P/1 – Boa tarde, Meire.
R – Boa tarde.
P/1 – Meire, pra gente começar, qual o seu nome completo?
R – É Luzimeire Damasceno Cavalcanti.
P/1 – Onde você nasceu?
R – Eu nasci em Lábrea, mas fui registrada em Manaus.
P/1 – E qual foi a data?
R – Vinte e seis de agosto de 74.
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P/1 – Boa tarde, Meire.
R – Boa tarde.
P/1 – Meire, pra gente começar, qual o seu nome completo?
R – É Luzimeire Damasceno Cavalcanti.
P/1 – Onde você nasceu?
R – Eu nasci em Lábrea, mas fui registrada em Manaus.
P/1 – E qual foi a data?
R –
Vinte e seis de agosto de 74.
P/1 – E o nome dos seus pais, Meire?
R – Airão Moraes Cavalcanti e Maria José Damasceno Cavalcanti.
P/1 – Eles eram do município que você nasceu?
R – Minha mãe é de Lábrea e o meu pai, esqueci agora o município.
P/1 – Mas o Estado?
R – Amazonas também. Carauari
P/1 – O que eles faziam?
R – Minha mãe era dona de casa e o meu pai era motorista fluvial.
P/1 – Lá do município ou ele tava sempre em trânsito?
R – Pois é, pra conhecer minha mamãe ele vivia viajando, então, numa dessas viagens ele foi pra Lábrea e lá ele conheceu ela.
P/1 – Ah. E como eram seus pais?
R – Bom, como são meus pais? São pessoas normais.
P/1 – A personalidade do seu pai.
R – A personalidade do meu pai é uma personalidade forte, ele é meio autoritário. Já minha mãe é calma, tranquila, basicamente isso.
P/1 – Você falou que tinha uma ascendência do Ceará.
R – Pois é, os meus avós. Um deles é do Ceará, que é a Terezinha Lopes Damasceno, minha avó. Inclusive eu também cheguei a fazer uma entrevista com ela porque ela tem 86 anos, também querendo resgatar um pouco da minha história.
P/1 – Da sua família?
R – É, da família, como foi pra eles a trajetória de vida. E ela é uma comerciante, na verdade são famílias de comerciantes em Lábrea. No caso da minha avó eles trabalharam logo no início, no período da borracha mesmo, mas mais recente.
P/1 – Já depois da Segunda Guerra Mundial?
R – Na década de 50, 60.
P/1 – E ela é sua avó por parte de mãe ou de pai?
R – Por parte de mãe.
P/1 – E a família do seu pai sempre foi daqui do Estado?
R – De Carauari. Na verdade uma família bem longa. Meu avô deixou a minha avó quando eles eram pequenos e ela teve que criar os filhos com bastante dificuldade na época. Ainda bem que meu pai fez um curso, não sei toda história, mas ele fez esse curso pela Marinha e conseguiu ser condutor fluvial, teve uma carreira, mas com muita dificuldade também.
P/1 – E Meire, você tem irmãos?
R – Tenho dois.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos?
R – Adriana Damasceno Cavalcanti, a irmã do meio. E o mais novo é Airão Damasceno Cavalcanti.
P/1 – Você é a primogênita?
R – Exatamente.
P/1 – E como foi a infância de vocês lá em Lábrea?
R – Na verdade não foi em Lábrea. Eu nasci em Lábrea, mas acabei morando aqui em Manaus.
P/1 – Você veio com qual idade?
R – Eu cheguei aqui com cinco anos. Fiquei lá esse período. É uma infância muito boa lá na época, como aqui também. Eu não tenho do que reclamar da minha infância porque foi uma infância muito... Brincamos na rua. Eu sempre morei aqui nesse local, praticamente a minha vida toda. E meu pai, apesar de poucos recursos, sempre tentou dar pra gente o que podia. Eu sempre falo isso, aqui era um parque de diversões porque nós tínhamos balanço, nós tínhamos escorregador. Ele mesmo fazia pra gente. Como nós éramos em três e nós tínhamos os coleguinhas ao redor. Só pra vocês terem uma ideia, ele fazia as panelinhas de latinha, frigideira, porque a gente queria fazer tudo de verdade e não de brincadeira. Então tenho boas recordações da minha infância.
P/1 – E por que vocês mudaram pra Manaus?
R – Porque ele morava em Manaus e ela morava lá, então facilitou. E mesmo porque aqui em Manaus é capital, as pessoas estão em busca de vir mesmo pra capital. Foi por essa razão que eles vieram.
P/1 – E você lembra quando você mudou definitivamente pra Manaus? Você era pequena.
R – Não. Não lembro, não me recordo. Mas em Lábrea, na época, eu brincava na rua com o meu tio que era da minha idade, a gente brincava e tal. Eu lembro que a gente ia pro barranco que tinha em Lábrea, que é a orla, antigamente, via os barcos por ali. Eu tenho ainda essas imagens, apesar de nunca mais ter voltado à Lábrea. Tive vontade alguma época, mas depois não tive mais porque, bom, quem sabe volto novamente.
P/2 – Era que rio?
R – O rio? É da própria frente de Lábrea, não sei bem o nome do rio... ah, era o rio Purus.
P/1 – E Meire, como foi a escola?
R – É, eu fiz o meu prezinho lá, na época que eu tinha cinco anos, eu fiz o meu pequeno pré lá e depois vim pra cá pra Manaus. Estudei aqui mesmo na escola aqui do bairro, na Escola Municipal Santo Agostinho, praticamente fiz o meu ensino fundamental todo nessa escola. E o meu ensino médio eu fiz no Marechal Hermes, aqui mesmo no bairro, mas um pouquinho mais afastado. E o meu superior na Faculdade Nilton Lins.
P/1 – E você tem lembranças da época quando você estava no ensino fundamental?
R – Eu tenho lembrança dos professores. Tenho também lembrança de levando os meus irmãos porque nós íamos em três. A minha irmã lembra perfeitamente do primeiro dia do meu irmão, porque pra ele ficar lá foi um xororô terrível, e a gente tava presente. Mas eu lembro muito das fotos que a gente tirava com a bandeira do Brasil atrás. Lembro daquelas fotos, da marcha, que sempre tinha as marchas. Do Hino Nacional, Hino da Bandeira que nessa época a gente aprendia no ensino fundamental. E dos amigos, alguns amigos de infância também, que a gente tinha na escola. E alguns professores também, que inclusive de vez me quando ainda vejo por aqui.
P/1 – Ah, é? Qual o nome desses que você ainda vê?
R – Só sei o primeiro nome. Sandra, Balbina, que foram minhas professoras no primário.
P/1 – Essas professoras te marcaram?
R – Acho que sim.
P/1 – E como foi a adolescência aqui?
R – Minha adolescência? Eu nunca fui uma menina muito, sempre fui calma, tranquila. Minha mãe fala que nós fomos bons filhos, então, não foi muito turbulenta a nossa vida de adolescente.
P/1 – Mas você saía, ia pra festas? Como que era a sua convivência social?
R – Eu sempre ia pra escola, vinha pra casa, ia pra igreja, ia pra casa dos primos, dos familiares, mas não gostava muito de festa, de balada, eu era um pouco mais calma, não gostava muito.
P/1 – Meire, você sempre foi adventista?
R – Desde quando eu me firmei mesmo por gente eu frequentei a Adventista, mas dei uma parada depois de grande. Mas se alguém me pergunta ‘qual é a tua religião?’, eu sempre digo que é Adventista.
P/1 – A sua família é Adventista também?
R – Minha mãe é Adventista, meu pai é desviado. Por algum período ele saiu, por conta das viagens que ele tinha e tudo o mais, então ele acabou saindo.
P/1 – Meire, você falou que você estudou e depois fez um curso superior. Qual foi o curso e por que você optou por esse curso?
R – Bem, para eu entrar eu não sabia qual curso tomar, que direção ir. Na época eu trabalhava num escritório de advocacia e estava querendo entrar na faculdade. E as pessoas diziam: “O curso de Turismo é um curso novo, nós estamos na região amazônia, tem tudo a ver com o Turismo e é um curso que tende a expandir no mercado”. Foi por essa situação que eu realmente fiz o curso.
P/1 – E você gostou?
R – O curso é um curso apaixonante porque é um curso que você descobre um pouco da história da sua cidade, da sua cultura, resgata um pouco isso. É um curso bem apaixonante, tem várias outras disciplinas que te remete a essa questão de resgate da cultura. O ecoturismo que eu me apaixonei, tive uma professora que pra mim é uma referência aqui até hoje. Muito de tudo o que eu faço hoje é referência a essa questão do ecoturismo, do resgate dela. Porque ela é uma professora muito apaixonante.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Arminda Mendonça. Muito apaixonada pelo que faz. E alguns dos pilares do ecoturismo, eu até fico um pouco emocionada quando eu falo. E eu consegui resgatar algumas raízes dessa sementinha pra jogar aqui na Arte Nativa de alguma forma e está aí.
P/1 – E Meire, como você começa trabalhar? Você falou que você trabalhou num escritório de advocacia. Foi seu primeiro emprego?
R – Não. Meu primeiro emprego foi na La Baguette, foi um restaurante que eu adorei trabalhar, eu tenho boas recordações de lá. Eu era atendente de lanchonete.
P/1 – Você tinha quantos anos?
R – Já tinha, mais ou menos, uns 22. Isso foi em 96.
P/1 – Você já tinha terminado o ensino médio?
R – Já tinha terminado o ensino médio.
P/1 – E depois lá do La Baguette você foi...
R – Aí depois eu fui pro escritório, um escritório jurídico. Na verdade, num período eu trabalhava nos dois lugares. Porque lá era uma lanchonete bem tradicional, você encontrava muitas pessoas importantes de Manaus. A gente sempre fazia amizade com o bom atendimento, eles viam essa questão de um bom atendimento, então a gente realmente fazia o que o cliente queria. Foi lá que eu consegui fazer algumas amizades e, dentre essas amizades, eu encontrei dois trabalhos com pessoas muito legais que me deram oportunidade. Eu trabalhava num período na La Baguette, no outro período no escritório jurídico de uma advogada, era Sobrera o sobrenome. Eu só fiquei seis meses, mas foi muito importante pra minha vida de aprendizado. E depois fui prum outro escritório jurídico, onde eu saí do La Baguette e fui pra esse escritório, que é de uma pessoa bem importante atualmente no nosso estado. De lá, aí eu fiz a faculdade de Turismo e depois essa professora que eu falei, Arminda Mendonça, entrou na Secretaria de Cultura e me puxou pra lá, me tirando lá do escritório.
P/1 – Você fez o que lá na Secretaria de Cultura?
R – Lá eu trabalhei como turismóloga, fui técnica de Turismo.
P/1 – Você já tinha terminado a faculdade?
R – Tinha.
P/2 – O que você fazia no escritório de advocacia?
R – Eu trabalhava como secretária. Organizava as agendas, as pessoas que iam lá, as agendas pessoais também, fazia um pouquinho de cada coisa naquele escritório.
P/1 – Aí na Secretaria de Turismo você estava lá como turismóloga, mas você estava ali como um agente público.
R – Exatamente.
P/1 – E qual era o seu trabalho lá?
R – Lá a gente visitava as comunidades e desenvolvia alguns projetos também. Basicamente, na verdade era isso, ia muito em comunidades. Então, essas comunidades do rio Cuieiras, a gente chegou a ver se tinha potencial turístico nelas. E foi daí que eu fui entrando em contato com o turismo em si. A gente fazia a inventariação da oferta turística nessas comunidades e dava apoio pra eles. E eu adorava fazer esse trabalho que tinha tudo a ver com a minha graduação.
P/1 – Era secretaria municipal?
R – Secretaria municipal.
P/1 – Então você visitava as comunidades daqui de Manaus.
R – E ao redor.
P/1 – Então você viajava.
R – Viajava pras comunidades.
P/1 – E qual foi a diferença de você ter feito a faculdade, ter feito Turismo, e ter entrado num universo mais concreto?
R – Eu achei muito interessante, mas como meu primeiro emprego a gente vai amadurecendo. Na verdade, quando a gente já está como técnica é exigido uma questão de um profissionalismo mesmo. E eu fiquei cinco anos lá, na época saiu o prefeito e, como éramos cargos comissionados, nós saímos e depois eu voltei, na administração do sucessor, mas logo depois saí. Foi aí que eu pensei em retomar, eu mesma, montando alguma coisa, algum negócio próprio. Porque eu imaginei assim, que às vezes eu adorava fazer o meu serviço lá, gostava muito assim, mas se você não é concursado, você fica à mercê deles e a qualquer momento você pode sair. Eu passei por essa situação e me senti muito frustrada nesse sentido, de sair, depois saiu o meu esposo junto, a gente ficou meio que a ver navios a princípio. Foi então que a gente pensou em desenvolver alguma coisa que a gente pudesse não ser empregado, tipo assim, e ter um empreendimento próprio.
P/1 – Qual é o período que você ficou na prefeitura, sua primeira experiência?
R – Foi de 2004 a 2008, foram quatro anos, aí voltei em 2009.
P/1 – E Meire, voltando um pouco, você falou do seu esposo. Como que você o conheceu?
R – Pois é, eu o conheci na própria fundação municipal. Ele era restaurador lá.
P/1 – Foi amor à primeira vista?
R – Não, não foi amor à primeira vista (risos).
P/1 – Como aconteceu isso?
R – Foi como amigos. Foi acontecendo e, de repente (risos).
P/1 – Foi o primeiro namorado?
R – Não, não foi o primeiro namorado (risos). Mas tive poucos namorados. Tive um namorado, o meu primeiro namorado, são pequenos namoros, foi até um primo meu. Depois foi um colega de escola chamado Paulinho, uma pessoa muito legal, até hoje eu tenho boas recordações dele, foi muito legal mesmo. E depois fui muito sonhadora, muito sonhadora, ficava assistindo filmes de romance, imaginando mil coisas. E depois eu descobri que, na verdade, o mundo é totalmente diferente daquilo que a gente imagina. E depois tive outros namorados até chegar o Francisco.
P/1 – Qual o nome completo dele?
R – Francisco Raimundo Gomes Oliveira.
P/1 – E Meire, como começou a ideia desse empreendimento? Você já falou dessa experiência de participar de serviço público, esfera municipal, cargo comissionado, essa instabilidade. Mas como você começou a perceber a concretização dessa sua vontade de construir um empreendimento?
P/1 – Pois é, quando nós saímos a gente imaginou fazer algo que a gente pudesse tentar vender mesmo, então, como ele já pintava. Porque tudo partiu mais dele, como eu tava falando pra Aldaci. Porque assim, eu acho que eu não sou artista na verdade, quem é o artista é ele. Ele que me inspirou essa paixão pro lado do artesanato, nessa parte da questão. Ele pintava. Como ele fala, ele faz várias coisas. Ele diz que ele é pintor, é cantor, é restaurador (risos), ele é um monte de coisa. E eu, tipo assim, não sabia fazer nada com as mãos de concreto, não tinha essa habilidade com as mãos. E na época trabalhando lá na Manaustur eu tinha umas amigas que eram artistas, que nesse meio a gente encontra as artistas, e eu ficava apaixonada por eles porque sabiam criar coisas maravilhosas com as mãos, bonitas. Eu tenho uma amiga minha chamada Paula Andrade, que é também uma mulher surpreendente, faz mil e uma coisas, teatro, sobe lá no anfiteatro da Ponta Negra pra fazer ornamentação. Uma moça de 50 anos, imagina só! E cria bonecos. Na verdade, uma artista. Então, conhecendo essas pessoas, estando próxima a essas pessoas, meu esposo também pintando, veio essa questão mesmo de pegar esse gancho um pouco artístico. Mas assim, eu não me considero uma artista. Nesse sentido a gente imaginou: “O que poderíamos fazer?”. E a gente viu que na época, olhamos a questão do mercado, o que se falava na época, o que estava sendo discutido na televisão. E a gente viu que naquela época estava falando muito na questão da substituição das sacolas plásticas. E aí a gente teve a ideia de fazer sacolas ecologicamente corretas pegando essa questão do trabalho da juta e tentando também resgatar um pouco da valorização da cultura. Porque a juta que nós trabalhamos é plantada aqui mesmo na região e aí a gente tenta resgatar isso porque é uma cadeia de produção.
P/1 – Vocês compram dos produtores daqui?
R – Nós compramos da fábrica porque a fábrica pega essa juta dos agricultores e hoje nós temos a Brasil Juta que é daqui, ela foi recém-inaugurada e ela compra, ela faz o beneficiamento aqui mesmo. A gente pega essa matéria prima e já utiliza nos nossos produtos. Então, essa questão mesmo das sacolas.
P/1 – Foi o primeiro produto de vocês? As sacolas?
R – O primeiro produto. Veio a questão da sustentabilidade, então, por isso que eu falo da questão da gestão porque a gente tentou resgatar um pouco da questão mesmo de preservar o meio ambiente, tentei resgatar um pouco da minha especialização.
P/1 – Você fez uma especialização em Gestão Ambiental.
R – Isso.
P/1 – Você decidiu optar por fazer essa especialização porque você já estava ali empreendendo?
R – Não, eu fiz antes de empreender. Na verdade, porque o turismo vê muito essa questão mesmo da sustentabilidade, do meio ambiente. Como eu tava na Manaustur trabalhando com as comunidades, imaginei expandir o leque de opção e aí eu fiz o curso de gestão ambiental.
P/1 – Meire, só para eu entender, Manaustur é o quê?
R – Fundação Municipal de Cultura. Hoje não é Manaustur é Manauscult, Fundação Municipal de Cultura e Turismo.
P/1 – E vocês começaram o empreendimento de vocês em que ano?
R –Nós formalizamos em 2010, então dois anos antes de 2010, em 2008 a gente começou a atividade.
P/1 – E vocês começaram com as sacolas.
R – É. A princípio a intenção era fazer sacolas pra supermercados
mercadinhos etc. Mas a gente percebeu que existia uma grande dificuldade nessa questão das sacolas porque os supermercados não conseguem abrir mão das sacolas plásticas, até por motivo do custo mesmo, porque as sacolas são muito mais em conta do que as sacolas ecológicas e alguns compram em grande escala industrial.
E muitas vezes essas sacolas vêm de outros países como China, Bangladesh, Vietnã, um preço muito, muito baixo e a gente não tem um poder de mercado pra vender esse produto. Tanto que já tive amigas que trabalhavam com essas sacolas nos supermercados e não tiveram muito êxito. Nós ficamos um período vendendo as sacolas na feira do Cigs, que é uma feira em parceria com a ADS, Agência de Desenvolvimento Sustentável do Estado. A gente chegou a vender as nossas sacolas, mas não é um número significativo. Alguns acham bonito, mas não tem essa questão de comprar pra usar, alguns têm, mas nem todas as pessoas têm essa consciência. A gente viu que as sacolas em si a gente não conseguiria muitos resultados, então a gente partiu pra outra fase de fazer sacolas pra eventos, como fazem seminários, congressos, feiras,eles utilizam muito, é onde a gente tá tentando esse foco. E a própria parte do artesanato, que a gente já jogou mais pra questão cultural porque quando vem um turista pra cá, quer levar um souvenier, uma coisa regional e compra as sacolas dessa forma.
P/1 – Meire, vocês começaram como um empreendimento seu e do seu esposo. Havia mais outras pessoas nesse empreendimento no início?
R – Pois é. Eu não sabia costurar, uma das nossas dificuldades é essa, logo no início existia muita dificuldade, mas vontade de empreender, de trabalhar. Eu não tinha nenhuma máquina de costura e os primeiros passos quem...
P/1 – Pode continuar.
R – Onde mesmo que eu estava?
P/1 – A gente tava falando do empreendimento que você tinha começado só você e seu esposo ou tinha mais outras pessoas?
R – Pois é, no início eu só tinha vontade de fazer, mas não sabia pregar um botão, então, minha sogra é que, eu ia sempre lá, ela tinha algumas máquinas de costura e ela me ensinou os primeiros passos da costura. E a gente começou a fazer algumas coisas lá na época e depois ela me emprestou uma das máquinas dela, eu trouxe pra casa e a gente começou a fazer a nossa pequena confecçãozinha nessa sala. E como a gente trabalha com juta, ela solta muito pelo, muito pelo mesmo, quando tava produzindo, a casa ficava cheia de pelo, a gente tem que trabalhar com máscara e tudo o mais. Mas era esse o espaço que nós tínhamos. Depois eu percebi que a gente tinha um espaço bom, só depois que eu fui descobrir que a gente tinha um espaço muito bom aí, que a gente conseguiu organizar e formar um ateliê. O nosso primeiro cliente foi que fez com que a gente prosseguisse. Acho que se a gente não tivesse esse cliente, a gente talvez teria tomado outro rumo. Mas logo de início a gente imaginou fazer uma sacola que caiu como uma luva àquele cliente que a gente tem até hoje. A gente pode falar?
P/1 – Claro.
R – É a Bemol, uma loja de departamentos bem consolidada aqui em Manaus. Eles sempre compram as sacolinhas, inclusive aquelas ali, pra colocar cd, dvd, livro. Eles sempre são parceiros da gente.
P/1 – Aí vocês aumentaram, contrataram pessoas?
R – Nós somos assim, nós somos um grupo formado por quatro pessoas, na verdade por três, saiu uma, mas quando nós temos uma demanda de produção, porque por enquanto a gente não tem uma demanda todo mês, então a gente chama vizinhas ao redor pra nos ajudar na produção e no final a gente paga todo mundo. Mas como grupo mesmo formalizado somos três pessoas da família e quando veio também o Consulado da Mulher nessa questão de nos organizar como grupos e tem nos ajudado bastante nessa questão da gestão, na questão do regimento, na questão de horários, se a gente precisa de algum equipamento. Doação de algumas mesas, de cadeira, então, eles têm sempre nos apoiado e nos incentivado. Eu digo que se a gente não tivesse esses outros parceiros que estivessem com a gente, porque não é fácil você montar um negócio praticamente começando do zero, com poucos recursos, se você não tiver parceiros é meio complicado. Ninguém trabalha sozinho, você sempre precisa de parceiros. Então veio o Consulado da Mulher pra dar esse apoio pra gente, veio o Sebrae também, pra dar também esse empurrão e a gente tá tentando andar.
P/1 – Meire, como você conheceu o Consulado da Mulher? Como que o grupo de vocês conheceu?
R – Nas feiras. A gente participava dessa feira da UFAM e através de outras amigas, de outros grupos, individualmente também e grupos mesmo. Uma prima minha que também tinha um empreendimento me chamou e falou do Consulado. A gente começou a frequentar a feira dentro do Consulado e eles nos explicaram como era a metodologia deles de trabalho, foi quando eles quiseram nos apoiar, nos incentivar e nos capacitar pra poder melhorar o nosso negócio.
P/2 – Onde é a feira dentro do Consulado?
R – É na própria fábrica. A Whirlpool disponibiliza um espaço duas vezes ao mês, geralmente no dia 15 e no dia 30, conforme o pagamento dos funcionários. Vocês sabem que o Consulado é um empreendimento que faz parte do social da Consul, que ajuda pequenos empreendimentos populares voltado à mulher.
P/1 – Meire, o nome Arte Nativa da Amazônia era o nome que vocês tinham dado ao empreendimento de vocês desde o início?
R – É, desde o início. Na verdade, a escolha do nome, a gente queria um nome assim, que remetesse às coisas daqui mesmo, do Amazonas, nativas. Então a gente começou a imaginar vários nomes e, dentro dos que a gente tinha colocado numa listinha, o que a gente viu que soava melhor, de Arte Nativa, da Amazônia foi só complemento. Queria um nome que pegasse, um nome forte que remetesse, a gente não se prendesse a um segmento, a um produto, que a gente pudesse fazer qualquer coisa nessa linha de nativa, por exemplo.
P/1 – Vocês registraram a marca?
R – A gente tá em processo, o Consulado da Mulher está nos apoiando nisso. A gente tá vendo ainda essa questão dos escritórios pra registrar a marca.
P/1 – E o Consulado da Mulher, vocês tiveram esse contato através da sua prima. Como vocês cresceram? Houve uma evolução no empreendimento de vocês com o contato com o Consulado?
R – Houve porque a gente tava muito embriãozinho, aí o consulado veio e nos ajudou, nos incentivou com alguns equipamentos que nos forneceram, a gente conseguiu melhorar a nossa produção, aumentar um pouco mais. E a gente tem tentado, a gente também não espera só do Consulado, a gente está sempre em busca de novas oportunidades fora o Consulado. O Consulado é um braço, mas a gente precisa estar sempre em busca, mas é muito importante pra gente. Como eu falei, se não fosse por eles, não sei se a gente ainda estaria no mercado. Tanto o Consulado, como o próprio Sebrae, que está sempre aqui nos assessorando com técnicos. No ano passado eu cheguei a fazer, não sei se vocês conhecem o curso do Empretec, é um curso muito bom, um dos cursos Top do Sebrae. E depois, fazendo outro curso da Gestão da Qualidade, pra tentar ver essa questão da gestão, o que é a missão da empresa, o que é o negócio da empresa, quais são os valores da empresa, questão mesmo de padronização, questão de avaliação de clientes. Verificar, fazer as receitas e despesas. Tudo isso nós chegamos a fazer. Nesses cursos do Sebrae eles veem os 5S. Então os técnicos vinham aqui, verificavam se a gente tava fazendo a liçãozinha de casa, isso é muito importante.
P/2 – Como vocês se aproximaram do Sebrae?
R – A princípio pra se formalizar porque o Sebrae, pra gente participar do projeto do grupo a gente tinha que estar formalizado. Então tenho uma amiga, Clarisse, aqui do Sebrae Amazonas, que disse que estava se formando um grupo do pólo de modas e se a gente gostaria de participar, mas pra isso a gente precisava se formalizar, então desde 2010 a gente já está formalizado.
P/2 – Meire, você tem esse apoio do Consulado, apoio do Sebrae. Não tem momentos que fica uma diferença entre um e outro ou dá pra combinar?
R – Não. Ainda bem que eu vejo que são coisas diferentes, mas que um agrega ao outro.
P/2 – Você podia dizer as principais coisas?
R – Como eu falei, o Sebrae dá muito essa questão do técnico vir pra verificar essas questões de como está o negócio, de precificação, apesar do Consulado também fazer isso. Verificar a questão, como eu falei, da padronização, de organização do local e a viabilidade do negócio. O Consulado da Mulher já vê outra coisa que o Sebrae não vê, por exemplo, essa questão da patente, registro da marca. A gente conseguiu fazer com eles a nossa identidade visual, com o Consulado. A gente sempre recebe doações, a gente trabalha com reaproveitamento do banner, então, a gente faz sacolinhas, necessaire, pasta, tudo com reaproveitamento do banner, e isso foi também uma ideia que o próprio Consulado nos deu pra fazer. Alguns equipamentos que a gente também recebeu as doações. Por intermédio do Consulado a gente também recebeu um prêmio, nosso primeiro prêmio, que foi importante pra gente, não imaginava de ganhar. Assim como vocês estão aqui hoje, eles entraram em contato com essas instituições e nós nos inscrevemos e ganhamos o segundo lugar na categoria Prêmio da Aliança Empreendedora, a nível nacional, e ganhamos assim, viemos formalmente, fizemos no computador e pela surpresa o telefone tocou e disse que a gente tinha ganhado. Achei assim, surpreendente, porque nem imaginava que isso iria acontecer nessa questão mesmo do que nós fazíamos, por sermos grupo, por trabaharmos essa questão da sustentabilidade, então, pra gente, naquele momento, está sendo um reconhecimento. Tipo assim, já temos pelo menos um prêmio que é importante.
P/1 – Meire, você estava comentando dessa relação do Sebrae e o Consulado. Como vocês têm essa interlocução com esses dois parceiros?
R – Pois é, como eu falei, eu acho que um agrega ao outro, na verdade. Cada um é independente, mas a gente consegue agregar os dois e ambos são muito importantes pra gente, porque sem eles, realmente, talvez não estivessemos aqui para contar.
P/1 – Meire, vocês têm contato com a Rede de Economia Solidária?
R – Sim. Os colegas que a gente sempre encontra nas feiras. Mas assim, troca mesmo de experiência, mas não temos ainda uma troca de parcerias com alguma outra coisa pra unir, agregar um produto ao outro, por enquanto nós não temos. Mas a gente é aberto pra fazer essas trocas solidárias.
P/1 – Meire, como é o cotidiano aqui? Esse terreno que tem aqui o escritório da Arte Nativa é um terreno, a casa de vocês, é um terreno próprio, ou vocês alugam, como é?
R – Bom, essa questão do local, logo no início a gente não sabia muito dividir isso e a gente utilizava a sala da gente pra virar um escritório, de repente é meio estranho, mas hoje a gente já conseguiu conciliar isso bem. A partir do momento que a gente conseguiu fazer a nossa linha de produção lá embaixo e transformar aqui. Porque eu acho assim, quando você trabalha na sua própria casa, parece mais difícil. Às vezes as pessoas pensam que é fácil, mas não é fácil. Logo no início é sempre difícil porque você tem que se policiar.
Não é porque você tá na sua casa que você não vai trabalhar, entendeu? Então tem tudo a seu favor pra você se acomodar. Por exemplo, você tem aquela televisão, você tem o seu quarto, a sua cama, você tem tudo isso que, a princípio, se você não tiver um bom foco, você se desfoca daquilo. Mas hoje não, hoje a gente consegue acordar e vamos trabalhar. Já conseguiu desvencilhar por ser casa, escritório e trabalho. Isso já está muito bem formalizado. O Consulado, por exemplo, veio aqui e disse: “Meire, você faz o quê? Francisco, você faz o quê? Dona Maria, você faz o quê aqui? Qual é o seu papel dentro do grupo? Qual é a sua hora dentro do grupo? O que você faz”. Isso foi importante também pra que cada um saiba o que realmente tem que fazer. A princípio difícil, mas depois que a coisa vai acontecendo, que vai passando, as coisas vão fluindo e aí cada um já sabe perfeitamente qual é o seu papel dentro do grupo, não precisa mais dizer o que tem que fazer. Mas demora um tempinho, mesmo assim a gente precisa, de vez em quando, estar lembrando. Mas lógico, cada um já sabe perfeitamente qual é o seu papel.
P/1 – E qual é o seu papel, Meire?
R – (risos) Pois é, o meu papel está mais na linha de frente, tentar fazer com que a Arte Nativa se desenvolva, captar clientes, ir em busca de clientes e trazer pro grupo pra gente conseguir fazer os nossos trabalhos.
P/1 – E como você faz a captação de clientes? Você tem uma estratégia?
R – A gente está nas feiras comercializando e divulgando. A gente participa de algumas feiras, não só aquelas feiras pontuais que a gente sempre está, mas em outras feiras que sempre acontecem em Manaus. E a gente está distribuindo os cartões, está falando do nosso grupo. E também participando agora de entrevista, como a Amazon Sat. Porque a Amazon Sat tem divulgado muito, eles divulgam muito essa questão da cultura local. Tem um canal de programação especificamente para isso, eu acho bem interessante.
P/1 – Qual o nome desse canal?
R – Amazon Sat, que é a cara e a voz da Amazônia. Então é voltado...
P/2 – É na TV ou na internet?
R – É na televisão, canal 44 local, mas pega nacional e internacional. Eles veem com os artesões, com os artistas, eles fazem entrevistas. Nós tivemos duas entrevistas com eles no ano passado, estamos com uma página na internet, a Arte Nativa, e está lá o link dessas duas entrevistas. E esse ano, no mês passado, eles vieram de novo com a gente. Nós participamos do programa Amazon Sat Mulher, que ele vem falando com a gente, saber um pouquinho da história da mulher empreendedora, assim como vocês. E está lá um pouquinho também. E também no Amazon Shop, que eles mostram como faz o produto. Eles estiveram aqui no mês de março e gravaram como se faz uns cinco produtos. E a gente mostrou alguns produtos e tem saído na televisão.
P/1 – Quais os produtos que vocês elegeram pra mostrar?
R – Os que realmente saem, a necessaire, a lixeirinha, um bloquinho de notas, coisas bem simples que dá pra qualquer pessoa fazer também.
P/1 – Vocês estão presentes nas redes sociais?
R – Nós estamos no Facebook.
P/1 – O fato de vocês estarem tendo um contato, e até mesmo uma estratégia com a comunicação, vocês estão vendo um retorno pro empreendimento de vocês?
R – Nós colocamos o site no ar agora em janeiro, mas assim, a gente não tem como colocar novos produtos. Uma dificuldade que a gente também tá sentindo é que tem que divulgar esse site pra que as pessoas possam abrir porque só mesmo pelo site não consegue ter visibilidade. Esse site precisa ser mexido e a gente ainda não consegue ter ferramentas porque precisa de uma pessoa mais técnica pra ver isso e no Facebook geralmente é o meu esposo que faz, mas como nós somos ainda muito poucos pra fazer tudo, a gente também sente um pouco de dificuldade nessa questão de estar ali sempre pra colocar alguma coisa. Às vezes, não consegue tempo pra estar mais nessa parte de divulgação mesmo, deixa um pouco a desejar. A gente também colocou no Bom Negócio, bomnegócio.com, colocamos sacolas ecológicas e tal. A gente viu, deu um bom resultado, mas sempre tem que estar mexendo, senão sai do ar e você tem que sempre estar atualizando lá pra que sempre fique lá, mas eu achei bem significante o Bom Negócio porque a gente recebeu alguns contatos através dele: “Ah, eu vi no Bom Negócio”. Porque hoje qualquer pessoa entra lá no Bom Negócio pra encontrar, comprar alguma coisa, não sei se vocês já fizeram isso, mas aí, entra e vê. A gente conseguiu fazer alguns clientes por conta do Bom Negócio.
P/2 – Meire, chegou a ser um grupo maior? Vocês estão em três agora.
R – É. Como eu falei, nós somos um grupo familiar, mas quando a gente tem uma demanda maior a gente consegue chamar outras pessoas pra nos ajudar na produção. Mas como a gente não tem sempre uma demanda de produto, a gente fica restrito às pessoas que temos. Mas a intenção é expandir conforme a demanda. Se a gente tiver uma demanda hoje a gente consegue ter uma boa produção. O que falta, talvez, seja compradores. Mas a gente consegue fazer no nosso pequeno espaço, a gente consegue ter capacidade pra dois mil produtos com os equipamentos que nós temos, a gente consegue. Lógico que isso, como eu falei, a gente vai em busca das amigas que trabalham com costura, a gente se reúne, mas nem sempre temos essa produção, então tem mês que a gente tem, tem mês que não tem, mas o que falta realmente pra gente talvez seja uma maior e melhor divulgação, talvez a cidade não conheça a Arte Nativa e não sabe o que a gente produz. Então, a gente vê dessa forma. Se a gente tivesse uma produção maior a gente teria como ampliar o número de pessoas pra trabalhar com a gente.
P/1 – É você, seu marido e a terceira pessoa é parente?
R – É parente. No grupo é parente. Porque eu acho assim, pra nos ajudar, a gente tem que, a princípio, ajudar os nossos próximos pra que a gente possa depois ajudar outras pessoas. E aí, como eu falei, a gente vai em busca das pessoas da nossa comunidade, da nossa rua, na nossa rede de amigos.
P/2 – Meire, como é a gestão das finanças, dos custos, dos ganhos, inclusive essas pessoas que de tempos em tempos agregam a vocês?
R – Para o grupo a gente tem uma divisão, independente do trabalho que se faz, e pras pessoas que vêm, eles ajudam. No final de cada produção a gente vê quanto tempo eles trabalharam e a gente também tem um valor que a gente disponibiliza para elas, que é o valor do mercado atual.
P/2 – Das horas.
R – Exatamente, das horas. E a gente também tem dado capacitação pras pessoas que vêm e não sabem costurar, por exemplo, a gente também tem essa preocupação. Eu esqueci de falar, mas como eu não sabia costurar, uma das minhas primeiras iniciativas na costura foi com a minha sogra, depois eu participei de um curso do Senai, de Costureira Industrial, fiquei lá uns cinco meses. Depois eu fiz um outro curso de bolsas no Setam. Na verdade eu nunca imaginei que o empreendimento fosse tomar, que a gente tivesse que estudar muito sobre aquilo. A gente pensa que só por ser graduada ou alguma coisa assim, você já consegue entender e não, então, você vai ter que ir a fundo naquilo que você buscou. Pra que a gente possa cobrar, a gente precisa saber, pra que a gente possa passar pras pessoas a gente precisa entender, então foi nessa... “Ah, mas eu não preciso costurar pra saber como está uma costura, por exemplo”. Eu sei que não, mas se você está ensinando uma pessoa você tem que saber ensinar aquela pessoa, então esse foi o objetivo. Eu fui com o intuito de quando a gente estivesse no empreendimento e viessem nossas amigas que a gente pudesse passar essa informação porque algumas pessoas vêm sem esse conhecimento. E a gente tenta passar. A gente faz um pequeno treinamento, básico mesmo, não tão igual ao Senai, por exemplo, mas um curso básico e, aos poucos, a pessoa vai aprendendo.
P/1 – Meire, fazendo um balanço do empreendimento de vocês. Atualmente vocês conseguem ter uma sustentabilidade econômica?
R – Consegue sim porque hoje nós vivemos do que fazemos. Eu e meu esposo conseguimos passar também pras pessoas que estão aqui com a gente. A gente consegue ter esse balanço de entrada, de saída, o que gastou, que é importante saber, senão, não vale a pena.
P/1 – E houve um diferencial com a assessoria do Consulado da Mulher?
R – Claro que houve porque antes a gente não fazia isso. Como eu falei, a gente sempre tem que estar estudando, fazendo um curso e outro.
P/1 – Meire, eu perguntei pra você qual o diferencial da assessoria do Consulado da Mulher no empreendimento de vocês?
R – A princípio, meu esposo ainda trabalhava na parte formal e eu ficava com tomando conta da Arte Nativa. Agora estamos todos trabalhando em função da Arte Nativa e também ajudando outros colaboradores. Então, a gente tá conseguindo se manter. Isso, com o apoio de todos os parceiros. E com relação ao banner, nós também temos um parceiro muito importante que é o Banco do Brasil, que eles disponibilizam o banner e eles também compram os produtos, que eu acho bem interessante. Quando eles vão de agência em agência fazer capacitação, eles sempre estão utilizando esse material, que também serve como a questão da sustentabilidade deles. Isso é bem importante, é importante pra gente, foi o próprio Consulado da Mulher que nos apresentou pra eles e estamos com eles também até hoje, uma parceria bem legal.
P/1 – Então vocês estão utilizando os banners do Banco do Brasil? Vocês estão fazendo a reciclagem pra produção das necessaires.
R – Exatamente. E eu achei também bem interessante porque eles têm essa preocupação e eles fazem a coleta até nos municípios do interior que tem a agência. Eles recolhem, mandam aqui pra central e aí eu digo, poxa, vem lá do município de Manacapuru etc, eu acho bem legal.
P/2 – E eles usam também seus produtos.
R – Exatamente, eles usam. O ideal seria que, seguindo essa mesma linha, outras empresas tivessem essa consciência. Eu tentei ir em outros bancos, mas não tive a mesma sorte, porque algumas superintendências não são daqui, são de outros estados, tive mesmo do Banco do Brasil.
P/1 – Meire, se você não estivesse hoje com esse empreendimento, você consegue imaginar o que você estaria fazendo hoje?
R – Talvez na área de Turismo, trabalhando em algum hotel. Mas não era muito o que eu realmente queria nessa parte de trabalhar pra iniciativa privada, eu queria realmente fazer uma coisa nossa mesmo, voltada pra gente mesmo.
P/1 – E o que é importante pra você hoje, Meire?
R – Como Arte Nativa?
P/1 – Enquanto empreendedora, enquanto Meire mulher, esse todo.
R – Bom, agora o meu foco é como filho, não tenho filho, então meu foco todo é pra Arte Nativa, eu durmo e acordo pensando no nosso empreendimento. Então, eu prezo muito essa questão dos pilares, da importância do pilar, que é a questão mesmo da sustentabilidade, da valorização da cultura e da geração de emprego e renda pra comunidade.
P/1 – E quais são seus sonhos hoje?
R – Que esse nosso empreendimento seja referência, pelo menos aqui no Estado.
P/1 – Agora Meire, a gente está encerrando essa entrevista. Você chegou a comentar, agora no intervalo, que você teve uma banda. Conta essa história pra gente.
R – (risos) Pois é, quando adolescente, a gente formou um grupo musical chamado As Garotas Agitadas. Na verdade era só brincadeira mesmo, mas a gente cantava, fazia música.
P/1 – Você tocava?
R – Não, eu cantava. Éramos em três.
P/1 – Vocês chegaram a se apresentar?
R – Só pra família (risos), só nas festas a gente se apresentava, era bem engraçado.
P/1 – Você canta ainda?
R – Não, não canto não. Hoje não dá pra cantar nada, não tenho uma veia artística não, só na época. Eu acho que é coisa de criança, de adolescente, mas hoje não canto. Mas meu esposo canta, ele vive cantando. A música, depois pra mim, foi uma coisa que não acontecia muito. E depois que ele veio, a música aqui nessa casa é toda hora. Quando não é tocando, é ele cantando, então faz parte agora (risos).
P/2 – Qual a ascendência dele?
R – Ele também nasceu em Manaus, mas a família dele, a mãe dele é de uma comunidade próxima a Parintins, tem ascedência indígena, mas eu não sei exatamente qual é.
P/1 – Meire, você quer acrescentar alguma informação a respeito da Arte Nativa que a gente não tenha perguntado? Algo que você acredita que seja importante a gente registrar.
R – É nessa questão da sustentabilidade. Eu sei que, às vezes, é difícil pra gente fazer algo que a gente possa ver essa questão da sustentabilidade, mas a gente mesmo em casa pode fazer, coletando a água da chuva, por exemplo, tentando, hoje a gente também tá querendo trabalhar com camisas feitas de reaproveitamento do PET, com as camisas de PET. Hoje pra se fazer uma sacola são dois PETs a menos no planeta. Então, eu acredito que no Sudeste, que tem as fábricas de PET, eu acho que eles estão fazendo esse trabalho e nós, como Arte Nativa, estamos dando a nossa contribuição nesse quesito. Eu acho que se cada um pudesse fazer alguma coisa com relação ao meio ambiente tudo vale a pena, é isso.
P/1 – Meire, em nome do Museuda Pessoa nós agradecemos a sua entrevista.
R – Muito obrigada (risos).
P/2 – Obrigada, muito boa.
P/1 – Parabéns!
R – Obrigada.Recolher