A história que vamos contar
tem o dom de encantar.
Ela chegou mansa, calada, quase envergonhada.
Mal começou a falar
conseguiu nos contagiar.
Aposto que você vai se amarrar.
Dona Marli morava na roça, distante da igreja e da escola. Até para chegar no vizinho demorava.
Menina de muitos ...Continuar leitura
A história que vamos contar
tem o dom de encantar.
Ela chegou mansa, calada, quase envergonhada.
Mal começou a falar
conseguiu nos contagiar.
Aposto que você vai se amarrar.
Dona Marli morava na roça, distante da igreja e da escola. Até para chegar no vizinho demorava.
Menina de muitos irmãos, trabalhou desde cedo, colhendo milho e nas tarefas da casa.
Isso quando não ficava responsável pelos irmãozinhos ainda pequenos.
Os irmãos eram unidos e se divertiam muito juntos. Brincavam na mata com muita frequência. Conheciam até o moço que virava lobisomem. Rapaz bom, calado, quietinho, quase tímido. Mas não venha tirar onda com ele não seu moço, porque ele vira bicho, e bota pra correr!
Dona Marli tinha uma melhor amiga, e o pai dessa menina trabalhava na casa de pólvora, fazendo fogos de artificio e estalinhos daqueles que jogamos no chão para estourar na época do São João.
As vezes, o pai da amiga levava as meninas para trabalhar com ele, era uma diversão encantadora. “- Meninas, cuidado! Vocẽs só estão autorizadas a apertar os estalinhos.”
Mas um dia, a amiga querendo provar ao pai que já sabia fazer fogos, mexeu com o que não devia e foi tudo pelos ares. Foi o dia mais cinza e preto da vida das meninas. (Ainda bem que a menina Marli não estava por perto, ufa!)
Quando a menina Marli ajudava a mãe em casa ela era sempre muito cuidadosa, mesmo bem pequena (ate a vassoura era grande para ela) ela varria, passava pano, tirava pó. Até que uma vez a vassoura esbarrou na prateleira onde ficavam os copos para as visitas (eram copos especiais, bem mais bonitos do que a caneca que usavam todos os dias.) Os copos cairam e quebraram. A menina Marli apanhou tanto, mas tanto com a vara de goiaba. Que prometeu jamais bater em um filho.
Quando os irmãos iam brincar a mais nova sempre reclamava:
- Estou cansada.
– Me leva no colo.
– Quero comida.
– Vamos voltar?
– Vocês são chatos...
E os irmãos já cansados de tanta ranzinzice, resolveram dar uma lição a cada vez que ela reclamasse de algo. A brincadeira preferida deles era subir no topo da árvore mais alta que encontrassem. Colocaram a escada e todos subiram. De repente, desceram correndo deixando a resmungona lá em cima. Era de tarde e ela chorou de espernear. Resolveram descê-la quando a menina parasse de chorar. Ela parou, dormiu e os outros que estavam embaixo brincando sossegados voltaram para casa esquecendo a menina lá em cima. A noitinha quando os pais deram falta da menina, todos apanharam.
Outra vez fizeram a reclamona carregar sozinha, na sua pequena cabeça, uma jaca E-NOR-ME até em casa, ela chegou toda lambuzada e todos riram muito.
Dona Marli e suas histórias que não tem fim
e que não cansamos de ouvir, conseguiu nos levar até a plantaçao de milho e junto com ela apanhamos e brincamos pra valer.
Hoje ela tem sonhos, de uma vida tranquila perto do núcleo familiar que ela construiu e de concluir sua alfabetização. Dona Marli é uma mulher realizada e o brilho nos seus olhos nos faz perceber que a vida vale a pena, apesar de todas as dificuldades.Recolher