Memórias do Golpe de 64
Depoimento de Clair da Flora Martins
Entrevistada por Bárbara Tavernard
São Paulo, 31/03/2004
Realização Armazém da Memória e Museu da Pessoa
Código: CMG_CB007
Transcrito por Karina Medici Barrella
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Boa noite. Por favor, diga o se...Continuar leitura
Memórias do Golpe de 64
Depoimento de Clair da Flora Martins
Entrevistada por Bárbara Tavernard
São Paulo, 31/03/2004
Realização Armazém da Memória e Museu da Pessoa
Código: CMG_CB007
Transcrito por Karina Medici Barrella
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Boa noite. Por favor, diga o seu nome completo, a data e a cidade em que nasceu.
R – Meu nome é Clair da Flora Martins. Eu nasci em Porto União, Santa Catarina.
P/1 – E onde a senhora estava no dia do Golpe?
R – Estava em Curitiba, começando a faculdade de Direito.
P/1 – No dia do golpe, no exato dia, onde a senhora estava?
R – Eu estava em Curitiba, estudante, ainda iniciando uma participação política no movimento estudantil e tomando consciência dos problemas estruturais do nosso Brasil e da necessidade de nós participarmos da luta em defesa de uma sociedade mais justa.
P/1 – Em que circunstância a senhora se encontrava no dia 31 de março de 1964?
R – Eu ainda estava num processo de conhecimento da realidade brasileira, e conhecendo, inclusive, os problemas políticos existentes no nosso Brasil.
P/1 – E qual foi a sua primeira reação frente ao Golpe?
R – Olha, eu considero que naquele momento eu senti necessidade de ter uma participação mais ativa para, em conjunto com a população brasileira, reagir não só àquela imposição ditatorial, às atrocidades que estavam sendo cometidas, mas também senti a necessidade de participar de uma luta em defesa de uma sociedade mais justa.
P/1 – E qual foi a sua primeira reação? Quando a senhora assumiu a luta, antes ou depois do Golpe?
R – Depois do golpe, participando do movimento estudantil em defesa da democracia, e participando, principalmente, das passeatas durante os anos 66, 67, 68, na luta pela democratização do ensino brasileiro.
P/1 – E qual o impacto que o Golpe teve na sua vida?
R – Olha, o golpe realmente influenciou muito a minha vida. Tanto que, a partir da participação no movimento estudantil, eu ingressei num partido marxista-leninista, que foi o Ação Popular. A partir de 1968 eu ingressei no movimento operário e também parti para a clandestinidade, participando da organização desse partido revolucionário que foi o Ação Popular. Em seguida, fruto dessa participação, fui presa e torturada em 1971, 72. A partir de então dediquei a minha vida a lutar, não só contra a ditadura, pela anistia e pela luta pela reconstrução democrática no nosso país, luta que eu permaneço até hoje.
P/1 – E quais os resquícios do Golpe no Brasil de hoje?
R – Acho que hoje, ainda, nós temos muitos resquícios da época da ditadura, daquela época. Eu queria aqui resgatar as bandeiras do movimento que se contrapôs ao golpe militar. Em 1964, as bandeiras que estavam presentes nos movimentos sociais eram a reforma agrária, a defesa pelas liberdades democráticas, pela liberdade de organização política, pela democratização do ensino, pela democratização da sociedade no sentido da distribuição da renda. Essas bandeiras estão presentes até hoje, e elas se encontram em todos os movimentos sociais. Então eu considero que a luta de 1964 está presente nos dias de hoje, e continuam porque os problemas estruturais no nosso país permanecem, e nós temos que continuar essa luta no sentido de que haja uma real democratização em nosso país, onde haja uma redistribuição da renda e também onde a maioria da população seja beneficiada, não só pela riqueza construída por todos os brasileiros, mas que a sociedade brasileira, no seu conjunto, tenha condições de conviver num ambiente democrático não só em nosso país, mas também ajudando a construir uma nova ordem mundial, baseada em novos valores, valores da solidariedade, do respeito à cidadania de todos os povos e também o respeito de todos os cidadãos, não só no nosso Brasil (corte no áudio).Recolher