim,
é alegre e mansinho, e gosta de mim,
vem cedo à cama e faz ele miau,
e tanto me chama que até fica mal”,
Por várias vezes procurei um livro com esta poesia, mas nunca consegui encontrar, certa vez me disseram que não existia nenhuma poetiza com este nome,
mas tenho certeza que li esta poesia e sua autora era Zalina Rolim.
Em Ituiutaba se realizava anualmente uma festa, na Praça da Prefeitura, que era realizada atrás da prefeitura, nela haviam uns bonecos enormes, como aqueles de blocos carnavalesco, e também tinha o melhor o Palhaço Pindoba, do qual não me esqueço, era muito legal aquela festa, e eu tinha vontade de conhecer o Pindoba, certa vez um menino me disse que ele era um Senhor que passava muito perto de nossa casa, o “Raila Raila Rô”, este nome se deve ao fato de toda vez que ele passava por nós, ele nos dizia “Raila Raila Rô”, só que eu não acreditei muito naquilo, pois o Pindoba tinha o rosto pintado, um nariz grande com uma bola na ponta, até parecia com o Palhaço Carequinha, não, o Raila Raila Rô não poderia ser o Pindoba, pois até as roupas do Pindoba era diferente, eles não tinham nada em comun.
Ituiutaba, me deixou muitas saudades, muitas lembranças boas, aprendi muito de forma alegre, os colegas me deixaram muitas saudades, tanto os do Mascarenhas, como os da 28 e da 11.
Uberlândia, MG, 21 / 12 /2010.Recolher