Projeto A Gente na Copa – História de Gente que Faz o País do Futebol
Depoimento de Wagner de Oliveira Prado
Entrevistado por Teresa Ruiz
São Paulo, 16/12/2013
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV_434_Wagner de Oliveira Prado
Transcrito por Mariana Wolff
P/1 – Então primeiro, Wagner, eu queria que você dissesse para gente o seu nome completo, data e o local de nascimento.
R – Wagner de Oliveira Prado, nasci em 9 de outubro de 1960, em São Paulo.
P/1 – Agora o nome completo dos seus pais e data e local de nascimento também, se você souber.
R – Meu pai, Benedicto, com “c”, Benedicto da Silva Prado e a minha mãe, Alzira de Oliveira Prado. Ambos nascidos também em São Paulo.
P/1 – O que é que os seus pais faziam, Wagner?
R – O meu pai, ele era gari, que é uma palavra que nunca se usou dentro da minha casa, a gente sempre falou “lixeiro”, meu pai recolhia lixo nas ruas de São Paulo, trabalhou muitos anos com isso e a minha mãe era passadeira de roupa. Minha mãe passava roupas em uma fábrica na Rua Prates, na região do Bom Retiro, ali, região da Luz. Então, sou o filho de um lixeiro e uma passadeira.
P/1 – Você sabe o nome da fábrica?
R – Eu não vou lembrar o nome da fábrica que a minha mãe trabalhava, mas era na Rua Prates. Talvez eu lembre ao longo aí, agora eu não estou lembrando.
P/1 – Não tem problema. E como é que você descreveria os seus pais, conta um pouco para gente como é que eles eram.
R – Olha, meu pai, aquela coisa do provedor, minha mãe começou a trabalhar quando nós tínhamos… eu, 13 anos e a minha irmã, 11 anos. Meu pai, um camarada bravo, mas uma figura muito marcante na minha formação, um cara que perseverou, perseverante e que me passou um valor que eu trago até hoje. Meu pai gostava muito de ler e gostava muito de cinema, e certa vez ele me falou e falou ao longo da vida: “Não é importante você ter dinheiro para você adquirir cultura, é possível você ter cultura sem ter grandes somas de dinheiro”, e isso me marcou e eu passei a levar isso pela minha vida sempre procurando aí, um lado cultural, mesmo sem ter acesso, sem ter a grana para ter acesso a algumas coisas.
P/1 – A sua mãe…
R – A minha mãe, uma figura muito doce, mas em certos momentos muito impositiva como… eu considero que a maioria das mulheres são. A gente tem aquela coisa de homem e tal, mas a gente vive aquela coisa meio que balizado pelas coisas que as mulheres querem. Uma figura muito doce, extremamente carinhosa e que tinha uma paixão por rádio. Eu lembro da minha mãe trabalhando em casa quando trazia serviço para casa, e sempre a presença do rádio muito marcante na vida dela, ela gostava muito de ficar cantarolando e fazendo ali as coisas dela de casa, a dona Alzira é uma figura muito legal.
P/1 – E você se lembra do que ela escutava no rádio? Os programas, as canções?
R – Olha, eu lembro muito assim, de rádios daquela época, ela ouvia muito a Rádio Piratininga, que tocavam as músicas nacionais da época: Ângela Maria, Vicente Celestino, tocava algumas coisas de Bossa Nova, Lúcio Alves, Dick Farney, essas coisas que eu acabei pegando um pouco de gosto por isso também. Ela gostava muito do rádio, o rádio era uma… até porque não tinha em casa a presença da televisão ainda, então, ouvia-se muito rádio. Rádio Piratininga, Rádio Bandeirantes, Rádio Tupi, algumas até não existem mais, Piratininga não existe mais, mas o rádio tinha uma presença muito forte em casa.
P/1 – Tem alguma canção assim, que tenha sido mais marcante dessa época, que você se lembre e possa cantar um trechinho?
R – Olha, eu lembro que a minha mãe, eu não citei o Wilson Simonal, mas ela… eu não vou lembrar… eu não vou lembrar a letra toda, mas tinha um refrão… ela cantava a música toda, mas o refrão dizia: “Vesti azul, minha sorte então mudou. Vesti azul…”, eu lembro dela cantarolando essa música, ela até fazia algumas brincadeiras, minha mãe era muito despachada e inventava outras coisas na letra, mas ela cantarolava muito isso aí.
P/1 – E você se lembra bem da casa que você passou sua infância, Wagner?
R – Lembro.
P/1 – Lembra? Descreve um pouco para gente então assim, como é que era a sua casa, como era o bairro, qual era o bairro?
R – O bairro é o Jaçanã, a vila se chama… ainda tem lá, Vila Nilo e era um terreno com três casas, o terreno dava frente para duas ruas, duas ruas… duas ruas, não, nos fundos, ele dava frente para linha do trem, tinha um trem que ia até o Jaçanã, quase na divisa com Guarulhos e a parte da frente do terreno, a Rua Cirene de Oliveira Laet, que era o nosso endereço, Cirene de Oliveira Laet, 796. Eram três casas, a casa da frente era a casa onde vivia a minha avó, dona Lazinha, olhando o terreno de frente, do lado direito, a casa da minha madrinha, Benedita, Ditinha e à esquerda, nos fundos da casa da minha avó, a nossa casa, onde morava Benedicto, Alzira, eu, o filho mais velho, Wagner e a Glay, a minha irmã. Casas extremamente simples, porque eram pessoas que tinham ocupações também muito simples, a minha avó trabalhava em casas de família, o meu tio e padrinho era mecânico, a minha madrinha e tia também tinha uma ocupação de casas de família também, a minha mãe, como eu disse, começou a trabalhar depois que eu e a minha irmã já tínhamos adquirido uma independência, eu tinha falado 13 anos, não, minha mãe começou a trabalhar quando eu tinha dez e a minha irmã, oito anos de idade. Essas três casas e no meio das três casas, uma espécie de um pomar, mas o que marcava o terreno era a presença na frente da casa da minha avó, uma goiabeira, que hoje, com toda certeza, ela é secular, uma goiabeira enorme, que marcou a nossa infância, adolescência, porque toda época que… a goiaba, ela floresce ali um pouco no meio e no final do ano e nós morávamos em frente a uma escola e toda vez que a goiabeira estava carregada, não tinha quem não passasse ali ou não pegasse do chão, entrava… o terreno era aberto, entrava ali para pegar, ou os moleques pediam para subir na goiabeira, que era uma aventura, porque era um tronco muito grande, e algo que… embora eu não fosse um moleque daquela coisa muito ativo, eu era muito bom para subir naquela goiabeira, descobri o segredo de subir por aquele tronco e ficar várias horas naquele pé pegando goiaba, ou então só o fato de subir e ficar lá por ficar, olhando as coisas, ficar num nível mais alto que as casas, aquilo era muito bom. Tínhamos essa goiabeira que marcava o terreno, tínhamos uma mangueira, mas mangueira é uma árvore traiçoeira, porque ela é oca, então você pode pisar e o galho, o tronco ali quebrar. Então a gente tinha muito cuidado com a mangueira, que era uma árvore grande, frondosa também, a mangueira, um pessegueiro de onde eu caí, porque o pessegueiro tem um tronco muito liso, eu caí certa vez desse pessegueiro, era um quintal com assim, árvores e a presença de frutas também, foi muito bom ter morado ali, ter passado a infância ali.
P/1 – E as brincadeiras de infância, você se lembra assim, quais eram as brincadeiras, com quem você brincava?
R – Eu considero que eu tive todas as brincadeiras, desde brincar de roda até algo que eu nunca mais vi que aqui em São Paulo, a gente chama de amarelinha, quando eu era pequeno, pular amarelinha, que era algo que vai te trazendo um pouco de destreza, bolinha de gude, gude era muito bom, a gente jogava tanto isso, que essa parte do dedo, a pele até ficava um pouco mais para trás. Pião que eu adorava, eu nunca mais vi meninos jogando pião, talvez no interior, e é algo que traz uma destreza muito, muito grande também, porque a gente fazia truques jogando pião, jogar ele no chão e ir lá com o cordão e enrolar, jogar ele para cima, pegar nas mãos. Ou então, jogar ele no alto mesmo, puxar o cordão, ele vir girando e você catar na mão, era uma coisa que era tão comum para gente fazer aquilo no dia a dia…
P/1 – E que precisa de habilidade, coordenação motora…
R – Coordenação motora e eu acho que você vai desenvolvendo tudo isso com essas brincadeiras. Não tenho nada contra as diversões atuais, hoje se fala muito em vídeo game, que acaba desenvolvendo outras coisas cognitivas, mas a nossa era ali, era coisa de brincar na terra, se embrenhar no meio do mato, brincar de piques, queimada, que a gente brincava, mas não com essas bolas grandes, havia um prazer em você também acertar a pessoa, então nós brincávamos com… arrumávamos bolinhas como se fossem bolinhas de tênis, até que chegavam para gente eu não sei como, mas dividíamos as turmas e era… saía umas porradas ali, era bem legal!
P/1 – E futebol? Vocês jogavam nessa época, na infância?
R – Então, o futebol. O futebol entrou na minha vida só com dez anos de idade, eu digo: “Só com dez anos”, porque eu comecei a jogar futebol na escola já perto ali dos dez anos, oito, nove anos de idade, eu comecei a jogar na escola, no primário ainda.
P/1 – Mas era o quê? Educação Física?
R – Não, não era Educação Física, era aquela coisa de sair para o pátio na hora da recreação e aproveitar aqueles dez, quinze minutos de intervalo, os meninos jogando bola. Então, dava-se um bola, dividia-se rapidamente o grupo ali e a gente jogava ali no pátio da escola. E eu não tinha habilidade nenhuma, nenhuma e eu acho que esse meu prazer de ver alguém jogando futebol muito bem veio daí, de admirar alguns caras que eu via que tinha uma habilidade que eu não tinha. Eu sempre tive mais habilidade com as mãos, com os pés, não, embora eu jogue futebol, mas não da forma que eu sempre almejei jogar. Então, comecei na escola…
P/1 – Na sua casa, seu pai gostava, assim, mãe, pai…
R – Meu pai gostava de futebol, mas meu pai era ruim de bola, a minha mãe não tinha nada a ver com o futebol, minha mãe era mais do samba, minha mãe gostava de samba.
P/1 – E o seu pai torcia para algum time?
R – Meu pai torcia para o Santos Futebol Clube. Em casa, a casa era muito simples, era uma casa que tinha a cozinha, no meio a sala e nos fundos, um quarto e nesse quarto, que era o quarto da minha mãe e do meu pai e meu e da minha irmã, que dormíamos numa cama pequena, um na cabeceira e o outro ali nos pés, dividíamos ali a cama e na sala, eu lembro que tinha um quadro, mais ou menos desse tamanho, do Santos. O Santos tinha o Pepe talvez de jogador branco, então eram dez negros com aquele uniforme branco bonito de uma época que não tinha a questão do merchandising, do marketing nas camisas, eu chamo de uma época pura, do futebol, no uniforme do Santos só tinha o emblema do Santos aqui e mais nada, aquela coisa branca. Então tinha lá Coutinho, Dorval, Mengálvio, Pelé, Pepe, e era um esquadrão, um esquadrão que se formou a partir de 1960, que foi quando eu nasci. E o meu pai, acho que muito por força do Pelé e das conquistas do Santos, Santos bicampeão mundial, meu pai passou a torcer pelo Santos.
P/1 – E ele ouvia os jogos, você tem essa recordação assim, ouvir no rádio as partidas, tinha isso?
R – Ele acompanhava, mas não era uma coisa que fazia parte daquele cotidiano dele, de ser um torcedor que acompanhava tudo. Isso, eu vim ter por parte do meu padrinho, Nelson, que era mecânico e negro, mas torcia para o Palmeiras, o que ainda hoje, é visto com uma certa estranheza entre os negros, torcer para o Palmeiras. Obviamente, tem muitos negros que torcem para o Palmeiras, mas como o Palmeiras tem aquela questão de ser um time, aqui de São Paulo, um dos últimos a admitir jogadores negros, o primeiro foi o Djalma Santos, então a comunidade negra, ela meio que ficou com o pé atrás com relação ao Palmeiras. O meu tio, mecânico, trabalhava numa oficina de italianos, eu acho… desde garoto, eu acho que ele sofreu essa influência do Palestra e tal, Palmeiras… voltando ao meu pai, o meu pai, torcedor do Santos, eu torci pelo Santos até os dez anos de idade.
P/1 – Por influência do seu pai?
R – Por influência do meu pai, só que o meu pai, até os meus dez anos, nunca havia me levado a um jogo de futebol, do Santos. O Santos jogava na Vila Belmiro e para ir para Santos na década de 60 não era essa facilidade que é hoje, e jogava no Pacaembu. Meu pai nunca havia me levado a um campo de futebol, quem me levou foi o meu padrinho…
P/1 – Para qual jogo?
R – Me levou no Palmeiras e Corinthians, agosto de 1971, no Morumbi. Meu pai foi junto, mesmo não sendo um jogo do Santos, meu pai foi junto, fomos os três. Primeira vez eu entrando num estádio, Morumbi…
P/1 – Como é que foi o impacto assim, você se lembra?
R – Foi uma coisa maravilhosa de ver aquele mundo de pessoas e foi ali que eu me defini corintiano para desespero do meu padrinho, que com certeza, me levou ali para que eu passasse a ser um torcedor do Palmeiras também.
P/1 – E por que é que você se definiu corintiano?
R – Foi simples e foi mágico! Entramos no estádio em direção a arquibancada, que era o lugar mais barato, embora também houvesse as populares ali do Morumbi na parte baixa, que hoje não existe mais, o lugar em que você ficava em pé vendo o jogo. Nós fomos para arquibancada. E a hora que nós saímos na entrada da arquibancada, que você visualiza todo o estádio, eu vi o mundo de bandeiras preto e brancas, o mundo de bandeiras e um filete de bandeiras verdes e brancas. Eu fiquei olhando aquilo, não é, meio atônito, aquele monte de gente, aquela alegria, as bandeiras, daí eu perguntei para o meu padrinho: “Quem são aqueles?” e apontei para o verde e branco, “Quem são aqueles”, naquele momento eu já tinha me definido que eu não era daquele grupo, “Quem são aqueles?”, ele olhou para mim, com aquele olhar bravo. “Como aqueles? Aqueles somos nós. Aquele é o Palmeiras”, daí eu não falei nada, fiquei quieto e pensei: “Eu não sou aqueles não, eu sou esses aqui (risos), eu sou… eu quero estar com esse mundo aqui, é isso que eu quero” e a partir dali, houve um interesse maior pelas coisas do Corinthians, por acaso, o meu pai… uma das atividades dele para trazer mais dinheiro para casa, ele fazia… era um bico na Federação Paulista de Futebol, ele passou a fazer isso, como rasgador de bilhete, rasgava bilhetes ali de papel, tinha uma urna, a pessoa chegava, entregava, rasgava o bilhete e jogava na urna. Ele passou a fazer isso e aí, ele perguntava: “Vai ter jogo do Santos, quer ir ao jogo do Santos?” e eu: “Não, não quero ir ao jogo…”, “Quer ir ao jogo do Palmeiras?” “Não, não. quando tiver do Corinthians, eu posso ir?” “Está bom, vai no do Corinthians”, e ele nem protestou nada, nunca falou nada, acho que respeitou ali a minha opção. Passei a ir a jogos do Corinthians e a primeira grande sensação assim, como corintiano, primeiro… talvez, primeiro prazer, no futebol foi 1972 Corinthians e Palmeiras, Morumbi, Corinthians campeão da Taça do Povo, que era um torneio de nada, mas como o Corinthians não ganhava nada há muito tempo, eu lembro que saímos do Morumbi e fomos a pé até o Vale do Anhangabaú para pegar o ônibus para casa, mas fomos a pé do Morumbi até o Anhangabaú com muita festa da torcida corintiana, Corinthians campeão do Torneio do Povo, foi a minha primeira grande comemoração assim, como torcedor do Corinthians.
P/1 – Você se lembra assim, de algum jogador que tenha sido um ídolo para você, assim, do Corinthians?
R – Eu lembro de um momento, outro Corinthians e Palmeiras… não, não foi nem Corinthians e Palmeiras, foi um Corinthians e Internacional de Porto Alegre no Parque Antártica, não sei… eu era garoto, não sei porque eles jogaram no parque Antártica, se uma reforma do Pacaembu, mas isso é década de 70 e o meu pai me levou a esse jogo, eu pedi para ir e quando o Corinthians chegou ao estádio, eu estava no local em que os jogadores iam passar e eu vi o Rivelino. Eu vi o Rivelino, que tinha sido campeão em 70, a primeira Copa que eu vi, que eu vi na televisão, e vibrei muito com aquilo, com nove anos de idade e eu vi o Rivelino chegando e aquilo foi mágico para mim, porque Rivelino é… fazia magia com aquele pé esquerdo, e a hora que ele passou, eu falei: “Oi Riva”, ele pegou passou a mão na minha cabeça e eu fiquei parado, nem, ele fez assim na minha cabeça e passou, não falou nada…
P/1 – Mas é incrível, quando…
R – É, eu fiquei aquilo, o Rivelino tocou em mim, é o Rivelino! O cara ganhou a Copa, é o Rivelino, fez gol de falta, fez gol de jogada, fez um gol de falta, se eu não me engano no Uruguai contrariando o Pelé, que o Pelé ia bater a falta, ele tomou a frente, foi lá e bateu e… e aquilo me encantou, ter visto o Rivelino e o fato de poder ver também no estádio o Pelé jogando. Eu vi o Pelé em campo duas vezes, uma vez, ele fez gol, um golaço contra a Portuguesa no Pacaembu, um chute de voleio lindo, acho que isso é 1973 ou 74, e vi o Pelé num Santos, 4 Corinthians 0 no Morumbi, um dia que o Edu, ponta esquerda, que foi o cara que mais me impressionou quando eu era garoto, que jogava bola, foi o Edu, que tinha uma habilidade incrível. E eu era meio gordinho, assim como o Edu, e o Edu jogava com a meia arreada e eu, toda vez que ia jogar, eu arreava a meia para ficar parecido com ele, embora eu fosse destro. E aquele jogo, o Edu estava endiabrado, Corinthians quatro… Santos, quatro; Corinthians, zero, foi uma coisa tão assim, assombrosa, o Pelé não fez gol, mas jogou muito, os gols foram de Nenê, o Edu numa cavadinha por cima do Ado, que foi uma coisa! Nenê, acho que fez dois, Edu, e se eu não me engano, o Brecha fez gol, se eu não me engano.
P/1 – Foi um jogaço assim!
R – Foi um jogaço, mas eu saí do estádio chorando, porque era corintiano, mas a supremacia do Santos naquele jogo foi uma coisa assombrosa e o que o Edu jogou de bola, tinha o Pelé, mas naquele jogo, o Edu foi demais! Foi um jogaço, embora o meu time tenha apanhado que nem cachorro (risos).
P/1 – Você mencionou primeira Copa, que você tem recordação, queria que você me dissesse assim, que recordações você tem dessa primeira Copa que você acompanhou e um pouco assim, como é que era a preparação, foi na sua casa que você viu os jogos, tinha a coisa da… você se lembra, de uma preparação assim para os jogos, casa enfeitada, o clima da Copa assim?
R – Eu lembro muito, marcou algo na minha casa que foi a chegada da primeira televisão na minha casa…
P/1 – Que época?
R – Foi em 1970, foi quando chegou a televisão em casa, nós não tínhamos televisão, era só… era só rádio. Aí, chega em casa um trambolho, que era uma TV Empire Bonanza, TV com pezinho, TV tinha quatro pezinhos e tal e chegou e era uma coisa que dois homens precisavam carregar uma televisão. Hoje, qualquer criança pega uma TV e leva de um lado para o outro, dois homens para pegar uma TV…
P/1 – Um móvel, quase?
R – Era um móvel! O seletor de canais era algo que eu criança, era um negócio! Precisava pegar com duas mãos, por dentro dela tinha válvulas e era fantástico você ver as válvulas da TV acendendo para ela começar a funcionar. Então, você pegava o seletor e virava, quando ligava e aquilo fazia: ‘tuk, tuk…’, era uma… era mágico o negócio. Chegou a TV justamente para Copa do Mundo, que se eu não me engano, a Copa de 70 foi a primeira Copa… posso estar enganado, foi a primeira Copa com transmissão ao vivo pela televisão, a Copa de 66 na Inglaterra acho que não teve transmissão ao vivo, a do México já foi ao vivo. Então, chegou a TV, meio do ano ali, Copa do Mundo, a gente assistindo os jogos do Brasil. E eu lembro que na transmissão, em cima, aparecia “vivo” aqui à esquerda e a gente lia “live”, que é live, e eu perguntava para o meu pai: “O que é que é vivo live?” (risos), e ele falava: “Não enche, deixa eu ver o jogo” (risos).
P/1 – E você se lembra assim, tinha uma coisa da família se reunir para ver os jogos, assim, ou preparar alguma coisa especifica, era uma ocasião?
R – Era… era uma ocasião, que rolava a questão da comida, comidaiada?
P/1 – O que assim, de comida?
R – Olha, a minha avó era especialista num negócio que todo mundo gostava que era canja, não importa que comida fosse, vai servir uma feijoada? Vai, mas tinha uma canja de galinha, era uma coisa meio tradicional, eu não sei se tem uma coisa religiosa também nisso, sinceramente não sei, mas sempre tinha uma canja, quer fosse comida de dia, à noite, tinha canja, tinha que ter canja. Então, era feijoada, rabada, essas coisas bem…
P/1 – Pesadas…
R – Pesadas, carregadas e que eu gosto muito, não é, a minha família toda, todo mundo gosta e talvez, os negros, de uma forma geral, gostem muito dessas comidas encorpadas e bem carregadas.
P/1 – E reunia a família toda assim, como é que era?
R – Reunia a família onde tivesse a TV, e tinha TV na minha casa e na minha avó já havia televisão e por uma questão de hierarquia, vamos nos reunir na casa da minha avó, íamos para casa da frente, todo mundo, para ver o jogo. Eu ali naquela inocência dos nove anos, era farra, o jogo prendia? Prendia, mas na hora que saía um gol, e aí é que a TV exercia um papel fascinante, aparecia outras letrinhas, saía um gol do Brasil, ou de qualquer outro time, e aparecia: “replay”, e era em câmera lenta e a gente… saía o gol, a gente saía correndo para o quintal, pegava uma bola e fazia aquela coisa do movimento do jogador chegando, chutava a bola devagarinho para ela, ir bem devagarinho, quem estava no gol imaginário fazia aquela coisa de cair, a bola passando e a gente, às vezes, até dispersava do jogo, para ficar nas nossas brincadeiras. E quando saía um outro gol, corria para TV para ver como foi e fazer o nosso slow motion ali no quintal. E era muito muito divertido essa coisa de ver um pouco do Brasil, e depois, repetir o que estava acontecendo ali na TV.
P/1 – É muito novo também a coisa da câmera lenta…
R – Sim.
P/1 – Muita novidade.
R – E a gente ficava olhando aquela: “Nossa, como é que eles conseguem fazer de novo… que eles repitam tudo devagarinho”, assim, não dava para imaginar, que é um recurso que existe, um botão que o lance vai quadro a quadro, é bem gostoso.
P/1 – E você diz: “A gente”, assim, porque tinham outras crianças ou primos?
R – Então, nesse quintal também havia a minha prima Sandra, que tem a mesma idade que eu, então, eu era mais próximo dela do que da minha irmã, por regularmos a mesma idade, meu primo, o Marquinhos, Marco Antônio Oliveira da Silva, que já se foi, então, éramos quatro ali, eu, a minha irmã, a minha prima, meu primo e outros que chegavam, os meus primos do Jardim Tremembé, na zona norte, então, reunia bastante criançada ali, era um grupo, talvez, oito ou dez, que a gente ficava ali no quintal e às vezes, até saíamos na rua, que era um território também tranquilo, não é hoje, com essa coisa de carros em alta velocidade que as pessoas se preocupam, estar na rua era só você avisar: “Olha, estou na casa de fulano ou estou brincando em tal lugar”, não tinha essa coisa de comunicação também móvel hoje, você avisava e ia para aquele lugar e ficava naquele lugar, não dispersava: “Estou na casa do Alcir”…
P/1 – E ia para casa do Alcir…
R – E ia para casa do Alcir, que era meu amigo. “Estou na casa do Beto e do Carlos”, ou Calo, como a gente falava, e avisava isso ao meio-dia, oito da noite, se a sua mãe te procurasse, poderia ir lá, que estava lá, não tinha “Ah não, saiu daqui foi para tal lugar”, não tinha essa, era um compromisso.
P/1 – E nessa copa de 70, Wagner, você se lembra assim, da rua enfeitada, ou da movimentação na rua quando tinha um jogo do Brasil, alguma coisa diferente nesse sentido, não?
R – Eu lembro muito dos fogos. Não havia essa coisa de rua pintada, até porque em 70, no meu bairro, não havia asfalto. Tínhamos uma linha de trem, muita trilha e pedra e a rua da frente era um caminho de terra, não tinha o asfalto. O asfalto veio depois, então não havia essa coisa de pintar rua, mas…
P/1 – E muro assim?
R – Não, também não, também não. A minha casa não tinha muro, éramos uma faixa de terreno, que dava frente para duas ruas e que as pessoas usavam para atravessar, era comum a gente estar no nosso quintal, e pessoas que a gente sequer conheciam, usavam aquilo como passagem. E era aquela coisa, se era de manhã: “Bom dia”, “Boa tarde”, “Boa noite”, passavam e você não tinha a menor preocupação. Hoje, as casas…
P/1 – É outra coisa!
R – É outra coisa, hoje é outra coisa! Nós não tínhamos a menor preocupação com isso, todo mundo passava, pessoas conhecidas, ou não conhecidas e não havia problema algum.
P/1 – Então, o que você se lembra mais mesmo é de comemoração pública, públicas, assim, que você escutava nas ruas, eram fogos?
R – A gritaria e os fogos, muitos fogos, muitos fogos e depois que acabava… que acabava o jogo, em algum lugar, ia começar um samba, ia ter música em algum canto para comemorar a vitória e como o Brasil só venceu, foi campeão, então, sempre depois de jogo, começava música em algum lugar.
P/1 – Perto da sua casa, você lembra assim, de ter alguma comemoração?
R – Eu lembro… perto de casa, no campo de futebol, que existia, no Jaçanã tinha um clube, time chamado São Benedito, então, o campo de futebol era a área maior onde as pessoas tinham para se reunir, então, o povo ia para lá, e chegava alguém com uma caixa, um pandeiro, não tinha instrumento de corda não, era uma coisa bem…
P/1 – Percussão assim?
R – Percussão mesmo. Ia aparecendo e o pessoal cantando e dançando, aquilo durava um tempo que eu não sei precisar quanto tempo, mas acabava em festa e com música.
P/1 – E tinha comida e bebida também, você se lembra se as pessoas levavam?
R – No campo de futebol, não, a comida estava mais restrita ali a questão da casa, o povo ia lá para aquela coisa de cantar, dançar e se divertir.
P/1 – E nesse momento, você estava na… na Copa de 70, você estava com dez anos, é isso.
R – É… nove… exatamente em junho, julho, eu estava com nove anos.
P/1 – Nove anos. E nesse momento, você já frequentava a escola, Wagner, voltando um pouco…
R – Nove anos, eu estava já no terceiro ano primário.
P/1 – Então, você entrou com sete anos.
R – Eu entrei com seis anos na escola. Estava ali, terceiro indo para o quarto ano já.
P/1 – Onde era a escola, você se lembra do nome e onde ficava?
R – Nossa! Se eu escorregasse no portão da minha casa, eu caía dentro da escola. Escola Dona Cirene de Oliveira Laet, que fica na mesma rua, hoje, ela se transformou numa creche, que ganhou o nome de Flávio Império, que é um cara que trabalhou com teatro aqui em São Paulo, mas a escola se chamava Cirene de Oliveira Laet, ela não é mais no mesmo local, ela se mudou para um outro local do bairro, mas a escola, com esse nome, ainda existe.
P/1 – E como é que era a escola, você se lembra?
R – Um prédio muito simples, apenas de um pavimento, branca, janelas pintadas de azul, uma entrada, portão grande, aquelas pedras meio cor de rosa, tal, pedras grandes, a área para brincar era o pátio da escola, lembro muito que a gente tinha uma ordem que era obedecida assim, de uma forma militar, até (risos)…
P/1 – A disciplina era rigorosa?
R – A disciplina era rigorosa, porque nós chegávamos à escola, formávamos fila no pátio, para entrar para sala de aula, você entrava em fila, meninos à esquerda, meninas à direita, formavam e ia entrando, fila por fila. E antes de entrar, antes de entrar na aula, cantava-se o Hino Nacional. Era todo dia, depois, passou a ser no último dia da semana, na sexta-feira, perfilava, hasteava a bandeira, cantava o Hino Nacional e aí…
P/1 – Entrava na sala…
R – Entrava na sala.
P/1 – Você se lembra de algum professor assim, marcante, dessa época?
R – Marcante para mim foi o professor do quarto ano, quando eu me formei, naquela época era dividido, você fazia do primeiro ao quarto, se formava e depois, ia para o ginasial, hoje juntou, são oito ou nove anos.
P/1 – Nove anos agora, é…
R – Ninguém repete mais também, progressão continuada (risos).
P/1 – E quem que era esse professor, você lembra o nome?
R – Wilson Salles, era um professor do quarto ano e eu já pegava um pouco do hábito do me pai de ler bastante e foi um cara que incentivou muito a questão da leitura. Era uma época que você do tinha um professor também, o professor dava aula de tudo: Matemática, Português, Ciências… era um único professor na sala. Quando eu fui para o ginasial é que teve essa coisa da divisão, cada professor dando uma…
P/1 – Uma disciplina.
R – Dando uma disciplina. E ele era um cara rigoroso, não era um cara de um sorriso fácil e tal, e isso eu só vim a entender depois, mas era um cara que incentivava, procurava conversar com os alunos, via, enxergava algumas potencialidades e incentivava aquilo. Ele foi bem importante. Mas eu lembro que bem que logo que entrei, primeiro ano, Dona Inevalda Garcia, essa mulher me ensinou a ler, então tem uma importância enorme! A pessoa que me ensinou a ler, o primeiro lápis que eu peguei foi com ela, juntar letras, formar palavras e saber o significado foi com ela, então essa mulher tem uma importância infinita na minha vida.
P/1 – Você gostava da escola, Wagner?
R – Eu gostava da escola, nessa fase de criança, eu gostava muito da escola, era muita novidade, essa coisa do saber, de aprender, era muito bacana. No segundo ano, dona Marilena, todo… acho que todo menino se apaixona por… não sei as meninas, mas todo menino se apaixona pela professora, dona Marilena…
P/1 – Foi a sua primeira paixão de professor?
R – De professora, foi… acho que… talvez a primeira mulher que eu tenha me apaixonado, porque era uma figura muito bonita, e carinhosa com a gente, ali com sete, oito anos de idade, foi muito bacana.
P/1 – Aí, você termina o primário nessa escola, essa escola não tinha ginasial.
R – Essa escola não tinha ginasial, termino lá em 1970…
P/1 – E aí, vai para qual escola?
R – Fui para… não era… deixa eu lembrar a sigla, era Unidade Integrada de Primeiro Grau Júlio Pestana, a gente até tinha uma brincadeira, falávamos: “Júlio Pestana, entra burro, sai sacana”.
P/1 – Era perto da sua casa?
R – Aí, eu já tinha que andar de 15 a 20 minutos para chegar. Lembro até que nos primeiros dias, a minha mãe, acompanhou a mim e a minha prima, nós entramos no Júlio Pestana, nem era Unidade Integrada ainda, quando nós entramos era Grupo Escolar do Jaçanã.
P/1 – E como é que era esse grupo escolar?
R – Aí, já era uma outra estrutura, um prédio de dois pavimentos, que a gente queria… como nós estudávamos em escola térrea, nós queríamos ir para o segundo andar para poder ficar olhando da janela o pessoal lá embaixo. Assim, uma coisa mais suntuosa, no meio do bairro, e a gente sentindo, naquele momento, que nós havíamos atingido um grau que os nossos pais não haviam chegado. Nós estávamos no ginásio, o meu pai fez até o quarto ano, a minha mãe, até o quarto ano, minha madrinha e o meu tio também até o quarto ano. O meu tio, depois, foi aprendendo coisas técnicas relacionadas à mecânica, e aprendeu muito.
P/1 – Mas escolaridade assim, formal, vocês…
R – Mas nós chegamos ao ginásio e sentíamos que era um motivo de orgulho para nossa família nós estarmos no ginásio e isso colocou um pouco de pressão na cabeça da gente de não decepcionar, de não decepcionar de forma nenhuma. E o Júlio Pestana foi a minha primeira experiência ruim de escola, porque eu entrei na ainda era primeira série ginasial e eu repeti, eu tinha ido muito bem no primário, se eu não era o melhor dos alunos, eu nunca deixei a desejar, eu estava ali, no nível intermediário, mas…
P/1 – Ia bem…
R – Ia bem, ia bem. No Júlio Pestana, eu repito em Matemática e foi muito ruim pensar que eu ia ter que fazer um ano novamente, as mesmas coisas e que pessoas que eu convivia, amigos iam estar um ano a minha frente, iam terminar antes de mim, então eu lembro de ter chorado muito quando a minha mãe foi ver o resultado, e falou que eu havia repetido. E em uma matéria: Matemática.
P/1 – É uma fase difícil assim, de desvincular do grupo, você fica…
R – Isso, você perde a referência. Tem que criar outras referências.
P/1 – E você se lembra, nessa fase, você já estava assim, pré-adolescência e vai até entrar na adolescência, no ginásio. O que é que muda assim, na diversão? O que é que você fazia… você e os amigos, o que é que vocês faziam para se divertir nessa fase? Durante o ginásio todo.
R – Olha, ai nós estamos em 1900 e o quê? Sete dois? Eu estou na quinta série, eu tinha ali com 11 para 12 anos…
P/1 – E fica até uns 15, mais ou menos, nessa faixa.
R – É, fico até os 15… a diversão nossa era jogar futebol, na escola ou fora dela, tínhamos o nosso time da vila.
P/1 – Do local onde você morava?
R – Do local onde eu morava.
P/1 – E jogava onde? O time…
R – Havia vários campinhos, no bairro, nós tínhamos o nosso campo, entre a Cirene Oliveira Laet e a linha de trem, um terreno de um senhor italiano, senhor Giuseppe Menella…
P/1 – Descreve assim para gente como que era o campo, só para poder visualizar. De terra…
R – Campo de terra, terra batida e ali, ou você aprende a jogar, ou você não aprende, porque era um campo em declive. Imagina jogar futebol no declive, daí que a gente cria aquelas coisas de “vamos subir”, “vamos descer” em termos de ataque, porque se a gente estava no plano da Rua Cirene Oliveira Laet, você olhava e via uma subida no campo e se você estava jogando nessa metade, você tinha que subir para atacar, o que te exige um pouco mais de força. E se você estava na linha do trem para baixo, era descer, então, tem que ter destreza, você não pode bater na bola muito forte, porque ela vai pegar muita velocidade, não vai alcançar, vai ter descida, sabe, ou você aprende ou você aprende e é jogar ou descalço na pedra, ou então, com tênis que a gente usava muito conga, ou bamba, que tinha um solado muito fino, se você pisa numa pedra, você está sentindo ali. Então, acho que até a sola do pé criava meio que uma carapaça, você vai criando essas coisas. Tínhamos esse nosso campo…
P/1 – Como é que dividia os times, assim, organizava e dividia e diferenciava…
R – Era sempre jogo contra outra vila, era sempre contra outra vila. O pessoal da nossa vila jogava para o nosso time, não existia isso de é nosso e vai jogar… eu lembro, vou citar um cara que era o nosso rival, que tinha no outro time, “Vai jogar no time do Zinho”, que era o pessoal que morava no pé do morro da Serra da Cantareira, que é o outro lado do bairro. Eles tinham um campo…
P/1 – Então, você está contando Wagner da festa do seu primo...
R – É, meu primo Gê.
P/1 – E como é que eram os bailes em geral, assim, me conta um pouco onde aconteciam?
R – Ou eles aconteciam em festas de aniversário ou então, em lugares maiores, como por exemplo, o salão do Palmeiras, onde a gente com uma certa independência ali com 16, 17 começamos a frequentar os bailes que aconteciam mais longe do Jaçanã. E os bailes da Chic Show do Palmeiras era um acontecimento, eram bailes para negros, onde reunia um contingente da comunidade negra muito forte, havia os bailes da Associação Atlética São Paulo da região ali da Ponte Pequena, que eram bailes que traziam equipes do Rio de Janeiro para tocar aqui em São Paulo e vinham caravanas do Rio, aquela coisa meio que intercâmbio da musica e da dança. Esses bailes eram muito marcantes. Os do Palmeiras, principalmente, os da Chic Show, porque sempre tinha uma atração especial, que eram ou Jorge Ben, a gente nunca fala Jorge Ben Jor, o “Ben Jor” é o da guitarra para depois, Jorge Ben, o da batida do violão, o do samba rock, ou Tim Maia. Baile que tinha Chic Show, Palmeiras, Jorge Ben ou Tim Maia eram coisas imperdíveis, não se podia perder.
P/1 – O que é que era o Chic Show?
R – Chic Show era uma equipe, uma equipe que fazia bailes para negros aqui em São Paulo. E ali, você ouvia funk, soul music, músicas lentas que a gente chama de… o pessoal chamava de melodias e a gente chama de melô, muita melô, que é aquela para dançar ali a dois, coisa que já não se faz mais.
P/1 – É raro hoje em dia.
R – É, as pessoas não dançam mais juntos. E ali, você vai aprendendo a desenvolver algumas coisas. Bom, tem que saber dançar para se relacionar bem com as outras pessoas, tem que saber jogar um pouco de bola, você não precisa ser craque, mas você precisa saber jogar, e tem que saber tocar algum instrumento.
P/1 – Você toca alguma coisa?
R – Com o negro é assim, é assim, porque uma hora vai rolar um jogo de bola e vão te chamar e não dá para dizer: “Ah, eu não jogo”, a hora que você falar isso vão olhar: “Não joga? Joga o quê? Xadrez?” Nada contra o xadrez (risos), “Entra aí, põe aí a camisa, vamos lá, vamos jogar” Vai estar rolando uma música, um samba rock, você tem que saber se defender, a gente fala… no samba rock, a gente fala: “Você tem que saber dar uns toques”, nem que sejam três, mas naqueles dois minutos, você tem que fazer alguma coisa da música, e ali no samba, bater um pandeiro, tocar um tamborim, você não precisa saber tocar um cavaquinho, um banjo, porque é um pouco mais difícil, mas alguma coisa você tem que saber fazer, nem que seja o reco-reco. Alguma coisa, você tem que… senão, já vão te olhar torto, você está ali na roda, tem o cara aqui do lado, o cara cansou: “Pega o tan tan aí”, você vai: “Não, não”, não dá, são coisas assim, que fazem parte da cartilha, você tem que saber fazer.
P/1 – Assim, como se fossem as três coisas mais importantes para socializar.
R – É, para… sabe aquela história que um amigo meu fala: “Tem que saber tocar violão, nadar e falar inglês”, você toca violão, você é o centro da atenção de qualquer lugar, você fala inglês, você é gente em qualquer parte do mundo, e nadar, segundo ele, vai ter uma situação em que você vai ter que saber nadar para…
P/1 – Sobreviver (risos).
R – Para sobreviver, então… amigos, tem que saber jogar bola, tocar um instrumento e dançar alguma coisinha, senão você está destoando (risos).
P/1 – E o seu colegial, onde você faz o colegial?
R – Então, aí entra uma fase complicada na… na minha vida. Eu vou para o Colégio Estadual Eurico Figueiredo, o Cepef, também no Jaçanã. Eu me formo no Júlio Pestana, aquela fase da adolescência, legal e tal e vou para o Cepef. Uma escola modelo na zona norte, era o Cepef e o Albino César na Vila Mazzei. E eu não estava preparado para o Cepef, eu estava o quê? Ali com 16 anos, e eu não me dei conta de onde eu estava indo, a importância que aquilo tinha, eu entrar numa escola modelo na zona norte, de um ensino forte, eu não me dei conta da importância que aquilo tinha e não levei a sério, não levei a sério. Tomo bomba aos 16, tomo bomba aos 17, tomo bomba aos 18, sou jubilado.
P/1 – E aí?
R – Jubilado. Assim, para um cara que exceção à primeira série, que eu tinha repetido, eu fui bem, não estava entre os primeiros, mas estou ali, me defendendo bem, mas eu saio sem direito no prazo de um ano, a poder voltar para uma escola estadual, porque…
P/1 – Tinha uma punição…
R – É, uma punição, mas merecida, porque eu estava tomando o lugar de outras pessoas que queriam… e eu em três anos eu poderia me formar, eu sairia do colegial com 18 anos para começar uma …
P/1 – Faculdade…
R – Faculdade com 18 anos, poxa! Eu já estava no colegial, ninguém da minha família tinha alcançado esse… prestes a ir para uma faculdade, no entanto, eu… aquelas coisas de piração, de…
P/1 – Jovem também…
R – Não dei importância para isso, ligado em outras coisas, tentei aprender, tentei a música, música, sempre fui fascinado por violão, que hoje eu toco, coloquei a música na minha vida depois dos 49 anos, estou com 53, já toco o violão.
P/1 – Quando você foi jubilado, você ficou um tempo sem estudar?
R – Então, eu fiquei dos 19 até os 22 anos sem estudar, ou seja, eu desperdicei, em termos de estudo, cinco, seis anos da minha vida, os três anos que eu bombei, e aí, o período que eu fiquei sem fazer nada, só trabalhando.
P/1 – É isso que eu ia te perguntar, você começou a trabalhar nesse período?
R – Comecei a trabalhar… não, eu comecei a trabalhar aos 14 anos numa indústria de calcados chamada Arcoflex, ela não existe mais, no bairro do Jaçanã…
P/1 – Qual que era a sua função lá?
R – Auxiliar de refilagem. A refilagem, você pega a sola do… lá, eles faziam tênis daquela… da marca Puma, de lá, saíram as chuteiras da seleção brasileira para Copa de 70 e 74. E você pega o solado do sapato, do tênis, e numa máquina que gira uma esfera de aço, com várias pontas e você vai lixando, o solado do sapato, você pega, faz isso, o bico, vira, para ficar áspero, o solado precisa ficar áspero para cola que você coloca ter aderência, como se fosse fazer um remendo. Tem que, esfregar, para você ter uma aderência na cola e você colar o remendo. Então, o meu trabalho era lixar e aquilo saía um pó, um pó amarelo do solado de borracha, que você usava uma máscara, mas você saía com aquele pó todo impregnado, e eu negro, com aquele pó amarelo, eu chegava na minha casa que eu não me lavava na fábrica, eu morava a meia-hora de lá, eu ia para casa, então, andando com aquele pó amarelo no cabelo, era uma coisa dantesca, as pessoas olhavam: “Nossa…”
P/1 – É estranho.
R – “O que é que é isso”, Mas trabalhava nessa Arcoflex das seis da manhã às duas da tarde e queria estudar… estudava no Júlio Pestana, eu estava nessa época na sétima série, no período da tarde, mas não dava, eu saía às duas para entrar às três, ainda tinha que tirar aquele pó e tudo, então não dava, passei a estudar à noite. Então, eu fiz a sétima série e a oitava série no Júlio Pestana à noite,
P/1 – E o que você ganhava nesse trabalho ia para sua casa, era para ajudar…
R – Então, o que eu ganhava era parte para ajudar em casa, e um pouco ficava para mim. “Ajudar em casa” era… o pagamento era semanal lá, então eu chegava na sexta-feira assim que recebia, dava parte para minha mãe, para comprar coisas na feira, um acompanhamento para o… estou falando acompanhamento hoje, porque a gente falava “mistura” (risos) para o almoço ou jantar, frios para um café da manhã para ajudar ali nas coisas básicas mesmo, e guardava um pouco para diversão, fazer uma roupa, era uma época em que adolescente, a vaidade está aflorada, então, comprava pano para fazer calça, comprava camisa, sapato de sola plataforma para ir para o baile, para ir dançar, essas coisas… uma parte para casa e uma parte que eu estourava em poucos dias.
P/1 – E você ficou então dois anos nessa fábrica e ai, depois…
R – Não, eu fiquei na Arcoflex, fiquei por dez meses, dez meses eu trabalhei na Arcoflex, até que eu saí. Considerei que aquilo não era para mim, eu estava estudando, eu estava indo para oitava série e eu estava ali entre pessoas que sequer acreditavam que eu estudava, porque estavam ali por uma necessidade, eu tinha necessidade de trabalhar? Sim, tinha, mas os que estavam ali tinham muito mais necessidade que eu e nenhum deles estudava. E eu pelo menos, estava no caminho de estudar.
P/1 – Daí você ficou dez meses então, e depois você fica nesse intervalo sem trabalhar até voltar depois dessas reprovações, do jubilamento, é isso?
R – Não. Fui para Arcoflex, trabalhei dez meses, saí da Arcoflex, queria algo melhor e esse algo melhor surgiu quando eu fui trabalhar pela primeira vez como office-boy, numa empresa chamada CPM Concreto Pré-Moldado, um lugar que aí, deu valor para o meu estudo, pelo o que eu estava estudando, porque eu comecei como office-boy e acabei como auxiliar de escritório, porque entre os office-boys, eu era o único que estudava, então eles resolveram dar oportunidade de trabalhar internamente para quem estava estudando e aí, eu vi o quanto o estudo fazia diferença na minha vida e na vida das pessoas.
P/1 – E era de que idade a que idade isso?
R – Eu entro na CPM, eu estava com 16 anos, só que quando eu entro no colegial, eu não dou valor o fato de estar no colegial, eu tinha que ter dado valor a isso, estar numa reta boa e você pode chegar à faculdade. Aí, eu me perco nessa coisa do estudo, eu tomo essas três reprovações, não posso entrar numa escola estadual e aí, eu dei um bico em tudo, falei: “Vou só trabalhar agora”, eu perco o meu emprego na CPM e recebo uma oportunidade de trabalhar na Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Faço os testes, sou aprovado com 18 anos e entro na Sabesp. Entrei em final de 79, entrei com 19 anos.
P/1 – Em que função?
R – Eu entrei… eles têm um nome interno lá, mas eu trabalhava internamente num dos escritórios, numa divisão de medição e consumo e o meu papel era fazer cálculos, a gente fazia os cálculos ali de quanto a pessoa iria ter que pagar pelo consumo de água. Você recebia umas planilhas, que vinham dos caras que iam fazer a leitura dos hidrômetros nas casas, passou um mês, 250, no outro mês, 180, daí você tinha uns parâmetros lá, fazia o cálculo e mandava para o departamento que expedia as contas. Se a pessoa reclamasse, a reclamação iria voltar para você, para você refazer aquele cálculo, então era melhor acertar e eu, que nunca gostei de conta, fiz Jornalismo, jornalista não entende de números.
P/1 – Eu ia te perguntar isso, quando que você resolveu voltar a estudar, então?
R – Então, eu resolvo voltar a estudar com 22 anos, depois de estar trabalhando três anos na Sabesp e ver que se eu não estudasse, eu não conseguiria nenhum crescimento ali dentro, porque as oportunidades eram dadas para quem estudava. Então, com 22 anos, eu resolvo fazer o supletivo…
P/1 – Aí fez o supletivo…
R – O supletivo colegial. Entro com 22, fiz um ano e meio de supletivo, que é um ensino… ele é defasado, porque é um ano você vai ter que aprender em seis meses, então ele é corrido, os três anos, você vai ter que tirar em um ano e meio. Então, é obvio que você vai sair com algumas falhas de conhecimento, não dá nem para comparar com quem ficou num colégio durante três anos ou com quem ficou em um bom colégio durante três anos. Fiz o supletivo, saí com 23 anos e meio, aí bom, como é que eu vou superar isso para poder entrar na faculdade? Fazer aí, três, quatro meses de um cursinho, fiz o cursinho no Etapa.
P/1 – Você já tinha em mente assim, o que é que você queria fazer de faculdade?
R – Desde a sétima série! Eu queria fazer Jornalismo, porque uma das coisas que eu fazia bem era escrever, sempre que eu escrevia, alguém elogiava, e eu tinha uma matéria na sétima série que era Técnicas Comerciais, que você tinha que fazer o cabeçalho, endereçar uma carta para alguém, tal, e a professora, dona Norma, gostava do que eu escrevia, de como… e depois, de como eu me reportava dentro de determinado assunto e ela sempre falava: “Você escreve bem”, e aquilo foi “Você escreve bem” e eu fiquei pensando: ‘Pô, escrever, escrever… escritor? Não, jornalista!’, quando eu entro na CPM, eu tive um chefe lá, o Milton e quando ele me dava algumas coisas para escrever, ele vinha e falava: “Poxa, você escreveu bem isso, escreve isso… você tem que fazer Jornalismo”, aquilo foi reforçando mais ainda: ‘Você tem que fazer Jornalismo”, embora fosse uma empresa de engenharia, que chegou e me disse: “Se você quiser fazer Engenharia…”, o escritório era na frente da Faap, um dos centros de Engenharia mais desenvolvidos que a gente tem aqui, “Se você quiser fazer Engenharia, a gente paga para você”, mas eu não queria Engenharia. Não seria um engenheiro, não teria a menor chance. E eu optei pelo Jornalismo. Aí, fiz o supletivo, fiz o…
P/1 – Cursinho…
R – O cursinho, faço vestibular e entrei na Fiam (riso).
P/1 – Como é que foi a faculdade de jornalismo, assim, o que é que mudou na sua vida entrar na faculdade…
R – Eu dei risada porque eu lembrei do meu pai falando: “Não faça Jornalismo”, meu pai me falando.
P/1 – Por quê?
R – Porque ele considerava que Jornalismo não dá dinheiro. Ele me levou no quintal de onde nós morávamos, no mesmo quintal e me falou: “Está vendo essa vizinhança?”, que o bairro estava crescendo, eu falei: “Estou”. Meu pai, mesmo sem ter estudo, ele era um cara visualizava, ele tinha um saber. Ele falou: “Está vendo essa vizinhança aqui?” “Estou” “Vai vim mais gente ainda, mais casas, todo mundo vai precisar de um advogado, quando eles tiverem problema com terreno, com qualquer coisa, eles vão precisar de advogado. Ninguém vai procurar jornalista. Você vai fazer Jornalismo? Para quê? Aqui, tem que ser advogado”, eu falei: “Mas eu não gosto”, a gente nem falava “Direito” na época, “Não gosto de advocacia” “Não, mas…”, ele ainda insistiu, ele falou: “A questão não é de gostar ou de não gostar, a questão é de você sobreviver e você vai ganhar mais dinheiro sendo advogado do que jornalista. Faça Advocacia porque…”, o meu pai sofreu uma influência de um lugar que ele trabalhou na prefeitura quando ele alcançou o posto de contínuo, que era um office-boy adulto. Ele trabalhou na Comissão Municipal de Investigações da Prefeitura, só trabalhou com advogados. Então, ele via que aquilo, o Direito era uma boa fonte de renda, porque ele trabalhava com advogados conhecidos e que tinham alcançado um status, ele queria aquilo para o filho dele, óbvio! E natural, até, mas eu contrariei o meu pai e fui fazer o Jornalismo.
P/1 – E gostou da faculdade? Foi uma experiência boa?
R – Foi uma experiência boa, porque era uma coisa muito criativa, onde você estuda muita história, sociologia, conceitos de economia, então te dá uma visão, assim, global, de vários assuntos, vários aspectos. Você ganha um alicerce muito bom e eu gostei… gostei disso, tinha muita leitura, foi bacana e outro aspecto que foi interessante também, a FIAM fica incrustrada no Morumbi. Eu sou do Jaçanã… era, hoje moro num outro bairro, na zona sul, era da zona norte e eu estudava de manhã, numa faculdade de playboy no Morumbi, eu entrava às sete e dez da manhã na faculdade, eu tinha que pegar um ônibus no Jaçanã às cinco e meia da manhã, estar no ônibus às cinco e meia, o ônibus atravessava a cidade, me deixava na Waldemar Ferreira, próximo da USP, outro grande centro de estudo, eu andava da Waldemar Ferreira, atravessava a Francisco Morato, pegava a Avenida Morumbi e chegava até a FIAM. E eu conheci muita gente assim, muita gente? Conheci algumas pessoas de muita grana, que eram os meus colegas de sala e que tinham tido outra vida bem diferente da minha e foi uma coisa legal, porque a gente se entrosou bem, as diferenças conviveram muito bem, eu fui muito bem aceito por eles, e os aceitei muito bem também. E fiz amigos que eu conservo, até hoje.
P/1 – E você já tinha em mente: você pensava no Jornalismo, mas você tinha em mente, assim, uma área, quando você entrou?
R – Esportes.
P/1 – Desde o começo?
R – Desde o começo. O que eu queria do Jornalismo? Que eu pudesse trabalhar com esportes, eu nunca me vi um jornalista de politica, nem de economia, nem de ciências, eu queria esportes, porque eu sabia que nos esportes, eu ia ter um prazer em fazer aquilo, Campeonato Mundial de Bolinha de Gude, eu ia estar babando por aquilo, e eu iria viajar, minha grande paixão, conhecer outros lugares. Porque eu pensava: “Eu não vou ter grana para sair daqui e ir para Paris, não vou ter essa grana”…
P/1 – Trabalhar era um jeito…
R – “Poxa, quando que eu vou conhecer Nova York, que é um lugar que eu quero conhecer?”, ainda não conheço Nova York, eu vou conhecer o ano que vem. Mas poxa, como é que eu vou para Espanha? Minha filha casou com um espanhol que me passou… eu torço pelo Barcelona por causa desse cara, o cara me contou a história dos problemas internos da Espanha, os problemas que a família dele teve com o Franco, me contou a história do Barcelona, quando é que eu vou para Barcelona?
P/1 – Então, você sempre quis… sempre foi esse o foco. E como é que é o trabalho com o jornalismo esportivo no Brasil?
R – Olha…
P/1 – Assim, me conta da sua experiência mesmo, a sua experiência com o trabalho…
R – Eu gostei muito de tudo o que eu fiz, embora o jornalista esportivo, ainda hoje, é visto como pária da redação. A não ser que ele trabalhe num veículo exclusivamente daquilo, como uma ESPN, uma SporTV, uma Fox Sports, agora quando você está numa redação, eu passei pela redação da “Folha” e trabalhos esporádicos no “Estado”, o jornalista de esportes, ele é o que ganha menos, o de economia, de politica e vai ganhar mais, talvez até o de variedades vai ganhar mais, o de esportes ganha menos. O de esportes é visto como o cara que não deu certo em outras áreas do jornalismo e acabou indo fazer esportes. Quando a maioria está lá porque gosta muito de esportes, assim como o cara de economia ou de política gosta de economia ou política. O jornalista de esportes… essa é uma visão bem pessoal minha e eu a desenvolvi a partir do que…
P/1 – Da sua experiência.
R – Da minha experiência. O jornalista de esportes é visto como o de menor QI, o que sabe menos…
P/1 – Tem um preconceito mesmo, isso que você está falando…
R – Existe, existe, só que eu sempre falo isso até quando eu tive que fazer palestras para estudantes, toda vez, dentro de uma redação, que a economia está com problema, estourou um grande fato, ou estourou um grande fato na politica ou na internacional, a primeira coisa que qualquer editor fala é: “Esporte, empresta alguém ai?”, ali vai um jornalista de esportes, que vai ter que escrever ou sobre economia, ou sobre politica, ou internacional, porque jornalistas de esportes têm, por hábito, ler todas as editorias do jornal, além da deles. Jornalistas de outros segmentos dentro do jornal nem a editoria dele. Então, o cara do esporte…
P/1 – É versátil!
R – É versátil, ele está dando um pitaco na economia, na politica, ele está… então, acaba tendo uma visão e eu sempre me orgulhei disso, dessa versatilidade que o esportes tem. A remuneração é sempre mais baixa.
P/1 – E de alguma experiência que você tenha vivido assim, como já atuando profissionalmente, que tenha sido marcante, tem algum…?
R – Olha, em 1999 foi marcante pessoalmente, porque eu pude… dos países que eu fui, eu pude ir para Espanha em 99 e eu fui na Espanha no centenário do Barcelona. Barcelona foi criado em 1899, eu estava lá em 1999, centenário do Barcelona e ia acontecer uma competição mundial para garotos de 15 anos de idade. Um campeonato mundial interclubes para garotos de 15 anos, isso era 1999. Eu fui acompanhando o único time brasileiro que foi para essa competição, porque ganhou uma competição nacional e se classificou para essa, que era o Vitória da Bahia e eu fui para lá, na delegação do Vitória, eu trabalhava em uma assessoria de imprensa, que tinha a conta da Nike, que é fabricante mundial de artigos esportivos e a Nike é que bancava essa competição para garotos de 15 anos. Garotos, enfim, o mundo, era uma babel aquilo, babel do futebol e gente muito boa de bola e numa cidade culturalmente muito forte, de opção gastronômica variada, de uma vida noturna intensa e que respira esporte e um lugar muito bonito! Eu fiquei 17 dias, em Barcelona e mais cinco pela Espanha. Vinte e dois dias e eu tive a oportunidade de ver garotos que tinha 15 anos, na época, e que hoje são campeões da última Copa, como Andrés Iniesta, eu vi jogar com 15 anos e vendo esse cara jogar com 15 anos, você já falava: “Nossa, esse cara tem que virar alguma coisa”, porque ele era capitão do time do Barcelona com 15 anos de idade. Eu vi o Casillas jogando com 15 para 16 anos no gol do Real Madrid, já como titular, eu vi o Felipe, hoje goleiro do Flamengo jogando pelo Vitória lá na Espanha, um garoto, e eu com 38 anos. Então, foi uma viagem que marcou muito para mim, porque eu convivi muito com esses garotos. Quando o Iniesta levantou a taça na Copa de 2010 na África do Sul, eu fiquei vendo aquilo, eu falei: “Nossa, que coisa, eu vi esse cara jogar com 15 anos, 15 anos, era um monstro jogando bola já”, e hoje ele é campeão mundial de futebol. Poxa, vi esse cara… vi o Casillas defendendo e tomando gol…
P/1 – É incrível.
R – É, para mim, eu falei: “Poxa…”, eu que tive… que tenho essa ligação com o futebol, desde garoto, que alimentei um sonho de… é obvio, todo cara que tocou o cara numa bola, é como a música diz: “Sonhou em ser jogador de futebol”, só que isso é para poucos. Isso é para poucos e só faz crítica dura a jogador de futebol, crítica dura quem desconhece o sacrifício que é para chegar lá e eu posso falar de cátedra, não porque eu tenha vivido isso, eu, mas o meu filho, o meu filho se tornou jogador de futebol profissional aos 20 anos e infelizmente, aos 21, ele rompeu com isso, por força de uma má administração da carreira dele. E eu, quando tive meu filho com 13 anos de idade, que deixá-lo em Santos para ele ficar lá na Portuguesa Santista, ele iria ser aproveitado pelo Santos, mas ficou na Portuguesa Santista, você pegar o teu filho…
P/1 – Novinho.
R – Treze anos! Treze anos! Você chegar: “Olha, está aqui, na mão de vocês”, o teu filho. Eu lembro da reação da mãe dele, à época, hoje não é mais… não estamos mais casados, mas ela olhou para mim e falou até sabiamente: “Eu não sei como você tem coragem de tirar o nosso filho da casa dele, onde ele tem tudo, ele tem o quarto dele, ele tem… e deixar aqui, ele vai viver num alojamento”. E alojamento de divisão de base, que não é de time grande é um horror! Todos! É um horror! Mas o que vale ali é o que o garoto está querendo para ele. Eu não poderia… eu sinto assim, como pai, chegar para o meu filho com 13 anos de idade, sabendo que um time está querendo que ele desenvolva o futebol dele lá, olhar nos olhos dele e falar: ‘Não, você não vai”. Eu acho que nem como pai eu tenho essa autoridade de cortar o sonho de alguém, então assim, doeu muito, foi muito forte para mim, foi muito forte a hora que eu deixo ele lá, viro o meu carro e vou subir a serra e pensando: “o que vai ser desse moleque?”.
P/1 – Como que é o nome do seu filho?
R – Mahall, Mahall.
P/1 – E quanto tempo ele ficou nesse…
R – Ele ficou na Portuguesa Santista um ano, ele tem uma trajetória que acho que nem o Cafu que passou… ele passou pela Portuguesa Santista, passou pelo Santos, subiu para São Paulo, ficou na Portuguesa, onde aí, ele fez o trabalho de base dele, que foi muito bem feita, a Portuguesa tem uma tradição nisso, embora também não ofereça essa infraestrutura, para garotada. Ficou na Portuguesa, da Portuguesa, ele foi para o Nordeste do país, voltou para Ponte Preta, foi para o sul, foi para o Coritiba, Internacional, voltou, foi tentando, foi tentando até que voltou para Ponte e ali, ele se profissionalizou. Mas aí, ocorreram problemas…
P/1 – Ele não conseguiu assim?
R – É, ele não conseguiu, porque os empresários queriam um negócio, mandaram ele para o Nordeste, lá ele ficou esquecido até que ele, um dia num telefonema, ele: “Pai, estou aqui há quase quatro meses, eu não recebi nada, eu também não estou jogando, ninguém aparece aqui. Fiquei em Maceió um tempo, morando de frente para o mar e tal, mas eu quero jogar. Me mandaram para outra parte do estado, para Arapiraca, lá não aconteceu nada e poxa, eu conheço a minha namorada desde os 16 anos e esse ano eu não tive um dinheirinho para dar um presente para ela de aniversario ou dia dos namorados. Eu estou cansado disso aí, eu estou fora da minha casa desde os 13 anos. Para mim já deu, eu estou voltando para casa”. Dai eu falei: “Você tem certeza Mahall, que é isso que você quer?” “Eu estou voltando”, eu falei: “Então, eu estou comprando a passagem para você aqui e vem embora, eu estou te esperando…”
P/1 – Para que time que ele torce?
R – Ele é corintiano (risos), corintiano, dizem que pai que não faz o filho torcer para o mesmo time é pai frouxo (risos), então nessa, eu acertei, virou corintiano…
P/1 – E a sua família gosta de futebol, em geral? A sua filha também?
R – Eu tenho uma filha, que é da minha segunda união, é uma filha que já veio pronta, a Camila, a Camila virou corintiana (risos) por minha causa, por minha causa, ela falou que foi por minha causa. Eu falei: “Você é corintiana?”, ela: “Ué, só ouço falar de Corinthians, Corinthians, Corinthians…”, já foi a jogos sozinha, vestindo a camisa do Corinthians.
P/1 – Que idade ela tem?
R – Ela está com 22 anos. Camila, com 22 e o Mahall com 25.
P/1 – E vocês assistem jogos juntos, assim, vão a estádios, assistem em casa?
R – Com a Camila já fomos, eu, Camila e Mahall, nós vimos um Corinthians e São Paulo no Pacaembu, que foi um jogo bem legal e em casa, a gente vê sim, embora tenha essa coisa de nas casas, cada um tem lá no seu quarto, meio que um bunker, com televisão e tal, e som, a gente acaba assistindo e um interagindo com o outro, mas o futebol faz assim, uma presença muito forte dentro de casa, até porque a minha mulher, ela é do Pará e ela torce para o Vênus Atlético Clube. Daí eu falei para ela: “Socorro, Vênus? Tem que torcer para alguma coisa aqui” “Ah, vou torcer para o Santos”, Até porque na época que ela começou a torcer para o Santos estava pintando o Paulo Henrique Ganso, que também é paraense e de quem ela ganhou uma camisa autografada, do Paulo Henrique, então ela torce para o Santos e desenvolveu um ódio mortal pelo São Paulo (risos), mas no futebol, ela opina, antes ela não falava nada, mas agora, ela opina sobre o futebol, acompanha… como ela é advogada, tudo que se refere a questão de direito esportivo, ela está sempre muito bem ligada, o que pode ser feito, o que não pode ser feito…
P/1 – Pegou gosto?
R – Pegou gosto pelo negócio.
P/1 – E Wagner, das Copas que você acompanhou, a gente está encaminhando agora para o encerramento, eu queria te perguntar se tem alguma Copa assim, que tenha sido mais marcante para você, por que você considera enfim, uma Copa maior…
R – Olha, a Copa que mais marcou para mim, que mais marcou foi a Copa que o Brasil não ganhou, a de 82. Por quê? A Copa de 70, eu era uma criança de nove anos, valia mais a questão da farra, até de nem entender bem o que estava acontecendo ali, uma farra por causa de bola, coisa que ainda nem fazia tanto parte da minha vida assim. Setenta e quatro, eu estou com 13 anos, Alemanha, o Brasil perde, perde eu apanho da minha mãe no primeiro jogo, porque eu faltei na escola (risos)…
P/1 – Para assistir o jogo?
R – Para assistir. E nem era o jogo do Brasil, eu faltei na escola para ver a abertura da Copa de 74 que foi Alemanha e Chile e eu liguei para minha mãe onde ela trabalhava, ela atendeu e eu falei: “Eu não vou para aula” “Por que você não vai?” “Porque eu vou ver o jogo da Copa” “Mas não é jogo do Brasil”, eu falei: “É jogo, eu não vou para escola, eu vou ver Alemanha e Chile” “A gente conversa quando eu chegar em casa”. E tinha um jogador na Alemanha que eu adorava, que era o lateral esquerdo Paul Breitner, e eu tive a oportunidade de falar isso para ele numa visita que ele fez ao Brasil, eu falei: “Em 74, eu apanhei da minha mãe por sua causa”, e contei que eu liguei para ela, que eu queria ver o jogo, eu vi o jogo, gol do Breitner, foi 1 a 0, Alemanha, gol dele, mas quando a minha mãe chegou, ela me chacoalhou.
P/1 – Você viu onde? Em casa?
R – Eu vi em casa, vi… vi na Empire Bonanza, preto e branco, vi o jogo em casa. Mas apanhei da minha mãe aquela dia, mas vi, Breitner, Beckenbauer e outros que era o que eu queria.
P/1 – E essa… me conta esse causo do Breitner, como que você encontrou com ele depois, como que foi essa…?
R – Então, o Breitner, nas vésperas da Copa de… 2010 foi na África do Sul, 2006 foi na Alemanha. Às vésperas da Copa de 2006, a Fifa sempre elege algumas personalidades como embaixadores, da Copa, como tem agora a Copa de 2014, o Bebeto, o Ronaldo… o Breitner, Paul Breitner, era um dos embaixadores da Copa e ele veio para o Brasil para promover a Copa da Alemanha aqui no Brasil. Na época, eu era repórter de uma TV, de um projeto bacana do qual eu participei chamado TV da Gente, que era uma TV, cuja programação era uma programação voltada para comunidade negra e eu fui a uma empresa alemã aqui em São Paulo, na região de Cotia, Wurth, onde aconteceu a coletiva do Paul Breitner e a hora que eu o vi, já bem diferente de 74, porque ele usava um cabelão, uma coisa meio armada, estava com outro cabelo e tal, eu fiquei olhando… e logo me veio isso, falei: “Nossa, 74, abertura da Copa…”, daí, abriram para as perguntas, havia um tradutor para o inglês, daí eu falei: “Eu queria fazer uma… não é uma pergunta… eu vou fazer a pergunta depois, mas é uma coisa pessoal. Eu queria dizer para o Breitner que em 74 eu apanhei da minha mãe por causa dele e do time que ele jogava”, daí o tradutor fez assim para mim e falou: “Ele esta dizendo que apanhou por causa de você…”, daí ele pegou, fez assim, ele levantou, para me olhar, daí ele pediu para que eu continuasse falando, eu falei: “Era abertura da Copa…”, e contei essa história Daí, ele me perguntou: “E valeu a pena?”, eu falei: “Valeu muito a pena, foi um jogo difícil”, ele falou: “É, você achou o jogo difícil vendo porque você não estava lá no campo” (risos). E foi muito bacana esse contato com o Breitner, depois ele saiu da mesa, nos demos as mãos, foi bem bacana. E as duas entrevistas que eu fiz com o Pelé, assim, que ver o Pelé é aquele momento do nervosismo que o seu joelho fica… eu perto do Pelé e a minha perna não parava de se mexer. Uma coisa, assim, parecia o quê? Que se existe Deus, estava ali, materializado, do meu lado e eu falando com ele e ele respondendo…
P/1 – Como foi… qual era o contexto dessas entrevistas?
R – Então, eu estava na “Folha da Tarde” e era um outro evento também da Copa dos Estados Unidos, isso era 1993 ou 94, a Copa foi em 94, e o Pelé estava promovendo a questão dos ingressos e tal, viagens que ele fazia pelo mundo todo e ele fez também uma coletiva aqui em São Paulo para falar que a Fifa estava disponibilizando tanto… me eu estava ali… eu queria uma entrevista com o Pelé, mas eu não queria falar de ingresso. Eu queria falar de qualquer outra coisa, mostrar um outro Pelé e tal, e ele estava comendo, eu cheguei, fiquei ali de cócoras do lado dele, ele comendo, ele olhou assim: “Vai ficar aí ajoelhado?”, ele falou, a hora que ele falou isso, veio aquele negócio: o Pelé falou comigo, não é qualquer um, o Pelé falou comigo. Daí, eu olhei para ele e eu falei: “Não, Rei…”, falei “Rei”, “Não Rei, eu queria te fazer umas perguntas, mas totalmente fora desse contexto de…”, ele falou: “Você pode esperar eu comer?”, a hora que ele falou isso, eu falei: “Vou ter a entrevista com o Pelé” e fiquei a alguns passos ali, a hora que ele acabou, ele falou: “Vamos conversar”, levantou, e fomos para uma poltrona, ele sentou ao meu lado: “Sobre o que você quer falar?”, falei: “Poxa, você está…”, o Pelé é de 1940, ele estava com 53 para 54, eu falei: “Poxa Pelé, eu fico impressionado com a sua jovialidade, você não tem um cabelo branco, e negro fica com o cabelo branco muito fácil”, daí ele falou: “Posso te dizer? Eu pinto”, eu falei: ‘Poxa, o Pelé nunca falou para ninguém que ele pinta o cabelo, estou indo numa linha legal’, daí começamos a falar sobre assim, amenidades com o Pelé. Eu não falei uma linha sobre futebol com ele, falamos sobre vaidade, filhos, falamos sobre tênis, que ele gosta de jogar tênis e eu também gosto, não jogo bem, mas gosto. Falamos sobre várias coisas, até sobre a Xuxa a gente falou na época, mas nada sobre futebol. Então, eu levei uma matéria para o jornal que era isso, o Pelé falando sobre tudo, menos sobre bola e eu fiquei muito feliz por ter feito esse trabalho.
P/1 – Ah, um privilégio.
R – É, muito bom falar com ele.
P/1 – Wagner, a gente precisa ir encerrando, é uma pena, porque você tem muita coisa legal para contar e…
R – Obrigado, obrigado!
P/1 – Eu vou te fazer as três perguntas finais assim, que são mais pontuais…
R – Está bom.
P/1 – Uma, eu queria saber se você joga bola ainda hoje, ou faz algum esporte.
R – Então, eu vou dizer que eu me despedi do futebol (risos), esse ano aqui de 2013, jogando um Torneio Imprensa, que teve, a Copa Aceesp, da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, eu fiz um jogo, fui convidado pelos garotos do Uol, porque todo time precisa ter alguém com mais de 40 anos. Tudo bem que eles não precisavam de alguém com mais de 50, então fui eu lá e tive o prazer de jogar pelo time do Uol, mas não dá mais, eu estou com 53 anos, não dá mais para acompanhar, eu prefiro nos finais de semana, fazer um esporte que eu gosto, que dá para eu fazer na boa que é o tênis. Adoro jogar tênis, mas como eu disse aqui, a minha habilidade sempre foi mais com as mãos do que com os pés e eu costumo dizer para as pessoas que são meus oponentes no tênis: “Eu não jogo bem, eu saco legal, se você responder mal, é ponto meu”. É isso, eu gosto muito de tênis, e nas horas vagas, ficar dedilhando o meu violão, que é a minha terapia.
P/1 – E os seus sonhos hoje?
R – Os meus sonhos hoje? Não é piegas não, mas depois que a gente se torna pai ou mãe, você passa a projetar muitas coisas para os filhos, a tua felicidade está na realização dos teus filhos. Eu desejo hoje que o meu filho de sangue, o Mahall e a minha filha de alma, que é a Camila, que eles se deem muito bem na vida deles, que eles se deem muito bem na vida deles, que eles tenham projeções maiores do que as que eu tive, porque a gente vem num crescimento, se os meus pais não tiveram oportunidade de estudar, eu tive, alcancei um diploma de nível superior e fiz uma pós-graduação, eles podem chegar mais do que isso e terem carreiras profissionais brilhantes. E espero que sejam muito, muito felizes nas vidas deles e particularmente, quero com a minha mulher, conhecer alguns lugares do mundo, que a gente não conhece. Eu já estive em Paris, mas estive sozinho, quero ir com ela para lá e quero viajar muito, conhecer alguns lugares do mundo aí que vão ser bem importantes para mim. E em cada lugar que eu tiver, poder tocar um pouco.
P/1 – Está certo. E como é que foi dar o seu depoimento para gente aqui, hoje?
R – Olha, eu até comentei com o Vinicius, nos intervalos aqui, isso é uma grande terapia, porque eu acho que eu nunca falei tanto sobre mim mesmo em qualquer lugar. É muito bom, é muito bom poder saber que se eu tiver netos, eles vão poder, um dia, acessar esse depoimento, é muito bom saber que eu vou estar na posteridade, esse depoimento vai estar aqui para quem quiser ver, para quem me conheceu, para quem quiser me conhecer, saber que um dia existiu um Wagner Prado, que foi jornalista, vai estar aqui. Uma experiência muito, muito boa, que eu não esperava ter na minha vida, fazer parte de um acervo que tem aí tantas pessoas importantes, por serem figuras que fazem parte de um Brasil anônimo ou não.
P/1 – Está certo! Eu agradeço muito, foi ótima a sua entrevista.
R – Muito obrigado.
P/1 – Obrigada…
R – Eu agradeço vocês.
P/1 – Está certo.
FINAL DA ENTREVISTA
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