P/1 – Pâmela, queria que você começasse se apresentando, falando seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Eu sou a Pâmela Araújo, sou de São Paulo, nasci em São Paulo. E o que mais? (risos)
P/1 – A sua data de nascimento.
R – E nasci dia treze de março e 1983.
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P/1 – Pâmela, queria que você começasse se apresentando, falando seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. Eu sou a Pâmela Araújo, sou de São Paulo, nasci em São Paulo. E o que mais? (risos)
P/1 – A sua data de nascimento.
R – E nasci dia treze de março e 1983.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – Meus pais se chamam Jeferson e Iracema.
P/1 – Você sabe a atividade profissional deles?
R – Hoje meu pai é aposentado e minha mãe sempre foi dona de casa.
P/1 – Onde que eles nasceram?
R – Os dois nasceram na Bahia.
P/1 – Você sabe como eles se conheceram?
R – Ah, eles já se conheceram aqui em São Paulo. Os pais da minha mãe moravam num bairro que eles tinham um comércio e meu pai morava próximo, e aí eles se conheceram, mas já aqui em São Paulo.
P/1 – Ah, tá, então eles vieram separados?
R – Isso, eles vieram separados, se conheceram aqui.
P/1 – E você sabe por que eles vieram?
R – Meu pai quando fez dezoito anos já tinha essa decisão de vir para cá. Então ele fez dezoito anos... Dizem que ele veio até escondido, para trabalhar e conquistar a vida aqui. E minha mãe veio com os pais dela primeiro, que ela é a mais velha e aí depois vieram os outros, mas também veio porque a situação lá não era tão fácil. E depois que eles vieram e conseguiram emprego, aí depois veio toda a família.
P/1 – E como eles são? Como é a relação de vocês?
R – Então, assim, foi muito tranquila, um casal assim, que briga, que tem uma vida normal, assim, eu acho... Mas bem carinhosa, né? E assim, meu pai um pouco mais rígido do que minha mãe e minha mãe aquela mais protetora, né? Que protegia eu e meu irmão... Eu tenho um irmão mais velho, que ela protegia do meu pai que era mais sargentão (risos).
P/1 – E seu irmão, como ele é? Como é a relação de vocês dois?
R – Então, uma relação também bem legal, brigávamos muito. Na verdade, ele que brigava comigo (risos). Brigava mesmo, né? Quando a gente era criança, assim, tinha toda a família para conversar, porque ele me batia muito e eu não conseguia, porque ele era mais velho, sempre foi forte. E aí eu tinha que gritar para pedir socorro, mas depois na adolescência a gente já ficou mais amigo, os meus amigos eram amigos deles. E hoje, como eu moro em cidade diferente, eu moro em Mairiporã e ele mora em São Paulo, então a gente está um pouco mais distante por conta da distância mesmo.
P/1 – E você lembra da casa onde você passou a sua infância?
R – Sim. Eu nasci lá e fiquei até casar. Depois que eu casei, que meus pais se mudaram e então toda a minha infância, desde o nascimento, foi nessa casa.
P/1 – Como ela é?
R – Então, ela era do lado de um escadão, tinha um escadão do lado dessa casa, que a gente brincava muito de esconde-esconde ali, então tinha minha casa e outra casa e o escadão no meio. Não era aquele escadão tão grande, mas era um escadão que assim, as crianças utilizavam muito para brincar. E a minha casa ficava ao lado...
P/1 – Então sua casa era perto de um escadão e vocês brincavam de esconde-esconde?
R – Isso. E em embaixo da minha casa tinha um salão, que por um tempo foi um bar e depois virou uma Casa do Norte.
P/1 – E qual era o bairro?
R – Chamava Vila Rica, não sei se ainda chama assim, mas fica bem próximo ao terminal Cachoeirinha, e o bairro chamava Vila Rica. Acho que ainda chama.
P/1 – E quais eram suas brincadeiras favoritas da época?
R – Então, eram brincadeiras mesmo, de verdade (risos). A gente conseguia brincar bastante na rua, era uma rua que tinha bastante criança e a gente brincava. Eu lembro que assim, a que eu mais gostava era de esconde-esconde. Como meu pai ficava no bar por um tempo a noite, então a gente podia brincar um tempo a noite porque ele estava ali, então era bem legal, mas brincávamos também de vôlei, os meninos de futebol, a gente conseguia brincar bastante na rua. Tinha bastante vizinhos com crianças também.
P/1 – Você tinha amigos do bairro?
R – Sim, bastante até, porque hoje os meus filhos não têm amizade no bairro com os vizinhos. São amigos de escola, de outras atividades, mas ali a gente tinha do bairro.
P/1 – E você tinha algum desejo, vontade, pensava no que você queria ser quando crescesse?
R – Então, eu comecei a fazer ballet clássico bem cedo. Então com oito anos eu já ia para a academia, que hoje a dona da academia é a minha cunhada, então eu sempre tive essa atividade de dançar muito cedo. Eu já tinha essa atividade e aí no início era questão sempre com a dança, queria dançar... A princípio pensava em ser profissional de ballet, mas aí depois fui vendo que era uma área um pouco difícil e fui mudando, mas a dança estava sempre envolvida. Eu fiquei até os dezoito anos dançando, participei de grupo de dança, competição... Muito legal.
P/1 – E você começou novinha?
R – Sim, novinha.
P/1 – Era uma academia, como que era?
R – É, era uma academia em cima da casa das professoras.
P/1 – No próprio bairro?
R – É, num bairro bem próximo, que aí chamava Vila Souza (risos).
P/1 – E como era um pouco mais desse bairro, como era a região nessa época? Você tem alguma recordação dos transportes...
R – Então, tinha transporte... Eu morava próximo de uma avenida principal, Vila Souza era um pouco mais distante, mas utilizava essa mesma avenida para pegar transporte, por exemplo, tinha que passar pelo Vila Rica para ir pegar o ônibus na avenida principal. Mas ali os bairros eram próximos, então eu ia para a escola a pé, eu ia para essa academia a pé, ficava tudo muito perto. A gente caminhava, antigamente. Até para ir para o ponto de ônibus caminhava um pouquinho...
P/1 – Você tem alguma primeira lembrança da sua escola?
R – Então, tenho. Era uma escola pública, mas muito legal. Uma escola bem requisitada por ser boa, era considerava uma escola boa pública. E amigas que tenho até hoje, então a gente tem um grupo de amigos ainda da infância, né, que eu fiz desde o pré, até a oitava série, que hoje acho que é o nono ano. Então sempre estudei lá e era bem legal, eu só não fazia Educação Física, como era o horário diferente do que a gente estudava, no horário da Educação Física eu fazia dança, então eu praticamente entregava um atestado que eu fazia atividade de outro lugar e aí eu praticamente não fiz Educação Física na escola.
P/1 – E como que você ia para a escola?
R – Então, eu ia a pé, usava uniforme (risos). Era bem legal. Nunca tive problema, assim, que a gente chega numa certa idade e fala “Ah, eu não quero usar o uniforme da escola”, porque podia ir, acho que a partir da quinta série, de calça jeans e camiseta, mas eu sempre gostei de usar o uniforme da escola.
P/1 – E você ia acompanhada ou você ia sozinha?
R – Minha mãe [me] levou eu já era maiorzinha, até os meus amigos já não iam mais com as mães e minha mãe ainda levava, sabe? Eu acho que na sexta série que eu comecei a ir com as amigas (risos), porque tinha bastante gente que descia junto, então... Mas eu demorei um pouco mais do que os meus amigos para ir sozinha, mas depois comecei a ir, sempre tinha alguém, tanto para ir, quanto para voltar.
P/1 – Teve algum professor que tenha te marcado nessa época?
R – Então, tenho. Na verdade, um pouco antes, eu tenho algumas professoras que me marcaram um pouco antes. Até quando eu fui casar uma amiga comentou com a professora que eu estava casando e ela foi no meu casamento. Foi uma surpresa muito legal, que foi a professora da primeira série, a professora Lídia. E outra professora que me marcou muito foi na segunda série, era a professora Maria Teresa, todo mundo queria estudar com elas.
P/1 – E nessa época, você criou um grupo de amigos, como vocês se divertiam?
R – Então, sim, a gente tinha um grupo que era praticamente sempre esse grupo para fazer atividades da escola, trabalho em grupo. E eu ainda tenho essas amigas até hoje. Tenho uma grande amiga que hoje a gente convive muito juntas, que é a Adriana, e foi desde essa época. Mas tenho outras bastante amigas que eu ainda mantenho relacionamento. As redes sociais ajudaram muito também para a gente reencontrar esses, e ainda tenho. E do ballet também tenho grandes amigas que permaneceram.
P/1 – E aí você ficou nessa escola até a oitava série e depois você mudou?
R – Aí eu mudei para uma escola mais distante, que aí eu tinha que pegar ônibus e aí eu ia sozinha. Tinham amigos também que iam junto, mas às vezes calhava de faltar ou perder o ônibus e aí eu ia sozinha já nessa época.
P/1 – E como foi essa mudança de escola?
R – Eu acho que foi já uma mudança de fase, né? Para assumir a adolescência. Muito tranquilo para andar de ônibus, sempre fui muito responsável, então acho que o ballet me ajudou muito a ser bem responsável desde cedo. Acho que uma maturidade veio um pouco antes. E era tranquilo, eu gostava bastante.
P/1 – Você que escolheu ir para o ballet ou foi uma coisa meio que a família decidiu?
R – Não, a minha mãe encontrou a mãe das minhas professoras, que hoje são minhas cunhadas e aí falou que elas tinham uma academia e estavam começando a ensinar ballet. E aí eu entrei, meio sem saber ainda o que era ballet, não tinha aquela coisa que eu já sabia antes “Ah, eu quero fazer ballet”. Não, foi uma oportunidade, aí minha mãe colocou e eu me apaixonei, então eu fiz o ballet, fiz jazz... Teve outra época que eu fiz capoeira, então eu sempre fiz muita atividade e eu gostava. E aí com doze anos eu já dava aula, então eu comecei bem cedinho. É, eu já dava aula para os pequenininhos.
P/1 – E como foi isso?
R – Então, a gente começou bem cedo. Comecei dando aulas para os pequenininhos e aí logo em seguida, ainda com doze anos, uma escola de educação infantil solicitou para a academia uma professora para dar aula e aí as minhas professoras indicavam. Então eu já fui para uma escola de educação infantil dar aula de ballet para os pequenininhos, com doze anos (risos).
P/1 – E você lembra o que você fez com seu primeiro salário?
R – Nossa, não lembro. Assim, eu não sei se foi nessa ordem, mas eu lembro que eu consegui comprar meus patins, que eu mesma comprei; Eu sempre aprendi também a guardar dinheiro, meu pai sempre falou “Você ganha dez, você guarda cinco”, então ele sempre foi ensinando a guardar e a comprar com o meu dinheiro. Eu sempre fui muito responsável desde cedo, porque sempre foi muito rápido. E eu dei aula de balézinho para a escola infantil até 21, quando eu me formei. Eu paguei minha faculdade com o meu dinheiro que eu trabalhava como professora de dança, e sempre nas escolas.
P/1 – Ficou um tempão trabalhando...
R – Sim, desde os doze. Eu parei um pouquinho, eu dei aula um ano, de doze a treze anos, e aí eu parei porque assim, era muita atividade e eu precisava estudar. Então eu parei de treze para catorze anos e com catorze anos eu voltei e não parei mais. Sempre nessa área de escola. Então eu andava muito, sempre, de ônibus, para ir para uma escola, para ir para outra. E novinha.
P/1 – E como você se sentia dando aula para as crianças?
R – Ai, muito bem. Muito bem. A gente sempre tinha apresentação. Então Dia das Mães, festa junina, Dia dos Pais, formatura, então era muito legal, porque eu via que eu conseguia ensinar as crianças, que elas aprendiam, que elas me respeitavam, que eu tinha uma autoridade de falar com todo mundo “Vamos ficar quietos, porque a gente precisa aprender”, então assim, foi muito bom. E sempre uma escola indicava outra, então eu sempre tive bastante escolinhas para dar aula. E eu sempre gostei de trabalhar com criança, era muito legal. Eu acho que eu tinha esse dom, sabe? De fazer eles ficarem quietinhos, de compreender. Eu cheguei a ter uma aluninha que ela falava que ela não gostava de ballet, mas ela gostava da tia Pâmela e ela fazia por causa de mim (risos). Era bem legal.
P/1 – Você sempre trabalhou com crianças?
R – Sim. E aí eu fiz Nutrição e eu me especializei em alimentação escolar, então sempre foi na área escolar.
P/1 –
Então voltando... Você se formou no colégio e já estava trabalhando, dando aula, e logo entrou na faculdade ou esperou um pouquinho?
R – Não, fui direto, entrei na faculdade com dezessete anos. E aí logo em seguida eu fiz dezoito.
P/1 – E como você escolheu o curso?
R – Então, eu era uma bailarina gordinha e aí a minha professora me orientava, que eu tinha que emagrecer, se não eu não ia conseguir subir na sapatilha de ponta e aí eu fui fazendo o que eu achava certo e fiz tudo errado (risos), mas eu emagreci. E aí eu fui gostando dessa área, porque como eu tinha esse histórico de vida, que eu precisava emagrecer, que eu não podia comer qualquer coisa, eu vi que eu me encaixava mais para a área da Nutrição, da alimentação para o esporte, do que fazer Educação Física, por exemplo, que a maioria das pessoas foram, das minhas amigas. E aí eu fui direto, com dezessete anos.
P/1 – E aí na época da faculdade você continuou dando aula?
R – Dei aula de ballet nas escolas até me formar. E aí quando eu me formei, em 2004, eu passei para as minhas amigas todas as escolas e pensei e falei: “Vou começar agora”... Já era casada, eu casei no meu último ano de faculdade, e aí eu falei: “Vou começar a trabalhar”, mas aí eu fiz o TCC na área de esporte para bailarinas, mas eu vi que não queria trabalhar com esporte, aí eu pensei... Estava começando a lei da vigilância sanitária para os restaurantes, padarias, então eu pensei que seria mais fácil começar com essa área, mas aí não deu certo. Enviei um, mandei projeto para cada uma, várias padarias, mas ninguém me chamava. E aí eu lembro que o meu esposo falou: “Mas você gosta de trabalhar com escola, por que você não faz um projeto e leva para as escolas”, eu falei: “Mas eu já trabalhei com tantas escolas, ninguém ofereceu espaço para eu entrar”, ele falou: “Então não fica só nessas”, eu falei: “Mas como que eu posso fazer? Vou mandar e-mail”, ele falou: “Não, você tem que ligar e se apresentar” e aí eu entrava no Guia Mais, no site Guia Mais, ia no listão, e aí eu colocava as escolas e eu ligava de uma em uma me apresentando, até que uma me deu oportunidade e a gente conseguiu fazer uma parceria, e aí deu certo e eu fui conseguindo outras escolas. Aí uma escola me fez uma proposta de assumir a cantina, falou: “Se você não for a dona da cantina, você vai ficar sempre com essa dificuldade de influenciar o cantineiro, porque ele que vende, e o seu projeto não vai dar certo, de educação alimentar”, aí eu aceitei. E assim, um detalhe é que na faculdade eu sempre falei que eu não ia trabalhar com cozinha (risos), e aí não teve jeito, eu fui para a cozinha, fiz um teste com essa escola e fiquei treze anos lá. E aí numa outra escola eu fiquei oito anos, que foi até agora, dezembro de 2019. E outra empresa eu saí antes, mas fui muito bem realizada, assim, gostei muito de trabalhar, deu certo a cantina ser minha. Eu abri uma empresa chamada “Qualidade e Sabor” e aí depois com o projeto de ser mãe as coisas foram mudando (risos).
P/1 – Mas me conta um pouquinho como que você fazia, o que você desenvolvia para essas cantinas, para a escola, para as crianças...
R – Então, nessa escola que era um colégio e tinha a cantina, a gente tinha desde o berçário até o Ensino Médio. E eu tinha tanto a cantina... Então todo o alimento da escola saia dessa cantina, desde o berçário até o Médio... A gente implantou kits de alimentação, então os pais podiam optar por esses kits lanches, que eram mais saudáveis, todos os sucos eram naturais, a gente tinha um trabalho, tinha estagiárias, tinha técnicas que faziam aulas de educação alimentar, desde os pequenininhos, até os grandes. Então a gente fazia esse trabalho de orientação, fazia palestra para os pais. Era um trabalho bem completo e bem amplo. Quando o aluno... A gente via que ele pedia... A gente não tinha fritura, né? Tinham assados... Mas pedia só esfirras de carne, por exemplo, todos os dias, a gente tentava orientar para ele variar o lanche, a gente pensava meio como o Mc Donald’s de promover uns kits, algumas premiações, porque por mais que tinham muitas variedades, os alunos sempre falavam: “Só tem isso, tia, de novo? Só tem isso?”, eu falava: “Poxa, tem cinquenta opções de lanches”, “Ah, mas pra mim é tudo igual”. Então sempre tinha que estar inovando, colocando brincadeiras para eles virem escolher o lanche. Teve uma época que a gente colocava microfone para as crianças falarem, então a gente sempre usava muita criatividade para incentivar essa alimentação saudável. E nas outras escolinhas menores, a cozinha não era minha, então eu fazia só um trabalho de consultoria, eu fazia treinamento com as cozinheiras, que elas eram funcionárias do colégio, da escola. Nesse caso que a cantina era minha, eu treinava as minhas próprias funcionárias e nessa outra escola eu treinava as funcionárias da escola. Mas era um trabalho bem parecido também com a educação alimentar, mas só tinha educação infantil, então eram só os pequenininhos, aquele trabalho de apresentar o alimento, deles conhecerem, né? Aceitarem a experimentar, porque muita criança tem dificuldade para experimentar. E aí foi assim nessa parte de alimentação escolar.
P/1 – E você chegou a dar aula também sobre isso?
R – Sim. O meu projeto era esse, né? A nutricionista dar a aula de educação alimentar. No começo, quando eu comecei a me especializar, eu ouvi das professoras “Poxa, mas...” eu já apresentei meu trabalho em Congresso também, fóruns de alimentação escolar, “cuidado que nós não somos professoras” e aí nos congressos seguintes já foi tendo uma abertura maior, falando que sim, que nós éramos educadoras e que nada melhor que a gente dar a aula. Então se a tia do ballet, como eu sempre fui, dava a aula do ballet, por que não a tia da nutrição desse a aula? No começo, eles orientavam a gente treinar os professores, e os professores ensinarem sobre alimentação saudável, só que isso na prática não ia... Não funcionou na verdade, né? Esse foi o meu projeto que eu apresentei para o Congresso. Tinham muitos professores que tinham dificuldades com a alimentação, então não tem como eles passarem algo que eles não faziam, que eles não acreditavam. Oferecer um lanche diferente, um bolo, sei lá, de aveia com linhaça, eles [falavam]: “Ah, credo”, né? Se eles não aceitaram o bolo, eles não iam conseguir fazer a criança experimentar. Então tinha que vir alguém da minha equipe e aí deu resultado bem legal.
P/1 – E aí como que foi abrir essa empresa?
R – Então, eu não queria abrir uma empresa de cantina, porque com as outras escolas, eu podia entrar como autônoma, só que lá eu tinha que ter um CNPJ. E aí eu quis abrir uma empresa falando que eu era nutricionista, então aí já começou que eu não podia abrir como MEI, eu tinha como abrir como empresa de pequeno porte, porque envolvia uma categoria. E aí o custo era um pouco maior, mas eu arrisquei e abri dessa forma, que eu achava que era um diferencial para mim. Mas com o tempo os custos foram ficando maiores, porque quando eu decidi ser mãe eu precisava aumentar minha equipe para cobrir a minha ausência. Conforme os custos foram aumentando e em 2010, nós tivemos uma crise nos Estados Unidos que afetou o Brasil e tudo, a gente teve uma perda muito grande dos alunos na escola. E mesmo os alunos que frequentavam a escola, os pais começaram a optar por trazer lanche de casa e não mais pagar para consumir na escola. Então isso foi diminuindo e aí financeiramente eu não fui conseguindo manter isso, até o ponto que eu falei: “Não vai dar mais”.
P/1 – E aí você fechou?
R – Então, aí eu saí, a princípio, né, eu saí primeiro dessa escola e mantive as outras parcerias. Aí uma que não era escola, era empresa, passou a ser vale alimentação, então eu já saí, eu ia ficar com duas empresas, mas no mesmo ano que eu decidi sair do colégio, essa empresa me chamou falando que ia passar para vale refeição, então eu saí das duas e fiquei só com essa escola menor. Nessa fase que eu estava com a escola menor, eu já morava em Mairiporã, então eu já estava distante... Um dos pontos também de eu sair do colégio era a distância, então financeiramente não compensava. Eu já não estava mais feliz também nessa área, porque tem bastantes dificuldades em você conseguir bons profissionais, eu falo que assim não tinha como faltar, se a cozinheira faltava a comida não ficava pronta, o lanche não ficava pronto. Então era sempre uma tensão, uma responsabilidade muito grande e aí conseguir bons profissionais foi difícil, mas tive muitas. Minha equipe foi muito boa, eu falo que algumas foram braço direito e esquerdo, que abraçaram a causa, não era só... Não trabalhavam só pelo dinheiro, por ter uma profissão, elas abraçaram a causa e o propósito da “Qualidade e Sabor”: fazer as crianças se alimentarem bem. Então tive pessoas que andaram comigo muito bem, mas financeiramente não tava… Eu já estava na fase de mãe, o meu projeto de mãe eram três filhos (risos). Eu planejei ter três filhos, eu tive três filhos, e aí já não dava para conciliar, precisava me dedicar para a minha casa.
P/1 – Isso foi em que ano, mais ou menos?
R – Então, eu casei em 2004, eu demorei seis anos para ter filhos. E quando a gente decidiu ter filhos, eu descobri que eu tinha endometriose, que eu não podia. Então eu tive que fazer tratamento, foi todo um processo. E aí em 2010 que eu consegui engravidar a primeira vez e eu tinha um planejamento de ter de três em três anos. E aí deu certo da primeira para o segundo, eles têm três anos de diferença, quando eu estava com o segundo, eu quis mudar o meu planejamento, falei: “Não, vai ser uma loucura ter mais um daqui três anos, eu vou colocar lá mais pra frente que vai estar mais tranquilo, minha filha já vai ter oito anos, o outro vai ter cinco e aí eu penso em engravidar”. E aí quando ele tinha um aninho eu engravidei (risos). Então a diferença do segundo para o terceiro é um ano e dez meses, ficou bem rapidinho, ficou uma escadinha mesmo (risos).
P/1 – E voltando um pouquinho, eu queria saber como você conheceu o seu namorado que depois se tornou marido?
R – Então, eu conheci ele porque ele era irmão das minhas professoras de ballet, ele morava embaixo da academia, já tinha uma história que a minha mãe conhecia a família dele, a mãe dele... E até elas brincam que teve uma situação que a minha mãe encontrou... Minha mãe grávida do meu irmão e ela grávida do meu esposo que se chama Marcos... Elas se encontraram e ela ainda falou assim: “Ai, o meu neném vai nascer essa semana, vai lá ver” e hoje o bebê dela casou com a filha da minha mãe, aí tem essa história, porque elas já se conheciam. Então quando elas se reencontraram ela falou da academia e aí na adolescência a gente teve uma excursão da academia e o pessoal brincando que cada um ia ficar com um e tal e eu tinha um namorado na época, não, tinha acabado um namoro na época, e o pai dele veio brincar, que é o Seu Toninho: “Ah, se você não tivesse namorando eu ia falar para você ficar com o Marquinhos” e aí eu brinquei: “Não, eu não estou mais namorando”, mas era uma pessoa que, assim, jamais passou pela minha cabeça, aí eu falei: “Não, não tem nada a ver, eu acho que não”, mas aí eles brincaram, essa brincadeira espalhou lá para todo mundo e acabou acontecendo da gente ficar junto. Depois a gente não se separou mais, até hoje (risos).
P/1 – E aí você comentou que ele te incentivou a ir atrás de mostrar o seu projeto de escola e ele começou a trabalhar junto com você ou não, eram coisas separadas?
R – Então, eram coisas separadas, ele sempre trabalhou na área de indústria farmacêutica. Ele se formou em Administração e Marketing, por isso que ele falava muito do Marketing pessoal, de eu ligar, de não ser por e-mail, então essas dicas funcionaram muito bem. E ele sempre trabalhou nessa área dele e quando a gente teve o projeto de ter três filhos, eu já tinha a primeira filha, ele trabalhava bem longe e bastante e eu também trabalhava muito por conta dessas empresas que eu prestava serviço. Quando eu tive o segundo filho, ele foi mandado embora e aí ele já não queria mais estar na área, ele não estava contente, estava com algumas dificuldades de saúde, ele veio me ajudar na Qualidade e Sabor. Foi muito bom para a empresa, porque eu estava bem sobrecarregada, tinha acabado de nascer o segundo filho, eu já não queria estar mais nessa área, porque eu falo que eu me tornei mais administrativo no final do que nutricionista, então eu não estava feliz em lidar com tantas dificuldades de funcionários. A minha equipe técnica, vamos dizer assim, era ótima, com muita responsabilidade, abraçavam a causa, mas conseguir as cozinheiras e a as auxiliares de cozinha era muito difícil, a gente tinha dificuldade, então sobrecarregava da gente ter que ir lá colocar a mão na massa, de fazer trabalho porque as funcionárias faltavam muito. Houve um desgaste muito grande no final, e eu com as crianças. Mas aí aconteceu também de ter um desgaste entre nós, porque a empresa era minha então foi difícil de conciliar, mais para ele do que para mim. Mas ele achava que, ele usou essa palavra né, ele se sentia meu funcionário, então nosso relacionamento ficou ruim, até que ele recebeu uma proposta, ele sempre gostou muito de trabalhar com madeiras, era um hobby, e ele tinha feito uma casinha para a minha filha. O dono desse colégio teve uma conversa com ele que ele estava precisando comprar uma casinha de boneca para trazer um diferencial para a escola, aí ele falou: “Olha, eu fiz essa casinha para a minha filha, não tem nada a ver com essa que você está me mostrando, mas posso te ajudar a pesquisar”, ele falou: “Não, você consegue fazer”, ele: “Não, imagina”, aí ele aceitou o desafio de fazer essa casinha, estudou para fazer, ficou linda, é o nosso primeiro trabalho da marcenaria, e aí ele fez um outro trabalho que foi uma ponta de um lado ao outro de uma árvore e aí ele começou a pensar nisso, falou: “Olha, vou começar a pensar em trabalhar com isso e você vai ter que assumir sozinha de novo a Qualidade e Sabor, aí eu entrei em crise porque eu fiquei: “Eu não quero, não quero estar sozinha, não quero lidar com funcionário, eu não quero, é longe para ir”, então eu já não estava feliz e fui decidindo sair. E aí ele começou a se especializar e a pesquisar, ele não fez curso, a gente brinca que foi talento de Deus que deu e ele começou a fazer, aí a irmã dele ia fazer móveis planejados do quarto dos filhos e falou para ele: “Marcos, será que você não consegue fazer?”, ele falou: “Não, mas eu fiz com madeira rustica, acho que não consigo fazer”, mas ele aceitou o desafio e deu certo. E aí nasceu a “Arca Marcenaria” que é a nossa empresa hoje. Eu fiquei mais um ano para poder entregar a escola de uma forma tranquila, de cumprir com a minha responsabilidade mesmo de não deixar nada na não, então eu fiquei por mais um ano e aí eu saí, foi nesse momento que saí. Que eu ia sair só dessa e ia manter as outras duas, e a outra empresa também precisou dispensar, então fiquei só com uma.
P/1 – E como foi esse momento que você saiu, decidiu, tomou a decisão?
R – A decisão foi ótima, eu estava decidida (risos) que eu queria sair, mas quando eu realmente saí e depois eu não tinha mais aquelas atividades, me deu um vazio imenso, era como se tivesse arrancado algo de mim e por mais que eu sabia que eu tinha escolhido sair, ficava aquele sentimento, assim, de derrota, sabe? Na verdade, você parou porque financeiramente não estava dando, né? Tinha os outros contextos, mas fica um mix de emoções dentro da gente e aí eu tive algumas crises sim. Eu tinha vontade de sair da escolinha menor, mas ao mesmo tempo quando eu ia, eu me sentia valorizada, quando eu me encontrava com as crianças, via aquela criança que tinha dificuldade de comer e ela estava melhorando, conversava com os pais, então aquilo me reanimava, só que ao mesmo tempo não queimava mais no meu coração, sabe? A distância... Tinha que ter compromisso com a escola de não deixá-la só, mas eu não estava feliz. Era bem transparente com a dona da escola que é uma grande amiga, essa escolinha em si eu trabalhei oito anos como professora de dança e foi uma escola que lá na frente me chamou e aí eu fiquei depois mais oito anos como nutricionista.
P/1 – E aí como foi esse processo de você e o seu marido criarem outra empresa?
R – É, era dele, né? Era dele e eu ainda tinha a minha escolinha, só que como eu não estava feliz, tinha uma busca por eu me achar de novo. Essa questão de ser só mãe era um projeto, mas eu falo que eu nasci para trabalhar, eu gosto de trabalhar, gosto de criar, de ter projetos, assim, queima no meu coração. Mas aí foi surgindo a necessidade de ajudá-lo, então como eu comecei a pesquisar muitas coisas e a estudar, uma coisa em comum era o marketing digital que estava surgindo, independente da profissão, do negócio, da área, todo mundo precisava entender um pouco sobre marketing digital para se divulgar. Então como divulgar a marcenaria? Começou assim, eu estudando um pouco para mim, mas eu falava: “Vai dar para eu ajudar meu esposo”, aí comecei a estudar um pouco sobre isso, a começar a divulgar nas redes sociais, demorou um pouquinho para ter resultado, mas teve, a gente começou a encontrar o nosso nicho e chegou um momento que ele precisava de ajuda para fazer o projeto. Então os clientes começaram a solicitar os projetos em 3D, então para não ter que pagar uma pessoa para fazer e eu estava mais tranquila, porque eu só tinha uma escola, eu falei: “Eu vou fazer o projeto de móveis e aí eu faço os projetos”, ele consegue ainda fazer os projetos no Excel e PowerPoint, não sei como, mas ele consegue, dá um jeito e mostrar pelo menos o móvel para o pessoal visualizar, só que é outra qualidade você fazer uma apresentação em 3D. Aí eu fiz o curso e comecei a gostar, eu falei: “Nossa, que legal”, né? E aí foi dando certo, eu falei: “Nossa”, ele falou: “Você pode ir visitar cliente”, eu falei: “Tudo bem”, mas aí eu senti a necessidade... Se eu preciso visitar o cliente, eu preciso saber um pouco mais porque ele pode me perguntar se fica legal essa planta aqui, se esse quadro fica bacana, o que eu posso colocar de cortina? Aí foi onde eu emendei e fiz o Design de Interiores e eu vi que era essa área, porque eu identifiquei também que eu precisava disso para a minha casa. “Ah, então eu mudo aqui”, minha casa começou a ser um laboratório (risos), aí foi dando certo e eu fui descobrindo essa paixão pela casa, principalmente pelas mamães. Então é um nicho que eu me identifico muito com as mães, porque às vezes elas não conseguem olhar para um cantinho e decorar, elas não conseguem organizar, porque estão atarefadas com trabalho e com filhos, enfim, agora aulas online, né? (risos). Então foi assim que foi surgindo e para assumir ser Designer de Interiores foi um processo muito longo, por mais que eu já estava sendo responsável pelos projetos, eu não aparecia e eu não lidava tanto com cliente. Então eu fazia os projetos, o meu esposo que entregava, porque eu ainda estava trabalhando com a nutrição, eu tinha um medo de assumir. “Você mudou de profissão? Mas por quê?”, então tinha alguns preconceitos meus e aí foi onde... E aí eu tenho um projeto de empreendedorismo no Instituto que faz parte da minha igreja, que é o Instituto Edificando, então lá eu falei assim... Como tinham várias profissionais que iam doar, fazer um trabalho voluntário de palestras, de falar um pouquinho sobre as profissões, eu falei: “Eu não vou falar como nutricionista, vou falar como Designer de Interiores”, então foi a primeira vez que assumi, “Ai que legal, então você vai falar sobre isso”, aí depois a gente recebeu um convite do SEBRAE para implantar lá um projeto chamado “1000 Mulheres” nesse Instituto, aí eu fui assumindo essa identidade lá, para as mulheres, para as meninas que estavam chegando, então aos poucos... Mas eu nem tinha o meu Instagram sobre isso, era só da marcenaria, mas lá no SEBRAE, como eu também fiz o curso do “1000 Mulheres” eu fui a escolhida da minha turma para fazer o projeto... O projeto não, o curso de aceleração. Então nesse curso, que envolve muito empreendedorismo, é sobre isso, empreendedorismo feminino, eu fui me descobrindo de novo, porque eu entrei em várias crises (risos), e aí para assumir, o SEBRAE ajudou muito, foi abrindo a mente, o leque, as oportunidades, e aí eu assumi praticamente do fim do ano para cá, que eu assumi de verdade (risos).
P/1 – Calma que eu acho que o Maurício quer fazer uma pergunta...
P/2 – Pâmela, eu fiquei bastante curioso com esse processo que você foi trazendo agora. Enfim, você como uma empresária que atuava em um ramo de alimentação, educação alimentar, e aí faz essa transição... Eu queria que você falasse como foi esse processo de você encontrar esse lugar para atuar numa área nova, que a princípio não tinha muita ligação com o seu trabalho ou atuação interior, e o que você consegue encontrar de semelhança entre o que você fazia anteriormente e o que você passou a fazer quando você entra nesse negócio e assume um papel também como Designer de Interiores?
R – Então, eu estava muito na prática, junto com o meu esposo, fazendo lista de materiais para comprar, os cortes que têm o móvel planejado, as medidas, eu comecei a vivenciar muito isso, né? Porque a gente estava muito junto e eu auxiliando ele nisso, eu acho que eu vivi muito a prática. E aí quando eu fiz os cursos eu vi que tudo isso tinha muito sentido para mim, aí eu fiz também nesse período um curso de Personal Organizer, para a minha casa, acho que tem a ver um pouco com a decoração, com a organização, entender a necessidade do cliente, não queria atuar nessa área, né? Não era para ser Personal Organizer, nada, era para trazer habilidades para mim mesmo e para realidade do que eu estava vivendo com três filhos, com ter que trabalhar e aí fez muito sentido para mim. E algo que têm entre a nutrição e o Designer de Interiores é que eu promovo o bem-estar para as pessoas, então tanto na nutrição, eu trabalhava muito com isso de alimentação saudável, de qualidade de vida, o quanto que a criança, se ela se alimentar bem, ela pode ficar menos agitava, ter menos dificuldades, enfim. E com o Designer de Interiores eu encontro a mesma coisa, eu promovo o bem-estar para as pessoas, eu encontro, eu entro nos sonhos das pessoas para entender a necessidade dela, o que ela precisa de móvel para a casa, o dormitório do filho, como planejar, como adequar todos os ambientes para que eles vivam melhor, então para mim o bem-estar é muito comum entre os dois.
P/2 – Eu queria aproveitar essa deixa para fazer uma segunda pergunta... Porque você falou que você foi percebendo o potencial de um nicho, que é um nicho voltado para mães, enfim, de pensar em decoração, Design de Interior para mães, para famílias. Como foi formar, pensar nesse público-alvo? Em termos de projetos, quais são os desafios de pensar e desenvolver projetos para esse público?
R – Então, eu acho que para encontrar esse público foi muito a minha história com as crianças. Nós desenhamos o quarto... Hoje só está um quarto completo das meninas, que a gente planejou e está concretizado, o outro quarto ainda precisa finalizar, mas esse meu conhecimento com a criança faz entender muito a necessidade. E eu sempre trabalhei de as crianças serem independentes, deles terem crescimento de comer com as mãos, comer sozinho. E na decoração eu gosto muito também... Chama montessoriano o método para as crianças crescerem e se desenvolverem, e aí a decoração do quarto, os móveis planejados têm todo uma funcionalidade para as crianças serem também independentes, a cama ser no chão... Eu gosto muito disso, deles terem praticidade de entrar e sair da cama, então esse é o meu nicho, não era o nicho da marcenaria. E aí as mães começaram a me contratar, “Olha, estou mudando de casa, não entendo nada, você vai me ajudar”, aí eu comecei a fazer os projetos, que eram clientes independentes da marcenaria, porque até então os meus clientes eram só da marcenaria que precisavam de projetos dos móveis. E aí o nicho da marcenaria, para a gente conseguir um nicho, a gente foi para o lado de dentistas e protéticos. Hoje ele é mesclado, tanto essa área comercial de dentistas e protéticos, quanto a área residencial. Eu gosto mais da área residencial, da casa, de descobrir ali como que fica melhor cada móvel, de pensar na sala, se recebe muita visita, se não recebe. A cozinha, se cozinham bastante, se não cozinham, então eu entro nessa necessidade, que é o meu nicho.
P/1 – Pâmela, quais foram os seus maiores aprendizados nesse seu trabalho de empreender e juntar essas duas condições?
R – Eu acho que a liberdade, essa liberdade que a gente tem e a possibilidade de começar de novo. Eu tive essa dificuldade, mas não sei nem explicar porque, porque assim, por que não começar de novo? Por que ter vergonha? Por que ter medo? Não tem necessidade, mas a gente passa por esse mix de sentimentos, então eu, hoje, falo muito para as mulheres assim, quais são os seus talentos? Aquilo que você gosta, e eu vejo assim, que tudo contribuiu para eu estar aqui hoje. Então a nutrição, eu vejo muito significado, porque eu sempre trabalhei com as cozinhas, então uma geladeira em ordem, bem organizada, a questão da higiene, então tudo isso eu aprendi na nutrição, o planejamento do cardápio para as mães, por exemplo, acho que entra muito no planejamento da cozinha, eu entendo bem essa funcionalidade da cozinha, por exemplo. Então para mim faz sentido hoje, parece que um quebra cabeça se completou, então eu acho que o maior aprendizado é essa liberdade de começar de novo a qualquer momento. De começar do zero em qualquer situação. “Poxa, eu sou advogada, mas eu gosto de trabalhar com cozinha, com culinária, eu amo fazer bolo”, então, porque não ir para essa área? De não se prender em algo que estudou lá atrás, eu acho que não é um tempo perdido, mas é um tempo que, na verdade, favorece para um novo tempo.
P/1 – E hoje em dia como é o seu dia a dia?
R – Então, hoje (risos) tenho muitas aulas online para administrar. Mudou bastante a minha rotina, porque os meus filhos estudavam a tarde, então eu administrava as crianças e a minha casa de manhã, há três anos eu não tenho diarista, sempre tive ajuda, essa é uma história que tem a ver com as minhas dificuldades com a casa. Eu sempre tive diarista e ajuda com a casa, então quando a terceira filha nasceu, ela ia três vezes por semana, então eu sempre tive essa ajuda. Ela precisou sair para fazer um tratamento de câncer e eu decidi que a gente não ia chamar ninguém e achei que ia dar conta (risos). E aí eu tive muitas dificuldades, porque eu vi que eu não gostava da parte da limpeza, sempre fui muito bem com organização, sempre muito responsável, organizada, mas a limpeza da casa não era minha praia, eu não gostava, mas vi que era importante ali. Então foi onde eu fui descobrindo esse amor pela casa, foi onde eu fiz o Personal Organizer para me ajudar e sempre trabalhei com essa responsabilidade para as crianças, e aí eu vi que eu não estava conseguindo aplicar com os meus ali, então que eu podia usar isso. E aí foi onde eu fui começando a aplicar essas outras técnicas novas, aí a casa fez todo um sentido, porque as crianças todas tem tarefas, cada uma, a gente tem um painel de tarefa, cada um cumpre o seu momento. Então foi se tornando uma coisa divertida e vi que era possível organizar, a organização tem várias técnicas, e aí como aquilo realmente faz sentido, se a gente aplicar dá certo, não sobrecarrega, então funcionava muito bem isso antes da pandemia. E a tarde eu assumia o meu trabalho, que hoje é mais no computador, então eu faço os projetos no computador, assim, uma ou duas vezes por semana eu tenho um cliente, ou ele vem online. A gente usa muito WhatsApp agora para tudo, então o cliente solicita um orçamento, eu vejo se ele já tem a medida, se ele já tem alguma inspiração, alguma ideia. Então nem todos os clientes eu vou fazer a visita inicial, a gente consegue adiantar bastante pelo WhatsApp. E depois da pandemia, é uma loucura (risos). Eu me adapto, meu esposo, por exemplo, precisou parar um pouquinho, a marcenaria é na nossa casa, a gente mora numa chácara, então dá para se adaptar. Então ele parou um pouquinho e olhar as crianças para eu estar aqui, e a gente se reveza. Então ontem eu tinha um cliente presencial, uma entrega, ele mudou para a tarde, então eu precisei cancelar a minha visita para segunda-feira porque ele tinha entrega. Então é muito a gente, a gente é bem unido, só a gente cuida 100% das crianças e como eles estão em casa a gente tem que fazer esse revezamento, mas é uma loucura (risos).
P/1 – E como que essa pandemia afetou mesmo o seu negócio?
R – Então, graças a Deus, não afetou. Porque a gente sentiu muito claro que as pessoas precisaram olhar para a casa de volta. Elas precisaram melhorar as cozinhas, precisavam fazer um escritório, comprar mesa, porque a criança precisa agora de mesa para fazer a aula, consigo colocar aqui a mesa, preciso mudar o quarto, era desse jeito, mas vai mudar a funcionalidade porque o filho precisa fazer aula. Então essa necessidade aumentou muito, e graças a Deus para a gente, a gente não sentiu, pelo contrário, teve um crescimento.
P/1 – Mas nesse sentido de visitação, mudou alguma coisa, vocês tiveram que readaptar?
R – Sim, no comecinho a gente não estava fazendo visita, muito cliente inclusive estava aguardando essa fase passar, porque a gente achou que ia ser rápido. Então a gente conseguia fazer muito pelo WhatsApp, a gente começou a fazer orçamento por vídeo, então a gente explicava o orçamento por vídeo para a pessoa entender melhor, do que só por mensagem ou por áudio. Essa forma de fazer o vídeozinho também facilita bastante, a gente faz o mostruário, mostra as cores das madeiras por vídeo (risos), então no começo foi assim. Mas depois... As entregas que nós tínhamos também em apartamento precisou segurar um pouquinho, os apartamentos não estavam liberando, então a gente segurou, mas enquanto isso tinham outros clientes que estavam permitindo fazer. E aí depois quando os apartamentos liberaram foi uma bagunça, assim, de atender todo mundo, mas foi possível e a gente, eu, por exemplo, quando eu faço a visita para o cliente, uso álcool gel, vou de touca, tenho cuidado de colocar a sapatilha que a gente usa, eu usei muito em berçário, a gente usava touquinha e a sapatilha para cobrir o pé. No começo o meu esposo tirava o sapato, entrava de meia, os funcionários também, para fazer a medição, aí hoje a gente coloca essa proteção no pé antes de entrar na casa, higieniza tudo direitinho.
P/2 – Pâmela, eu queria voltar para um tema que você falou um pouco antes, e talvez até fazer uma conexão com a sua experiência como educadora. Desde criança você já teve uma primeira experiência como educadora, como foi esse processo? Primeiro, queria que você falasse como foi participar do “1000 Mulheres” e se ver envolvida na formação de outras mulheres, pensando nessa questão do empreendedorismo, mas aí imagino que vão sendo trabalhado outros valores, né? Queria que você contasse como foi essa experiência de participar do “1000 Mulheres” e se ver envolvida na formação, visando empreendedorismo, de outras mulheres?
R – O “1000 Mulheres” foi um divisor de águas, porque eram todas mulheres ali que tinham um estado de vulnerabilidade, cada uma com o seu, diferentes umas das outras, mas todas ali com um estado de vulnerabilidade, era uma oportunidade de começar do zero, eu acho que a maioria ali, algumas já tinham algum negócio, mas não estava deslanchado, e outras começando e outras nem sabendo por onde começar (risos). Então eu vejo que foi um divisor de águas mesmo para abrir a nossa mente, então imagina, 25 mulheres com culturas diferentes, vulnerabilidades diferentes, foi bem intenso o nosso relacionamento. Mas sobrevivemos todas no final e descobrimos ali muitos valores, muitas mulheres com histórias únicas, que você fala: “Uau”, né? E eu tendo medo de começar de novo com 37 anos e gente ali com 54 numa boa para começar de novo, a vulnerabilidade dela era outra. Abre bem a nossa mente de que é possível, e as professoras do SEBRAE [são] tops. A gente teve uma... Todas foram muito especiais, né? A gente teve a Débora que ficou mais tempo conosco, a gestora que era a Joyce, então o tempo todo ali nos mostrando que era possível e que a gente era capaz, então eu acho que trazer esse empoderamento foi algo surreal mesmo, porque a gente estava ali com aquele sentimento de que a gente não iria conseguir, mesmo eu com toda essa história achava que não era possível começar de novo, como que eu vou assumir? Então, assim, era um medo que a gente não sabe explicar de onde vem, mas ele existia ali, e com as aulas depois a gente fez outra aceleração dentro dessa, que agora eu esqueci o nome... Não é o Empretec, Empretec veio depois... O “Empreenda”. A gente fez o “Empreenda” dentro dessa aceleração que aí vieram quatro professores de fora, que aí também foi algo de muita pressão, que acho que conseguiu ir tirando coisas de dentro de nós que nem a gente sabia. Nem a gente conhecia, na verdade. E aí foi bem bacana, e aí nesse processo a gente apresentou alguns projetos, e o meu grupo foi um dos finalistas, né? Esse grupo no momento, o projeto chamava “Era só o que faltava”, que era um marketplace. A gente não conseguiu manter o grupo até o final, a gente desfez o grupo depois que ganhou, eu mantive o grupo com três, eram cinco, mas eu mantive o grupo com três. E esse projeto está acontecendo, hoje ele é o leal pelo social, que a gente vai apoiar o empreendedorismo feminino através desse braço social, de uma empresa que chama “Leal de Andrade”, é uma corretora de seguros de uma das sócias e a gente vai apoiar mesmo, a gente quer fazer algo de trazer recursos aonde não tem, então esse meu projeto no Instituto Edificando chama “Elas - Mulheres Intencionais”, então como eu já estou envolvida com essas mulheres, a gente consegue identificar quais são as dificuldades, acho que o conhecimento é sempre uma grande necessidade, porque está mudando muito rápido, né? Todas as áreas estão tendo mudanças, a tecnologia está mudando muito, a forma de se apresentar o seu negócio mudou, milhares de profissões novas estão surgindo, então com essas mulheres, eu acredito que é trazer o conhecimento, que é possível, e emponderar, trazer um resgate da identidade delas, aquilo que elas têm possibilidade de fazer e que muitas vezes tem medo, vergonha, insegurança. Eu acho que eu consigo passar bem para essas mulheres que eu tenho caminhado junto, que é possível, vamos acreditar. “Qual que é o seu talento? O que você gosta de fazer? Então vamos lá, dá certo”. E aí eu tenho diversas empreendedoras que abriram agora na pandemia bolo de pote, presentes, presentes personalizados, a outra abriu bolos caseiros. Então, assim, é muito gratificante ver as meninas também se realizarem. Ver as mulheres também saírem de um lugar que estava difícil e acreditarem nelas mesmas. Acho que é isso.
P/1 – Vocês começaram agora na pandemia ou já tinham começado um pouquinho antes?
R – Não, esse grupo do “Elas” já acontece há três anos. No primeiro ano, eu entrei para ajudar, que foi em 2018, e em 2019 eu fui convidada para coordenar esse grupo, aí foi onde chegou o SEBRAE, então eu estou no segundo ano de coordenação e a gente fazia encontros presenciais de quinze em quinze dias no Instituto. Como teve a pandemia, a gente se readaptou rápido para as lives (risos), então foi tudo muito novo, a gente ainda não tinha feito live. Então a gente começou mesmo do zero e aí mesmo com as lives de quinze em quinze dias a gente percebeu que estava ficando distante o relacionamento, e aí a gente começou a fazer semanal o encontro por vídeo conferência com essas mulheres para manter o vínculo. E eu sempre trago uma palavra de motivação, a gente compartilha alguma parte da bíblia que fala muito sobre as mulheres nos negócios, as mulheres que empreendiam, e aí a gente compartilha e traz dicas de empreendedorismo também, porque algumas já tinham alguns negócios e outras com desejo de começar. E começamos a falar: “Então vamos começar”, uma dando dica daqui, outra de lá, tem mais três meninas que me ajudam a coordenar esse projeto e elas toparam o desafio e começaram. E deu certo, elas estão vendendo. Estão está bem legal. Abriram um Instagram, estão comercializando...
P/2 – Pâmela, eu queria te perguntar sobre a história do nome, “Elas”, como vocês chegaram a esse nome e qual é o público que vocês atendem nesses projetos?
R – Tá. O nome veio... Quando eu entrei no projeto ele já existia, então foi uma das coordenadoras do Instituto, na época era a Laura, que tinha muito desejo de ter um projeto para as mulheres, porque o Instituto atende... O maior público são as crianças. Então tem cursos diversos de esporte lá, tem reforço escolar, tem psicólogas, mas o foco principal eram as crianças. E eles sempre tinham o desejo de atender as mães dessas crianças e aí ela começou, ela tentou acho que umas duas vezes com esse projeto, tiveram poucas adesões, e depois ela tentou novamente com esse nome, “Elas – Mulheres Intencionais”. E aí começou, acho que era um grupo de dez a quinze pessoas, porque a gente atendia em um espaço aberto do Instituto, já para ter um encontro diferente. A gente servia um café da tarde e era ao ar livre, então esse espaço tinha um limite de pessoas. Quando eu assumi, a gente já tinha acesso a um salão maior, então a gente abriu um pouco mais de vagas. E assim, o maior público são as mulheres da comunidade que são mães desses alunos, mas envolveram também pessoas que são da igreja que é ao lado, a igreja Edificando, também fazem parte. Então ficou um grupo mesclado mesmo ali da região, poucas são mais distantes, mas são pessoas já da região, da comunidade, que frequentam.
P/2 – Quando você fala região é ali em Mairiporã?
R – Ah, não. Aí é entre a Zona Norte, a igreja fica no Tremembé, na Zona Norte.
P/2 – Ah tá. Então a comunidade quer, enfim, impactar cada ________.
R – Isso, é na Vila Albertina que fica dentro ali do Tremembé, próximo ao Instituto Edificando.
P/2 – E você consegue contar uma história dessa sua trajetória, acompanhando, formando essas mulheres, que você acompanhou a formação e aí agora, enfim, você considera que seja marcante?
R – Olha, eu acho que todas as histórias são muito marcantes, eu tenho várias. Vou falar duas, mas teria muitas para falar. Eu vou falar de três, porque são as pessoas que me ajudam hoje. Tem uma que ela recebeu... Ficou sabendo desse projeto e um dia a gente ia ensinar a fazer penteados, as voluntárias eram cabeleireiras e maquiadoras, então foi um dia bem agitado, e ela viu que eu precisava de ajuda. E ela veio: “Pâmela, você quer ajuda, você quer que eu chegue na semana que vem mais cedo?”, e eu falei: “Olha, eu quero que você me ajude com os descartáveis”, porque é uma loucura, a gente precisa dos descartáveis, eu preciso ver a quantidade, mas eu preciso ver quem chegou com palestrante, e aí eu não sabia a história dela, mas ela tinha fibromialgia e ela quase não saia de casa e ela me disse assim... Só que depois ela ficou bem preocupada, porque ela ficou: “Como eu vou assumir essa responsabilidade, eu não queria estar aqui toda semana ou de quinze em quinze dias, e se eu não tiver bem?”, aí ela me disse sim, mas ela começou. E aí nesse processo dela também se descobrir, trabalhar com mulheres que era uma dificuldade dela, que ela teve com mulheres, ela descobriu que nesse processo ela conseguiu ser curada. Então ela não tinha mais fibromialgia, foi diminuindo, nas quartas-feiras que ela ia para o encontro ela estava bem, ela começou a se sentir útil e motivada para estar lá e foi se envolvendo cada dia mais. Hoje ela faz marketing digital, porque ela quer ajudar as empreendedoras a divulgar os negócios, então ela tem esse desejo de ser assistente virtual, porque todas as meninas precisam dessa profissão no momento. Eu tenho outra que eu também não sabia o histórico dela, ela foi a primeira que eu convidei, e aí eu mandei uma mensagem para ela falando: “Olha, eu gostaria que você fizesse parte desse projeto me ajudando” e ela não estava bem, com depressão, eu não sabia, mas ela conta que naquele dia ela estava com tudo programado para tirar a vida dela, então, assim, para mim fez muito sentido e também ela começou a me ajudar, eu fui saber dessa história um ano depois e ela nunca faltou, tanto que elas deram conta quando eu precisei sair para fazer esse curso de aceleração no SEBRAE, foi mais de um mês fora, então elas assumiram tudo ali e tudo deu continuidade, nada parou, porque elas também abraçaram essa causa. E outra moça que também veio aos poucos, sempre ajudando, então ela sempre fazia bolos quando a gente precisava montar o café, ela era uma das que mais trazia os bolos para nos ajudar no café, “Olha, isso vai dar certo”, ela tem um carinho por servir que é muito lindo, ela faz Direito e ela perdeu o emprego há um ano e meio, dois anos atrás, então ela sempre falava assim: “Pâmela, eu vou conseguir te ajudar, mas eu estou procurando emprego”, mas ela não conseguiu nesse tempo todo. E aí hoje é a filha dela que paga a faculdade dela, às vezes ela fica mal, mas ela tem esse talento com os bolos e agora na pandemia ela conseguiu assumir e vai trabalhar junto também com isso, até para ela terminar a faculdade. Então são mulheres que conseguiram se descobrir ali, aos poucos, e abraçaram a causa junto comigo para ajudar e servir as outras mulheres.
P/2 – E como é ser uma empreendedora e ter uma atuação na região, na Zona Norte?
R – Olha, eu acho que é plantar uma sementinha para contribuir, assim, com a mudança. Tanto que o nosso projeto com as meninas do SEBRAE, o foco é a Zona Norte, porque a gente ainda sente que faltam muitos projetos dessa forma. A gente vê muitos projetos grandes na Zona Sul, mas a gente não tem essa força na Zona Norte, que é possível as mulheres trabalharem com atividades talvez que eram mais simples, que hoje em dia está sendo mais valorizada, inclusive. Porque a gente viu a força desse produto, dos deliveries, de gente que faz um bolo e consegue entregar, “Tô com vontade de comer um doce”, vários lugares fecharam, e eu vi o depoimento de uma moça falando: “Gente, eu estou precisando comprar um doce, quem fornece?”, ela divulgou nos stories dela: “Quem está vendendo sobremesas e faz entrega?” e ela não estava achando, então eu vejo a importância dessas mulheres, porque é difícil sair para conseguir um emprego, porque ela tem filhos, porque ela tem a casa ou porque está afastada do mercado de trabalho há muito tempo, ou porque não tem estudo, então eu vejo que assim, existe um público muito grande dessa vulnerabilidade, vamos dizer assim. E ter esse projeto na Zona Norte e atrair mulheres que elas podem sim, ter um negócio, e fazer esse negócio crescer, dar visibilidade, para mim tem um significado imenso. E na Zona Norte, porque eu sempre morei na Zona Norte, esse projeto é na Zona Norte, então a gente está sonhando com a Zona Norte desse projeto crescer.
P/2 – E agora o que você falou, por ter nascido, passado boa parte da sua vida na Zona Norte, qual que é a sua relação com essa região?
R – Eu acho que assim, tudo. Então todas as escolas [em que eu trabalhei, foram] na Zona Norte, eu cresci e nasci na Zona Norte, depois eu fui fazer faculdade na Zona Norte. É a região que eu tenho conhecimento, a região que eu tenho carinho de estar, tudo muito... Não próximo, porque hoje em dia por mais que seja próximo, você demora muito para se locomover. Mas é de ter vivido ali, de ter a história mesmo que tudo aconteceu ali, na Zona Norte.
P/2 – E aí eu queria que você me contasse que lugares que você considera que são marcantes para vocês dessa sua vivência, dessa sua trajetória com a Zona Norte?
R – Então, a região de Santana. A primeira escola depois que eu saí do meu bairro, foi no Imirim, que é trajetória para Santana. Eu fiz curso de computação em Santana. O bairro mais movimentado, mais próximo de mim era Vila Nova Cachoeirinha, mas ainda não tinha cursos de computação quando lançou, então era tudo Santana, Lapa, mas o fácil acesso para mim era Santana, Lapa já é Zona Oeste, então eu sempre... Cursos e escolas eram para essa região e a faculdade eu fiz na UNINOVE da Vila Maria, então eu também tinha que ir até Santana e de Santana eu pegava o ônibus para a Vila Maria. Os shoppings que eu ia, os shoppings que eu frequentava, eu ia para Santana (risos), então eu ia ao shopping de Santana, eu ia no Center Norte, que era essa trajetória de caminho.
P/1 – E para você, qual foi o momento mais marcante nessa trajetória como mulher empreendedora?
R – Foi essa mudança de profissão, já mais madura, com três filhos, o que eu vou fazer? Porque eu não queria ficar somente em casa, cuidando dos filhos e da casa, eu precisava fazer algo mais, eu acho que por propósito, o que eu preciso fazer? O que eu posso fazer? Então eu acho que foi descobrir isso, mas também descobrir que eu preciso cuidar da minha casa, para trazer segurança, para trazer base, que uma casa organizada flui melhor, inclusive para as crianças, elas se tornam mais seguras de saber que elas têm responsabilidades, de saber que elas podem brincar, mas que elas têm responsabilidade de guardar depois e que eles podem fazer isso, de que é possível eu cuidar da minha casa e também trabalhar, das crianças entenderem: “Olha, agora eu estou trabalhando”, então é assim que eu falo: “Olha, a mamãe vai entrar agora para trabalhar”, é ali na mesma casa, então eles entenderem isso acho que é importante e para mim, foi esse momento que eu consegui trazer um equilibro para a minha vida, porque eu falava isso: “Tô meio desequilibrada, porque eu só cuido de casa, de não sei o que, dos filhos, não estou feliz”, então acho que encontrar esse equilíbrio, descobrir que era possível, e acho que o nome disso é maturidade e também gratidão por todos os momentos.
P/1 – E Pâmela, você contando dessa descoberta de que sim, é possível se reinventar, e por você ser um exemplo disso, como você se sente olhando agora a sua trajetória e quando você se deu conta de que sim, é possível mesmo e você é um exemplo de que não importa a idade, é possível se reinventar.
R – Eu acho que uma superação (risos), porque eu sempre fui muito segura, por ter começado a trabalhar muito cedo, por ter conquistado essas coisas, então, assim, eu falei: “Eu vou ser um grande diferencial na área de nutrição”, então eu quis fazer projetos e ir para o Congresso, eu era muito segura com tudo isso, diria que um oitenta. E quando eu passei por essa crise, que eu achei que eu não ia conseguir mais, eu fui lá para os oito, oito ou oitenta, então eu fui muito lá para baixo, nesse momento de oito, eu de verdade achei que não ia acontecer mais, que eu não ia conseguir estar segura de novo e me realizar, eles falam muito nessa área digital de você ter autoridade sobre a sua profissão, então eu não achava que era possível, eu acho que é uma superação.
P/1 – E eu queria saber agora que você comentou dos seus três filhos, como foi para você se tornar mãe?
R – Então, também foi oito ou oitenta (risos). No meu processo com a nutrição, eu casei muito nova, então eu casei com vinte anos, estava no último ano da faculdade, meu pai teve que assinar para eu casar, mas eu já namorava há seis anos... Seis anos? É... Eu casei com vinte, mas logo eu já fiz 21. Então, o meu projeto era me especializar, quando eu descobri o nicho da alimentação escolar, que também foi lá no comecinho, já era um nicho bem específico, então eu já estava estudando e me especializando nessa área. E aí o meu projeto era estudar, tanto que eu lembro que na especialização a professora já falou: “Não, você vai fazer mestrado logo em seguida”, o mestrado era [em] Santos e aí eu pensava nisso. Mas o meu esposo sempre quis ter filhos com uns três anos de casado, então seria bem novinha, com 23 anos, e aí foi um processo eu aceitar isso. Eu acho que foi um desejo que tinha no coração de Deus, que Deus colocou no meu, porque como eu não tinha e a gente casou muito novo, então meio que para ter liberdade, eu não tinha tanta liberdade namorando. Era aquela coisa já de ter que chegar as 22h, mesmo em praticamente 2000, você ter que chegar as 22h em casa, era bem assim, bem rígido, né? Então ser mãe era um processo que era bem lá na frente, mas como nós fomos cristãos e a gente estava na igreja, esse sentimento foi tocando no meu coração, por isso que eu acho que Deus colocou esse desejo. E aí a gente fazendo um curso de casados, no curso eu falei: “Então nós vamos ter três filhos” (risos), então assim, para quem não queria ter filhos “Então nós vamos ter três filhos” (risos), e aí foi uma brincadeira “Vamos ter três filhos” e isso foi criando sentido para a gente. E a gente falou assim: “Então, vamos começar a tentar?” e eu lembro que era no meio do ano, e esse negócio de ser muito organizada, eu era mesmo, eu falei: “Então tudo bem, eu vou parar de tomar remédio em agosto e a gente começa a tentar, acho que uns três meses sem tomar remédio a gente consegue engravidar”, aí eu não engravidava, eu não engravidava, e eu comecei a ter sintomas da endometriose, que até então eu não sabia. Mas eu tinha várias hemorragias de não conseguir trabalhar e muitas dores, eu nunca tive cólica na minha vida inteira, e aí eu comecei a ter e eu já comecei a procurar um médico. A primeira médica falou: “Acho que não, mas vou te encaminhar para um...”, já tinha uns seis meses mais ou menos isso, “eu vou te encaminhar para um especialista” e aí quando ela me encaminhou eu só fiz os relatos, ele falou: “Você tem endometriose” e ele fez o pedido de cirurgia na hora. Aí ele ainda falou: “Calma, não vou fazer a cirurgia sem fazer exame, mas é porque eu tenho certeza de que é endometriose, então enquanto o pedido vai acontecendo, você vai fazendo os exames pré-operatórios”. E aí essa vontade de engravidar foi aumentando muito. Então ele só me falou da cirurgia, eu não sabia que ia ter um tratamento depois disso, e fui entrando em crise, porque a mulher vai ficando mais ansiosa com essa expectativa. E foram dois anos praticamente de tratamento e tudo mais, até a cirurgia, esse tratamento você tem uma menopausa precoce, então eu não menstruava, era como se eu tivesse tirado isso da minha cabeça, “Então eu vou ter que esperar todo um processo, voltar ao normal, para eu pensar nisso”, e o médico falava assim: “Olha, o tratamento é no mínimo de seis a nove meses” e cada mês era uma injeção. Quando eu tomei a terceira injeção, eu pedi para ele fazer o exame de novo, ele falou: “Calma, lindinha, você é muito ansiosa, você não vai conseguir engravidar se você continuar dessa forma”. E a endometriose é um processo dessa mulher ansiosa, dessa mulher moderna, enfim... Aí eu falei: “Mas por favor, faz o exame, é só um exame de sangue”, aí ele fez e a taxa deu muito normal, muito normal, assim, eu sei que foi um milagre, porque era muito intenso, eu não lembro o nome que ele usava, era um alto grau de endometriose. E aí o exame de sangue deu uma taxa normal, ele: “Ah, é você que quer engravidar?”, eu falei: “É, lembra de todo o processo?” (risos), aí ele falou: “Então, agora você tem que esperar a sua menstruação voltar ao normal para a gente ver se você ovula ou não, se vai precisar tomar remédio para ovular e se tomar remédio você corre o risco de ter gêmeos”, eu fiquei: “Ah, tudo bem, pode vir, né?”, só que nesse processo, que eu acho que eu desencanei um pouco e até esperar voltar ao normal, eu engravidei, sem voltar ao normal. Eu fiz esse exame mais ou menos no fim de abril, no comecinho de junho eu engravidei, sem ter o último dia da menstruação, então toda mulher tem um atraso para engravidar, eu não tive esse atraso, eu engravidei e aí eu fui colocar uma calça de frente para o espelho e eu senti muito forte que eu estava grávida. Assim, tipo eu olhei para o espelho, fui colocar a calça, ela estava um pouco apertada e aí eu falei: “Eu estou grávida”, e aí eu liguei para minha mãe, falei: “Vamos comigo fazer o exame?”, “Mas como? Não acontece assim, você tem que menstruar”, eu falei: “Mãe, vamos comigo fazer o exame?” (risos), aí eu fui a uma clínica fazer o exame, não falei para ninguém, a noite peguei o resultado pela internet, eu estava grávida. Assim (risos), a primeira e terceira foi assim. Eu senti dentro de mim, acredito que Deus falando comigo: “Você está grávida”, só no do meio que eu tive um atraso da menstruação, e aí foi esse processo doido de ter três filhos.
P/2 – E Pâmela, o que qe muda na sua vida depois que você se torna mãe?
R – Tudo (risos), tudo. Literalmente tudo. Eu acho que a principal área que muda é o nosso tempo, eu falo que esse processo foi muito rápido, foi bem intenso, a dificuldade de engravidar, porque a gente sofria bastante. E de repente, três, então, assim, foi rápido, foi uma escadinha, então o meu tempo mudou radicalmente, por isso que quando eu já não estava feliz com a minha empresa, era uma crise de administrar tempo também, porque eu precisava trabalhar, mas eu queria estar com ele, então era uma loucura de deixar um com avó, deixar o outro com outro, hoje é o pai que fica, amanhã sou eu que fico, então sempre foi essa dinâmica muito intensa, mas que nunca impediu da gente trabalhar e viver conciliando. Eu nunca tive um tempo específico “Olha, eu parei, tirei férias e vou ficar só com eles”, não. Nasceu, uma semana depois você já está lá balançando o carrinho no computador, eu precisava fazer boleto para os pais, porque eles pagavam esses kits lanches através de boleto, então eu já tinha que fazer boletos, eu que fazia as compras de mercado, então vai alguém junto comigo, a gente levava várias vezes as crianças para fazer compra e é assim. Então o meu tempo foi o que mais mudou, acho que o nosso tempo é muito deles agora e isso ainda continua.
P/2 – E Pâmela, você falou que você se casou jovem e foi um processo até relativamente rápido e porque você também tinha um anseio de uma maior autonomia, mas eu queria que você contasse como foi o casamento propriamente, como você se sentiu, se teve uma festa…?
R – Então, foi muito legal. A princípio eu brincava que não queria ter festa, que era um valor muito alto que a gente tinha que investir e eu queria pegar esse dinheiro e sei lá, fazer qualquer outra coisa, trocar de carro, terminar a nossa casa, mas aí quando foi chegando perto, todo mundo falando: “Não, mas você tem que ter festa, tem que ter festa”, a família querendo festa e aí eu falo que foi a melhor decisão que eu tive, a gente brinca, eu, as madrinhas, que eram minhas amigas, família, que é um dia de celebridade e no dia do casamento, eu falei: “Eu vou casar de novo”, eu falei: “Eu quero casar de novo”, depois que a gente decidiu ter a festa e tudo e foi muito gostoso, eu envolvi muitas pessoas para essa organização, teve buffet, a gente contratou buffet, mas as minhas amigas foram junto ver o vestido, elas ajudaram a decidir o cardápio do buffet, então eu envolvi muito as minhas amigas nisso. E aí eu falei que a gente ia casar de novo, a princípio era com dez anos de casados, mas a gente não conseguiu, financeiramente foi em um momento que eu estava deixando a empresa e ele começando uma empresa nova, então financeiramente era impossível. Então esse projeto está de novo quando a gente tiver vinte anos de casado, a gente fazer um casamento de novo. E, assim, no começo foi tudo muito tranquilo, eu tinha uma casinha como se fosse uma casinha de boneca, tudo no lugar, os dois trabalhavam fora, trabalhavam bastante, então não tinha muitas dificuldades com a casa em si, o casamento... Tinha muita ajuda da mãe dele, a mãe dele continuava lavando as roupas dele, então trazia tudo pronto passado e lavado, minha mãe fazia isso para mim, elas me ajudavam muito com a comida e como depois sempre trabalhei com escola, e a cantina era minha, tinha aquela questão de lei, ninguém podia levar as sobras da comida para a casa, não podia doar. Então mudou acho que há pouco tempo, agora, com a pandemia isso mudou. Então sempre eu que levava comida para a casa, então eu não cozinhava, eu sempre congelei as sobras que eram da escola e facilitava a minha vida por anos, eu fiquei treze anos com esse colégio, então eu não tinha muito que ter esse trabalho, por isso que eu acho que eu entrei em crise depois, porque depois eu tive que cozinhar, cuidar de tudo que eu nunca tinha feito. E aí a gente sempre... Assim, eu fiz um curso de casados muito cedo com ele, era tudo muito lindo e maravilhoso, vamos dizer assim. A gente só veio viver uma crise mesmo em grandes dificuldades, quando veio a crise financeira, que ele decidiu não voltar para o mercado de trabalho, eu queria sair da minha empresa e nós tínhamos três crianças, aí foi uma loucura, foi bem difícil, a gente pensou em se separar, chegamos a conversar muito sobre isso, estava difícil a comunicação, um entender o outro e a gente passou por um processo de pedir muita ajuda, de buscar pessoas mais velhas para conversar com a gente, tanto na igreja, quanto ajuda profissional, a gente foi buscar... E depois que a gente conseguiu superar e respirar fundo, é um novo tempo, por isso que essa questão do casamento é bem forte para a gente, as crianças sabem disso, eu tenho um quadro de sonhos que eu coloco lá, então tem a festa de casamento lá, é bem legal.
P/2 – E se você me permite, aproveitando... Como é, porque é uma parceria que não é só uma parceria de amor e na construção da família, mas é também uma parceria nos negócios, né? Como conseguir por tanto tempo, e até lidando com mudanças de negócio, como conseguir conciliar isso?
R – Então, a gente fez dezesseis anos de casados, e a gente tem vinte anos juntos, acho que é isso, vinte e poucos anos juntos... No momento que a gente passou a ser sócios, que foi nesse momento de crise e tudo mais, mesmo com todas essas dificuldades que nós tivemos, tinha uma cumplicidade acho que muito grande e tinha um respeito também muito grande, que a gente nunca se desrespeitou, lógico que tinham conversas mais intensas, ele é o mais tranquilo, eu sou a mais agitada, acho que isso traz um equilíbrio também. Mas acho que o respeito, independente do que ia acontecer, era ali a parte principal, até porque a gente já estava com os três filhos, acho que era tudo muito intenso para mim, foram altos e baixos muito fortes, porque emocionalmente eu estava com três crianças pequenas, do segundo para o terceiro, eu trocava duas fraldas, eu falava que era uma bundinha grande, uma bundinha pequena. A diferença de idade foi pequena. Mas depois a gente se anulou muito também por conta deles também, foi uma fase que a gente quase não saia para aniversários, porque para arrumar três crianças, fazer três malas, ir para o aniversário, voltar no carro, às vezes eles vomitavam, porque como a gente passou a morar um pouco mais longe, então para qualquer lugar a gente tinha que pegar estrada. Então corria o risco deles vomitarem no caminho, e uma cadeirinha, duas cadeirinhas, três cadeirinhas, era tudo muito estresse (risos). A gente se permitiu muito ali viver junto em casa, “Vamos fazer algo diferente”, então o diferente era preparar uma refeição, o diferente, “Vamos projetar como a gente pode melhorar aqui, melhorar ali, o que a gente pode fazer pela empresa”, então essa amizade que tem é muito grande, tanto que em alguns momentos a gente até falou: “Olha, está muito mais amizade do que um casal de marido e mulher, vamos voltar e consertar isso daqui?”. Uma coisa que a gente sempre fez foi pedir ajuda, então sempre teve pessoas nos aconselhando e fazendo curso, fazia com que a gente abrisse a nossa mente e acho que o reconhecimento “Olha, eu estou reconhecendo, estou falhando aqui, eu reconheço”, então eu sei que eu vou poder, eu consigo mudar até ali. E ele também. Só que aí essa fase passou, uma coisa que eu sempre ouvia e achava muito chato, era as pessoas falando: “Calma, essa fase vai passar, calma” e realmente passa. Hoje com a maturidade eu posso dizer que realmente nada melhor que dar tempo ao tempo. E aí a gente conseguir resgatar isso, porque as crianças estão maiores, eu acho que é poder respirar e a gente resgatar aquilo do nosso casal. Somos pessoas diferentes, em um momento a gente cobrava muito aquilo que a gente era, aquilo que a gente viveu, porque sempre foi muito bom, os dois sempre trabalhavam muito bem, a gente nunca tinha passado por uma crise financeira. Então era muito fácil, precisava comer, compra comida, vamos sair hoje, vamos viajar, era tudo muito prático. E depois não. Mas também vejo que foi uma questão de maturidade e aceitar que as dificuldades das crianças pequenas iam passar com o tempo. E passou. Então a gente está em uma fase diferente. E na empresa hoje, as pessoas às vezes me perguntam: “Mas hoje você não tem essa dificuldade que ele tinha, que vocês tiveram?”, eu não tenho porque, assim, é a mesma empresa, mas são áreas diferentes, então eu faço os projetos, a gente tem opiniões diferentes, claro, muito legal quando a gente vai em um cliente junto que eles perguntam: “Mas o que você acha disso? Que cor eu ponho?”, então a gente tem opiniões diferente, eu falo: “Olha, o Marcos é mais desse estilo, eu sou mais esse, mas você precisa descobrir o seu”. Eu brinco que ele muda meu projeto sempre, quando ele vai executar ele está sempre mudando o projeto, mas ele também é muito bom nisso, e fica uma coisa muito divertida. Às vezes a gente tem que também se policiar porque está muito mais trabalho do que tempo de qualidade da família, mas também é uma fase, a gente está vivendo isso agora, está tendo muito trabalho, essa semana está super intensa e a responsabilidade é muito grande. Então se a gente falou que precisa entregar... Ele está trabalhando até duas, três horas da manhã, para você ter uma ideia, então estamos em uma fase intensa, mas com muita cumplicidade.
P/2 – E queria perguntar como é morar, vocês estão morando em uma região, Mairiporã, é uma chácara, não é? Pelo que você tinha falado... Enfim, você falou que tem essa questão um pouco no impacto do deslocamento, mas o que isso traz também em termos de qualidade de vida?
R – É muito bom, eu não me vejo em outro lugar. A tranquilidade é muito grande, mas é muito fácil acesso para qualquer lugar. Eu falo que estou em um ponto muito estratégico, que eu chego em cinquenta minutos, uma hora, em qualquer região. É muito fácil para pegar rodoanel ou para pegar Fernão Dias, que são essas vias de mais acesso, é bem tranquilo, a gente quase não tem trânsito, só se tem algum acidente mesmo. E assim, é outra vida. Tem gente que não tem o hábito, fala: “Ai, vou morar aqui no meio do mato... Você não tem medo?”, quando eu mudei para lá eu falei: “Eu só tenho medo do frio” que faz aquele vum-vum, mas de ser assaltada não, com as crianças também não, é muito tranquilo. Para ter três, eu acho que é muito importante pelo menos para mim ser um lugar assim, para eles saírem, extravasarem, porque senão as crianças pirariam em um lugar mais fechado. Então eles têm contato com a terra, a gente tem um pomarzinho, é muito gostoso, ontem mesmo a gente fez uma horta, porque a horta estava em vasinhos e eu já estava perdendo as minhas plantinhas, eu falei: “Vamos lá fazer uma horta”, então as crianças ajudaram. Consigo ter algumas brincadeiras que estão se perdendo com eles, de ir lá pegar uma fruta, de sair na terra, de futebol. Agora com as aulas online eles estão com mais acesso ao celular, mas foi uma coisa que eu segurei muito, mas tive que liberar agora. E esse vício é muito rápido com a criança, que a gente está tendo dificuldade de segurar o meu filhinho do meio, que é o Marcos Vinícius.
P/2 – E eles assimilam muito rápido essa coisa de...
R – Demais. Demais.
P/2 – E você citou o Marcos Vinícius, o filho do meio, e para a gente ter esse registro, me fala o nome do seu esposo e dos seus três filhos.
R – Tá, o esposo é o Marcos, mas ele é Marcos Antônio, aí a Isabele é a mais velha, é apaixonada também por essa questão de empreendedorismo, ela ama reciclagem, ela usa muita coisa de papelão, ela faz vídeo junto comigo, com algumas coisas de organização, é bem legal, ela tem dez anos. Aí tem o Marcos Vinícius, que a gente chama ele de Marquinhos, que tem sete anos, vai fazer oito agora em dezembro, super intenso em tudo e tem a Larissa que é a caçula, tem cinco anos, vai fazer seis no mês que vem e é um doce, assim, bem delicada, brincam muito, falo que ela e o Marquinhos são gemeozinhos, eles brincam bastante, mas também brigam bastante. E a Isabele é aquela que é mais responsável, que é irmãzona, bem legal.
P/2 – Bacana. E a gente está na parte final da entrevista, que é uma avaliação. E eu gostaria que você dissesse, para você o que é ser uma mulher empreendedora?
R – Ser uma mulher empreendedora? Eu acho que o empreendedorismo tem vários sentidos, e eu vejo o empreendedorismo, mesmo que você não tenha um negócio, eu falo muito isso para as mulheres, o empreender é você acreditar em alguma coisa, você idealizar um projeto e fazer ele acontecer, até dei esse exemplo para essas mulheres, às vezes, a gente, sei lá, faz um projeto de horta e coloca toda a família para se envolver nisso, acaba sendo o empreendedorismo, eu falo isso para elas. Ou um projeto social, ou um projeto, sei lá, de fazer blusas e doação. Eu acho muito importante isso, você acreditar no seu propósito. Mas para mim, como envolve muito negócio, eu acho que é você ter uma ideia diferente de todo mundo, às vezes eu brinco que é uma ideia doida, como a minha começou com a nutrição e esse projeto em escola, é você acreditar e fazer ele acontecer, e dar certo, né? Mas sim numa forma de negócio. E hoje o meu projeto, o meu Instagram chama... Mudei ontem, né? Era Pâmela Decoração e Bem-estar e eu mudei para Projetos.decor.bemestar, porque faz esse sentido para mim. E o outro é o pamela_cuidadabagunca. Então eu acho que é descobrir o seu propósito e fazer ele se tornar um negócio.
P/2 – E Pâmela, quais são os valores que definem a sua trajetória como empreendedora?
R – Persistência (risos), resiliência, muito, muito. E acreditar, porque são ideias, às vezes, maluquinhas, então é preciso acreditar. Eu acho que eu consegui, de alguma forma, sempre influenciar. Então como eu falei, nessa trajetória tanto antes ou agora, tem pessoas que acreditam junto, sabe, comigo? E uma das qualidades lindas do meu esposo é que ele sempre acredita e me impulsiona, sabe, a ir: “Ah, vai dar certo”, ele é a pessoa acho que mais critica que está do meu lado e falando: “Ah, não, você tem que fazer aqui, você tem que melhorar nisso... Não, mas assim não funciona”, então eu acho que faz isso dar certo. Ter alguém que acredita do seu lado é bem importante.
P/1 – Pâmela, o que representa a Zona Norte na sua vida?
R – Eu acho que uma oportunidade. Hoje eu estou com clientes mais locais também da Zona Norte, porque antes a gente divulgava, então vinha pessoas bem mais distantes. E conforme foi crescendo isso, a gente consegue atender mais público perto. Então a gente está com a maioria dos nossos serviços na Zona Norte. Então eu vejo que também é uma oportunidade. E aí a gente valoriza também os negócios locais, né?
P/1 – E você gostaria de acrescentar alguma coisa que a gente não tenha pegado? Falar alguma passagem que foi importante para você?
R – Não sei (risos). Ah, eu acho... Eu vou falar uma frase que eu já tinha ouvido outras vezes, mas ela não tinha tanto sentido e nessas reuniões, a gente fez várias reuniões agora para iniciar o segundo semestre no “Elas”, e uma das meninas falou assim: “Muitas vezes a gente está preocupado de pegar as borboletas, a gente fica ali tentando pegar uma borboleta, ela voando e a gente não consegue, é muito difícil, mas quando a gente cuida do nosso jardim, as borboletas vêm”. Então eu acho que essa frase tem... E aí eu falei: “Nossa, é verdade, eu esqueci dessa frase e tal, eu já tinha ouvido falar”, mas ela trouxe muito significado agora e eu acho que, por um momento, eu fiquei nessa busca, nessa tentativa de pegar as borboletas. E aí quando a gente muda o nosso olhar, e aí envolve acho que a gente descobre a gratidão, porque eu também, nesse momento de desequilíbrio, houve muitas murmurações. “Ah, eu não vou conseguir”, você fica bem frustrada, não vai dar certo, vem o medo. Mas quando a gente muda esse olhar e descobre a gratidão por todas as dificuldades, por todos os passos, por todas as etapas que a gente está vivendo, a gente passa a cuidar melhor das nossas coisas, aquilo que está ao nosso redor, que é o nosso jardim. E aí é uma consequência, naturalmente as borboletas vêm.
P/1 – E o que você acha da proposta de mulheres empreendedoras serem convidadas a contarem suas histórias de vida através de um projeto de memória?
R – Achei lindo. Lindo. Assim, nunca tinha ouvido falar, eu não conhecia. E eu acho que é uma oportunidade das mulheres conquistarem o lugar delas, ou um lugar de novo delas, porque nessa trajetória toda, eu vejo que as mulheres perderam muito espaço de ser quem elas são. Então algumas, às vezes, querem uma competição muito intensa e aí fica esse feminismo, né? Eu acho que a gente não precisa ocupar o papel ou o lugar do homem, que muitas mulheres quiseram conquistar, às vezes, um lugar do homem. Eu acho que a gente precisa conquistar o nosso espaço. Então vejo sim a importância de a mulher estar na política, mas não pensar: “Eu quero porque eu quero ser melhor que o homem”, não, “Eu quero porque precisa de mulher lá”, então eu acredito que tem mulheres que tem um chamado de estar lá. Outras mulheres que precisam ser médicas, enfermeiras, nutricionistas, porque precisa do papel delas lá, como precisa do homem também. Então eu não vejo que precisa existir uma competição, mas sim uma igualdade. Eu vejo que as mulheres precisam estar no lugar certo, e muitas acabam perdendo essa identidade de estar no lugar certo.
P/1 – E Pâmela, o que você achou de ter participado da nossa entrevista?
R – Amei. Gostei muito. Eu acho que eu fiquei bem à vontade (risos). E gostei bastante. Muito. Uma oportunidade única, assim, que também vai ser um divisor na minha vida, eu acredito. Eu fiquei muito feliz pelo convite, muito feliz de estar aqui, de estar participando. Obrigada também por isso, por esse convite.
P/1 – A gente que agradece. O Maurício quer fazer uma pergunta ainda...
P/2 – Pâmela, você falou que tem um quadro na sua casa, um quadro de sonhos, né? Eu queria que você falasse quais são os seus sonhos hoje.
R – Então, com essa história toda da gente mudar de profissão, a gente não estava feliz e enfim... A gente tinha uma situação financeira muito boa para dois jovens, a gente se casou muito cedo, os dois já estavam... Ele já estava formado e fazendo pós-graduação e eu no meu último ano de faculdade. Então a gente estava muito bem ali para a nossa realidade. E aí quando nós passamos por essa decisão de mudar de profissão, de ter três filhos, a gente passou por um momento de dificuldade financeira muito grande. E a gente teve várias dívidas e estamos encerrando esse ciclo agora, depois de alguns anos. Tivemos que vender nossos carros, ficamos num momento com um carro só, mais antigo. Quando a gente tem filhos a gente sonha com as pestinhas, então desde quando a caçula nasceu a gente não conseguiu fazer uma festa de aniversário. Então o quadro dos sonhos hoje está a troca de carros, pagamento das dívidas, a festa de aniversário deles e a festa de casamento, e a finalização da minha casa. A minha casa... A gente que desenhou, mesmo sem estar na área ainda, ele ainda trabalhava na área dele e eu na minha, mas fomos nós que desenhamos. A gente pegou o terreno do zero, era floresta, tudo floresta. Então a gente desenhou, a gente conseguiu finalizar uma parte e boa parte de fora não. E sem finalizar a parte de fora, muita coisa se perdeu, então a gente teve problema de infiltração, tivemos rachaduras muito grandes. Então a gente consertar a casa e terminar o projeto ficou algo assim, de sonho. E a gente está fazendo isso agora. A gente está há um mês com obras em casa, refazendo essas coisas e finalizando outras. Então, assim, a gente está começando a riscar algumas coisas do quadro dos sonhos.
P/1 – Pâmela, muito obrigada por ter se disposto a contar a sua história. Eu, Maurício e toda a equipe do Museu agradecemos muito e quando tiver tudo pronto, quando sua história já estiver no site, prometo que eu te mando.
R – Legal.
P/1 – E quando for acontecendo as coisas, você volta para a gente continuar a sua história de vida.
R – Ah, que gostoso, com certeza. Vai ser muito bom contar depois, para frente.
P/1 – Não sei se você consegue enxergar o Maurício quando ele fala
R – Consigo, só não consigo os dois juntos.
P/2 – Ah, que bom.
R – É, toda vez que ele entra para falar eu consigo sim.
P/1 – Que bom.
P/2 – Fica bem melhor assim, eu estava preocupado. Pâmela, então obrigado, foi um prazer enorme e aí a gente vai depois fazer esse contato contigo para, enfim, no momento que você conseguir fazer uma seleção dessas fotos suas, que no caso você tenha e que você possa nos enviar uma seleção de umas dez fotos que você possa dizer um pouco da história delas também. A gente vai mantendo esse contato contigo e na medida que a gente também for terminando de finalizar esse processamento das entrevistas, a gente também vai te situando.
R – Legal. Bom, eu agradeço muito. Maurício, Luiza, obrigada, eu adorei. Essas fotos já estão até separadas, eu acrescentei... O ano passado eu fiz uma viagem, uma viagem de casal, foi a primeira que a gente fez sozinhos depois das crianças. Então, assim, a minha filha tem dez anos e foi a primeira vez que a gente viajou sozinhos sem eles. E tinha um momento da gente fazer esse resgate, então eu fiz um livrinho, falei: “Não tem como ser dez fotos, gente” (risos), dez fotos é muito pouco. E aí eu peguei esse livrinho e só acrescentei algumas fotos antes, porque ela está do meu namoro para frente, então eu peguei algumas fotos de mim dando aula de educação alimentar para as crianças, peguei uma foto da minha infância, peguei uma foto dançando. E aí já estão separadas e eu mando para vocês, tá bom?
P/1 – Oba! Perfeito.
R – Vou reduzir, mas não sei se vai ficar dez (risos).
P/1 – Combinado então. Muito obrigada, Pâmela, mesmo.
R – Obrigada vocês, gente.
P/2 – Obrigado, foi ótimo.Recolher