Projeto Conte Sua História
Depoimento de Francisco Aires Pedrosa
Entrevistado por Felipe Rocha
São Paulo 03/08/2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV604_Francisco Aires Pedrosa
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
MW Transcrições
P/1 – Seu Francisco, muito obrigado por estar aqui, por disp...Continuar leitura
Projeto Conte Sua História
Depoimento de Francisco Aires Pedrosa
Entrevistado por Felipe Rocha
São Paulo 03/08/2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV604_Francisco Aires Pedrosa
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
MW Transcrições
P/1 – Seu Francisco, muito obrigado por estar aqui, por disponibilizar o seu tempo. Eu sempre começo perguntando o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Francisco Aires Pedrosa. A data de nascimento, nove de agosto de 1961. Essa é a data, 61. O ano de 1971 nós viemos para São Paulo, viemos para acompanhar os pais, que eles vieram para cá e como eu era pequeno então eu vim. Desde 71 até agora, o ano de 2011, eu não tinha voltado ao Ceará. Aí fui pela primeira vez pelo caminho de Fortaleza. Já a segunda vez fui aqui por Juazeiro do Norte, que é mais perto. Devido todo esse tempo que eu conhecia antes o local na mente e as fotos que eu tenho hoje, essas fotos trazem uma destruição imensa, sendo que essa destruição já tinha sido anunciada por Deus que iria acontecer isso. Não aconteceu uma catástrofe, pode-se dizer assim, uma explosão como muitos queriam, eu cheguei a ouvir isso, mas aconteceu uma destruição menor por causa dos inocentes. Os inocentes não tinham nada a ver com a maldade dos homens anteriores. Os inocentes estariam fazendo aquilo acontecer hoje, e o que aconteceu hoje foi que foi morrendo ____00:02:39____ e hoje foram ficando aqueles inocentes. Essa mesma maldade para mim está sendo
___00:02:48___ também em São Paulo, ao próximo. Não diretamente em São Paulo, mas aqui ele estava cometendo a maldade sem saber. Essa maldade que está sendo cometida escondida. Muitos estão fazendo mal ao próximo e devemos fazer bem, e não mal, para que não aconteça o mesmo que aconteceu com o Nordeste e o que está acontecendo.
P/1 – Seu Francisco, só para entender um pouco melhor, até por conta de tudo isso que aconteceu, então eu acho que a gente tem que voltar um pouquinho. A gente foi ver as fotos você falou um pouquinho do açude, dos seus negócios. Eu queria que o você contasse um pouco dessa infância, um pouquinho, por exemplo, dos seus avós. Quem que eram os seus avós? Onde que eles moravam lá?
R – Eles não moravam na Lagoa de ____0:03:47___. O meu avô chama Pedro Aires de Araújo, a minha vó, falecida, Romana Aires. Eles ficaram morando lá, meu avô veio a falecer mais ou menos, eu não tenho muita lembrança, mas mais ou menos em 67 foi que meu avô veio falecer. Ele sendo uma pessoa que tinha muito dinheiro, mas ____00:04:20___, ou seja, comprava as coisas por confiança. Hoje nós devemos fazer as coisas confiando no próximo, o próximo tem que fazer as coisas certas, porque se fizer a coisa errada vai acabar o que? Destruindo. Nisso nós viemos todos para São Paulo e depois desse tempo todo, que nem eu falei, eu fiquei mais de 40 anos sem ver ninguém de lá.
P/1 – Então o seu avô faleceu antes de vocês virem.
R – Mais ou menos em 67, eu tenho pouca lembrança, pois eu era pequeno.
P/1 – Eles eram os pais do seu pai ou da sua mãe?
R – Da minha mãe.
P/1 – Família da sua mãe então. E a família do seu pai?
R – A família do meu pai eu não tive muito contato, não. Pelo menos eu não tive muito contato porque eu era pequeno. Eu era pequeno quando tinha assim muito contato. Tinha mais contato com a família da minha vó porque morava próximo.
P/1 – Morava próximo como? Como que era onde você morava?
R – Distância de uns cem metros, o mesmo terreno.
P/1 – Era o mesmo terreno?
R – Era o mesmo terreno, só que a gente morava onde está nas fotos, onde minha vó morava era um pouco para frente. A casa hoje não existe lá. A casa que a gente morava tá só o terreno.
P/1 – Como que era a casa que a sua vó morava, seu Francisco?
R – A casa que a minha vó morava era uma casa muito alta, não era aquela casinha. A casa com aproximadamente uns 20 metros de altura, que era casa antiga. E essa casa depois foi destruída e colocada uma casinha baixa. Mas era casa alta, o pessoal gostava de fazer casa alta em lugar alto porque lá é um lugar alto. Antes lá era um local muito quente. Agora lá próximo já é um lugar gostoso, o clima está mudando, ou seja, está beneficiando as pessoas. Então como eu via antes e mudou o sistema, porque aquelas pessoas que praticavam mal faleceram e as pessoas se concentraram e ficaram com medo lá, porque é história secular e eu via como era verdade. Inclusive tiveram muitos que fugiram para cá, para São Paulo. Quando viram que o negócio estava esquentando mesmo, estava pegando fogo, que eles pensaram que ia acabar ____00:07:31____ muito. Aconteceu foi que a vegetação secou mesmo. Você pode rodar lá que você vê tudo, uma área seca. Tudo está seco, seco, seco. Morreu muita vaca, morreu muita ____00:07:52____ e morreram muitas pessoas. Dessa lembrança que eu tinha quando eu era pequeno é pouca, mas hoje eu tenho lembrança das coisas que estão acontecendo, que a gente vê, e eu fui até o local para ver pessoalmente. Eu vi como o Juazeiro do Norte era antes e esse novo Juazeiro. Inclusive o novo tem um aeroporto bem melhor.
P/1 – Só para eu entender um pouco, seu Francisco, então o senhor falou que o seu avô tinha uma propriedade... Então era uma casa grande ali que vocês tinham, era casa grande da propriedade?
R – Era bem grande. Bem grande mesmo. Inclusive onde é o açude, onde represou a água, a terra dele ia até lá. Ele tinha um terreno que ele era uma pessoa de bens, de posse. Ele recebeu, além da ajuda dos pais dele, ele recebeu mais herança dos avós e deixou essa quantia para o benefício dele. Mas ele era uma pessoa assim muito simples.
P/1 – Qual é a melhor lembrança que o senhor tem do seu avô?
R – Olha, eu não tenho muita lembrança. Eu tive lembrança dele só uma só que foi quando ele começou a tossir, do som, tossir e escarrar sangue. Foi aí que eu lembrei só disso aí porque a minha vó tinha muito cuidado com ele. Só isso que eu lembro. Mas lembrar dele assim como ele era eu não lembro, porque a fisionomia me foge. Isso aí aconteceu 68, 67. O ano de 68 eu lembro que eu brincava muito com os _____00:10:18___ isso me traz muita lembrança e eu via aquelas aves grandes.
P/1 – Isso era no açude?
R – Em toda região. Toda região.
P/1 – Onde fica mais ou menos a cidade?
R – Localizar no mapa você não vai localizar. Você só localiza Marruás, que está escrito Marruás. É no caminho de Marruás. Aí só eu mostrando porque é um lugar, pode-se dizer, que não teve conhecimento. Lá mesmo onde a gente morava, na Lagoa ___00:11:04___ é o que? É uma lagoa grande, com muita água, tinha a casa do meu avô, a minha casa e mais uma casa, mais duas, são mais três casas. Total cinco casas aproximado. Nesse local encontrava, eu cheguei a encontrar onça, nesse local as mais ferozes, mas o animal mais feroz que eu encontrei foi o ser humano. Mesmo naquela época, até tinha perseguição, até hoje tem perseguição. Até hoje são pessoas ____00:11:58___ tá escrito, eu tenho tudo escrito, e eu ando por aí pela rua, eu vejo descriminalização ____00:12:07____ mas só que é só da boca para fora, não é verdade? O que eles querem é colocar maldade na boca das pessoas, ou seja, fala aqui uma coisa, aí a pessoa lá junta ___00:12:29___ você falou uma coisa a pessoa junta com a outra... É como a foto. Você pega a foto, junta as duas fotos depois tira outra foto, faz de conta que aconteceu aquela mentira. A meu modo de ver, Deus não quer que façamos coisa errada de maneira nenhuma. Nós temos que fazer só coisa certa, não maldade ao próximo. Por quê? Fazendo maldade ao próximo nós estamos cometendo uma maldade futura. Eu não falo de maldade ao próximo agora, mas fazer uma maldade passa, um peralta vem e faz, mas aí depois vai juntando na maldade futura. Até aquele futuro é que vai nos trazer consequências várias. As consequências são consequências que vão nos trazer muitas dificuldades. Você não sabe qual é a dificuldade. Porque nós estamos vivendo no meio das pessoas que somos todos irmãos, só que nós não conhecemos ninguém, ou seja, o nosso ser não é, mesmo sendo irmão, não é compartilhado com o outro porque o outro tem medo de nós e nós temos medo do outro. Assim vai. A nossa maior dificuldade é essa, em ter condições de aceitar o bem e não o mal. Agora, por trás de tudo isso, de toda essa maldade tem uma coisa que as pessoas desconhecem totalmente. Porque existe, a pessoa queira ou não queira, existe o inimigo das obras, que este está nos fazendo mal e nós não vemos, nós não o conhecemos. Você citou o sobrenome Rocha, vamos falar, eu tenho na minha casa uma ____00:15:14____ que eu comprei faz tempo _____00:15:21____ e a Rocha. Tem o sobrenome do ___00:15:24___ Rocha. Agora, por isso que eu falo que nós não conhecemos, não sabemos. Nós temos dificuldade de amar ao próximo, nós precisamos fazer bem, não fazer mal. Porque fazendo o mal, nós vamos colher o mal. Isso quer você queira, quer você não queira, eu pego aquilo lá, esses folhetos que eu faço, tem o calendário, e vou distribuindo para a população. Vou distribuindo, entregando num lugar e outro, distribuindo. Fiz uma continha ontem de mil peças, vai dar uma caixa assim. Depois eu coloco imã para colocar na geladeira. Isso com a finalidade de dizer assim: “Não faça o mal. Faça o bem ao próximo”. Porque eu acho que fazendo o bem nós vamos conhecer coisas boas, coisas muito boas. Deus tem coisas boas para nós, muito, muito, muito boas mesmo. Deus não quer que você fique andando na lotação sendo roubado, sendo enganado. Deus não quer isso. Deus nos dá um livre arbítrio, mas temos que fazer coisas boas porque se você pratica o mal, você vai receber o mal. Fazendo coisas boas Deus vai acrescentar mais coisas boas e nós já temos conhecimento do que pode ser feito. Eu falo assim por quê? Desde 68 que eu sofro ameaças de morte, várias vezes. Aqui mesmo já sofri isso e estou na cadeira de rodas através disso, eu não estava na cadeira de rodas, e mesmo na cadeira de rodas sofro muitas perseguições. Então a perseguição não é do ser humano, o ser humano faz aquela perseguição sem saber porque quem faz a perseguição é o inimigo nas nossas almas. As pessoas não se conscientizaram disso, mas a perseguição é um negócio assim que nós não vemos. A criança briga com outro aí a pouco passa: “Vamos brincar. Vamos brincar”. O perdão. A criança perdoa o seu próximo e nós devemos perdoar para sermos perdoados por Deus por quê? Nós aqui estamos. Nós não sabemos se estamos só nessa vida ou se vamos continuar vivendo até a volta de Cristo.
P/1 – Seu Francisco, você falou agora de perseguições. Eu queria saber um pouco mais das perseguições desses inocentes. O que já aconteceu de gente, por essa inocência que o senhor estava falando, que já falou para você, que você já passou?
R – A pessoa persegue o outro, o próximo, que nem eu falei, sem saber. Quem faz isso, quem faz perseguição não é o próximo, não é você, é aquele que você não vê.
P/1 – Mas o que já aconteceu com o senhor, por exemplo, nesse sentido?
R – Aconteceu no ano de 69 o meu tio tentou me matar. Ou seja, ele arrumou lá uma onça para a onça vir me comer. Deus arrumou outra onça para me defender. Aquela onça me defendeu de um ataque. O meu tio quando viu a onça ficou com medo, se assustou, se apavorou e correu, me colocou em cima do cavalo e fui embora. Isso lá no Ceará. Quando eu vim para cá eu esqueci das coisas, esqueci completamente, criança muda sempre, esqueci. Vim para cá e aconteceu que o meu avô deixou uma herança para mim e eu esqueci disso. Aí minha família ficou sabendo. Minha família então achou que deveria ficar com eles e não comigo. Eu fui para o hospital. Lá eles fizeram o que fizeram e eu fiquei na cadeira de rodas, isso em 88. Mas antes, de 77 até 88 estava normal. Normal assim... Tudo bem. Quando eu falo dessas perseguições, essas perseguições, esses enganos estão acontecendo com essas outras pessoas aí que estão jogadas na rua, foram pessoas que foram perseguidas. Pessoas que são judiadas e não têm coragem de voltar atrás porque ____00:22:35____. São pessoas que querem somente fazer maldade e o outro o futuro é que vai... Ou seja, a maldade que nós fazemos hoje, ela vai acontecer para o próximo, que é o futuro. Aí talvez aconteça com você.
P/1 – Só uma coisa que eu não entendei, seu Francisco, você falou que depois que você veio para São Paulo o senhor estava normal e foi para o hospital. Por que o senhor foi para o hospital?
R – Eu tive o que a medicina chama... Quer dizer, é desconhecido. Eu tive um AVC devido a um cisto cerebral, segundo a medicina. Um AVC. Um AVC em 88. Mas o cisto eu comecei a tratar em 77. O cisto que eu não tinha coordenação, vomitava muito, mas aqueles vômitos não se sabe o porquê, o motivo. Ou seja, talvez por ter comido alguma coisa que não veio muito bem ou deram de propósito, eu não sei. Eu sei que acarretou isso aí. Tudo bem. Eu não vou dizer que foi Fulano de tal que ____00:24:15____ porque eu sei que quem faz isso é inimigo das nossas almas, porque ele veio para matar ou destruir. Ele só quer destruir como eu já ouvi falar assim: “Poxa, mas falaram para mim que Deus ia destruir o Ceará e não destruiu”. Eu penso: “Você queria o que? Que Deus pegasse e afundasse tudo? Matar todo mundo para culpar Deus?”. Eu falei para a pessoa, porque isso não interessa saber. Eu acho que a sobrevivência dos que estão lá hoje é só porque Deus deixou, eles ficarem lá.
P/1 – Lá o senhor diz no Ceará?
R – No Ceará. Ou seja, estão até hoje. Quanto o Nordeste todo, quanto eles não sofreram por causa de maldade dos outros? Porque a maldade ____00:25:28___ por exemplo, ____00:25:30___
lá antes era essa Dom Luiz Feitosa, essa família Feitosa era muito ____00:25:39___, a família Feitosa. Eles pegavam a pessoa viva e jogavam dentro do ____00:25:46___
lá, eles tacavam fogo. Meu pai que falou isso aí. Mas não estou dizendo que é a Feitosa de hoje, a Feitosa de antigamente. Tem uma cidade chamada Camocim, próxima a Juazeiro do Norte que as famílias acabaram com a cidade. Roubaram até a cadeira do prefeito. Até a cadeira do prefeito levaram embora. A cidade só ficaram duas pessoas. A cidade está lá abandonada. Cidade bonita, grande. Está lá abandonada. É entre Juazeiro do Norte e Tauá.
P/1 – Até hoje?
R – Tá lá até hoje. O nome dela é Camocim. Existem muitas pessoas que fizeram mal no passado e quem colheu foram as pessoas que estão passando colhendo. O Nordeste inteirinho está aquela devastação. Por quê? Por causa dos coronéis. O Lampião mesmo era um. O Lampião quando começou esse negócio de cangaço ele começou porque mataram o pai dele e era fazendeiro. Chegaram no pai dele e fizeram lá umas cobranças, o pai dele querendo se impor falou: “Não, eu não vou aceitar, não vou pagar”. Aí mataram. Isso está escrito lá, eu li no livro. Pegaram e mataram o pai dele. Ele pegou junto com o irmão e virou esse negócio do cangaço. Ele começou a ___00:27:48___ lá para o Ceará, lá o Lampião apagou o lampião dele. O lampião dele chegou lá e apagou mesmo. Inclusive parece, eu não tenho certeza, mas parece que foi da minha família, das famílias Aires dos antigos. Assim eu ouvi a história, que ele chegou no local e os fazendeiros de lá pegaram e juntaram, pegaram armas e falaram: “Ou você vai embora, ou nós vamos atacar tiro”. Eles pegaram e foram embora, segundo a história. Agora, como teve muita maldade no passado, maldade que estão colhendo são os nordestinos. Pode ver que o Nordeste tem desde o Maranhão, Bahia até ___00:28:59___ Eu não posso citar como uma coisa que está escrita na Bíblia que é falar de Sodoma e Gomorra, quem vai saber o que é Sodoma e Gomorra? Mas o Nordeste está aí para todos saberem onde é. Qualquer um conhece Piauí, Bahia. E olha que Piauí tem muita água, muita água, mas aquela água não chegava aos necessitados. A pessoa ganhava na média de 22 mil por mês vendendo água. Agora eu não sei qual o motivo que acontecia isso, se o Piauí tem água, tem muita água, e o Nordeste, pessoas vizinhas do poço sem água lá.
P/1 – Já que você tá falando de água, você começou a falar do açude e depois a gente acabou mudando de assunto. Queria que você voltasse um pouco e falasse da sua infância lá que você estava falando que você gostava muito de brincar lá na região, de nadar etc., até para entender melhor o que aconteceu com o açude depois.
R – Eu gostava muito daquele local, eu andava uma média de 11 quilômetros quando era pequeno, mas para fazer as coisas para a minha vó depois que o meu avô faleceu. Porque meu tio mesmo não queria fazer nada, só queria saber de beber. Falando em meu tio, Deus falou que vai destruir esse rio por causa de uma maldade de vocês, falava pro meu tio, e falei para ___00:31:09___ Deus falou que vai destruir por causa da maldade dos homens. Tinha muita maldade mesmo. A minha infância no tempo que eu fiquei lá eu brincava, mas também tinha as minhas obrigações, dentro daquela época já estudava. Eu tinha um trabalho e eu fazia, porque o meu pai tinha vindo para São Paulo. Eu me achava responsável que era o dono da casa por ser o mais velho dos homens. Nós somos três homens e duas mulheres, estávamos empatados antes, mas faleceu uma mulher. Nesse meio tempo nós viemos para São Paulo em 71, ou seja, de 61 a 71 o que eu tenho assim de lembrança é de que eu via cobra, via animal lá feroz e brincava com os peixinhos, porque eu via a água passando e os peixinhos pequenos na água, então era fácil de pegar. E essa mesma água saía da mina que tem lá atrás da casa, talvez esteja ___00:32:49___ não conhecer e ia para o açude. Aquilo lá era uma coisa bonita, eu achava muito interessante porque eu via os peixinhos nadar e eu via a cobra comendo os peixinhos e eu tinha ciúmes. Achava que a cobra era má. Não faz isso porque isso vai... Mas a cobra tinha que se defender me atacando porque eu ia implicar _____00:33:27____. Naquilo a minha infância não foi lá no Ceará o conhecimento que tinha três anos, eu comecei a lembrar as coisas até 68. Vim para cá em 71, vim morar na cidade de Carvalho que é coincidentemente do lado do metrô Itaquera, do lado direito de quem vai para lá. Quem vai do lado direito. Hoje eu moro do lado esquerdo. Hoje. Do lado esquerdo de quem vai.
P/1 – E por que vocês vieram para São Paulo?
R – Viemos porque segundo o meu pai lá já não tinha mais meio de vida. Ele achava que aqui teria mais meio. Eu acho que é um aviso de Deus, a pessoa não fica mais porque não tinha mais como prosseguir. É muita inveja, meu pai mesmo plantou eu lembro que em 70 ele tinha uma plantação ___00:35:05____ e essa plantação deu bem, mas o dono ficou com inveja, aí colocou olho naquela plantação e falou: “Isso aqui está nas minhas terras então é meu”. Meu pai pegou ___00:35:23___ entregou tudo, deixou tudo com ele. Isso já foi em 70. Meu pai arrumou dinheiro, veio para São Paulo, veio pela finalidade de ter mais condições de vida. Só que não tem nem comparação, hoje eu gosto de dizer que nós temos que ter cuidado com esse negócio de maldade porque nós estamos abaixo do nível do mar quase 30 metros ou mais. Porque aqui de Santos dão 800 metros de altura, mas já do Ceará lá eles estavam na ___00:36:13___ porque lá é mais alto. Você no Pacífico lá ao invés de pacífico pode ser agressivo, porque esse trecho que sai do Rio São Francisco para abastecer o Nordeste, um trecho se abre pelo Rio Grande do Norte e vai para o Piauí. O outro vai por Fortaleza, Paraíba e vai. Então está fechado. Mas vamos supor que de repente você lá começa a mandar água por esse trecho, vai encher o Rio São Francisco. O Rio São Francisco vai encher o mar e o mar vai levantar. Se começar a subir água do vale mais alto, se ele é mais alto, isso não é mentira, é verdade, porque você pode ver aqui, para eles mandarem água para o Nordeste ___00:37:37_____ você ia ter que colocar uma bomba para a água subir. Lá você observa a lua, não é como aqui, não, que você vê a lua bem longe. Lá eu via a lua bem de perto, a lua é grande, enorme. Você achava que a lua ia invadir a sua casa. Aquele clarão, as estrelas, você olha as estrelas você fica pensativo como que pode você ver coisa que aqui quando dá... Qualquer ser humano que está no Nordeste quando chega oito horas num lugar escuro começa a dar sono. Não tem explicação para isso. Eu tenho uma explicação assim, que nós que estamos numa parte inferior
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