Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Paola Silva Fabiano
Entrevistada por Rosana Miziara
Itapemirim, 02 de maio de 2012
Realização Museu da Pessoa
Entrevista Nº MEC_HV011
Transcrição de Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado de Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 - Paola, qual é...Continuar leitura
Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Paola Silva Fabiano
Entrevistada por Rosana Miziara
Itapemirim, 02 de maio de 2012
Realização Museu da Pessoa
Entrevista Nº MEC_HV011
Transcrição de Ana Paula Corazza Kovacevich
Revisado de Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 - Paola, qual é seu nome completo?
R – Meu nome é Paola Silva Fabiano.
P/1 – Qual que é o local e a data de nascimento?
R – Graúna. A minha data de nascimento é dia oito de fevereiro de 1986.
P/1 – Seus pais são de Graúna?
R – São.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Uhum.
P/1 – Os dois são nascidos aqui? E seus avós?
R – Também.
P/1 – Tudo de Graúna? E você sabe qual é a atividade... Você conheceu seus avós por parte de mãe e de pai?
R – Não. Só minha avó por parte de pai. Por parte de mãe, não.
P/1 – Nem os avós?
R – Tst, tst.
P/1 – Já tinham morrido?
R – Uhum.
P/1 – E seu pai fazia o quê, faz o quê?
R – Meu pai, ele era pedreiro.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era cozinheira.
P/1 – E como é que eles se conheceram? Você sabe um pouco a história?
R – A minha mãe conta que ela trabalhava em Cachoeira, aí no final de semana a patroa dela vinha para cá para Marataí, aí ele foi trabalhar lá de pedreiro, aí conheceu ele lá e começaram a namorar os dois.
P/1 – Na casa em que era cozinheira?
R – É.
P/1 – Se conheceram lá e se apaixonaram?
R – É.
P/1 – E aí casaram?
R – Casaram e viveram. Até agora... Ele faleceu e minha mãe casou de novo.
P/1 – E aí eles casaram e tiveram quantos filhos?
R – Nós somos em seis.
P/1 – Seis? E como é que era a casa da sua infância? Você lembra onde você morava?
R – Lembro. Era uma casa assim, eram três quartos, uma cozinha, um banheiro, uma sala e uma copa. Era de... Alguns chamam de piso, alguns chamam de vermelhão.
P/1 – Por que vermelhão?
R – Vermelhão é porque fala... É esse chão que passa cera, uma cera, cera vermelha.
P/1 – E aí quem que exercia autoridade na sua casa, seu pai ou sua mãe? Quem que...?
R – Os dois.
P/1 – Mas tinha um que era mais bravo, que vocês tinham mais medo?
R – Meu pai.
P/1 – Por quê?
R – Ah, porque tudo que a gente fazia ele achava errado. Sempre queria ficar batendo. Minha mãe, não. Minha mãe sempre chamava no conselho e a gente respeitava. Já ele, não. A gente tinha medo, só de ele olhar para gente a gente tinha medo dele já.
P/1 – E como é que era a convivência na sua casa? Assim, seus irmãos, vocês brincavam juntos?
R – Eu tive só uma irmã e um irmão, assim, que eu brincava, porque os outros são todos já mais velhos do que eu. Aí eu e meu irmão brincávamos. Eu lembro que a gente fazia bolinho de terra. Brincava de pique de noite. Até um dia, minha irmã fez um bolo de terra aí eu para implicar com ela, ela pegou, eu joguei o bolo dela todo no chão, ela pegou a faca de serra e enfiou dentro do meu olho.
P/1 – A faca de serra no seu olho? E aí?
R – Eu dei sorte que não furou, só machucou. Mas tudo bem, a mãe me levou no médico, cuidou, acabou tudo bem.
P/1 – E na rua, você brincava na rua com outras crianças?
R – Brincava.
P/1 – Do quê vocês brincavam?
R – Brincava de elástico e de pular de... Ah, meu Deus, esqueci. Brincava de elástico, ficava brincando de pique também, pique-esconde de noite, jogava queimada... Tudo. A gente brincava assim...
P/1 – Como é que era Graúna naquela época? Era diferente de agora?
R – Era.
P/1 – Como que era?
R – Antes a gente podia brincar na rua sem ter perigo nenhum e hoje a gente não pode deixar nem os nossos filhos brincar como a gente brincava aqui. Hoje lá está muito perigoso. Não tem como deixar as crianças brincar na rua igual à gente brincava.
P/1 – E na escola, com quantos anos você entrou?
R – Eu entrei, eu fiz o pré com cinco anos, aí depois fiz a primeira série.
P/1 – Que lembrança você tem da escola? Você gostava de ir para escola?
R – Gostava de estudar, mas, porém, tinha umas professoras muito chatas. A gente pedia para ir ao banheiro, elas não deixavam a gente ir ao banheiro. Um dia minha colega ia comigo ao banheiro, pedi a ela, ela não deixou. Aí, o que eu fiz? Fiz xixi na sala de aula porque ela não quis deixar ir ao banheiro.
P/1 – E aí?
R – Aí ela fez eu limpar, aí eu falei com ela que eu não ia limpar. E também teve outra professora também...
P/1 – E você não limpou?
R – Não limpei. Aí teve outra que me mandou ler, eu falei com ela que eu não ia ler. Mandou fazer o dever eu falei com ela que eu não ia fazer porque eu não quis, aí eu copiei o dever de cabeça para baixo, ele pegou me deu uma reguada, eu dei uma mordida no braço dela. Aí, no outro dia o marido dela foi à escola perguntou se lá tinha alguma cachorra na sala. Pensei: “Não, não tenha cachorra, não”. Mas aí minha mãe não estava. Minha mãe está em casa. Ela não é boa para me bater... Aí, nesse tempo bom de escola que a gente brincava muito.
P/1 – Que mais, tem alguma professora que tenha te marcado, assim?
R – Tem uma, o nome dela é Regina, eu gostei muito de estudar com ela porque aí eu parei de estudar, preguiça mesmo de estudar, ela foi lá na minha casa, se interessou por eu voltar estudar de novo. Então no final do ano ela me deu uma prova lá e eu passei de ano pelo esforço dela. E até hoje agradeço ela, porque se não fosse ela eu poderia nem ter terminado a segunda série.
P/1 – Você fez até a segunda série?
R – Eu fiz a quarta. Por ela, por causa dela, que eu fiz a segunda. Peguei, parei de estudar na segunda série.
P/1 – Aí você não fez o ginásio?
R – Não.
P/1 – Por que você parou?
R – Porque não tive vontade de ir.
P/1 – E a sua mãe deixou você parar?
R – Minha mãe mandava eu estudar. Eu ia para a escola, estudava umas três semanas e depois parava.
P/1 – E aí você começou a trabalhar? Você ajudava em casa? O que você fazia?
R – Ajudava em casa, aí depois comecei a trabalhar.
P/1 – Com quantos anos?
R – Com quantos anos? Eu trabalhava junto com a minha mãe, ajudava ela no serviço onde ela trabalhava.
P/1 – Lá de cozinheira?
R – É. Na casa de família mesmo.
P/1 – O que você fazia?
R – Ajudava a picar as coisas, lavando a louça que sujavam.
P/1 – Desde pequena você ia com ela? Mas você ganhava algum dinheiro, não? Ou era só para ela?
R – Não, eles me davam também.
P/1 – Aí você era ajudante da sua mãe na casa de família?
R – Uhum. Ia fazer companhia a ela.
P/1 – Você gostava de ir?
R – Gostava porque me divertia, não ficava em casa presa.
P/1–E na adolescência, o que você fazia na juventude?
R – Na adolescência? Eu ficava em casa. Só que aí, o que aconteceu? Negócio de namorar muito nova, aí... Eu não podia ficar... Minha mãe não deixava eu sair na adolescência, aí eu achava, assim: “Ah, eu vou arranjar um namorado para mim porque aí ela vai poder deixar eu sair”. Mas não era assim. Sempre quando eu saía fugida, ela ia lá atrás de mim, me buscava, me botava para casa de novo.
P/1 – Você não ia a bailinho, festinha?
R – Ela nunca deixou.
P/1 – E aí quando que você começou a namorar, primeiro namorado?
R – Meu primeiro namorado? Eu comecei a namorar com doze anos de idade.
P/1 – Como é que foi? Você se lembra dele?
R – Lembro.
P/1 – Como é que foi que você o conheceu?
R – Eu conheci ele eu estava na minha casa, tinha um pé de goiaba e ele passou e mexeu comigo. A gente tinha amizade, mas eu não sentia nada por ele. Aí desde o momento que a gente começou a conversar, ele começou a falar um bocado de coisa comigo eu passei a gostar dele. Aí, foi esse aí que eu namorei com ele, comecei a namorar com ele e casei muito nova. Tive uma menina...
P/1 – Com quantos anos você casou?
R – Com doze para treze.
P/1 – O quê?
R – Uhum.
P/1 – Com esse namorado da goiabeira?
R – Uhum.
P/1 – E por que você casou? Você engravidou?
R – Não. Porque eu era muito presa, minha mãe não deixava eu ir a lugar nenhum. Não podia sair. Se não fosse com ela, ela não deixava. Aí eu preferi fazer isso, achava que ia ser bom.
P/1 – Mas ele te pediu para casar com doze anos?
R – Eu fugi, saí da minha casa. Falei com a minha mãe assim: “Eu vou para casa dele e hoje eu não volto mais”, falei com ela. Aí ela falou assim: “Por que você vai fazer isso? Você tem o que você quer”. “Eu tenho tudo que eu quero, mas ela não deixa eu sair, talvez assim eu saia”. Aí, o que aconteceu? Não foi nada disso que eu achava que ia acontecer. Aí eu engravidei.
P/1 – Com quantos anos?
R – Eu ia fazer quatorze.
P/1 – Mas você saiu de casa com doze e foi morar com ele?
R – Uhum.
P/1 – Com doze anos? Na casa dele?
R – Na casa dele.
P/1 – E os pais dele?
R – Apoiaram.
P/1 – Com doze anos? E aí com quatorze...?
R – Eu tive uma menina. Aí, eu fiquei morando com ele. Depois me separei, não por ele, por mim mesmo. Porque se misturava com muitas pessoas que não eram boas. Começou a fazer coisas que não devia. Aí, começou a beber, não tinha hora para chegar em casa, tinha vez que saía, nem sei onde estava, eu estava em casa sozinha. Aí eu peguei e me separei.
P/1 – Aí você foi morar onde?
R – Voltei para casa da minha mãe de novo.
P/1 – Com a bebê?
R – Uhum.
P/1 - Quantos anos você tinha quando se separou?
R – Quinze.
P/1 – Aí você voltou com a bebezinha de um ano?
R – Para a casa da minha mãe.
P/1 – E aí?
R – Aí, eu comecei a ficar na casa da minha mãe, arranjei um serviço para mim, fui trabalhar na roça.
P/1 – O que você fazia lá?
R – Plantar cana. Aí acabou o plantio, eu fui capinar. Cortei cana já, com essa idade que eu estou hoje eu já cortei cana. Já rocei, já adubei cana. Que eu encaro, qualquer serviço que aparecer eu encaro. Aí fui para casa da minha mãe, ajudava ela, ela me ajudava. Ela tomava conta da minha filha. Aí depois peguei uma idade, aí comecei a namorar de novo. Aí a mesma coisa aconteceu no primeiro casamento, aconteceu no segundo casamento. Aí eu comecei a namorar, fui morar com o menino, ele era mais velho do que eu.
P/1 –Quantos anos você tinha já?
R – Já estava com dezessete.
P/1 – Você levou sua filha?
R – A minha mãe não deixou eu levar minha filha comigo. Ela continuou morando com a minha mãe. Aí eu fui morar com o meu segundo casamento. Vivi um tempo, aí engravidei de um menino, do menino meu. Aí, tudo bem. Aí passou, meu menino fez três anos, três anos para quatro anos, aí engravidei de novo de uma menina, que hoje ela tem, vai fazer quatro anos. Aí eu trabalhava para ajudar meu marido, trabalhava na padaria, só que aí eu achava que eu não tinha tempo mais para ficar em casa, eu trabalhava e não tinha tempo para mim, nem para curtir minha vida com ele, nem para curtir eu mesma. Aí, o que aconteceu? Eu tinha minha melhor amiga, eu achava que ela minha melhor amiga. Ela era minha cunhada, morava com o irmão do meu ex-marido, aí o que aconteceu? Eu trabalhava, ela ficava em casa, que lá morava tudo junto. Eles começaram a ter caso. Aí o que aconteceu? Eu me separei...
P/1 – Você descobriu?
R – Descobri, segui, peguei os dois. Aí...
P/1 – O que você falou? Que você deu um flagrante?
R – Eu trabalhava na padaria, cheguei em casa, me arrumei, eu fui no salão, fiz meu cabelo, fiz minha unha, ele perguntou assim: “Você vai para onde?”, “Vou ficar em casa porque eu estou cansada de andar do modo que eu estou”. Aí ele pegou e falou comigo: “Ah, você vai ficar em casa?”. Falei: “Vou”. Eu perguntei: “E você, vai aonde?”, “Vou sair com meus colegas, mas não demora estou voltando”, “Aonde que você vai?”, falei assim. Aí, ele: “Eu vou num forró”. Aí eu falei assim: “Tá bom. Então eu vou te esperar até a meia-noite. Eu te espero em casa, se você não aparecer eu também vou no forró”. Aí ele não acreditou que eu também ia no forró. Aí eu peguei liguei para um táxi, o táxi veio e me pegou, rodou comigo no Vila, esses lugares todos que tinham forró. E eu não encontrei ele. Aí teve um bar que eu era acostumada a ir com ele direto, que tinha um forró e eu sempre ia com ele. Aí eu falei assim: “Eu acho que é lá que ele está com ela”. Quando eu cheguei lá...
P/1 – Você já estava desconfiada?
R – Já. Cheguei lá os dois sentados, um olhando na cara do outro, ela passando a mão no rosto dele e ele dando a mão a ela. Aí o quê que eu fiz? Eu desci do carro e eu não aguentei o que eu vi, eu voei em cima dela. A gente brigou, eu peguei ele, toquei garrafada nele, quebrei copo em cima dele, aí nisso aí a gente se separou de novo. Aí hoje eu tenho dois filhos com ele, meus dois filhos moram com ele. Eu voltei para casa da minha mãe levando os dois filhos que são dele. Voltei para casa da minha mãe, aí o que aconteceu? Eu botei ele na justiça para ele dar pensão, ele não queria dar pensão, preferiu pegar as duas crianças para morar com ele. Aí eu peguei e entreguei para ele porque eu precisava trabalhar, eu não tinha quem tomasse conta, minha mãe já estava de idade. Aí o que aconteceu? Eu comecei a trabalhar e aí ajudava a dar as coisas das crianças para ele.
P/1 – Mas aí você já não falava mais com ele?
R – Não. Aí deixei as minhas crianças com ele e fiquei na casa da minha mãe. Minha mãe me ajudava, eu trabalhava, voltava, dormia, no outro dia ia trabalhar de novo e voltava. Aí, eu peguei e fui morar na casa do meu irmão, sozinha, que ele me deu uma casa para eu morar. Eu peguei e fui morar na casa do meu irmão. Aí dali eu peguei e conheci um menino que há muito tempo...
P/1 – Mas você ia visitar os filhos?
R – Uhum.
P/1 – Sem falar com ele?
R – Sem... Ia na casa da mãe dele. Aí, o que aconteceu? Eu fui morar sozinha e eu tinha uma amiga há muito tempo e dali eu vi um menino crescer, pequeno. E eu não sabia que esse destino ia traçar para nós dois. Hoje em dia... Aí, o que aconteceu? Eu comecei a conversar com ele, ele falava que ele era a fim de mim há muito tempo, desde quando ele era novo, ele era a fim de mim, e eu sempre cortava ele: “Ah, vai crescer, você é um moleque. Você não tem idade para ficar comigo. Eu tenho idade para ser sua mãe”, eu falava com ele. E hoje eu agradeço a Deus primeiramente. Agradeço a minha mãe por ter me dado muito apoio e por Deus ter colocado ele na minha vida, porque se não fosse por ele eu não sei o que seria de mim hoje, porque eu não teria força para conseguir o que eu tenho hoje. Eu não tinha mais vontade de viver porque eu achava que o do meu segundo casamento... Eu achava que ele era o único homem da minha vida, que eu nunca ia achar outro homem para mim viver, que eu não ia aprender a gostar de ninguém e nem ter confiança em ninguém. Mas esse que eu estou hoje me ensinou, me mostrou, fez eu ver que eu sou capaz de conseguir muitas coisas e, assim, eu achava que eu não ia conseguir nada pelo que eu já passei na minha vida. Mas Deus me deu força e eu consegui e estou até aqui. Eu tenho vinte e seis anos, meu marido tem dezenove anos. Eu achava que não ia dar certo porque ele é muito novo. Mas está dando certo.
P/1 – Há quanto tempo você está com ele?
R – Tem três anos.
P/1 – E você já tem mais uma filhinha?
R – E tenho uma filha com ele agora.
P/1 – E aí, você continuou trabalhando? O que você fez?
R – Aí continuei trabalhando, aí eu engravidei tive que parar de trabalhar. Aí, o que aconteceu? Fizeram uma reunião lá na Graúna...
P/1 – Você estava trabalhando onde antes?
R – Antes eu trabalhava na padaria. Voltei para padaria de novo depois que me separei.
P/1 – Você voltou para padaria com ele?
R – Voltei para padaria de volta, para trabalhar na padaria de volta.
P/1 – Na padaria dele?
R – Não. A padaria não era dele. Trabalhava na padaria do Regis, aí em Marataí. Aí, quando eu estava morando com meu segundo... No meu segundo casamento eu trabalhava lá. Aí por ter acontecido muitas coisas peguei e abandonei o serviço, larguei o serviço.
P/1 – Mas aí ele não trabalhava lá também?
R – Não. Não.
P/1 – Ah, eu achei que trabalhasse.
R – Trabalhava não. Aí abandonei meu serviço, aí depois que separei aí voltei para padaria de novo. Aí, eu casei de novo, engravidei da minha menina, parei, aí apareceu... Aí teve uma reunião lá na Graúna falando sobre... Aí, essa reunião, falaram que era só para mulheres. Aí eu me interessei em ir à reunião, conheci a Cíntia, ela fez a reunião lá, a Solange também esteve na reunião. Aí dali eles mostraram com o curso que eles estavam dando pelo Instituto Aliança, me interessei e entrei no grupo. Gostei do grupo, do que a gente começou a fazer...
P/1 – O que vocês começaram a fazer?
R – A gente começou a fazer a geleia, o licor, a conserva, o doce cristalizado e mais coisas. Hoje a gente faz esses produtos, faz casadinho, o salgado, e eu estou gostando de estar com eles trabalhando.
P/1 – Você cozinhava já?
R – Uhum.
P/1 – O que você fazia?
R – Eu trabalhei fazendo lasanha, empadão e suflê. Era meu serviço todos os dias, que eu fazia no restaurante.
P/1 – E aí, você... Aí você aprendeu a fazer as geleias, o licor?
R – No curso aqui do Instituto Aliança.
P/1 – E, além disso, aprendia o quê? A comercializar, a vender? Eles ensinam isso, não? A como tomar conta para transformar em negócio?
R – Não.
P/1 – Vocês não tiveram aula disso? E como é que vocês vendem e fazem tudo isso?
R – Ah, eles colocaram uma pessoa para ver sobre o negócio de venda, só que no dia eu não estava aqui, porque eu não pude vir por causa da minha menina. Mas tem as pessoas que ensinam como vender, é porque eu não participei mesmo dessa parte.
P/1 – Você não cuida dessa parte de vendas?
R – Não.
P/1 - Você só ajuda a fazer?
R – Só ajudo.
P/1 – A fazer a geleia, o licor, faz tudo?
R – Uhum. Aqui todo mundo, cada um faz alguma coisa, assim, cada um reúne, pega e faz.
P/1 – Qual que é a parte que você mais gosta de fazer?
R – Ah, eu gosto mais de fazer o casadinho.
P/1 – Casadinho?
R – Uhum.
P/1 – Por quê?
R – Ah, porque é o mais fácil que tem. É o mais prático. Os outros têm que ficar mexendo. Ficar tirando o vidro do fogo, aí eu não gosto muito, não.
P/1 – O quê que... Quais foram as principais mudanças na sua vida desde que você entrou no projeto? O que mudou na sua vida?
R – Que eu comecei a trabalhar. Comecei... Nós começamos a tirar encomenda, vendemos e nós tiramos nosso dinheiro para gente ajudar nossa família. Comprar as coisas pros nossos filhos. Foi o que eu mais gostei, porque eu estava desempregada. Só o meu marido que estava trabalhando, que está trabalhando. E agora eu estou conseguindo ter minhas coisas por causa desse projeto que abriu.
P/1 – E as amizades que você fez?
R – Também. Gostei de ter conhecido a Cintia. A Solange, o Tadeu, você também, a Marcinha... Gostei. As minhas colegas a gente já se conhecia, que são todas do mesmo lugar. Gostei por isso.
P/1 – E teve algum momento que você falou: “Ah, acho que eu vou parar esse projeto não está dando certo”?
R – Teve.
P/1 – Quando foi?
R – Eu achava assim... Porque, assim, tinham muitos que queriam só mandar, queriam botar os outros para baixo. Aí até cheguei pras minhas colegas e falei: “Ah, não dá mais, não. Não vou mais, não”. E sempre em cima de mim: “Não Paola, não vá, porque sem você a gente não vai conseguir. Você que anima”. Aí eu voltei.
P/1 – E como é, enquanto vocês estão cozinhando vocês fazem o quê? Vocês conversam?
R – Conversa.
P/1 – O quê?
R – Ah, a gente fala sobre as nossas vidas mesmo, sobre nossos casamentos, como é que vai... Também fala do que a gente aprende, passa uma para outra. Só isso mesmo.
P/1 – E quais são suas perspectivas, assim, em relação ao projeto? O que você espera do projeto?
R – Eu espero que vá em frente. E que a gente consiga mais coisas. Eu gostei do projeto.
P/1 – Teve um dia, assim, que aconteceu alguma coisa marcante, algum causo que você se lembre, que você ache importante dentro desse um ano de projeto?
R – Que mais marcou... Foi que logo assim no começo do curso que teve, a gente foi fazer o curso no campo, no vestiário. Aí ali eu estava da minha menina, aí as meninas começaram a ligar o fogão de quatro bocas para começar a fazer as coisas, fazer a geleia, fazer os doces, o licor, aí colocaram o bujão de gás mal colocado, aí saltou a borracha do bujão, aí saiu aquele vapor, aquela catinga de gás, todo mundo saiu correndo, e eu caí.
P/1 – Você que caiu?
R – Caí. Foi o mais divertido que eu achei.
P/1 – Você achou divertido?
R – Achei.
P/1 – E a receita, assim, cozinhando... Vocês acertam o ponto, às vezes erram? Como é que é?
R – No começo a gente errou. Mas agora também não tem como errar mais, não. A gente está já, como se diz, já estamos já treinadas já.
P/1 – Olhando para sua vida, se você tivesse que mudar alguma coisa na sua trajetória você mudaria?
R – Mudaria.
P/1 – O quê?
R – Não teria casado nova, e aproveitado mais a minha vida, a minha adolescência.
P/1 – Você tem algum tipo de formação religiosa?
R – Eu fui criada na igreja.
P/1 – Igreja o quê? Católica ou...?
R – Não. Na igreja Deus e Amor.
P/1 – Mas você segue?
R – Hoje eu estou na Assembleia. Eu ia mais porque minha mãe também era membro dessa igreja, aí sempre ficava insistindo para gente ir, aí a gente pegava e ia para fazer a vontade dela, mas não que era minha vontade.
P/1 – E hoje?
R – Hoje eu vou por vontade minha mesmo.
P/1 – Quais são seus principais sonhos? Assim, qual é seu grande sonho hoje?
R – Hoje? Tenho vontade... Assim... Eu tenho a minha casa, só que não é a casa que eu pensava ter, porque o meu sonho que eu tenho é de ter uma casa boa para eu poder pegar meus filhos de volta para morar comigo. Esse é o meu sonho. Porque sempre assim, você pode ter um com você, morando com você, mas nunca preenche o vazio dos outros, por mais que esteja perto, mas não preenche.
P/1 – Você vê sempre seus filhos?
R – Vejo. Só que, assim, eles não moram no mesmo lugar. Moram aqui na Vila. Então eu só posso vê-los nos finais de semana, eles vem para casa da avó deles.
P/1 – Quer um copinho d’água?
R – Não. Não. E assim mesmo... Eu fico assim... Mas eu vejo eles. No domingo mesmo eles estiveram lá na minha casa e na segunda eu fui na casa deles, na casa da avó deles lá na Graúna. Tem hora que, assim, eu culpo tudo que está acontecendo hoje, eu culpo mais o pai deles porque se ele fosse cabeça, tivesse mais juízo, não precisava um estar para um canto, o outro pro outro canto, porque eu pensava assim, em cuidar dos meus filhos com o pai deles, não pensava em me separar, precisar disso, porque eu achava isso uma falsidade, uma traição o que ele fez, porque eu achava que não tinha necessidade de ele fazer isso e nem ela também, porque eu a tinha como uma irmã para mim, como minha melhor amiga. Olha o que aconteceu? Ela me apunhalou, fez uma falsidade comigo. Mas nem por isso, que ela fez isso comigo, eu consigo ter raiva dela. Não tenho nem um pouco de raiva dela. Não tenho.
P/1 – Vocês se falam?
R – Nos falamos. Eu falo com ela. Falo. Não tenho raiva dela.
P/1 – E eles estão juntos?
R – Estão. Eu gostava dele muito, muito mesmo. Antes de eu casar de novo eu gostava muito dele. Ele chegou para mim, depois que eu casei, e pediu para eu não engravidar de novo. “Porque você... Paola, não engravida mais porque você já tem já seus outros filhos, por que você vai querer engravidar?”. Eu peguei e falei para ele: “Se você mora com sua mulher e ela vai engravidar de você, por que eu não posso engravidar do meu marido, que eu casei hoje?”. Aí o que fez eu mais desgostar dele foi que ela engravidou, aí eu achava assim, eu tinha esperança um dia a gente voltar, se entender, entendeu? Para a gente criar nossos filhos, mas isso não aconteceu. Aí, foi o que fez eu desgostar mais dele foi isso. Porque enquanto ela não tinha um filho dele eu sentia algo por ele ainda. Só que depois que ela engravidou acabou. Hoje em dia ele passa na minha beira, fala oi, somente oi, não tenho nada para falar com ele mais. Tem gente que pergunta: “Ah, você vê ele assim, você não sente nada?”. Não sinto nada. Antes meu coração parecia que queria sair pela boca. Agora hoje não sinto nada por ele. Eu estou feliz com quem eu estou vivendo e vou viver minha vida, tocar para frente.
P/1 – Isso aí. História linda. Queria agradecer seu depoimento.
R – Obrigada.
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