Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto 2020 e 2021
Entrevista de Karla Cristina Tiago - Rede Empresarial Voa
Entrevistada por Luis Paulo Domingues e Guilherme Foganholo
São José do Rio Preto, 20 de Maio de 2021
Entrevista MC_HV087
Transcrita por Selma Paiva
(00:30) P1- Bom, pra começar, Karla, eu gostaria que você falasse o seu nome completo, pra ficar gravado, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R- Meu nome é Karla Cristina Fausto Tiago. Eu nasci em Quirinópolis, Goiás, 17 de setembro de 1988.
(00:51) P1- Legal. Qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R- O meu pai é Carlos Humberto Tiago, falecido. E a minha mãe, Elisabete Cristina Giuggioli.
(01:04) P1- Legal. E os seus avós? Você ainda tem contato com eles? Eles ainda estão vivos?
R- Meus avós paternos faleceram há dois anos: Eugenia Tiago e Lauro Joaquim Tiago. Meus avós maternos, eu tenho uma avó, que é Zelinda Carsoni. E meu avô, Sebastião Fausto, falecido.
(01:28) P1- Certo. E você sabe a origem deles? Eles moravam todos nessa região de Goiás? Vieram de fora, imigrantes?
R- Então, os meus avós, a minha família paterna ainda está lá na região de Goiás. E meus avós eram de lá. Minha avó era de lá. Meu avô era de Frutal, Minas. Meu pai também nasceu em Frutal, Minas. E a família da minha mãe era de São Paulo, capital, meu avô e minha avó.
(01:59) P1- Ah, sim. E, por acaso, você sabe como o seu pai conheceu a sua mãe? Como eles se conheceram?
R- Sim. O meu vô foi fazer um trabalho lá na minha cidade, em Quirinópolis, Goiás, onde eu nasci. E levou a minha mãe. A minha mãe era nova, tinha dezesseis anos. E ela conheceu o meu pai, fugiu, engravidou.
(02:18) P1- Sério?
R- (riso) É. Aquelas histórias, né? O meu vô não aceitava. Ele era mais velho. Não muito mais velho, mas ela era novinha. Aí já fugiu, já engravidou. A minha mãe foi mãe super nova, me teve com dezesseis anos.
(02:36) P1-Sim. Olha! E você sabe a profissão dos dois? Qual era?
R- Meu pai era mecânico. Minha mãe é do lar.
(02:48) P1- Do lar. Legal. E tem irmãos, pra completar a família?
R- Eu tenho irmãos com a minha mãe e o meu padrasto. Com meu pai e minha mãe, o meu pai faleceu, eu tinha sete anos. Então, quando o meu pai faleceu, era só eu. Minha mãe ficou viúva com vinte e três anos. Aí nós mudamos pra Potirendaba, que é uma cidade aqui pertinho de Rio Preto, trinta quilômetros de Rio Preto. Aí, lá em Potirendaba, a minha mãe conheceu o meu padrasto, casou com ele. Ele chama Jean. A gente se dá super bem, desde pequena eu estou com ele, né? E aí a minha mãe teve dois outros filhos, que é dela e do meu padrasto. A minha irmã chama Maria Fernanda e o meu irmão chama Jean Carlos Giuggioli Junior.
(03:32) P1- Perfeito. E, na sua infância, você passou um pouquinho lá em Goiás, né? Outra parte no sul de Minas, né? E depois Frutal, você passou? Não. Você foi direto pra Potirandaba, né?
R- Isso. Meu pai que nasceu em Frutal. Eu nasci lá em Quirinópolis, Goiás, morei lá até os sete. Aí quando o meu pai faleceu, meus avós eram de Poti, que é a cidade aqui perto de Rio Preto. Então, a minha mãe tinha vinte e três anos, viúva, veio morar com os pais. E aí eu vim e aqui estou, desde os sete.
(04:08) P1- Desde os sete. Você lembra o que da sua infância? Tanto um pedacinho do começo, lá em Goiás e depois em Potirandaba. Como era o lugar que você morava, a rua? Se você tem essa ______ (4:23) fotográfica?
R- A memória de Goiás, de Quirinópolis, eu tenho menos, apesar de eu ser muito próxima da minha família de lá, nós sempre mantivemos o contato. Eu sempre fui em férias, principalmente enquanto os meus avós estavam vivos, eu ia três vezes no ano. A gente nunca se afastou. Mas eu lembro que a gente era muito humilde, morava num bairro bem simples, uma casa com poço no quintal, um pé de manga. Tenho algumas memórias do meu pai. O Pica-pau me remete muito a ele, porque eu lembro que a gente assistia junto. Mas eu tenho poucas lembranças. Eu não lembro, por exemplo, o tom de voz, tem algumas coisas que eu não me recordo. Mas eu lembro da fisionomia. Lembro que, alguns dias antes dele falecer, ele me deu uma bicicleta. O meu aniversário era dezessete de setembro. E ele faleceu sete de setembro. Foi no feriado, né? No feriado da Independência. E aí, uns dias antes, tipo, uns três, quatro dias antes, ele me deu uma bicicleta. Então, eu tenho essa recordação também. Lembro que, quando a gente foi mudar de cidade, toda a salinha foi lá. Eu não lembro das pessoas, mas eu lembro de todos os amiguinhos numa roda e eu dando tchau, um por um, porque eu ia mudar e tal e estava indo embora. Eu tenho essa recordação também. Eu lembro muito da minha avó, assim. Na verdade, as minhas recordações de infância, lá, são sempre ligadas à minha avó.
(05:49) P1- Sim. Você tem alguma recordação que seja meio tradicional da região, tipo comida típica de lá, essas coisas de dança, música?
R- Ah, sim. Tipo o pequi, né? Eu lembro do pequi. Eu lembro. O pessoal lá, aqui também, mas lá é mais forte o pastel na feira, assim. As pessoas iam muito, então eu lembro do pastel na feira. Lembro do pequi. Mas eu lembro que a minha família, a minha avó era muito humilde. Então, eu lembro da gente pedir doce e ela queimar açúcar, porque não tinha bolacha recheada, não tinha Toddynho, não tinha outra opção de doce que não fosse o açúcar queimado na panela. Então, sabe aquele puxe de açúcar? Então, eu tenho essa lembrança também, do açúcar queimado.
(06:32) P1- Muito legal.
R- Muito frango, né? Muita galinhada também. Era uma mistura mais barata, o frango é mais barato
(06:39) P1- Forno à lenha? Você conheceu?
R- Forno à lenha.
(06:42) P1- Que é uma delícia.
R- Uma delícia. Frango com pequi, então, é uma delícia.
(06:48) P1- É. Claro. A comida do sertão é muito boa, do interiorzão do Brasil, né? Aí você veio pra Potirandaba, que já é esse interior paulista, né?
R- Isso.
(07:00) P1- Já muda um pouco as características. Aí você foi morar onde? Você lembra da sua casa em Potirandaba, da rua?
R- Sim. Eu cheguei em Potirandaba e fui morar com os meus avós, pais da minha mãe, o meu vô e a minha vó. A minha mãe tem dois irmãos, mas o meu tio era casado. Minha tia também tinha a casa dela com a filha, já era divorciada, mas morava ela e a filha. Aí veio só eu e minha mãe, pra morar junto com o meu vô e a minha vó.
(07:30) P1- Sim. E, assim, como era o ambiente da cidade, assim? Era uma cidade pequenininha, né? Então, você teve uma infância diferente da infância que as crianças têm hoje, né? Conta um pouquinho assim, do que você brincava, o que era legal de fazer na cidade, ali.
R- Tá. Peraí. Um segundinho.
(07:53) P1- Tá legal.
R- Atrapalhou? Desculpa.
(08:09) P1- Não. Não. Isso aí depois a gente corta, a parte que parar. Pode ficar tranquila. Tanto é que eu tive que fechar a janela aqui, que é só começar a fazer a entrevista, que o cara liga uma máquina, aqui do lado. (risos)
R- Tá. Você perguntou: chegando na cidade, o que me lembra? Era uma cidade pequena do interior paulista. Então, chegando em Poti, a casa do meu - comparada ao que eu vivo hoje, graças a Deus - avô também era muito simples. Mas não era, já era bem melhor do que lá em Quirinópolis. Lá em Quirinópolis, era quase que miserável assim, tinha o básico, não passava fome. Eu lembro que eu só vivia de leite. Mas a minha mãe fala que eu amava leite, que eu tomava cinco litros de leite por dia, só. Mas era o que tinha também, então, acho que por isso que eu tomava tanto leite. Chegando lá, melhorou. Eu lembro do meu avô e da minha avó estarem com muita pena, né? Uma criança, sete anos, como é que vai crescer sem pai? E lembro da escolinha também e do quanto eu fui bem recepcionada pelos amiguinhos novos. Eu sempre tenho memórias com professores, assim. É até legal a gente conversar sobre isso, que a gente começa a entender mais da nossa história, né? Professores sempre foram importantes pra mim. Eu sempre tive boas memórias com professores. Então, eu lembro também dos que, quando cheguei, como eles me receberam. A casa da minha vó, eu lembro que tinha uma varandona na frente. A gente morava no centrinho, assim, da cidade. Então, do lado tinha uma lanchonete. O lugar era bom. A casa era bem simples também, mas o lugar era bom.
(09:46) P1- Certo. E na escola, como foi? Você falou que lembra dos professores, né? Ali na escola, você já tinha alguma disciplina que você se destacava mais, que já te sugeriu o que você se tornaria depois, profissionalmente? Ou foi depois?
R- Então, eu sempre fui muito comunicativa, né? Eu sempre gostei de conversar. Eu sempre gostei de ler textos. Ninguém queria ler, então: “A Karla lê”. Ninguém quer puxar a fila: “A Karla puxa a fila”. Então, eu sempre fui líder, eu sempre tive um espírito de liderança. Mas eu sou formada em Direito. Eu fiz Direito, passei na OAB no quinto ano. A minha formação foi Direito.
(10:30) P1- Certo. Mas durante a escola, como é que foi a sua vida, assim? Você chegou a trabalhar e estudar ao mesmo tempo? Você ia a pé pra escola, em Potirendaba? Como era?
R- Então, essa casa... a cidade é bem pequena, Potirendaba. Tem quinze mil habitantes. E a casa do meu avô era bem no centrinho. Então, eram dois quarteirões. Eu tenho uma recordação de uma botinha da Carla Peres, tipo uma botinha de plástico, que todo mundo queria. Eu tinha essa botinha. Eu só a usava pra ir pra escola. Minha mãe me levava. Minha avó fazia um rabo em mim, aqui, bem alto, assim. E eu ia com o uniforme, com a minha mãe, que eram dois quarteirões. Mas eu cheguei no fim de setembro, né? Então, eu lembro que essa escolinha era só do pré. Então, essa que eu estou contando dessa recordação de dois quarteirões, eu fiquei, na verdade, só setembro, fim de setembro né, outubro, novembro e dezembro, que era uma escola tipo maternal e pré. Aí depois, no outro ano, eu já fui pra primeira série. Aí, primeira série, era uma outra escola que chamava Casella. Essa era um pouco mais longe. No começo eu lembro da minha mãe me levando, também e depois a gente já tinha amiguinhos. Também era perto da casa do meu avô. Eu lembro que uma amiguinha passava de casa e a gente ia. Tipo: com nove anos eu já ia e voltava a pé da escola. E aí, com sete, também, no outro ano – eu só fiz oito em setembro, né – eu já comecei o balé. Porque a minha mãe... o Jean, que é o meu padrasto, a irmã dele que chama Dora é professora de balé. Muito boa, muito bem-conceituada, balé clássico mesmo, fez cursos em Cuba, tal. Então, também não tem como eu falar da minha infância, sem lembrar do balé, que foi a coisa que eu mais fiz na minha vida. Dos sete aos vinte e sete, o que eu mais fiz foi balé.
(12:16) P1- Foi balé.
R- É.
(12:18) P1- Certo. E as brincadeiras, o que você lembra? Como eram as brincadeiras na rua e tudo o mais?
R- Então, aí a minha mãe começou a namorar com Jean. E eles já... eles não eram casados ainda, mas eles começaram a morar junto. Aí, então, eu fui, eu e a minha mãe... espera aí um pouquinho. Aí eu... quer que eu volte do começo dessa parte?
(12:53) P1- Pode ser. Pode ser.
R- Deixa só ela subir com o negócio de conectar. Aí não para mais.
(13:00) P1- O Guilherme continua aqui, que eu já estou voltando. Só um minuto.
(13:05) P2- Tranquilo. Karla, a hora que você quiser aí, a gente volta.
R- Tá, eu estou só esperando ela subir aqui com o...
(13:14) P2- Beleza.
R- Vamos?
(14:10) P2- Opa, tranquilo. Bom, você estava falando, então, eu achei interessante, você falou que fez balé até os vinte e sete anos.
R- É.
(14:18) P2- É bastante tempo, assim. Você gostava bastante. Você ainda gosta? Por que você parou? Você pode falar mais sobre isso?
R- Sim. Eu fiz vinte anos de balé, na verdade. Mais intenso dos sete até os dezessete, os dez primeiros anos. Eu fazia balé todos os dias da semana. Quem dava aula de balé era a irmã do meu padrasto, a Dora, que também tem um papel muito importante na minha vida. Foi uma tia, digamos, uma tia torta, né? Mas com um papel muito importante. E aí a gente dançava alguns dias de semana em Cotia, alguns dias aqui em Rio Preto, alguns dias em Ibirá. Como ela era professora, ela dava aula na região, então, eu a acompanhava e fazia todas as aulas. E eu tinha jeito, sabe? Ela não tinha filha. Então, sabe quando ela se encontrou? Eu era bailarina, eu fazia tudo bem, eu dançava muito bem, eu puxava, eu liderava a equipe, eu decorava a coreografia, eu ensaiava, eu fazia o pas de deux. Eu dancei o Lago do Cisne, o Quebra Nozes, todos os balés de repertório, o Dom Quixote. Então, ela se realizava comigo e eu me realizava com ela. Eu gostava muito. Então, fez parte da minha vida, da minha infância, da minha adolescência. E eu também acho que ajudou muito, o balé, até na minha vida adulta, no meu lado empreendedora, porque no balé você não pode desistir, você consegue os resultados com treino. Você consegue a excelência errando e repetindo, errando e repetindo.
(15:46) P2- A resiliência também, né?
R- É. Isso. Tem que ser muito resiliente. É bem difícil, né? O balé é a principal dança. Quem consegue dançar balé, depois consegue fazer os outros, tipo jazz, moderno, contemporâneo. Mas o balé exigia muito. E eu gostava bastante. Dancei todo esse tempo. Aí, depois eu fui diminuindo, porque eu comecei a fazer faculdade, aí tinha os compromissos. Eu fazia faculdade aqui em Rio Preto. Então, eu fazia só aos sábados. Então, eu fiquei bastante tempo dançando só aos sábados. Mas mesmo assim eu continuei e só parei quando eu engravidei. Eu engravidei com vinte e sete anos.
(16:23) P1- Sim. Ô, Karla, você foi pra Rio Preto só pra fazer faculdade, ou a família mudou junto?
R- Não. Eu vim pra Rio Preto só pra fazer faculdade.
(16:34) P1- Ah, sim. E como foi essa fase? Aí, quando você foi pra faculdade, você escolheu Direito por quê?
R- Aí eu fiquei um pouco em dúvida entre Direito e Jornalismo, na época. E aí eu pensei bastante, eu optei por Direito. Fazia Direito à noite. No segundo ano, eu passei num estágio do Ministério Público. Eu fui estagiária do Ministério Público, a faculdade toda. E até depois de formada, eu continuei mais um ano. Então, eu comecei a trabalhar com dezoito anos. Eu entrei na faculdade com dezessete. Eu comecei a trabalhar... na verdade, antes desse trabalho, uns seis meses antes, eu trabalhei numa farmácia municipal. Eu passei num concurso da prefeitura, aqueles de agente administrativo. E a prefeitura coloca onde precisa, né? E aí me colocaram numa farmácia.
(17:29) P1- Certo.
R- Então, eu tive esse trabalho durante seis meses. E depois eu passei no do Ministério Público e aí eu fiquei a faculdade toda.
(17:36) P1- Certo. Aí você tinha quantos anos, quando você passou na faculdade?
R- Dezessete.
(17:42) P1- Dezessete anos. Aí você conheceu o seu namorado, tal. E você engravidou, teve um filho, né? Como que foi, assim?
R- É. Eu tenho gêmeos, na verdade. Eu tenho gêmeos. Dois meninos.
(17:59) P1- Gêmeos?
R- Gêmeos. Dois meninos. É. Demorou. Não foi simples assim, não. E eu tenho endometriose. Então, eu comecei a namorar, casei com vinte e três anos. Assim que eu me formei, daí nem um ano, eu já casei. E por sorte eu comecei a tentar engravidar, nova. E vi que estava demorando, né, um ano, dois anos. Aí eu comecei a pesquisar a causa e descobri que eu tinha endometriose. Aí eu fiz vários tratamentos, operei, fiz cirurgia. Não consegui engravidar de forma natural. Aí eu fiz a fertilização. Aí, na fertilização, fecundaram dois. E eu tive gêmeos. Dois meninos: Pedro Henrique e João Lucas.
(18:37) P1- Que legal. E é comum, né, isso. Quem faz tratamento pra engravidar é meio comum, né, vir gêmeos?
R- Sim. Sim. E aí eles estão agora com cinco anos. Mas aí acontece muito.
(18:52) P1- Certo. É verdade. Bom, você casou. Como é que você conheceu o seu marido?
R- O Juliano é meu ex-marido agora. Mas ele era da minha cidade, de Poti. E ele era mais velho que eu, dez anos. Então, eu tinha um namorado da minha idade, mais ou menos e não dava certo, ele vivia aprontando. Quando ele apareceu, eu achei o máximo, né? Porque todo mundo queria ele. Ele tinha vinte e sete anos, eu dezessete. Ele era o moço mais cobiçado. Eu falei: “Nossa, eu sou uma menina. E ele me quer?” Achei tudo de bom. E aí a gente começou a namorar. E ficamos firmes, namoramos, namoramos. Ficamos noivos com vinte e um. Começamos já a construir uma casa, quando eu tinha vinte e um. E aí, com vinte e três, a gente casou. E aí divorciamos, tem um ano e meio. Ficamos casados oito anos.
(19:44) P1- Certo. Legal. E, voltando pra faculdade, como foi o período da faculdade? Você foi fazendo Direito, você tinha esses empregos que você falou, né? Mas já nasceu aí o empreendedorismo?
R- Na faculdade, eu trabalhava, eu era estagiária do Ministério Público. Então, era meio período, era da uma às cinco. Aí eu me trocava, tomava banho, pra já pegar o ônibus pra vir pra faculdade. E de manhã eu estudava, fazia trabalho, me dedicava. Mas eu sempre gostei muito, eu gostava muito do comércio, sabe? Eu gostava muito de loja. Gostava muito do fato de você depender muito de você, pro seu resultado. O Direito começou a me incomodar um pouco, porque eu via que, tipo, você era advogado, mas você, pra ter o resultado que você desejava, dependia um pouco de todo mundo. Porque você depende do delegado, você depende do promotor, você depende do juiz, você depende do analista, você depende do escrivão, você depende... era tudo muito moroso, sabe? E aí isso me incomodava um pouco. Mas eu adorei a faculdade. Assim, eu acho que Direito é uma coisa que se, todo mundo tivesse a oportunidade, deveria fazer, porque ela serve pra vida.
(20:59) P1- É verdade. Karla, você sentiu algum impacto, assim, quando você mudou pra Rio Preto? Rio Preto é uma cidade muito grande, né? A gente estava aí, fazendo pesquisa, antes de começar a pandemia. Eu me assustei com o tamanho de Rio Preto, que eu não conhecia, né? E aí eu conheci muitos bairros, tal. Eu falei: “Nossa, cidade imensa!”.
R- Na verdade, todo mundo que é aqui da regiãozinha, dessas cidades pequenas tipo Poti, Bady Bassitt, Cedral, Mirassol, até José Bonifácio, Ibirá, todo mundo conhece, muito, Rio Preto. Então, Rio Preto, já meio que fazia parte da minha vida. Desde os dezessete anos eu vinha. Então, você vem pra Rio Preto pra ir ao médico. Você vem pra Rio Preto pra passear. Você vem em Rio Preto pra trabalhar. Eu vinha pra fazer faculdade. Tudo era Rio Preto. Então, eu já tinha muito contato com Rio Preto. Eu já sabia andar em todas as ruas. O básico, né, que eu não sou muito boa de localização. Mas isso em qualquer lugar. Mas eu já sabia o básico de tudo. Então, Rio Preto faz parte. Ela é a cidade grande que a gente tem aqui perto, né? Pra sair à noite, a gente quer vir num barzinho, é Rio Preto. Então, quando você começa a passear, você quer ir numa boate, tudo é Rio Preto.
(22:10) P1- Tudo é em Rio Preto, né?
R- Tudo. Shopping...
(22:14) P1- É verdade. E aí você se interessou pelo comércio, né? E como você chegou a imaginar a entrar no ramo?
R- Eu gostava muito do Rio Preto Shopping, que é o shopping que eu tenho loja, aqui.
(22:29) P1- Sim.
R- Eu só vinha passear nele. E aí eu fazia faculdade. E a faculdade era próxima. E eu amava o ambiente. Eu me sentia feliz. Eu achava o máximo, vendo os lojistas de shopping aqui. E eu até conhecia alguns que eram de Poti, que tinham algumas lojas, eu os via passando, assim, parecia tão inalcançável. E esse shopping é muito movimentado, é uma energia gostosa. Então, o meu sonho era ter uma loja em shopping, era ser lojista. Quando eu estava na faculdade e comecei a frequentar, eu vi que eu queria ser comerciante, eu vi que eu queria viver do varejo, da venda, de negócios. Mas que eu queria ter uma loja em shopping, não em rua. Tem gente que fala: “Você é louca. O aluguel é altíssimo”, isso, aquilo. Eu falo: “Shopping, das duas, uma: ou você ama, ou você odeia. Não tem meio termo”. Eu sou das que amam.
(23:17) P1- Sim. E aí como, depois, você resolveu, assim, deixar um pouco de lado o Direito e entrar mesmo?
R- Aí eu me formei. Aí eu prestei OAB, no quinto ano da faculdade, passei. Aí eu comecei a advogar com o pessoal da minha cidade, lá de Poti. Eu comecei a advogar com eles. Mas, assim, não era o que eu esperava. Eu esperava até um pouco de glamour, né, do advogado e tal. Mas não tinha nada disso. Cidade desse tamanho, todo mundo conhece todo mundo, todo mundo queria favor. As pessoas iam lá, sentavam na sua frente, ficavam duas horas contando o problema, o caso, a vida. Você resolvia, ela levantava e ia embora. Não tinha valor. Sabe aquele negócio: “Santo de casa não faz milagre”?
(24:06) P1- Sei.
R - E aí eu até fazia algumas coisas criminais. Eu lembro de ter tirado algumas pessoas da prisão. Um cara que foi preso enganado, que estava do lado, roubaram o gado, acharam que era ele. Entrei com habeas corpus em São Paulo, soltei. O senhorzinho me amava. Tipo: quando você solta alguém, é Deus no céu e você na terra, né? E aí eu gostava, mas eu percebi que eu gostava muito do Direito quando eu estava no Ministério Público, com o promotor. Quando eu comecei a advogar, eu vi que eu já não gostava muito. E aí eu falei: “Eu vou estudar para concurso”. Já estava casada. O meu marido era muito conhecido lá na cidade. Ele tinha sido vereador, ele tinha sido candidato a prefeito, ele tinha fazenda lá na região. E aí um dia ele falou: “Não sei por que você está estudando, porque eu nunca vou mudar. Só se você mudar sozinha”. Aí eu falei: “Gente, então pra que eu estou estudando pra concurso, se eu não vou embora?”. Porque mesmo delegado no estado de São Paulo, você passou, você não pega a região, você pega a capital e lá você fica dois, três anos, até vir. Estou falando “delegado” porque, em tese, eu passaria mais rápido, né? Coisa de um, dois, anos eu passaria no de delegado. Promotor e magistratura é mais demorado.
(25:16) P1- Certo.
R- E aí eu encuquei com isso, né? Eu falei: “Bom, eu estou estudando à toa”, mas continuei. Aí eu queria muito engravidar, né? E eu engravidei com vinte e sete. As crianças nasceram. E aí estava tudo perfeito. E falei: “Nossa, está tudo bom, né? Sou casada. Tenho filhos. Está tudo do jeito que eu quero”. Aí eu comecei a me conhecer muito, sabe? Fiz coaching, curso com Roberto Shinyashiki, eu ia muito pra São Paulo. Eu gosto muito de desenvolvimento pessoal. Tanto que todo mundo me fala: “Você é coach?” “Não. Eu não sou coach”. Então, acho que por isso que, às vezes, as pessoas gostam. Eu até falo bastante no Instagram, tenho bastante seguidores. Eu acho que as pessoas se sentem próximas, até mesmo por eu não ser nada, eu não sou psicóloga, não sou coach. E aí eu passei a me conhecer muito, eu falei: “Não. Eu já sei onde está o problema. O problema está que eu não estou feliz no trabalho”. Eu falei: “Agora que eu tenho filho e está tudo bem, eu tenho que mudar”. E aí o sonho do shopping começou a aumentar, aumentar, aumentar. E aí, lá no condomínio onde eu morava, em Potirendaba, a diretora desse shopping, que é até hoje, que é o braço direito da proprietária, que faz as negociações, que resolve tudo, morava nesse condomínio. Aí, um dia eu fui conversar com ela e falei: “Nossa, eu tenho uma vontade de ter loja no shopping! Uma vontade tão grande”. Ela: “Nossa, se eu soubesse! Esses dias surgiu uma oportunidade, a Cacau Show, a pessoa está repassando. Mas já foi. Não tem mais” “Ah, que pena!” - eu falei - “mas enfim, eu estou aí”. Passou mais ou menos uns dois meses, ela me ligou de novo, que a Cacau Show tinha voltado pro campo: “Olha, a Cacau Show voltou, tal. Mas é super difícil. Você tem que ser aprovada como franqueada. A antiga franqueada está pedindo super, do ponto, do lugar, porque é a melhor Cacau Show da região, a que mais vende na Páscoa, que isso, que aquilo”. Aí eu comecei a me apaixonar por franquia, nessa época. Eu comecei a estudar tudo. Eu fazia o estudo de caso do... como é que chama o cara lá do Wise Up? O Flavio Augusto. Eu fazia o estudo de caso do Flavio Augusto. Eu comecei a ler tudo. E me apaixonei pelo dono da Cacau Show, o Alexandre não sei das quantas, eu esqueci o nome dele, o Alexandre. Eu sabia a história dele, inteira. Eu assistia todas as palestras dele. Eu sabia o que ele fazia, como ele começou, como foi a história da Cacau Show, isso e aquilo. E eu falei: “Não. Eu quero uma Cacau Show. Quero uma Cacau Show”. Virei a doida da Cacau Show. Fui pra São Paulo, conheci a fábrica. Fui aprovada em todos os testes, o cara falou: “Não. Você é super perfil. É o que a gente precisa, tal”. Na hora H, de fazer o repasse, essa loja aqui era muito boa, nesse shopping, a franquia quis que fosse deles, virou loja própria. Eles compraram. Eles têm direito de preferência, né? Todo franqueador tem direito de preferência, no repasse. E eles pagaram um milhão e virou loja própria. E aí eles ficaram me ligando, me ligando, pra eu montar em outro lugar, pra eu montar em José Bonifácio, pra eu montar lá em Poti, pra eu montar nessas cidadezinhas pequenas. Mas aí eu já estava, na minha cabeça, que o que eu queria era um negócio no shopping. Eu disse: “Não tem como ter duas Cacau Show no shopping, né, que só pode ter uma. E a que tem é deles. Então, eu vou começar a ver outra coisa”. E aí eu comecei a falar com ela das possibilidades, do que eu queria. Eu ia pra São Paulo e eu via muita farmácia em shopping. E achava legal, achava movimentado, tal. E aí, aqui em Rio Preto tinha acabado de abrir uma, mas não estava legal. Aí um dia ela falou comigo. Tinha só oito meses. Era um ponto muito bom, no principal corredor do shopping. Era tudo o que eu queria, tipo, a galinha dos ovos de ouro. Mas eu falei: “Meu Deus, como é que eu vou trabalhar num negócio que eu não sei, né? Por que, como é que você cobra?” Mas, assim, nesse começo de Cacau Show, eu frequentei o Sebrae, vinte e quatro horas. Eu virei uma rata do Sebrae. Eu sou muito parceira do Sebrae. Eu comecei a estudar empreendedorismo. Eu assistia curso, curso pago, curso gratuito, curso no Youtube. Então, eu sabia tudo de vendas, marketing, liderança, finanças. Eu sempre gostei muito de matemática, esse tipo de coisa, mas estava bem por fora. E eu comecei a ficar muito em cima, CMV, coisas que, se eu falasse, na época, com alguém que era proprietário de loja, talvez não soubesse. E eu sabia. Eu não tinha a vivência, ainda. Mas rapidinho, como eu queria muito ter e eu queria muito fazer o meu negócio dar certo, eu sabia que na hora certa ia vir, eu queria estar preparada.
(29:51) P1- Certo.
R- Então, eu lia sobre liderança, sobre fazer reunião, sobre motivar. Eu nem tinha quem motivar, eu nem tinha equipe nenhuma. Mas eu já sabia, quando eu tivesse, como eu ia fazer.
(30:01) P1- Certo.
R- E aí deu certo, eu comprei a Farmais. Foi meu primeiro negócio, que é uma franquia no Rio Preto Shopping, no corredor principal do shopping.
(30:13) P1- Mas Karla, a Farmais já estava lá, ou você que adquiriu o direito da franquia, pra montar lá?
R- Eu que adquiri o direito da franquia. Mas ela estava, já tinha seis meses. Aqui no shopping tem um moço que era proprietário da Melissa. E aí a Melissa começou a vender muito bem, vender muito bem, tal. Ele quis montar, mas meio que no meio do caminho, ele não queria mais, entendeu? E aí foi quando eu entrei e me responsabilizei pela farmácia.
(30:42) P2- Isso foi em que ano, Karla?
R- Isso foi ______ (30:47) há quatro anos atrás. Cinco anos atrás.
(30:51) P2- Ok.
R- Cinco anos atrás. 2017? 2016.
(31:01) P1- Eu acho interessante no seu relato, até agora, que a gente já entrevistou quase noventa comerciantes, até gente que tem franquia. Mas todos eles foram apaixonados, assim, impulsionados ou apaixonados por um ramo de negócio que eles queriam ter. Você é ______ (31:21) empreendedorismo da franquia, né? Tanto é que você primeiro tentou o ramo de chocolates e depois o de farmácia. Você queria administrar alguma coisa no ramo de franquia, não é isso?
R- Exato. Eu queria administrar alguma coisa no ramo de franquia, nesse shopping.
(31:40) P2- Tem também a questão desse shopping, né? De ter que ser nesse shopping.
R- Nesse shopping. É. Eram essas as minhas principais motivações.
(31:49) P1- Sim. Mas aí, depois, você teve que estudar um pouco o ramo de farmácia, né, pra entender?
R- Sim. Aí, nossa! Aí eu fui ver o quanto era complexo. Contratei um consultor pra me ajudar. Mas eu sempre estive a par de tudo, sabe? Eu aprendi a fazer compra. Eu comprava, eu negociava. Eu diminuí o meu CMV, eu brigava por causa de centavos. Eu ficava aqui até tarde. Eu sempre falo: quem toca uma farmácia, porque é tanto fornecedor, é tanto produto, é tão complexo, que depois você consegue tocar outro negócio. Acho que eu comecei pelo mais difícil.
(32:25) P1- Sim. E você sabe, basicamente, assim, explicar a diferença ______ (32:30).
R- Cortou. Eu não ouvi.
(32:36) P2- Luis, deu uma travada aí, Luis.
(32:39) P1- Travou aqui? Estão me ouvindo?
R- Agora eu estou.
(32:43) P2- Tenta agora.
(32:46) P1- Então, Karla, se você sabe, assim, qual é a diferença de uma pessoa que monta uma farmácia própria, numa cidade e pega uma franquia de farmácia, assim? Qual é a vantagem de pegar franquia?
R- Então, na verdade, eu tive as duas experiências, né, porque eu peguei uma franquia e a Farmais, no meio do caminho, quebrou. Não a parte da farmácia. Era a holding, que incluía várias outras coisas. Agora ela está boa de novo, porque seis franqueados compraram. E aí tudo mudou.
(33:16) P1- Sim.
R- Mas o principal: poder de compra. Porque uma franquia negocia, por exemplo, pra quatrocentas farmácias. Um farmacêutico de bairro, uma farmácia de bairro compra só pra ele. Então, é diferente você ligar no laboratório da Dorflex, por exemplo, o Sanofi e falar: “Eu quero negociar dezoito milhões de caixas de Dorflex”, ou o senhorzinho sozinho ligar e falar: “Eu quero negociar oitenta caixas de Dorflex”. O principal é o poder de compra.
(33:45) P1- Sim, entendi. E aí? Aí você se sentiu realizada com a farmácia, né? E quais foram os próximos passos, assim? O que você começou a querer fazer, assim?
R- Então, o sonho de chocolates ainda coçava em mim. Aí surgiu a oportunidade de um outro ponto, aqui. Eu já tinha pagado a farmácia, o ponto pro shopping. Eu tinha dividido em dez parcelas, eu pagava todos os meses, o cheque, bonitinho. E aí surgiu uma oportunidade. E eu comecei a pesquisar outras franquias relacionadas a chocolates e me interessei pela Havanna. Sabe, do Alfajor, a marca argentina? Aí eu abri.
(34:31) P1- Como que chama, mesmo?
R- Havanna.
(34:34) P1- Havanna.
R- É. E aí eu abri aqui no shopping uma Havanna, ali do lado do cinema. E aí foi onde eu me perdi um pouco. Apesar de eu saber de gestão e tudo o mais, eu achei, nos meus cálculos, que eu ia vender muito café. Um cafezinho a seis e sessenta, você tem que vender muito, pra pagar uma operação de shopping, né? E aqui no shopping já tem onze cafés. Então, a farmácia, eu sou a única. Então, é totalmente diferente. E aí eu tinha um custo alto, porque custo de ocupação, mercadoria, bastante funcionário por causa do horário, pra atender e tal. Horário de pico tinha que ter cinco ou seis meninas lá, depois ficava mais fraco. E aí eu comecei a ficar apertada e tirar dinheiro de uma operação sólida, pra pôr lá. Eu fiquei com a Havanna quase dois anos, um ano e oito meses. Quando veio a pandemia, no ano passado, em março, eu já queria vender desde dezembro. Eu falei: “Eu vou esperar passar o Natal, né? Porque vende muito bem o panetone”. E todos os meses eu já tirava dessa operação, pra pôr lá. Então, essa era sólida, eu pagava as contas da sólida e tirava o lucro, pra manter a que estava ruim. E aí eu já estava vendo que isso, tipo, eu não sou de dar murro em ponta de faca, sabe? Eu faço a minha parte pro negócio acontecer. Mas eu vejo muita gente quebrar por isso, por orgulho, por vergonha, ou sei lá o quê. Eu não tenho esse problema. E aí veio a pandemia. Quando veio, eu estava com toda a Páscoa comprada. Não parei. Liguei pra um, liguei pra outro. Aí eu falei: “Bom, eu preciso chegar com os ovos, onde as pessoas estão. Onde as pessoas estão? Em posto de combustível ou supermercado”. Supermercado já tem ovo, né, da Nestlé, da Lacta _________ (36:29). Aí consegui um contato de uma rede aqui de Rio Preto, que até ele participa da minha rede, da Voa, por isso que eu tinha o contato dele. Aí eu peguei, liguei e falei: “Ó, vamos colocar meus ovos consignados nas suas conveniências?” “Não. Vamos. Trinta por cento é meu”. Eu falei: “Vamos”. Aí eu coloquei. Já dei desconto, porque eu queria que acabasse, mais os trinta por cento dele. Mas pelo menos eu levantei, pra pagar toda a mercadoria.
(36:54) P1- Certo.
R- Paguei tudo. E aí eu queria fechar. Queria fechar. Queria fechar. Porque eu falei: “Como é que eu vivo de Ifood? Porque eu não posso entregar café, o café chega frio. Eu não posso entregar sobremesa que é batida com sorvete, o sorvete chega derretido, né?”. Além do delivery representar uma fatia bem menor, o meu delivery era quase zero. E aí eu: “Não. Eu vou fechar. Vou fechar. Vou fechar”. Aí entra a negociação com o shopping. E entra multa com a franquia. Entra tudo. Aí eu coloquei no grupo, que eu estava vendendo. Eu nem tinha negociado com a franquia, nada ainda. Um cara do nordeste falou: “Eu compro tudo, que eu estou montando outra”. Vendi a preço de banana, né? Tipo: pra ele foi um negócião, mas pra mim também. Quem ia comprar um forno de quarenta mil reais, né, muito específico? Então, vendi pra ele pela metade. Mas pelo menos não perdi tudo, né? Aí já fiz isso ______ (37:54) em frete. Aí eu já negociei com o shopping pra fechar. Mas aí, para eu sair, eu perdia. E o ponto era meu e eu tenho um amor pelo shopping, né, que eu já contei. E aí, eu queria muito pôr outra coisa lá. Mas tinha que ser uma coisa rápida, que eu não gastasse, porque eu já estava vindo apertada. E, assim, pra ontem, pra eu não ficar pagando aluguel, fechada. Uma outra menina que era da minha rede, também, a Gabi, que hoje é minha sócia, um dia a gente conversando, tomando um café, ela tinha aberto uma loja de semi-joia no Georgina, que é um lugar aqui de médico, sabe, não tem fluxo. E ela falou: “Nossa, o meu sonho era ter uma loja no shopping”. Eu já liguei a anteninha assim, fiquei ouvindo, tal. Ela falou: “Nossa, mas está tão difícil, né? Agora fechou”, isso e aquilo. Eu falei: “É o seguinte. Está difícil pra todo mundo. Eu tenho uma coisa, você tem outra. Eu tenho o ponto. Você tem mercadoria”. Eu falei: “Vamos virar sócias?”. Ela: “Oi? Nossa, tantas amigas já quiseram ser minha sócia. Eu nunca quis ser sócia de ninguém”, não sei o que. Eu falei: “Nem eu. Eu nunca tive sociedade. Mas pensando no momento. E diminuir percas”. Aí tinha que dar muita coisa certo, pra isso acontecer. Eu coloquei nas mãos de Deus e todas essas coisas começaram a dar certo. O shopping aceitar marca, porque não era franquia, então o shopping tinha que aceitar a marca. O lugar que ela estava saindo não cobrar multa dela, porque ela estava lá só há quatro meses. Ela conseguir vender as coisas que ela tinha colocado. Eu conseguir negociar mais um monte de coisa. Eu fui resolvendo o meu lado, ela resolvendo o lado dela. Deu certo. Em julho, nós abrimos a nossa loja lá no mesmo ponto que eu tinha, que era do lado do cinema.
(39:41) P1- Certo.
R- Que é de semi joia, acessório de luxo. A gente vende bolsa, semi joia, pulseira, dãrara, ______ (39:50), de tudo um pouco. Até itens de casa, algumas coisas.
(39:53) P1- Como é que chama a empresa?
R- Oi?
(39:56) P1- Como é que chama a loja?
R- Hoje, ela chama GK Store. G de Gabriela, K de Karla e Store. Mas quando nós montamos lá, ela chamava Gabriela Motta Store, o nome da minha sócia. Ela veio com o nome dela, porque ela já tinha as clientes e tal. Aí as pessoas foram entendendo que eu era sócia, entendendo que a gente estava junto, o porquê da gente estar no shopping. Aí eu comecei, aí eu vi que o shopping começou vagar, né? Porque crise, todo mundo fechando, todo mundo saindo, todo mundo apertado. E aí eu vi uma oportunidade, eu falei: “Ou é agora ou nunca, pra eu trocar de ponto”. Aí eu entrei em contato, eu falei: “Olha, eu sou super parceira de vocês. Eu não devo nada, está tudo em dia. Enquanto está todo mundo fechando, eu abri uma loja nova. O shopping abrindo seis horas só por dia, eu investi, porque eu confio na retomada. E isso. E aquilo. Mas eu quero que vocês me ajudem. Eu quero trocar de ponto, o meu ponto está muito ruim, não dá pra eu ficar aqui”. E aí eles me deram um ponto muito bom. Adivinha aonde? Do lado de quem? De quem eu sou vizinha, de muro?
(41:01) P2- Da Cacau Show?
R- Da Cacau Show. Juro. Quando eu vi, eu não acreditava. Eu falei: “Não. Não pode ser”. Mas é um corredor ótimo, excelente, de fluxo. Eu saí do lugar que eu estava, que estava muito ruim, fui pro lado da Cacau Show. Nós negociamos, paguei a mudança, tal, a reforma. Aí eu mudei de nome. Isso é super recente, isso tem pouco tempo. Aí virou GK Store. Amanhã a gente lança a nossa e-commerce.
(41:29) P1- Olha! Legal.
R- E aí aconteceu tudo isso. em um ano.
(41:34) P1- Em um ano. E, voltando um pouquinho, no começo da pandemia, eu lembro que a gente estava aí em Rio Preto. Tivemos que voltar, que fechou tudo, né?
(41:44) P2- É.
(41:45) P1- Mandaram a gente pra cá. E fechou tudo mesmo, né? Como é que você se virou na farmácia, lá? A farmácia pode fazer entrega, né? Aí não teve problema? Ou teve?
R- Não. Teve super. Porque a gente vive do fluxo, né? Então, a entrega na primeira... a primeira vez que Rio Preto fechou foi março e abril. Vinte e três de março do ano passado, o dia do aniversário dos gêmeos, fechou. Aí ficou março, abril inteiro, maio inteiro. Abriu primeiro de junho. O meu delivery representava treze por cento. Esse ano, quando fechou, teve lockdown, fechou de vez de novo, nós ficamos dois meses fechado, o meu delivery representou trinta por cento. Minhas entregas já aumentaram, sem eu ter um serviço específico de entrega. Assim, porque a gente trabalha o whatsapp e a rede social. Eu tenho um Instagram bem movimentado, eu tenho setenta e quatro, setenta e cinco mil seguidores. Porque eu dou bastante dica, falo da farmácia, falo de acessório. Então, o Instagram que me ajudava muito. Aí, pra pagar os fornecedores, eu fazia promoções de alguns itens: leite, sabe, que as mães compram bastante, as fórmulas infantis. Eu vendi um pouco a mais do custo, pra cumprir com os meus fornecedores, entendeu? Pra honrar.
(43:01) P1- Legal. E como é que funciona a propaganda dos seus empreendimentos, assim? A farmácia já tem a propaganda própria da franquia, né? Ou você que tem...
R- É bem fraco. A franquia tem o dela, mas é bem pouco. Na verdade, cada uma tem o seu Instagram. E cada uma cuida do seu. Os meus negócios eu divulgo muito na minha rede social. Tanto um, quanto o outro. E faço parcerias aqui.
(43:27) P2- É. Pelo o que eu entendi, você engloba tudo na sua conta do Instagram, né?
R- Isso.
(43:31) P2- E você dali, você...
R- Isso. Eu vou falando na minha. Então, eu vendo muito pra mãe, eu vendo muito pra mulher. Porque hoje em dia, a farmácia é uma drugstore, né? A minha venda de medicamento é sessenta por cento. Mas quarenta por cento são outros tipos de item. Então, eu vendo produtos de academia. Eu vendo linha infantil. Eu vendo as gominhas pro cabelo e pra unha, que está um sucesso agora. Eu vendo tudo, tudo. Tenho dermocosméticos importados como SkinCeuticals, Vichy, La Roche. Então, eu fui agregando assim. Um dia, eu contratei uma moça pra me ajudar no marketing e ela falou assim: “Por que você não fala?” Há quatro anos. Ela falou assim: “Você fica pedindo pra sua farmacêutica falar?”. Eu falei: ”Ah, porque eu não sou farmacêutica”. Ela: “E daí? Você não é farmacêutica, mas você é mulher. Você usa tudo isso. Você tem uma boa aparência. Por que você não começa a falar dos produtos?”. Eu falei: “Nossa, verdade”. E aí eu comecei a falar e deu muito certo. Foi bem legal.
(44:27) P1- Que legal! E propaganda tradicional, tipo, rádio jornal? Isso aí está caindo em desuso, né? Você não faz?
R- Não faço.
(44:37) P1- Não faz?
R- Não faço. Rádio e jornal, nada. Eu faço algumas coisas com o shopping, nas redes sociais do shopping. Alguma coisa com influenciadores. Tudo o que eu faço, na verdade, é on line, assim, hoje em dia.
(44:52) P1- Legal. Karla, conta um pouquinho do grupo empresarial e porque chama, também.
R- Então, aí eu era superfã do Sebrae, fazia tudo lá e tal. Eu já tinha a farmácia. A Havanna estava abrindo, super novinha, um mês, dois. Me falaram do Empretec do Sebrae. E eu fui fazer. Chegou lá no Empretec, me chamou muito atenção que setenta por cento da minha turma ia lá na frente e falava: “Eu vim buscar network”. Vinha outro: “Eu vim buscar network”. E eu cheguei lá: “Não, eu vim buscar conhecimento. E ver se eu estou dentro do perfil de empreendedor”. Porque a Empretec estudou os perfis empreendedores. Mas eu fiquei muito com isso na minha cabeça. E aí eu fui líder. Eu sempre sou líder, assim. Tudo eles me apontavam, eu fiz amizade, falei com um monte de gente. Aí sempre que a pessoa falava alguma coisa, era eu: “Ah, porque quem ganhou essa atividade é uma mulher, que é uma super empreendedora. Ela é inteligente”. Todo mundo: “É a Karla, é a Karla”. Nem era eu, era outra. Aí eu falei: “Não é que eu levo jeito mesmo, pra isso?”. E aí acabou o curso. Todo mundo lá do Sebrae tentando conectar a turma, ninguém estava nem aí, nem conversava muito mais no grupo, tal. Eu falei: “Não. Eu vou criar uma rede de negócios”. Eu tinha como base o Lide do João Dória. Na época eu o admirava, o achava o máximo. Como a gente perde as admirações, né? O achava inteligente, culto. E eu achava o Lide muito legal, a ideia de unir pessoas com o mesmo propósito, pra falar de negócios e tal. E eu me inspirei no Lide, pra criar a Voa. Eu falei: “Eu vou criar uma rede menor”. É óbvio, porque o Lide tem no país inteiro, até fora. “E eu vou criar uma rede pra conectar empreendedores”. Com um custinho bem menor que o Lide também, que o Lide é caro, anual. E vou promover encontros, rodadas de negócios, café da tarde, café no Sebrae e quem for filiado vai participar. Aí eu não tinha nome. E aí um dia, pensando, pensando, eu falei: “Ah, eu preciso de alguma coisa que me remeta a um animal do empreendedorismo”. Aí eu pensei na águia e no tubarão. Só que o tubarão eu lembrei que já tinha o Shark Tank, da Cris Arcangeli, da Camila Farani, eu falei: “Ah, é muito copiona, muito sem criatividade”. Aí eu continuei pensando, pensando, falei: “Eu queria uma coisa forte e simples”. E aí veio na minha cabeça a águia. E por causa da águia, voa. A águia voa, né? E a águia tem tudo a ver com empreendedorismo, que tem toda aquela história, que quando ela está com quarenta anos, ela tem que subir e tirar a unha, tirar a pena, quebrar o bico. Nasce o bico, nasce a pena, nasce a unha, voa por cima, tudo aquilo da águia. Eu falei: “Vai chamar Voa Rede de Negócios”. E aí eu contratei uma empresa de marketing pra me ajudar a criar logo. Aí ela me mandava umas coisas que eu não gostava. Ela me mandava umas coisas que pareciam com a Honda. E aí foi, foi, eu falei: “Não. Eu quero uma coisa simples, uma Voa que remete aquele passarinho do desenho, sabe, que toda criança faz? Aquele passarinho assim, facinho?
(48:00) P2- O vezinho ali, né?
R- É. Eu falei: “Eu quero alguma coisa que me remeta a isso”. Aí ela fez uma que eu adorei, simples, clean. “Voa” escrito em vermelho, embaixo “Rede de Negócios”. Eu falei: “É essa”. E, na época, assim todo mundo ficou doido, todo mundo achou o máximo a ideia, todo mundo achou o máximo o nome. Todo dia me surgia um sócio novo. Todo dia alguém queria entrar e participar: “Mas como que conseguiu? Como que é sua? Como que...”. Eu comecei a ficar super conhecida na cidade, porque as pessoas queriam participar dos encontros. Aí um monte de vantagem, desconto no Hot Beach, que é o parque olímpico aqui perto. Como que chama? Thermas dos Laranjais, Hot Beach, que é aqui em Olímpia. Desconto nesses lugares pra quem participa de grupo. Trouxe o Geraldo Rufino na primeira palestra, desembolsei do meu dinheiro, aí falei: “Eu tenho certeza que eu trazendo-o, vai ser um chamariz”. Foi dito e feito. Tipo: no dia que eu o trouxe, eu tinha vinte pessoas, no outro dia eu tinha sessenta. Então, eu paguei e depois eu peguei de volta. O trouxe, aí superlegal, todo mundo entrando, entrando. Aí tinha gente que se frustrava. Porque tem gente que, às vezes, espera... o que um grupo de negócios te oferece? Network, conhecimento. Porque eu sempre trouxe gente muito boa. Trouxe o Leandro Branquinho pra falar de vendas. Nunca trouxe gente pra ficar enchendo linguiça, sabe? Porque eu ouvia muito essa queixa das outras redes. É network, conhecimento e benefícios, que eram os descontos. Mas aí tem gente que vem, não conversa, é tímido ou não participa e acha que vai cair do céu. E aí tinha gente que não estava satisfeito e tal. Me tomava bastante tempo. Tinha encontro uma quarta sim, uma quarta não. Mas estava indo muito bem, até vir a pandemia, porque não podia mais encontros. Então, na verdade, todos os meus segmentos foram muito afetados com a pandemia, né? Eu tenho duas lojas em shopping, que o shopping foi fechado. Porque o comércio é o vilão da história, né, não são os erros dele, é o comércio. E aí o outro é encontro. Por mais que a gente fazia encontros pequenos, alguns. Porque pode ter cinquenta pessoas na rede, no encontro vão vinte, trinta, cada um... é rotativo. A gente vai falar de RH, por exemplo, tem gente que acha legal e vai, tem gente que não vai. Aí você vai falar de marketing, como todo mundo quer saber muito, hoje em dia, lotava. Vai falar de finanças, ia quase ninguém. Então, depende do que era o tema. E aí que zerou. Março do ano passado zerou, aí eu comecei a fazer on line. No começo, eu acho que as pessoas não tinham outra opção e não tinham tanto acesso como ficou depois, ninguém aguentava. Eu fiz todos os encontros on line de abril até outubro do ano passado. Trouxe a Cris Arcangeli pra falar com a gente. Trouxe o Gustavo Coelho do Google Ads. Foi bem legal, fui movimentando. Aí o que aconteceu? Todo mundo parou de pagar. Como é que eu cobrava deles, se eu não estava entregando? Porque, quando eu fazia os eventos, eu pagava locação, eu pagava um coffee break superlegal, eu levava sempre alguma coisa de bebida legal, diferente, pras pessoas ficarem conversando e tal. Eu não estava oferecendo isso. Então, tudo o que eu consegui foi parceria, amizade. Porque eu falei: “Eu não vou cobrar de ninguém. Eu não tenho cara”. Como é que eu ligo pra pessoa que está com o negócio dela fechado, falar pra ela que ela tem que pagar a afiliação da rede, entendeu? A pessoa já está sofrendo, não tem nem dinheiro pra pagar os funcionários. Eu sabia como estava a minha situação. Então, não cobrei ninguém. Deixei meio que paralisada, tendo esses encontros on line, um só por mês, sempre uma pessoa legal. Aí estava indo bem. Eu senti que os últimos foram decaindo, que as pessoas já estavam bem cansadas do on line. Aí, em novembro do ano passado, aqui em Rio Preto, as coisas estavam boas. A gente fez um encontro presencial numa escola nova, que entrou, de oratória, na Vox2you. Aí a gente fez, foi bem legal. Dezembro também a gente fez alguma coisinha. E aí depois já começou fevereiro fechando tudo de novo, né? Aí os nossos encontros presenciais pararam de novo. E agora nós estamos na espera de poder retomar.
(52:15) P1- Agora está abrindo de novo, está aberto aí, né? Aqui, pra nós...
R- Está. Está aberto. Agora, pode barzinho, encontro, assim, até nove, né, aqui. Agora está desse jeito. Mas eu preciso retomar - inclusive pra fazer encontros presenciais - os recebimentos, né? Pra gente fazer uma coisa bem legal, bacana. Eu quero trazer um palestrante show, atrativo, de novo, pra todo mundo querer participar. Eu até cotei alguns. Mas tem alguns que estão bem fora da nossa realidade. Tipo, Thiago Nigro. É bem fora da realidade aqui do interior, né? O valor deles, de palestra, tem que ser aqueles eventos em São Paulo, enormes, pra três mil pessoas, que aí paga, né? Agora, como eu vou trazê-lo pra um evento fechado, de trinta?
(53:05) P1- Não dá, né?
R- Não dá.
(53:07) P1- É verdade. Viu, ô Karla, como é que você negocia esses descontos que os seus associados têm, assim? Deve ser difícil você convencer o cara...
R- Eu sempre falo pra eles que, pra ser mais atrativo... depois eu fui melhorando. Como no começo era tudo muito novo, eu que criei, eu tinha só uma funcionária que trabalhava comigo, eu ia pedindo, ela ia fazendo. Aí a gente começou a melhorar. Todo mundo que entrava, indicava três pessoas. Todo mundo tinha que colocar no grupo qual era o benefício que ele estava dando. Então: “Ah, eu tenho uma clínica de estética. Eu coloco botox”, sei lá: “Eu dou dez por cento pra quem é da VOA”. Tem uma moça que vende lingerie. Inclusive, ela tem as revendedoras que revendem pra ela, então a marca dela, Duzani, a gente tem quinze por cento de desconto. Não é fixo, porque tem gente que tem uma margem, que consegue trabalhar com um desconto maior, tem gente, menor, né? Mas todo mundo tinha os benefícios. E aí, nos encontros, eu também promovia bastante sorteio de brindes. Eu lembro que um dos últimos, entrou um moço, coitado, até, depois na pandemia... outra coisa que aconteceu na pandemia: muita gente do meu grupo deixou de existir, mesmo. Que nem uma moça que vendia salada, era superlegal. Sabe salada naquele pote? Ela entregava, até. Ela deixou de existir, porque as pessoas cortaram. Então, quem comprava uma salada no pote, pagava quinze, dezoito reais, começou a fazer em casa.
(54:35) P1- Sim.
R- Então, a moça da salada fechou. Tinha um moço que tinha tipo um lava-jato, mas era uma proposta diferente, que ele buscava o carro, lavava no lugar, meio que a seco. Fechou. Nossa, coach, tinha uns quatro coachs no grupo, eu devo ter um. Vários coachs, tipo, um coach era administrador, procurou outra coisa pra fazer, porque não conseguia fechar trabalho. Então, também diminuiu. Então, além de pessoas saírem por não terem mais condição de pagar, algumas deixaram de existir.
(55:09) P1- Sim. Ô, Karla, você... no comércio, falando especificamente do comércio, o que você acha que é o mais difícil? Porque tem várias atividades, né? Você tem que atender o cliente, você tem que falar com o fornecedor, comprar. Você tem que pôr preço, que deve ser uma coisa super difícil, você pôr preço, falar: “Quanto que eu posso cobrar nisso aqui?”, né? Você tem que fazer muita conta, né? Cuidar da administração, do dinheiro. O que é o mais difícil pra você? E o que você mais gosta, assim?
R- Olha, eu gosto muito de negociar. Eu gosto muito de pechinchar, mesmo. “Eu compro mais, mas melhora o parcelamento. Ou então eu pago à vista e você me dá um desconto maior”. Isso leva tempo. Então, por mais que eu gosto, é uma coisa difícil. Principalmente na farmácia, porque tem muitos itens diferentes, N fornecedores. Na loja de semi joia, eu tenho quatro principais fornecedores, então é mais fácil. Aqui, não. Tem muita gente, muita opção. Então, eu gosto, mas é uma coisa trabalhosa. E a mão-de-obra, né, os vendedores, os nossos funcionários, eu sempre falo assim: “Tem dia que a gente não está bem. Tem dia que você está com problema. E aí, você não tem quem te motiva. Mas você tem que vir bem e motivar”. Porque eles são a minha energia. Se eu chego bem, animada, feliz, elas também. Tanto que as pessoas desejam trabalhar aqui na farmácia. Como eu falo muito no Instagram e eu as filmo, a gente dá dica. Esses dias eu estava contratando, é um absurdo o tanto de gente que aparece. E aí elas vêm aqui conversar: “Ah, eu te sigo. Ai, nossa, você falou isso, isso, isso”. Até as duas que eu contratei esses dias, na nossa primeira reunião, eu falei: “Olha, nem tudo é aquilo que vocês vêem no Instagram, tá? Nem tudo são flores”. (risos)
(57:02) P1- É diferente.
R- “Não se decepcionem comigo”, porque eu sou exigente, eu cobro. Eu motivo cobrando, sabe? Eu motivo falando, mostrando as coisas boas. As boas e as ruins. Aquele negócio, né? Quando você for dar uma bronca, você dá sozinho. E um elogio no meio de todo mundo. Mas eu chamo pra dar bronca, eu fico em cima. Tudo. Eu acho que você ganha ou perde nos detalhes, nos detalhes.
(57:31) P2- Mas você faz treinamento ou coisa desse tipo, com esse pessoal que você contrata, Karla? Você prefere sem experiência, que você ensine? Ou você já prefere o cara, ou a mulher, sei lá, com uma experiência, já, no ramo?
R- Quando eu estou com a equipe formada, assim, quando eu estou bem e contratando, eu preciso de uma pessoa só, eu gosto sem, pra aprender aqui e estar tudo bonitinho. Mas agora, nesse momento, que eu acabei de contratar, ainda preciso contratar mais, eu estou contratando todo mundo com experiência. Porque eu estava com duas funcionárias. Eu estava com duas. Quando fechou, eu estava com quatro. Fui levando com quatro, pagando todo mundo, tudo certinho. Depois fechou de novo, eu fiquei com duas. Então, eu tenho que criar um time novo. Aí, todo mundo sem experiência não dá, né? Então, agora, todo mundo que eu peguei é com experiência.
(58:20) P2- Já é outro momento, né? É outro time, outra formação, né?
R- Outro momento. Um outro momento.
(58:27) P1- Karla, e como é o seu dia a dia a, assim? Porque você tem as duas lojas, você tem a rede empresarial. Como é que você divide o seu tempo?
R- Nossa, o meu dia é super corrido. Eu sou uma pessoa que, a hora que eu paro, eu desmaio. Eu não tenho esse negócio: “Ai, não dormi bem”. Eu nem sei, que eu só vejo o dia amanhecendo, com o celular tocando e já é hora de levantar, porque eu sou muito acelerada. E é até difícil porque, no dia, você encontra muita gente que não tem o teu ritmo, né? A minha sócia, por exemplo, é uma pessoa calma. A gente foi pra São Paulo fazer compra, eu falei: “Não. desse jeito, nós vamos em um fornecedor. Ou você acelera, ou o dia não vai render”. Ela: “Ai, não te aguento, você é muito acelerada”. Eu sou bem agitada. Eu venho de manhã, eu venho pra cá duas vezes por semana, eu chego de manhã. E três vezes eu chego no período da tarde, porque eu pego as crianças na escola e venho. Então, eu tenho a parte mãe, a parte casa, minhas funcionárias de casa e a parte daqui. Então, pra gerenciar tudo... e o celular que, assim, toma muito tempo, eu até me policio. Porque você está fazendo um negócio e aí você vai responder uma mensagem, você vai ver outra coisa, você perde. Então, eu dedico uma hora pra isso: pra responder mensagem, pra whatsapp, pra Instagram, porque senão eu me perco. Aí eu chego aqui no shopping, eu venho primeiro pra Farmais, faço o financeiro daqui, fecho o caixa, pago o fornecedor. Converso com as meninas. Analiso o CNB do dia anterior, vejo o tipo de itens que elas deram desconto, porque deu tanto, por que deu pouco. Se vendeu pouco, abaixo do que eu esperava. Se o movimento estava devagar, começo a perguntar pros outros lojistas pra ver se, realmente, era o shopping que teve um dia diferente, atípico, ou se o problema estava comigo. Tento ver o humor delas. Falo com a minha gerente, subo com a minha gerente uma vez por semana, a gente traça uma meta de produto da semana. Então, a gente coloca um produto com desconto, pra ser atrativo lá na frente, com um super desconto. Quem vende mais esse produto, ganha uma premiação no próximo encontro. E eu pego sempre uma premiação, de acordo com a pessoa que ganha, vejo o estilo de coisa que a pessoa gosta. Às vezes é dinheiro, às vezes é algum brinde, alguma coisa. Terminei aqui, vou pra outra. Vou pra outra, chego com a minha sócia. Aí a gente faz toda a análise de lá, a parte financeira. A minha sócia é mais focada em vendas, lá. Eu faço o financeiro, o administrativo, conversar com funcionário e tudo o mais. Apesar de eu ser acelerada, agitada e brava, eu tenho muito jeito pra conversar, sabe? Eu chamo a pessoa, eu pergunto se está tudo bem, deixo ela falar. Tipo ontem: eu fui falar com uma funcionária minha e falei: “Você está estranha. Está tudo bem?”, a pessoa já começa a chorar. Ela te conta a vida, está cheia de problemas e você vê que não tem nada a ver com trabalho, né? O trabalho é o último, onde ela não está entregando, porque ela já não está bem.
(01:01:20) P1- Sim.
R- E aí, eu faço toda parte de lá. Aí a gente tem dia pra gravar conteúdo pra Instagram e tal. Geralmente, é de terça-feira e sexta-feira. A gente vem produzida: cabelo e maquiagem. Grava os conteúdos de lá, de acessório. E aí, aqui, eu gravo quase todo dia. Aqui, como tem muitos itens e não precisa estar produzida, porque geralmente eu mostro o produto. Ou mesmo que eu me mostre, eu também não ligo, não tem problema. Então, aqui eu gravo todo dia. E aí eu fico no shopping até seis e meia.
(01:01:50) P1- Sei. Até três e meia.
R- Seis e meia.
(01:01:53) P1- E depois? Seis e meia! E a rede empresarial, já está envolvida nisso? Ou você tem um dia específico pra pensar nela?
R- Então, a rede, agora que eu estou retomando, de novo, né? Mas falando como era, todas as terças-feiras, a moça que trabalha comigo na rede vinha aqui, a gente fazia reunião, estipulava os dois eventos que ia ter, quem ia trazer, onde ia ser. E aí eu delegava pra ela o que eu queria. Muita coisa, ela conseguia parceria. Tipo: o Outback vai mandar isso, isso e isso. Ela que ia atrás dessas parcerias. E aí, nos encontros, todo mundo conhecia, todo mundo divulgava, era legal. Até o Samy's, chegou aqui em Rio Preto, num evento que a gente fez em novembro e eles foram nossos parceiros. Levaram coffee. Estavam lá, filiando o pessoal que estava lá no evento. Eu sempre tento parceria. Mando pra ela com quem eu queria, o lugar que eu queria e ela busca. Ela era gerente de uma ótica, então ela trabalhava comigo e nessa ótica. Na pandemia ela foi demitida. Aí ela ficou só comigo por um tempo. Agora ela já arrumou uma outra coisa, também.
(01:03:01) P1- Legal. Ô, Karla, e quanto ao futuro? O que você pretende pro futuro? Se você tem sonhos, tanto do trabalho, quanto sonhos, assim? Você pretende ampliar?
R- Eu gosto muito do on line, né? Então, eu tenho um projeto de lançar um curso on line. Eu quero lançar um curso que estimule e incentive mulheres a começarem a empreender, qualquer coisa: fazer bolo na sua casa, vender brigadeiro, vender lingerie, vender semi joia. Que seja uma renda extra ou uma renda principal. Sempre que eu falo de empreendedorismo no Instagram, as pessoas ficam muito felizes. Eu dou palestras também. Bom, dava, né? Há um ano eu dava bastante palestras, aqui. Algumas gratuitas, algumas cobradas, algumas pra ajudar, algumas já foi com mulheres carentes. Eu sou embaixadora daquele grupo da Ana Fontes, RME, aqui de Rio Preto, também, pra falar com mulheres carentes e tal. Então, eu gosto muito desse ramo de palestra. Mas agora, como as palestras estão paradas, eu vou lançar o curso on line. Então, eu vou começar a gravar. Vou lançar o curso on line de empreendedorismo. Até vou dar um curso em Poti, não esse domingo, o outro, sobre Instagram. Não sou do ramo de Marketing, mas como eu mexo bastante e como lá a cidade é muito pequena, então elas acham o máximo eu fazer. E eu sei, né? Eu sei do algoritmo, eu sei o horário de postagem, como postar, o que dá certo, o que não dá. O básico eu sei. Elas não sabem nada. Então, um básico. Eu já falei desde o começo, falei: “Gente, olha, eu não sou profissional de Marketing, nada. Então, eu vou ensinar pra vocês, o que eu faço no meu. Mas eu já faço isso há quatro anos, então alguma coisa eu aprendi, né?”
(01:04:53) P1- Certo.
R- E aí eu vou dar esse curso lá, pra elas, no domingo que vem, não nesse, no outro. Mas esse é um projeto. Eu quero fortalecer a Voa de novo, porque ela ajuda muito os empresários, principalmente quem está começando, quem tem dúvida. Conhecimento é tudo, né? E eu vejo que, por mais que a gente tenha acesso a muita coisa no Youtube, muita live boa no Instagram, né? Você encontra live lá o dia todo, de gente muito boa. Mas nada substitui o networking, o presencial, você conversar, trocar um cartão. Você fica na memória da pessoa. Às vezes, você não fecha nada. Às vezes, não, na maioria das vezes, você não fecha nada naquela hora. Mas, quando precisar, a pessoa vai lembrar de você, você fica no subconsciente dela. Então, eu quero fortalecer a Voa. A Farmais, eu quero fazer o e-commerce dela. E da outra loja, eu já vou lançar, quero vender no país todo. Eu quero aumentar muito as minhas vendas no e-commerce, da outra. Lá os acessórios são muito diferentes, sabe? Todas as mulheres que usam, ficam encantadas, porque a gente vende umas marcas muito bonitas mesmo, umas coisas que não encontra em qualquer lugar. A minha sócia é muito boa pra escolher, sabe? Ela tem muito bom gosto. A gente vai junto, mas eu deixo, até, isso mais por conta dela, porque ela já fazia isso há mais tempo. Então, o nosso e-commerce eu acho que vai ser bem promissor. Eu queria muito trocar de ponto, isso, graças a Deus, já deu certo. Já estamos num lugar mais visível, pra que as pessoas passem a conhecer a nossa marca. Meus planos são esses. Eu quero crescer. Óbvio que eu quero ganhar, todo mundo quer, muito, mas eu também quero ajudar. Eu quero ser lembrada, sabe? Eu quero ser admirada. Quero estimular outras mulheres a fazerem seus negócios, a saírem da sua zona de conforto. Só que eu não tenho comigo aquele papo de que é tudo fácil, sabe? “Ai, faz que vai dar certo”. Não. Acho que é isso que as pessoas gostam, porque eu sou bem pé no chão: “Olha, vai ser difícil. Você quer fazer? Você quer mesmo sair do seu emprego? Você quer mesmo fazer isso, isso e isso? Dedica tempo, estudo, dedicação e tudo o mais. Quer? Quer?”. Eu sou bem pé no chão, tipo, as pessoas se sentem próximas.
(01:07:09) P1- Sim. Muito legal. E o que você faz, quando você não está trabalhando? O que você gosta de fazer?
R- Eu gosto muito de estar com as crianças, né? Porque, como é muito corrido, então o tempo que eu tenho... e eles estão numa fase que é deliciosa, está engraçado, que já não dá mais tanto trabalho. Então, a gente até já viajou, nós três e foi super gostoso. É difícil, é puxado. Mas quando era menorzinho não dava. Agora já dá pra gente viajar. Eu gosto muito de visitar a minha família lá de Goiás. Fui pra lá uns vinte dias. Eu gosto de ler, eu leio muito. Mas eu gosto de ler de dia. À noite eu gosto de tomar vinho, sair, conversar. Finais de semana, né, quando dá. Gosto muito das minhas amigas também. Tenho amizades, assim, a gente conta nos dedos, né? Poucas e verdadeiras, assim, que é muito gostoso estar junto, tomar um vinho, conversar, fazer um risoto. Eu gosto muito disso.
(01:08:08) P1- Legal. Muito obrigado, Karla. Gui, você quer fazer mais alguma pergunta?
(01:08:14) P2- Acho que a Karla falou bastante aí com a gente, deu uma entrevista bem legal. Eu não sei, você queria falar mais alguma coisa? Eu fiquei só me perguntando sobre isso, um pouco: você sempre falou, Karla, que você sempre teve essa liderança, parece que você centraliza bastante, mas tem uma certa divisão aí com a sua sócia. Como é essa relação, assim, de vocês duas?
R- Olha, eu vou ser bem sincera: no começo, eu até falo pra ela, parecia um romance, que ia ser tudo lindo, que ia dar tudo certo. Depois o bicho começou a pegar, porque ela fala que eu sou mandona, que eu sou muito líder. E eu falo que ela estava... mas o bom é isso, o diálogo: pra mim, que ela estava fazendo menos. Ela achava que eu estava fazendo menos. E aí eu falava que ela queria dar o passo maior que a perna. Eu sou muito razão, assim. E ela quer fazer sem pensar. Então, eu falo: “Deus colocou a gente, uma no caminho da outra, ou vai dar muito certo esse negócio e graças a Deus, tem dado. Ou eu não sei”. Porque eu a chamo, muito, pra realidade. Eu falo: “Parece que você é minha filha. Parece que você é uma filha”. E aí, agora, está de um jeito tão gostoso que, ela me vê assim e eu a vejo, também, com esses olhos de que precisa mais, sabe? No começo foi perfeito. No começinho. Aí começaram a ter os problemas, a gente se pegava, assim, de conversar, conversar firme: “Mas pra mim está errado isso, isso e isso. Pra mim está errado isso, isso e isso”.
(01:09:41) P2- Uma discussão ali, mas vocês se entendiam sem brigar.
R- É. Sim. Sim. A gente se entendia. A gente conversa muito. Até hoje, aconteceu alguma coisa... agora há pouco, ela falou assim: “Ó, eu estou te falando pra você não achar, porque eu falei que as meninas da Farmais vêm pegar água aqui, pra você não achar que tem problema, tá? Não é isso que eu quis dizer, não foi isso”. Eu falei: “Não. Mas eu não achei isso” “Não, mas eu só quis confirmar que você não achou, mesmo”. Então é muito, muito diálogo. Muito uma em cima da outra, assim, não deixando passar nada que depois possa ficar grande. Porque, às vezes, uma coisinha pequena, com o passar do tempo, cresce e você fica mal por causa disso, né? Então, a gente se alinhou desse jeito. E tem dado certo. Então, está muito bom.
(01:10:25) P1- Legal.
R- Mas foi difícil. Foi difícil. Porque é diferente quando você faz tudo sozinha e toma a sua decisão sozinha, né? E aí, quando você tem alguém e que é diferente de você, porque a gente é bem diferente... ela é muito detalhista, eu tenho comigo que o perfeito é inimigo do bom. Então, às vezes, você fica buscando tanta perfeição, tanta perfeição, que você não faz nada. Porque, se você for esperar o melhor...
(01:10:47) P2- As duas se completam. Os dois extremos se completam aí, então.
R- É. É. E aí eu falo isso pra ela. Que nem, a gente trocou de ponto: “Ah, mas a gente não vai abrir agora, porque falta a cortina não sei das quantas. Falta o...” “Que não vamos! Claro que vamos. Pra ontem”. Ficamos dois dias fechada. “Vamos abrir desse jeito. Vamos vender. Ninguém vai deixar de comprar, porque a cortina não está aqui” “Ah, mas é feio” “Não. Não é feio. Feio é não pagar as contas”, né?
(01:11:14) P1- Verdade. É verdade.
R- E aí a gente encaixa, assim.
(01:11:20) P1- Verdade. Teve alguma cosa que você gostaria de falar na entrevista e a gente não perguntou? Porque, às vezes, você vem com uma expectativa: “Pô, os caras não perguntaram aquilo que eu queria”.
R- Nossa. Não. Eu falei tanto! Eu nem sabia que eu ia falar desde lá do comecinho, de Quirinópolis, da escolinha e tudo o mais. Não. Eu só queria pontuar - acho até que eu falei, também – mas que a Dora e o balé, eu acho que tiveram uma importância muito grande na minha vida, porque o balé era muito rígido, sabe? A gente tinha que ensaiar de sábado. E aí as amigas adolescentes, quinze, dezesseis, estavam no clube da piscina, estavam fazendo alguma coisa e a gente tinha ensaio. E aí vinham os bailarinos de São Paulo, era balé de repertório. Começava dez horas da manhã e acabava às sete horas. Sapatilha de ponta, vai e volta, vai e volta. Eu acho que isso me ajudou muito no empreendedorismo e na vida e na dedicação e no esforço. E ficar confiante: não, só você tentar e não desistir, que vai dar certo. Então, eu trago isso pros meus negócios e sempre falo isso pras meninas, também, nas reuniões. Eu tenho certeza que isso veio do balé, da dedicação, da disciplina que o balé ______ (1:12:41). É muita disciplina. Você tem que pôr uniforme, a meia. Pode estar calor, que é muito quente, pode estar trinta e oito graus, uniforme meia calça. A minha professora não deixava tirar. Você tinha que ir de meia-calça, collant. Então, o que é certo, é certo, eu tenho muito isso comigo, sabe? Eu não tenho dois pesos, duas medidas. Eu sei que pra toda regra tem uma exceção, mas o que é certo, é certo. Então, o que eu falei está falado. Até quando eu discuto com alguém, alguma coisa, eu falo: “Você não é mulher? Você não é homem? Você não falou isso? Então, está falado”. Eu sou muito assim. Parece até que eu tenho noventa anos, tem hora. Porque só os antigos que são assim hoje em dia, né? (risos)
(1:13:20) P1 - Viu, pra terminar, Karla, eu queria saber o que você achou de dar essa entrevista pra esse trabalho do Sesc e do Museu da Pessoa e saber que agora, você, a sua história de vida vai ficar num museu, que é o maior museu de história de vida do mundo, né? Então, as pessoas do mundo inteiro podem acessar as histórias...
R- Ai, que chique! Espera aí, que eu quero gravar a tela, você falando isso. Vamos voltar essa parte. Eu vou te postar já, já. Espera aí.
(01:13:49) P1- Tá.
R- É sério. Espera aí, que eu vou arrumar aqui. Deixa eu achar aqui o meu negocinho.
(01:13:58) P1- O museu tem histórias do Brasil inteiro, todos os tipos de pessoas, de profissão.
R- Então. Foi o Everaldo que falou, ou o Luciano?
(01:14:11) P1- Foi o Everaldo.
R- Ele já deu palestra pra rede. Vocês o conhecem?
(01:14:17) P1- Não. A gente conhece só o pessoal do Sesc mesmo, né? Aí o pessoal do Sesc nos apresentou por telefone, ao Everaldo. E a gente explicou que estava com uma certa dificuldade de, por telefone, arrumar pessoas pra entrevistar, né? E aí ele falou: “Não, eu vou pegar um monte de nome legal, que vocês vão adorar, aqui”. E tinha o seu nome.
R- Que vocês entrevistaram mais, daqui?
(01:14:46) P1- O Vila Dionísio, o Zanin. A Zappa's, sabe, a padaria?
R- Sei. Ah, eu dei uma palestra que ela estava. É uma mulher, né? Eu não lembro o nome dela. Cristina?
(01:15:00) P2- Taísa.
(01:15:02) P1- Ela chama Taísa.
R- Taísa.
(01:15:04) P1- Taísa. Nossa, foram muitos, assim. Porque a gente não pega só dessa área mais pra zona sul. A gente foi pra zona norte, até, conhecer padarias pequenininhas, né? Então, a gente pegou um alfaiate, João Alfaiate. Ele tem uma alfaiataria ainda, aí, naquela rua principal do Centro, que chega naquela Praça Bernardino de Campos, né?
R- Sei. Olha que legal! Eu fiquei superfeliz. Eu fiquei bem feliz com o convite. Na verdade, eu falei tão rápido. Na hora, eu nem tinha entendido. Assim, eu entendi que era pro Sesc, que ia ficar no museu, que é nacional, que qualquer pessoa tem acesso, que vai pro site, né?
(01:15:49) P1- É, depois gera um livro.
R- Vai pro site, trechos? Como é?
(01:15:53) P1- No site do Museu da Pessoa, fica a entrevista inteira lá. Você pode acessar inteira ou em pedaços, editada. Depois você dá uma entrada lá. Eu te mandei, eu acho, eu acredito que eu te mandei o link do Museu da Pessoa, onde está o Memórias do Comércio. Mas, se você entrar direto no Museu da Pessoa, você vai ver todos os projetos que tem, com a Camargo Correa, com a Vale do Rio Doce, com o Banco do Brasil, com o interior do estado, do nordeste, né? Então, tem projetos com povos indígenas. Todos os tipos de projetos, o museu já desenvolveu. Aí, você vê as de vida inteira, lá.
R- Essa, também, depois vocês vão editar? Vai ter um link, essa entrevista?
(01:16:39) P1- Sim.
(01:16:40) P2- Vai ter um link.
R- Aí você me manda.
(01:16:43) P1- Vamos mandar pra você.
(01:16:43) P2- Com certeza.
R- E depois tem um livro, né? Você sabe que a editora do Sesc é uma das únicas editoras do Brasil que ainda faz livro bem bonito, né? Porque o Sesc tem dinheiro. Faz aqueles livros chiques, assim, né?
R- Chique?
(01:16:58) P1 – Uns livros bonitos, bem-acabados, com um material de primeira linha. Porque, hoje em dia, o mercado editorial opta por livros mais baratos, né?
R- Mais em conta.
(01:17:09) P1- Mais em conta. E o Sesc costuma, ainda, fazer uns livros bem bonitos, com uma linguagem bem moderna e, ao mesmo tempo, eu acho sofisticado, aquilo lá que eles fazem.
R- Legal.
(01:17:19) P1- Então, todo o projeto do Memórias do Comércio dá origem a um livro. Agora, com a pandemia, não dá pra fazer lançamento de livro, chamar um monte de gente. Mas, quando acabar, mais pro final do ano, vai ter. E vai ter uma exposição, que nós vamos chamar você também. Vai ter uma exposição on line, pequenininha, né? _______ (1:17:38). E, no Sesc, quando acabar a pandemia, vai ter a exposição presencial, mesmo, pras pessoas verem o que os comerciantes falaram. Por isso mesmo, eu estava quase esquecendo, o fotógrafo nosso, aí do Sesc, vai te ligar um dia, daqui umas duas semanas, mais ou menos. Quando a gente terminar, ele começa a sair fotografando. Pra você marcar um dia que você puder, estiver mais sossegado pra você, pra fazer uma sessão de fotos aí na loja, na farmácia, né? Pra mostrar como é que é você no seu negócio. E, se você tiver fotos antigas, de tudo o que você contou, pode ser, desde a época que você era criança, quando você começou o seu primeiro empreendimento, pra compor o acervo de tudo o que você falou.
R- Legal.
(01:18:33) P1- A ideia do Museu é exatamente essa: transformar a história das ________ (1:18:37), por exemplo, numa peça de museu, né?
R- Aham.
(01:18:42) P1- Assim, que mostre que todas as histórias são interessantes, todas as histórias importam. Tanto é que esse é o lema do museu: “Todas as histórias de vida são importantes e interessantes”. Entendeu?
R- Que legal!
(01:18:57) P1- Você quer que eu fale de novo aquilo? Ou não?
R- Não. Eu não consegui achar o meu negócio aqui de gravar ______ (1:19:05). Me ajudem aí vocês, que são fuçados. Onde eu clico?
(01:19:12) P2- Ah, você quer no iPhone, pra gravar, você fala?
R- É. No iPhone. Sabe aquela bolinha lá do...
(01:19:17) P2- Sei. É em configurações, né?
R- Eu não estou conseguindo puxar, com a tela do jeito que está. A hora que eu puxo pra baixo...
(01:19:23) P2- Sei. Você não consegue jogar pra cima?
R- É. Então, a hora que eu puxo pra cima, está aparecendo só pra eu tirar, só para eu limpar, sabe?
(01:19:37) P2- Sei.
R- Ah eu já sei. Tem que bloquear a tela. Acho que é isso. Espera aí. Não. Nem com a tela bloqueada, está dando. Sabe quando aparece a bolinha? Que nervoso! Será que é porque eu estou usando?
(01:20:01) P2- Eu acho que você tem que ir lá Ajuste Central de Controle.
R- Ajuste Central de Controle. Ah, gravação de tela. Mas ela não vai. Ela não faz nada.
(01:20:18) P2- Aí você coloca verdinho ali, incluir. Aí eu acho que vai aparecer, quando você abrir.
R- Ela não me dá opção pra eu incluir. Ela só aparece “remover”.
(01:20:34) P2- Não tem um “maisinho” do lado?
R- Não. Só o “menosinho”. (risos)
(01:20:39) P2- Hmm.
R- Só o “menosinho”. Ai, que ódio! Deixa eu ver aqui...
(01:20:44) P1- Você consegue dar um print da tela com nós todos aqui? Porque aí você pode ver o que aconteceu.
R- Não. Está certo, vai. Eu vou dar um print e aí coloco “Reunião. Não sei o que. Dãrara”. Dá um sorriso, meninos.
(01:21:08) P1- Eu não sou muito fotogênico, eu já aviso.
R- Arrasamos. (risos)
(01:21:13) P2- Ótimo! Qual é o seu Instagram, Karla?
R- karlactiago.
(01:21:20) P2- Beleza. Está registrado aí, também.
(01:21:23) P1- Karla, então eu gostaria muito de agradecer você, por ter participado, em nome do Sesc São Paulo, em nome do Sesc São José do Rio Preto e em nome do Museu da Pessoa. Foi muito legal a sua entrevista. Inspiradora.
R- Obrigada.
(01:21:37) P1- E diferente das outras, né? O que você queria, parecia que é outra, é diferente do comerciante tradicional, né?
R- É.
(01:21:45) P1- Que tem o sonho: “Eu quero abrir uma padaria, não sei o quê”, né?
R- É.
(01:21:49) P1- É muito ________ (1:21:50), tá bom? Muito obrigado. E boa sorte. Tudo de bom pra você.
R- Gente, eu que agradeço. Tudo de bom. Até mais.
(01:21:57) P2- Obrigado, Karla. Tchau, tchau.
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