Meu nome é Flávia Cristina Costa Gomes. Eu sou natural de Divinópolis, nasci numa zona rural chamada Olaria, no dia 10/05/1976. Eu nasci em uma família muito humilde, onde meu pai era Ferroviário e minha mãe trabalhava como dona de casa, e nós moramos na roça até os meus primeiros anos de v...Continuar leitura
Meu nome é Flávia Cristina Costa Gomes. Eu sou natural de Divinópolis, nasci numa zona rural chamada Olaria, no dia 10/05/1976. Eu nasci em uma família muito humilde, onde meu pai era Ferroviário e minha mãe trabalhava como dona de casa, e nós moramos na roça até os meus primeiros anos de vida. Depois, o meu pai foi trabalhar na Vila de Santo Antônio do Monte, e lá ele ficava nos alojamentos e só vinha em casa no final de semana. E com isso a minha mãe e ele decidiram mudar pra Ermida para ficar mais fácil, para ela ta lidando comigo e com meu irmão. Nessa época eu tinha um irmão que é 1 ano mais velho que eu, e aqui em Ermida eu cresci e até nos dias de hoje foi o único lugar que eu morei, nunca foi para outra cidade. Não perdi o vínculo com a roça onde eu nasci. Lá também ainda continua sendo o meu lugar. Meu pai depois aposentou, hoje ele já é falecido, e eu ainda tenho a minha mãe, eu tenho mais dois irmãos, além desse irmão mais velho. Tenho uma irmã e outro irmão. Flávio, Vanessa e Anderson.
Aqui tem uma pergunta de como foi após sair de casa dos seus pais?
Na verdade eu saí da casa dos meus pais quando eu fui estudar. Porque eu fiz o ensino fundamental aqui Ermida porque aqui só tinha a escola até o ensino fundamental, na época que eu estudei. Anos depois é que veio Ensino Médio, mais ai eu fui estudar em Divinópolis. Então eu fiz o ensino fundamental aqui, que hoje a escola que eu trabalho a 24 anos, que eu falo que é a minha escola, que eu estudei e trabalho. Depois eu fui estudar no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração, eu estudei 1 ano, depois eu fui estudar na Escola Estadual Dona Antônia Valadares. Fui para o Dona Antonia Valadares porque eu queria fazer o curso de Magistério. Então desde essa época eu já tinha vocação, que eu queria ser professora. Depois eu fui, em seguida, assim que eu terminei o magistério, eu já fui estudar em Formiga, na UNIFOR, que é Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Foi quando eu saí de casa pra estudar. Eu tive muito apoio da minha família. Porque meu pai tinha o maior orgulho. Quando eu falei que queria ser professora, meu pai teve até... porque hoje às vezes, as pessoas não têm orgulho. Mas a minha família tem muito orgulho deu ser professora. Tanto que eu sou professora a 24 anos, e a 24 anos no dia do professor, a minha família faz uma homenagem para mim, com jantar e tudo. Então eu tive muito apoio, tanto do meu pai quanto da minha mãe e dos meus irmãos por ter seguido a profissão do magistério.
Como foi que surgiu o interesse pela matemática?
Como eu já citei, desde pequena que eu já senti que meu desejo era ser professora. Eu tenho na minha lembrança de quando eu morava na roça, eu pegava pedaço de carvão e ficava rabiscando as paredes. Tudo que a minha professora falava durante a aula, chegava em casa eu repetia. Mais tarde eu lembro que meu pai quebrou um em piso de amarelão e deu um pedaço um pouco maior, e comprava para mim uma caixinha de giz, e eu escrevia nesse amarelão. Lembro dessas histórias com muita clareza..., do prazer..., do tanto que eu achava gostoso, e colocava os tamboretes para ser os meus alunos. Eu sempre tive mais facilidade com a área das exatas, por isso eu optei pela matemática. Quando eu fui pra Formiga pra fazer o curso de Matemática, lá eu me deparei com professores que para mim, viraram modelo. Aquele professor que você inspira nele, que você vê que ele também é professor por vocação e que ele ama o que faz. Isso é muito importante. Você sentir no professor o amor pela profissão. Então tinha um professor, que ele explicava e perguntava se entendeu e se você não entendeu, ele voltava e explicava de outra forma. Então eu inspirei muito neles, eram dois, todos eram bons, mais porém, dois eram os que eu gostava mais das aulas deles. Como você vê a arte de lecionar? É uma arte mesmo, e é a coisa mais linda que tem, quando você chega numa turma e começa do zero, explica e vai para o quadro e pode usar de outros recursos didáticos, que hoje são muitos, hoje não precisa só de giz e cuspe. É tanta coisa que oferece..., que vem para as escolas, com meios didáticos, que você pode transformar sua aula em uma aula mais prazerosa, que você explica o conteúdo e você vai avaliando ali durante a aula, através das suas avaliações diagnósticas, e depois vem o retorno, quando você vê que o aluno assimilou, e ele se apropriou do que foi trabalhado. Então esse é um retorno muito gratificante.
Como é a análise sobre os alunos, se eles estão compreendendo que foi ensinado?
É nesses termos mesmo, quando vem o retorno, você planta e quando você colhe. Você vê se o aluno está compreendendo. Se você percebe através das avaliações cotidianas, que não tá havendo aprendizado por parte de alguns alunos, tem que começar com as intervenções. Porque o quê que acontece, se não faz a intervenção, e você se preocupa muito em vencer conteúdo, o aluno vai ficando com defasagem. E a Matemática é muito bonita, porque ela é uma sequência, se você não domina um determinado conteúdo, o próximo ele puxa, então vai ficando uma defasagem em vários conteúdos, então o aluno ele tem que aprender e se apropriar que foi trabalhado, para dar continuidade ao aprendizado dele. Então a importância das intervenções. E se você faz isso através das avaliações cotidianas, das avaliações diagnósticas, dos processos, cada professor tem a sua forma de avaliar. E essa forma de avaliação a gente tem que ter um cuidado, porque cada aluno tem uma realidade diferente, cada um traz uma bagagem diferente. Eu sempre falo nas reuniões, que temos que ter um jogo de cintura danado, porque a gente recebe crianças diferentes. E que bom que é diferente. Que cada criança é de um jeito. Eu estou com hábito de falar criança, porque eu também trabalho com educação infantil, então tem horas eu menciono criança, mas na verdade é também com o adolescente, com a criança. Ela vem de vários meios. Onde muitos são criados com os avós, ou os pais que são separados, às vezes guarda compartilhada, às vezes fica só com a mãe, às vezes fica só com pai. Tem criança que em casa, os valores são diferentes, uma família traz uma bagagem de valores que são mais conservadores, outros que não são, tem outra visão mais modernas. São esses alunos diferentes chegam para nós e cada um tem um valor diferente, e também uma questão Regional. Aqui, por exemplo, em Ermida, a maioria dos nossos alunos são de zona rural. Então a gente atende aproximadamente umas 18 a 20 comunidades rurais. Tem criança que levanta por exemplo, 4 horas da manhã para chegar aqui em Ermida pra aula de 7 horas, e as que sai daqui às 5:30, e vai chegar em casa quase 8 horas. Tem criança que mora em meios que os pais mexem com agricultura, outros é com agropecuária. Então, as realidades são bem diferentes.
Para você o que é impor a autoridade sobre o aluno utilizando o bom senso?
Quando eu me formei, eu tinha uma outra visão. Eu achava que o professor, que o aluno tinha que obedecer e que você era a autoridade. Os anos vão passando e vamos amadurecendo e ai a gente percebe que as coisas não são a ferro e fogo. E olhando hoje com a 24 anos atrás, hoje o meu relacionamento com meus alunos é totalmente diferente, sem usar nem um pouquinho de autoridade, hoje eu consigo quase que 98% sem falar alto, sem falar uma palavra mal dita, tendo o cuidado com as palavras, não equiparo ao nível as vezes de alunos. Porque como nós falamos, recebemos alunos de vários jeitos, então até a gente tem dia que não tá muito legal, tem dia que não tá com o humor assim muito controlado. Então a criança chega com uma bagagem muito grande as vezes de problemas, de coisas que vai acontecendo no cotidiano, pra dentro da sala, e às vezes ele não quer receber aquilo. E bater de frente com aluno não é o melhor sinal. Então a gente consegue impor autoridade com respeito. Quando você Respeita o seu aluno, você pode ter certeza que você vai ser respeitado, porque às vezes ele fica até envergonhado. Se você vai com muita prudência, com muito zelo nas palavras com aluno, a devolutiva é desse jeito. Então se você vai com tom mais irônico, querendo mostrar que quem manda aqui sou eu, ele já te rebate. Então tem que ter esse cuidado, e hoje os alunos estão muito diferente de anos atrás. Hoje, essa turma de adolescentes, a mídia, esses aparelhos tecnológicos, eles ta anos luz na nossa frente, então para eles não é interessante ficar escutando professora não. Por isso a gente tem que ter esse cuidado com as intervenções, ter o zelo de criar aulas mais prazerosas, mais interessantes para a gente ganhar, não é uma competição, mas a gente tentar ganhar esses alunos.
Com a sua experiência, é possível a mudança de destino do aluno através dos seus ensinamentos?
É possível sim, e como é. Porque às vezes a gente pensa que o sucesso do aluno vai ser ele ser um expert em matemática. Mas, mais importante do que os ensinamentos de Matemática, é os ensinamentos que o aluno leva para vida toda, e os ensinamentos que ele leva para vida toda, pode mudar a vida dele. Quantas vezes eu encontro com meus alunos em ambientes de trabalho, e eu fico feliz, deles estarem ali, fazendo o que gosta, atuando na profissão deles, e observar que eles estão bem sucedidos. Talvez nem bem sucedido financeiramente, porque às vezes a gente tem esse discurso, de achar que a pessoa bem sucedida é aquela que tem um bom emprego e ganha bem, e não é. A pessoa tá bem sucedida é aquela que está bem com ela mesmo, que está bem com o que faz, que ela sente feliz, que a aurea dela é carregada de pensamentos positivos, e que faz bem também para o próximo, pra quem tá do lado. Então, o ensinamento do professor dentro da sala de aula contribui muito para a vida e o destino do aluno. Ele tem um peso fundamental e pode tá ajudando muito. Às vezes o aluno através também do professor, na parte de estudo, orienta, ele deposita credibilidade no aluno, mostra para ele que ele é capaz, que ele pode, se ele querer ele pode, e ai ele almeja novos vôos, corre atrás de ajuda, orienta a pesquisar onde é que eles podem conseguir ajuda, mostra outros cursos que são oferecidos. O professor, ele é peça fundamental.
Para você, quais são as qualidades que o professor precisa? A primeira qualidade que ele tem que ter é gostar do que faz. O professor tem que amar ser professor. Porque tem professores e professores. E atrás desse amor pelo que faz, ele tem que trazer umas qualidades que são imprescindíveis, por exemplo, te que ter pontualidade com o seu horário de trabalho, tem que ter dedicação, tem que ter muita ética profissional, tem que ter cooperação, tem que ter dinamismo, tem que ser um professor que gosta de pesquisar, de atualizar. Porque o professor ainda tem outro fator, além do tempo que ele trabalha na sala de aula, ele trabalha com a mesma carga horária ou mais em casa. Então, também tem que ter essa consciência, porque ele não consegue desenvolver o trabalho só em sala, então, ele também tem que ter a qualidade de doar um pouco do seu tempo para essa outra parte. O professor tem que ter assiduidade também, e valorizar o aluno, valorizar os outros profissionais que estão lá somando junto com ele, valorizar os gestores da escola, seja ela pública ou particular, é isso mesmo.
Tem algum projeto que você sonha em realizar?
Eu ainda tenho aqui na minha escola, o desejo de fazer um projeto com os alunos, na parte de ajudá-los. Ainda não coloquei no papel não, é só um sonho, de ajudá-los nas dificuldades com a Matemática. Nós temos muitos alunos com defasagem. Mais de uma forma mais lúdica, mais que interage mais os alunos. Eu até comecei algum tempo atrás, mas eu não consegui colocar em prática. Porque nessa época eu tava na sala de aula. Eu fiz um curso de xadrez, porque o xadrez já é comprovado que ele ajuda muito as crianças a desenvolver o raciocínio, as habilidades. Eu fiz o curso e fiquei muito entusiasmada. Mas com o passar do tempo, como eu não coloquei em prática, e não fiquei jogando, eu fui esquecendo as regras. Embora tenha aqui todo material guardado, comprei o xadrez. Mas é uma coisa que ficou na gaveta, que eu não consegui levar para frente, até porque tinha que ficar olhando carga horária, disponibilidades, e naquela época eu não consegui. Depois, quando eu fiquei de laudo médico, a diretora que tava na época, ela falou para mim: agora nós vamos conseguir montar essa sala de apoio para os alunos que estão com defasagem em matemática. Infelizmente pouco tempo depois ela adoeceu e veio a falecer. E mais uma vez esse sonho caiu por terra. Mas nós estamos aí, e ainda tenho esse desejo de ajudar os professores aqui da minha escola, que é a de Ermida. A realizar essa sala de recursos pra tá ajudando os alunos com dificuldades. Deixo aqui o meu abraço para todos os alunos do curso de matemática e os desafios são muitos, mas o sucesso lá na frente vale a pena.Recolher