Plano Anual de Atividades 2013 Pronac 128976 - Whirlpool
Depoimento de Maria Auxiliadora Galdino Soares
Entrevistada por Marcia Trezza e Eliete Pereira
Manaus, 24 de abril de 2014
WHLP_HV014_Maria Auxiliadora Galdino Soares
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Mariana Wolff
P/1 – Auxiliadora, nós vamos começar, fala o seu nome completo.
R – Maria Auxiliadora Galdino Soares.
P/1 – Você nasceu em que data?
R – Mil novecentos e setenta e seis.
P/1 – Dia e ano?
R – Vinte e dois de setembro.
P/1 – Em que lugar você nasceu?
R – Manicoré.
P/1 – Em que estado é?
R – Amazonas.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais.
R – O nome do meu pai, Miguel Galdino de Almeida; e o da minha mãe, Valdete Pereira Soares.
P/1 – Eles trabalham ainda?
R – Sim, eles trabalham, são agricultores.
P/1 – Sempre foram agricultores?
R – Sempre.
P/1 – Eles moram onde?
R – Manicoré.
P/1 – E você, quando criança, você lembra do que junto com eles?
R – Junto com eles, agricultor, você sabe que é de fazer roças, né? Eu acompanhava eles, às vezes, nem toda vez, eu tinha que estudar, né? E eles iam pra roça e eu ficava em casa. Mas a maioria das vezes, eu ia com eles.
P/1 – O que eles plantavam?
R – Plantavam banana, cacau, mandioca, melancia, entendeu?
P/1 – Eles ainda plantam tudo isso?
R – Banana e melancia.
P/1 – Quando você ia com eles pra roça, você lembra como era?
R – Eu lembro.
P/1 – Descreve pra gente.
R – Eu via eles trabalhando, né, que eu era meninota, aí eu ficava olhando sentada, só brincando. Às vezes, eu ajudava eles, só que a mamãe não gostava muito, porque às vezes, eu me cortava, então, ela evitava de eu ficar pegando pesado. Aí ficava só olhando e brincando com os outros irmãos, que nós somos, fora eu, somos mais nove.
P/1 – Fora você?
R – São seis mulher e três homens, comigo, somos dez, entendeu? Foi assim a minha infância.
P/1 – Iam os dez pra roça?
R – Não. Os outros já vieram… Foram cinco, só foram os mais velhos, que era eu e minha irmã e mais o meu irmão. Os outros não pegaram roça, ficaram mesmo no município, foram mais pro interior, então não tiveram isso que a gente teve.
P/1 – Do que vocês brincavam, Auxiliadora, vocês ficavam brincando?
R – A gente ficava brincando. Como no interior é difícil, tem as garrafinhas, a gente fazia as garrafinhas de boneca, entendeu, eu e a minha irmã e mais as minhas primas, que tinha prima. A gente brincava porque nós não tínhamos boneca, era difícil, a gente que fazia.
P/1 – Que garrafinha?
R – Garrafinha de refrigerante.
P/1 – Você fez boneca de garrafinha?
R – Foi! Que a gente fazia os vestidinhos delas, era assim, coisa de criança mesmo, né? Até que um dia, eu ganhei uma boneca de verdade da minha avó!
P/1 – Conta como foi esse dia.
R – Ai, era o meu sonho ter uma boneca! A minha avó gostava muito de mim, aí eu sempre ficava com ela, né? Aí ela comprou uma boneca pra mim e me deu de presente, uma bonequinha que não era a Barbie, não era nada disso, era aquelas bonequinhas, sabe como é interior, né? Ela mesmo fazia as roupinhas pra minha boneca, que ela sabia costurar muito bem. Eu não aprendi a costurar, minha mãe também costura, mas eu não aprendi a costurar. Minha mãe tentou, mas eu não consegui.
P/1 – E essa boneca, você deu nome pra ela?
R – O nome da minha boneca era Maria. Tanto que no dia que eu tive a minha filha, eu coloquei o nome dela de Maria, Maria Vitória.
P/1 – E a boneca era só Maria?
R – Só Maria.
P/1 – E as suas amigas quando viram a sua boneca?
R – Ah, as minhas primas, hum, queriam uma, mas a vovó só deu pra mim (risos).
P/1 – Auxiliadora, você disse que depois, vieram para o município os seus irmãos, conta como foi essa mudança.
R – No município, eu fiquei lá um tempo com a minha irmã. Papai viajou para o interior, aí eu fiquei com os meus irmãos, como tinha uma mais velha e o meu irmão que era o mais velho tomou conta da gente, né? A gente ficou, eu ia pra aula, tinha vez que a minha mãe me levava também, mas pra ir é assim: de barco, vai e volta no mesmo dia, entendeu? Aí fui crescendo, né, estudava, desisti dos estudos, que é o meu erro, entendeu? Até que um dia, teve uma oportunidade de adolescente, já. Aí a minha colega falou: “Maria, tu quer ir pra Manaus?”, eu disse: “Como que eu vou pra Manaus?”, ela falou: “Se tu quiser, a gente vai amanhã”, só que o meu pai não tava lá, ele tava viajando, né? Nesse dia, ele chegou lá pra eu ir pra Manaus, né, como começou. Ai, eu pedi pra ele, ele não deixou eu ir pra Manaus. Mas como eu era teimosa, eu peguei e vim pra Manaus, fugida, entendeu? Só que aqui já tinha uma senhora me esperando, que era essa senhora de Fortaleza, que eu falei, que eu aprendi a fazer as coisas com ela. Eu fiquei morando com ela, ela ligou pro meu pai, minha mãe. Uma ótima pessoa, entendeu?
P/1 – Mas antes um pouco, você falou que você e seus irmãos mais velhos moraram na roça e que os seus irmãos mais novos vieram pra cá.
R – Vieram pra Manicoré. Tinha o interior e o município, entendeu? Eu tava no interior, mas depois a gente veio pra Manicoré, entendeu, que é o município.
P/1 – E veio a família toda?
R – Veio a família toda, que já nasceram eles, entendeu? Antes disso, era só eu, a minha irmã e o meu irmão mais velho.
P/1 – E você lembra porquê que a sua família mudou?
R – Porque lá ficou só terra. O rio é imenso, só que seca, fica só terra, entendeu? Aí a gente veio pra lá, pra Manicoré.
P/1 – E acontecia sempre assim, do rio secar?
R – Sempre. Acontece ainda, agora que seca mesmo, entendeu? Quando tá época de cheio, você olha assim, um rio imenso. Mas quando tá no tempo da seca, fica só terra, fica só aquele córrego de água que não passa nada.
P/1 – E as plantações?
R – As plantações ficam secas, mas também quando vem a cheia, prejudica os agricultores, que vai tudo pro fundo.
P/1 – E quando os seus pais vieram pro município, eles foram trabalhar, seu pai e a sua mãe?
R – Foram. O papai parou um tempo, que ele foi trabalhar pela prefeitura, que nosso tio era prefeito de lá, arrumaram trabalho pra ele, aí ele veio trabalhar pela prefeitura trabalhar com trator.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe ficou em casa com a gente, lá em Manicoré.
P/1 – E agora? Eu entendi que eles voltaram pra roça?
R – Agora eles estão agricultores, mas eles moram na cidade. E ele continua trabalhando também pela prefeitura (risos).
P/1 – E você fugiu, como foi? Conta esse dia, como é que você fez pra fugir?
R – A gente pegou o barco e veio pra cá pra Manaus. Eu tinha 15 anos.
P/1 – Então, mas como que você fez pra conseguir? Como foi o plano?
R – Eu e a minha colega, duas, a Aurilene e a Aurea, colega de infância, né? Vizinha também, sabe como é vizinha (risos), é uma benção. “Maria, a minha tia ligou e tá precisando de três moças pra tomar conta de criança numa família em Manaus”, aí eu falei: “Mas eu não conheço Manaus”, ela falou: “Tu quer ou tu não quer?”, eu disse: “Eu quero”, aí ela pegou e ligou pra tia dela, quando foi no outro dia, ela chegou lá em casa falando, só que os meus pais não tavam em casa, tinham viajado para o interior. Nesse dia, o papai chegou de tarde, eu peguei e pedi, só que ele não deixou. Ai, ele não deixou, ela falou: “Tu não falou que tu ia, agora vamos” “Como que eu vou? Não tenho nem dinheiro”, ela falou: “A gente dá um jeito”, entendeu?
P/1 – E aí?
R – Aí nós viemos (risos). A mulher depositou dinheiro e as meninas tiraram o dinheiro lá em Manicoré. Aí chegou aqui, ele já tava esperando nós pra pagar a nossa passagem, entendeu? O dinheiro era só pra gente lanchar.
P/1 – E o seu pai?
R – Papai não sabia. Nem o papai, nem a mamãe. Aí chegaram lá, ficaram desesperados.
P/1 – Ninguém sabia onde você estava? E o que aconteceu depois?
R – Quando eu cheguei aqui, a minha patroa ligou falando que eu tava bem, aí pronto.
P/1 – Você foi direto trabalhar em casa de família?
R – Foi.
P/1 – E como foi, você já tinha ido pra Manaus antes?
R – Não, a primeira vez.
P/1 – Como foi quando você chegou aqui, qual foi a sua sensação?
R – Minha sensação era que eu tava numa terra estranha e que eu não conhecia ninguém, mas a minha sorte é que eu tinha vindo com duas colegas (risos), entendeu?
P/1 – Quando você chega e vai se aproximando da cidade, tem muita diferença?
R – Tem, porque lá é mais, tipo assim, silêncio, né? E chega pra cá, já é mais movimentado, tem mais zoada, entendeu? Tem uma diferença. Fora que a gente passa três dias viajando de barco.
P/1 – Você já tinha feito isso?
R – Nenhuma vez, tanto eu passava mal, vomitando, com dor de cabeça, parece que eu passei uns 15 dias tonta do barco, assim que eu cheguei em Manaus.
P/1 – Auxiliadora, aí você foi trabalhar na casa dessa família, como foi o trabalho e a convivência?
R – Assim, eu fui cuidar do bebê dela, um garotinho. Aí depois, como o garotinho cresceu, ela me tornou a governanta dela. E os anos foram se passando, só que eu não podia sair, ficava direto na casa dela, até que eu enjoei de ficar lá, eu falei que eu não queria mais ficar lá, ela disse que não, que era pra mim ficar lá. Sempre a gente viajava pra fora, né, aí eu disse: “Eu não quero mais, porque eu vou ficar velha, sem filho, sem nada, né?”
P/1 – Você ficou como governanta?
R – É, como governanta da casa dela, entendeu? Às vezes, ela viajava e me deixava lá tomando conta dos outros funcionários que ficavam lá na casa, entendeu? Até que um dia eu voltei pra Manicoré, falei: “Eu vou viajar”, ela: “Não viaja, Auxiliadora, fica comigo. Eu só tenho você”, aí eu disse: “Eu vou viajar”. Quando ela voltou, eu já tinha ido, assim como eu vim, eu fui (riso).
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha 22 anos.
P/1 – Quando você veio, você tinha quantos anos?
R – Quinze anos.
P/1 – Você disse que viajava muito, você viajava com a família. Você conheceu lugares?
R – Conheci. Conheci Recife, Fortaleza, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, entendeu? Como antes eu era babá, eu viajava. Passava fim de mês, eles são bem de vida, entendeu?
P/1 – Mesmo assim, você não quis ficar?
R – Não. Eu não fiquei, porque eu tinha tudo, mas eu me sentia só, entendeu?
P/1 – Entendi. E você estudou Auxiliadora, na época que você morava no município, ali?
R – Eu estudei, estudei até a quinta série lá.
P/1 – Que lembranças você tem daquela escola? Foi uma escola só?
R – Não, eu fui pra duas escolas.
P/1 – Que lembranças você tem dessas escolas?
R – Olha, assim, a lembrança que eu tenho da escola são boas, porque quando a gente é pequeno, tem muitas coleguinhas, né, tinha a festa junina, participava de tudo, não perdia nada, entendeu? Pra mim foi ótimo, minha infância foi boa.
P/1 – As festas juninas eram na escola?
R – Na escola, tudo na escola, que a gente era de menor, né?
P/1 – Teve alguma festa inesquecível?
R – Uma festa inesquecível foi uma vez que a gente foi fazer apresentação lá na matriz, que é o principal de Manicoré. Pra mim, ficou na mente, porque a gente ganhou, né, então pra mim, foi ótimo!
P/1 – A quadrilha vencedora?
R – A quadrilha vencedora. E tinha boi também, época de junho, que tem boi, né? Também eu participava. Participava (risos) de tudo. Eu tive uma ótima infância, entendeu, não tenho o que reclamar da minha infância.
P/1 – Desde criança participava do boi?
R – Não. Eu comecei a participar do boi com uns 11 anos, porque era de menor, não podia, né?
P/1 – Conta um pouco como que era a festa do boi.
R – A festa do boi dos interiores é simples, você vai, ensaia e é na rua mesmo, público, não tem negócio de ambiente fechado, não. Tem a parte das crianças, vai crescendo os adultos, né? Eu era a parte infantil, que eu tinha dez, 11 anos.
P/1 – E vocês aprendem algumas coisas com alguém, assim, pra participar?
R – Pra participar sim, tem o professor pra ensinar a dançar, entendeu?
P/1 – Ainda existe essa festa, lá?
R – Agora, não tem mais, não. Acabou, tá diferente Manicoré, entendeu? Cresceu, evoluiu, então não existe mais assim.
P/1 – E ficou alguma coisa nessa mudança toda, que você sentiu falta quando você voltou?
R – Quando eu voltei, eu senti falta muito das minhas amigas, que praticamente, eu não conhecia mais ninguém. Os que estavam lá, vieram, pra Manaus ou pra Porto Velho, entendeu? Já tinha uma nova geração que eu não conhecia mais. Até mesmo meus irmãos, quando eu saí de lá tavam pequenos, quando eu voltei, já tavam tudo grande, entendeu?
P/1 – Você nunca tinha visto mais eles?
R – Não.
P/1 – E seus pais?
R – Meus pais também, mas a minha mãe sempre vinha pra cá. Eu “nossa, como cresceram”, meus sobrinhos que eu nem conhecia e agora, conheci, tudo moça, entendeu? É diferente.
P/1 – Quantos anos você tem agora?
R – Eu tenho 37 anos.
P/1 – E dos 22, quando você voltou, conta o que aconteceu.
R – Eu fiquei lá um mês, em Manicoré, só que eu não gostei mais de lá, entendeu? Isso que eu acho incrível, eu não gostei mais de lá. Eu me acostumei pra cá, né, aí eu falei pra mamãe que eu não queria mais ficar lá, ela falou: “Mas por que, minha filha?”, eu disse: “Ah mãe, não sei, eu não gosto aqui de Manicoré, não é daqui de casa, é de Manicoré, entendeu?”. Aí ela falou: “Tá, então você quer voltar pra lá?”, aí eu vim de novo pra Manaus, fiquei morando uns tempos com as minhas tias, não gostei de morar com elas (risos).
P/1 – Por quê que você não gostava?
R – Não, porque morar com parente, sei lá, é estranho. Tanto que eu fui de novo pra casa de outra senhora, fiquei lá, lá no centro da cidade, né? Aí foi o tempo que eu conheci o meu marido…
P/1 – Você trabalhava na casa dessa senhora?
R – É. aí foi o tempo que eu conheci o meu marido.
P/1 – Foi seu primeiro namorado?
R – Não, meu primeiro namorado ficou lá em Manicoré.
P/1 – Como foi esse primeiro namoro?
R – (risos) Meu primeiro namorado… Meu primeiro namorado, ai, foi bom, porque namoro de infância é uma coisa que assim… Pelo menos, meu primeiro namorado eu nunca esqueci, né? Com muito respeito, que hoje não existe mais isso, né, a maioria dos namorados, isso não existe, já quer logo ser “abilhoso”, e esse daí não. Como ele conhecia também a minha família, eu acho que ele não quis avançar o sinal, entendeu? E eu também nem… Eu gostei, depois que eu vim de lá, eu voltei, eu vi ele, mas já tava diferente, entendeu? Mas mesmo assim. Ás vezes, eu fico pensando, foi muito bom, a gente tomava banho, brincava, todo mundo junto.
P/1 – Tomava banho onde?
R – No banho, no igarapé. A gente tomava banho sem segundas intenções, entendeu? É isso que eu fico mais assim, pensando, que isso não existe mais, então pra mim, eu me diverti muito.
P/1 – Era gostoso?
R – Era gostoso. Ia pra festa, dançava. Sábado ia pra festa com ele, dançava, mas nunca rolou nada, entendeu? Só veio rolar depois que eu já tava velha.
P/1 – Depois, você conheceu seu marido quando você já tava aqui?
R – É, conheci. Lá onde eu morava, a gente gostava de alugar filme pro garotinho, que eu também era babá, né? Eu falo hoje pro meu marido que eu cuidei tanto do filho dos outros, que hoje em dia eu não tenho quase paciência com a minha filha. A gente ia alugar filme e ele trabalhava lá nessa locadora que era do irmão dele, lá no centro, né? Ele tinha chegado da Bahia, ele é baiano, o nome dele é Gildásio. Aí chegou lá, ele começou a me paquerar, mas eu nem! Como ele era moreninho, né, eu nunca na minha vida tinha namorado com moreninho, entendeu? Eu sei que a gente não tem que falar, mas não queria ficar com ele. Aí foi que ele começou a me paquerar, eu marcava lá no centro, na pracinha, eu nunca ia, nunca ia, até que um dia, eu fui (risos). Aí a gente começou a namorar.
P/1 – Você resolveu ir? Ele te conquistou, então?
R – Me conquistou e até hoje eu tou com ele (risos).
P/1 – Desde esse encontro?
R – É. Depois de muita tentação, acho que ele me fez, aí ele conseguiu me conquistar.
P/1 – E ai, vocês casaram?
R – A gente casou. A gente não casou no papel, a gente vive junto há 16 anos, 17 anos que eu tou com ele. Aí tive meu filho, meu filho faleceu.
P/1 – Foi?
R – Foi.
P/1 – Que idade ele tinha?
R – Tava com oito meses.
P/1 – O que aconteceu?
R – Ele faleceu de laringite aguda, insuficiência respiratória, que dá na criança. Minha primeira gravidez.
P/1 – Como ele se chamava?
R – Gildásio, o nome do pai. Parece que o mundo se acabou, né? Que era o meu primeiro filho, mas passou e uns cinco anos depois, eu engravidei da minha filha, que é a Maria Vitória, agora, que é a minha vitória, entendeu? Eu pensei que eu não ia mais engravidar, que já tinha passado cinco anos, né?
P/1 – Você continuava querendo?
R – Continuava querendo. Fiz todos os tratamentos, pensando que eu não ia mais poder engravidar, que a minha gravidez foi muito complicada a primeira, né, então, a segunda o médico falava que era de risco também. E graças a Deus, ela nasceu com saúde e tá lá em casa.
P/1 – A Vitória?
R – É, a Vitória. É a minha vitória.
P/1 – Quantos anos ela tem?
R – Tem quatro anos.
P/1 – E o pai quando viu a Vitoria?
R – Ah, o pai dela baba, baba, baba nela. Assim, a alegria da minha vida é a minha filha.
P/1 – E você continuou trabalhando nessa casa de família?
R – Eu saí, né? Eu tava em casa, aí eu conheci o Gerson, que é o meu patrão, depois desse daí, a mulher dele tava grávida. Antes disso, eu trabalhava na loja do meu cunhado, assim, entendeu? Aí um dia, a gente foi pro almoço lá na casa do meu cunhado…
P/1 – Você já tava casada?
R – Já tava com o meu marido. Sempre acontece isso dia de domingo, né? A mulher dele tava grávida, ia ter o bebê. Aí ele falou: “Maria, você não quer ficar com a minha mulher?”, aí ele falou: “Tu quer, Aparecida ficar? Que a Aparecida não quer mais cuidar de criança, não, que ela cuida só de criança.”, aí fiquei pensando, que nunca fiquei sem trabalhar, né, sempre gostei de trabalhar, aí eu falei: “Tá bom, eu vou”, tanto que o meu marido falou que se eu fosse, depois que eu fiquei com ele, que se eu fosse trabalhar, eu não iria mais ficar com ele. Eu disse: “Não, eu vou trabalhar”. Ele disse: “Se você sair por essa porta, você não entra mais”, eu disse assim: “Eu vou trabalhar e eu vou voltar pra casa”, e eu fui embora. Quando eu cheguei, ele me aceitou de volta (risos).
P/1 – A porta tava aberta?
R – A porta tava aberta, porque eu penso assim, se ele tivesse falado: “Você não vai trabalhar. Eu não quero que você vá trabalhar”, e eu tivesse ficado, tudo que ele falasse que era pra eu fazer, ele ia aceitar, entendeu? Então, eu não aceitei, aceito algumas coisas, mas mulher tem que ter também essa autoridade, tem que ter respeito, mas também tem que saber, né? Porque senão, ele ia acostumar a falar isso, eu ia aceitar.
P/1 – Aí você foi?
R – Fui trabalhar e ficou assim.
P/1 – E como é que você começou a fazer outra coisa? Você sempre trabalhou, cuidando de criança e como foi fazer outras coisas?
R – Depois que eu saí de lá que eu vim pra cá.
P/1 – E como foi isso?
R – Lá, eu tive a minha filha, nesse trabalho, engravidei da Vitória. Eu perdi meu bebê lá. Eu trabalhei muitos anos, sempre eu fico assim, trabalhando. A gente vai criando amizade pelas pessoas, a gente vê as crianças crescer, né? Tanto que a garotinha quando eu saí de lá, sofreu, chorava, chorava, chorava, de tanto que ela gostava de mim, como por causa da minha filha que eu podia levar. Tinha vez que ele me mandava me pegar, só pra eu ficar com ela e tomando conta da casa dele, entendeu, porque eu era de confiança, né?
P/1 – Era o seu cunhado?
R – Não, era o amigo do meu cunhado.
P/1 – Amigo.
R – É, amigo da gente, entendeu? Da família. Ai, tanto que eu falei: “Eu não quero mais trabalhar não, Gerson, aqui”, ele falou: “Por que Maria? Tenho tu como minha mãe”, tanto que quando ele sofreu um acidente, eu cuidei dele, entendeu?
P/1 – Quem sofreu acidente?
R – O meu patrão. “Mas eu não quero mais, quero ficar em casa com a minha filha”, aí eu saí de lá. E tava com um mês, né, desempregada, foi quando surgiu essa oportunidade pra mim vim pra cá, pro Consulado, que a minha colega sempre me convidava, essa aí, a Rosa, eu falava: “Rosa não dá, que eu tou trabalhando”. Mas ela falava: “Tá bom, Maria”, aí calhou dessa vez (risos) eu não estar trabalhando e ela me convidou, né?
P/1 – Vocês são muito amigas?
R – É, tinha ido pra Grande Vitória, que eu morava no centro, né, aí vim pra Grande Vitória, aí que ela me convidou: “Tá bom” eu disse: “Como que a gente vai chegar lá, Rosa?”, ela falou: “É lá na Torre Quatro, Maria, no Consulado da Mulher”, eu falei: “Mas o Consulado da Mulher não é esse negócio de viajar pra outro estado?” “Não, é diferente” “Tá bom, então vamos”, aí a gente veio aqui, na época, a coordenadora era a Daila. Aí a Rosa, como já conhecia a Daila, veio, falou, só que só precisava de uma. Aí eu fiz a ficha normal, né? A gente veio, fez as “entregações” aqui no Consulado. Tavam a Dalia, a Gelisandra, que apresentaram pra gente, tavam a Aldaci, a Eliazibi e tinha o outro educador que era o Adriano. Aí foi tanto que mandou a gente voltar depois de uma semana pra ver se eia ter o trabalho. Quando eu voltei, já tinha saído a Lalá, tinha saído um senhor, que cada uma que entrou, ficou no lugar de quem tinha saído, né, disse: “Olha, tem uma vaga. Tá com sorte, Maria”, eu digo: “Tá”, a gente foi, fez esse exame e entramos no Espaço Solidário.
P/1 – Como era o exame?
R – Exame periódico pra entrar, cair na empresa, que tem que ter.
P/1 – Mas teve algum teste, uma seleção pra você entrar?
R – Não. A minha sorte que não teve.
P/1 – Por que?
R – Porque um tempo desse teve, entendeu? Dessa vez não teve, porque tava começando o Projeto Espaço Solidário, entendeu, tinha acabado de abrir, então, foi tipo assim, não sei nem explicar (risos). Foi rápido, entendeu?
P/1 – Auxiliadora, e é um espaço pra trabalhar com quê?
R – Lá no espaço, a gente trabalha com alimentação, a gente tem todo cuidado lá dentro, porque o nosso gestor são as meninas aqui de cima.
P/1 – Quem?
R – As meninas daqui de cima, eles têm todo… Como é que se fala? Quando eu cheguei, tinha a moça que ficava lá fazendo a manipulação com a gente. Tinha uma que o nome dela era Mônica, será que era esse o nome dela? Era do Sebrae. Nutricionista! Então, tinha todo esse processo, tudo, tudo, tudo, entendeu? A gente tem toda… Como é que se fala? Assessoria do Consulado, entendeu? Com alimentação, com os produtos, por causa dos funcionários, que a gente fica dentro de uma empresa, então tem que ter toda higienização e isso a gente tem, manipulação de alimentos, produtos de boa qualidade, que tem que ter, entendeu? Porque a gente fica dentro de uma empresa, tem que ter tudo isso, né?
P/1 – E Auxiliadora, você já sabia alguma coisa assim, dessa parte, quando você entrou?
R – Já, porque, assim, trabalhando em casa de família, a gente aprende tudo, né? Tem gente que fala que é um horror, mas pra mim foi um aprendizado também, que eu aprendi fazer tudo o que eu sei, eu aprendi fazendo na casa de família.
P/1 – E o que é ruim, por quê que é um horror?
R – Um horror é quando a gente não sabe nada, né? Tem muita gente que crucifica quem trabalha na casa de família, né? Entendeu? Eu não! Eu sempre aprendi muitas coisas, então pra mim, trabalho é onde eu vou ganhar o meu dinheirinho, né? Meu dinheiro digno, então pra mim, é ótimo.
P/1 – E você chegou aqui, já sabia algumas coisas?
R – Já, eu já tinha aprendido, que a minha patroa já tinha me dado as receitas, mas eu nunca tinha feito. Eu fazia lá pra ela, junto com ela, né, ai, eu só fazia na minha casa, às vezes, quando tava lá no Centro, eu fazia encomenda pra uns conhecidos mesmo, de bolo, né, confeitado. Aí aqui, a Rosa fala: “Maria faz bolo” “Eu não sei fazer” “Tu sabe sim, tu sabe, Maria Auxiliadora” “Tenho medo de não acertar”, aí foi, foi, foi e acertei. Eu faço!
P/1 – E como é um dia de vocês lá no Espaço?
R – Um dia no Espaço Solidário? Tranquilo, entendeu?
P/1 – Mas quais as atividades?
R – As atividades são de manhã, eu fico na chapa, aprendi isso aí também no Espaço Solidário, que eu não sabia fazer nada disso de lanche, entendeu? Gostava, achava bonito, quando eu passava nas lanchonetes, falava: “Aí que lindo essas meninas todas fardadinhas”, né, que tem o Bob’s lá no centro, e o que mais a gente vê a Glacial lá no centro, né? Ai, tão bonita, né? Aí quando chegou aqui, eu ia usar farda, como eu uso farda no meu trabalho, né, eu disse: “Olha, agora eu vou usar farda, que nem as meninas lá da Glacial” (risos). Quando tinha os outros colegas que ficava, que eram dois turnos, da manhã e o da tarde, eu fiquei no da tarde, né? Quando os meus colegas falavam: “Maria vai pra chapa”, meu Deus do céu, parece que a chapa era um bicho papão pra mim, eu não sabia fazer nada (risos). Eu ficava horrorizada, eu falava: “Não, faz isso não”, o Salomão falava: “Mas Maria, tu tá aqui no aprendizado, entendeu? O Espaço Solidário é um aprendizado, você tem que aprender a fazer tudo. O que a gente sabe, a gente tem que lhe ensinar”, então quando tava pouco movimento, assim, que os clientes pediam, ele falava: “Agora vai, faz o produto que eu vou ficar te observando aqui, aí eu vou te ensinar”, até foi, foi e uma vez, pediram dez tapioquinha, meu Deus. Ele falou: “Maria, agora nós vamos te testar, vai fazer as tapioquinhas”, meu Deus do céu, fiquei desesperada, “Vai, Maria, faz as tapioquinhas que eu quero ver”, aí eu montei as tapioquinhas tudinho, né?
P/1 – E aí?
R – Eu peguei parabéns dele (risos), que eu fiz. “Tá vendo como tu sabe, Maria? É assim mesmo”, aí pronto, fui aprendendo a fazer tudo no Espaço Solidário, eu aprendi, que tinha outras pessoas que tinham feito os cursos, né, que tavam aí dentro, também sabia fazer tudo, então me ensinaram, eu aprendi, né?
P/1 – Quem é o Salomão?
R – Salomão era um funcionário que já saiu, faz tempo, logo que eu entrei
P/1 – Como que é a convivência de vocês no Espaço, entre os funcionários?
R – A nossa convivência? Tem dias que a gente tá meio chateada, mas tem dias que nós estamos alegres, alegres, a gente ri, conversa, ri muito, entendeu? É assim.
P/1 – Ri muito?
R – É, porque a gente conversa muitas coisas que dá vontade de rir, né? Mulher então!
P/1 – Auxiliadora, você disse que aprendeu bastante.
R – Aprendi.
P/1 – E depois, assim, da parte que você fica na chapa, tem outras atividades?
R – Fora daqui?
P/1 – Não, não. Lá no Espaço, além de preparar as coisas na chapa, os doces, vocês fazem mais alguma coisa de trabalho no Espaço?
R – Só limpeza.
P/1 – E o atendimento?
R – O atendimento, às vezes, quando uma colega vai almoçar, fica lá no lugar dela, entendeu, aí ela volta, a gente vai pro nosso lugar. Assim, é tipo um rodizio. É um rodizio, entendeu, porque como nós somos sócias, a gente faz um rodizio, assim que é o Espaço Solidário. Cada uma tem uma função, entendeu?
P/1 – Agora, você fala que vocês são sócias. Como que funciona essa sociedade?
R – A sociedade, toda renda é dividida em partes iguais, no momento agora tem só cinco, mas antes era sete. Aí era dividido por hora, logo no começo, era partes iguais, aí depois o grupo decidiu que seria por hora, devido a ter dois turnos. Agora, como ficou só um turno, é dividido em partes iguais a renda, entendeu?
P/1 – E você, na hora de fazer essas contas, como que vocês se organizam?
R – Quem fica no caixa lança todas as despesas e as entradas também, né? A gente teve toda assessoria das meninas, do nosso educador, né, que ensinou a gente, que a gente aprendeu nessa parte também, a fazer as contas, dividir as coisas e somar o que tem que ser nosso e não tem que ser nosso, entendeu? Tudo isso, eles ensinaram pra nós.
P/1 – Uma parte que é de vocês e a outra parte?
R – Que é dos fornecedores, entende, que tem fornecedor de fora também, que a gente vende os produtos deles aí e a parte que a gente vende nossa.
P/1 – E essa parte de relação com os fornecedores, vocês mesmo que fazem ou não?
R – Agora é a gente, a gente liga, pede, mas tem que ser assessorado pelo Consulado.
P/1 – Por quê?
R – Porque só pode se for da rede de alimentação do Consulado. É bacana por isso.
P/1 – Como é essa rede? Fala um pouco pra gente como que funciona.
R – A rede? Um exemplo: ela faz salgado, mas ela não é assessorada pelo Consulado, ela ali faz salgado, mas ela é assessorada pelo Consulado, então, ela vai ficar sendo nosso fornecedor, ela não vai fornecer pra nós, porque ela não veio fazer os cursos, não tem uma ficha aqui, como ela que é assessorada, entendeu? Então, é assim, o Espaço Solidário.
P/1 – Você falou que é o Espaço Solidário, você tinha dito pra gente, antes, que participou alguma vez da Economia Solidaria.
R – É, mas já foi aqui dentro, entendeu? Uma vez, eu não sei nem falar, a gente já foi pra uma rede que faz parte do Consulado também, do Espaço Solidário para estudo, entendeu? Uma vez, eu fui pra um… Quando fica aquele monte de gente reunida, assim, que é da Economia Solidaria, que de todos os lugares vem uma pessoa, mas que faz parte da rede. Eu participei uma vez.
P/1 – Auxiliadora, assim, tem alguma coisa a ver essa ideia de Economia Solidaria com o que vocês fazem lá?
R – A Economia Solidaria, tem.
P/1 – Pra vocês. Eu sei que você já ouviu falar, mas em relação ao que vocês fazem.
R – O que nós fazemos?
P/1 – Como vocês fazem o trabalho.
R – Trabalho nosso… a nossa parte que a gente faz da Economia Solidária é assim, quem tá começando, que são nossos fornecedores, como eles não têm muitos clientes deles fora, nós somos os clientes dele, entendeu? Então eles vêm, nós compramos os produtos deles, aí a gente vende e dá a renda que faz parte pra eles e tira a nossa, entendeu? Assim que é a nossa Economia Solidária com os produtos que tá lá na vitrine, tipo isso daí é da Economia Solidária: gerar renda também pra eles e pra nós, né?
P/1 – Auxiliadora, você acha que mudou alguma coisa na sua vida desde quando você começou a trabalhar no Espaço Solidário?
R – Acho que melhorou, né?
P/1 –Melhorou em quê?
R – Assim na minha renda, antes eu ganhava menos, aí eu ganhei mais. Eu acho que melhorou muito.
P/2 – Auxiliadora, você fala com os fornecedores. Quais são os fornecedores hoje, de vocês?
R – Nossos fornecedores são de salgados, de produtos de higienização, de polpas, de biscoitos, de bala. O que mais tem do Espaço? De refrigerante.
P/2 – Você saberia dizer o nome desses fornecedores?
R – Os fornecedores, nós temos das trufas, que é a Dona… Meu Deus do céu, esqueci o nome da mulher agora.
P/1 – Não tem uma marca? Um nome?
R – Não, só tem marca, só a Amazon Doces.
P/2 – Quais são os tipos de doces?
R – Amazon doces? São aqueles biscoitinhos.
P/1 – De cupuaçu, né?
R – São os biscoitos de cupuaçu, o salaminho que tem lá.
P/1 – Salaminho de quê?
R – Salaminho que é cupuaçu e castanha que tem lá na vitrine que é muito gostoso. Tem umas balinhas que é da Amazon Doces também, que tá lá na vitrine, que é feito com mangarapá e cupuaçu.
P/1 – E o biscoito de fibras?
R – O biscoito de fibras é de outro fornecedor que a gente…
P/1 – Você sabe o nome?
R – Eu não sei o nome, porque a gente começou agora, é a segunda vez que nós pegamos, que foi as meninas que indicaram ele pra lá, entendeu?
P/1 – Auxiliadora, você já falou bastante coisa que você aprendeu, principalmente nessa parte de fazer as coisas na chapa e tal. Mais alguma coisa você quer comentar como mudança pra você desde que você começou a participar do Espaço? Como pessoa.
R – Como pessoa (pausa)? Ah, melhoria, né?
P/1 – O que mudou, pode ser melhor ou não.
R – Eu continuo sendo a mesma pessoa (risos), entendeu? Acho que não. Foi bom, mudaram algumas coisas, né? A minha casa era meio assim, tava sem... Com o dinheiro que eu já fiz no Espaço Solidário, já deu pra dar uma reformada legal na minha casa. São benefícios ótimos pra mim, porque no dia que eu sair daqui, eu já tenho! Trabalhei no Espaço Solidário, fiz uma casa boa pra mim, né? A renda de lá me ajudou. Que a gente trabalha na casa de família, é pouco, né? Graças a Deus, tá…
P/1 – Você já conhecia Consul, a marca Consul, antes?
R – Já! A Consul, a Brastemp, as duas marcas, né?
P/1 – Chegou algum aparelho doméstico pra você trabalhar, para o trabalho aqui, nesse período lá?
R – Chegou. Eu comprei um fogão da Brastemp e um micro-ondas da Brastemp, umas louças da Brastemp, que compra certa aqui, a gente compra aqui e chega.
P/1 – Como é essa compra certa?
R – A gente vai lá, tipo compra virtual, que nem você vai numa loja, só que os produtos que a gente compra vem tudo de fora, e tem um mês ou quinze dias para chegar na nossa residência.
P/1 – E no empreendimento, vocês receberam algum eletrodoméstico no período que você trabalha de lá pra cá?
R – No empreendimento aqui, ou na nossa casa?
P/1 – É. Não, não. Na sua casa, você falou. Aqui, no empreendimento aqui, no Espaço Solidário.
R – Da Consul?
P/1 – Da Brastemp, Consul, se vocês receberam, ganharam alguma coisa.
R – Sim, foi doado para o Espaço Solidário já um forno elétrico, uma geladeira nova, um freezer novo e assim, outros produtos, entendeu? Que só tem que ter a marca da Brastemp ou da Consul lá dentro, né?
P/1 – Mudou alguma coisa lá com isso?
R – Mudou, porque tava precisando de freezer aí foram e doaram para o espaço Solidário mais outro freezer, agora tem dois freezers lá dentro. E o forno elétrico, que não tinha antes, agora tem, né? E micro-ondas, que de vez em quando tá sendo doado aqui. Ainda (risos) hoje queimou um, já pegou um outro lá. Bom por isso, entendeu?
P/1 – Se você não trabalhasse nesse empreendimento, no Espaço Solidário, você tem ideia do que você faria?
R – Se eu não trabalhasse, o que é que eu tava fazendo? Olha, pra falar certo, eu acho que eu tava sendo vendedora lá no centro, na loja do meu cunhado (risos). Mas eu gosto de estar trabalhando no Espaço Solidário. Um tempo desse, ele falou assim: “Auxiliadora, quer trabalhar comigo?”, eu disse: “Não, quero não, eu tou bem lá no meu trabalho”.
P/1 – Quem te perguntou?
R – O meu cunhado. Eu disse: “Não, muito obrigada, eu não quero trabalhar pra você, eu quero ficar lá no meu trabalho”. Ele disse “Tá bom”.
P/1 – Ele não perguntou o porquê?
R – Ai, ele disse: “Por quê? Você gosta de trabalhar lá?”, eu disse: “Eu gosto de trabalhar lá”. Ele disse: “Tá bom, então, Auxiliadora, quando você quiser, você vai que eu boto você na loja” “Tá”.
P/1 – Quais são os seus sonhos, ou qual o seu sonho, Auxiliadora?
R – Meu sonho, depois que eu trabalhar no Espaço Solidário, é assim, montar meu próprio negócio, entendeu, trabalhar pra mim mesma, porque aí a gente trabalha pra nós. Trabalhar pros outros é bom, mas ter nossa renda do nosso trabalho, ter o nosso trabalho mesmo, ser dono do nosso próprio negócio é melhor ainda. Então, tenho vontade de montar alguma coisa, uma lanchonete, uma lanchonete com um restaurante, que eu sei a parte da lanchonete, sei a parte da alimentação, já sei tudo como é que tem que fazer a manipulação dos produtos, cuidados, a gente teve todo esse treinamento aqui, com a assessoria do Consulado, entendeu? Então, pra mim, tá ótimo.
P/1 – Dá para abrir um negócio?
R – Dá. Quando eu abrir, eu já sei os cuidados que eu tenho que ter e os produtos que eu tenho que usar, entendeu? Por que o quê que adianta você comprar um produto barato, mas de má qualidade? Então, você tem que comprar um produto caro que seja de boa qualidade para oferecer para os seus clientes, que seja uma coisa boa.
P/1 – Entendi. A gente já tá terminando. Você quer falar alguma coisa da sua história que deixou passar ou que eu não te perguntei? Contar alguma coisa?
R – Acho que não.
P/1 – Até do seu trabalho, hoje.
R – Então, o meu trabalho é ótimo (risos), gosto das colegas de trabalho, me dou bem com as meninas do Consulado, são tipo uma família, né? Eu fico mais tempo aqui, no meu trabalho, que o trabalho da gente é a casa da gente também, que a gente vive mais tempo no trabalho do que na casa.
P/1 – Como foi pra você, contar essa história?
R – Como foi pra mim contar essa história?
P/1 – O que você achou, como que você se sentiu contando a história?
R – Lembrar do meu passado, pra mim foi muito bom. Deixa eu ver, hoje é segunda-feira, eu tava lembrando com o meu irmão lá em casa, da vovó, da minha família, falei: “Poxa, às vezes, eu sinto falta da minha infância”. Ele falou: “É mesmo. Agora, você já tá velha, Auxiliadora” (risos). Aí disse: “Para com isso, não me acaba”, ele falou: “Não, eu sei, é que dá saudades, né?”, sempre me lembro da minha infância, entendeu? Agora, tudo diferente aqui com a minha filha. Pra mim tá sendo uma benção de Deus arrumar esse trabalho, ter a minha filha, pra mim tá ótimo.
P/1 – Então, muito obrigada, Auxiliadora, pela sua história.
R – De nada. Obrigada.
FINAL DA ENTREVISTA
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