Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020/2021
Entrevista de Santa Regina Zagretti
Entrevistada por Guilherme Foganholo e Cláudia Leonor Oliveira
Ribeirão Preto, 25 de março de 2021
Entrevista MC_HV043
Transcrita por Selma Paiva
P1: Boa tarde, Regina.
R1: Boa tarde.
P1: Bom, a Santa Regina é nossa entrevistada de hoje. Então, gostaria de agradecer você por estar cedendo esse tempo com a gente e estar fazendo essa entrevista, Regina. E eu gostaria de começar conversando, então, sobre a sua infância, Regina, o que você pode... você cresceu aí? Onde que você nasceu? Podia começar falando disso para gente?
R1: Ok. Primeiro lugar, eu queria parabenizá-los, né e agradecer pelo convite. E parabenizar porque eu acho que é de extrema importância resgatar a história, que pouquíssimas pessoas conseguem fazer isso, né? Ainda mais do comércio, acaba ficando um pouquinho, às vezes... eu costumo dizer que, às vezes, nós somos até invisíveis, né? Então, parabenizar muito, agradecer e dizer que eu me sinto, assim, muito honrada de estar com vocês nesse momento tão importante, que é resgatar aí a vida histórica do nosso comércio. E, desculpa, mas eu preciso de tomar água.
P1: Fica à vontade.
R1: Aí eu queria dizer para vocês que eu nasci em Dumont, uma cidade bem próxima aqui de Ribeirão Preto e vindo de uma família de imigrantes italianos. E meus pais tinham uma pequena terra lá, né e nós trabalhávamos juntos. E aí, num determinando momento, Dumont ficou pequeno e nós viemos pra Ribeirão Preto.
P1: Regina, você poderia dizer para gente o local do seu nascimento? Você falou de Dumont então, uma cidade perto, você estava falando da sua infância. Como que foi esses primeiros anos? Você ficou um tempo lá, antes de ir para Ribeirão, então?
R1: Isso. Dumont é muito próximo, tem 12 quilômetros daqui de Ribeirão Preto, e, na época, era distrito, né, de Ribeirão Preto. Depois, em 1978, transformou a município. E, até pela proximidade, nós tivemos que mudar para cá, na época eu tinha 13 anos, para continuar os estudos, né, por conta que Ribeirão Preto tinha muito mais condições, oferecia melhores condições para mim e as minhas irmãs. Nós éramos em quatro mulheres. Uma, infelizmente, faleceu e dois homens. Então, a família de seis filhos. Aí nós viemos para Ribeirão Preto, para poder estudar melhor, ter uma qualidade de vida melhor. Que lá meu pai tinha uma pequena área de terra, né? E nós trabalhávamos, então, como rurais lá. Então, era um pouco complicado. E aí, com 13 anos, minha família mudou pra Ribeirão Preto, em busca, né, de uma qualidade de vida e já com... isso com 13. Com 15 anos eu já comecei a trabalhar no comércio. Então, eu sinto muita honra de ter trabalhado na Udular, foi meu primeiro emprego. E, na época, era... fazia informação comercial. Isso é bem legal lembrar. Por quê? Eu buscava, fazia os cadastros das pessoas. Então, eu tinha 14 anos e o crediário fazia a proposta, né, de compra e eu ia de loja em loja, pedindo informação comercial para ver se aquela pessoa podia ou não ter aquele crédito. Que, na época, nós vendíamos muito a prazo e a gente não tinha essas financeiras que têm seguro, né e que garantia o pagamento. Então, era muito de confiança. Não tinha esse sistema dos dados, né, da pessoa. E eu ia nas lojas próximas, que a pessoa tinha indicado onde tinha comprado e fazia essa informação comercial. E aí eu comecei a me relacionar muito com muitas lojas, porque no mínimo três informações nós tínhamos que ter e aí eu fui me relacionando com o comércio. E já naquela época, vendo mesmo a dificuldade, vendo a distância, vendo a falta de informação que o trabalhador tinha e já tinha conhecimento que tinha o Sindicato dos Empregados do Comércio e que dava, na época, cursos, tinha assistência, tinha concursos, dos quais eu participava. Então, eu fui assim de... só que depois de muitos anos, né - isso foi em 1972, mais ou menos - que eu comecei a ter esse conhecimento de trabalhar no comércio e relacionar com outras pessoas do comércio também. Aí, em 1976, eu fiz a primeira viagem para Praia Grande, que foi financiada, organizada pelo Sindicato dos Empregados do Comércio. Aí, então, despertou muito mais essa proximidade. Mas, até então, eu era associada e frequentava o sindicato, participava de campanhas, né? Eu fazia, na época, essas participações. Inclusive, tinha Semana da Pátria, do qual eu fazia uma redação e ganhava o material do meu estudo, né, por um grande tempo. Então, isso foi tudo assim, essa proximidade com o sindicato, ela foi vendo o serviço-benefício e participando. E aí, fui... eu estava estudando também, né? Minha família... nós viemos para cá para estudar. E aí, muito interessante, né? As três irmãs, na época, eles brincavam com a gente, que tinha aquela novela que era três irmãs do Janjão, né? Então, nós éramos três e íamos juntas. Fizemos o ginásio, depois fizemos o colégio. E aí despertou em mim... inclusive eu, na época, eu queria ser professora. Cheguei até, depois que eu me formei, ministrar aulas, né, que eu gostava muito. Eu sempre gostei muito desse relacionamento com pessoas, né? Aí, o que aconteceu? Não... não... na própria Udular eu já fui crescendo, fui tendo outros conhecimentos, fui tendo outras responsabilidades. E eu fiquei trabalhando na Udular por 27 anos. Então, eu passei... entrei como informação comercial, que era praticamente o guardinha da época, né? Então, fui galgando conhecimento, crescendo. Aí, na época, respondia pela gerência da loja, tanto administrativa, quanto financeira. E terminei... fui fazer administração de empresas, porque eu precisava de administrar, precisava de ter esse conhecimento. Aí, em 1979, eu me formei em Administração de Empresa pela Universidade Moura Lacerda e foi onde eu fui experimentar, né, fazer... dar aula, experimentar ser professora. Me especializei em matéria, que, na época, tinha como profissionalizante, que era Estatística, que eu me lembro bem e ministrei aula por dois anos. Mas eu fazia as duas coisas: eu trabalhava no comércio e de noite... ((Risos))
P1: Ah, eu já ia perguntar isso: você tinha as duas frentes, mesmo?
R1: As duas frentes, é. Era bem difícil, Guilherme.
P1: Como que você estava explicando aí? Você trabalhava, né? E aí, de noite...
R1: Trabalhava na Udular, né? A Udular, na época, nós fazíamos... que foi bem antes da Constituição de 1988, né? Onde nós trabalhávamos... já trabalhávamos dez horas por dia, porque eu entrava sete e meia, tinha uma hora e meia de almoço e saía às 18 horas. Só a partir de 1988, que nós passamos a fazer oito horas, né? Que era das oito às 18, com duas horas de almoço. Até então, a gente fazia... nós fazíamos nove, dez horas por dia e, mesmo assim, eu encontrava forças para enfrentar o banco escolar. Mas aí não mais como aluna e sim como professora, para poder... dava aula para o ensino médio. Isso foram dois anos. Mas foi muito difícil.
P1: Uhum.
R1: Porque eu saía da Udular, entrava sete e meia, ficava até às 18 horas, depois, muito rápido fazia um lanche, já ia para o colégio. E aí eu era celetista do Estado, né? Eu não era concursada. Então, eu substituía as professoras naquele tempo. Mas o comércio sempre foi o meu forte, sempre foi o meu olhar mesmo para os trabalhadores, assim, para trabalhar no comércio, para conseguir até uma renda melhor, né, porque, por não ser concursada do Estado, eu não conseguia sobreviver somente com aquelas aulas de substituição. Aí fui, nesse meio de tempo, obviamente, aprendendo outras coisas, crescendo. Sempre muito preocupada, sempre muito ligada, tentando aproximar o sindicato às pessoas, né? Sindicato do Comércio às pessoas. Em 1981, eu passei a fazer parte da diretoria do sindicato, mas mesmo assim trabalhando no comércio, eu fazia as divulgações do sindicato e participava de todas as reuniões, cursos também que eles faziam. Então, assim, foi uma... eu vou dizer que foi um caminho bem estruturado, né? Foi bem estruturado e mesmo antes, mesmo sem conhecer, sem participar, eu divulgava e depois, obviamente, participando, a minha responsabilidade aumentou. Aí eu fui trabalhando como relações públicas do sindicato, fazendo a divulgação, aproximando pessoas, lançando outras frentes, né, com... eu achei assim, bem interessante mesmo. Porque o comércio, todo mundo que entra no comércio - para falar para Leonor pra o Guilherme acha que é uma passagem. Fala: “Ah, vou aqui, porque, tipo assim, eu não tenho alguma outra coisa para fazer, vou entrar no comércio, mas logo, logo, eu saio do comércio e vou para uma outra função”. E a gente se engana, porque a gente se encanta, né, por esse trabalho. E se você... acredito que, se você entrevistar aí 90% das pessoas que têm um pouquinho mais de experiência - para não falar que sejam pessoas mais velhas - com certeza ela entrou no comércio achando que ia ficar por pouco tempo e ficou a vida toda. Eu fiz a minha vida aí de 27 anos como trabalhadora do comércio mesmo e com muito entusiasmo. Até hoje, se você me deixar perto de alguém, eu vou tentar vender, viu? ((Risos))
P2: Ô, Regina, o que encanta no comércio?
R1: As pessoas, né? As pessoas. Na medida da hora que você vender alguma coisa para a pessoa e você imagina a pessoa levando... no meu caso, era eletrodoméstico. Então, eu já imaginava a pessoa levando aquela televisão, né? Imagina, quando saiu a TV colorida, que foi aquela festa, né? Levando aquele aparelho de TV para casa, a alegria da família inteira reunida, sabe? Era uma expectativa, né? E a gente lutava para que as entregas fossem no tempo certo, porque a família ia reunir, ia ficar assim, muito gostoso, curtindo, né, a televisão. Um sofá novo. Você imagina, chegar um sofá numa casa. Isso, eu me transportava para casa do cliente, né? A hora que comprava um estofado, um conjunto de estofado, a pessoa... todo mundo ia curtir. Uma geladeira, né? Porque era difícil, viu, Cláudia? Na época, não tinha toda essa facilidade, né? Que você não trocava as coisas fáceis. Então, era vendido uma geladeira em trinta meses, né? E a gente, toda vez que a pessoa vinha lá, a pessoa vinha com o carnezinho* [diminutivo de carnê de pagamento], a gente recebia aquela parcela e vendia outra coisa. Imagina, a pessoa ficava trinta meses pagando uma geladeira, vindo na loja, né, para fazer o pagamento. Não tinha essa história de internet, de boleto on-line, de PIX, né?
P1: Criava uma relação, né, com o consumidor ali, que ele estava indo todo mês lá...
R1: Todo mês.
P1: ... deixar a quantia que ele tinha que deixar da parcela ali.
R1: Exatamente. E isso que me encantava, né? Porque, se você vendia para um casal, uma casa montada assim, na época do casamento, você, depois, conseguia vender o berço para o filho e muitas vezes a gente... eu fiquei trinta anos, né, na mesma empresa, eu consegui até vender depois, o casamento do filho que você tinha vendido o berço, entendeu? Então, foi muito legal. Então, eu acho que o que me encanta no comércio é isso: é fazer a felicidade de quem está comprando. Então, você imagina assim, numa loja, que você vai vender uma roupa, você já imagina a pessoa leva um acessório, né, você já coloca um brinco, você coloca um cinto, né, você vai um sapato. Então, a minha felicidade transportava de saber o que a pessoa poderia estar fazendo, usando, né, aproveitando muito bem aquela venda. E esse... isso é importante. Você consegue, né, passar essa energia para a pessoa, para esse mercado. Só que, por outro lado, como nós, no comércio, somos comissionados, muitas vezes, a própria equipe briga, né? Por quê? Porque eu queria estar na frente, então eu queria vender, porque a minha venda, o meu dia, o meu salário dependia da minha venda. E a minha venda, às vezes, só era importante se eu conseguia ficar na frente e, para ficar na frente, eu acabava discutindo com o colega de trabalho. (risos) A gente disputa, né, entre a gente. A gente acabava fazendo essa disputa, porque a gente... eu queria vender e, para vender, muitas vezes, tinha que, sei lá, trapacear o meu colega, para eu poder ter esse comissionamento mais na frente. E aí, o que acontecia? A gente, às vezes, brigava. Uma época, foi até superinteressante, né, nós vendíamos, na época que começou a ficar ar-condicionado em alta. E nós sabíamos que a pessoa que chegava de carro, às vezes, passava olhando pela loja, a gente sabia que aquela pessoa que estava de carro ia voltar e comprar um aparelho de ar-condicionado. Era uma venda alta, que dava uma comissão boa. ((Risos)) E a gente ficava assim, nessa espreita. Então, olhava. A pessoa passava, dava aquela olhadinha na loja, a hora que ela estacionava, você ia abordá-la. E você acabava tendo problema com os colegas, né?
P1: Aham.
R1: Porque você queria ganhar mais e ter... e discutia por isso. Então, acho que isso, assim, foi uma parte, uma fase interessante. E depois, o que aconteceu? Começou, inclusive, com uma loja que fechou, não está mais aqui no mercado, eu posso até citar o nome dela, que foi a Arapuã, que depois sumiu do mercado, ela deixou de pagar. E aí acabou virando - como diria hoje: viralizou, né? - porque ela deixou de pagar comissões de vendas e começou a dar salário fixo para o trabalhador. E isso não funciona para o vendedor. O vendedor tem que ser comissionado, porque ele tem o sonho dele ganhar mais. E ele não recebendo comissão, para ele, era indiferente. Aí lançaram os prêmios, mas tirou, né, aquela vontade de você vender e ser comissionado e vender cada vez mais. Hoje tem prêmio. Hoje, o vendedor... é muito difícil ser vendedor hoje, pessoal, porque ele vende, ele empacota, ele recebe, ele testa, ele entrega, né? Muitas vezes, ele vai lá para receber o próprio - são raros, né? - os pagamentos na loja, mas quando tem, é o próprio vendedor que faz isso. Então, isso dificultou muito. Na época, a gente vendia e só vendia.
P1: Ah sim, você está dizendo que mudou o trabalho em si, né? Dele agora ter que empacotar e tudo mais.
R1: Sim.
P1: Ô, Regina, eu queria entender assim, como que seria o ideal? Talvez um meio termo entre ter essa disputa entre os vendedores, assim, para eles buscarem, né, melhorarem e venderem mais e, sei lá, uma segurança? Assim, como que você pensa nisso hoje em dia, com todas essas mudanças que você citou aí, que aconteceram hoje, que o vendedor tem que empacotar, tem que fazer um monte de coisa aí?
R1: O que eu vejo assim, que perdeu essa proximidade com o cliente, né? Porque, antes, se você não tinha que fazer tudo isso, então você podia acompanhar o cliente mais tempo, porque você ficava com ele mais tempo, você conseguia fazer uma venda mais consciente. Então, você acabava, assim, quase que sendo amigo mesmo do teu cliente, né? Haja vista que ele voltava todos os meses para fazer o pagamento, você encontrava com ele, vendia alguma coisa. Então, isso aproximava. Então, isso fazia com que você fidelizava o cliente com a sua presença e não fidelizar através de pontos, que é essa coisa extremamente distante, né? Você fidelizava ali com esse laço mesmo de amizade, né, que era muito gostoso. Essa troca dessa energia boa. Que hoje, não. Hoje é um número, né? Você discou, você... ficou mais prático. Ficou sim, né? Quem não quer fazer um pagamento, hoje, on-line, né?
P1: Uhum.
R1: Mas perdeu essa coisa boa, que era da gente se encontrar. Então, eu acho que o meio termo hoje, teria que ser... o conselho, né, se eu pudesse, era assim: o vendedor, ele é o vendedor, né? Ele tem que ter todo esse tempo de trabalhar com esse seu cliente. Ele não pode ir lá, empacotar, receber, testar e fazer entrega. Olha o tanto que ele distancia! Enquanto você é vendedor, você é aquela linha de frente: você vende, você prepara o cliente e depois você o deixa, para fazer as outras etapas com as outras pessoas, né? Então, acho que isso sente muito. Mas eu fui assim, tão feliz, eu agradeço muito a Deus por isso, porque quando eu, na verdade, fui convidada para fazer parte aqui do sindicato, eu continuei no comércio, né? Porque eu continuei oferecendo sindicato. Eu fiz durante dois anos a divulgação do sindicato aqui no comércio de Ribeirão Preto, porta a porta mesmo, porque poucas pessoas conheciam os serviços, né? E isso, você imagina, era interessantíssimo, né, há 15 anos atrás, a gente... dentista... tinha dentista. Já tinha o clube de campo, que era muito bom para a pessoa que não pudesse... não tinha aonde ir. Ribeirão Perto é muito quente e a pessoa não tinha onde ir, o clube era extremamente utilizado. Diferença de hoje porque, não que seja ruim, mas é diferente. O que acontece? Hoje, todo condomínio tem lá, né, uma área de lazer, tem uma academia e isso distancia as pessoas. Então, para quem trabalha no comércio, para quem gosta de gente: “Eu tenho que ir no clube onde tem gente. Tem que ir no clube onde tem meus amigos”. Então, a partir da hora que eu tenho o meu condomínio que me oferece isso, ficou mais caro para os condôminos, porque ele paga por isso e distanciou esse social, que a gente vai. Acabou quebrando um monte de clubes tradicionais, né? Porque deixa de frequentar, ele não consegue se manter. E, quando eu vim para o sindicato em 1981, era uma delícia divulgar o clube. E ele era extremamente frequentado, né? E nós nos encontrávamos lá, o vendedor, trocávamos ideias. Às vezes participávamos de vários eventos juntos, que tinha nascido do clube onde as pessoas se encontravam, né? Isso era muito legal. Eu estou dizendo que eu tive a oportunidade de vir para o sindicato, eu continuei fazendo porta a porta. Então, levava os benefícios do sindicato, levava o serviço e fui conhecendo, assim, um monte de gente.
P1: Esse foi teu início então, né?
R1: O início.
P1: Desculpa te interromper.
R1: Pois é.
P1: Isso lá no começo dos anos oitenta, então?
R1: Exato.
P1: Ah, certo.
R1: Na verdade, foi os anos oitenta, eu fazia essa divulgação, mas eu não tinha ainda... não era dedicação integral para o sindicato.
P1: Ah, sim.
R1: Né? Eu era diretora já, eu estava lá na Udular e fazia essa divulgação do sindicato que era uma... eu me sentia na obrigação de trazer outras pessoas para participar daquilo que era tão bom, né? Porque eu tinha bolsa de estudo, eu tinha subsídio de viagem e podia usar o clube de campo que era nosso, do comerciário. Aí tratava de dente, cortava cabelo. Tudo aquilo que facilitava a vida do trabalhador, sabe? Então, isso, assim, foi muito legal. Em 1994, que aí eu fui chamada para participar no sindicato mesmo...
P1: Ah sim.
R1: ... aí eu tive que me licenciar da minha empresa, né? Aí eu tive que licenciar da Udular. Para vocês terem uma ideia - a Leonor sabe bem disso porque ela é mulher - chorei dois dias. ((Risos)) Porque quando eu deixei o emprego de 30 anos, né? Não que eu não quisesse vir para o sindicato, né, mas eu chorei dois dias, porque aquilo era muito meu, né? Aquilo era muito eu. Eu tinha entrado com 14 anos, né? Então, eu saí quase que 30 anos depois. Aí eu chorei muito. Mas aí eu vim aqui para o sindicato fazer essa dedicação total aqui. E aí eu tive um desafio muito grande, porque mudou, né? A partir da hora que você tem uma outra responsabilidade, muda a tua visão. Aí eu já fui fazer Direito, né, já mais velha. Que foi uma loucura, Cláudia, eu já mais velha, eu fui fazer Direito durante... eu trabalhava à tarde e à noite, fui fazer Direito de manhã. Todos jovenzinhos assim, tipo do Guilherme e do Tiago, tudo de cabecinha cortado, recém passado do vestibular, né, porque Direito, né? E eu já com... mais velha, né? E aí chegava professora e falava assim: “Dona Santa”. Aí, vocês imaginam se eu vou gostar do “Santa”, né? E aí eu sentava nas primeiras carteiras, de medo mesmo, de vergonha daquela molecadinha toda de cabelinho cortadinho, tudo menininha bonitinha, né? Vinha a professora falar de hermenêutica comigo e me chamar de “Dona Santa”? Você acha que eu gostava? Eu quase morria. Mas foi um desafio muito grande. Fiz os cinco anos de Direito. No dia de prestar exame da Ordem foi um desespero, porque eu me sentia superincapacitada, porque aquela ‘jovenhada’ toda comigo lá e eu mais velha, né? Mas, por graça, da minha turma cinco pessoas passaram no exame da Ordem, eu fui uma das cinco, né, que estava na equipe, que passei...
P3: Mal sabia você que estava mais preparada do que os outros lá. Estava...
R1: Não sentia, Tiago. Como eu me sentia muito difícil, né, com tudo aquilo que estava acontecendo, o desafio de ser testada, né, por um exame tão difícil até hoje, né? E foi esse desafio, realmente. Aí eu passei, né, no exame da Ordem, consegui a minha carteira da Ordem. Tudo isso foi desafio, por quê? Porque o sindicato me fez isso, porque eu vi que, para eu poder dar uma informação... eu não estava aí depois vendendo uma geladeira, um conjunto de estofado e uma peça de roupa. Não é? Eu estava dando uma informação para uma outra pessoa e eu tinha que ter essa responsabilidade e conhecimento. Nesse momento agora, que é específico, que nós estamos passando, o desafio é maior, por conta de todos os desempregos, de todas as lutas, mas nós estamos, cada vez, assim, buscando o de melhor para o trabalhador. Fazendo acordos, conciliando. Nós estamos orientando o tempo todo para que, realmente, tudo corra bem, né, que tudo saia bem assim, daqui para a frente. E, em 2015, também falando de mim, eu tive a grata satisfação de receber o título de cidadã ribeirão-pretana. Isso, para mim, foi assim, muito orgulho. Aí fiz o curso de Direito. Tentei fazer uma especialização, mas não deu, porque aí a vida foi meio que puxando a gente, né, para outras coisas. Comecei dedicar mais e fazer alguns - já falando mais, assim, do sindicato - eventos. Aí nós começamos a fazer Dia do Trabalhador, começamos a fazer o Miss Comerciária, né, que eu fiz durante muito tempo o Miss Comerciária. Encontro com outros sindicatos também, fazer... porque eu queria levar o clube para outros trabalhadores que não fossem o comerciário, porque valia muito a pena. Ninguém tinha condições e era um clube, até hoje, bem acessível o valor dele para frequentar. E as pessoas não tinham essa oportunidade. Então, nós começamos fazer - com a minha vinda, né, para a administração - parceria com outros sindicatos, começamos dar o direito de outras categorias utilizar, que aí nós criamos, né, a AEC, que é Associação dos Empregados do Comércio. Então, nós temos o SEC, que é o Sindicato dos Empregado do Comércio e AEC. Então, essas pessoas puderam se associar ao sindicato, usar todos os benefícios através da associação, que a gente mantém até hoje. Então, eu acho que tudo isso foi, assim, muito importante, né, as coisas que foram acontecendo da minha vida, como dirigente sindical. E aí eu fui mesmo. Quando eu fui mesmo para o desafio, para a militância, eu tinha conhecimento do que eu estava fazendo, né? Eu tinha conhecimento, eu sempre pegava matéria, via realmente o que estava acontecendo e fazia as defesas do meu ponto de vista, mas do ponto de vista legal. Que nem eu já tinha... tenho, tinha, hoje eu estou um pouco mais distante do Direito, porque aconteceu tudo isso, mas dez anos depois eu assumi a vice-presidência e depois eu fui, assumi a presidência. Então, aí foi um desafio muito grande. Então, realmente, o Direito mesmo, né, não dá para você militar na área de Direito como presidente do sindicato, porque ocupa muito, muito, muito, o nosso tempo. É um desafio muito grande. Então, me distanciei um pouco dos bancos escolares. Mas eu tenho conhecimento pra... uma vez teve um desafio muito grande, estávamos num evento e eu cheguei naquele momento, me deram o microfone: “É você que vai falar”. Quer dizer, né, então, tem umas coisas dessas. ((Risos)) Um dia, minha mãe me viu, até eu - numa militância também - tive que ir para um carro de som, eu tive que subir para um carro de som e defender a minha ideia, né? Então, a minha mãe falou: “Nunca imaginei minha filha fazendo isso”. ((Risos)) Quase que eu falei: “Mãe, nem eu”. Mas foi acontecendo com tanta tranquilidade tudo isso. Porque esse é o desafio da militância, né? Esse é o desafio de uma pessoa que administra, que coordena, né, um sindicato, de um comércio pujante que é de Ribeirão Preto, que aqui em Ribeirão Preto nós só temos comércio e serviço. Então, o comércio é muito forte. Eu digo que Ribeirão Preto só é, só consegue atrair outros complexos, né, que vêm de comercial para cá, por conta da nossa organização. Porque é uma cidade organizada, é uma cidade que a sociedade, as pessoas se respeitam. Então, a gente consegue trazer. Você imagina, nós temos aqui sete grandes... perdão, quatro grandes shoppings, né? Então, nós temos esses shoppings e eles trazem, cada um deles, uma média de cinco mil trabalhadores, dentro de um shopping desse. Como é que a gente consegue atrair isso, né? Porque Ribeirão Preto é bem organizada. O sindicato mesmo, que ele veio da associação como sindicato, fez cem anos agora. Então, são cem anos, é uma entidade sindical, ela já faz parte da sociedade, né? Ela é quase da idade de Ribeirão Preto, né? Ribeirão Preto tinha acho que cinquenta anos, já estava criando sindicato, né, mais ou menos isso.
P1: Uhum.
R1: Então, isso aumenta a nossa responsabilidade, viu, aumenta o nosso trabalho. E eu estou nesse desafio, né, nesse perfil e a gente está tentando fazer o máximo que a gente pode, né? Nesse momento agora, que é específico, que nós estamos passando, o desafio é maior, por conta de todos os desempregos, de todas as lutas, mas nós estamos, cada vez, assim, buscando o de melhor para o trabalhador. Fazendo acordos, conciliando. Nós estamos orientando o tempo todo para que, realmente, tudo corra bem, né, que tudo saia bem assim, daqui para a frente. E, em 2015, também falando de mim, eu tive a grata satisfação de receber o título de cidadã ribeirão-pretana. Isso, para mim, foim assim, muito orgulho. Né? Foi até o vereador André Luiz que fez para mim essa homenagem, pelos préstimos do comércio, pelos préstimos do trabalhador, né? Por essa dedicação mesmo que eu tive, que foi uma vida. Então, ele propôs e foi aceito por todos, né, por todos da Câmara Municipal e eu recebi o título de cidadã ribeirão-pretana. Isso me deixou muito feliz, né? Muito feliz mesmo, de ser, assim, uma... aqui, uma trabalhadora, né, para o comércio de Ribeirão Preto, mas bastante envolvida e ser uma cidadã ribeirão-pretana também. Eu acho que isso faz... é bem importante. E nessa minha vida, Guilherme e Leonor, eu fui aceitando os desafios e fui, assim, me posicionando, na verdade. Aí eu assumi a carteira da União Geral dos Trabalhadores, da UGT nacional. Então, hoje eu faço parte da Secretaria da Mulher, respondo pela Secretaria da Mulher, participo muito de eventos, né, de igualdade social, de violência, né, violência contra mulher, de violência contra o trabalhador, de violência... então, a gente busca muito esse equilíbrio. Então, eu trabalho... eu participo de todas as reuniões, de todos os simpósios da mulher nacional, através da UGT. E, fora aqui do Brasil, eu faço parte do Comitê da Mulher Trabalhadora das Américas, eu sou vice-presidente do Comitê, que ele é mantido pela Central Sindical das Américas, que é CSA e faço parte também do Comitê da Organização da CSI, né, que é Central Sindical Internacional. Então, eu já visitei vários países, sempre buscando a igualdade de gênero, sempre buscando o bem-estar de pessoas. Então, nós... todas as reuniões que nós temos, todos os grupos de trabalho, é para buscar, realmente, essa igualdade entre o homem e a mulher, entre o negro e o branco, né? Entre o gay e toda a sociedade. Então, a gente, como parte integrante desses comitês, também tenho me dedicado bastante para trabalhar com essa diferença, né, que nós temos aí de gênero, de classe social, de objetivo, enfim. Mas tudo buscando o equilíbrio social e o bem-estar comum. É dessa linha que eu procuro trabalhar...
P2: Que você atua.
R1: ...da minha vida.
P2: Regina, você falou... assim: a gente vai retomar alguns pontos que você trouxe...
R1: Sim.
P2: ... que são muito ricos, né? Principalmente esse momento, que você tocou assim, né, dos desafios que a gente está vivendo nesse momento. Então, a gente tem já certeza, né, a gente estava conversando outro dia com a equipe, né, a gente vive um momento histórico, sem dúvida.
R1: Sim.
P2: Sem dúvida, a gente vive um momento histórico, né? E melhor ainda a gente poder fazer Memórias do Comércio, né, nesse momento histórico, de 2020 para 2021. Então, eu queria assim, se você puder descrever, como é que foi a chegada para vocês aí, né? - a gente está fazendo um ano de isolamento, né? - quais foram os desafios. Muito mais do que uma... fazer juízo de valor, né, se as pessoas agiram certo, agiram errado, mas assim: como é que foi, como é que seu deu essa chegada para vocês da pandemia, das opções por isolamento, pelo cuidado que se... né, de biossegurança. Eu queria que você descrevesse, assim, os desafios que foi o sindicato, lidar com essa questão toda da pandemia, que acho que é riquíssimo esse momento.
R1: Sim. Na verdade, eu estava até evitando de falar, né, de pandemia, que eu achei que não... sabe, achei que não fosse o momento. Mas sim, você falou, é muito importante. Nós estamos fazendo uma memória num momento desafiador, né? Um momento em que a gente não sabe, né, o que vai acontecer daqui um segundo, né? Eu costumo dizer assim, nas nossas reuniões, porque, Cláudia, primeiro foi assim: quando chegou a ideia, né, há um ano, não era verdade, não ia acontecer aqui no Brasil. Estava tão longe, né? Estava do outro lado do globo, não ia acontecer com o Brasil, né? Aí, quando chegou um pouquinho mais no Brasil, não ia acontecer com Ribeirão Preto, porque é muito quente, então não ia acontecer nada aqui. Então, as pessoas, no primeiro momento, a gente não acreditou, não queria acreditar ou achou que estava muito distante. A gente não sabia muito dessa, né, globalização, desse mal, que eu falo que esse mal não é desse mundo, né? É um mal que não é desse mundo e está sendo assim, muito, muito complicado. Eu costumo dizer assim: que é uma mina, mas que ela não explode ao pisar, ela explode ao você respirar. Então, se você imaginar nas guerras, é uma mina, só que ela não explode quando você pisa, explode a hora que você respira. Então, isso é muito complicado. Então, primeiro momento, foi fazer as pessoas acreditar que era sério. Fazer as pessoas acreditar que tinha que se cuidar, que tinha que mudar os hábitos, né? Esse hábito de máscara, esse hábito de distanciamento, esse hábito de lavar as mãos. E esse afeto que a gente tinha, porque tinha o hábito de chegar de manhã: “Oi” “Oi”. Abraçar, dar um beijo, tal. E isso, né, eu até achava que ia nos deixar mais frio, mas eu percebo que não, né? Todo mundo entendeu muito bem, né e continua com carinho, continua preocupando, sem ter que se aproximar tanto e dar os três beijinhos que nós tínhamos o hábito. Mas eu acho que o maior desafio que foi lá atrás, foi conscientizar as pessoas de que era muito sério e que tinha que ter cuidado e que chegou aqui muito rápido. E o desafio que está sendo até hoje, é dizer: “Isso vai passar. Vamos ter calma, não precisa de fazer desta forma. Vamos, então, ver o que que nós podemos ajudar”. Então, dentro do Direito, o que a gente nunca quis flexibilizar os direitos, nós estamos flexibilizando e muito agora, né? Porque, até então, o cumprimento tinha que ser as oito horas, com as duas horas de almoço, o salário tinha que ser o salário contratual, não tinha redução, não podia fazer interrupções. E hoje, não. Hoje nós estamos conciliando, nós chamamos aqui o empregado, nós... quando ele não quer acreditar do que está acontecendo, que a gente está dizendo que o empregador não deu culpa e que nós precisamos nos dar as mãos agora e ver qual que é a melhor maneira. E o duro para a gente era que, antigamente, era a gente... vinha empregado reclamar, você chamava o patrão, falava com ele, realmente ele estava errado, ele se corrigia. Muitas vezes conciliava e ficava tudo bem, né, porque às vezes, o patrão, realmente, estava passando dos limites. Hoje é diferente, Cláudia. Hoje a gente recebe aqui, muitas vezes, o patrão vem assim, como que eu vou dizer? Consternado de que ele, realmente, não está conseguindo pagar. Eu vejo patrão aqui, às vezes... eu recebi uma... por duas ocasiões aqui, duas empresas diferentes, que chegou a chorar. A dona da loja chegou a chorar. Porque ela trabalha com traje, né, aluguel de traje e não tem nenhuma festa, não tem nenhum evento. E, realmente, ela chegou a chorar. Ela falou: “Eu tenho empregados ótimos, eu tenho uma equipe muito boa, mas não tenho como pagar. Por que o que eu posso fazer? Não posso dispensar”. Porque vieram as medidas provisórias, que foi muito sábia, do governo, mas ela veio com a estabilidade. Então, se você suspender ou reduzir o salário, pelo mesmo período, o empregado é estável. E essa estabilidade teve um custo muito - estou dizendo assim, como... vendo o lado do empregador – alto, para ter que dispensar e indenizar. Então, hoje, eles estão extremamente amarrados. Não dá para fazer acordos, porque o empregado tem o direito e o empregador não tem como pagar, porque ele também não produziu. Quando ele começou produzir, faltou matéria-prima; quando essa matéria-prima chegou, ela chegou muito caro, né?
P2: Uhum.
R1: Então, eu vejo que tem coisas que estão muito caro, né? Coisas que a gente fazia o preço de quatro reais, hoje está nove, dez reais e ainda não encontra. Então, é o momento de muita conciliação, de ter muita calma, de ter muita calma, porque a gente tem que cuidar da saúde, mudar os hábitos, se tiver que fazer uma refeição, duas refeições por dia, vamos fazer, né, vamos cuidar mais dos alimentos. Eu costumo dizer o seguinte: vai comprar um quilo de tomate, sempre tira um tomate, né, leva um pouco menos, que vai dar, você não vai nem perceber. Vai comprar um quilo de batata, você pode tirar uma batata, que essas batatas vai dar para você passar a semana. Então, para as pessoas se... elas têm que mudar o hábito, tem que ter esse olhar um pouco mais para o outro e saber que nós estamos todos, né? Antigamente, o patrão vinha, o patrão estava errado, você dava uma dura no patrão, ele se acertava. Hoje não. Está todo mundo certo, todo mundo errado, né? E está todo mundo na mesma situação. Então, está sendo esse desafio dessa forma: ver que o empregador não tem condições de arcar com os seus compromissos, porque ele não conseguiu produzir, não deu a causa. Então, isso está sendo um grande desafio, Cláudia, para a gente.
P2: Acho que você falou a palavra certa, né? Conciliação, né?
R1: Conciliação. Conciliação. E aí, o que a gente faz? Normalmente a gente chama o empregado aqui, conversa com ele e aí depois, você chama o empregador, conversar com ele. Depois, tenta chamar as duas partes, né? Para que... porque aí você tem que falar coisas diferentes, Cláudia. Né? Porque o sindicato dos empregados é para assegurar o direito, né, do trabalhador. Só que hoje a gente vê, que direito eu posso assegurar para ele, se ele não teve produção? Né? Então, em Direito não tem. Não tem salário sem trabalho, né? Então, não tem como. “Não tem salário sem trabalho, mas eu estou aqui à sua disposição. Só não estou conseguindo produzir, por uma questão macro aí”. Então, está sendo assim, bem complicado mesmo, viu? Bem complicado, mesmo. Então, a gente faz reuniões, normalmente quem pede é a empresa, coloca a situação. Então, a gente faz reuniões com o empregado, depois faz com o empregador e depois faz com os dois juntos, né, para conciliar e, graças a Deus, a gente tem conseguido, sim. Tem conseguido, tem levado. E, assim, ciente de que tudo isso vai passar e vai ser superinteressante, né, a gente dizer: “Olha, vivi na época, né, que isso aconteceu e nós ficamos bem”.
P2: É. A própria maneira como a gente se reúne hoje, né, é fruto disso, né?
R1: Fruto disso.
P2: Dessa situação.
R1: Exato. E isso fez com que a gente aprendesse um pouco mais, né? Então, a gente aprendeu um pouco mais. Então, imagina, eu nunca imaginei que eu conseguisse vir aqui, entrar no Zoom, né, colocar senha, tal. Até hoje eu pentelhei a... eu falei: “Passa para mim, porque eu preciso de pedir para o pessoal colocar tudo isso no meu computador, para facilitar”. Mas eu vi que é muito fácil. E eu consegui fazer isso, consigo entrar em palestra. Hoje eu estou participando... ontem, inclusive, participei de uma reunião, né, on-line, do Uruguai, né? Então, estava Uruguai, Costa Rica, estava Nicarágua. Tinha praticamente todas as... Argentina, né, assim, o Chile. E nós participamos falando aqui, todo mundo junto, né, se organizando. Por quê? Desse comitê que eu sou vice-presidente, vai ter eleição agora em abril. Então, a gente estava fazendo a campanha eleitoral (risos) já, on-line, dessa forma, falando com todo mundo. Então, isso é muito legal, né? Acho que isso é progresso. Isso faz com que a gente esteja sempre aberta para o novo e sempre aberta para os desafios, né?
P2: Ô, Regina e assim: como que você percebe que o comércio está se adaptando? Está mais no on-line, está mais no telefone? Como é que você tem essa percepção, assim? Os vendedores, os comerciários, como que eles se colocam, assim, para manter, minimamente, o comércio funcionando?
R: Sim. Na verdade, está tendo muito on-line. Aqui em Ribeirão Preto, logo foi feito espaço para os drive-thru aqui, para os deliveries. Então, muito central, foi feita uma área bem grande para o drive-thru. E foi muito divulgado o serviço on-line, WhatsApp. Estão tendo um cumprimento bem legal com relação a isso. E também toda... o que é interessante, que as lojas fizeram o seguinte: normalmente, ela mantém um ou dois, né, trabalhadores ali do lado externo da loja mesmo, para poder dar essas informações, ou a loja que está totalmente fechada, tem um cartaz, né, com o WhatsApp do gerente ou do encarregado, que está de plantão naquele dia, para atender. Então, ontem mesmo, eu tive um problema aí numa empresa, aí eu fui lá e tinha um cartaz na porta, achei superinteressante: gerente de plantão, o nome dele, o WhatsApp e um telefone fixo. Então, se você tivesse algum problema, você podia estar fazendo isso. Está realmente respeitando. As lojas estão todas cerradas, né, com as portas fechadas, mas com esse cartaz que você pode se comunicar com o vendedor e... o celular facilitou muito, né? Hoje, a gente manda todos os catálogos, te mandam tudo o que você quiser aqui, manda, no caso de calçados, para a sua casa, para você fazer... provar, né e ver qual que você vai comprar. Então, está bem interessante. Voltou sacoleiro, né? Lembra da época do sacoleiro?
P2: Aham. Isso.
R1: Voltou sacoleiro. Voltou sacoleiro. Então...
P2: E uma relação de confiança, né?
R1: Exatamente, exatamente. Aí o vendedor fica à disposição. E eu achei até interessante, conversando com uma vendedora de calçados, ela me disse assim: “Olha, eu fui entregar, junto com o meu patrão”. Olha como que somou, né? Olha como está junto. Então, ela falou: “Vim fazer entrega junto com o meu patrão, porque a loja está fechada, mas a pessoa já sabia o que queria, ela pediu aqui on-line, eu vim fazer a entrega”. Então, continua trabalhando, continua produzindo, né? Porque é isso que nós precisamos, né? É aquilo que eu te falei: não tem salário se não tiver trabalho. Então, está se reinventando. E também estamos tocando sim, viu? Estamos passando por essa fase, sim.
P1: Ô, Regina, eu gostaria de te perguntar mais sobre essa - que você falasse mais, na verdade - relação que você falou com o internacional que você tem aí do sindicato.
R1: Ah, tá. A partir da hora que eu aceitei o cargo, né, de presidente do Comitê de Mulheres aqui da central, da UGT... porque o sindicato é assim: é sindicato aqui na base, né, a federação no Estado, né, que é presidida pelo Luiz Carlos Motta. Então, o sindicato na base; a federação no Estado; a confederação em Brasília e a central, que fica dentro do estado, dentro da cidade do estado mais importante. Então, nós temos aqui, no caso, Sincomerciários, a Fecomerciários, a CNTC e a União Geral dos Trabalhadores. Quando eu aceitei para representar as mulheres nacionalmente, aí, em seguida, eu já fui apresentada para o comitê, né, das mulheres trabalhadora das Américas. E, no mesmo ano em que eu assumi, estava tendo a eleição desse comitê. E aí eu já... quando eu apresentei meu currículo, né, para essa seleção, ele foi, de pronto, aceito, porque eu já tinha feito... eu fiz um curso superimportante também, em Turim, né, pela Organização Internacional do Trabalho. Até depois, se for possível, eu vou enviar essas fotos. Então, esses cursos de relações sindicais, esses cursos de negociação coletiva, fez com que enriquecesse muito o meu currículo. Então, ao apresentar o meu currículo no Conselho Executivo, ele foi selecionado pra... como vice-presidente do Comitê. Eu acredito que foi um desafio muito grande, porque eu tive que aprender a falar espanhol, né, que foi uma outra língua, que eu acho que foi uma oportunidade. E também já com um pouquinho mais de idade, né, mas foi desafio. Hoje eu consigo entender bem, né e me comunicar em espanhol. E eu comecei a participar. E cada, digamos, reunião, em cada país que eu participava, eu levava uma bagagem muito grande do Brasil, né? Nós tivemos no México falando sobre... na época, dos direitos da empregada doméstica, né, quando ela passou a ser reconhecida...
P1: Ah, sim.
R1: ... como trabalhador urbano, que ela passou a ter registros, 44 semanais, passou a ter garantia do salário-mínimo. Então, eu levei essa experiência do Brasil fora do Brasil. E isso foi, assim, extremamente importante, né, porque em vários países aqui próximos, gente, empregada doméstica, era um doméstico mesmo, né? Não era assim... que aqui a gente tem a denominação de trabalhadora do lar. Lá ela era doméstica mesmo, que ela tinha, entre todas as obrigações, de passear mesmo com os cães, como se fosse uma... como se ela tivesse sido uma domadora praquilo, sabe? E tem tanto abuso, né, em cima desse trabalho doméstico, que tinha relatos de trabalhadoras que, se ela quebrasse alguma coisa na casa da patroa, ela pagava. Ela não tinha nenhum direito, ela não era reconhecida como trabalhadora e pagava isso. Então, foi muito importante eu participar. Um dos meus primeiros trabalhos foi participar e levar essa experiência, né, que nós, o Brasil passou a reconhecer a trabalhadora do lar como uma trabalhadora normal, com todos os direitos, com férias, com décimo terceiro, né, com salário-mínimo garantido na carteira, né? Então, essa experiência foi muito bacana, mesmo. Aí eu consegui levar para outros países o que nós tínhamos aqui dentro do Brasil. E os outros desafios, né, dos direitos, do respeito com a mulher, da igualdade, da igualdade salarial, da igualdade de gênero, da capacidade, né? Então, é muito rico isso. É muito rico e muito desafiador. Tem seminários que a gente participa e que a gente não consegue depois conversar com mais ninguém. Tem países ainda, né, tem cidades da África ainda, que a mulher é muito objeto. Que a mulher é muito objeto. Então, teve relatos de companheiras, né, em toda essa minha experiência, relatos de companheiras que elas iam trabalhar de preservativo que, com certeza, elas seriam abusadas pelo patrão. E elas não podiam fazer nada. Então, para se precaver de tudo aquilo que estava acontecendo, né, do HIV, que era uma coisa muito séria, então, a mulher, para submeter, ela já ia trabalhar de preservativo. Então, você imagina você ouvir isso numa reunião! Aí nós fizemos a denúncia, né, fizemos a denúncia para a Organização, né, pra ONU, fizemos... buscamos, buscamos recursos, né, para que levasse cursos para essas cidades, para que levasse segurança, para tirar essas companheiras dessa zona de risco, como é ainda em algumas... alguns estados da África, ainda acontece isso. Então, foram coisas, assim, muito gritantes. Muito gritante participar, dar a oportunidade, né, para outros... relacionar com outras companheiras. Teve também episódio de nós estarmos em um evento já um pouco mais... um evento festivo, né, que tinha assim, no final, uma confraternização e a gente vê companheiras tentando levar para as casas o que tinha nos pratos, né? Então, tentando levar um refrigerante, tentando levar um pacotinho de bala, enfim. Então, você vê a necessidade por aí, é bem sério. Imagina agora como está, com a pandemia, né? Como está um desafio muito grande. E aí foi assim. Eu fui... isso foi engrandecendo, porque eu fui vendo o seguinte: que nós somos iguais. Iguais, iguais, né? Haja vista que a pandemia ainda falou muito mais isso, muito mais alto isso, mas nós somos iguais. Em qualquer lugar que você vai, a pessoa tem todas as necessidades. Né? Ela tem necessidade do afeto, ela tem necessidade... ela tem dor, ela tem vontade de se relacionar, ela sente fome. Toda nossa necessidade universal é a mesma. É que nós que fazemos às vezes essa barreira, né? “Ah, não, eu sou rural”. Que nem, no meu caso, ah, de Dumont, extremamente rural. Eu vou dizer: “Não, eu não posso ir fazer... defender uma tese, né, de Direito?”. Posso, sim. Eu tive que me esforçar para isso, né? Então, teve época que eu dormia com o caderninho debaixo do meu travesseiro, porque não tinha tempo de estudar, então o caderninho estava debaixo do travesseiro, para poder prestar a prova no dia seguinte. Mas é o desafio. Eu acho que esse é o desafio. Eu sou muito feliz por estar aqui, por estar participando, né, desse momento tão histórico, de falar de pessoas, de falar de trabalho, algo que eu, né, eu nasci, né, praticamente fazendo isso. Imagina eu, com 13 anos, pegar um caderninho e fazer informação comercial, para poder aprovar o crédito da pessoa, né? E não podia mentir, porque depois não pagava prestação, eu não podia... ((risos)) era eu que tinha aprovado o crédito. Isso eu tinha 13 anos, imagine. E não se falava de trabalho escravo. Não se falava de trabalho escravo, porque os meus pais também estavam trabalhando. Diferente de hoje, né? Hoje a gente tem que pensar um pouquinho. Porque hoje, muitas vezes, quando você vê uma criança trabalhando, os pais a estão explorando. Então, olha o tanto que mudou tudo isso, né? Então, às vezes, fala assim, eu ouço falar: “Ah, eu trabalhei com 13 anos, não me fez mal”. Quando tem condições, como nós estamos falando agora, eu chamo a pessoa. Eu digo: “Não tinha condição porque teu pai estava trabalhando. Hoje, se uma criança, às vezes, está pedindo, o pai está explorando”. Então, mudou muito, né? Mudou muito esse contexto social. Mas eu acho que é isso que a gente caminha, né? Acho que a gente caminha com aprendizado, a gente caminha com os desafios e para salvar, assim, o bem-estar de todo mundo, né? E salvar, na verdade, a reputação, né, salvar... resgatar e resgatar essa modernidade, por mais difícil que seja. Eu, quando... em Ribeirão Preto, uma rede de supermercado botou caixa eletrônico no supermercado, eu fui lá, ameacei fechar o supermercado. Fiz matéria de capa, que aquilo não podia, né? “Imagina, como, vai tirar o caixa? Botar que você mesmo pague”. Né? Então, olha, eu falava assim. Não obstante, eu gosto do celular, né, eu acho que é importantíssimo fazer uma cirurgia às vezes num feto aí, fazer tudo isso, né, remotamente, mas eu não queria que perdesse aquele posto de trabalho. Então, na época, no dia que eu fui lá para fazer um protesto na porta do supermercado, porque eu não queria que aquilo entrasse, porque estava tirando o dinheiro de trabalhador. Aí veio a diretoria, veio todo mundo falar comigo. Naquele supermercado não instalou, na época, mas hoje, ((risos)) já instalou cinco ou seis caixas eletrônicos e facilita, né? Facilita, a pessoa tem que ser mais ágil para fazer as compras, porque ela tem outras obrigações. E a coisa, eu acho assim, vai acontecendo no momento certo, né? Não precisa de atropelar. E as pessoas também têm que saber que precisa de se educar. Não dá para ficar na zona de conforto, tem que estudar, né? Tem que buscar conhecimento. E tem que fazer o que vocês estão fazendo. Olha que interessante, né, vocês estão valorizando pessoas, né? Acho que isso é superlegal. Acho que isso vale a pena. Vale a pena, mesmo. Não sei se eu falei demais, se vocês querem voltar em algum ponto.
P1: Cláudia, posso falar? Quer falar alguma coisa? Não, ô Regina, gostaria de só voltar a tocar nesse ponto assim, não sei, se você quiser comentar alguma coisa a mais. Eu achei interessante quando você falou daquele momento que você, algumas vezes, até subiu em carro de som e a sua mãe te viu lá, falou que estava praticando, ali, a sua militância. Você gostaria de explicar mais o contexto, contar mais isso? Se não quiser, não tem problema também, não.
R1: Não, não. Assim, eu gosto, né? Porque é um desafio meu mesmo, um desafio que eu não imaginava, né, a capacidade que eu tinha de fazer isso e de falar para uma multidão, né? Então, eu... quando eu participei e participo ainda, né, de atos assim, desses atos que necessita, realmente, fazer, é muito importante. É muito desafio. É muito desafio. Primeiro, a dificuldade que eu tenho, como mulher, é conseguir subir esse carro de som. Porque, normalmente, é uma escada muito pequena, é uma coisa assim, que é... eu falo que é de outro mundo, né? Parece que é feito coisa, assim, que não é para a mulher chegar até lá. Então, a gente vai, a gente tem esse desafio de ir e de se colocar e de ter, realmente, a palavra. E o que é gratificante demais, demais, demais, Guilherme e Leonor, é que a gente é ouvida. Então, a minha... uma... até não está mais conosco aqui, né, até por conta de todos esses desafios, o sindicato... nós tivemos que dispensar 50% do quadro. Hoje nós estamos com... nós tínhamos cento e quarenta empregados, hoje eu tenho sessenta. Então, foi ajustando. Mas essa moça disse assim - ela era nossa assessoria aqui - que quando eu, pela primeira vez, fui realmente no carro de som e falei, eu falei com tanta emoção, que as pessoas se calaram. Realmente elas me ouviam, né? Porque eu tive um desafio grande. Primeiro, para mim mesma, saber que eu ia subir e ia falar. Depois, para conseguir chegar lá em cima, porque era uma escada horrível, você não... era uma coisa que... como se não podia chegar lá, né? O desafio de subir a escada, de me equilibrar para poder falar e depois pegar o microfone e falar, assim, para uma multidão e defender. Na época, nós estávamos trabalhando com a... estávamos defendendo o INSS, né, lá, quando começou. Até hoje nós temos que defender o SUS, né, que também está correndo esse risco aí de cortes de verba, com esse governo que a gente tem, que não está dando muita atenção para a Saúde. Então, a gente tem que fazer um ato defendendo o SUS. Naquela ocasião, a gente estava fazendo um ato para defender o INSS. Então, eu acho que a hora que eu fui, eu externei tanta emoção, que o público silenciou e depois, isso, para mim, foi importante, né? Eu consegui, assim, colocar o que uma mulher, como líder de uma categoria, como administradora também de um lar, porque sobra para a mulher, a economia de cuidado sobra para a mulher e eu estava falando com uma multidão e que me ouviu. Então, esse é um desafio. Isso é muito grande. E sempre que tem a oportunidade de ir, de relacionar, de fazer, quando viajo para fora do Brasil, eu faço questão de levar a bandeira nacional. Eu, onde eu estiver, a bandeira está comigo, realmente, né? Então, isso eu acho que faz parte da gente. E é muito interessante, sim. Então, esses dias nós tivemos um problema aqui, que comércio fechado, né? Aí nós tivemos que fazer uma passeata para, pelo menos, criar o delivery, né, para que a gente pudesse estar fazendo as entregas, fazendo as compras, mas que desse oportunidade de trabalhar. Também nós fomos ouvidos, que fez esse mix, né? Então, a gente está conseguindo trabalhar, está conseguindo entregar, está conseguindo fazer, através do drive-thru, entrega. Então, está conseguindo manter um pouquinho mais os empregos. Então, esse eu acho que é um grande desafio e eu... faz parte, viu, muito da minha vida, essa militância, sim.
P1: Bom, eu só queria perguntar também para você mais coisas da sua infância lá de Dumont, das brincadeiras com as suas irmãs, seus dois irmãos... são seis homens, né, você falou?
R1: Não, quatro mulheres e dois homens.
P1: Isso, desculpa.
R1: Nós éramos em seis: quatro mulheres e dois homens.
P1: O que você lembra lá dessa época, ou quando você se mudou para Ribeirão?
R1: Nossa, é muito legal resgatar isso, viu? Eu... ((Risos)) Vocês estão conseguindo fazer eu ficar até emocionada, viu, Guilherme e Cláudia? Eu estava preparada para falar mais da instituição, assim. Mas, assim, falar da minha infância é muito, muito bom. Porque era zona rural, né? Eu me lembro, assim, que na época, era Jovem Guarda, né? Só que a gente não tinha televisão, a gente tinha que ir na casa das amigas, para ver a televisão. Então, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, né? A Sylvinha, Eduardo Araújo. Olha que legal, né? Isso, a gente gostava muito de ver. E eu era muito criança. Então, a gente atravessava, né, uma zona mais rural, para poder ir na casa da amiga que tinha a televisão. E aí voltava um pouco mais tarde. E aí, a gente atravessava uma zona rural que era um pasto, né, onde tinha gados. E aí, à noite, quando a gente voltava um pouquinho à noitinha, trombar com aquelas... umas vacas deitadas ((Risos)). Que parece coisa... a gente falava que era coisa de lobisomem, né? Mas a gente fazia mesmo. E energia elétrica era muito precária, né? Então, a gente, às vezes, vinha, sei lá se era com lamparina, acho que nem vela não existia, era com lamparina, para poder realmente desviar daqueles animais que a gente encontrava, porque a gente tinha invadido o espaço deles, para ir do outro lado, para assistir. Então, isso era... foi muito legal. Eu acho que foi uma infância bem interessante. E também me faz lembrar do jogo de palito, né, que a gente tinha. É uma delícia, não sei se vocês viram isso, aquele monte de palitinho colorido que a gente jogava e tinha que tirar, sem mexer o palitinho, né? Então, isso era um equilíbrio, que a gente fez também, foi muito legal. Mas o que me fez pensar esses dias, até falando das minhas outras irmãs, nós tínhamos o tal de Jogo do Mico. Não sei se vocês lembram disso, vocês são mais jovens. Mas o Jogo do Mico era tuas cartas que você tinha que encontrar os parceiros, né? E o mico não tinha parceiro. E aí, toda vez, eu e as minhas irmãs, pegávamos o mico, né? A gente pegava a carta do mico, mas por que a gente pegava sempre o mico, né, e os meninos não? Eles marcavam a carta que era do mico e eles não pegavam aquela carta e a gente não sabia. E aí, como a gente era mais simples, né, eu não tinha nem o Jogo do Mico, eu ia jogar com o jogo dos meninos, que eles tinham e a gente sempre pagava lá alguma coisa lá, porque ficava com o mico. Ah, mas por que eu ficava com o mico? Aí, a gente, depois... hoje, né, fazendo esse raciocínio, a cartinha tinha pontinhos deles, eles nunca pegavam o mico. Uma outra coisa que a gente fazia muito também era cirquinho, né? Não sei se vocês chegaram a fazer o cirquinho. Aí, nesse cirquinho, que a gente fazia lá uma cabana, para fazer uma apresentação, pagava-se a entrada com palito de fósforo. Palito de fósforo. Olha, se vocês perguntarem também para os avós de vocês, para os pais, eles vão lembrar dessa história. Então, a gente... e para roubar o palito da mãe? Porque fazia falta para a mãe também, né? Era um tal de pegar palito de fósforo escondido ((Risos)). A Leonor está se divertindo. ((Risos)) Pergunta para a mãe de vocês, que eles devem de lembrar dessa história. Aí a gente pegava o palito de fósforo e pagava para a dona da casa lá, para poder assistir o teatrinho, tal, esses palitinhos de fósforo. E aí ela ficava toda feliz, que enchia a caixinha de palito de fósforo, né? E hoje é uma coisa que a gente, né, despreza muito. E da minha infância eu lembro também de... era uma delícia quando a minha irmã mais velha, que cuidava da gente, que minha mãe já trabalhava, né, porque na década de sessenta a mulher, eu falo que ela teve essa independência, ela começou a ajudar, né, a trabalhar. Minha mãe já ia para a lavoura junto com o meu pai para poder ajudar e aí foi desvalorizando, né, foi distanciando um pouco e aí eu fui criada pela minha irmã. E quando a minha irmã falava assim: "Ó, nós vamos fazer comidinha", que era a comida no quintal. Então, ela fazia o fogão de pedras, né e aí ela fazia o arroz para a gente ali, né? Então, era a comidinha que a gente fazia e estava... era uma coisa linda isso, né? Hoje, acho que... acho que não sei se tem isso em alguma etapa aqui, em algum estado, ainda, aqui do nosso Brasil ou em alguma parte do mundo, ainda, que tem isso. Mas você imagina todos os irmãozinhos reunidos, né? A minha irmã era a mais velha, mas ela era mais velha cinco anos mais que eu. Imagina o tanto que ela era mais velha, né? Quatro anos mais que nós. E entre ela e eu tinha uma outra também, então nós ficávamos tudo em volta dela, esperando fazer aquela comidinha, assim, no... né, junto, assim, com os tijolos. E uma outra coisa também que vocês estão me fazendo lembrar, que acho que eu queria ser, na época, uma atleta. E então, estava tendo... já tinha, né, os Jogos Olímpicos, o pouco que a gente podia ver e eu fui fazer uma ginástica numa corda que estava amarrada na casa da minha mãe, lá. Eu tentei fazer a ginástica e caí. Porque eu via as meninas rolando, né, Cláudia? Era aquelas coisas superpreparadas, né? (risos) E eu fui fazer a ginástica, eu caí, quebrei meu braço.
P2: É aquela época da Nádia Comăneci, assim, aquelas maravilhosas.
R1: Sim, sim. E a gente achava que podia, totalmente sem preparo, né? Aí eu me lembro que eu caí, quebrei o braço. Aí eu tive que... apanhei de braço quebrado, aí tive que vir ((Risos)) pra Ribeirão Preto, para colocar o braço no lugar. Fiquei um tempão com o braço engessado, tudo. Isso fez com que eu... eu não sei pular corda, eu não sei andar de bicicleta, porque eu fiquei uma infância todinha de braço engessado, né? Porque eu quebrei o braço acho que com seis anos, depois... na época, não tinha essa história de cirurgia, que era super-rápido, né? Engessava, engessava torto, tirava de novo, engessava de novo, né? Enfim, eu fiquei uns dois anos de braço engessado, aí eu perdi. Eu não sei andar de bicicleta, eu não sei pular corda, porque eu tenho muito medo e não sei nadar, né? Nadar, eu estou tentando ainda aprender, viu? Eu estou me metendo a aprender depois de velha, mas bicicleta, só sonho que eu estou andando de bicicleta. Mas foi por conta disso, né, da travessura de tentar fazer ginástica, mas eu acho que eu queria ser uma ginasta olímpica, mas não deu ((Risos)). Não deu. Então, eu acho que foi, assim, bem legal.
P2: E de vender, assim, você brincava de vender alguma coisa?
R1: Ah, sim, brincava.
P2: Já brincava.
R1: Já brincava. O que a gente fazia, né? A gente ia no milharal e pegava as bonecas de milho, né? Então, quando a gente conseguiu uma boneca de milho vermelho, né, que ela tinha um cabelinho mais vermelho que, normalmente, a palha muda de cor, né? Então, tinha aquelas bonecas de milho com o cabelo mais preto, que a gente fazia que era o cabelinho. Então, quando eu encontrava uma de cabelo vermelho, eu escondia de todo mundo, aí eu ia vender. Aí eu vendia a troco de outras bonecas, porque não tinha dinheiro nessa brincadeira, né? A gente vendia a troco de boneca. Fazia também para vender, naquela época, né, as vaquinhas de bucha, né? Não sei se vocês já chegaram a ver isso. Então, a gente pegava as buchas verdes, colocava os palitinhos assim e vendia. Então, quando a gente conseguia fazer aquelas vaquinhas bonitas, a gente vendia. E cheguei fazer pipas também para vender, né? Então, a gente gostava e minha mãe não deixava, porque mulher, na época, vinha muito isso, não soltava papagaio, né? Mulher não podia um monte de coisa, inclusive assoviar. Mulher não assoviava, viu?
P2: Aham.
R1: Não assoviava. E eu, outro dia, num evento, lembrei que eu aprendi a assoviar, né? Escondido. E aí, acordei à noite assoviando, o tanto que eu queria assoviar que nem Roberto Carlos. E outro dia, num evento, eu lembrei, Cláudia... perdão, Leonor, eu lembrei que eu sabia assoviar, eu dei um assovio assim, todo mundo me olhou e falou: "Como?". ((Risos)) Falei: "Puts". Olha, eu busquei a minha infância lá atrás. Aí eu falei assim: "Poxa, hoje eu posso assoviar e ninguém me bate, né?". ((Risos)) Porque eu apanhei, (risos) porque eu conseguia assoviar com os dedos igual na época, que era: "Meu amigo, Roberto Carlos". Erasmo fazia e chamava assoviando. E aí, assim, eu acho que essa minha infância meia de travessura fez com que eu fui adquirindo já um pouco de maturidade e fui aprendendo, depois junto com a minha mãe. A minha mãe fazia os paninhos de prato e eu fazia os bordados e também vendia, porque aquilo você vendia para você conseguir uma coisa para você. Então, foi nascendo em mim, mas eu vendia por prazer, tanto que eu disse assim: "O que mais me encantou no comércio é vender e você ver que a pessoa está se sentindo bem. É vender e saber que a pessoa está feliz de receber, né, aquele bem, assim, aquela coisa que ia fazê-lo engrandecer a vida". Então, eu acho que isso fez muita parte de mim e eu agradeço muito a Deus, porque daí eu vim para o sindicato e eu consigo, aqui, falar com as pessoas, eu consigo ministrar cursos, né? Que a gente monta cursos aqui rápidos, de ministrar, falar: "Olha, você consegue fazer isso. É dessa forma". Dar os insights. Eu fui recentemente numa empresa e... ai, gente, isso foi muito legal. Mas numa reunião, assim, eu dei uma olhada e vi as meninas com o tênis sujo. Trabalhando com o tênis sujo demais, né? Por que não lava o tênis? Aí eu, né, dei uma dica, assim, no ar e disse que a gente até ensinava as boas maneiras, inclusive lavar o tênis. Qual que é o problema de você chegar à noite e dar uma lavadinha no seu tênis, para você trabalhar no dia seguinte? Aí eu vi que deram umas olhadinhas para os tênis, sabe? ((Risos)) Quando eu vi, eu falei: "Gente, será que eu devia estar falando isso?". Mas saiu, nessa espontaneidade, saiu. Aí depois eu falei para o gerente, falei: "Você desculpa, mas eu falei porque foi coisa do meu trabalho e tal". Mas ele falou: "Serviu, serviu, sim porque, mesmo que está tudo muito moderno, muito bicho-grilo, roupa rasgada, coisa assim, mas você quer chegar numa loja, você quer encontrar uma pessoa que te atende à altura, né? Porque naquela pessoa você está vendo o que você está levando, a confiança, tudo, né?". Então, eu acho que isso foi... está muito dentro de mim, fazer tudo isso.
P2: Ô, Regina e você falou assim, que nos primeiros... nas suas primeiras vendas, vocês trocavam, para você ter as coisas, né, as outras bonecas, do jeito que você queria. E quando começou, assim, a entrar os dinheirinhos, assim, o que você foi fazendo com os dinheirinhos?
R1: Aí dava para a mãe. ((Risos))
P2: Para ajudar, né? ((Risos))
R1: Dava para ajudar. Dava para a mãe, né? Porque o meu irmão mais velho já estudava aqui em Ribeirão Preto, que aqui em Ribeirão Preto era distante demais, né? Hoje, a gente faz isso em dez minutos. Antigamente, vir de Dumont - Dumont está 12 quilômetros aqui de Ribeirão Preto - para Ribeirão Preto era quarenta minutos, né? Porque eram estradas muito ruins, muito barranco. Hoje você vai em menos de dez minutos. E como meu irmão mais velho estava estudando aqui em Ribeirão Preto, a gente... todo dinheiro que conseguia, extra, era exatamente para que ele tivesse essa condição, né, de ter essa vida melhor. E sempre foi assim, Cláudia. Por isso que eu defendo de que seja comissionado o vendedor, porque ele tem um desafio, né? Ele vai fazer o salário dele. Ele só vai fazer o salário dele, aí ele se esforça, ele vende, ele vai para a porta da loja, ele chama gente para dentro da loja, mas isso é o comissionamento, que teria que estar voltando urgente se quiser ter uma produção porque, se não tiver, o vendedor trabalha dessa forma.
P2: Agora me diz, assim, se em Ribeirão mudou essa estrutura, né? Porque, assim, eu me lembro de criança aqui em Bauru, a gente ia na loja de calçado, era sempre a mesma vendedora. E, assim, era... meus pais eram os clientes dessa vendedora. E hoje a gente entra na loja, tem um rodízio. Mudou isso também, em Ribeirão?
R1: Mudou, mudou. Mudou muito porque, na época, o que acontecia? Como era comissionado, eu tinha que fazer a identidade com o cliente, que eu sabia que era um cliente bom, que comprava e pagava, eu fazia aquela identidade com ele. Então, eu estava sempre à frente, eu estava sempre ligada e eu me identificava com a pessoa e a pessoa já me procurava, porque eu tinha feito a minha marca, então a pessoa me procurava. Isso foi ficando tão negligente, vou chamar assim, que o rodízio, hoje, é somente para obrigar a pessoa a vender. Não é, assim... sabe? É para dar oportunidade? Não sei se é para dar oportunidade. Eu vejo que é mais para obrigar o vendedor que está lá, a vir para frente e atender, porque eu ganho o meu salário se eu vender ou não. Então, se eu ficar escondidinho na loja, o meu salário vem. Então, eu foi obrigado a fazer essa forma desse rodízio, exatamente para que você possa... todo mundo vai vender, todo mundo vai ter oportunidade de vender, mas está tirando a identidade do vendedor com aquele cliente tradicional. Tirou.
P2: Hoje tem pouco da comissão?
R1: Hoje, pouquíssima, quase que nada. Tem prêmio pelas vendas. Então, se você conseguiu... a loja conseguiu vender X, todo mundo ganha, né? Então, tem prêmio pela produção, mas envolve todos, né, pela premiação. Hoje tem uma cota para você atender, atingir, se você não atingir aquela cota, você não tem a tua premiação e essa cota depende de todo mundo. Então, por isso que tem que rodar, né? Quem está lá no fundo tem que vir para frente, para poder fazer isso. E perde a identidade do vendedor com aquele cliente que é bom, aquele cliente que consumia bastante.
P2: É.
R1: Então, mudou bastante isso também. Eu não... assim, eu não vejo como legal. ((Riso))
P2: Ô Regina, conta para a gente, assim, né: se você for descrever para a gente, assim, o comércio de Ribeirão, quais são as ruas mais antigas de comércio, onde elas estão, que lojas tinham antigamente, que você se recorda?
R1: Nós perdemos muitas lojas tradicionais aqui em Ribeirão Preto, né? A loja, assim, mais antiga, grande mesmo, que servia de modelo, de exemplo de cópia para todo mundo, no caso de eletrodomésticos, era a Modelar. A Modelar era uma loja que era grandiosíssima, vendia produtos bons e ela fez uma região muito grande aqui e ela deixou de existir, né? Com patrimônio, inclusive, né? Porque ela ficava lá na Rua General Osório com a Rua Saldanha Marinho, com o patrimônio muito bom - perdão, era General Osório com Amador Bueno, né? - uma loja que tinha departamentos e ela deixou de existir, né? E isso, de Ribeirão Preto. Aí nós tínhamos, também grande, a Retífica Laguna também, que era uma empresa grande, aqui no Centro, que deixou de existir e que o prédio está até hoje lá. Nós tínhamos também, dentro, assim, do comércio, mas de um segmento diferente, que era o Açougue Oranges, né? O Açougue Oranges é na São Sebastião ali com a Rua José Bonifácio, que servia praticamente, isso para Ribeirão Preto, carnes para Ribeirão Preto e região e ele também acabou sendo extinto. E, graças a Deus, hoje lá está sendo construída uma loja do comércio, está vindo uma loja grande lá, que vai fazer frente àquilo que ficou abandonado. Aí, nós tínhamos que... como a Amador Bueno hoje era uma loja mais de... hoje, ela está mais, assim, roupas, né, mas ela era uma loja mais de utensílios domésticos. Como a rua, essa que é principal, que a gente fala de moda, que ficou o Calçadão da Rogério Osório, a Barão de Amazonas. Barão de Amazonas era uma loja que tinha... hoje ela tem lojas menores, mas as grifes, as marcas, as roupas de marcas, estavam na Rua Barão de Amazonas, assim, que ela pega desde lá de cima, de Nove de Julho, até a Francisco Junqueira. Era uma loja, assim, uma rua mais moderna. Aí veio o Calçadão, que cerceou um pouco, né? Então, hoje, assim, hoje nós temos muitas coisas importadas, as mercadorias da China tomaram muito conta, né? E uma grande empresa que nós tínhamos e que vendia também produtos bons e acabou sendo banida aqui do nosso histórico, como era o Tonsin. O Tonsin era uma loja tradicional aqui em Ribeirão Preto e que tinha... vendia os importados, né? Mas vendia os importados de qualidade, né? E hoje acabou ficando essa história de um e noventa e nove, então banalizou muito a nossa mercadoria. Eu acho que acabou virando, assim, muito lixo, né? Acabou ficando muito lixo... vou chamar de lixo útil, ou inútil, né? Então, hoje você compra uma coisa, ela é descartável, né? Onde se viu? Não tinha isso. Então, nós perdemos grandes empresas, de grandes nomes. A Udular mesmo, a empresa de onde eu sou oriunda, acabou... ela vendia eletrodoméstico, vendia móveis de muito boa qualidade, só que duravam para sempre, né, durava a vida inteira. Ela, depois, não suportou, aí ela foi para o ramo de ar-condicionado também e acabou vindo essa coisa muito fácil, essa compra pela internet, essa coisa muito rápida, né? E, realmente, nos distanciou de todo esse nosso trabalho. Me chamaram atenção aqui, eu acho que eu estou falando demais, gente. Desculpa, Cláudia.
P2: ((Risos)) Daqui a pouco está começando a acabar, a gente já está acabando. Ô, Regina, assim: um tipo de comércio que a gente viu que mudou muito e praticamente sumiu, é a parte de tecidos, né?
R1: Sim, sim. Porque começaram a vir as roupas prontas, né, Cláudia? As roupas prontas, né, com uma qualidade superior, ou inferior, enfim. Então, essa condição dessa roupa pronta fez com que as lojas mesmo distanciassem. E também, eu vou dizer assim: as pessoas não querem compromisso, né, de ir lá, escolher o tecido, mandar fazer. Ela quer ir, pegar uma peça pronta, vestir e sair toda linda daquele momento. E também, hoje, o vendedor deixou de se qualificar. Então, hoje ele não conhece o tecido, né, o que é algodão, o que é linho, o que é rami, né? (risos) Então, ele acabou fazendo esse distanciamento. E isso faz com que fica difícil, né, a nossa... vender, falar que eu vou comprar uma peça, se eu não tenho vendedor que entende, que conhece e aí fica superdifícil fazer... falar que está mantendo, né? Você vai lá, você compra, você tem a costureira, você experimenta, você leva. Não. Você vai, praticamente pega uma roupa e já sai da loja e pronto, com isso, né?
P2: Porque antes, também, acho que as pessoas sabiam comprar o tecido, né? Quantos metros iam para fazer uma saia godê, quantos metros iam para fazer um... tinha uma mínima noção, né? Eu acho isso uma arte.
R1: Sim.
P2: Acho de um conhecimento!
R1: Sim. E você conhecia os tecidos, sabia o que dava caimento, né, sabia o que ia bem com isso, o que era fresco, o que era mais... para mais uma outra estação, né? Você conhecia isso e você tinha, talvez, tempo também, né? Tempo que você fazia... a mulher acabava ficando mais à disposição disso, né? Então, você conseguia fazer tudo isso. E hoje, você... é muito rápido, você não encontra uma costureira, né? E conhecer tecido. Vai numa loja... eu até testei outro dia, tem uma loja aqui que vende isso, não sabe nem o que é direito e o que é avesso. Não sabe. Quando você pega o tecido, não sabe qual que é o avesso do tecido, né? Então, esse dia eu estava mostrando para uma menina. Eu falei: "Olha, o direito é mais acetinado, né? O avesso, um pouquinho diferente. Esse é o direito e o avesso". Aí eu acho que a rapidez, a praticidade, né, da vida, os importados também, que chegaram de uma forma mais barata... a globalização, né, mundial. Acho que isso, de uma certa forma, facilitou, né, mas distanciou os tradicionais, né? As roupas, as peças. E as vindas também dos grandes shoppings, né? Os grandes shoppings trazem uma roupa pronta, traz a moda para você. Você parcela, você vai... aquilo que eu falei: você entra na loja, você veste, você sai pronta, né? Você não tem esse... não vai experimentar, não vai escolher modelo, não vai escolher tecido. Então, hoje a vida ficou mais prática, nesse sentido.
P2: É verdade. ((Risos)) Porque, assim, você ia à loja de tecido e ainda saía com o desenho debaixo do braço, né?
R1: Pois é.
P2: O desenho do modelo, né? As lojas tinham desenhista, né?
R1: Sim, tinha o desenhista. Exatamente, exatamente. Aqui eu acho que ainda tem, numa das lojas de Ribeirão Preto, que tem o Toni lá, que é o Paraíso das Sedas, ainda você consegue sair, né, com... você consegue sair com esse traçado do...
P2: Com o desenho.
R1: ... do desenho do que você vai querer. Você consegue, sim.
P2: O Paraíso das Sedas é a última loja de tecidos, eu acho. A gente esteve lá.
R1: Ah, é? (risos)
P2: É de uma família tradicional, né, sírio-libanesa, né?
R1: Exato. Acho que é a última loja, realmente, aqui de Ribeirão Preto que vende, e que tem o desenhista lá, né? Tem o Toni, posso citar o nome dele, porque acho que...
P2: Pode.
R1: ... é um dos únicos e você consegue sair com... rápido seu desenho. Eu acho que isso é superimportante, né? É gostoso. Você, junto com ele, tem esse deleite de fazer. Agora, pela praticidade, porque depois você vai achar costureira, você vai na prova. Isso daí é para a Princesa Diana, que fez não sei quantas provas do vestido dela para se casar, né? ((Risos)) É um pouquinho diferente da gente de todo esse tempo. Aí você prefere ir numa loja, vestir lá e sair, né? ((Risos))
P2: É.
R1: É mais rápido, mais prático. Mas perde, né, essa... como você falou. Achei superlegal o que você falou, que você ia comprar calçado e tinha a identidade da sua família com aquele vendedor e que hoje, realmente não tem, por conta desse rodízio.
P2: É. Ô Regina, você falou da chegada dos shoppings, né? Que época que começam os shoppings aí em Ribeirão Preto, mais ou menos, que você tem noção, assim? Anos oitenta?
R1: Oitenta, né? Isso. Oitenta, oitenta e cinco, talvez, né?
P2: Acho que é.
R1: Porque 1985, 1986, que foi o primeiro shopping, que foi o Ribeirão Shopping, né? Que trouxe, assim, essa novidade, trouxe uma novidade para o nosso comércio, que foi a abertura aos domingos, né? Que nós tínhamos aqui era semana inglesa, a gente trabalha de segunda a sexta, né, o sábado até meio-dia e não tinha a história da abertura do comércio, realmente, nos domingos. Então, o shopping trouxe essa cultura, trouxe esse atropelo para a gente e a gente... graças a ele, trouxe emprego, trouxe progresso, mas também trouxe a nossa vida mais corrida. Hoje o comércio aqui de Ribeirão Preto, hoje que eu digo não hoje, por conta da pandemia, mas o comércio abre de segunda-feira a segunda-feira, né? Das oito até às 22 horas, né? Inclusive no domingo. Nós estamos numa... discutindo, consegui colocar agora na negociação coletiva, que o comércio, aos domingos, no shopping, abre às 14 horas, mas ele estava abrindo às dez horas, né? Então, você vê... é difícil demais para um jovem que, normalmente, quem trabalha nos shoppings são muito jovens, ele não pode nem ter uma vida social, porque ele está no sábado, ele fica até às 22 trabalhando e no domingo, dez horas da manhã, tinha que estar lá novamente. Aí nós conseguimos colocar na convenção coletiva agora que o shopping, aos domingos e feriados, abre às 14 horas. Eu acho que isso foi um ganho. Então, há coisa de 35 anos ou mais, que foi o Ribeirão Shopping, depois nós tivemos o Novo Shopping, né? Que, na verdade, o Novo Shopping ia chamar Off Príncipe e depois ninguém falava, né: "Aonde você vai?" "Eu vou no novo shopping". Porque tinha o Ribeirão Shopping e o novo shopping. (risos) Então, ficou tão tradicional o Novo Shopping, que deixou de ser Off Príncipe para ser o Novo Shopping, né?
P2: Entendi.
R1: Aí, então, ficou... aí veio no meio o Santa Úrsula, né, que também era um shopping mais central, também muito interessante e o último, mesmo, foi o Iguatemi, que também um complexo de lojas maravilhoso, é um conceito diferente de comércio, de trabalho, é uma coisa diferente.
P2: Por que é diferente?
R1: Porque ele fica numa zona um pouco mais distante do Centro, um pouco mais distante dos centros urbanos e, para você ir lá, fatalmente você tem que ter um veículo próprio, né? Porque pode depender também de transporte público, mas eu vou dizer assim, que eu o vejo como um pouco mais elitizado, né? As marcas, as lojas que têm lá, o próprio... a própria maneira de você ir, assim. Ele é... ele tem um nível um pouco mais elevado em termos de social, vou chamar assim.
P2: Ele tem um hotel junto?
R1: Sim, sim. O hotel, o Ribeirão Shopping, também, agora na expansão, colocou alguns hotéis também no complexo do shopping. Então, o Ribeirão Shopping também está com um complexo, mas o Iguatemi...
P2: Iguatemi.
R1: ... já veio com esse conceito, né? Inclusive, você... a Polícia Federal, para você emitir passaporte, está lá dentro, né? Tem grandes salas, para eventos grandes, né? Então, ele veio, eu acho, com um outro olhar para um complexo de compra, por isso que eu falo que ele é diferente. E não fica tão central, né? Não é tão fácil de você ir até lá.
P2: É, ele é... que bairro que ele fica, o Iguatemi?
R1: O Iguatemi, eu vou chamar de... olha, falar a verdade, não sei como é que chamaria o bairro lá. Nova Aliança. Não sei como é que seria.
P2: Mas é bem perto dos condomínios, né?
R1: Sim, sim.
P2: É outra região da cidade.
R1: Isso. Ele fica praticamente na divisa entre Ribeirão Preto, Sertãozinho e Dumont, né? Ele fica um pouquinho retirado aqui, fica mais para a estrada ali entre Sertãozinho e Dumont. Então, um pouquinho distante para os meios aqui, né?
P2: Uhum.
R1: Pro comércio tradicional de Ribeirão Preto.
P2: Tá, maravilha. Guilherme, quer continuar a fazer?
P1: Eu estou aqui ouvindo, admirando a conversa também. Se você quiser fazer alguma pergunta aí.
P2: (risos) Não, eu acho que eu estou supersatisfeita. Tem alguma coisa que a gente não perguntou, Regina?
R1: Nossa, eu acho que não. Eu acho que eu falei durante... eu fiz até um pequeno roteiro aqui, né, para que a gente pudesse estar colocando, né? Eu acho que não... acho que nós falamos de tudo, sim, viu? E acho que estou satisfeita, né, de estar com vocês, pedir desculpa, que acho que eu até me alonguei, assim, porque me entusiasmei.
P2: Imagina. Não, foi ótimo.
R1: E foi bem legal mesmo lembrar, assim, né, de toda essa trajetória de infância, né, de estudo, de esforço. E que sirva de, exatamente, de modelo, né, de desafio, que todo mundo pode, né? Todo mundo pode, todo mundo consegue. Eu estou com um grande desafio aqui agora de fazer isso realmente girar, mesmo com esse momento, né? Mas fazer isso girar, fazer isso dar certo e saber que tudo passa e nós vamos sair bem fortalecidos, sim, desse desafio que Deus nos colocou.
P2: Maravilha. Guilherme, a nossa última pergunta, você faz? A pergunta de encerramento, Regina.
P1: Pode fazer, Cláudia.
P2: Posso fazer? É uma pergunta que eu particularmente gosto de fazer muito, né? Então, você já deve ter muito relacionamento com a imprensa, ter dado muitas entrevistas, né, pela sua atuação toda aí à frente ao Sincomerciário, mas eu gostaria de saber, assim: o que você acha de ter passado esse tempo com a gente, ter feito essa entrevista, olhando para sua trajetória e registrando a sua trajetória, a sua atuação no comércio de Ribeirão Preto?
R: Nossa, eu me sinto, assim, muito importante, né? Eu me sinto muito importante, eu me sinto muito envaidecida e agradecida por isso, porque eu mesma nunca tinha parado para fazer essa retrospectiva, né? Eu nunca tinha buscado, realmente, o tanto que eu cresci, o tanto que foi desafio. Então, eu só tenho que agradecer a oportunidade de eu estar falando, assim, numa maneira diferente, né? Que eu estou falando on-line, eu não estou tendo... não tem aquela luz vermelha apontada para mim, né? Porque, normalmente, aquela camerazinha faz com que a gente... a hora que liga a luz, fala: "Vá falando". Você não consegue. Eu estou me sentindo muito à vontade. E ter a oportunidade de resgatar a minha infância, resgatar minha vida profissional, resgatar esse desafio, e meio que tornar público como a gente consegue, né, como a gente faz tudo isso e passa muito rápido, né? Foi o que aconteceu comigo.
P2: Então, é isso. Você encerra, Gui?
R1: E agradecer.
P2: Nossa, superagradeço. Maravilhoso.
P1: Muito obrigado, então, Regina. Foi um prazer, também, falar com você. Obrigado pelo tempo. Adorei o papo, também gostei bastante. Obrigado, então.
R1: Eu que agradeço, né? Deus abençoe o trabalho de vocês e parabéns mesmo, até vocês, pelo tempo que você estão se dedicando para fazer tudo isso, tá? Um abraço grande para você e toda a equipe.
P2: Obrigada. Então, eu vou pedir para o Tiago desligar aqui a nossa gravação, Regina, para a gente fazer dois combinados ainda. ((Risos)) Não acaba aqui.
HISTÓRIA
Santa Regina. Agradecimento pelo convite. Resgate da história. Nasceu em Dumont-SP, região de Ribeirão Preto. Família de imigrantes italianos. Terra dos pais. 12 quilômetros de Ribeirão Preto. Em 1978 transformou-se em município. Mudança para Ribeirão aos 13 anos. Condições de estudos. Quatro irmãs e dois irmãos. Uma irmã faleceu. Família de seis filhos. Mudança para qualidade de vida melhor. Pai tinha uma pequena área de terra em Dumont. Trabalho rural. Aos 15 anos começou a trabalhar no comércio. Primeiro emprego na Udular. Atividade de informação comercial. Cadastrava pessoas. Crediário. Na época se vendia a prazo. Garantia de pagamento era a confiança. Não havia sistema dos dados. Relação com lojas e comércio. Sindicato dos Empregados do Comércio. Em 1972 entrou no sindicato. Primeira viagem com o Sindicato para Praia Grande em 1976. Interesse no sindicato. Participava de campanhas. Redação na Semana da Pátria. Serviço-benefício. Estudos. União entre as três irmãs. Cursaram o ginásio e colégio juntas. Na época queria ser professora. Sempre gostou do relacionamento com pessoas. Trabalho na Udular por 27 anos. Migrou para área de informação comercial. Crescimento na empresa. Gerência da loja. Curso de administração de empresas. Formação em 1979 em Administração de Empresa pela Universidade Moura Lacerda. Experiência como professora. Especialização em Estatística. Ministrou aulas de estatística por dois anos. Trabalhava o comércio a tarde e dava aulas à noite. Trabalhava dez horas por dia. Entrada às sete e meia, uma hora e meia de almoço e saída às 18 horas. Constituição de 1988. A partir de 1988 passou a oito horas de trabalho. Deu aula para o ensino médio por dois anos. Era celetista do Estado. Substituía as professoras. Comércio sempre foi seu forte. Preocupação de aproximar o sindicato às pessoas. Em 1981 passou a ser parte da diretoria do sindicato. Participação em reuniões e cursos sindicais. Aumento de responsabilidades. Trabalho de relações públicas do sindicato. Vida de 27 anos como trabalhadora do comércio com muito entusiasmo. Encanto no comércio pelas pessoas. Venda de eletrodoméstico. Saída da TV colorida. TV era alegria da família inteira reunida. Lutava para entregas no tempo certo. Venda de sofá, geladeira. Venda por carnê. Trinta meses de pagamento. Não tinha internet, boleto on-line nem PIX. Relação afetuosa com clientes. Expectativas de casais montando casa para casamento. Venda de berço para o filho. Laços em trinta anos na empresa. O que encanta no comércio é fazer a felicidade de quem está comprando. Passar energia para a pessoa. Brigas na equipe comissionada. Disputa interna. Época de venda de ar-condicionado em alta. Venda alta com boa comissão. Disputa com colegas. Antiga loja Arapuã deixou de pagar comissão. Salário fixo para o trabalhador. Vendedor tem que ser comissionado porque sonha em ganhar mais. Indiferença sem comissão. Hoje tem prêmio. Mudanças na profissão ao longo do tempo. Perda de proximidade com o cliente. Antes se podia acompanhar o cliente mais tempo. Venda consciente. Se fidelizava o cliente com laço de amizade. Troca de energia boa. Hoje é uma relação de distância. Rotina prática. Conselho é dar tempo do vendedor trabalhar com o cliente. Vendedor não deveria empacotar, receber, testar e fazer entrega. Vendedor deveria ser linha de frente da loja. Durante dois anos fez a divulgação do sindicato no comércio de Ribeirão Preto. Há 15 anos atrás se tinha convênio com dentista. Tinha o clube de campo. Hoje todo condomínio tem área de lazer, academia e antigamente não. Pessoas encontravam amigos no clube. Quebra de clubes tradicionais. Em 1981 gostava de divulgar o clube. Dedicação integral ao sindicato. Era diretora e trabalhava na Udular. Tinha bolsa de estudo, subsídio de viagem e clube de campo via sindicato. Acesso à cabelereiro e dentista pelo sindicato. Em 1994 ficou apenas no sindicato. Se licenciou da empresa Udular. Chorou por dois dias após sair do emprego de 30 anos. Choro por dois dias de saudade. Entrou aos 14 anos e saiu 30 anos depois. Desafio no Sindicato. Outra visão com mais responsabilidade. Cursou Direito. Trabalho à tarde e à noite. Direito de manhã. No curso era a mais velha. Chamavam de Dona Santa. Sentava nas primeiras carteiras de vergonha da molecada. Fez cinco anos de Direito. Desespero no exame da Ordem. Da sua turma apenas cinco pessoas passaram no exame da Ordem. Foi uma das que passaram na OAB. Insegurança por ser mais velha. Desafio de ser testada. Conseguiu a carteira da Ordem. Trabalho no sindicato exigia responsabilidade e conhecimento. Tinha que dar informação para o trabalhador. Fez especialização. Dedicação em eventos. Começo do evento do Dia do Trabalhador. Miss Comerciária. Clube na época era um luxo, não era acessível para frequentar. Com sua ida para a administração fez parceria com outros sindicatos. Criação do AEC- Associação dos Empregados do Comércio. Tem o SEC, Sindicato dos Empregado do Comércio, e AEC. Importância como dirigente sindical. Buscou conhecimento para exercer a militância. Defesa do trabalhador do ponto de vista legal. Hoje está mais distante do Direito. Dez anos depois assumiu a vice-presidência e depois a presidência. Desafio grande. Se distanciou dos bancos escolares. Subia em carros de som. Defesa de ideias. Nunca se imaginou neste cargo. Desafio da militância. Desafio de quem administra e coordena um sindicato. Força do comércio e serviço na cidade. Ribeirão Preto só consegue atrair outros complexos comerciais pela organização sindical. É uma cidade organizada e respeitada. Quatro grandes shoppings. Média de cinco mil trabalhadores de shopping. O sindicato fez cem anos. Entidade sindical tem quase idade de Ribeirão Preto. Legado sindical aumenta a responsabilidade e trabalho. Tentativa de fazer o máximo que pode. No atual momento o desafio é maior. Desemprego. Busca do melhor para o trabalhador. Fazem acordos e conciliações. Em 2015 recebeu o título de cidadã ribeirão-pretana. Motivo de orgulho. Vereador André Luiz fez essa homenagem pelos préstimos do comércio e do trabalhador. Dedicação de vida. Proposta aceita por todos a Câmara Municipal para que recebe-se o título de cidadã ribeirão-pretana. Na vida foi se posicionando. Assumiu a carteira da União Geral dos Trabalhadores nacional. Faz parte da Secretaria da Mulher. Participa de eventos de igualdade social, violência contra mulher, violência contra o trabalhador e trabalhadora. Simpósios da mulher nacional pela UGT. É vice-presidente do Comitê da Mulher Trabalhadora das Américas. Central Sindical das Américas, CSA. Participação do Comitê da Organização da CSI, Central Sindical Internacional. Visita à vários países na busca da igualdade de gênero e bem-estar das pessoas. Igualdade entre o homem e a mulher, entre o negro e o branco, entre o LGBT. Busca de equilíbrio social e o bem-estar comum. Pandemia. Um ano de isolamento. Momento desafiador. Não se sabe o que vai acontecer daqui um segundo. Imaginava que a pandemia estaria longe ao início. Num primeiro momento as pessoas não acreditaram. Momento complicado. Vírus é uma arma que explode a hora que se respira. O primeiro desafio foi fazer as pessoas acreditarem que era sério. Fazer as pessoas acreditarem que tinham que se cuidar e mudar os hábitos. Novos hábitos de uso de máscaras, distanciamento, lavar as mãos e álcool gel. Fim dos beijos e abraços. O carinho continua à distância. O maior desafio foi conscientizar as pessoas de que era muito sério. Agora o desafio é dizer para ter calma. Hoje estão conciliando horários e salários. Conciliação entre patrão e empegado. Havia Patrão passando dos limites. Hoje o patrão está consternado por não conseguir pagar o funcionário. Dona de loja chegou a chorar. Loja de trajes de festa angustiada. Vinda de medidas provisórias do governo para estabilidade. Se suspender ou reduzir o salário pelo mesmo período o empregado é estável. Estabilidade teve custo alto para dispensar e indenizar funcionários. Dificuldade de acordos porque o empregado tem o direito e o empregador não tem como pagar. Falta de matéria-prima e aumento de preços. Produtos caros. Momento de conciliação e calma. Cuidados da saúde, mudança dos hábitos, cuidados com alimentos. Olhar para o outro e ajudar, Desafio de ver o empregador sem condições de arcar com os seus compromissos por dificuldades em manter negócios. Conciliação. O sindicato dos empregados é para assegurar o direito do trabalhador. Não tem salário sem trabalho. Fazem reuniões para conciliação. Esperança em dias melhores. Novos aprendizados. Aprendizado com tecnologias. Entrada no Zoom. Hoje é fácil. Palestra virtual. Participação on-line em reunião no Uruguai com Costa Rica, Nicarágua, Argentina, Chile. Todos se organizando. Eleição do Comitê em abril. Realização de campanha eleitoral on-line. Progresso. Internet é abertura para os desafios. Em Ribeirão Preto o comércio se readaptou à vendas digitais. Espaço para drive-thru e deliveries. Divulgação de serviço on-line via WhatsApp. Lojas mantem trabalhadores do lado externo para dar informações. Lojas totalmente fechada com cartaz com o WhatsApp do gerente ou do encarregado em plantão para atender. Cartaz na porta com contato do gerente de plantão, nome, o WhatsApp e telefone fixo. Facilidades com celular. Mandam catálogos para a sua casa. Volta de sacoleiros. Vendedor fica à disposição. E eu achei até interessante, conversando com uma vendedora de calçados, Vendedora de calçados faz entrega. Continuam trabalhando e produzindo. Comércio está se reinventando. A federação do Sindicato no Estado é presidida por Luiz Carlos Motta. Funcionamento do sindicato: base sindical; federação no Estado; confederação em Brasília e a central. Em Ribeirão tem o Sincomerciários, a Fecomerciários, a CNTC e União Geral dos Trabalhadores. Aceitou representar as mulheres nacionalmente. Aceitou assumir o comitê das mulheres trabalhadora das Américas. Curso em Turim pela Organização Internacional do Trabalho. Cursos de relações sindicais, negociação coletiva, para enriquecer o currículo. Apresentação de currículo ao Conselho Executivo e seleção para vice-presidente do Comitê de Mulheres. Aprendeu a falar espanhol. Reunião no México sobre direitos da empregada doméstica, após reconhecimento como trabalhador urbano, garantia de registros, 44 semanais e salário-mínimo. Levou a experiência do Brasil para fora. Muitos abusos no trabalho doméstico. Relatos de trabalhadoras que não tinham nenhum direito. Conseguiu levar para outros países experiências do Brasil. Desafios pelo respeito com a mulher, da igualdade, da igualdade salarial, da igualdade de gênero, da capacidade. Tem seminários intensos e tristes. Tem países em que a mulher é objeto. Relatos de companheiras que iam trabalhar de preservativo pelos abusos do patrão sem condições de abandonar o emprego. Então para se precaver do HIV proveniente do estupro ela se submetia a ir trabalhar de preservativo. Denúncia para ONU. Busca de recursos para levar cursos para cidades na África. Recursos para levar segurança para companheiras em zona de risco. Situação em um evento festivo de companheiras tentando levar para as casas o que tinha nos pratos. Desafios com a fome. Nós somos iguais. Toda pessoa tem necessidade do afeto, sente dor e fome. A necessidade é universal. Princípio da União Geral dos Trabalhadores. O homem cria barreiras que não existem. Inseguranças criadas pelo preconceito. Veio da comunidade rural de Dumont. Não acreditava que defenderia uma tese em direito. Teve que se esforçar. Época que dormia com caderninho debaixo do travesseiro porque não tinha tempo de estudar. É feliz por estar participando. Trajetória desde os 13 anos. Mudanças de trabalho. Caminha com o aprendizado e os desafios. Uma rede de supermercado colocou caixa eletrônico no supermercado. Na época fez protesto na porta do supermercado porque entendia que estaria tirando o dinheiro de trabalhador. Conversas com o sindicato e entendimento. Hoje entende que caixas eletrônicos facilita a vida. Pessoas precisam se educarem. Não pode ficar na zona de conforto, tem que estudar. Tem que buscar conhecimento. Capacidade de falar para uma multidão. Participa de atos. A dificuldade como mulher de subir no carro de som. Desafio de ir e se colocar e de ter, realmente, a palavra. Gratificante ser ouvida. Com a pandemia o sindicato teve que dispensar 50% do quadro. Tinham cento e quarenta empregados e hoje são sessenta. Na época estavam defendendo o INSS. Até hoje defendem o SUS. Risco de cortes de verba para a Saúde. Ato defendendo o SUS. Externou tanta emoção que o público silenciou. Desafio de ser mulher e liderança a ser ouvida por uma multidão. Quando viaja para fora do Brasil faz questão de levar a bandeira nacional. Passeata para criar o delivery. Se emociona para falar da infância. Vida na zona rural. Época da Jovem Guarda. Não tinham televisão. Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, né? A Sylvinha, Eduardo Araújo. Iam na casa da amiga que tinha televisão. Atravessava pasto de gados. Histórias de lobisomem. Energia elétrica era precária. Uso de lamparina para desviar das vacas de noite. Se lembra do jogo de palito. Jogo do Mico. O Jogo do Mico era tuas cartas que tinha que encontrar os parceiros e o mico não tinha parceiro. Os meninos marcavam a carta que era do mico para não pegavam a carta. Eles nunca pegavam o mico. Brincadeira de cirquinho. Uso de palito de fósforo. Roubar o palito da mãe para brincar. Pegavam palito de fósforo escondido. Irmã mais velha cuidava das pequenas para mãe trabalhar. Na década de sessenta a mulher começou a trabalhar. Sua mãe ia para a lavoura junto com seu pai para poder ajudar. Foi criada pela irmã. Irmã brincava de comidinha com comida no quintal. Faziam o fogão de pedras para fazer arroz. A irmã era mais velha cinco anos apenas. Sonhava em ser atleta. Assistia os Jogos Olímpicos e brincava de ginástica numa corda. Foi fazer ginástica, caiu da corda e quebrou o braço. Apanhou de braço quebrado. Viagem pra Ribeirão Preto para colocar o braço no lugar. Braço engessado por um tempo. Não sabe pular corda, andar de bicicleta, porque ficou por muito tempo com o braço engessado. Quebrou o braço aos seis anos, e não havia cirurgia na época. Engessava, engessava torto, tirava de novo, engessava de novo. Ficou uns dois anos de braço engessado. Não sabe andar de bicicleta, pular corda, nem nadar porque ficou com medo. Está tentando aprender a nadar. Sonho de andar de bicicleta. Travessura de tentar fazer ginástica. Bonecas de milho no milharal. Boneca de milho vermelho com cabelinho vermelho. Tinha mais bonecas de milho com o cabelo preto. Ao encontrar palha vermelha e fazer bonecas de cabelo vermelho escondia de todos e ia vender. Vendia a troco de outras bonecas. Vendia vaquinhas de bucha. Pegava as buchas verdes, colocava os palitinhos como patas e vendia. Chegou a fazer pipas para vender. A mãe não deixava porque pensava que mulher, na época, não soltava papagaio. Mulher não podia um monte de coisa nem assoviar. Aprendeu a assoviar escondido. Um dia em um evento se lembrou que sabia assoviar, e deu um assovio alto. Assovio com os dedos igual ao "Meu amigo, Roberto Carlos" que Erasmo fazia. Mãe fazia paninhos de prato e ela fazia os bordados para venda. O comércio fez muita parte de si e agradece a Deus. Hoje consegue ministrar cursos. Dar insights. Antigamente começou com vendas para para ajudar em casa. Dava o dinheiro para a mãe. Trajeto para Ribeirão Preto era distante. Hoje se faz em dez minutos. Antigamente vir de Dumont para Ribeirão Preto era quarenta minutos. Estradas eram ruins com barranco. Irmão mais velho foi estudar em Ribeirão Preto. Todo dinheiro extra era usado para que irmão pudesse estudar. Defende que o salário do vendedor seja comissionado pelo desafio. Ao seu ver assim ele se esforça, vende, vai para a porta da loja, chama gente para dentro da loja. Trabalho com vendas mudou. Clientes a procuravam. Ela deixava sua marca de atendimento. Realização de rodízio em lojas atualmente. Hoje há prêmio pelas vendas. Pouca comissão. Prêmio pela produção envolve todos. Hoje tem uma cota para atender e atingir. Perda de lojas tradicionais em Ribeirão Preto. A loja mais antiga que servia de modelo de eletrodomésticos era a Modelar. A Modelar era uma loja grande, com produtos bons e deixou de existir. Ficava na Rua General Osório com a Rua Amador Bueno com um bom patrimônio. Tinha a Retífica Laguna, empresa grande no Centro, que deixou de existir. Açougue Oranges era na São Sebastião com a Rua José Bonifácio e acabou extinto. Amador Bueno era uma loja de utensílios domésticos. Lojas de grifes, roupas de marcas, estavam na Rua Barão de Amazonas. Era uma rua mais moderna. Com a vinda do Calçadão cerceou o comércio. Na atualidade destaque para mercadorias da China. Tonsin era uma loja tradicional que vendia produtos importados de qualidade. Vinda de lojas de um e noventa e nove e banalização de mercadorias. Venda de lixo útil, compra descartável. A Udular vendia eletrodoméstico e móveis de boa qualidade e duráveis. A Udular entrou no ramo de ar-condicionado. Extinção de lojas de tecidos. Vinda de lojas de roupas prontas. Pessoas querem praticidade. Hoje o vendedor deixou de se qualificar e conhecer o produto. Hoje a venda de roupas é rápida, não se encontra costureira e se conhece tecido. Era da rapidez, a praticidade, e dos importados. Mudança com a globalização. Vindas dos grandes shoppings. Praticidade: você entra na loja, veste, sai pronta. Antigamente lojas tinham o desenhista. Hoje a loja Paraíso das Sedas ainda tem o desenhista. O Paraíso das Sedas é a última loja de tecidos. Chegada dos shoppings em 1985. Inauguração do primeiro shopping, o Ribeirão Shopping, em 1985/1986. Foi novidade para o comércio a abertura aos domingos. Se trabalhava no esquema de semana inglesa, de segunda a sexta, e sábado até meio-dia. O shopping trouxe cultura. Hoje o comércio de Ribeirão Preto abre de segunda-feira a segunda-feira, das oito até às 22 horas, inclusive aos domingos. Foi negociação coletiva para abertura do shopping às 14 horas. Novo Shopping Off Príncipe. Shopping central Santa Úrsula. Shopping Iguatemi, complexo de lojas. Iguatemi fica numa zona distante do Centro, é elitizado. Hotéis no Ribeirão Shopping e Iguatemi. Bairro Nova Aliança. Próximo à condomínios. Localizado na divisa entre Ribeirão Preto, Sertãozinho e Dumont. Agradecimentos. Encerramento.
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