Projeto Memórias de Comércio de Bauru 2020 - 2021
Entrevista de Marina Lambertini – Magnus Moda
Entrevistada por Claudia Leonor Oliveira e Luis Paulo Domingues
Bauru, 27 de abril de 2021
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Transcrita por Selma Paiva
(00:24) P1 – Bom, Marina, pra começar, eu gostaria que você dissesse, é de praxe isso, seu nome completo, data de nascimento e o local que você nasceu.
R1 – Marina Ribeiro Lambertini, nasci em Alto Alegre, São Paulo, no dia 17 de dezembro de 1952.
(00:48) P1 – Legal. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Albino Ribeiro e Francisca Ramires de Ribeiro, falecidos.
(00:59) P1 – Sim. E você conheceu seus avós?
R1 – Só uma, que também faleceu muito cedo. Eu tinha seis anos. Em compensação, a filha dela, que é a minha mamãe, durou 102 anos. (risos)
(01:17) P1 - Legal. 102 anos.
R1 – Sempre comigo, sem cortar o cordão umbilical. (risos) Eu a via todos os dias da minha vida. E ela morou comigo 35 anos, depois que meu pai faleceu.
(01:32) P1 – Ai, que legal! E você sabe a origem? Ribeiro é comum no Brasil.
R1 – Português. E Ramires é espanhol. Mamãe era espanhola. Eu tenho a cidadania espanhola. (risos)
(01:50) P2 – Ah, que beleza!
(01:53) P1 - Legal. A sua mãe nasceu na Espanha, então?
R1 – Nasceu na Espanha. E ela veio com os pais, fugidos da guerra que se instalava lá, em 1915, mais ou menos. Ela tinha oito anos. Quer dizer: ela nasceu em 1916. 1914, 1915 ela veio pro Brasil, eles vieram e chegaram aqui e tinha uma guerra (risos) também.
(02:23) P1 – É verdade.
R1 – Aí eles se embrenharam pelos sítios, né? Compraram uma propriedade em Penápolis, Alto Alegre, aquele lugar e foi lá que foi feita a nossa vidinha. (risos) Eu fui a última de cinco: quatro mulheres e um homem e vim eu, pra ficar com a mamãe, naturalmente.
(02:55) P1 – Marina, mas aí eles foram todos pra aquela região, que na época estava abrindo, o trem estava abrindo aquela região de Penápolis, a Noroeste.
R1 – Exatamente. Eles foram agricultores, né, como todo europeu que vinha, eles ficavam na agricultura. Então, eles compraram fazendas. Quer dizer: eu não vivi todo esse processo, mas me contam. Então, aos seis anos de idade, eu saí dessa região, fui pra Penápolis e, aos dez, vim pra Bauru.
(03:34) P1 – Certo. E você sabe se vieram com algum dinheiro porque, se eles compraram terras, eles tinham algumas posses, né? Talvez.
R1 – Eu acredito que sim, porque todos os meus tios eram fazendeiros. Então, (risos) eu acredito que sim.
(03:55) P1 – E, Marina, você sabe como seu pai conheceu sua mãe?
R1 – Eu creio que meu pai foi, uma época, trabalhar na fazenda do meu avô. E acho que eles se encontraram. Olha, esse é um detalhe que eu não perguntei pra eles. (risos) Mas ele era... papai nasceu aqui no Brasil, em Taiaçu, aqui em São Paulo e ele foi pra lá... depois, eu lembro do meu tempo já, ele tinha padaria, ele era dono da padaria da cidade, porque a cidade era, assim, três ruas, né? (risos) A dos crentes, que nós falávamos que tinha uma igreja crente; a nossa, principal; e a boiadeira, que passavam... eu sou meio rural, eu tenho alguma coisa de rural. (risos) E assim nós vivemos e depois de lá a gente veio pra Penápolis, papai... naquela época não existia supermercado, então ele abriu uma venda de secos e molhados. E tem uma época, nos anos sessenta começou a inflação. E o papai era de um coração maravilhoso. Então, chegavam os agricultores, assim e falavam: “’Seu’ Albino, não deu, não teve chuva, perdi toda a colheita”. Eu lembro do meu papai riscando o caderninho e falando: “Está tudo certo. João, pode dar o que ele quiser”. E foi assim (risos) que papai ficou sem nada. (risos) Porque ele, realmente, era muito caridoso. Vinha o pobre trabalhador, chegava e falava: “Eu não tenho dinheiro e eu preciso de comida” e ele mandava. Foi assim. Nós estávamos, assim, no Centro de Penápolis, eu estudei num colégio de irmãs e foi uma fase muito boa da minha vida e tal, frequentava a Igreja São Francisco, ia sempre com aqueles bambolês, era época daqueles vestidinhos de bambolê, tá? Eu sempre vivi vivendo na moda. (risos) Depois o papai, realmente, ficou numa situação assim, pela inflação e tudo o mais, sem nada. Aí nós viemos pra Bauru, que um cunhado meu nos trouxe, aqui havia alguns terrenos que papai havia comprado e nós nos montamos aqui.
(07:00) P2 – Deixa eu voltar um pouquinho, Marina.
R1 – Pois não.
(07:04) P2 – O nome do negócio dos secos e molhados, se você puder recordar e, assim, descreve pra gente esse negócio de secos e molhados.
R1 – Secos e molhados era, assim, um armazém, como o Jad teve. Como o pai do Jad teve. Que vendia tudo assim: arroz, feijão, lataria, secos e molhados e lá a gente já tinha telefone, cofre. Eu lembro disso, eu sou criança, adorava, a casa era junto, assim, à parte, era uma esquina Eduardo Castilho, lá de Penápolis, é uma rua principal, pertinho do cinema, duas quadras. Então, era um lugar bem localizado. E a gente tinha a casa e eu lembro que nós tínhamos banheira e eu tomava banho de banheira, adorava, tinha meus oito anos, assim, então é aquela fase que a gente curtia muito. E depois eu vim, aos dez anos, dez e meio, pra Bauru.
(08:19) P1 – Certo. Ô, Marina, e antes de Penápolis, antes do armazém, vocês moravam em Alto Alegre, né?
R1 – Alto Alegre, é. Nós tínhamos padaria.
(08:30) P1 - E você lembra como era Alto Alegre?
R1 – Como que é?
(08:34) P1 – Você lembra de como era Alto Alegre? A rua...
R1 – Ah, lógico! Até hoje, como eu falei: tinha três ruas. (risos) E, realmente, era assim, coisas boas que eu lembro: no Natal vinha o prefeito, mandava uma bandinha, então a gente ansiava, a bandinha descia aquela rua principal e nos acordava, porque as casas, no meu caso, todas elas, eram na beirada da rua e a minha casa tinha um jardim no fundo, porque tinha padaria e era muito grande, a gente tinha muito espaço, né? Então, a gente tinha uma escadaria bem grande, onde tinha o poço, que era elétrico, né, que tirava, que não tinha água encanada. Aí a gente tinha pinheiro, eu lembro muito bem de um pinheiro e bancos de praça, mesmo, de pedra, no jardim, assim e entravam os caminhões de lenha do lado, que servia à padaria. E eu lembro de uma mangueira... uma paineira muito linda e ela ficava no final do nosso terreno, que era enorme e ela florescia, era cor de rosa. Tanto que, quando eu tive a Roberta, eu tive um problema sério no parto e eu estava praticamente morrendo. Sabe onde eu estava? No balanço que o papai fazia naquela paineira. (risos) Eu ia, depois eu voltava, (risos) eu ia... então, eram os desmaios, me explicaram depois, sabe, que eu estava sem pressão nenhuma e tal e olha, foi nesse lugar que eu lembro que a gente estava... eu estava indo pra Jesus num balanço florido. (risos) E de pequena também que eu tinha meu irmão, oito anos mais velho que eu. Por isso que eu digo: “O que eu vim fazer, depois de quatro mulheres, o varão e eu vim?” Mamãe se escondia. Ela tinha 35 anos, ela ficava escondidinha, porque ela tinha vergonha de ser grávida. Ela se achava velha. (risos) Naquela época era.
(11:16) P2 – Imagina! Era, né?
R1 - Naquela época as pessoas casavam com 16, 18 anos, né? Então, ela se considerava velha. E, bom, o que mais? Ah, lembro! Tinha muito barbante, por causa dos sacos de farinha. Então, a gente punha - nesse terreno enorme, os meninos, as crianças, tinham muita criatividade, né? – os paus de vassoura e passava arame em tudo... o barbante em tudo e ficava aquela casinha muito bem construída, (risos) todinha de barbante e tinha sala, tinha quarto, a gente cobria, fazia comidinha lá fora, com tijolos, tinha as buchas, que eram os animais que a gente tinha no curral. Enfim, olha, a gente se divertia muito. Não tinha nenhum celular, não tinha nada, né? (risos) Então, a gente criava as brincadeiras. E, nessa época, já tinha a energia, mas eu peguei uma fase sem energia. Então, a gente ficava até sete horas da noite na rua e brincava de Perna Lata e atravessava a rua brincando. Então, Balança Caixão, era assim, uma brincadeira, pegava os vagalumes e punha uma varinha assim e saía correndo com eles iluminando a escuridão, porque era de lua, de estrelas a iluminação que a gente tinha. Então, realmente, foi uma fase muito boa. E vocês estão me fazendo relembrar, eu nem imaginava que eu ia falar (risos) isso. Mas olha, realmente foi uma fase muito gostosa. Eu gostaria que meus netos, eu tenho três, tivessem essa oportunidade, porque cala muito fundo na alma. (risos)
(13:29) P1 – É verdade. Marina, tinha muita quermesse também, né? Quermesse da igreja.
R1 – Ô, mas até hoje é muito famosa. Eu tenho uma irmã casada, em Penápolis e a festa de São João, que era o padroeiro de Alto Alegre, era uma quermesse pra ninguém pôr defeito. As moças faziam roupas especialmente pra essa quermesse. No tempo que eu ainda estava lá, eu lembro minhas primas todas das fazendas ficavam em casa e elas punham roupas e os rapazes ficavam assim, enfileirados e as moças andavam no meio. (risos) Isso eu lembro. Eu era criança, mas eu lembro disso. (risos)
(14:20) P1 – Ô, Marina, e tinha tradições de comida típica da Espanha na sua casa, alguma dança, festa espanhola, língua...
R1 – Tinha, tinha, tinha. Bom, na verdade, há bem pouco, não sei onde foi parar, umas castanholas que a mamãe usava. E a gente comia muito garbanzo. Sabe o que é? Grão de bico. (risos) Então, eu lembro muito do garbanzo, da batata grossa com ovo, que eles chamam de... tinha um nome: tortillas. Então, também. A tradição, no caso, de Portugal, por exemplo, no final de ano, na ceia, papai só aceitava bacalhoada. A ceia era com bacalhau. Bacalhoada. E no dia seguinte é que tinha assados. Antes, não. Ninguém comia. Não. E também lembro do papai assim, sempre tendo uva, parreira de uva e dando pra nós. Ele punha em saquinhos e ele dava na noite do Natal os cachos pra cada um, porque não deixava ninguém comer antes, senão (risos) não tinha pro Natal, né? Então, ele punha em saquinhos e era quase uma tradição, que ele distribuía essa fruta, que era uma delícia. (risos)
(16:10) P1 – Muito bom! Ô, Marina, e na escola? O que você lembra da escola? Primeiro você começou a estudar em Penápolis, né?
R1 – Em Alto Alegre.
(16:20) Ah, em Alto Alegre?
R1 – Naquela época, seis anos, nós tínhamos aula. Então, era até uma escola super, na época, moderna, foi construída recém, de um pracinha que morreu, que era de lá, Diogo Álvares não sei do que (risos) e eu fiquei um ano lá. Depois eu já fui pro Colégio das Irmãs de Penápolis. E depois eu vim pra Bauru. Com dez anos eu já vim pra Bauru.
(17:00) P1 – E na escola, o que você gostava mais? Tanto em Penápolis, quanto já em Bauru? De matérias, assim, quais que você gostava mais?
R1 – Eu fiz Letras com inglês, né? Então, eu gostava muito de Português, eu gostava muito de ler. Então, eu sempre me dediquei bastante nessa parte mais de Letras. Eu sempre fui... tanto que eu fiz a minha faculdade em Letras. E depois, no meu estágio, eu me deparei com uma realidade que eu abominei, foi quando surgiu a Magnus (risos) porque, aos 22 anos, eu fui estagiar e deparei com uma situação que já tinha bandidos naquela época, às três horas da tarde, sabe?
(17:56) P1 – Nossa!
R1 - Eu fui num lugar aqui perto, em Bauru, onde tinha a Sambra. Não sei se vocês conhecem...
(18:06) P1 – Sei. Conheço.
R1 - ... um lugar tão ruim, mas eu fui. Eu não sei se eu não tive a felicidade de pegar uma boa professora, eu só sei que foi, assim, uma aula: “’Fessora’, eu não vou fazer isso”. ‘Fessora’? Eu falei: Aula de Português, ‘fessora’? Eu não vou fazer a redação? Isolina, fica por isso mesmo?” Ela falou: “Claro, ele é bandido, ele risca carro, ele fura pneu, ele já está há três anos na minha sala. Ele não passa de ano”, porque naquela época se repetia. Então, eu falei: “Meu Deus!” Aí eu fui vendo que já não havia preparo. Eu fui sempre uma pessoa muito ávida de saber, eu sempre queria saber muito. E, quando eu me deparei com aquilo, eu falei: “Eu vou ter que brigar com o sistema e eu não tenho (risos) condições de brigar com o sistema, eu tenho que aceitá-lo, porque foi o que ela me passou: ‘Eu já perdi a voz, eu já fiquei afastada, eu já tive depressão. Não adianta’”. Eu acho que é por isso que nós estamos com uma sociedade assim, não é, no Brasil? Porque os professores estavam, já naquela época, há cinquenta anos, desmotivados. Imagina só!
(19:37) P2 – Marina, a Isolina é a que escrevia, que foi da Academia de Letras?
R1 – Não. A Isolina morreu com aneurisma, nova, com 42 anos, tanto que tem uma escola com o nome dela aqui.
(19:54) P2 – Tem. Mas eu queria voltar um pouquinho assim a essa sua chegada em Bauru, né? Como é que é sair de Penápolis e chegar em Bauru, uma cidade um pouquinho maior, mais longe dos parentes? Como é que foi isso?
R1 – É, realmente, com dez anos, era tudo muito novo e a gente sempre... eu estava... eu vim na frente, por causa da escola, né, antes do papai e da mamãe construírem e tudo o mais e eu fiquei na casa da minha irmã, que era uma quadra da Igreja Santo Antônio, na Bela Vista.
(20:33) P1 – Sim.
(20:33) P2 – Tá.
R1 – E, assim, o colégio ficava na outra esquina. Quer dizer que, então, a minha vida, o meu círculo de criança era muito pequeno, né? Era aquele mundinho, né, curtindo as crianças, os meus sobrinhos, que eram crianças pequenininhas e eu, com dez anos, apaixonada por crianças e também na minha religião, que eu nunca deixei de ser católica e participei sempre de... eu era da... como é que chamava? Filhas de Maria. Eu era da Cruzadinha, Legião de Maria e fui fazendo a minha escalada (risos) até ser ________ (21:22) de eucaristia por 17 anos, aí eu fui cuidar da mamãe e me afastei, mas vou diariamente na igreja. Agora, não. Mas antes eu fiquei vinte anos indo diariamente na missa. (risos) Apesar da loja, eu ia antes. E depois eu ia pra loja.
(21:46) P1 – E de Bauru, você começou morando na Bela Vista, então, né?
R1 – Sim. Morando na Bela Vista.
(21:52) P1 – Aí, seus pais mudaram pra cá e vocês foram morar onde?
R1 – Porque minha irmã morava lá, a gente não conhecia nada, né? Então, papai vendeu os terrenos que ele tinha e fez uma casa na mesma rua da minha irmã, que é a Carlos Marques, na Bela Vista.
(22:19) P1 – Ah, você cresceu na Bela Vista, né?
R1 – Isso.
(22:22) P1 – Como era a Bela Vista daquela época? Porque tinha algumas ruas de terra ainda, né? Passava cavalo, passava carroça, não era?
R1 – É. Eu tive a felicidade de, na nossa rua, ser uma rua de um trânsito até que grande, então o asfalto passou rápido, né? Então, eu não tive, assim, muita dificuldade nisso, né? Mas eu estudei, depois do grupo, fui para o Morais Pacheco, que era muito famoso, porque eu recebi a bolsa de estudo pra ir pras Irmãs, porque eu havia, já, estudado lá, mas sabe, ficava, assim, difícil a locomoção, a gente não tinha carro, papai era de idade. Então, realmente, a gente ia mais pela facilidade de locomoção, né? Então, eu acabei ficando no Morais Pacheco e terminei meu quarto científico lá, que a gente fez. Naquela época, o governo, assim como as vacinas de hoje, que não tem, eles vão adiando, então, por exemplo: saía-se do quarto ano primário e, como não tinha vaga nas escolas, eles faziam o preparatório, que era o quinto ano. Depois eles faziam os quatro anos no ginásio e depois tinha três anos que era ou Normal, ou Científico, ou Contábil, que a gente fazia mais um ano e era contadora. (risos) Então, eu fiz também esse ano a mais, porque eles não tinham, não ofertavam vagas. Aí, depois, eu já comecei a trabalhar, trabalhei na Capristor dez anos, (risos) tive uma bela escola (risos) e, trabalhando todo esse tempo na Capristor, eu fiz faculdade que, na época, chamava Fafil, filósofos, pra USC e agora é Sagrado Coração. (risos)
(24:56) P2 – Isso.
(24:58) P1 – Marina, mas como foi esse seu primeiro emprego? Onde que foi, assim? Você precisou ir? Você combinou com sua mãe: “Agora eu vou trabalhar também, além de estudar”? Como que foi?
R1 – Sim. Porque, naquela época também, as coisas não eram tão fáceis no meu caso, que papai perdeu tudo, né? Então, veja bem: eu fui trabalhar, mas por quê? As mulheres, naquela época, as moças, quando casavam, saíam do emprego. (risos) Eu tinha uma amiga, a Regina, que o marido dela, Ademar, já até faleceu e ele jogava, até, no Noroeste. (risos) E eles se casaram e ela me conhecia e ela falou: “Ai, Marina, eu vou me casar, você não quer ficar no meu lugar?” E foi por aí que eu fui pra Capristor. E era uma loja muito chique e a gente... ‘seu’ Paulo Medina era muito caprichoso e cuidava muito de moda e uniformes bonitos e moças pintadas, não que eu fosse bonita, mas (risos) a gente sempre tinha uma linha, assim, elegante, sabe? E ele cuidava muito. Ele era, realmente, um artista. Ele era apaixonado pela arte, sabe e pela venda. Quiçá fosse hoje tudo assim, porque você entra: “Já resolveu? A senhora quer alguma coisa? Já resolveu? Já resolveu?” Não. Lá nós conversávamos, tomávamos café. Tanto que a sua mamãe, Luís Paulo, ia muito na loja, (risos) porque eu carreguei tudo aquilo pra mim, né? Então, nós tínhamos uma pessoa que servia água, refrigerante, café. Então, a gente tinha quase que, vamos dizer assim, eu não ia só pra comprar. Eu ia também pra conviver com as pessoas, pra gente trocar. Então, a gente trocava muitas - apesar de eu ser jovem, 17, 18 anos – opiniões. Aquele que a Leila e o marido dela, que morreram no avião de Orly, eu tive uma situação com ela, que eu falei: “Meu Deus”, eu nunca esqueço. Era o casamento do Dudu Ranieri (risos) e ela foi escolher o presente e ela escolheu um candelabro muito lindo, que eu nunca esqueço, eu falo pra Marli: “Marli, ainda tem aquele candelabro?” Ainda tem. (risos) Então, o ‘seu’ Paulo falou: “Leila, deixa aí, marca aí”. Ela falou: “Não, eu tenho horror a avião e eu deixei a minha vida toda arrumada e não quero ficar nada pra depois, porque eu tenho muito medo de avião. Então, me faça um bom preço, que eu vou pagar agora”. Isso era mais ou menos quinta-feira, umas 16 horas. No sábado, às nove, ela estava morta. O avião havia caído.
(28:43) P2 – Foi impressionante, né? Foi um _____ (28:45) em Bauru esse acidente.
R1 – Foi. E, pra mim, que eu tive aquele contato, assim: uma pessoa jovem, com três filhos, com tudo de bom, né? Então, eu fiquei muito chocada, sabe? Eu, realmente, apesar da juventude, aquilo me tocou profundamente, sabe, porque foi uma situação... também vivi o outro lado da medalha: vivi a parte da Eny... (risos)
(29:18) P2 – Conta, porque, assim, parece ser uma lenda, Marina.
R1 – Era.
(29:21) P2 – Conta, porque assim: isso parece ser uma lenda urbana aqui em Bauru. Então, assim, sem citar nomes, sem comprometer as pessoas, fica à vontade, mas, assim, eu gostaria que você falasse o seu olhar sobre essa presença das meninas da Eny lá na Capristor. Pra deixar de ser uma lenda urbana.
R1 – Exato. Eu tive muito contato com a Dona Eny, tá? Era uma senhora, assim que, na verdade, nem se arrumava muito bem quando ela descia pro comércio, tá? (risos) E ela tinha um cabelo lilás. Ela já tinha bastante idade e ela tinha o cabelo, pintava de lilás e ela não era elegante e fina. Ela era bem quase que grosseira. Então, naquela parte íntima, talvez, com os políticos e à noite, ela fosse diferente, mas naquela hora que ela descia pra comprar algumas coisas, roupas e tal, ela realmente sentava mal, ela falava... o ‘seu’ Paulo tinha intimidade também, falava com ela. Então, eu conheci aquele lado da pessoa não preparada. E as moças, quando desciam pra cidade... aliás, ‘seu’ Paulo Medina fazia muitos desfiles com roupas exóticas e quem acabava comprando essas roupas exóticas, porque a mulherada, as esposas, não compravam aquelas roupas, né? Eram roupas de desfile. Então, quem acabava adquirindo eram essas meninas. Então, elas desciam pra cidade sem maquiagem, normal, não tinha nada que apontasse, sem vulgaridade, não tinha vulgaridade. Só aconteceu uma coisa: (risos) quando a Capristor começou a ser buffet, também vivi esse momento, então o ‘seu’ Paulo alugava coisas da Casa Bordeaux, de São Paulo e tal e ele foi fazer um casamento pra um pessoal de Promissão, se não me engano. E de gado, gente muito rica. E tinha três mil convidados.
(32:14) P2 – Nossa!
R1 – E era, assim, uma coisa! A Batista tinha carros, então estacionava na frente, que era Josilmar, em frente da Capristor e aconteceu assim: (risos) estavam as meninas da Eny conversando, tinha três numa mesinha, comigo. Aí, depois entrou uma noiva que estava à espera de provar roupa, que era a noiva desse casamento. Ela sentou na outra cadeira também, folheando uma revista. Nisso, entrou o noivo, o padrasto dela e mais um rapaz. Uma das moças cutucou a outra e falou: “Olha, eles que fecharam a casa ontem”.
(33:16) P1 – (risos) Sei.
R1 – Essa moça fechou a revista e saiu correndo, passava carro: “Eu vou embora, eu vou embora”. Aí o ‘seu’ Paulo: “Meu Deus, não vai ter casamento, não vai ter casamento”. (risos) Naquela época, Luís Paulo, era assim: as meninas eram meninas pra casar. E tinha os lugares que as pessoas iam, os mais abastados iam na Casa das Pedras, da Antônia e na Eny. (risos) Eu sei de tudo, porque elas compravam na loja, viu? (risos) A gente não tinha intimidade, não, mas elas compravam lá. Eu só sei que, depois conversaram, tudo e ficou tudo certo. Mas veja só: infelizmente era uma mudança, inclusive, de sociedade, né?
(34:25) P2 – Costumes, né?
R1 – Costumes. Justamente.
(34:28) P2 – Nossa!
R1 – Então, eu vivi tudo isso. Só que, por exemplo, lá eu era uma pessoa que atendia essas pessoas, mas a minha vida particular eu sabia diferenciar bastante. Tanto que eu namorei só um rapaz dez anos e casei com ele e estou há 43 anos casada e é bravo, viu? (risos)
(34:52) P2 – (risos) Marina, deixa eu te perguntar uma coisa, ainda do Paulo Medina. Eu não sei, eu já ouvi falar, mas eu não sei localizar: antes da loja Capristor, ele teve outros negócios? Você sabe alguma coisa assim?
R1 – Olha, não. Quanto a isso, não. Eu sei que...
(35:13) P2 – Já era loja, né?
R1 – É, já era loja. O irmão dele tinha uma pizzaria, que era pizzaria também, Capristor. Mas eu os conheci de lá. E, realmente, eu não sabia de nada, assim, detalhes da vida dele.
(35:28) P2 - Não. Era uma pizzaria que já tinham me falado, mesmo.
R1 – É. Tinha a pizzaria, que era o Leonardo, que infelizmente foi assassinado e foi uma fase difícil também, lá entre eles. A loja, os parentes eram pessoas simples, trabalhavam e só o ‘seu’ Paulo que saiu, assim, pra sociedade, mas também uma sociedade frágil. (risos)
(36:02) P2 – É. Descreve pra gente. Eu tenho uma vaga lembrança da Capristor, mas eu lembro que tinha tecidos, seda, musseline, cambraia, prata, cristal da Bohemia...
R1 – Cristal famoso. Cristais da Bohemia. Porcelanas da Schmidt. Tudo. Cachimbos. Porque eu passei isso no Magnus, eu fui com essa bagagem de trabalho. A gente não tinha shopping. Então, você não tinha um ponto de referência. Você comprava de tudo. Ao mesmo tempo nós tínhamos lá também: maiôs, roupas, moda, tecido, prataria, cristais, camisa masculina, calças. Então, a gente tinha tudo que você precisa pra uma casa bonita e elegante e tudo o mais. (risos)
(37:09) P1 – Marina, e a Rua Batista, né? É muito diferente daquela época que você está contando? Eu lembro de ter ido muitas vezes, mas eu queria que você contasse a diferença do comércio desse Centro de ontem pra hoje e também dos comerciantes, eu queria saber se tem...
R1 – Nossa! Veja bem: a gente podia contar quase que nas mãos as lojas, assim, que tinham um certo prestígio, vamos dizer, que era a Stop Magazine... (risos)
(37:43) P2 – Stop. Da Dona Nancy, né?
R1 – Da Dona Nancy Gebara, exatamente. A Casa Gebara, que é um lugar também que vocês deviam falar com o Eduardo, porque ele tem até hoje, aqui em cima, na Getúlio, a casa, viu, de tecidos. O Eduardo Gebara. Bom, tinha a Stop na esquina. E chegavam os vendedores e falavam assim: “Onde é o comércio?” Eu falava assim: “É essa rua” “Só?” Eu falava: “Só”. Porque praticamente a Primeiro de Agosto só tinha Banco e bar. Inclusive o Fran’s Café a gente tomava toda manhã e tarde cafezinho, lá na esquina. (risos) Era na esquina da Capristor.
(38:40) P2 – Isso.
R1 – E foi um Banco Bradesco, foi a Josilmar e hoje está muito mudado, né? A Capristor saiu de lá. Começava na quadra dois o comércio, porque primeiro era perto da estação ferroviária, então era um lugar muito estranho, ninguém ia muito pra lá. Então, começava na quadra dois da Batista, três, quatro, cinco, seis e sete. Acabou. Aí a corajosa aqui - não tinha, nas transversais, loja – foi na quadra sete, que era ________ (39:34) no Lar e eu. Passei, olhei um salão enorme, horroroso, eu falei: “Vi a minha loja. Quero essa”. (risos)
(39:50) P2 – Mas na Batista?
R1 – Não, na travessa da Rio Branco.
(39:55) P2 – Da Rio Branco, já, né?
R1 – É. Eu fui muito corajosa, porque naquela época não existia isso. Onde já se viu um comércio na transversal? Tinha a farmácia... como ele chamava? Do Julinho, que é antigo, sua mamãe deve lembrar-se. Então, meu Deus! Aí as más línguas falavam: “Ih, vai abrir lá e já vai fechar”. Eu estou há 43 anos aqui. Da Rio Branco, quadra sete, que eu fiquei 22 anos, eu fui pra Pão de Queijo, lá em cima, depois eu fui pra Getúlio, onde nós estamos.
(40:37) P2 – Até hoje. Marina, por que você saiu da Capristor e montou sua loja? Teve uma oportunidade, né?
R1 – Ah, sim, porque eu havia acabado a minha faculdade. E fiquei desanimada naquela época. E também o machismo, na época, imperava, né? Imagina: eu só teria que ir dar aula ou em Santos, em São Paulo, pra eu poder entrar no governo, né? Meu noivo não deixava. Então, eu voltei - depois de casada, porque já havia passado algum tempo - a trabalhar porque, na verdade, eu queria ter a minha independência. Afinal de contas, se eu não podia ser professora, eu ia ser alguma coisa. Então, eu continuei, um ano. Aí, meu marido trabalhava na Coca-Cola e ele foi demitido, porque o gerente queria uma equipe preparada pra um negócio que ele ia pôr, (risos) paralelo, mas não falou e meu marido ficou que ele não se conformava, que ele era uma pessoa que vivia, respirava a firma, entendeu? E ele era inspetor, não sei o que fala, assim, além de vendedor, depois e ele não se conformava. E eu havia... já fazia um ano que eu estava casada, tive aquele primeiro Chevette (risos) novo (risos) e eu estacionei, assim, na casa da mamãe, passou um - olha, não esqueço! – caminhão da Serve Bem e a roda dele, os parafusos bateram num cantinho do carro e girou e tal, eu não sabia, estava grávida e sofri um aborto. (risos)
(42:52) P2 – Ixi!
R1 – É. Então, foi uma tristeza, né?
(42:56) P2 – Sim.
R1 – Mas enfim, aí eu estou me recuperando, deitada, na casa da mamãe, meu marido chega e fala. Saiu na segunda-feira todo feliz, com a roupa dele e tal, que passava a semana toda quase, viajando e voltou logo após, umas dez e pouco e falou: “Fui mandado embora”. Eu falei: “Não acredito”. (risos) Aí, o que a gente pensou? Bom, vamos, então, eu também vou pedir a minha conta e nós vamos montar uma loja. Já que eu não posso lecionar, eu vou fazer o que eu sei e eu sei bem lidar no comércio, falar com as pessoas. Adorava sua mãe! (risos) As suas mães. (risos) Então, eu tinha, realmente, assim, uma elite muito legal, que me conhecia profundamente e eu acabei botando a loja, uma loja que ficou bem... vendi a minha casa no Jardim América, naquela época, pro Parreira. (risos) Acredite. (risos) Pra poder montar a loja. E fui assim, com muita coragem, porque eu não tinha papai rico, não tinha nada que me sustentasse. Eu acho que os jovens daquela época eram mais, assim, sabe, agarravam as oportunidades, né? E eu fui com a cara e a coragem, vendemos a casa. Os móveis, a gente reformou toda a loja. O ‘seu’ Ângelo, que era o carpinteiro do ‘seu’ Paulo, foi e fez as minhas prateleiras, muito bem-acabadas, muito chiques e tal. Não tinha muito dinheiro, Cláudia, mas gostava de coisa boa.
(45:09) P2 – Claro!
R1 – Então, a gente não tinha, assim, tantos móveis e era tudo laqueado branco, na época, que usava, né, muito branco e tal. Eu botei na loja, na parte interna e todos os vendedores da época me conheciam e davam crédito, porque você chegava e o vendedor da Pierre Cardin falava assim: “Olha, Marina, você pode comprar e tal, que eu te dou sessenta, noventa, cento e vinte dias pra pagar”. (risos) E olha a minha, assim, coragem, né? Porque eu fazia o pedido e falava: “Vou vender e vou pagar”. E assim foi a vida, né? Então, eu punha meu, que eu ganhei, aparelho de porcelana e tudo e falava assim: “Esse daqui o vendedor só deixou de amostra, mas estão chegando os novos aparelhos”. (risos) Pra não ficarem as prateleiras vazias. Então, meus cristais eu punha: “Olha, esse daqui é só pra mostrar o que nós vamos ter, mas logo vai chegar”. E foi assim que aconteceu, viu? É muita coragem. Começamos do nada. (risos)
(46:44) P2 – Então, assim, a Magnus, desde o começo, tinha também aparelho de jantar, cristais, peças de decoração e também a parte de moda?
R1 – É, porque era, na verdade, assim, o mundo que a gente vivia. A sociedade era assim. Por exemplo: só tinha o ‘seu’ Geraldo Gebara que tinha a loja que vendia enxovais e tecidos.
(47:11) P2 – Ah, sim.
R1 – Aí eu vim de um lugar, né, que era a Capristor, que tinha tudo isso. Então, eu tinha também essa formação.
(47:21) P2 – Era um modelo de negócio, né?
R1 – Era modelo, porque tinha jovens que compravam, que gostavam de gargantilha. Já naquela época tinha aquelas aliancinhas de compromisso e tal. Então, eu tinha de tudo, Cláudia. (risos)
(47:41) P2 – Eu lembro. (risos)
R1 – Roupa de jogar tênis, o abrigo, até o short, o banho, o maiô. Aí, até as minhas meninas falam assim: “Credo, mamãe, calça jeans Pierre Cardin” - e umas outras lá que eram famosas, que eu não lembro mais – “por que você acabou com isso?” (risos) Eu falei: “Porque eu virei cuidando de noiva e fazendo roupas sob medida”.
(48:09) P2 – Se especializou, né?
R1 – Fui especializando. Aí, passei por todos esses planos de políticos mal colocados. (risos) Não tinham dó do povo, sabe? Então, era o Banco que mandava, era a classe política e os planos. E foi cruzado daqui, cruzado de lá e a gente foi convivendo e o Collor roubando e papapa, papapa e eu passei por tudo, porque eu falava assim: “Não vou dar aula agora, (risos) porque o ensino está pior que o comércio”. Foi quando eu passei a fazer locação também, porque aí virou uma febre. Todo mundo começou a alugar as roupas.
(49:06) P2 – Os trajes de festa.
R1 – Os trajes de festa. Porque, na verdade, usava uma vez. Aliás, muitas lojas que hoje existem na cidade, começaram comigo, porque eu só fazia a roupa de noiva e a pessoa vinha, a noiva: “Eu só usei cinco horas” (risos) Eu falei: “Bom, toda roupa de noiva é pra usar só cinco horas, né?” “Você não aceita, não quer comprar de volta?” Eu falava: “Bem, eu só vendo roupa nova”. Então, a Célia, que teve a Célia Noivas, foi juntando um monte de roupas de noiva e tudo e eram muito lindas, caprichadíssimas, que eu fazia, assim, com o maior carinho. E aí foi que as cabeleiras começaram a ter as roupas e as pessoas mais simples começavam a alugar, a querer e de lá foi virando loja e eu fiquei e comecei a adquirir roupas masculinas, meio-fraque, fraque, que a gente usava muito. Os casamentos chiques eram todos de meio-fraque, né? De dinner e tal. Então, a gente também fazia moda. Eu fui na Fenit, que existia (risos) e a Luísa, lá do meu ladinho, sentadinha, desfilando pra mim. Ah, que chiquê!
(50:46) P2 – Muito chique, mesmo!
R1 – É. Começo de vidas delas e as duas punham a roupa, que a firma que queria vender, que eu vendia moda, colocava e elas desfilavam. E foi quando, infelizmente... ai, eu adorava ir naquela Fenit! Fui muitos anos, mas aí começaram os coreanos. Olha, eu tenho história viu? Deixaram os coreanos irem, eles tiravam foto da roupa na vitrine e no dia seguinte estava lá na José Paulino, sei lá onde. No dia seguinte.
(51:29) P2 – É. Que ano, mais ou menos, é isso, Marina? Pra gente localizar. Anos oitenta, noventa?
R1 – Muito mais. 1988 começou, porque eu abri em 1977. Então, de 1980 a 1985 a gente teve aquela fase áurea, maravilhosa, de desfiles fantásticos...
(51:59) P1 – Marina...
R1 – Pois não.
(52:02) P1 - Desculpa te cortar.
R1 – Imagina!
(52:04) P1 – É que nós pulamos um pedacinho: quando você saiu da Capristor, o ‘seu’ Paulo não ficou chateado?
R1 – Bastante, né? Porque, afinal de contas, eu já era universitária e eu saí. Tanto que duas amigas minhas de lá foram fazer minha vitrine, (risos) que nada mais é do que - infelizmente, que fechou - a Désirée.
(52:35) P2 – Ahhhhhhhh!
(52:37) P1 – A Dona Elza.
(52:37) P2 – A Elza e a Sirley.
R1 – A Elza e a Sirley, foram fazer a minha loja.
(52:45) P2 - Então elas também saíram da Capristor?
R1 – Não. Elas eram funcionárias. Só eu que saí.
(52:49) P2 – Não? Elas também saíram, assim, também trabalhavam na Capristor?
R1 – Elas trabalhavam lá. Aí elas foram na minha loja me ajudar a fazer vitrine.
(52:57) P2 – Sim.
R1 – Porque nós éramos amigas, colegas de trabalho.
(53:03) P2 – Sim, sim.
R1 – Então, elas foram lá, porque naquela época a gente tinha um primor muito grande, um respeito muito grande pelas pessoas. Tanto que eu lembro que o gerente que era, na época, Santo Antônio Supermercados, chegou a falar assim: “Olha, todo domingo nós descemos, a gente vem primeiro na sua loja, vem aqui pra olhar tudo que tem de lindo, depois nós vamos comer uma pizza na Pizzaria Vila Rica”. Só tinha uma! (risos) Comprava gibizinho láaaaa no começo, em frente a Stop, que tinha uma banca muito famosa de gibizinhos e as crianças compravam os gibizinhos, andavam olhando as vitrines. Então, a gente tinha muito respeito pelo consumidor. Então, a gente cuidava. Nós fazíamos exposição. Tanto que começaram, entre as portas, a roubarem, pescarem as roupas. Mas como eu deixei esse buraco aqui? Aí nós começamos: “Ai, roubaram, roubaram” e a gente começou a perceber (risos) que já naquela época os ladrões davam um jeitinho de entrar e roubar. Então, aí foi começando a não ter vontade, mais, de ficar essa exposição, que foi quando a sociedade foi mudando e a gente foi perdendo aquele elã, não se andava muito mais a pé, porque as pessoas iam de carro, paravam o carro e iam a pé e andavam.
(54:55) P2 – Tinha esse hábito de ver vitrine, né? De olhar vitrine.
R1 – Muito. No outro dia, na segunda-feira, terça-feira: “Tinha um vestido na manequim assim e assado”. Vinha o marido: “Quero dar pra minha mulher, tem número tal e tal” e lá que a gente fazia os negócios. Era uma fase muito boa. Não tinha, vamos dizer assim, pessoas perigosas andando na rua. Então, era uma linhagem familiar, que caminhava e fazia quase que um tour na Batista.
(55:32) P2 – Agora, essas lojas, a Capristor, a Désirée, a Magnus, vendiam tecido, mas também tinha o desenhista, né, o estilista.
R1 – Tinha o estilista.
(55:43) P2 - Fala um pouco, assim. Teve uma época de ouro: o Paulinho Keller, o Robertinho.
R1 – Tanto que, por exemplo, o Ari que ficou na Capristor, que era meu amigo, colega de trabalho. Aí ele foi pra São Paulo, por causa de pagamento e tudo mais, numa loja bem famosa em São Paulo, que tem até hoje e aí a Elza, irmã da Sirley, enrolava tecido e o ajudava no atendimento que ele mostrava o tecido e ia desenhar. Aí ela enrolava o tecido. Aí, como ele foi embora, não encontrava gente que desenhasse. Aí ela começou a pegar os desenhos dele e colar em cima. E fazia sugestão. Foi assim que a Elza começou a desenhar. (risos)
(56:43) P2 – Começou a desenhar!
R1 – Aí, depois de dois anos, montou a Désirée. Então, a Magnus existia dois anos antes e agora, o ano passado, a Désirée fechou e eu continuo lá, com as minhas meninas, claro. (risos) Que agora eu só quero tomar meu vinhinho, rezar e ficar em casa. (risos)
(57:10) P1 – Marina, uma coisa importante nesse meio tempo que você contou, é: como você conheceu seu marido?
R1 – Num aniversário de um ano da sobrinha do meu cunhado. Eles eram primo-irmãos. Tanto que nós somos em duas irmãs, mesmo sobrenome, casados com primos. Então, nós temos o mesmo sobrenome, Lambertini. Ela teve três filhas, duas médicas e uma advogada e eu tive três filhas. Então, achavam... nós conversávamos e eu falava pra minha irmã e ela falava pra mim: “Olha, se eu morrer, você cuida das minhas filhas, que elas têm o mesmo nome” e eu: “Sim, senhora”. Então, está tudo certo. Nós vamos. E eu conheci no aniversário de um ano, da sobrinha do meu cunhado, que nós fomos convidados. Aí, na verdade, era pra eu conhecer o irmão dele, mas eu me apaixonei... o irmão era grande, tal, eu me apaixonei pelo baixinho. (risos)
(58:28) P2 – Como ele chama, Marina?
R1 – Carlos Roberto Lambertini.
(58:36) P1 – Marina, e quando você começou a loja, o que você achou mais difícil na arte do comércio? Assim, porque o comércio tem um monte de coisa: você tem que comprar o material, colocar preço, vender, falar com o público, fazer...
R1 – Olha, eu acho que eu devia ter (risos) até PdH, porque eu fazia isso com uma rapidez! Eu gostava tanto! Até hoje eu sou apaixonada pela loja, entendeu? Então, quando eu vou, eu vou de cabeça. Eu entro no mundo da pessoa, o que ela precisa. Pelo menos era assim. Eu tenho casos que minhas filhas chegam e falam: “Mamãe, foi uma senhora, assim, com um porta-retratos, (risos) porque a senhora fez a roupinha da daminha, a roupa da madrinha, da formatura dela, da universidade e do casamento”. Então, eu tenho gerações. Então, eu tinha muita facilidade. Eu era, assim, sabe, interagia bem. Tanto que eu tive uma sócia que não sabia nada, ela trabalhava na Americanas e o noivo dela, no caso, chegou e falou assim: “Olha” – ele era vendedor da Coca-Cola e meu marido supervisor – “eu vou montar uma loja, porque eu quero tirar minha mulher do emprego, eu sair da Coca-Cola e nós vamos montar uma loja. Eu quero que a minha noiva saia da Americanas. Então, você me aceita de sócio?” Aí aceitou, porque também ia um bom dinheiro pra montar, né?
(01:00:40) P2 – Sim.
R1 – E eu entrei, vendi a casa e ele entrou com o dinheiro, que possivelmente o pai dele emprestou, ele continuou vendedor da Coca-Cola e a Ana Maria que foi a minha... dez anos mais nova que eu. Sabe, sociedade é assim, como disse o Pazuello: “Um manda, o outro executa”. (risos) Então, deu certo por 22 anos, porque praticamente ela falava: “Eu não sei nada” e quem sabia era eu. Quem conhecia as pessoas era eu. Então, eu falava e os outros obedeciam. Então, era uma época que a gente tinha legionária, Legião Mirim, menino, menina... eu cheguei a ter vinte vendedoras!
(01:01:33) P2 – Nossa!
R1 – Nós tínhamos muito trabalho, porque eu atendia as usineiras de lençóis etc e tal e a lista era assim, no Natal, no Dia das Crianças e tudo. Tirava: “Fulano de tal”. Eu conhecia de cor as pessoas, os números das camisas, que número que vestia e era assim: dava pro filho, pra filha, pro neto e assim saíam caixas e eu mandava - como herdei do ‘seu’ Paulo! – pintar as caixas, então eram pacotes belíssimos que a gente fazia. Realmente, eu acho que a gente gastava mais na embalagem, quase, do que ganhava, sabe? Porque eu fazia aquelas caixas que hoje você tem que comprar, se quiser embrulhar. Então, eram aquelas caixas bonitas. A Dona Zaira, da Sônia Simão, é que pintava pra gente, sabe? É, pintava. Dia das Mães, assim, aquele monte de fitas e voltava em Magnus Noiva... Magnus Moda, na época, assim e aquelas camisas de seda pura, calça... pra você ter uma ideia sobre preço, eu era considerada uma loja de elite e cara, só que uma professora podia - de grupo, de ginásio – comprar duas calças e duas camisas de seda pura por mês. A Cori, que eu vendia Cori.
(01:03:33) P2 – Cori!
R1 – Tudo coisas de marcas, né? Hoje, uma calça da Cori custa dois mil reais!
(01:03:43) P1 – Dá o salário! (risos)
R1 – Entendeu? Então, uma professora, nessa relação, ganhava muito bem, até, sabe? E podia adquirir essas roupas. Então, por exemplo: quando eu ia comprar, o vendedor falava assim: “Mas a senhora comprou cento e cinquenta calças o verão passado! Nesse inverno, a senhora tem que comprar duzentas” - (risos) – “A senhora comprou cento e vinte camisas de seda pura”. Olha só! Pra você ter ideia de como era. Era assim...
(01:04:23) P2 – Volume, né?
R1 – Um volume muito grande. E o que aconteceu? Por que eu acabei me tornando locadora? Porque o que eu estava vendendo na loja, por exemplo: uma camisa de seda pura, que eu vendia a cinquenta reais, nem sei o dinheiro que era, já estava custando quatrocentos e cinquenta. O vendedor me vendia.
(01:04:50) P2 – Por causa da inflação.
R1 – A inflação era tão grande e uma roupa pendurada, provada, eu não tinha condição de ir aumentando o preço. Então, a gente ia ganhando cada vez menos. Aí, depois, o que aconteceu? Então, você não investia tanto na loja, você pegava o dinheiro e punha em Banco. Aí o Collor foi lá e roubou. (risos) Porque eu tinha dinheiro aplicado que dava pra eu ter umas três lojas. E aí eu usei pra pagar dentista de filho, comprar sapato na Yara. (risos) Fazendo essas coisas, assim. Porque ele foi mandando pouquinho por mês, que deu em nada. Então, foi uma fase muito... eu abri uma confecção, chamava Charmon Moda e foi aquela época que o Banco dava dinheiro por telefone, que todo mundo abriu loja, que não tinha inflação. Acho que era cruzado, se não me engano. E aí eu abasteci muitas lojas Mato Grosso, isso e aquilo, ninguém me pagou. (risos) Ninguém me pagou. Aí eu fechei a Charmon. E fiquei com a loja no mesmo lugar, fazendo roupas e tudo o mais. Aí já diminuí bastante, o povo começou a comprar menos, mas até então eu vivi tempos áureos. Eu tinha um monte de gente.
(01:06:36) P2 – Agora, Marina, você foi pioneiramente pra Agenor, depois você acaba subindo...
R1 – Rio Branco.
(01:06:44) P2 - ... junto com o comércio na Rio Branco e foi uma das primeiras lojas da Getúlio também, não é?
R1 – Sim. Por isso que eu falo pra vocês que eu era meio corajosa e pioneira. (risos) Porque eu percebi em tempo, né, porque a gente era assim, antenada, apesar de não ter ainda... o computador chegou, mas e eu já fui... olha, eu fiz site de Bauru para o mundo e papapa, papapa, eu fiz tudo isso, tá? E eu entrei... nessa fase eu percebia que eu estava oferecendo um material muito bom prum povo que já não descia pra Batista, mais. Então, eu percebi que eu estava vendendo a coisa errada, pro povo errado. (risos) Então eu falei: “Bom, eu não vou abaixar o meu nível, que eu nem sei conversar e nem sei falar pra uma pessoa que a roupa é maravilhosa, se ela é chinfrim. (risos) Eu só vou se eu tiver o povo que vai, realmente, ver a qualidade dessa roupa”. Então, foi quando eu falei: “Não, não dá mais pra ficar”. Aí a minha sociedade acabou, porque a minha sócia queria popularizar a loja e eu queria elitizar, ir pra um lugar mais de elite. Então, você fica na sua casa e eu vou onde eu for. Aí ela ficou na casa dela, na Quinta da Bela Olinda, botou uns vestidos lá de noiva, ficou com uma coleção de noiva novinha e lá ela está, eu acho que até hoje. E eu fui lá no Pão de Queijo.
(01:08:53) P2 – Na frente do Pão de Queijo.
R1 – É, na frente do Pão de Queijo. Tanto que a loja já não existe mais. Eles quebraram, porque o bombeiro... tinha a escada, não era larga o suficiente e eles não deram mais o laudo de quê? De usar.
(01:09:16) P2 – De uso.
R1 – Uso, é. Então, os donos tiveram que... praticamente acabaram com o prédio todo e ficou lá o terreno, está sendo usado pra quê? Acho que estacionamento.
(01:09:33) P2 – Estacionamento, não é?
R1 – É. Estacionamento. Enfim, e aí, depois, eu fui pra esse Pão de Queijo, fiquei lá por, acho, 15 anos. Eu gosto de raízes, viu? E outra coisa também: a internet ainda não estava, assim... não existia o Google, o Waze, que você acha a pessoa fácil. A gente tinha que ter um ponto de referência. Senão, as cidades vizinhas não achavam você.
(01:10:12) P1 – É.
R1 - Então, a gente ________ (01:10:17) muito dessa maneira, porque eu falava assim: “Meu Deus, as pessoas, a maioria são de fora. Elas vão chegar aqui em Bauru e vão como, onde?” Então, eu até fiquei, assim, um pouquinho, sabe, preocupada de mudar, de ir lá pro alto. Mas aí a internet foi rapidamente mudando e eu fui, me dei muito bem e tudo ficou muto bom. Depois eu reformei a loja e ficou lindíssima, mas aí não tinha estacionamento. (risos) E a minha filha fala assim: “Mamãe, loja que não tem estacionamento, eu não compro”. (risos) Então, tinha o Tauste, volta e meia: “Marina, onde eu estaciono?” “Vai no Tauste”. Mas aí eles puseram guarda, então não podia estacionar. Então, eu fui sentindo essa necessidade de mudança, de achar um lugar que fosse com garagem, então foi onde eu fui pra Getúlio, corajosamente, porque quase não tinha lojas lá e eu simplesmente achei uma loja linda, aí a minha netinha maravilhosa, que hoje tem 11 anos, ela está até aqui no vídeo do computador, foi fazer foto pro aniversário de um aninho e aí eu cheguei e falei assim: “Puxa vida, adorei a loja da sua irmã”, falei pro fotógrafo, que era muito conhecido nosso. Falei: “Adorei” – o Hinke, talvez vocês conheçam – “a loja da sua irmã. Fiquei imaginando já a minha loja de noiva lá em cima, maravilhosa e tal”. Ele falou: “É linda, mesmo”. Entramos no carro, minhas duas filhas: “Mamãe, a senhora não tem filtro. Onde já se viu falar que gostou da loja pra pôr suas noivas!” Eu falei: “Eu falei só um sentimento que eu tive. Não falei mais nada” “Mamãe, você não devia falar nada. A senhora tem que aprender a ficar quieta”. Eu falei: “Tá bom”. Depois de uma semana: “Dona Marina, a senhora quer comprar a loja da minha irmã? Ela está vendendo”. (risos)
(01:13:08) P1 – Deu certo!
(01:13:10) P2 – Genial!
R1 – Genial! Ela foi acho que pra Austrália, qualquer coisa, com o marido dela, a Fernanda e eu comprei a loja da Fernanda, entendeu? E depois tive que ficar com a mamãe, não que... mas eu quis curtir - fiz casa lá no Villaggio II – a mamãe, tomar meu vinho com ela, passear um pouquinho, tomar sorvete e entrar na piscina. Então, eu parei de ir na loja vai fazer cinco anos e minhas filhas ficaram lá. (risos) E elas estão, agora eu não quero nem saber. Eu quero mais é rezar, ficar de joelhos, pras filhas ficarem de pé. (risos)
(01:14:04) P1 - Muito bom! Marina, deixa eu perguntar uma coisa: hoje em dia quase todo mundo que a gente entrevista usa muito rede social, que não existia antigamente.
R1 – Não.
(01:14:15) P1 – Você chegou a pegar aquela época que você tinha que botar propaganda no jornal, talvez até na TV, na rádio, muito? Como que era?
R1 – Fui, pus. Eu estive até na TV Tem! Eu tenho muitos vendedores que chegavam porque eu tinha aparecido na TV Tem. Porque eu fazia muitos desfiles e nas cidades vizinhas, no Rotary, no Lions, tal, tinha muito disso, né? Esse pessoal que trabalhava, assim. Então, eu enchia dois ônibus. (risos)
(01:14:57) P1 – Nossa!
R1 – Cheios de roupas. E aquelas meninas, até normais, como qualquer artista e depois elas na passarela, de roupa linda, pintadas, eram um luxo. (risos) Eu tenho até gente que é famosa hoje, que desfilou pra mim, sabe? Então, são coisas, assim, daquela época, que a gente se doava muito, viu, Luís Paulo? Eu acho que existia muito amor. Não era: “Toma isso, toma aquilo. Tá bom”. Eu falava: “Ai, não, tira essa roupa, que está horrorosa. Eu vou achar uma roupa pra você”. (risos) Então, é isso: eu acho que hoje falta paixão, sabe?
(01:15:52) P1 – Sim.
R1 – Falta paixão pra você apresentar. E como existe a internet, então o povo, que nem minhas filhas, compram praticamente tudo em internet.
(01:16:05) P1 – Sim.
R1 – Porque é uma numeração, não é sob medida, porque a gente tem a facilidade da nossa roupa sob medida de festa, né? Então, as roupas esporte, tudo, compra na base da internet. Meu marido, aposentado, tem outra ocupação: compra na internet. (risos) Então, todo dia, (risos) chega acho que uns dez Mercados Livres lá, sabe? (risos) Por dia. Então, é isso que está acontecendo. A gente tinha que usar FM.
(01:16:46) P1 – Todo mundo.
R1 - Era chique até a FM, que foi surgindo, né, porque antes era só AM. Olha, Luís Paulo, eu já cantei na TV Tem! Não, era TV Bauru. (risos) Eu fui naqueles programas que tinha... eu não lembro o nome da senhora que tocava piano e a gente cantava do lado. (risos) Era uma delícia! (risos) Cantava ________ (01:17:17), fazia teatro, tudo no Canal Bauru, TV Bauru, acho que era...
(01:17:24) P1 - ________ (01:17:25), era da família Simonetti e aí a Globo comprou.
R1 – Exatamente. Então, olha como eu faço parte (risos) do museu de Bauru! (risos) Mas eu vivi intensamente, viu, todas essas fases e, assim, observando. Hoje eu conto, começo a contar, as meninas, que não viveram tão intensamente isso, falam: “Ai, mamãe, quem gosta de coisa velha é museu!” (risos) Então, eu falo: “Eu não tenho pra quem contar, então eu fico com as minhas lembranças”. (risos) E agora eu estou aqui, abrindo meu coração pra vocês. (risos)
(01:18:10) P1 – Que bom! Marina, mas hoje elas estão vendendo bastante pela internet, não estão? Suas filhas.
R1 – Então, no caso, a gente não tem como, a gente tem muita propaganda, né, na internet. A gente tem aquelas blogueiras que vão pra Europa, a gente paga pra elas irem pra Europa, pra vestir o vestido da gente e tirar foto lá, mas a gente não vende pela internet, porque é moda, é vestido de noiva, é muito pessoal, sabe? Tem que provar. Nós temos, por exemplo, o Alexandre, que era da Désirée, passou a ir pra loja, ele é desenhista, então ele cria o modelo. Nós temos o costureiro Fábio, que faz. Nós temos as costureiras. Então, a gente faz uma roupa diferenciada, pra pessoa. Se a pessoa exige e quer muito o primeiro uso, ela paga mais caro. Senão, depois fica na loja e a pessoa aluga. Como cresceu muito... antes a gente conhecia fulano, sicrano, beltrano. Hoje não, né? Hoje você mora em Bauru, eu não te conheço, mas antes tínhamos uma sociedade mais fechada, mais in. Então, hoje não. Hoje está bem out, as pessoas nem se conhecem. Até pessoas de bastante dinheiro não se conhecem. Gosta da roupa e: “Vou usar esse mesmo”. Mesmo porque, os casamentos também diminuíram. E agora vai diminuir mais ainda. (risos) Eu tenho uma filha que fez Farmácia, mestrado e Medicina e ela ainda não casou. Então, ela diz: “Eu quero uma festa igual das minhas irmãs”. Eu falei: “Mas, filha, não pode mais ter essas festas. (risos) Agora, com a pandemia, até acostumar e as pessoas vão aproveitar, não gastar dinheiro, porque tem pessoas ricas que não querem gastar dinheiro em festa”. Ela falou: “Pois eu quero festa, eu quero um monte de gente, eu quero todas as minhas amigas, de todas as faculdades que eu fiz, (risos) porque eu quero me esbaldar”. Eu falei: “Então, você espera acabar essa pandemia, porque senão não tem festa”. (risos) E nós estamos sofrendo mais uma vez. Achei que os planos políticos acabaram, vivemos uma vida razoável, estávamos, assim, com a inflação parada e agora, com a pandemia, a loja está fechada praticamente dois anos.
(01:21:07) P1 – Sim.
(01:21:08) P2 – Está no segundo ano.
R1 – Já vai pro segundo ano.
(01:21:10) P2 – Tem tido alguma procura, assim, pra casamento em áreas livres, abertas, mais no campo?
R1 – Está começando, mas esses casamentos - porque a gente vende assim pra o ano que vem – estão sendo vistos e queridos pro ano que vem.
(01:21:35) P2 – Entendi.
R1 – Mesmo porque os buffets estão muito incertos, então eles querem, já, receber, aí a pessoa fala: “Ah, eu não vou pagar sem saber se eu posso”, entendeu? Então, tanto que eu vou usar o exemplo dessa minha filha, que ela tem uma amiga que insistia em casar-se. E o casamento dela foi em três vezes acontecido, né? E ainda ela quer casar na Nossa Senhora lá do quê? De São Paulo.
(01:22:11) P2 – Nossa Senhora de Fátima, lá?
R1 – Não, aquela rica, maravilhosa.
(01:22:15) P2 – É, Nossa Senhora... eu sei, ali da Augusta, da Avenida Europa com a Avenida Brasil.
R1 – Isso. É. Que só artistas e tal, casam. E tinha, assim, uma fila de três anos. (risos)
(01:22:32) P2 – É.
R1 – Naquela época ainda podia pensar-se em três anos de namoro. Hoje nem de casamento, né? (risos)
(01:22:41) P2 – O pior que é.
R1 – Então, essa amiga fez o casamento dela, civil, todo mundo teve que fazer o teste de covid no dia anterior, viajar, ficar numa pousada, pagar... então, sai muito caro casamento, porque você tem que pagar a sua estadia, o teste de covid pra você, pro seu parceiro, aí chega lá todo mundo de máscara, não pode servir nada. (risos) Então, ela falou: “Gente, eu estou me preparando pro terceiro evento do casamento da minha amiga”. Então, sabe, fica uma coisa assim, que hoje em dia não está dando pra fazer.
(01:23:30) P2 – Não comporta. No momento, não comporta.
R1 – Financeiramente não comporta. Então, o que está acontecendo? A loja está... pra pessoas que já tinham quase que tudo montado, que transferiu, no começo, como a gente trabalhava quase com um ano de antecedência, então a gente tinha que estar assim: semiaberta quando podia, quando não podia, pra atender as pessoas. Aí as pessoas praticamente desconvidavam, mas casavam, algumas e queriam a roupa.
(01:24:10) P2 – Sim.
R1 – Mas, assim, a gente teve uma caída muito grande, porque os convidados, os padrinhos, as madrinhas, que eram aquele monte de gente, reduziram-se pra dois, três casais, né? Então, nós estamos aí, ó. Buffets, lojas de festas, salões de festas estão todos... vamos ver se a gente aguenta. Eu tenho um pouquinho de gordura, mas não é muito, não. (risos)
(01:24:48) P2 – Aguenta, sim. Já sobreviveu a tantos planos econômicos.
R1 – Pois é, mas olha, não está fácil.
(01:24:56) P2 – Marina, eu queria que você falasse um pouquinho dessas figuras de estilistas aqui em Bauru: Paulinho Keller e o Robertinho. Você chegou a conviver com eles?
R1 – Lógico! Muito! Eles morreram, você sabe, até quando, infelizmente, o Robertinho fazia muitos desfiles pra mim. Eu adorava, porque ele tinha uma capacidade de treinar. Ele gritava muito, como faz, mesmo, toda (risos) pessoa que gosta disso. Então, ele treinava, assim, nós treinávamos meses, dois meses: andar e voltar e tal. Ele apresentava muito bem, ele gostava do glamour. Aí, depois do Robertinho, eu estava, inclusive, no Rio de Janeiro, quando ele se enforcou. Foi terrível.
(01:25:51) P2 – Foi, né? Foi um choque, né?
R1 – Foi. Agora, o Paulo Keller era estilista da Casa Gebara.
(01:26:01) P2 – Ahhhhhhhhh.
R1 – Mas ele era já uma pessoa assim, sabe? (risos) Eu tinha muita intimidade, eu falava assim: “Paulo, tira esse seu lencinho do pescoço, que você está feio e essa bota que você está usando (risos) em cima da calça também está horroroso”, sabe? Então, eu tinha uma intimidade muito grande com ele, né e ele tinha um desenho muito bom, mas ele só ficou famoso depois que ele ficou velho, né? Tanto que ele cuidou dos 15 anos de uma sobrinha minha, lá no Márcia & Marô, ensinando a dançar e tatata. Então, ele começou a fazer decorações pro Tênis e tal, mas foi assim quando as pessoas começaram a não existir figurinista, tanto que eu tinha na loja estilista e tudo, mulheres, mas as mulheres que não eram, (risos) não tinham fama, (risos) as pessoas queriam o Robertinho e o Paulinho Keller, pra serem atendidas. (risos) Então, hoje, realmente, está muito pouco. Você foi na... como chama? Ai, meu Deus! É uma loja antiga também, que tinha lá na esquina da Batista com a Azarias Leite. Da Selma, do ‘seu’ Issa.
(01:27:52) P2 – A Tropical?
R1 – Tropical.
(01:27:54) P2 – Conversamos com a Selma. Ela gravou a entrevista.
R1 – Ah, então! Eu, por sinal, sempre comprei muito da Selma. Então, a gente teve esse contato, né? E era uma delícia! (risos) A nossa turminha foi muito boa.
(01:28:12) P2 – Tinha algumas lojas especializadas: tecidos, calçados...
R1 – Depois começou, né? Aí já foi aquela mudança, que aí começaram tecidos, calçados e o que mais?
(01:28:29) P2 – Tinha a Casa das Meias. A Casa das Meias ainda abria?
R1 – Era vizinha. Existe, mas acho que não chama Casa das Meias, mais. Mas, nossa, seu Chafik, tudo, eu era vizinha deles lá na Capristor, sabe? Então, realmente, hoje eu tenho uma das meninas, sobrinha dele, que trabalhava lá e vai muito na igreja e tal, também, então a gente tem contato daquele tempo. Estão todas balzaquianas de sessenta anos. (risos) Já não é de trinta, é de sessenta. E a gente lembra: “Você lembra?” “Lembro, lembro, lembro”. Então, é isso, mas foi muito bom.
(01:29:14) P1 - Legal.
(01:29:15) (risos) P2 - Que maravilha!
(01:29:16) P1 – Marina, e o que você gosta de fazer no dia a dia, assim?
R1 – Agora?
(01:29:25) P1 – De lazer. É.
R1 – A gente não pode... assim, nesses dois últimos anos, eu leio muito. E adoro a Canção Nova e leio livros maravilhosos e, assim, livros que me levam a acreditar na vida futura, né? Então, eu vivi uma vida muito boa aqui, com revezes, com caídas, quedas e também ansiedade, mas sobrevivi, né? Deixei o que eu queria muito, que era estudo pra minhas filhas e uma boa vida, dentro do possível. Os maridos trabalham, elas também trabalham, então dá pra viver bem. Mas, na verdade, antes eu tinha a mamãe e mamãe era a minha prioridade. Então, o nosso lazer era Pizzaria Bambina, (risos) comer fora, porque Bauru... a gente vê até, eu vi no celular assim: “As boates abriram” e tinha um monte de velhinha lá dançando. (risos) Eu falei: “Não dá pra eu ir em boate, né, porque eu ainda tenho o meu marido”. Então, agora deixei... a mamãe se foi, infelizmente, faz dois anos e agora eu tenho meu marido e aí é a televisão (risos) e os netos. Mas aí a gente também nem pode ficar muito com os netos, é mais na base do: “Vó” ou senão vai lá fora: “Vó, ai, eu quero te abraçar”. (risos) Fica aquela coisa, assim. E Deus tem sido muito bom pra gente, nos livrando dessa covid fatal, que já tirou, assim, bastante amigos, inclusive pai e mãe de quatro médicos na família e o pai e a mãe morrem. Então, veja: não tem status, não tem dinheiro, não tem qualificação... a gente não entende essa doença. Então, você não tem uma coisa... então você tem que se resguardar. O meu genro é oftalmo e trabalha, assim, o tempo todo. Ele teve covid, só que ele não sentiu nada e o meu marido é cheio de comorbidade, o pai dele também e eles não pegaram. Então, a gente não sabe. A minha filha fala que é porque eu rezo muito. (risos) Mas sabe, a gente, na verdade, não entende ainda essa doença, né? E a gente está aqui, agradecida a Deus, porque está vivendo e tem o ar pra respirar, não é mesmo? (risos)
(01:32:34) P2 – É. É uma bênção, né?
R1 – É uma bênção. E as pessoas estão se esquecendo de fazer isso, né? Agradecer cada dia que está viva. E eu estou assim, vivendo aqui e fazendo a minha construçãozinha lá. (risos)
(01:32:55) P2 – (risos) Lu, você tem mais perguntas?
(01:32:58) P1 – Olha, eu sempre costumo perguntar pros comerciantes que ainda estão no comércio, quais são os planos futuros. No caso, eu teria que perguntar pras suas filhas.
R1 – É.
(01:33:09) P1 – Porque essa pandemia vai acabar. Agora, com a vacina e tudo, ano que vem a gente vai estar livre disso, eu acho. Tudo indica. Você acha que elas têm o tino que você teve, no comércio, pra tentar uma expansão, abrir em outras cidades, algum tipo de franquia, alguma coisa?
R1 – Olha, na verdade, você sabe que também esse tino vai muito, assim, da necessidade em primeiro lugar. (risos) E das prioridades. E minhas filhas têm uma prioridade. Elas são muito unidas e a família tem um poder muito grande. Eu sei que o futuro, bem distante, eu espero, é sair do país. Infelizmente. Pra dar um estudo melhor, tanto que as crianças estão numa escola bilíngue e então estão se preparando bastante pra poder viver uma vida melhor, porque sabem que, infelizmente, do jeito que está caminhando esse nosso país... eu adoro o Brasil, mas a gente vê que vai ficar difícil, porque essa pandemia ainda veio, sabe, dividir muito os mundos, né? Então, a gente acaba entrando nos condomínios, se fechando e não tendo convivência com as pessoas. E com medo de sair. Então, de repente a gente virou a Xuxa. (risos) Porque a gente não pode sair na rua, assim, porque a gente corre o risco, realmente, de não ser aclamada, mas ser roubada. (risos)
(01:35:10) P1 – Sim, é verdade.
R1 – Não é? Agora, os planos delas, no caso são, realmente, focar mais na noiva que a gente, modéstia à parte, está com uma loja, assim, vendendo roupas importadas, vestidos de grifes, bem... porque a noiva é noiva, em qualquer nível. Noiva quer estar linda, quer ser absoluta. Então, a gente está com essas grifes boas, importadas e a gente tem, como eu falei, a roupa que é muito linda, a importada, comprada e temos a que nós fazemos, nos tecidos diferenciados, sob medida. Então, eu creio que a gente ainda vai ficar por um bom tempo nessa situação, sabe, de roupa diferenciada e sob medida, porque aí a pessoa vai achando que ela tem muito valor e ela quer ser diferente de todos. E é quando ela quer uma roupa feita pra ela. Ela quer ter trabalho, ela quer ir pra loja muitas vezes, ela quer tirar medida, ela quer telefonema, ela quer tomar o café, ela quer ser badalada. Então, eu acho que, por uns anos, a gente ainda vai manter esse nicho, sabe? Roupas finas, elegantes e estamos aqui com as daminhas, (risos) com as formaturas de oitava série, nossa, que está famosa, né? É um baile de universidade, né, que eles estavam fazendo.
(01:37:15) P2 – Sim.
R1 – E acabou. E agora, vamos ver como vai ser o retorno, né? Mas, sabe, quando os neurônios estão todos aí à flor da pele, a pessoa quer mais é se divertir. Então, é onde ela quer uma roupa bonita, um baile bonito. Porque, no meu caso, eu tive da minha oitava série, porque na universidade era proibido ter baile. Então, não teve formatura. Foi da beca, do Cine Bauru (risos) pra missa na Espírito Santo e o almoço em restaurante. Foi essa formatura de faculdade, né, porque naquela época era assim.
(01:38:04) P2 – Era assim, né?
R1 – Hoje já as meninas estudam lá e estudaram lá, mas tinha baile normal, não tinha nada a ver com as Irmãs, mas naquela época tinha. Então, eu já tive uma formatura linda, que foi no Automóvel Clube, de oitava série, com banda, com roupa maravilhosa, com vela, com valsa e tudo o mais. Então, eu tive a minha formatura. Não foi da faculdade, mas foi...
(01:38:34) P2 – Já valeu, né?
R1 – Valeu. Eu acho que muito mais, porque eu tinha 15 anos e a gente curtiu demais. (risos)
(01:38:42) P1 – Perfeito.
(01:38:43) P2 – Marina, e você, que realiza tantos sonhos quando você fala dessa noiva que quer ser paparicada, linda, maravilhosa, absoluta, como foi o seu vestido de noiva?
R1 – Ahhhhhh, o meu vestido de noiva... teve uma época que eu tinha até vergonha de mostrar, depois ahhhhhhhhh, ele era reto, lindo, com renda chantily, todinho bordado, que a que foi costureira, uma das três irmãs da Désirée, que fez, que era a Janete, ela costurava pra mim.
(01:39:22) P2 – Ah, eu lembro dela.
R1 – E não tinha cola naquela época, era tudo no pontinho. Então, era todinho com uma cauda linda, com renda comprada no Rio de Janeiro, chantily, toda recortada, com perolinhas. A Sirley que fez, da renda de bicos, ela entretelou e fez a minha coroa todinha de pedra. E eu tive um véu longo mais curto e todinho de renda. Então, era véu e com a renda em volta. Então, realmente eu fui uma noiva linda. E eu acho que eu tinha um trauma, (risos) Cláudia, por pé porque, naquela época, começou a usar muito a sandália de plataforma. Eu não me conformava, com uma roupa elegante, com aquela sandália aparecendo os dedinhos. Eu falava: “Gente!” E grosseira, né? Porque elas eram grosseiras. E as baixinhas gostavam muito. E as que eram altas, queriam ficar mais altas ainda. Então, eu sempre queria cetim, o sapato de cetim.
(01:40:36) P2 – Mandava cobrir, né? O sapato.
R1 – Sim, mandava cobrir. E era de cetim, o meu foi cetim branco. E, na época, as fotos eram o que batia, né? Na hora você saía assim e outra hora você saía assada e eu saí saindo do carro com meu pé bem assim, (risos) pra dar o passo pra fora e o sapato aparecendo inteirinho. Já pensou se eu estivesse com uma sandália? Eu morria. (risos) Então, eu tenho essa foto: eu, elegantemente, com os pés assim, à mostra, o sapato de cetim, que delícia! Adorei! (risos) Ah, outra coisa: o vestido era tomara que caia, o forro e ele todo coberto, porque todo vestido era de manga comprida, transparente.
(01:41:29) P2 – Tinha que ser, né?
R1 – E com renda. Muito lindo! Foi muito lindo!
(01:41:36) P2 – Você que criou, junto com a Janete?
R1 – É. Na época eu sabia o que eu queria, né? Porque a gente via tanto, atendia tanto! Então, eu queria aquela renda, aquele véu que, hoje, é comprido, mas o meu era aquele véu enorme, de dois metros e quarenta, cortados no godê. Então, o véu não ficava comprido. O véu ficava aberto.
(01:42:10) P2 – Tinha uma caída, né?
R1 – E todinho com a renda em volta. Então, realmente, sabe, o custo não dava pras pessoas ficarem comprando, então começou a ficar aquele veuzinho, assim, né? Mas eu exigi o meu véu assim, lindo de viver. Tanto que depois eu usei pro berço da minha filha. (risos) E o vestido eu doei. Maravilhoso, mas eu doei pra... como chamava? Na Bela Vista tinha uma casa que acolhia pessoas, de um senhor que fazia bastante caridade. Como ele chamava, meu Deus?
(01:42:52) P2 – É o Paiva, não?
R1 – O Paiva. Exatamente. ‘Seu’ Paiva. Eu doei meu vestido pra casar as noivas de lá. (risos)
(01:43:01) P2 – Ah, que lindo! (risos)
R1 – Eu já tinha essas coisas, assim, sabe? Eu acho que, se eu tivesse muito dinheiro, eu seria um mecenas, porque eu sempre investi em quem queria estudar, sempre eu quis muito, sabe, em vestibular, eu chegava: “Não, você tem que fazer faculdade, você tem que estudar”. Até hoje! Aí, às vezes, as minhas filhas falam assim: “Mamãe, para com isso! Você não tem nada a ver a com a mulher”. Eu falei: “Mas essas crianças sem estudar eu não aguento! 15, 16 anos sem estudar, não sabendo nem falar!” Eu fico muito triste, Luís e Cláudia, se eu pudesse eu voltava (risos) à sala de aula, pra dar incentivo pra esse povo. (risos)
(01:43:54) P2 – Maravilha! Marina, e assim: a gente já está quase chegando no final da entrevista, a gente está a quase duas horas, né? O que você achou de ter dado essa entrevista, olhando pra sua trajetória, contando a sua história, a da loja, dessas conquistas todas que você teve, pro Museu?
R1 – Cláudia, eu vou ter esse momento, assim, muito no meu coração, porque realmente foi uma viagem o que eu fiz, de pessoas que hoje em dia não têm tempo pra ouvir isso. Então, eu fiz um retrô na vida, no meu bastidor e vi que eu não errei muito. (risos) E, realmente, o que eu fiz, eu sempre fiz com muita paixão, tudo. Então, eu acho que é por isso que deu certo. E eu te agradeço demais, por vocês terem essa paciência, que minhas filhas estão lá no quarto gritando: “Mamãe, para, chega”. (risos) Porque eu falo muito. (risos)
(01:45:08) P1 – Pra gente é ótimo!
R1 – Acabo incomodando vocês, né?
(01:45:11) P2 – Não. Esse aqui é o melhor trabalho do mundo! (risos)
R1 – Ai, que gostoso! Eu acho que eu adoraria fazer esse trabalho! (risos)
(01:45:19) P2 – Não é? E ainda me pagam pra fazer isso! (risos)
R1 – Você já pensou que delícia? Eu, inclusive, falei: “Eu devia ter feito Turismo que, além de viajar, eu recebia pra isso”. (risos) Mas está tudo bem. Eu não ia ficar com meus netos, com minha mamãe, com meu marido, ia ter outra vida, né?
(01:45:42) P2 – É.
R1 – E a gente fica mais em família e eu encontro de vez em quando a Adele, correndo pra cá e pra lá. A Marina, menos. (risos)
(01:45:52) P2 – Ela é mais caseira, né?
(01:45:54) P1 – Mais caseira. Minha mãe está sempre...
R1 – Ela é mais caseira, né? Mas pra lá e pra cá. Nunca vi. Eu: “Adele, Adele”. Eu sempre vejo na missa, ela vai muito também na Santuário, eu a vejo. Lembro da sua vó Assunta, era minha cliente também, adorava a Dona Assunta. Eu falava assim: “Ai, eu fico tão cansada no Natal!”, numas falas com ela. Ela falou assim: “Pois eu até durmo” - (risos) – “Antes da ceia, eu até durmo”. Pois eu chegava com três crianças, ia decorar a casa, ia pôr minhas frutas, isso e aquilo, porque era eu, eu aprendi isso e deixavam tudo pra mim. (risos) E era na minha casa, porque era a casa da vovó, né? A mamãe sempre em casa, né? E eu recebia meus 45 familiares lá e era ceia de Natal, que delícia! E cansaço imenso, mas passei. Hoje venho aqui na minha filha, mas ela paga tudo, buffet e tudo, então (risos) não tem trabalho. (risos)
(01:47:12) P1 – Está certo.
R1 – É mudança, né? Mas o mundo está bem agora. Eu vivi todas as fases: de aquisição, de muito trabalho, de muita paixão e agora estou, merecidamente, fazendo o que gosto, que é ler e rezar (risos).
(01:47:32) P2 – Muito bom!
R1 - E viver bem e ter respeito que eu tenho das minhas filhas e por minhas filhas, né? Isso é bom.
(01:47:40) P2 – Maravilha!
(01:47:41) P1 – Muito bom, Marina. Queria agradecer muito pela participação no Memórias do Comércio!
R1 – Muito obrigada!
(01:47:47) P1 – A gente vai entrar em contato com você pro fotógrafo fazer uma sessão de fotos, pra poder ir pra exposição, pra quando tiver o livro e, se você tiver fotos antigas aí, que ele possa copiar, também, separa umas aí.
R1 – Ah, que bom! Muitas. Tenho. Eu tenho de desfiles. Eu tenho muitas fotos ainda, antigas. Tenho.
(01:48:11) P1 – Que legal, Marina!
(01:48:12) P2 – Então, separa, da sua infância, adolescência também, com seus pais. O que você tiver, separa umas 15 fotos.
R1 – Ah, tá bem, então.
(01:48:20) P2 – Tá? O Fabrício é o fotógrafo e a produtora é a Beatriz. Eles vão conversar com você, eles marcam aí os dias que eles podem ir, você diz o dia que eles podem ir. São profissionais fantásticos, estão com a gente. A ideia é deixar tudo pronto pro livro ano que vem.
R1 – Certo. Ai, que bom! Mas no caso será, assim, em residência ou vai ser na loja?
(01:48:43) P2 – A loja está abrindo? Como é que está isso?
R1 – Agora a prefeitura mandou abrir.
(01:48:50) P2 – Então, se puder ser na loja, aí arrasa.
R1 – Melhor. Ótimo! Então, mesmo que não esteja aberta, a gente entra lá, porque eu tenho costureira, bordadeira, que eu estou pagando normal e elas estão lá, fazendo, criando vestidos novos...
(01:49:08) P2 – Tá. Então, se puder ser junto com os vestidos, aí, assim, fica show. A gente fez nas lojas, na Tropical, no Fran’s Café, está ficando maravilhoso!
R1 – Ah, que bom, então! Então, tá marcado na loja!
(01:49:22) P2 – O Fabrício combina com você. Marina, super gratidão, foi maravilhoso!
R1 – Então, você está aqui em Bauru, Cláudia?
(01:49:32) P2 – Eu estou.
R1 – O Luís Paulo também?
(01:49:36) P1 – Sim, eu moro aqui agora.
R1 – Ah, você mora aqui? Olha!
(01:49:41) P1 – Eu voltei, depois de trinta anos fora, pra Bauru.
R1 – Ai, que bom!
(01:49:47) P1 – E a nossa sorte é que o projeto veio pra cá, entendeu?
R1 – Ai, que bom! E desculpa a pergunta indiscreta: casaram?
(01:49:55) P1 – Eu casei.
(01:49:56) P2 – E separaram. (risos)
R1 – Você está casado ainda, Luís? E você separou?
(01:50:01) P1 – Eu ainda estou. (risos)
(01:50:02) P2 – Eu já separei duas vezes. (risos)
R1 – Está que nem minha sobrinha.
(01:50:07) P2 - Eu gostei tanto de casar, que já separei duas vezes. Casei duas vezes. (risos)
R1 – É isso aí, meu bem.
(01:50:14) P2 – É muito bom casar e é isso mesmo que você falou: o dia da noiva é especial. É um ritual de passagem, né?
R1 – Não tem dúvida. Porque muda, né, Cláudia? (risos)
(01:50:25) P2 – Muda, mas é um ritual de passagem. A formatura é um ritual.
R1 – Você tem filhos ou não?
(01:50:29) P2 – Tenho uma menina, de doze anos.
R1 – Olha praí, tá vendo? Você já experimentou tudo! Casamento, filho...
(01:50:35) P2 – É. (risos)
R1 – Quantos anos ela tem?
(01:50:38) P2 – Doze.
R1 – A minha neta tem 11.
(01:50:42) P2 – Aí, então!
R1 – Ela estuda onde aqui?
(01:50:45) P2 – Ela está no COC agora.
R1 – Ah, no COC!
(01:50:49) P2 – Ela está no COC.
R1 – A minha está na FourC.
(01:50:51) P2 – É, é bom também. São muito bons os colégios.
R1 – Nem me diga! Luís Paulo, e você, tem filhos?
(01:50:59) P1 – Eu tenho uma filha, a Sofia. Ela vai fazer 17 anos sexta-feira.
R1 – Nossa! Que maravilha! 17 anos, hein!
(01:51:14) P1 – Vai fazer, já.
R1 - Quem diria, hein! A minha linda também está com 11. Eu tenho com onze, cinco e seis.
(01:51:25) P2 – Bom, né?
R1 – Três netinhas.
(01:51:26) P1 – Muito bom!
R1 – Foi um prazer!
(01:51:28) P2 – Marina, super obrigada, gratidão imensa, viu?
R1 – Muito obrigada! Amei! Olha, o que tiver que cortar e corrigir, façam. (risos)
(01:51:37) P2 – Fica tranquila! Foi excelente!
R1 – Muito obrigada!
(01:51:41) P2 – Obrigada, viu?
R1 – Beijos.
(01:51:43) P2 – Beijos. Tchau!
R1 – Tchau, Tiago! (risos)
(01:51:49) P2 – Até!
R1 – Até!
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