Projeto Memórias das Comunidades de Paracatu
Entrevista de José Campos Pereira (Zé Pecado)
Entrevistado por Nataniel Torres
Paracatu, 08 de setembro de 2022.
Entrevista número PCSH HV 1301
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por Monica Alves
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Qual o seu nome completo, seu local e sua data de nascimento, seu Zé?
R - Meu nome é José Campos Pereira, sou nascido em 25/03/1951 na cidade de Paracatu.
P/1 - O senhor tinha me contado que o senhor nasceu?
R - Pois é, na região de Paracatu, na região de Paracatu. Lá é Santa Rita, a fazenda é chamada Paraíso, Paraíso.
P/1 - E nessa época o senhor nasceu em casa ou nasceu no hospital? Como que era?
R - Não, eu nasci em casa, parteira. Quem foi a parteira foi a minha vó, Maria Ferreira de Moura.
P/1 - E te contaram sobre o dia do seu nascimento?
R - Contaram.
P/1 - E como é que foi? O que falaram para o senhor?
R - Falaram que eu nasci normal. Nasci bem né, não tive nada, “prejudicação” nenhuma no meu nascimento não, foi tudo normal.
P/1 - E qual o nome da sua mãe, seu Zé?
R - Rita Alves Campos.
P/1 - Sim, aí…
R - Meu pai, Henrique Crisóstomo Pereira.
P/1 - E como era a sua mãe? Vamos falar dela primeiro.
R - Boa demais!
P/1 - O que ela fazia, seu Zé?
R - Minha mãe?
P/1 - É.
R - Minha mãe era doméstica, mexia com a mesma coisa que nós mesmo. Mexia… ajudava meu pai na roça, fazia comida, levava comida na roça, ajudava na época de… quando terminava ela ia para roça e tirava um tempo ali, ia ajudar a gente a plantar feijão, você pegava… era na enxada, côvado na enxada, não tinha nem coisa, depois que veio matraca, plantadeira na mão, depois que veio, né. Aí já aliviou mais a minha mãe para poder plantar, porque a minha mãe, era o meu pai covando e a minha mãe sambiando o feijão e passando,...
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Entrevista de José Campos Pereira (Zé Pecado)
Entrevistado por Nataniel Torres
Paracatu, 08 de setembro de 2022.
Entrevista número PCSH HV 1301
Realização Museu da Pessoa
Transcrita por Monica Alves
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Qual o seu nome completo, seu local e sua data de nascimento, seu Zé?
R - Meu nome é José Campos Pereira, sou nascido em 25/03/1951 na cidade de Paracatu.
P/1 - O senhor tinha me contado que o senhor nasceu?
R - Pois é, na região de Paracatu, na região de Paracatu. Lá é Santa Rita, a fazenda é chamada Paraíso, Paraíso.
P/1 - E nessa época o senhor nasceu em casa ou nasceu no hospital? Como que era?
R - Não, eu nasci em casa, parteira. Quem foi a parteira foi a minha vó, Maria Ferreira de Moura.
P/1 - E te contaram sobre o dia do seu nascimento?
R - Contaram.
P/1 - E como é que foi? O que falaram para o senhor?
R - Falaram que eu nasci normal. Nasci bem né, não tive nada, “prejudicação” nenhuma no meu nascimento não, foi tudo normal.
P/1 - E qual o nome da sua mãe, seu Zé?
R - Rita Alves Campos.
P/1 - Sim, aí…
R - Meu pai, Henrique Crisóstomo Pereira.
P/1 - E como era a sua mãe? Vamos falar dela primeiro.
R - Boa demais!
P/1 - O que ela fazia, seu Zé?
R - Minha mãe?
P/1 - É.
R - Minha mãe era doméstica, mexia com a mesma coisa que nós mesmo. Mexia… ajudava meu pai na roça, fazia comida, levava comida na roça, ajudava na época de… quando terminava ela ia para roça e tirava um tempo ali, ia ajudar a gente a plantar feijão, você pegava… era na enxada, côvado na enxada, não tinha nem coisa, depois que veio matraca, plantadeira na mão, depois que veio, né. Aí já aliviou mais a minha mãe para poder plantar, porque a minha mãe, era o meu pai covando e a minha mãe sambiando o feijão e passando, era uma dança que ia, covando aqui, o feijãozinho caindo dentro da cova e passando o pé e tapando ali, era desse jeito.
P/1 - E o senhor conheceu seus avós por parte de mãe?
R - Por parte de mãe eu conheci. Maria Ferreira de Moura, essa que eu tô falando para você que foi a parteira da minha mãe. O meu avô que eu não conheci, se chamava Tônico, eu não conheci, que é o marido de vovó né, Tônico Alves Campos, esse eu não conheci.
P/1 - E os seus avós já estavam lá naquela época do Santa Rita?
R - Já, já, já. Inclusive essa avó minha, ela morava pertinho da escola onde eu estudava na primeira escola que eu estudei. Lá era de dona Angélica, dona do terreno lá mais o seu Antônio do Carmo, era irmão desse de onde nós morávamos. Nós moramos em três lugares que era de um dono só, de Geraldo do Carmo, depois nós passamos para Levino do Carmo, que era irmão de Geraldo, depois nós ficamos do outro lado do rio um tempo, um ano e pouco lá na fazenda de Celso do Carmo três irmãos, moramos nessas três fazendas.
P/1 - E a sua família trabalhava para essas fazendas?
R - Trabalhava, trabalhava. Era meeiro né, meeiro vocês entendem o que é meeiro? Meeiro, ele pegava e dava para gente o mato, a gente roçava e plantava na meia.
P/1 - E aí uma parte era de vocês?
R - Era uma parte, metade da gente e a outra metade dele. Só que para eles, eles levavam mais lucros, porque a gente tinha que roçar o mato, plantar a semente, limpar, eles só recebiam puro, já puro, o mantimento já puro.
P/1 - Essa parte do trabalho ficava toda por conta de vocês?
R - Tudo por conta da gente.
P/1 - E a família do seu pai, seus avós por parte de pai você chegou a conhecer?
R - O meu avô eu não conheci, chamava-se João Crisóstomo Pereira. Agora a minha avó eu conheci, chamava-se Ana Batista Gomes.
P/1 - E ela também era de lá da comunidade?
R - Não, ela já era… já morava aqui na Barra, eles moravam aqui na Barra, aqui em Benela Abucier.
P/1 - E a família do seu pai era de lá, é isso?
R - É, a família do meu pai era de lá e da minha mãe era de cá.
P/1 - E como é que seu pai chegou lá na comunidade do Santa Rita?
R - Uai, vinha muito para festas aqui na Lagoa né, andava muito em festa, aí se encontraram, acho que se encontraram e ficaram gostando um do outro e casaram, né.
P/1 - Aí foi quando o seu pai foi lá para Santa Rita morar com a sua mãe?
R - É, meu pai foi lá para Santa Rita.
P/1 - E aí começou essa história de trabalho que o senhor está contando, na fazenda?
R - É, é. Essa história de casamento do meu pai é mais velha, eu tô falando o que ele contava para a gente. Agora, isso que eu estava falando da plantação, que a gente plantava… era de meeiro né, aí, mas mesmo assim era bom. Todos os três eram compadre do meu pai, todos os três, todos eram padrinhos dos meninos do meu pai e meu pai era padrinho dos meninos deles, era aquele rolo.
P/1 - E o senhor estava me contando sobre a escola, o senhor começou a me falar. Como era essa época da infância, porque o senhor tinha que trabalhar né?
R - É igual eu falei com vocês, a gente chegava da escola e era só enquanto comia ali e ia diretamente para roça, trabalhava, aí mais tarde a gente chegava e vinha embora para casa, na hora de… só chegava e tomava um banho ali, pegava uma jantinha ali, pegava logo a lamparina, logo para poder… já estava escuro né.
P/1 - E o senhor tinha contado que o senhor estudava no Angélica Pinto, não é isso?
R - Angélica Pinto.
P/1 - Isso, e aí nessa época o senhor tinha quantos anos mais ou menos?
R - Nessa época eu comecei… eu entrei na escola eu já estava com 4 anos e meio, 4 anos e meio, igual…
P/1 - Mas aí era perto de onde o senhor morava?
R - Era sim, era perto, uns dois quilômetros.
P/1 - E isso o senhor ia a pé?
R - Todo… toda escola minha foi de a pé, nunca teve carro não.
P/1 - E o senhor estava me contando que…
R - Descalço, não tinha, não existia calçado. Quando a gente usava um sapato, era precata, chamava precata, precata de couro, precata de couro, de couro de gado, ali quando molhava (risos), era uma pena, quando molhava, ficava molhada, ficava aquele molambo, você ia caminhando, aí a precata ia batendo plaft, plaft, as pernas ficavam todas sujas, sujas de barro, de poeira.
P/1 - E essa época de escola o senhor falou que ia descalço para a escola e quando ia roçar também roçava descalço?
R - Tudo descalço, olha eu falo para você, moagem de cana, tudo era descalço, você caminhava, você ia… de primeiro, você ia pegar o boi para zoza, para botar no engenho para moer, engenho de pau, botar os bois no engenho, você pegava… quando você pegava o chifre do boi, assim, para poder passar a corda para poder botar no engenho, sua mãe endurecia, é tanto que era tão frio que você… os bois levantavam no maiador, tinha vezes que a gente… que o boi levantava, você deitava ele um tiquinho ali de bruços para poder aquecer a caloria do corpo do boi, você aquecia um pouquinho, aí eu estava com o boi que ia andando, assim, esfumando na frente, você ia enfiando o pé dentro da bosta dele, do boi, para poder esquentar as pontas dos dedos de tão gelado que era, tão frio, e era uma dependência feia viu. Essa vida minha, eu estou com 71 anos, mas graças a Deus não me queixo, assim, de coisas, porque saúde eu tenho e trabalho até hoje, nunca fui doente, assim, de adoecer para ficar acamado, assim, muito tempo não, nunca tive não.
P/1 - Então, aí o senhor estudou com a dona Angélica primeiro e depois o senhor contou que veio para cá, para Alagoas, como é que foi essa época?
R - Vim para cá, vim para cá. Foi a mesma coisa, daí se eu te falar assim, a primeira botina que eu pus no pé veio de Pires do Rio, que meu irmão foi… meu irmão mais velho foi para Pires do Rio trabalhar né, que já estavam todos rapazes já, que nós éramos 11 irmãos, aí foi trabalhar e de lá ele falou assim: “Ah, eu vou levar uma botina para fulano”. E trouxe um par de botinas, a primeira botina que eu pus no pé.
P/1 - Mas isso o senhor já tinha quantos anos?
R - João que me deu. Eu tinha uns 9 anos, 9 anos, a primeira botina que eu calcei eu tinha 9 anos.
P/1 - Mas aí não usava a botina em todo lugar?
R - Não, não, a botina, ixi! Você calçava a botina para ir em uma festa ali, quando você chegava, já tirava ela, e já limpava e já deixava limpinha, já punha ela em um cantinho e guardava bem, para quando tivesse outra festa você já ir de botina né, vixe, você andava era olhando para o pé, olhando para o pé e limpando, dava um sujinho você já estava limpando a botina ali para ficar sempre bonita, para poder não danificar a botina.
P/1 - E na escola, então vamos voltar que a gente estava falando da educação, aí o senhor veio para cá, para Alagoas e veio estudar aqui, o Senhor chegou a conhecer a dona Maria Trindade, né?
R - Não, conheci, conheci Maria Trindade, eu conheci, conheci ela.
P/1 - E como ela era?
R - Boa, boa professora. Boa professora e boa diretora, ela foi uma das fundadoras da escola aí, Maria Trindade, ela…
P/1 - E como é que era a escola nessa época?
R - Não, relativamente era boa viu, porque as professoras eram boas, elas eram rígidas, mas elas tinham a razão de serem rígidas, porque muitos meninos pintavam também, mas menino com ela estudava, aprendia, aprendia. Então eu vou falar para você, eu só tenho a 4° série só, tenho o 4° ano só, mas tem muitas coisas que… eu só tenho a quarta série, mas tem muitas coisas que eu não tenho muita inveja de certas pessoas que tem 1° grau, 5° ano completo, eu não tenho inveja não. Tabuada você pode me perguntar de baixo para cima, de cima para baixo, a tabuada né, na conta você pode me perguntar, tabuada você fazia cantada, você pode perguntar a tabuada aí que eu te falo, tanto x tanto.
P/1 - E como foi essa época de escola, seu Zé? Porque eu sei, primeiro, assim, por que surgiu esse nome aí, o José Pecado? Por que te chamam de José Pecado?
R - Foi minha professora que colocou esse apelido em mim, porque eu pintava muito, e aí juntava aquele tanto de menino para bater em mim e eu passava o pé neles todos e derrubava eles, aí falavam, “Zé, Zé pelo amor de Deus! Você é mesmo pecado, pelo amor de Deus não faz isso não!" Aí ficou o apelido, aí os meninos ficaram chamando, Zé Pecado, Zé Pecado! Aí ficou o apelido, mas eu não me importo com isso não.
P/1 - E foi crescendo e continuou com Zé Pecado?
R - Fui crescendo e até hoje, até velho eles me chamam desse nome aí, chamam e eu estou respondendo, não estou nem aí.
P/1 - E tinha merenda na época da escola, seu Zé?
R - Não, não tinha merenda.
P/1 - Como é que era lá?
R - Não tinha merenda não, a merenda só tinha se você levasse, se você levasse né, porque na escola não existia merenda, nunca existiu merenda na escola, na minha infância não existiu merenda não.
P/1 - E quando as crianças precisavam comer como é que faziam?
R - Uai, quando tinha eles comiam, quando não tinha comiam em casa, quando tinha eles merendavam, agora quando não tinha eles iam merendar em casa, chegando em casa que iam comer.
P/1 - E aí o senhor contou então que tinha que estudar e tinha que trabalhar e que quando voltavam para casa…
R - Trabalhar, ajudar meu pai…
P/1 - Aí o senhor tinha até me contado que terminava o trabalho, depois tinha que voltar para casa. Tinha luz elétrica em casa?
R - Não, não existia luz elétrica não, não existia não.
P/1 - E aí como é que era? Como é que fazia?
R - Luz de lamparina, era luz de lamparina ou candeeiro, candeeiro é um negócio que você coloca uma lata de litro, enche de estopa, aí coloca azeite, aí você coloca, coloca e dá o fogo, o candeeiro.
P/1 - E aí quando o senhor fazia a lição de casa, o senhor tinha me contado que…
R - Era na lamparina, luz de lamparina, lamparina ou candeeiro, porque quem tinha candeeiro bem, quem não tinha. Outra hora você pegava aquela cera, cera da abelha sete-portas, uma abelha preta, você tirava o mel dela e tirava aquela cera, e fazia aqueles "paviozão" e metia cera nele, passava cera e você punha dentro de uma cozinha, dentro de uma coisa e ia fazendo e ficando aceso, ali ia queimando parecendo uma vela, ficava mesma cor de uma vela, aí ali ia queimando e dava à luz, a luz nossa, a luz era essa de primeiro.
P/1 - E como é que chegou a luz elétrica lá depois, seu Zé?
R1- Ah, a luz elétrica foi chegar há muito tempo depois, muito tempo depois. Aqui mesmo, quando eu mudei para cá, para Lagoa, quando eu casei, aqui não tinha luz elétrica não.
P/1 - Ah, quando o senhor chegou aqui não tinha luz ainda?
R - Não, não. Aqui as luzes eram lamparinas, aqui não tinha luz elétrica não. Não existia luz elétrica, não existia televisão, a televisão foi de um tempo para cá, não existia não.
P/1 - E nessa época mais antiga o senhor ouvia música, rádio? Tinha alguma coisa assim ou não tinha nada?
R - Não, para você ver, o rádio hoje é… o rádio dia 07 de setembro ele fez 100 anos, 100 anos que foi inventado o rádio, foi ouvido no rádio, você pode escutar, vocês não ver, tá com 100 anos, 07 de setembro fez 200 anos da independência do Brasil, 200 anos né, e 100 anos de rádio, que foi a rádio Comunicação.
P/1 - Mas chegou o rádio logo lá no Santa Rita? Quando foi que chegou?
R - Não, não. Lá não existia rádio não. Muitos anos depois que alguma pessoa comprou um radinho, que a pessoa comprou um radinho, o radinho era até um radinho vermelho, chamava, marca Sempre, a Sempre, eram uns rádios bom pra caramba, era bom demais.
P/1 - Mas isso muito tempo depois?
R - Muito tempo depois, de primeiro só tinha viola, assim, que a gente brincava e tocava, os colegas tocavam viola e a gente ia cantar de noite, oh, e era tão bom assim, a infância foi toda sofrida, mas mesmo assim a gente agradecia, porque não tinha essa coisa de hoje não. Hoje você relativa o que foi passado e antepassado primeiro, no antepassado não existia droga, não existia nada, não existia você falar medo do sujeito andar de noite, hoje a gente não pode andar nem de dia e nem de noite né, porque olha o que está acontecendo, sequestro, droga, latrocínio, de primeiro não existia essa coisa não, pantera!
P/1 - No passado, como eram as coisas? Como é que cores se reuniam?
R - A gente reunia assim, na casa de amigos, se você morava em um lugar longe, assim, a gente saia a noite, o dia que a gente estava de folga e não tinha que trabalhar muito assim, no outro dia, a gente pegava e ia para casa de uns… chamava de vizinho, vizinho um do outro, nós falávamos: "Vamos na casa do vizinho hoje?" "Vamos!" Juntava a turma, os meninos todos de casa e aí ia para a casa dos vizinhos, passeava lá, ficava, ficava até às tantas da noite lá, aí depois vinha embora, passava dias, daqui a pouco um outro vizinho já ia na sua casa, era comunicativo um com o outro, reunião, falando sobre serviço, não existia quase dinheiro, existia sim troca de serviço, entendeu? Eu trabalhava para você nas lavouras, te ajudava a limpar a lavoura sua, aí você pegava e ajudava, reunia e ajudava limpar a minha também, era contribuição, eles falavam: "Vamos trocar serviço? Hoje tem que trocar serviço no fulano, hoje eu vou para fulano, amanhã fulano causa para minha". Era uma troca de serviços, era assim que a vida da gente era, dinheiro, você ganhava algum dinheirinho quando você limpava, que a sua estava toda limpa e a dos vizinhos, todos reunidos, ali tudo limpinho, aí agora você saia para poder ganhar um troquinho, dinheiro dos outros.
P/1 - Aí o senhor tinha falado de música, né? Que a gente falou de reunião por causa da música. E quem tocava? Como é que era?
R - Tinha amigo da gente que tocava um violão, sanfona pé de bode, sanfona pé de bode era cada forró menino, a gente dançava a noite inteirinha, quando era no outro dia, às vezes quando era dia de serviço, a gente ia se descambando de sono e alegre, satisfeito, que farreou, né. A gente ia muito satisfeito no outro dia.
P/1 - E eu fiquei sabendo que aqui na Lagoa tinga as festas da Lagoa, isso já aqui na Lagoa, e que tem o cemitério que é da igreja, como é que era quando acontecia festa, assim, e tinha a igreja, e tinha o cemitério, como é que acontecia?
R - Não, as festas tinham nas igrejas, era na porta da igreja de primeiro, as festas, era festa de São João, Santo Antônio, São da Abadia, de… Santo Antônio, São João, São da Abadia e São Benedito. Tinha a festa na Lapa, aqui do outro lado, que se chama Lapinha, tinha a festa de Nossa Senhora da Lapa, tinha tudo isso, tinha as festas de São Bom Jesus, tinha tudo. Festa de São da Abadia era… as festeiras fizeram essa festa muitos anos, chamava Romana, dona Romana, ela morava até aqui, aqui embaixo, no pé dessa barragem, porque aqui nós estamos todos por baixo da barragem né, morava aqui em cima, “aqui oh”, seu Bernardinho, mais seu Bernardinho Gomes, a festa boa, a festa maravilhosa, depois ela morreu e acabou, acabaram as festas de São da Abadia. Acabou aqui duas tradições que estão acabando aqui, primeiro a caretagem, a caretagem você sabe o que é né?
P/1 - Sei.
R - Caretagem é uma dança folclórica.
P/1 - Que é de São João né?
R - É de São João, São João Batista. Aí tá acabando, porque os mais velhos foram morrendo né, e os mais novos não tomaram a frente, não tomaram a frente, aí foi acabando, está acabando. Está acabando, mas se quiser voltar de novo, volta, porque tem muitos aí, oh, São Domingos, São Sebastião, São Sebastião ainda fazem a festa, de São João ainda até hoje, a dança caretagem aí de São João, a dança do folclore até hoje.
P/1 - A gente vai voltar nessa parte da comunidade, porque a gente vai falar bastante sobre ela, deixa só a gente fechar essa parte da infância que a gente estava conversando. Nessa época da infância, as pessoas se reuniam para contar histórias? Ou o senhor ouvia histórias? Como é que era?
R - Reunia muito e tinha muitas histórias. Reunia muitas histórias, contavam casos, ixi, ainda tem uma coisa, era tão rígido dessas coisas, quando… se eu… se o meu pai tivesse conversando com o seu pai, a gente não podia passar perto, só passava o olho na gente, assim só, a gente não podia estar presenciando conversa do, “Ah você está presenciando conversa dos mais velhos!” Não podia, não podia não, era rígido desse jeito, você não podia presenciar conversa dos mais velhos não. Hoje eu falo com você, hoje, às vezes, muitas coisas… os meus não, os meus graças a Deus nunca foram desse jeito, mas você está falando, “Ah, fulano. Mentira sua!” Um filho desmentir um pai, hoje eu vejo aí oh, por isso que eu estou falando com você que hoje a dificuldade está pior é por isso, né?
P/1 - E que histórias o povo contava? O senhor falou de casos, mas por exemplo, o que era?
R - Era muita história, era lenda, muita coisa de lenda, né.
P/1 - Lenda do que?
R - Lenda de negócio de onça, desses negócios assim, de assombração. O negócio era assim, as histórias eram essas.
P/1 - Tinha umas histórias de assombração, assim, para falar?
R - Ah, tinha história de assombração, mas é, muitas vezes a pessoa via um ramo e falava que era um…. se eu te falar um acontecido aqui, quando eu morava aqui no Santa Rita, no Pinheiros, já mudei para Pinheiros, quando eu era rapaz eu já estava morando aqui em Pinheiros. Tinha um tatu que cavaleiro corria dele, aí vou contar só um pouquinho da história que… mas era real mesmo, mas só que o cavaleiro corria dele, sabe porque que, inclusive, depois que eu matei o tatu, acabou cavalo correr com o outro e se derrapar com outro. O tatu era tão velho, que ele saía arrastando o casco no chão, assim, craaac, e o cavalo assombrava, até derrubar gente, derrubava. Com medo, o cavalo assombrado partia com a pessoa, isso era real mesmo, depois eu matei o Tatu e acabou, acabou, mas acabou o negócio de cavalo arrancar com os outros lá na curva, sabe? Acabou.
P/1 - Porque era o tatu que estava fazendo…
R - Era o tatu que fazia, vinha arrastando o casco no chão e o cavalo raspava de banda, saía, partia correndo. A história é essa aí.
P/1 - Mas essas histórias de assombração, contavam para vocês quando vocês eram crianças?
R - Não, assombração contavam, contavam e a gente escutava os velhos conversar, mas ninguém tinha medo disso não.
P/1 - O senhor não tinha medo disso?
R - Eu não, não! Nunca tive medo. E se eu falar para você, eu já vi coisa, não vou esconder de você não, eu já vi coisa. Porque eu quando namorava com ela aqui oh, já vi assim, luz, entendeu? De luz ascender, dá aquela tochona de luz, e o povo fala que é folclore né, fogo folclore, mas dá aquela tochona de luz assim, iluminando, iluminando assim, andando, aquela tochona andando, andando, chegava no pé do pau ela sumia, e eu ficava olhando, aí acompanhava. Quando chegava no pé, eu ia lá no pé do pau, olhava, arrodeava, arrodeava tudo e não via nada. Quando você enxergava à distância, à distância… aqui dentro tem um lugar chamado Tanque Seco, de lá desse Tanque Seco eu olhava a luz lá, vinha vindo no rumo do rio. O povo falava, não sei, eles falavam que era ouro enterrado, não sei, depois que esse… teve um homem que fez um buracão lá, acabou, acho que ele arrancou foi o ouro que estava lá né, esse Joaquim, Joaquim Buraqueiro, arrancou o ouro que estava ali, inclusive, até hoje ainda tem o buraco, a forma do buraco onde ele arrancou. Ele fez um buracão fundo e arrancou o ouro de lá, acabou, acabou essa tocha de luz.
P/1 - Mas o senhor chegou a ver essa tocha?
R - Eu vi, eu vi com os meus próprios olhos, vi, arrodeei, até hoje ainda tem o pau lá, o pé de angico e o pé de baru, tá até hoje. Quem quiser ver o seu Zé… nunca foi cortado, está lá até hoje no local onde sumia essa luz.
P/1 - E o senhor viu….
R - E tá lá o buraco até hoje, ainda tem a certidão do buraco até hoje.
P/1 - E o senhor não ficou com medo disso?
R - Não, eu nunca tive medo, nunca tive medo, nunca tive medo de nada. Eu vou falar para você, agora a gente não pode dizer isso mais, mas de primeiro, quando a gente… eu caçava, eu caçava de primeiro, bom, se eu tivesse em cima… a onça podia urrar que eu ia embora tranquilo, mesma coisa, nunca tive medo de bicho nenhum, nem nada, tive medo não.
P/1 - Mas o senhor caçava os bichos?
R - De primeiro eu já cacei, já cacei demais, hoje não, mas eu já cacei, já fiz muita coisa com os bichos.
P/1 - Que bichos que o senhor caçava, seu Zé?
R - Ah, piá, tatu, onça, capivara, paca, tudo. Já cacei demais isso, hoje não pode, a gente não pode mais, porque a lei mudou né.
P/1 - Mas o senhor ia sozinho nessa época?
R - Sozinho, com companheiro, não tinha esse negócio não.
P/1 - E na época da juventude, como é que eram as coisas, seu Zé? Porque aí o senhor estava na Santa Rita ainda, estava no Pinheiro, onde estava?
R - Não, da minha juventude, de rapazinho já, eu mudei para cá, para o Pinheiro, chama Pinheiro o lugar onde nós moramos aqui. Eu mudei para cá eu já estava com 12, com 12 anos quando eu mudei para cá, para o Pinheiro, daí para cá a vivência foi a mesma coisa, não mudou nada.
P/1 - Lá também é roça?
R - É roça a mesma coisa, trabalha a mesma coisa, não teve mudança nenhuma. Até hoje não tem mudança e eu faço até hoje, faço isso até hoje.
P/1 - Quando o senhor mudou para o Pinheiro, o senhor mudou com a família toda? Com seus pais, sua mãe e seus irmãos?
R - Meu pai, minha mãe e meus irmãos, nós mudamos.
P/1 - O senhor tem quantos irmãos, seu Zé?
R - Nós éramos 11 irmãos, mas oh, os meus irmãos, tudo morreu com conta de 7. A minha irmã mais velha chamava-se Hilda, morreu com 7 anos, o outro era gêmeo com o João, era João e Joaquim, morreu com 7 dias de nascido, o outro, Osmar morreu com 57 anos, João morreu com 57 anos, tudo com conta de 7, para você ver que coisa. Valdemar, Valdemar morreu com… Valdemar era o caçula, Valdemar era o caçula, morreu com 37 anos.
P/1 - Tem alguma coisa com esse número 7?
R - Não sei se é o 7, agora não sei eu né, que eu estou com 71, não sei se eu vou morrer com 77, se é 87, se é 97, se é 107 (risos), sei que mais de 100 anos, mais coisas eu não vou passar não.
P/1 - E seus irmãos que estão vivos, eles estão onde agora, seu Zé?
R - Oh, meus irmãos tem 3 em Brasília e as outras duas moram aqui.
P/1 - Moram aqui na Lagoa mesmo?
R - Uma mora no Cunha, igual essa menina que você falou que chama Elisa.
P/1 - Ah, a dona Elisa.
R - É, ela é minha irmã, e tem a minha irmã que mora aqui, que é a Silvia, mora aqui no São Sebastião. Agora eu só tenho um irmão homem, só tenho o Dilson, um irmão só, homem, o resto todo morreu.
P/1 - Aí o senhor estava contando que veio para o Pinheiro e quando chegou aqui a vida era parecida com a vida do Santa Rita…
R - Mesma coisa, lavoura a mesma coisa, mexer com roça a mesma coisa. Não teve alternativa de outra coisa não.
P/1 - Mas aí o senhor foi ficando mais moço, e aí o que ficou fazendo?
R - Aí depois que eu fiquei mais velho, o que diferenciou, que aí eu fiquei mais velho, que eu peguei mais idade, aí eu fui para o exército, aí eu fiquei no exército 1 ano, fiquei no exército. Daí do exército, eu vim embora, tirei o tempo do exército.
P/1 - 0 senhor serviu em Paracatu mesmo?
R - Não, o exército eu servi lá no 8° grupo, lá perto do Cruzeiro em Brasília, no 8° grupo, no Grac. Aí terminou o tempo lá, passou, eles queriam que eu engajasse, mas eu não quis, não quis ficar. De lá eu vim embora, entrei… aí eu vim aqui e entrei na PM, na PM eu fiquei 3 anos e 6 meses, aí dei… da PM fiquei 3 anos e 6 meses, dei baixa por causa de muitas coisas que estavam acontecendo, eu tinha mais um cabo e nós não nos dávamos certo, porque ele… porque a gente era negro e ele era claro, aí ele queria abusar da gente, sabe? Abusar da gente, e outra coisa, ele ficou coisa comigo, porque ele… eu dei baixa por isso, porque ele me devia uma banda de capada de porco e eu cobrava dele e ele não pagava, e ele queria me pagar era com briga. Aí eu pedi baixa, eu pedi baixa 5 vezes, por isso que eu saí da polícia.
P/1 - Mas quando o senhor entrou, o senhor queria ser militar? Queria ser…
R - Não, quando eu estava, quando eu saí, quando eu dei baixa da PM eu estava fazendo curso para cabo, eu já ia ser promovida, aí, mas eu falei que para poder prejudicar os outros eu não… porque se ele quisesse dar um tiro em mim, eu tinha que dar um tiro nele primeiro, então não vou, vou dar baixa, não vou fazer isso não.
P/1 - Mas o trabalho, o senhor gostava do trabalho?
R - Até era bom, porque o comandante era bom pra gente, né. Tinha muita coisa comigo, sabe? O nome era capitão Levi, Levi das Chagas dos Reis, ele era o capitão, foi o primeiro capitão aqui, o do 15° aqui, DPM aqui em Paracatu.
P/1 - E nessas épocas o que vocês… como é que vocês serviam? O que acontecia em Paracatu para precisar de um PM aqui?
R - Oh, precisava porque, daí de uns certos tempos para cá começou as malandragens né, já começou malandragem, era roubo, era roubo de casa né, saqueamento de casa, era… já começou droga, já começou droga, você ver, em 70, em 76… 76 já descobriram plantação de droga lá, em Monai, plantação de droga do outro lado do Rio Preto, plantação de droga já. Aí já veio, já começou droga, já começou as desavenças todas, né.
P/1 - O senhor chegou a ver essa plantação?
R - Cheguei, fui eu que descobri, eu que descobri a plantação. Cara, eu ia… na hora do dia de folga, dia de folga a gente sempre ia dar uma pescadinha assim de anzol naquelas beiradas, todo dia esse cara descia de canoa, chegava à canoa, ele nadava, deixava a canoa de um lado e nadava para o outro lado, aí ele ia lá, um dia nós fomos pajear ele, falávamos, “O que esse cara toda vez, ele passa aqui e larga a canoa aqui”. Aí vem ele lá, com o galão na mão, a gente é curioso e na ativa né, aí fui olhar, atravessei o rio para o outro lado e fui olhar. Segui ele, a plantação de maconha no meio da mata, aí descobrimos, eu descobri.
P/1 - Mas aí o senhor foi e já deu auto para ele na hora? Como é que fez?
R - Não, não, não. Falei com ele nada, falei com ele nada, só comuniquei o capitão, daí o capitão arrumou uma equipe e aí foi acompanhando, foi pesquisar direito e aí pegou ele, ele e mais três com plantação de drogas, daí para cá ficou esse tempo.
P/1 - Entendi, daí o senhor começou a falar que começaram a acontecer alguns crimes que não aconteciam no passado…
R - Não tinha não, tinha não. Estupro, muitas coisas vulneráveis né…
P/1 - Mas dessa época para cá, nessa época que o senhor já era PM, já estava começando a acontecer?
R - Já estava começando, já estava começando. Dessa época para cá.
P/1 - E aí depois o senhor saiu então da PM, e o que foi fazer depois?
R - Uai, trabalhar mesma coisa que eu trabalhava, exercer a mesma coisa que eu fazia.
P/1 - O senhor voltou para a roça?
R - Voltei para a roça. Inclusive aqui para você ver, esse lotezinho que eu tenho, esse lote com essa casinha foi tudo tirado das mãos aqui oh, tudo tirado dos braços, tudo tirado dos braços, milho, arroz, feijão, tudo tirado da lavoura, tudo tirado dos braços.
P/1 - E nessa época o senhor já estava nessa casa, seu Zé?
R - Não, não, não.
P/1 - Tá, e como é que foi para o senhor chegar nessa casa? O que aconteceu?
R - Eu comprei essa casa aqui, comprei essa casa não, essa casa fui eu que fiz depois, tinha uma casinha aí no fundo, uma casinha de adobo, adobo e telha comum, aí fui trabalhando, trabalhando e aí comprei isso aqui né, aí depois que eu fiz a casa aqui, mas o mais é só de roça, só de roça. Eu tinha dia, aqui… a minha primeira… perdi o primeiro filho, mas eu morava lá no Cunha, perdi o primeiro filho em 78, porque quando… eu não tenho esse negócio de contar quando eu casei, a mulher minha estava esperando menino já, já antecipei né, já estava esperando filho já, aí casei em… eu casei em 78, quando eu casei, ela já estava esperando filho já, mas infelizmente ele não ficou, morreu. Aí depois veio a segunda, hoje ela é até professora, Roseli. A mulher tinha dia que tinha (...), fazendo comida para eu poder levar para companheiro na roça, ia na roça com aquele barrigão, eles todos estudavam, vinha da… trabalhava aí na escola aqui de merendeira, trabalhou 34 anos, ela.
P/1 - A sua esposa?
R - É, 34 anos aqui na escola Maria Trindade, aqui oh, ela trabalhou 34 anos aí, na verdade ela trabalhou 24 anos aqui e 10 anos em Paracatu.
P/1 - Qual o nome da sua esposa, seu Zé?
R - Rosalina Silva Campos.
P/1 - Aí o senhor estava contando então, aí veio a segunda filha, e depois?
R - Minha segunda filha, ela é do dia 27 de março de 80, Roseli, 27 de março de 80. Aí eu comprei, eu comprei isso aqui em 80, em 81 eu mudei para cá. Aí mudei para a casa velha, que eu estou falando para vocês, era casinha velha, mas era bom, a luz de lamparina e tudo, mas era bom demais. Aí fui trabalhando, trabalhando, fiz um “ganhozinho” e fui fazendo essa casa, simples casa aqui, mas é digna, é dos meus braços, dos braços meus e da minha mulher, né.
P/1 - E sempre trabalhou na roça que você contou?
R - Sempre trabalhando e trabalho até hoje, até hoje.
P/1 - O senhor estava contando que mesmo agora com mais de 70 anos…
R - Mesmo agora, eu estou com 71 anos e faço qualquer atividade na roça.
P/1 - Porque hoje o senhor é aposentado, né?
R - Sou aposentado, mas trabalho para complementar a aposentadoria, porque só a aposentadoria não dá, não dá. Porque oh, relativamente, você vai pagar… aqui nós não pagamos água, é que nós moramos aqui, mas é isento de água, nós não pagamos água aqui não, mas aqui oh, a luz vem cara, vem remédio né, a mulher tem problema de hipertensão, porque ela tem problema de diabetes, tem problema de… o remédio tem que ter diário, diário, não pode faltar né, então para você comprar os remédios de todos os dias, não dá para você comer bem, bem mais ou menos, porque você tem que complementar, se você não complementar aquilo, o dinheiro seu não dá, não dá.
P/1 - É verdade seu Zé. Deixa eu voltar então para a época do casamento, como é que o senhor conheceu a dona Rosalina então? Como é que aconteceu isso aí?
R - Oh, rapaz. Eu a conheci, desde ela pequenininha, desde ela pequenininha. Eu conhecia a mãe dela, muito a mãe dela e ela quase não conheceu a mãe dela, e eu conheci a mãe dela.
P/1 - A dona Rosalina é um pouco mais nova que o senhor?
R - Ela está com 64 anos.
P/1 - E ela é daqui da região?
R - Ela é da região aqui.
P/1 - Então fala, aí o senhor a conhecia desde criança….
R - Conhecia desde pequena, desde pequena. Nas roças, morava aqui para o fundo, para o lado do Val, para baixo aqui oh, ela morava para esse rumo, mas só que a gente andava mais o meu pai de garupa de cavalo, andava, então a gente conheceu né, e ela parece que deve ter ficado gostando, assim, de mim né, porque nós fomos… casamos né, aí nós estamos vivendo a 44 anos até hoje, deve ter gostado, né?
P/1 - E como foi esse casamento? Você lembra como aconteceu? Como é que vocês arranjaram as coisas? Como é que foi?
R - Ela foi criada com o pai, porque… a vida dela também foi sofrida demais, sofrida demais, porque ela tinha madrasta, mas a madrasta dela deixava… até esconder as coisas para ver ela passar fome, ela escondia, pegava as coisas e pendurava em cima das “coisas” para poder deixar ela passar fome, ixi, judiava muito com ela, a madrasta dela. Inclusive a madrasta dela foi embora e ela ficou só com o pai, foi criada com o pai dela, Manoel Pereira, Manoel Pereira da Silva era o nome do pai dela. E a mãe dela, que ela conheceu, mas conheceu pouco, a mãe dela chamava-se Conceição, chamava-se Conceição Ferreira Gomes, mãe dela.
P/1 - E aí quando vocês casaram o senhor tinha quantos anos? Ela tinha quantos anos?
R - Eu casei com 25 anos, que casei.
P/1 - E aí como é que vocês arranjaram esse casamento? Que era isso que o senhor estava me contando.
R - Não, o casamento é igual eu estou te falando, ela me viu gostou e nós ficamos gostando um do outro e casou, né.
P/1 - Não, mas assim, para organizar a festa, onde casou?
R - Nós casamos na igreja, nos casamos lá na igreja… nos casamos no cartório primeiro, fizemos o casamento civil, depois passado uns… já tinha meus meninos tudo, tinha 5 filhos, 6 filhos né, já tinha tudo, aí eu casei na igreja do Santa Rita, esses casamentos autônomos que tinha a rumo, aqueles que casam um tanto de gente de uma vez. Aí o casamento na igreja eu casei no Santa Rita, lá na igreja lá no Santa Cruz, na igreja de Santa Rita.
P/1 - Aí o senhor já até tinha filhos nessa época?
R - Já tinha meus filhos todos já, já tinha todo mundo, casei já tinha os filhos já. De casamento de padre mesmo, já tinha os filhos todos.
P/1 - E o senhor e a sua família frequentavam a igreja, não frequentavam? Como é que era?
R - Frequentava, frequentar a gente frequentava.
P/1 - Aonde?
R - Aqui mesmo, a gente frequentava aqui, frequentava…. agora quando era aqui na igreja aqui, que nós morávamos no Santa Rita, ixi, nós cansávamos de vir aqui, chamava a novena, novena das festas, a gente vinha diretamente na igreja aqui, ficava aqui até tantas da noite, nas festas aí de noite.
P/1 - Nessa igreja de cá?
R - Nessa igreja aqui, a igreja de Santo Antônio.
P/1 - É, que tem o cemitério da igreja.
R - Na rua São Tomé.
P/1 - E não dava medo do cemitério da igreja, não?
R - Não, não, dá medo não.
P/1 - Porque o pessoal falou que às vezes até tinha festa aqui, que o povo ficava…
R - É, festa lá. O povo saía pulando sepultura para lá, não tinha nada disso não.
P/1 - Sério? Então me conta essa história, como é que é isso?
R - Não, não tinha disso não. Eu mesmo, vou te contar o que aconteceu, comigo aconteceu, não foi nem uma, nem duas vezes. Eu vinha para a igreja aqui nas festas, porque às vezes a gente pegava e dormia, ia para dentro daquela sacristia, pegava e dormia, o povo ia embora e você ficava, quantas e quantas vezes eu saía daqui meia noitão, aqui oh, e ia embora lá para o Santa Rita de a pé, esquecia, depois saía e as pessoas, “Cadê fulano?” “Esqueci de ir a cavalo mais fulano” Porque chegava lá e cadê eu? E era meia noite vinha embora a pé e nunca tive medo, por isso que eu falo para você, nunca, medo não existiu para mim não.
P/1 - Não, e o senhor falou que quando tinha festa o povo até pulava de sepultura em sepultura.
R - Até hoje, hoje você vai enterrar um corpo lá e o povo anda por cima de sepultura, não tem esse negócio disso não. Hoje não, esse cemitério de primeiro, ele era fechado só de arame, só um circulado de arame, hoje é fechado de muro, mas muro baixinho, não tem nada não.
P/1 - Então vamos falar um pouco da comunidade, seu Zé, que eu falei que a gente ia voltar nesse pedaço aqui. Das comunidades, chegaram a te contar como é que é a história, como é que ela se formou? O que te contaram?
R - A comunidade há muitos anos atrás, igual eu falei com você, tinha, isso aí é uma lenda né, se é lenda ou se é verídico. De primeiro, por que aqui se chama Lagoa de Santo Antônio? Porque na Lapa lá, na Lapa de Santo Antônio, eles pegavam o santo, que eles chamavam, chamam de Santo Antônio e trazia aqui para a Lagoa, e não demorava dias, ele voltava, isso é…
P/1 - Traziam a imagem?
R - É, a imagem para cá, no outro dia você podia ver, ele voltava para trás, para a Lapa, por isso que aqui chama-se Lagoa de Santo Antônio. E a igreja, a igreja aqui, a frente da igreja era virada para lá, aí eles pegaram e viraram a igreja para cá, eles vieram a igreja para cá, até no ano que eu nasci né, em 53… não, 3 anos depois que eu nasci, que eu sou de 51, a igreja foi virada a frente para cá em 53, então ele pegou, não parava na igreja e ia embora, Santo Antônio, você entendeu?
P/1 - E tinha a Lagoa?
R - Agora o que estou falando é causo, eu não vi, não sei se é verídico, eu tô contando o que os antepassados falavam com a gente né, contavam pra gente. Inclusive tinha pessoas muito mais velhas, meu pai mesmo falava para mim, “Não, Zé. É certo mesmo! Santo Antônio, trazia ele para cá…” É que meu pai morreu com 100 anos né, “Santo Antônio, trazia ele para cá e ele voltava e ia embora de novo, saía da igreja e ia embora de novo, no outro dia dizem que tinha o rastro da “precatinha” dele, que ia embora para a Lapa de novo”. Foi tanto que foi indo, foi indo, foi indo, ele desceu numa pedra na boca da Lapa, ninguém mais entrou lá.
P/1 - A imagem ficou lá?
R - Ficou lá, ninguém mais entrou na Lapa, na Lapa, lá. E essa Lapa, entrava de cá, de uma ponta e saía na outra lá. Até… Você já passou por aqui? Não tem a Barreira?
P/1 - Uhum.
R - Você já… de lá para cá, de Barreira para cá, do lado esquerdo, vindo de lá para cá, não tem um paredão de pedra, logo assim, onde tem uma cancela? Ali tem uma Lapa, aí eles fizeram lá uma festa, depois fizeram muitas festas lá. Depois pararam de fazer a festa lá.
P/1 - Festa de Santo Antônio?
R - Não, a festa era para Nossa Senhora da Lapa, já mudou o tom da coisa, era Nossa Senhora da Lapa.
P/1 - Entendi, a imagem de Santo Antônio ficou lá…
R - Ficou lá.
P/1 - E nunca mais mexeram? Não tentaram tirar a pedra?
R - Nunca, nunca mais.
P/1 - Mas a comunidade aqui, nasceu logo depois disso? E aí batizaram de Santo Antônio?
R - Não, essa comunidade aqui, se eu te falar para você, aqui é mais velho do que Paracatu. Os primeiros habitantes, os primeiros habitantes de Paracatu foi daqui, por isso que se fala que Paracatu está em 200 e poucos anos, mas aqui é mais velho do que Paracatu.
P/1 - Por que aqui tem história mais antiga, ainda?
R - Tem história mais antiga e aqui os primeiros habitantes de Paracatu, foram nascidos daqui, foram saindo daqui, né.
P/1 - E antigamente tinha a lagoa aqui? O senhor chegou a ver a lagoa?
R - Tinha uma lagoa, depois ela secou. Inclusive ficava na frente da igreja, porque a igreja era virada, ela ficava na frente da igreja, lá no fundo, até hoje quando chovia muito, ainda juntava água lá ainda.
P/1 - Secou naturalmente essa lagoa?
R - Secou, secou naturalmente. Até hoje ela ainda junta um pouco de água, quando chove muito ela empoça um pouco de água ainda, mas tinha a lagoa, acho que se chama Lagoa por causa disso.
P/1 - E quais eram os costumes que vocês tinham na comunidade antigamente? Então o senhor começou a contar que tinham algumas festas, tinham as festas de santo, de Santo Antônio, de São João, como é que vocês faziam para se reunir, para fazer a comida, como que era?
R - Os festeiros… os festeiros eram… cada festeiro, eram 12 feriados de Santo Antônio, 12,13 dias de festas né, Santo Antônio eram 12 dias de festas, São João eram 9. De primeiro era um festeiro, fazia a festa 9 dias sozinho, hoje não, hoje mudou, hoje já é grupo, todo mundo de primeiro… os festeiros arcavam com a despesa de 12 dias… 9 dias de festa e todo dia, sozinho, tinha mais doações né, tinha leilão, que os amigos levavam o pessoal da comunidade para poder fazer os leilões né, para poder vender as prendas da igreja. Tinha as cartas, como diz? O pessoal fala… devoto né, os devotos da igreja pagavam uma "mensalidadezinha", assim, é o tanto que a pessoa pudesse dar, a festa era feita com isso.
P/1 - E na hora de fazer as comidas, como é que fazia?
R - Todo mundo fazia, ali juntava o pessoal da casa ali, todo mundo, juntava os amigos todos e faziam a comida e era comida mesmo, muita comida, comida boa, gostosa.
P/1 - E o que tinha de comer lá?
R - Ixi rapaz, tinha tudo, tinha tudo!
P/1 - Por exemplo?
R - Ah, tinha tudo, tinha tudo o quanto você pensar de doce, todo o tipo de doce tinha, de primeiro. Doce, biscoito, brevidade, teta, bolachinha, nossa senhora, pão de queijo, tinha tudo, tudo, tudo! A comida, comida de primeira, quando tinha festa… quando era a festa, primeiro tinha a janta, no dia mesmo do término da festa, tinha janta, janta de tudo quanto é coisa de comida, tudo quanto é coisa de comida tinha e tudo era de graça. Agora, hoje não. Hoje você vai, você tem que levar a farofa para você vender, para tirar a renda, farofa, esses negócios de biscoito, pão de queijo, tudo você tem que botar no leilão, tudo é vendido. Primeiro não, de primeiro era tudo doado, de primeiro não tinha esse negócio de vender não.
P/1 - E quem vinha nas festas, seu Zé?
R - Todo mundo, a comunidade todinha, vinha gente de longe, de longe para as festas.
P/1 - De longe, assim, de outras comunidades?
R - De outras comunidades, todo mundo vinha ver. Vinha de Maie, Paracatu, vinha de todos os lugares, chegava gente no dia da festa mesmo, chegava gente de tudo quanto é canto, de tudo quanto é lugar chegava. Biscoito, a gente fala biscoito né, outros falam que tanto é biscoito, era servido não era no prato não, era servido na peneira, aquelas peneironas, assim oh, põe na peneira e o pessoal ia passando assim, era servido na peneira, era com fartura mesmo, não era com miséria não, com fartura.
P/1 - E tinha música nessa época?
R - Não.
P/1 - Aí não, aí não tocava música?
R - Não, tinha não.
P/1 - Mas tinha festa, assim, que durava esses dias todos?
R - Tinha, a festa durava todos os dias. Só tinha festa de dança mesmo, no último dia, no último dia tinha festa, tinha festa, tinha briga, tinha tudo (risos).
P/1 - Mas o que é que acontecia?
R - Uns bebiam, bebiam umas cachaças e ficavam mais nervoso do que o outro, tinha briga, tinha tudo, mas a briga corria bem.
P/1 - E fisicamente, como é que a comunidade era antes? Porque agora eu sei que ela está grande, que eu vim visitar, ela está uma comunidade grande, tem bastante casa, como é que ela era antigamente?
R - Antigamente a comunidade aqui… casa aqui eram poucas, não tinha muita casa não, eram poucas casas. Depois que ela foi crescendo né, assim, mais casas, os filhos foram crescendo, aí não tinha muita casa aqui não. Aqui se eu falar com você mesmo, relativamente, quando era comunidade mesmo, a mais velha mesmo, não tinha umas 30 casas, podia ter umas 30 casas só, porque era tudo rodeado de fazenda né, não tinha crescimento. Agora que eles foram tirando um pedaço, eles foram vendendo que foi crescendo a comunidade.
P/1 - E como é que essas famílias aí, que não dava 30, como é que elas se relacionavam? Como é que era a relação?
R - Não, se relacionavam bem, mesma coisa, mesma coisa. Não tinha, não tinha muito assim, não tinha muitas desavenças um com o outro, todo mundo era unido, todo mundo ficava… um ia na casa do outro, igual eu falei com você, passear na casa dos outros, era desse jeito.
P/1 - Então vamos fazer uma comparação, como é que era a comunidade antes, como é que é a comunidade hoje? O que acontece de diferente? O que o senhor vê de diferente?
R - Oh, o que eu vejo de diferente hoje mais é a união, a união do povo tá muito pouca, você entendeu? Tá muito pouca a união do povo, porque quando… igual tem essa associação aqui, já teve vezes de fazer, marcar uma reunião e ir pouquinha gente, pouquinha gente. Outra coisa, das festas também, você faz a festa, você vai fazer uma procissão, procissão das festas dos Santos, que até hoje fazem a festa ainda, o povo ao invés de procurar ir nas festas, na procissão e tal, ficam todos nas portas dos botecos, bebendo, outros nas portas de casa olhando, é falta de união, única coisa que eu falo que é falta de união das pessoas.
P/1 - Aí o senhor comentou que a associação começou a se reunir, como é que ela começou?
R - Agora ela vai voltando, ela vai voltando aos pouquinhos, pouquinhos ela vai tendo. Agora mesmo, teve uma reunião esses tempos, agora, até eu fui na reunião, até eu gostei da reunião, teve até bastante gente, bastante gente, estava cheio.
P/1 - E como é que começou essa associação? Antigamente tinha associação? Alguma, ou o senhor não lembra?
R - Oh, começou a associação aqui… quando começou essa associação, começou com um tio meu chamado Geraldo Alves Campos, aí eles… Geraldo, Barroso, o nome dele não é Barroso, é Edemar Benedito né, é meu primo, aí eles começaram, João Evangelista, começou essa associação né, aí partiram a associação. Aí depois uns foram entregando, passando para os outros a associação. Até hoje eu falo para você, até hoje é membro da associação, eu tenho um filho que ele faz parte da associação, ele é presidente hoje, da associação, filho meu mais novo.
P/1 - Da associação da Lagoa?
R - É, da associação. Vamos ver se vai adiante, se vai avante, se Deus ajudar que for avante o projeto, ao menos a ideia dele, o projeto dele não é ruim não.
P/1 - O que é que a associação está reivindicando hoje?
R - A reivindicação de hoje, que a associação precisa mais é da comunidade, da RPM aqui oh, ter mais o bom senso de doar mais as coisas, porque ela precisa daqui, ela precisa daqui, ela faz parte daqui, se nós precisamos… eu não falo não, eu hoje já trabalhei nela na verdade, mas se nós precisamos dela, ela que mais precisa de nós, porque eles estão tirando o que era do cidadão de Paracatu, do pessoal cidadão. Aqui tá ficando… não fica uma metade de um terço, tem que olhar mais a comunidade. Igual nós moramos aqui, essa comunidade que mora aqui, nós estamos aqui debaixo de um… o povo fala que é debaixo de um perigo, mas eu não tenho medo da barragem, eu não tenho medo, mas ao mesmo tempo você tem que ter. Porque igual aconteceu lá em Mariana, esse pessoal lá no Córrego do Feijão né, o que aconteceu lá? Falta de estrutura, né. Agora eu não tenho medo, muito medo da barragem né, não tenho não.
P/1 - Mas como é que era a comunidade antes disso, porque a RM que o senhor está falando chegou depois?
R - Chegou depois, isso aí que eu quero chegar. Oh, a comunidade, que de primeiro era a do Garimpo de Caixotinho, você pegava um caixotinho, ah, um caixote pequeno, você ia na praia, chamava praia do Santo Antônio aqui, quando era de tarde, tinha vez que nem de tarde você via o gado, você levava de caixotinho outra hora de bateia, você chegava no outro dia você já via, porque não existia fome nessa parte, você extraia o ouro aqui oh, ia lá vendia, trocava o ouro lá, aí você já vinha com as comprinhas todinhas, qualquer menino de primeiro, tirava o ourinho dele, vendia, você procurava um menino de 10, 11 anos aí, ele estava com dinheirinho no bolso dele, tirado de trabalho né, de trabalho, por isso que eu falo para você que o trabalho não mata, por isso, porque se fosse assim todo mundo tinha morrido, né.
P/1 - O senhor chegou a garimpar também, seu Zé?
R - Garimpei, garimpei.
P/1 - E achava o ouro mesmo, na época?
R - Depois de velho, garimpei. Oh, se eu te falar, eu furei uma cata, ela dava um metro e meio por 2 metros de comprimento, eu furei ela em um dia, de cedo até 11h eu furei, não deu para eu lavar, porque a água subiu, não dava para bater a água né, aí no outro dia eu fui lavar, no outro dia eu lavei ela, bati a água no balde, jogando a água fora, depois que ficou uma, eu peguei o cascalhinho e botei no caixotinho e lavei, deu 11 gramas de ouro, pra você ver que com um dia de serviço deu 11 gramas de ouro. Agora se eu falar para você, o ouro ele dá de comer, mas o ouro ele não é abençoado não, eu falo para você que ele não é abençoado, porque assim, enquanto você está trabalhando no garimpo e tirando o ouro ali, você está mantendo, mas você parou, juntou um dinheirinho, parece que o dinheiro evapora, some, o ouro parece que ele não é bem-vindo não.
P/1 - E aí o que é que aconteceu depois? Porque o senhor está contando essas histórias do garimpo, então o povo garimpava, e depois o que aconteceu?
R - Aconteceu que o garimpo fechou, o garimpo fechou e ninguém mais pode garimpar né. Em 88, 88 ou 98, acho que foi em 88 que o garimpo fechou, ninguém mais pode garimpar.
P/1 - Era proibido, é isso?
R - Era, eles falaram que era proibido, que dava poluição nas águas e tudo, e aí, onde está a poluição? Eu te falo.
P/1 - Mas a barragem veio depois dessa época?
R - Pois é, veio depois na verdade, mas por exemplo, mas não está extraindo o ouro, não está poluindo a água. Quem é hoje que pode beber uma água dessa aí, dessa prainha? Que hoje ela escoa um pouco, mas quem é que pode beber água? Você tem confiança de beber uma água da praia, ali? Que é com mercúrio? Não tem, né?
P/1 - E depois quando começou a construir a barragem, como é que se mobilizou a comunidade? O que aconteceu?
R - Oh rapaz, a comunidade não pode fazer nada né, porque essa é uma firma multinacional né, não pode fazer nada, teve que ficar calada.
P/1 - Mas vocês viram, fazendo a barragem?
R - Vimos, eu fazendo… eu falo com você uma coisa, eu mesmo trabalhei no início dela, eu trabalhei nela. A primeira firma que começou a fazer essa barragem aí, se chamava Tercam, a Tercam, a primeira firma que entrou para fazer a barragem aí se chamava Tercam.
P/1 - E o senhor começou a trabalhar lá?
R - Eu trabalhei nela, não vou falar para você… por isso que eu falo com você que eu não tenho muito medo, não tenho muito medo não, da barragem, porque se as outras firmas fizeram porco eu não sei, mas a estrutura dela foi bem feita, bem compactada.
P/1 - O senhor viu fazendo?
R - Vi fazendo, tem piezômetros, tem os filtros verticais, tem os filtros horizontais, tem tudo. Nessa parte aí de segurança, eles falam que é segura e eu não discordo deles não, eles falam que é seguro aqui, tem alguma rachadura assim, é só por cima, quando a água… só uma rachadurinha pouca. Eles vêm direto, direto eles estão dando manutenção, mas como diz o ditado né, “O que o homem faz, Deus desmancha”. Né, porque não é falar que foi feito pela mão do homem não, que para Deus nada é impossível, né. Se for um… se Deus ver, que se for de acontecer, acontece.
P/1 - Porque tem mais de uma barragem aqui, né?
R - Tem mais uma, tem a Barragem do Eustáquio né, que é lá da Bandeirinha, lá se chama Eustáquio né, Barragem do Eustáquio. Então eles fizeram essa aqui, mas não estava comportando o rejeito, aí eles fizeram a outra de lá, a outra de lá, o rejeito de cá está caindo na de lá também, a barragem do… agora a de lá, eu falo para você, a de lá ela é mais perigosa, porque ela tem bastante água, agora essa aqui não, essa aqui é a metade dela é seca, você entendeu? A metade dela é seca.
P/1 - Mas o senhor conhece a outra também? Foi lá?
R - Conheço a outra lá, não trabalhei na outra não, mas já fui lá fazer visita, conheço, a de lá eu conheço.
P/1 - E nunca deu problema nas barragens? Nunca teve nenhum problema?
R - Não, não. Só teve um surto aqui um dia, que o alarme de coisas deles disparou, menino, rapaz do céu! Esse trem teve uma polêmica rapaz, foi gente correndo para todo canto, porque é aqui né, bem encostado, você já vê uma sirene aqui, uma altona, essa sirene disparou menino, o pessoal… pra você ver o que eu estava fazendo, eu estava colhendo milho, colhendo não, eu estava ensacando milho lá na vazante, lá embaixo, que é de uns primos meus, porque eu ganho milho para colher na meia, estava colhendo. Na hora que deu esse disparo de barragem aqui, eu ainda tinha 20 sacos de milho para poder acabar de colocar nos sacos, para poder vir embora para casa, cheguei aqui estava um tumulto de gente, não tinha gente, a mulher minha….
P/1 - Mas o senhor chegou a ouvir essa sirene?
R - Nossa senhora, sô! Faltou arrebentar o ouvido da gente, faltou arrebentar o ouvido. Avisando que a gente tinha que correr, que a barragem estava rompendo, que estava rompendo não sei o que tem, e do carro passar lá, em cima da crista da barragem, deu aquele poeirão né, eles não tinham aguado lá, e deu aquele poeirão, aí o povo acreditou que estava arrebentando mesmo, que tinha subido aquele poeirão. Eu cheguei aqui, a mulher minha estava aqui, estava a mulher com uma netinha minha, aqui, eu falei: “Meu Deus do céu!”. E as filhas, minhas netas correndo, gritando: “Vó, vamos embora! Vó, vamos correr!”. E vovó: “Não, vou correr não. não vai arrebentar não, que barragem arrebentar menina, você tá com medo?”. Disparo, alarme falso. Mas esse trem deu uma polêmica para eles, que até hoje ainda tem reunião de vez em quando por causa disso aí.
P/1 - Por que no final não era nada?
R - Não, não era nada. Só o susto mesmo. O alarme disparou, não sei o que eles foram mexer lá no equipamento deles lá e o alarme disparou e soou a sirene toda, toda, tanto faz aqui como da Santa Rita, tudo soou a sirene.
P/1 - E como é que ficou a família do senhor, seu Zé? O povo ficou assustado, mas e aí?
R - Não, a minha mulher ficou assustada, mas não ficou muito não, porque cheguei aqui, ela estava aqui. Aí o que eu fiz, acabei de ensacar os milhos, estava gritando, gritando a sirene, acabei de ensacar os milhos, peguei o milho e empilhei, coloquei uns paus, coloquei um plástico por cima, tampei, joguei uns paus por cima do milho e vim embora. Quando eu cheguei lá no Cunha, tinha gente por tudo quanto é lado, teve até batida de carro, aqui teve até batida de carro correndo com medo. O pessoal lá de Santa Rita veio correndo de lá para cá, bateram, teve batida de carro, teve menino que sumiu, teve menino que sumiu e ficou três dias sumido para o mato, e menino novo, uns três dias sumido para o mato com medo, né. Então isso aí causou essa polêmica danada.
P/1 - E aí tem a associação né, como o senhor estava falando. Como é que vocês conversam sobre esses assuntos na associação? Como é que é?
R - A associação o dia que faz a reunião né, cada um, o que quiser falar, pode falar.
P/1 - Dessas coisas que aconteceram da barragem? E quando chega para falar isso na associação, como é que vocês se reúnem, como que fala?
R - Não, a gente… tem o presidente da associação, eles fazem a palestra né, faz a palestra lá e depois eles dão pra gente a oportunidade, a palavra aberta né, entendeu? Pra quem quiser, tiver alguma coisa para reivindicar, a pessoa pode falar na hora, é aberto, entendeu?
P/1 - E o povo fala? O que o povo fala?
R - Muitos falam, outros não falam, acho que por motivo de ficar com vergonha né, de se pronunciar e não falam.
P/1 - E o que eles falam? Chegam em um acordo? Como é que faz?
R - Não, muitas vezes tem coisa que você vai reivindicar e muitos não aceitam. Igual eu mesmo um dia, eu fui reivindicar uma coisa, agora vocês pensam se a minha ideia era ruim, aqui, a associação… porque aqui nós temos… nós não pagamos água, igual eu falei com vocês, nós não pagamos água, o que eu falei, reivindiquei na associação foi isso, cada um da casa tirasse 10 ou 20 reais por mês, não era todo mundo da casa não, você entendeu? É uma pessoa da casa, tirasse 10 ou 20 reais por mês, todo mundo da casa, que aqui, agora deve ter mais de 300 ou 400 casas, agora, para poder o dia que a bomba queimasse, você ter dinheiro em caixa, eu reivindiquei isso. Aí quando eu reivindiquei isso teve muita gente que não achou bom não, não achou bom não, agora eu pergunto para você, você está me fazendo uma entrevista, eu estava errado?
P/1 - Mas porque falaram que não era para fazer?
R - Eu não sei porque era, porque não tem ninguém tão fraco desse jeito, porque isso não é uma quantia alta, é 10, 20 reais por mês. Eu falei com o pessoal, vocês não podem dar 10 reais, ou 20 reais por todo mês uma pessoa de cada casa, por mês? Para poder a hora que a bomba nossa queimar aqui, ter o dinheiro em caixa para colocar a bomba? Mas beber rodada de cerveja o bonitinho tem né, falei, “É isso aí”. A única coisa que eu respondi foi isso.
P/1 - Essa bomba está aí há quanto tempo, seu Zé?
R - Teve uma bomba aqui que ela durou foi 10 anos, sem dar problema nenhum, sem dar problema nenhum, depois veio um problema, dar algum problema, fica a trocação de bomba direto. Aí igual eu estava falando com você né, agora você pensa bem, tem aí uma bomba que ficou 10 anos sem dar problema, você, 10 meu, 10 reais meu, 20 reais meu, que tirasse e botasse em um caixa ali, ia ter que ter um tesoureiro para tomar conta daquela verba, quando precisasse tinha, não precisava ficar aí 2, 3 dias sem água, a gente regrando, regrando a água para poder não ficar sem, né. Agora você pensa se minha ideia era ruim.
P/1 - Mas às vezes dá essas divergências mesmo?
R - Aí dá divergência, porque tem gente que não aceitou não, eu peguei, fui lá e calei, porque quem cala, vence né. Uma coisa que era bom para a comunidade, que não faltava verba, porque se uma bomba queimasse hoje tinha o dinheiro para comprar no outro dia né, estava errado?
P/1 - Seu Zé, então eu vou pedir para o senhor falar da caretada que a gente estava conversando sobre isso, o senhor começou a comentar sobre isso e depois a gente soube que o senhor dançava também, né?
R - Eu dancei dois anos, dois anos eu dancei, caretagem.
P/1 - Essa caretagem é daqui da Lagoa?
R - Era daqui da Lagoa. Eu vou te contar, se tivesse… eu acho que ainda… você… pede para Donato passar o vídeo para vocês, Donato é o Vereador daqui, pede para ele… eu acho que ele tem o vídeo da dança folclórica, a dança da caretagem.
P/1 - E o senhor estava nessa dança também? Ou não?
R - Eu não sei se nessa eu estava, mas que tem o vídeo, tem, da caretagem.
P/1 - Conta para mim como é a caretagem, porque tem gente que não sabe. Explica pra gente.
R - A caretagem é homem vestido de mulher, eu me visto de mulher e você se veste de homem, é dança de… o folclore é de homem e mulher, mas só que é assim, é homem com homem, mas só que é um vestido de mulher e o outro vestido de homem, entendeu?
P/1 - Vocês fazem uma representação?
R - É representação, mas assim, você se veste de mulher, vestido mesmo, põe sutiã, põe tudo, faz aquela… a dança é boa demais, dança demais. Aí são 9 dias de caretagem, 9 dias de ensaio. Primeiro tem os ensaios antes, bem antes, para poder treinar os dançantes novatos, que às vezes entravam, os dançantes novatos tinham que fazer o ensaio primeiro, ensaiavam dias, no dia que começava a novena de São João, começavam o ensaio, entendeu? Para no dia, está todo mundo apto a dançar a caretagem sem erro, sem errar, era dança que você… é a mesma coisa… você já viu quadrilha?
P/1 - Já.
R - Então é a mesma, a dança da caretagem é a mesma coisa da quadrilha, a mesma quadrilha. Só que a caretagem, elas tem um certo tipo de dança, que é a dança de umbigada né, a dança de umbigada na quadrilha não tem, mas tem mudança de par, cavalheiro na frente, damas atrás, que é a dança de quadrilha né, cavalheiro na frente e damas atrás, é vem chuva, é mentira né, isso aí eu estou falando de quadrilha, não é de caretagem, é a mesma coisa, mesma dança, a dança de quadrilha tem o alinhavo né, o alinhavo você pega sua mão aqui, já pega na mão do outro, a de cá, aí você fica que nem uma coisa assim, alinhavando, alinhavo, chama alinhavo. Tem a dança igual eu falei para você, a dança de umbigada, tem a dança de… tem o chula…
P/1 - Essa eu não sei.
R - Chula é essa que eu tô falando com você.
P/1 - Ah, de…
R - É, e tem tanta, tanta coisa, tanto tipo de dança.
P/1 - E as roupas, como fazia?
R - Roupa são todas bordadas, tudo de cor. Uma comparação, essa calça aqui, eu pego e boto aquela mulambeira nela, eu costuro, corto, tiro aquelas tiras todas, tira de pano e vou pregando, vou pregando nela aqui, camisa faço aqueles enfeites todinhos, você já deve ter visto a dança do nordeste, já viu?
P/1 - Já.
R - Aqui você amarra polaque nas pernas, assim, aí você sai, dandandan na dança ali que é um… tudo é batendo o polaque. Tem a sanfona, tem a até a cantiga assim, “São João que bem soubesse quando era o vosso dia, descia do céu à terra com prazer e alegria, São João tem grande gosto e também grande pesar de não saber o seu dia para ele festejar, oh, oh, oh, eh, eh, eh, tomei conta da bandeira, derradeiro capitão, tomei conta da bandeira derradeiro capitão”. Essa é a cantiga das caretagens.
P/1 - Bonito, seu José. Muito bonito!
R - Acabou né?
P/1 - E agora não tem mais, seu José?
R - Não, não está tendo mais a caretagem, não tá tendo mais.
P/1 - E por que acabou? O que aconteceu?
R - Oh, rapaz. Acabou porque os… igual eu falei com você, os mais velhos foram morrendo né, então os novos, os mais novatos não seguiram, não seguiram, né. Mas até hoje, se quiser levantar a caretagem aqui, ainda tem muita gente que ainda sabe, ainda sabe levantar, eu não posso levantar, porque eu não dançava nas guias, mas as danças e as contradanças eu sei tudo, eu sei tudo as danças e contradanças, eu sei tudo, sei como é que começa, sei como é que… tudo, mas só que eu não tenho estrutura mais para fazer isso mais não, né. Inclusive agora no ano passado mesmo, nós perdemos um que dançava na guia, seu Zé dos Santos, Zé dos Santos morreu com 100 anos, ele morreu com 100 anos, foi ano passado agora que ele morreu, 100 anos, Zé dos Santos. Tinha nos mais velhos, o Zé dos Santos, Nego de Camilo, Camilo era um dos fundadores, que era pai do Nego Camilo, foi um dos fundadores aqui da caretagem, seu João Laureano, esses povos antigos, da idade do meu pai para lá, essa dança aqui é muito antiga, muito antiga, essa dança de caretagem vem dos antepassados, faz muitos anos, muitos e muitos anos. Essa dança de caretagem aqui, ela deve ter mais ou menos uns 200 anos ou mais, porque a dança aqui na Lapa é mais velha do que Paracatu.
P/1 - E o senhor falou né, está contando agora que ela é bem antiga, quando o senhor começou a dançar caretagem, ela já existia?
R - Já, há muitos anos.
P/1 - Mas já existia aqui em Paracatu?
R - Já existia há muitos anos aqui, em Paracatu, São Domingos, São Sebastião, já existia, quando eu comecei a dançar já existia, já existia. Porque você vê, eu dancei eu já tinha casado, quando eu dancei a caretagem aqui eu já tinha casado.
P/1 - Mas isso antes, já existia há muito tempo?
R - Já existia há muitos anos atrás, já existia. Então o que eu estou falando com você, que eu era menino, eu vinha em festa aqui, que eu dormia na igreja e ia embora, que eu falei com você, já existia a caretagem há muitos anos.
P/1 - E nessa época ela já era antiga?
R - Já, já era antiga.
P/1 - Seu Zé, então eu vou para as últimas perguntas agora, para a gente finalizar. Uma pergunta que a gente sempre faz, que é assim. O que o senhor gostaria de deixar como legado? O que o senhor deixaria? Se o senhor pudesse escolher alguma coisa que o senhor deixaria para a humanidade, o que o senhor deixaria seu?
R - Eu gostaria de deixar só as boas amizades que eu tive com os outros, que eu tive, graças a Deus eu tive muitos amigos, uns já se foram, mas nós éramos muito, muito amigos. E pedir a Deus que abençoe as pessoas, para esses que tem… que estão no mundo, no mundo da droga, que largassem isso, abandonassem isso, que isso não faz bem para ninguém, é uma coisa que não deixa bem para ninguém. Eu gostaria de deixar isso.
P/1 - E como foi contar a sua história de vida, seu Zé?
R - Você fala de agora? A minha vida?
P/1 - É, isso.
R - Não, relativamente a minha vida não está ruim não, ela está boa, como pobre, igual eu estou falando para você, trabalho até hoje, mas eu trabalho porque eu gosto de trabalhar e outra coisa que eu falei, para complementar o salário, porque eu sou aposentado, mas só que sou aposentado com um salário mínimo. Agora se eu te falar que eu sou aposentado com um salário mínimo, por sacanagem do INSS, isso eu falo com você, então eu falei com o advogado esses tempos atrás, eu fui ajudar…. porque eu ajudei muita gente daqui a se aposentar, já ajudei muita gente, fui testemunha de muita gente para aposentar, aqui oh. E vou te contar, chegava lá no capa preta, tinha vezes que só precisava do meu testemunho só, mas ninguém, não precisava de outro testemunho.
P/1 - O senhor se aposentou como agricultor? É isso, ou não?
R - Não, eu aposentei com o salário mínimo como produtor, foi como roceiro, porque tempo de contribuição eu tinha, tempo de contribuição eu tinha. Eu tinha 35 anos de… uns 35 anos ou mais de contribuição com o INSS, se vocês quiserem ver, eu tenho minhas carteiras, eu tenho duas carteiras, posso mostrar, vocês podem fazer a contagem, que já até passava, você entendeu? Porque vocês podem olhar, podem fazer a contagem que passava, mas o INSS me passou para trás, porque era para eu me aposentar com o salário que eu ganhava. Que na época que eu trabalhava, e trabalhava com calcário aqui, eu tirava era uns 2 mil e pouco por mês, me aposentei com um salário mínimo, que agora está em, R$ 1.210,00, por isso aí eu que falo com você, que eu tenho que trabalhar para poder complementar, porque com R$ 1210,00 eu não sobrevivo, não se vive bem com uma família não, porque graças a Deus eu não gosto de deixar minha família passar privações, você entendeu? E antigamente nos antepassados meus… eu falo para você que eu não gosto de deixar, porque meu pai, meu pai adoeceu, eu zelei, eu tratei do meu pai um ano, ele sem poder trabalhar e eu trabalhando e dando a manutenção em casa, ajudando ele na manutenção em casa. Minha mãe morreu nos meus braços, tai a minha esposa, pode perguntar pra ela. Quando nos casamos, ela falou com a minha mulher, assim oh, “Rosa, devo a Deus os dias de vida meus, quero viver com vocês”. Então ela morreu nos meus braços, ela morreu no dia 13 de março de 89, morreu nos meus braços, eu já morava nisso aqui, no quartinho ali.
P/1 - O que ela teve, seu Zé?
R - Minha mãe o problema era o seguinte, ela teve problema de… ela levou em uma ocasião, ela levou uma queda, uma queda de cavalo, caiu de cavalo e nisso esse negócio, não fez o tratamento de acordo, nisso ela deu câncer no ovário, você entendeu? Ela morreu aqui, com câncer no ovário, deu problema, deu um tumor por dentro e aí isso virou câncer, câncer de ovário.
P/1 - Mas aí o senhor já morava nessa casa, quando ela faleceu?
R - Já, ela morou comigo foi muito tempo, ficou comigo muito tempo. E eu sabia, que estava falando com você, eu ficava em Brasília, eu levava ela para Brasília para fazer tratamento, nessa época eu era solteiro. Aí depois nos casamos, aí passado um espaço de tempo, aí ela foi ficar comigo, meu pai ficou com a minha irmã, que ela não estava aguentando olhar meu pai mais né, com problema e ela veio morar comigo, ficou comigo muito tempo, é tanto que esse pecado eu não levo a Deus, porque maltratar a minha mãe, nunca! Sempre eu tratei dela, eu e minha mulher, ixi nossa senhora! A minha mulher até hoje reclama, “Ah, Zé. Sua mãe podia estar aí até hoje”. Você quer ver, acho que ainda tem aqui dentro, acho que ainda tenho um retratinho dela aqui ainda, até hoje, em algum lugar desse aqui, deixa ver se ainda está aqui, ou se está em outro lugar, mas acho que tá aqui.
P/1 - Depois o senhor me mostra, seu Zé. Porque aí eu vou até aproveitar e colocar a imagem dela no acervo.
R - É pequenininha, é ¾. Essa aqui que é minha mãe, oh.
P/1 - Essa da esquerda?
R - O outro sou eu.
P/1 - Novinho, na esquerda. Oh, está comigo a foto que depois a gente vai colocar no acervo tá? Eu já te devolvo, seu Zé. Então a gente vai finalizar a entrevista aqui, a gente continua conversando, mas eu agradeço que o senhor tenha dado entrevista para a gente, foi muito importante ouvir a sua história, seu Zé. Muito obrigado!
R - Olha, a gente conta o que sabe né, porque se você fazer uma coisa, você tem que fazer bem feito, não pode fazer coisa errada, não.
P/1 - Fez bem feito.
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