P/1 – Oi, Renata, tudo bom? A gente vai começar agora. Você pode começar, por favor, falando seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Bom dia, Lila. Olá! Vamos começar sim. Meu nome completo é Renata dos Santos Ostan, mas eu uso mais o Renata Ostan mesmo. Nasci em São Paulo ca...Continuar leitura
P/1 – Oi, Renata, tudo bom? A gente vai começar agora. Você pode começar, por favor, falando seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Bom dia, Lila. Olá! Vamos começar sim. Meu nome completo é Renata dos Santos Ostan, mas eu uso mais o Renata Ostan mesmo. Nasci em São Paulo capital, e minha data de nascimento é dia 16 de maio de 1983.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai já é falecido, Pedro Paulo Ostan. Minha mãe, Nilda dos Santos Ostan.
P/1 – Você sabe qual a origem da sua família, de onde eles vieram?
R – A origem da minha mãe… A minha mãe é neta de índio, e nascida na Bahia. E a origem do meu pai… Neto de italiano, nascido e criado aqui em São Paulo, mas com avós italianos.
P/1 – E você sabe alguma história desses avós? Do começo assim, da família, tem alguma história que você conheça?
R – Histórias dos meus avós. Com meus avós maternos não tenho muitas histórias de antecedentes… Dos meus bisavós, na verdade. E dos meus bisavós paternos, são histórias bem poucas, de que vieram de navio, passaram muitos dias no navio para vir para o Brasil, muitas dificuldades, que passaram fome, frio, essas coisas, mas depois que chegaram aqui, conseguiram ter uma vida tranquila. Mas bem superficial mesmo, nada de específico.
P/1 – E seus pais, faziam o quê?
R – Meus pais… Minha mãe trabalhava em loja, comércio, caixa, atendente, essas coisas. Parou de trabalhar um pouquinho depois de que nasci para cuidar… Somos em três filha, eu e mais duas irmãs. Ela parou de trabalhar um pouco depois de eu nascer para poder cuidar da casa e da gente mesmo. Meu pai trabalhou a vida toda, mas não tinha uma profissão concreta. Ele tinha pouco estudo. Trabalhou desde taxista, zelador, vendedor também, então ele foi de tudo um pouquinho e trabalhava no que desse para colocar o pão de cada dia em casa, mas não tinha uma profissão formada.
P/1 – E os seus irmãos, quais os nomes deles? O que eles fazem?
R – Minhas irmãs… Eu tenho duas irmãs mais velhas, uma de 42 anos e uma de 40. A mais velha se chama Ana Paula, ela é formada em Direito, mas não exerce a profissão. É casada, com dois filhos, e trabalha na empresa Porto Seguro hoje, como analista de relacionamento. Viviane, a irmã do meio da família, é casada, tem um filho também e trabalha no Itaú, como agente geral de agência do Personnalité.
P/1 – E como era a sua infância? Onde você morou, qual bairro, como era a sua casa…?
R – Minha infância foi uma infância muito gostosa. Eu lembro… Tenho poucas memórias, mas as que tenho são super legais. A gente sempre morou de aluguel, então morou em várias casas, não teve uma específica. Até onde minha mãe mora hoje, que faz 26 anos que ela está lá, eu lembro que a gente morou em umas quatro casas diferentes. A primeira casa da qual lembro, que acho que foi onde eu nasci… Não lembro se foi realmente lá que nasci, mas… Era bem grande, tinha um quintal bem grande, tinha três quartos. Um quarto a gente usava só para brincadeiras, então minha mãe deixava todos os brinquedos em um quarto, no outro quarto dormíamos nós três, e no outro quarto, ela. A casa tinha bastante espaço, tinha até um porão, onde também se guardava bastante coisa. Cozinha ampla, quartos amplos, sala gostosa. Essa foi a primeira casa. Na segunda casa, a gente morou em uma casa de avenida, então eu lembro que tinha muito barulho. Tinham os três quartos, e era um pouco mais modesta, mas também tinha um quintal gostoso, eram cômodos grandes. Eu lembro que nessa casa, como era em avenida… Assaltaram a casa em uma época, e a gente ficou bem assustado. Depois dessa, nós moramos em um apartamento, que foi onde meu pai foi zelador. Nós moramos lá até ele falecer. Também era gostoso, a gente não saía muito para o condomínio, mas era um apartamento grande, daqueles apartamentos antigos, bem grandes e bem confortáveis. E a última casa, é a em que minha mãe mora hoje, a quarta casa. Assim que meu pai faleceu… Ele era zelador, então a gente morava no condomínio, porque ele era zelador. Tivemos que nos mudar rapidamente e minha mãe construiu uma casa no terreno do quintal da minha avó. Lá era uma casa bem modesta mesmo, que é onde vivemos os mais longos anos das nossas vidas. Quarto, sala e cozinha, com todo mundo junto. Bem apertadinho, bem modesto, mas também fomos bem felizes ali. Foi dali que cada um conseguiu se inspirar para ter coisa melhor e conseguir batalhar na vida.
P/1 – Como era a relação da família? A relação com seus irmãos?
R – A relação da minha família, com minhas irmãs e meus pais, sempre foi muito boa, a gente sempre fez tudo muito junto. Minhas irmãs eram minhas amigas, a gente não tinha… A gente tinha amigos na escola, mas não tinha aquela coisa de, "ah, vou brincar na casa do amiguinho" igual tem hoje, que a maioria das crianças têm um amiguinho que vai na casa do outro, e brinca, essas coisas. Brincávamos sempre nós três juntas. Minhas melhores amigas eram as minhas irmãs. A gente também tinha uma rotina de sábado a noite comer isso que meu pai fazia, domingo geralmente era o almoço x que meu pai fazia. Então durante a semana, "ah, hoje é dia de filme", sempre tivemos essa relação de fazer tudo muito junto. Eu e minha irmãs até hoje somos assim. Crescemos assim e permanecemos. A gente tem essa coisa de… Tento passar isso para minha família também, para minhas filhas, de estar juntas e dividir momentos. Acho que isso é o mais importante, é o que levamos mesmo da vida.
P/1 – E o que aconteceu com seu pai?
R – O meu pai faleceu de infarto aos 41 anos, infarto fulminante.
P/1 – Que cedo, muito cedo. Quais eram as brincadeiras que vocês gostavam? Qual era a sua brincadeira preferida?
R – Minha brincadeira preferida era ir para a rua no domingo à tarde, quando a gente ia para a casa da minha avó e reuniam todos os primos. A gente fazia todos os tipos de brincadeira de correr, pega-pega, esconde-esconde, elefantinho colorido, então não tinha uma brincadeira específica. Eu gostava de ir domingo à tarde para a casa da minha avó para gente fazer todas essas brincadeiras com todo mundo junto, eu, meus irmãos, meus primos… Era uma das únicas vezes que a gente se via, então eu não tinha uma brincadeira específica. Eu gostava de brincar com eles, e a gente não conseguia fazer durante a semana ou na escola.
P/1 – Teve alguma história marcante dessa fase da sua infância?
R – Ah, a história mais marcante da minha infância foi realmente a morte do meu pai. Não foi um momento bom que marcou, na verdade, foi um momento bem ruim. Eu tinha 11 anos e estava fazendo a
migração da infância para a adolescência. Foi um susto muito grande, uma coisa muito de repente. Como eu já havia dito, a gente fazia tudo muito junto. Meu pai sempre brincou mais que a minha mãe, sempre foi o mais legal, vai! Não é que minha mãe fosse chata, mas ele era mais legal. Ele era a pessoa que permitia mais, vamos dizer assim. Então, a gente sofreu muito tanto pela perda, tanto... Minha mãe ficou meio sem rumo, então ela entrou em uma fase de depressão que afetou a gente também, então a gente precisava do cuidado da família, porque não tinha mais… Quem sustentava a casa era o meu pai, quem fazia as coisas todas era o meu pai. Minha mãe era dona de casa na época, então a gente precisou de muito apoio da família para sair dessa e isso foi o que marcou mais. Infelizmente foi um momento ruim que marcou, não foi nenhum momento bom.
P/1 – Como foi o desenrolar dessa história? Vocês tiveram a ajuda de algum parente? Como foi o desenrolar dessa história depois que aconteceu?
R – O desenrolar da história do meu pai foi bom. Bom assim, em questão de ter muita ajuda. Meu pai era uma pessoa que conhecia muita gente, ele se relacionava com muita gente e se relacionava muito bem. Ele tinha bastante amigos e conhecidos. Quando nos vimos nessa situação, tanto o pessoal do condomínio onde morávamos em que ele era zelador, quanto os outros amigos, deram um super apoio, além da da minha família, claro, que foi a base. Meus tios… Na verdade, minha avó e meus tios
por parte de mãe, e alguns por parte de pai, bem alguns por parte de pai, apoiaram bastante. Como meu pai tinha todos esses conhecidos e amigos, eles fizeram um bingo beneficente para minha mãe conseguir recursos para conseguir mudança ou levantar a casa em que mora até hoje, no terreno da minha avó. Foi feito um bingo com ajuda de todos… Foi feito um bingo gigantesco, aliás. Foi muito grande, arrecadou muita coisa. Eu não vou te falar de números hoje, porque eu era muito pequena e acho que ninguém nem lembra mais, mas foram números bem significativos, que ajudaram bem minha família. Foi bem grande, teve um número grande de pessoas, teve bastante prêmios relevantes. Lembro que no bingo… Ele era muito corintiano e eu também sou muito corintiana. Ele conhecia gente dentro do Corinthians e conseguiram uma camisa autografada. Acho que esse era o prêmio mais valioso na minha memória. Era o prêmio mais valioso que tinha no bingo, e eu acabei ganhando essa camisa e tenho ela até hoje. A gente contou com a ajuda tanto presencial, porque meus tios e tias iam lá ver se estava tudo bem, dormiam com a gente, dormiram com a gente um bom tempo… Teve esse bingo, teve essa ajuda dos meus tios dormindo em casa e indo ajudar a fazer comida, a ir ao supermercado, a lavar uma roupa… Porque minha mãe ficou um bom tempo sem condições psicológicas para isso. Teve ajuda também para a construção da casa, foi levantada só pelos meus tios, tanto maternos, quanto paternos. Só o acabamento mesmo que foi feito por profissionais, porque minha mãe não tinha condições de pagar. O restante foi todo feito por tios e tias, com todo mundo metendo… Até nós, crianças, ajudando e metendo a mão na massa. A gente se desenrolou desse jeito. Com a ajuda de todo mundo, conseguimos nos superar bastante, conseguimos dar a volta por cima e conseguimos ter onde morar. Minha mãe começou a trabalhar logo após, e minha irmã mais velha, que estava em torno de 15 anos, começou a trabalhar também para ajudar, e a gente conseguiu ir em frente numa boa, tranquilamente.
P/1 – Qual foi a sua primeira escola? O que você lembra da sua primeira escola?
R – Da minha primeira escola, eu me lembro até hoje. Ela se chamava Marechal Odílio Denys, que fica no bairro do Imirim. Era uma pré-escola, e eu lembro de muitos amigos, muitas crianças. Alguns amigos são amigos até hoje, desde lá da pré-escola. Era uma escola muito gostosa, uma escola muito arrumadinha… Lembro da entrada, lembro da saída. O fato mais marcante é que na época, eu não gostava de comer legumes, verduras, eu era ruim para comer bem, vai. Lá eles tinham uma refeição completa e saudável, e eu não conseguia comer, não queria. Não queria comer o arroz, não queria comer feijão, não queria comer legumes, e eles insistiam para que a gente comesse, para ter uma alimentação saudável e mesmo para não ter desperdício, essas coisas. Eu lembro que eles eram… Como fala? Deixa eu achar as palavras. Eles eram enérgicos, vai. Era uma escola bem rígida e enérgica, então eles faziam a gente comer e eu não queria comer. Eu lembro que chorei bastante para entrar na escola, porque eu não queria por causa da comida. Eu adorava brincar, e adorava as tarefas, mas não queria ir, porque não queria comer. Lembro até hoje que eu falava para a minha mãe, "não posso entrar e na hora do recreio sair? Depois eu entro de novo e como na minha casa", "não, você não pode, não tem tempo", então isso foi o que mais marcou. Adorava brincadeira, adorava o parquinho da escola… Passo em frente até hoje, porque moro no bairro. É muito gostosa essa lembrança, eu só não gostava de comer. Hoje sou totalmente ao contrário (risos).
P/1 – E teve algum professor que te marcou?
R – Não tenho memórias de professores de lá, tenho memórias de professores de outras escolas. De lá, eu tenho lembrança dessa parte lúdica, das brincadeiras, das tarefas, da comida e dos amigos, mas não tenho memórias dos professores de lá.
P/1 – E de lá, você foi para outra escola. Fala um pouquinho da outra escola para onde você foi.
R – De lá do Marechal Odílio Denys, eu fui para outra escola chamada Marcílio Dias, que é onde estudei o período todo assim, da minha vida, da primeira à oitava série. Por ser uma escola de bairro, por ser uma escola que todo mundo… Estudei muitos anos, então conhecia muita gente. Estudou tio, tia
irmã, então a família toda também já tinha um histórico. As professoras conheciam o sobrenome, que não era muito comum. Hoje em dia, até tem bastante, mas na época, ninguém conhecia, então era só o nosso. Como a família toda estudou lá, "você é irmão do fulano?", "você é tio do sicrano?". A gente conhecia todo mundo da escola, era todo mundo muito amigo. Da primeira à oitava série foram os bons anos, então fomos até a adolescência na escola, onde aprendi praticamente tudo… Eu lembro que nessa escola ainda tinha época de levantar bandeira, de cantar hino, que hoje as escolas não fazem mais… Tenho bastante essa lembrança. Tinha uma sala de leitura, e lá, era uma aula que tinha. A gente ficava lá, a professora lia uma história, depois você levava um livro para casa, devolvia na próxima semana, e era uma coisa recorrente, que as escolas hoje infelizmente não fazem. Não me lembro das minhas filhas terem isso. Dos amigos que tenho até hoje dessa escola, são amigos meus da vida. Tenho bastante amigos de lá dessa escola. De professores, lembro bastante. A inspetora que era muito legal, dona Zezé, lembro muito da dona Zezé. Lembro da professora de matemática… Muita coisa eu lembro de lá. Eu adorava os campeonatos, então às vezes deixava de assistir aula para ver um campeonato de futebol dos meninos. Eu achava um absurdo os meninos poderem deixar de ir para aula para jogar futebol e eu ter que assistir aula. Então, além de gostar do futebol, eu falava, "ah, não vou assistir aula hoje, vou assistir o campeonato". E dava um jeito de burlar alguma coisa para poder assistir lá também o campeonato, porque eu gostava bastante. Então, dessa escola, eu tenho bastante memória, bastante mesmo.
P/1 – E como foi a sua adolescência?
R – Minha adolescência foi boa, aproveitei… Tive uma parte da adolescência, porque fui mãe adolescente também, então eu curti um pouco, e do outro pouco, já era uma pessoa bem responsável. Esse pouco que curti, foi gostoso, tive muitos amigos, a gente estava sempre um na casa do outro. Na época, a gente ia para a igreja e tínhamos compromissos, fazíamos trabalhos voluntários. Tinha amigos que tinham casa grande, então a gente se reunia todo domingo. A gente almoçava e todo domingo se encontrava à tarde. Passávamos a tarde juntos… Esses mesmos amigos eram da escola, então a gente se encontrava na escola, se encontrava no final de semana, tinha aquelas festinhas na casa do amiguinho… A gente não saía assim, como os adolescentes saem hoje para festas, festivais, essas coisas, shows… A gente não tinha esse acesso na época, então a nossa diversão era ir ao shopping, passear e tomar um sorvete, ou ir para a casa de um amigo, assistir um filme e ficar lá conversando todo mundo, e a mãe ou avó fazia um lanche. A gente comia, ficava lá, tomava um refrigerante, comia um doce ou um sorvete, essas coisas. Essa foi minha adolescência. Aquelas paquerinhas, coisas e tal… Essa foi minha adolescência, não teve nada demais, mas foi muito gostosa, e no meio da adolescência, eu fui mãe.
P/1 – Desse período, tem alguma história que você gostaria de contar? Alguma história com amigos ou de como você conheceu o seu parceiro e ficou grávida, ou uma história da escola, de amigas...
R – É, na verdade, eu tenho bastante histórias. Vamos ver se eu consigo colocar todas para vocês. Eu lembro de uma história muito engraçada. Eu tinha uma amiga que morava perto de casa, mas não era tão perto assim. Ela se chama Isadora. A gente ia para a escola… A gente queria estar sempre juntas, então às vezes ela ia… Nessa época, a educação física era diferente do horário da escola, então se você estivesse no horário da tarde, você iria para a educação física de manhã, e vice- versa. Então, a gente ia para a educação física e combinava de uma ir para a casa da outra, para depois passar e voltar. Eu lembro que morava um pouco longe da escola, a uns dois quilômetros, e ela morava muito perto da escola, então claro que eu preferia ficar na casa dela nesse meio tempo do que ir para minha casa. Mas às vezes, a gente gostava de ir para minha casa, porque minha mãe trabalhava, então a gente ficava meio sozinha, e era melhor do que ficar na casa dela, porque a mãe dela estava lá. Apesar da mãe dela ser uma pessoa muito legal e bacana, a gente preferia ir para minha casa às vezes. Lembro que uma vez estávamos conversando, conversando, conversando e fomos pegar o ônibus, porque não era muito perto e já estávamos atrasadas. A minha mãe dava uma condução para mim por dia. A gente não pegava ida e volta, ou eu ia para a escola ou voltava da escola. Se eu estivesse atrasada, eu ia de ônibus, e se eu estivesse cansada, voltava de ônibus. A gente não tinha essa opção de ir e voltar de ônibus. A gente se atrasou e eu falei, "Isadora, vamos de ônibus para a escola, porque não vai dar tempo". Eu lembro que usávamos aqueles elásticos que prendem o material todo. A gente não usava mochila, era o elástico que prendia o estojo, os livros, etc. Fui prender meu cabelo e coloquei na escada do comércio que tinha no ponto de ônibus. Quando passou o ônibus, dei sinal e a gente entrou. Quando cheguei na escola, cadê o meu material? Eu tinha esquecido lá na escada do comércio que eu tinha deixado para prender o cabelo. Voltei e não achei esse material, tinham levado. E para chegar em casa e contar para minha mãe o que tinha acontecido? Eu tinha perdido todo o material, livro, caderno, caneta, tudo eu tinha perdido. Foi bem difícil! Minha amiga disse, "eu vou te dar alguma coisa", e eu falei, "mas ela vai perceber, não tem como". Minha mãe era muito brava e ficou muito brava, mesmo porque a gente não tinha condições também de comprar tudo de novo, porque no começo do ano era aquela sacrifício de comprar três remessas de materiais, porque era eu e minhas duas irmãs, e aí quando chegou no meio do ano… Não era nem meio do ano, nem lembro qual época era. Mas chegar em determinada parte do ano e você ter que comprar tudo de novo… Naquela época, a escola dava os livros, e para você chegar na escola e falar, "olha, perdi todos os livros", como você fazia? Mas dei bastante trabalho, minha mãe ficou muito brava e foi uma história bem engraçada. Lembro até hoje do momento em que lembrei que esqueci o material e até hoje esqueço minhas coisas assim nos lugares, já perdi vários celulares e já perdi bolsa nesse mesmo ritmo. Tinha vezes também que a gente fazia coisas bem legais na escola, em que a gente tinha que levar prenda, lembro bem. A prenda não era como hoje, que nem brinquedo… Era arroz, feijão, milho, óleo… Isso era a prenda da brincadeira. Às vezes você ganhava um brinquedo na pescaria, e era quando você tirava a pontuação máxima. Isso também marcou bastante, as festas juninas da escola foram muito, muito legais. E da minha adolescência para quando conheci o pai da minha filha… Eu e essa minha amiga Isadora, a gente marcava todo dia de se… Eu não tinha telefone na época, e ela tinha acabado de ganhar um. Eu saía da escola umas seis horas, ia para casa, chegava, jantava, e ela falava, "umas oito horas você me liga", "mas eu não tenho como comprar ficha todo dia para te ligar" (ou era cartão na época, nem lembro, mas acho que era ficha ainda), e aí ela falou, "então vê o número do orelhão em que você vai estar, porque todo dia, tal hora eu te ligo lá no orelhão", "tá bom". Fui, vi o número do orelhão, e todo dia oito horas da noite eu estava lá pronta, esperando ela ligar para o orelhão para gente conversar, e a gente conversava tudo da escola no dia. Tudo que aconteceu na escola no dia, a gente conversava às oito horas no orelhão. Esse orelhão ficava na frente da casa do pai da minha primeira filha. Todo dia eu estava lá, no mesmo horário, no mesmo local, e via ele entrando e saindo, entrando e saindo, entrando e saindo. Foi aí que a gente se conheceu, fez amizade… Na verdade
eu fiz amizade com o primo dele primeiro, que morava também ao lado. A gente começou a
conversar, e essa roda de amigos que a gente fazia no domingo, começou a ser com eles, na casa deles, lá perto de casa, com todo mundo junto. Eles tinham na época aqueles grupos de pagode que faziam nos anos 90, que limitavam o Art Popular, Soweto, essas coisas todas. Eles faziam os ensaios do grupo aos domingos à tarde na casa do pai da minha filha, o Cleiton. A gente se conheceu e falou, "nossa, agora a gente tem música domingo à tarde", então a gente ia para lá todo domingo, e foi aí que começou. A gente começou uma amizade e foi daí que surgiu o relacionamento e a filha.
P/1 – E como foi quando você soube que estava grávida? Como foi isso para você e para a sua família?
R – Sobre a minha gravidez, eu comecei um relacionamento, assim… Foi muito rápido, foi praticamente nas primeiras relações que eu tive. Então, eu comecei a namorar, com o tempo contei para a minha mãe que estava namorando, e fiquei namorando um bom período assim, só que acho que engravidei com quatro meses de relação, quatro meses de relacionamento. Eu sabia que estava grávida, mas não tinha coragem de contar para a minha mãe, então a gente ficou esse tempo… Eu fiquei um tempão grávida e sabendo que estava grávida, mas não contei para minha ninguém. Fiquei segurando, porque lá no fundinho você pensa, "não é verdade", você fica com essa, "não pode ser, tem uma esperança no fundo". Eu engravidei em dezembro e minha mãe só ficou sabendo no final de maio. Não, final de abril, começo de maio. Por que? A minha irmã trabalhava em um laboratório, e todo mês minha mãe fazia as compras e comprava nosso absorvente. Ela distribuía os absorventes para todo mundo. Quer dizer, quatro mulheres em casa… Cada uma tinha seu pacotinho de absorvente ali no guarda-roupa, no armário. Minha mãe foi comprando absorvente para mim, foi comprando absorvente para mim, e cada hora que abria o guarda-roupa, tinha uma pilha de absorvente, e eu não podia falar porque não estava usando. Um dia minha irmã pegou e viu, e perguntou para mim, "por que você não está usando absorvente?", e eu contei assim, bem superficialmente e morrendo de medo só para a minha irmã. Como ela trabalhava em um laboratório, ela falou, "então vamos lá fazer um teste. A mãe não precisa nem ficar sabendo e você vai lá. Se der positivo, você"... Mas eu também não tinha barriga, não tinha enjoo, não tinha nada, então também tinha um fundo de esperança de ser só sei lá, um problema hormonal, uma disfunção, alguma coisa. Levantei um dia cedinho… Minha mãe acordava umas nove horas, então minha irmã disse, "você levanta cedo, umas sete horas". Era pertinho de casa, dava para ir e voltar andando. "Você vai, volta e não conta nada para ela, porque se der negativo"... Cheguei e ela ainda estava dormindo tranquila e falei, "nossa, ela não vai ficar sabendo de nada". À noite minha irmã chegou com o resultado, e ela disse, "pode contar", "não, não vou contar, não tenho coragem", eu não conseguia, não tinha coragem. Eu também estava meio sem reação, sem saber o que fazer, "eu realmente estou grávida, não tem mais esperança, não tem mais o que fazer, agora é isso mesmo. O que vou fazer da minha vida?". Mas minha irmã foi e contou, minha mãe chorou absurdos, absurdos, absurdos, minha mãe chorou muito, muito, muito. Eu lembro disso e até me arrependo, porque fiz ela chorar bastante… Até me arrependo muito disso, porque ela não merecia. Mas assim, depois de duas horas que passou chorando, ela já estava, "você precisa comer isso", "não, mas a gente precisa comprar esse tipo de roupa para você, porque a outra já não vai caber mais". Então, duas horas depois, ao mesmo tempo que ela estava muito triste e muito brava, ela já estava toda preocupada com todo esse processo da gravidez, comigo, etc. Ela reagiu… Ficou muito triste, mas reagiu muito bem, me apoiou. A questão do estudo, eu falei que não iria mais estudar, e ela falou que não, que eu iria estudar sim. Me ajudou a estudar, me fez ir à escola, foi comigo pegar trabalho, conversar… Todos dias eu ficava, "tô com preguiça, para quê eu vou estudar? Eu já vou ter filho, vou ficar em casa cuidando de filho", e ela, "não, você vai estudar, você vai estudar, você vai estudar", então isso foi uma coisa que também me ajudou muito na vida e que agradeço muito a ela, porque ela não desistiu de mim, não me deixou fazer o que quisesse. Ela impôs o que achava que seria melhor para mim e realmente foi. Agradeço muito por isso.
P/1 – Quantos anos você tinha quando ficou grávida?
R – Eu engravidei com 15 anos e tive com 16.
P/1 – Nessa época, então você parou e teve filha… Filha ou filho?
R – Nessa época, eu tive uma filha, Milena. Semana que vem ela vai completar 21 anos. Eu tive uma filha. Eu não parei de estudar, só fiquei de licença. Na verdade, eu tive ela em setembro, então fiquei quatro meses… Eu estava no segundo ano do ensino médio. Fiquei de setembro até novembro, só esse último trimestre fazendo trabalhos em casa. No outro ano, eu voltei a estudar normalmente, presencial.
P/1 – E qual foi o seu primeiro trabalho?
R – Meu primeiro trabalho foi em uma clínica ortopédica. Eu sempre trabalhei na área da saúde, e meu primeiro trabalho foi como recepcionista em uma clínica ortopédica. Eu ganhava bem pouquinho, mas para mim e para minha filha super dava, dava para ajudar em casa e me manter legal. Daí fui crescendo, sempre trabalhando na área.
P/1 – E depois, como seguiu
sua formação profissional?
R – Depois que saí dessa clínica… Saí dessa clínica e fui trabalhar em outra, também ortopédica, lá da Zona Norte, o pessoal deve até conhecer. Também fui como recepcionista. Depois destas, fui para outra clínica também de recepcionista, e nessa terceira clínica, eu tive a oportunidade de trabalhar com o pessoal do administrativo e começar a fazer outra função, sem ser a recepção. Eu comecei a ajudar o pessoal sem ser a minha função, mas depois eles acabaram me convidando para subir de cargo e trabalhar com eles, que era a área de faturamento, de contas médicas, de contas a pagar e receber, administração no geral. Foi daí que eu decidi fazer a faculdade, porque eu já estava com 22 anos e precisava fazer alguma coisa. Uma que eu não tinha condição financeira e outra que eu não tinha muita noção do que faria. Na verdade, eu tinha uma noção, porque queria fazer biomedicina, mas na época, eu não tinha absolutamente condições de fazer. Eu falava, "ah, se não vou fazer o que eu quero, não vou fazer mais nada, então não vou fazer mais nada", e todo mundo ficava, "não, você tem que fazer alguma coisa". Nessa clínica que me ajudaram, me subiram de cargo e me ensinaram muita coisa. Eu tive duas pessoas maravilhosas que me incentivaram muito na questão da faculdade e profissional que foi a Cristiane Tinhoso e a Irene, são duas pessoas que vou levar no coração aqui até o final da vida. Elas me incentivaram muito, muito, muito com a questão da faculdade e com a diretriz da carreira, "o que você vai fazer? Olha, se você já está aqui fazendo tudo isso, faz administração, que você já vai ter um segmento, já vai dar um rumo para sua vida", "não, eu não quero fazer, eu queria fazer isso",
"mas não dá para você fazer isso. Faz pelo menos aquilo que você pode para ter alguma coisa". Acabei entrando na faculdade de administração com o incentivo delas. Fiz um período de cursinho, fiz o cursinho na USP aliás, aquele cursinho popular da USP. Não passei em vestibular público, não tinha como, não consegui. Mesmo fazendo o cursinho lá da USP, não consegui passar em vestibular público nenhum. A gente estava em uma era do "boom" da informática, que foi nos anos de 2005, 2006. Eu falei, "não quero fazer só administração". Na época, tinha administração com comércio exterior, administração com RH… Falei, "também não quero fazer isso", e aí surgiu uma faculdade que conheci que tinha curso de administração com ênfase em TI, que era uma coisa que eu também gostava
e estava em alta no mercado. Eu pensei que teria um diferencial, "ah, vou ter um diferencial se eu tiver tecnologia da informação junto com administração". Entrei no curso de tecnologia da informação com administração. Fiz três anos… Foi muito difícil de fazer, porque na época eu já pagava a escola para minha filha, ela já era grandinha, já tinha cinco ou seis anos. Eu pagava escola, pagava faculdade, e durante um tempo consegui me manter bem legal, só que no último ano de faculdade eu me embolei, e não consegui pagar. Tive que parar por um ano por dificuldades financeiras e retomei depois, e consegui me formar. Já segui dessa… Depois que consegui fazer faculdade, saí da clínica e fui trabalhar na Cassi, que era Caixa de Assistência do Banco do Brasil, que é tipo o plano de saúde do Banco do Brasil. Era também na área da saúde e na parte administrativa. Trabalhei lá por pouco tempo, porque era temporário. Na época era bom, porque eu não ficava nem três meses desempregada. Era uma época muito boa. Geralmente, nem seguro desemprego eu conseguia pegar, porque a gente conseguia trabalho assim, muito fácil. Depois de lá, fiz estágio, dois estágios. Fiz estágio em uma transportadora, na área de compras, que também me deu… Conheci pessoas maravilhosas lá, foi uma empresa muito legal, que me direcionou também bastante para a vida profissional. E fiz estágio na Câmara de comercialização de energia elétrica, que era na parte de projetos de TI, que é a CCE. Ninguém sabe que temos uma câmara que comercializa energia elétrica. Quando eu falo, as pessoas, "nossa, mas energia elétrica é comercializada assim?", "é, existe um órgão que regulamenta a comercialização da energia". Lá eu fiquei um bom tempo e adorava, porque era de projeto de TI. Só que eu era estagiária em uma… Eu ficava, "meu Deus". Eu trabalhava em uma sala só com homens e adorava, porque os homens para trabalhar, eu achava mais objetivos, sempre achei. Na faculdade, eu só fazia trabalho com homens. Trabalhar com homens, para mim era mais fácil, então era um trabalho que eu gostava muito, mas infelizmente tive que sair, porque foi a época de mudança da lei do estágio. Eu ganhava muito bem, era muito bem remunerada por ser uma estagiária. Na época… Quantos anos atrás isso? 2008… Eu ganhava R$1.500,00 para ser uma estagiária, então era muito dinheiro para uma estagiária. Eu me sentia muito top. Mudaram a lei do estágio, e você só podia trabalhar seis horas, tinha todo… A gente trabalhava em um horário integral normal, como todo funcionário. O estagiário a partir daquela época iria ganhar menos, não iria ter vale refeição, nem vale transporte, teria redução do salário… Eu trabalhava oito… Iria ganhar praticamente metade do meu salário e tive que sair, porque ser estagiária não dava mais, porque eu já tinha atingido um nível de vida que se reduzisse o meu salário, embora sendo o trabalho dos sonhos, eu não conseguiria manter, porque já tinha uma filha, já tinha uma casa, já tinha coisas, já tinha vários boletos a me esperar e não teria como ficar. Eu saí e fui procurar um emprego fixo. Consegui e fui trabalhar na ACD, também no ramo da saúde. Fui para ganhar muito bem, em um cargo muito bom, no setor de compras, que era no que eu tinha feito estágio lá atrás, na transportadora que me deu esse cargo de… Mentira, antes de trabalhar lá, eu trabalhei em uma… Olha como já estou esquecendo. Antes de trabalhar lá, eu trabalhei em um lugar chamado Bem Emergências Médicas. Lá eu fui contratada para ser assistente de compras e foi onde desenvolvi toda aquela parte que consegui ganhar lá atrás no estágio. Fiquei dois anos, e foi uma empresa em que eu evoluí bem. Uma das minhas melhores amigas hoje, eu fiz lá trabalhando. Depois, fui para a ACD e fiquei lá um tempo. Lá foi onde conheci o pai da minha segunda filha, a gente teve um relacionamento. Depois, fui trabalhar em uma distribuidora de medicamentos. Então, tudo isso aí. Lá na ACD, onde conheci o pai da minha filha, eu fui fazer pós-graduação em Inglês. Eu comecei a mexer com compras internacionais e falei, "vou fazer pós-graduação em gestão hospitalar e vou fazer inglês, porque preciso". Comecei e falei, "vou dar um boom na minha carreira". Eu já conhecia bastante gente no mercado, porque estava há um tempo na área, mas a gravidez interrompeu esses nossos planos. Foi daí que mudei para outra área. Foi depois da segunda gravidez que decidi virar empreendedora e fazer o meu trabalho, o meu tempo, tudo isso aí.
P/1 – Como foi essa transição? Como foi o impacto? Como você pensou, colocou na balança? Como foi essa transição?
R – A transição do mundo corporativo para o empreendedorismo foi difícil, porque eu sempre gostei de ter uma… Nunca quis ser funcionária pública, mas achava que você tendo um emprego, você tinha estabilidade. Carteira assinada, vale transporte, plano de saúde, vale refeição… Eu achava isso o máximo, falava, "nossa, isso que quero para minha vida". Meu último salário era bem alto, eu já estava como sênior. Eu não sei se ainda é, mas a nomenclatura antes era estagiário, júnior, pleno e senhor. Eu estava abaixo de gerente e já era uma sênior no meu último trabalho. Eu estava com a minha bebê, minha segunda filha bem pequena. Foi muito difícil, porque eu não tinha… Quando você é sênior, tem um cargo de confiança, você tem que chegar mais cedo, sair mais tarde, tem reunião, tem isso, tem aquilo e tem que fazer e acontecer. Só que pela minha grade de horário, tipo, tinha que entrar oito e sair cinco impreterivelmente, porque tinha que pegar a criança que chegava da creche na perua e não tinha quem fizesse isso por mim. Com a minha primeira filha, consegui manter com a minha mãe, eu morava com a minha mãe, então era mais fácil. Nessa segunda, eu já estava na minha casa, então eu já tinha minhas responsabilidades e não conseguia. Então, com essa questão de horário ficou difícil de eu me doar para a empresa do jeito que ela queria. Nesse embate de horário e disponibilidade a empresa falou, "olha, ou você faz assim ou está fora", eu falei, "não consigo fazer assim agora, porque estou com uma criança de um ano que precisa de mim e infelizmente não posso decidir se vou trabalhar ou cuidar da minha filha, não tem essa". E aí, a gente decidiu encerrar o contrato. Antes de chegar ao acordo de ser demitida e encerrar o contrato, eu tinha feito um curso de manicure porque eu gostava, porque eu fazia minha unha sempre. Eu ia no salão, olhava e falava, "nossa, mas isso não está legal, não gosto". Eu já tinha rodado salões e salões e não gostava das profissionais. Via que elas faziam isso e aquilo e não me agradava. Eu passava três horas do domingo fazendo minha unha para poder ir trabalhar bonitinha na semana, porque eu trabalhava em escritório e todo mundo ia direitinho. Eu passava três horas e ainda saía toda picada, então falei, "vou fazer um curso". Consegui uma bolsa. Do nada, entrei no site e consegui uma bolsa na semana para fazer o curso, todo sábado, das oito às uma. "Nossa, mas você vai ficar todo sábado de oito às uma fazendo curso de manicure para fazer a sua unha?", e eu falei, "ah, eu vou, vou sim", "nossa, mas você é doida", "sou doida não, passa rápido. São oito meses de curso", "nossa, mas você é louca". Alguma coisa falou para eu fazer e eu ia todo sábado bem tranquila fazer esse curso. Eu tinha vontade de morar fora e falei, "se eu for morar fora ainda, tenho curso de manicure, e lá fora, no exterior, manicure ganha super bem, então estou legal. É isso mesmo que vou fazer. Ainda vou fazer minha unha, e se precisar de uma segunda profissão, porque administradora lá fora não ganha nada e não tem valia, vou ser manicure". Tá bom, fiz o curso, e pouco tempo depois que terminei o curso, decidimos encerrar o contrato lá na distribuidora, que foi meu último emprego. Falei, "preciso cuidar da minha filha agora, o que vou fazer?", já desesperada, porque estava morando eu e as meninas, pagava aluguel… Falei, "meu Deus, não posso ficar sem emprego", e comecei a mandar currículo, mandar currículo, currículo, currículo e não estavam chamando. Como eu disse anteriormente, antigamente, com três meses eu estava empregada. Se você pegasse minha carteira de trabalho, o período máximo em registro foi de três meses. O tempo começou a passar e não aparecia nenhuma entrevista. Fui começando a ficar desesperada. Falei, "meu Deus, como vou sustentar essa casa e essas crianças? O que vou fazer?". As pessoas começaram a ver e eu comecei a fazer minha unha a cada três dias, porque não tinha nada para fazer. Estava em casa com as meninas sem nada, não estava trabalhando. Começaram a olhar para minha unha e todo mundo falava, "nossa, que bonita, faz a minha?", a irmã, a tia, a avó, a prima, a amiga… E eu comecei a fazer bem superficial, demorava horrores para fazer. Fazia direitinho, mas demorava horrores para fazer. Comecei, comecei, comecei a fazer e comecei a ganhar um trocado, vamos dizer assim. E todo mundo, "nossa, mas você faz muito bem. Já pensou em trabalhar com isso?", e eu falei, "não, quero um emprego, quero voltar para meu meio", "faz isso, porque você é muito boa". E eu comecei a procurar, procurava emprego, procurava emprego e não achava. Até que um dia eu falei, "não dá mais, o que vou fazer? Preciso de dinheiro". Tinha um pouco da rescisão e um pouco do seguro desemprego, mas mesmo assim, para sustentar duas filha e a casa, não era nada, acabava rapidinho. E aí, uma amiga minha me chamou… Ela tinha uma amiga que tinha salão e me chamou para trabalhar, "olha, você não quer fazer um teste e trabalhar no salão, já que você faz isso, isso e
isso?", e eu falei, "ah, acho que dá", "você fica no salão enquanto a Rafa está na creche, ajusta seus horários", e eu falei, "nossa, é verdade, dá para eu ficar com a Rafa, atender e não preciso sair correndo. Ah, vou fazer sim". Comecei a trabalhar no salão e vi que tinha tempo, que conseguia levar minha filha, buscar minha filha, brincar, não chegava exausta e ainda tinha que fazer tudo. Foi uma coisa que fui percebendo que fazia bem, gostava de fazer, dava retorno e ainda dava tempo para ficar com minhas filhas e principalmente dar uma atenção para minha menor, que precisava mais na época. Continuei a mandar currículo mesmo assim, mas não consegui encontrar emprego. Falei, "não, vou ter que me virar com isso", e foi quando decidi, "não, agora vou fazer isso da vida, não vou mais procurar emprego", porque era bem melhor. Mesmo porque quando eu conseguia uma entrevista ou outra, não era para ganhar o que eu ganhava no cargo que eu tinha anteriormente. Eu falava, "não vou", porque naquela época também tinha a questão de rebaixar a carteira. Para rebaixar a carteira você falava, "não, não vou", tinha aquela questão do horário, ninguém queria aceitar. Quando você falava que tinha filho pequeno, o pessoal também já… Tudo isso me levou a fazer o que faço hoje.
P/1 – E você está feliz com a sua escolha? O que você acha da sua escolha?
R – Ah, hoje estou super feliz com a minha escolha, acho que foi uma boa escolha. É uma coisa que realmente gosto de fazer. Eu tive uma transição desde o começo até agora muito boa. Hoje tenho clientes que são muito mais amigas do que clientes. Eu atendo só uma ou outra cliente que são desconhecidas, o resto são todas… Acabam sendo minhas amigas. Chego na casa delas e sou muito bem recebida, muito bem acolhida. A gente conversa e se eu precisar de alguma coisa, sei que posso contar. Não tem aquela cobrança da empresa, não tem aquela coisa. Depois que minha filha saiu da creche, eu consegui buscar, levar, dar almoço. Ela fica em duas escolas hoje. Não fica em período integral, mas fica de manhã em uma e a tarde em outra. Ela fica na verdade à tarde em um centro de convivência. Eu consigo trabalhar todo esse período, e ainda consigo buscar, levar, dar almoço, brincar, fazer lição. Isso para mim foi o que mais me importou, o que mais valeu a pena. "Ah, você ganha o mesmo que ganhava antes?", não, não ganho o mesmo que ganhava antes. Não tenho plano de saúde, não tenho vale refeição… Atinjo até o valor do salário líquido e às vezes até passo. Assim, a tranquilidade de você ter seu horário, fazer as suas coisas, e ser reconhecido pelo que você faz, é muito bom. Estou super feliz e não me arrependo de ter mudado. Muita gente pergunta se eu não voltaria, e sinceramente, não sei. Não posso falar que não, porque quando o calo aperta, acho que a gente faz bastante coisa. Mas se eu fosse escolher, não voltaria para a área corporativa, não escolheria. Falando do amanhã, se eu voltaria se precisasse, sim. Mas por escolha, não.
P/1 – Você se considera uma mulher empreendedora?
R – Eu me considero uma mulher empreendedora. Por mais que a minha área tenha em qualquer lugar e tenha um monte de gente… O jeito que trabalho hoje, com as clientes que conquistei, do modo que conquistei, me considero uma empreendedora. Eu trabalho hoje somente para mim, não tenho funcionário nenhum, não tenho espaço nenhum, só que ao mesmo tempo tenho clientes de anos, tenho uma clientela fidelíssima, que gosta do meu trabalho, que gosta do que eu faço, e eu consigo me sustentar e sustentar minhas filhas, ter minhas coisas, tanto o básico, quanto o lazer a mais, quanto uma coisa a mais com isso que conquistei, entendeu? Então, me considero uma pessoa empreendedora, sim.
P/1 – O que você acha que é preciso para ser uma empreendedora?
R – O que acho que é preciso para ser empreendedora… Precisa-se de muito esforço, você não pode ter preguiça de trabalhar. Você precisa ir lá e batalhar bastante, e ter uma visão legal do que… Você precisa fazer o que você gosta, precisa se encaixar em uma área que você goste. Não assim… Você tem que pegar uma oportunidade que junte o útil ao agradável, o que você gosta com a oportunidade de mercado, claro. Mas você não pode ser uma empreendedora que a sociedade… Por exemplo, com as paletas mexicanas todo mundo foi um empreendedor, mas um empreendedor moda, vai! Você não pode ser um empreendedor da moda, que você chega lá, todo mundo te dá uma ideia pronta e você vai… Acho que você tem que pegar a ideia, mas colocar uma coisa sua, uma essência sua para você ser empreendedora. Têm muitas manicures no mundo, uma manicure a cada esquina, mas eu peguei a oportunidade com o meu conhecimento e coloquei uma pitadinha do meu, da minha visão, do meu jeito para que isso seja um diferencial. Por que as pessoas querem fazer comigo e não fazer no salão da esquina da casa delas? Você entendeu? Então acho que é isso, você pegar uma oportunidade e ideia e colocar sua essência. Acho que para você empreender, você precisa colocar o seu diferencial naquele produto ou serviço que o mercado já oferece. Acho que esforço, trabalho duro e pôr a sua essência no seu produto ou serviço, acho que isso é ser empreendedor.
P/1 – Você atende a domicílio? Como funciona? Como é seu dia a dia?
R – Vou contar um pouquinho da história de onde cheguei até hoje e do meu dia a dia. Como eu disse, eu comecei em um salão de beleza. Era um salão de bairro de uma conhecida de uma amiga que era até super bom trabalhar lá, eram pessoas super legais, porém não me dava o retorno que eu precisava. A gente estava com uma agenda… Eu precisava ganhar mais. Além de saber trabalhar, eu queria trabalhar mais e precisava trabalhar mais também por questões financeiras. Um dia fucei a internet e tinha um site chamado "Carreira Beauty", que era tipo um LinkedIn da área de beleza, e eu me cadastrei, não sei por qual motivo, mas me cadastrei. Passou um bom tempo, eu trabalhando no salão ainda, mas vendo como iria fazer. E já atendia em casa. Por exemplo, uma irmã ou uma tia que não iam no salão, uma amiga, eu atendia em casa já. Passou um tempo e uma pessoa do Carreira Beauty me ligou falando, "olha, a gente viu seu perfil aqui e estamos com uma oportunidade para te oferecer. A gente pode conversar?", eu até perguntei qual oportunidade, e eles falaram, "como é uma oportunidade de uma ideia nova no mercado, a gente não pode te adiantar, porque se a gente te adiantar, você pode pegar a ideia e não voltar aqui", e falei, "ah, tá bom". Fui até o local conversar com a pessoa e ela falou, "a gente está lançando um aplicativo de mão e pé, um Uber de unhas, onde a pessoa vai chamar, você vai aceitar ou não o serviço e vai lá atender a domicilio". Eu falei, "nossa, que bacana", "você topa?", "topo", "vai ter um monte de treinamento, ter isso e aquilo, está começando x, y e z", e eu falei, "não, tudo bem, eu topo sem problemas". Começamos a fazer o treinamento… O aplicativo se chama Singu e existe até hoje. Singu. Eu fui uma das primeiras manicures que eles tinham, então acompanhei todo o processo de evolução do aplicativo. Era assim, você queria fazer unha, acessava o aplicativo, colocava lá "quero pé e não no endereço x", a manicure que estivesse disponível, aceitava o serviço e ia até a sua casa. Comecei a fazer salão e aplicativo, salão e aplicativo, e teve uma hora que a dona do salão falou assim para mim, "eu não quero… Ou você trabalha para mim ou para os outros", e eu falei, "eu quero trabalhar para os dois, consigo trabalhar para os dois", e ela, "não, para mim não dá". Do aplicativo, eu tinha a visão de que iria render mais, "vou trabalhar com o aplicativo". Eu fiquei muito chateada na época e ela também, porque eram pessoas que a gente gostava bastante. Tinha clientes lá que eu também já gostava bastante. Criamos uma amizade e eu queria continuar, mas infelizmente não deu. Comecei a atender por esse aplicativo, atender, atender, atender e bombava. Só que assim, atendia muito longe… Na época, ganhava-se bastante, porque atingia a classe média alta, o valor que cobrava era bastante, então o valor que eu ganhava era bastante, embora eu trabalhasse muito também. Eu ia de ônibus com tudo, de um lugar ao outro, pegava ônibus daqui e ônibus de lá, mas adorava, porque ficava na rua e não dependia de ninguém, ia lá na cliente, voltava… Peguei essa ideia do negócio para mim, mas como iria fazer para ter cliente? Querendo ou não, eu atendia pelo aplicativo, mas chegava uma ou outra que pedia várias vezes, e a cliente ficava… Como se fala? Esqueci a palavra agora. A cliente ficou fiel ao aplicativo, só que assim, ela pedia e queria que eu fosse. Quando ela pedia pelo aplicativo, queria que eu voltasse na casa dela, só que isso não acontecia, porque o aplicativo não tinha essa dinâmica na época. O aplicativo vendia você fazer sua unha onde quisesse, a hora que quisesse. Ele não vendia a manicura perfeita que você gostava quando e onde você quisesse. Fugia da ideia do aplicativo, então você não conseguia chamar a mesma pessoa. E aí, como começou a crescer muito o serviço e eles começaram a contratar, contratar, tinha gente de muito boa qualidade, como tinha gente também de qualidade inferior, e as clientes começaram a questionar. Quando eu ia na casa de uma cliente falava, "ah, mas você não pode me atender?", e a gente não podia passar o telefone de jeito nenhum, porque se passasse o telefone, a gente era descredenciada. Eu falei, "meu Deus do céu, o que vai acontecer comigo?". Teve uma ideia… Foi muito legal essa ideia, porque lá nos comentários do aplicativo, na loja de aplicativo do celular, a pessoa falou, "a fulana de tal que me atendeu (que era o meu nome, Renata)... Quem me atendeu foi a Renata Ostan, então vamos procurá-la na rede social para sermos atendidas por ela. Alguém gostou?", e choveu comentário, "eu também fui atendida por ela", "eu gostei, eu gostei". Me procuraram na rede social, no meu Facebook, e começaram a me chamar, "você atende fora do Singu?", e daí eu comecei a ter a minha própria clientela, porque aí uma foi ligando para a outra, indicando, indicando, indicando e eu comecei a atender as minhas clientes e as do aplicativo. Passou um tempo e cheguei agora
a atender só minhas clientes, e não trabalho para aplicativo, não trabalho para nada. Foi uma evolução constante e hoje tenho minhas clientes, tenho minha agenda só minha, que consegui ou por divulgação, ou por indicação, ou por outros meios que não sejam o aplicativo.
P/1 – Bela história, muito bacana, bela história. Como você foi se achando, se desenvolvendo… Os seus parceiros chegaram a contribuir em algum momento com as suas filhas, com pensão?
R – Sobre a contribuição dos meus parceiros com as minhas filhas, o meu primeiro… A gente teve um relacionamento, a gente era namorado, não casamos, nem nada. Eu era muito nova na época. Até um certo período, ele dava uma quantia mínima de contribuição. Eu tenho até uma parcela de culpa nisso, porque eu ganhava bem, conseguia me sustentar e dar tudo para ela, então ele falava, "eu tenho isso aqui" e eu falava, "tá bom". Em contrapartida, eu não exigia que ele ficasse, que ele fosse… Ele não era muito, muito pai. Ele era aquele cara, que se eu pedisse, ele ficava, mas não tinha vontade de estar e ver a filha a todo instante. Então, eu tinha minha filha só para mim, vai. Eu crio do meu jeito, eu cuido do meu jeito, eu sustento, então não preciso dividir nada com ninguém. Para mim era ótimo, não tinha encheção de saco. Até que eu tive essa dificuldade financeira com a faculdade e precisei pedir ajuda para ele, "você preciso fazer mais para a sua filha", porque na época eu pagava escola para ela, ela estudava em escola particular, "você precisa fazer mais, porque preciso terminar minha faculdade", e ele falou, "não, não tenho nada a ver com isso". Ela já tinha uns oito ou nove anos e eu falei, "você precisa me ajudar". Fui conversar amigavelmente, ele falou que não tinha como fazer e eu falei, "tá okay". E aí, fui para a justiça e entrei com a ação de alimentos para eu conseguir ter uma ajuda maior para eu conseguir terminar a minha faculdade. Eu tive essa ação de alimentos e ele contribui até hoje… Quer dizer, vai parar de contribuir daqui a alguns dias, porque ela vai fazer 21 anos. Só depois desse período que eu consegui uma contribuição justa e digna, porque eu também deixei de pedir antes. Não foi só culpa dele. Acho que se eu tivesse exigido… Ele deveria ter tido a noção, claro. Deveria ter partido dele a iniciativa, mas como não partiu, eu fui deixando, fui deixando, porque eu também não queria dividir filho, "ah não, se não ele vai querer pegar, se não ele querer fazer isso", e ele a via muito superficialmente um sábado ou um domingo por semana. Pegava às dez e devolvia às quatro, foi assim, não foi um pai presente 100%. Já a minha segunda… A gente teve um namoro e fomos morar juntos. Não casamos, mas fomos morar juntos e montamos toda uma casa. Essa história depois eu gostaria de contar para vocês, a história desse relacionamento acho que é interessante e que vocês vão curtir. Desde a separação… Ela era pequenininha, muito bebê, e ele deu tudo, sempre muito presente, sempre deu tudo. Ele entrou com uma ação, porque quando a gente se separou, ele ficou com medo de não poder ver a criança, mas já entrou com a ação. Na ação que ele entrou, eu já dei a partida e… Com a ação que ele entrou, já iria retirar e eu já entrei em contrapartida e hoje é tudo… Desde sempre foi tudo certinho, tudo na justiça, mas ele nunca deixou de contribuir. Ele dá sempre a mais. Se eu ligar e falar, "ela está precisando de alguma coisa", ele compra. Então, ele é um pai super presente. Ele mora super longe, mas faz muita questão. Ele liga todo dia, nunca teve, "ah, hoje não vou pegar, porque não posso". Desde sempre, ele nunca deixou de pegar, então é um pai extremamente presente. Eu falo às vezes que é presente até demais, porque ele liga todos os dias, quer falar e às vezes ela não quer. Mas ele faz o papel de pai perfeitamente.
P/1 – E você fez cursos no Sebrae? Fez o Mil Mulheres… Me fala um pouco desse percurso.
R – Eu fiz vários cursos no Sebrae. Desde que começou a quarentena… Eu conheço o Sebrae há um tempão já, já fiz uma ação para o Sebrae, já trabalhei para eles em uma ação de rua… Já fiz job, já fiz essas coisas a parte nessa época em que estava desempregada. O Sebrae é uma instituição que eu super admiro. No começo da quarentena, eu… Minha filha fica em uma instituição à tarde, no Centro de Convivência de Infância e Juventude. Nesse centro de Infância e Juventude, eles falaram… Não sei se foi quando fui fazer matrícula, mas eles falaram, "olha, vai ter um curso assim e assim, você não gostaria de fazer?", "lógico", "é o Mil Mulheres, e você ainda tem a oportunidade disso e daquilo", "nossa, super topo". Fiz esse curso do Mil Mulheres que a instituição em que minha filha estuda indicou. Tiveram os cursos da quarentena e eu fiz o de microempreendedor. Semana passada ou há duas semanas eu fiz o de rede social e o de marketing digital, ou marketing só… Nessa quarentena, acho que fiz uns quatro cursos pelo Sebrae, todos online, fora o Mil Mulheres. A maioria com indicação… Vocês me ligaram, o Sebrae me ligou, "quer fazer? Tem essa oportunidade", então isso que eu também achei bacana, porque eles vão atrás… Não é uma coisa que eles te mandam uma newsletter e você, "ah legal, vejo ou não vejo?", não. Eles captam você mesmo para o curso, eles fazem você querer fazer o curso, eles explicam exatamente o que o curso oferece para te incentivar e para você ver se quer fazer aquilo, se está dentro do seu objetivo. Isso que acho mais legal nessa parte. Não é uma coisa de rede social que eles divulgam e você vai atrás se você quiser, não. Eles vão atrás da pessoa e mostram porque seria bacana fazer, e isso é muito legal.
P/1 – E na sua visão, mudou alguma coisa depois que você fez o curso?
R – Na minha visão, mudou sim, mudou bastante coisa depois que fiz o curso. O Mil Mulheres principalmente, porque
ouvimos histórias maravilhosas. Às vezes a gente acha que está no caminho certo e que está fazendo tudo direitinho, e aí ouve a história das pessoas ou experimenta mais de um curso desses que te abre um leque de ideias que você fala… Por exemplo, eu sempre quis ter uma rede social profissional, mas tenho muito medo de rede social, por exemplo por essas opiniões que as pessoas dão que machucam e que influenciam. Esses comentários maldosos… A minha rede social pessoal eu também nem divulgo muito por conta disso. Acho que as pessoas julgam muito. Mas eles colocaram lá ideias…. Eu até já estou trabalhando essa ideia de fazer o profissional. Tenho clientes que vão me ajudar. E mudaram totalmente… Nisso, por exemplo, eles mudaram totalmente a minha visão. O Mil Mulheres… Como eu venho de… Por exemplo, todos os meus amigos e a maior parte da minha família trabalham em empresa, têm um cargo
sim e querendo ou não, meus amigos da faculdade… Querendo ou não, eu saí de um cargo e as pessoas pensam, "nossa, ela virou manicure", elas não pensam assim, "empreendedora", sabe? Eu fui para um meio em que eu me sentia legal, onde as pessoas conheciam minha história e falavam, "nossa, que bacana, que legal", e isso também mudou, porque eu me sentia inferior até certo ponto. Quando fui para o Sebrae, principalmente para o Mil Mulheres… Quando você vê chega lá, conta sua história, faz as coisas e vê o incentivo de você ser uma mulher que está se sustentando sozinha, com um trabalho seu, um meio seu, você fala, "poxa, eu sou uma pessoa muito legal", você não é o que falaram de ter abaixado… Não, você é uma baita mulher que está fazendo uma coisa muito bacana. Então, mudou bastante a minha visão nesses dois quesitos, depois que eu comecei a fazer os cursos do Sebrae.
P/1 – E qual é a sua relação com a Zona Norte?
R – Minha relação com a Zona Norte é da vida, eu nasci… Desde pequena praticamente toda a minha família mora na Zona Norte. Eu cresci na Zona Norte, e a minha relação com ela é da vida mesmo. Quando eu era pequena, eu conhecia só alguns bairros, Lauzane e Cachoeirinha. Hoje, não. Hoje eu conheço a maior parte da Zona Norte. Para mim, a Zona Norte não tem igual, é a melhor zona de São Paulo. É um caso de amor muito antigo. A gente tenta… "Ah, mas se a gente for morar em tal lugar é mais barato", mas não compensa, porque a Zona Norte é nosso berço. A família inteira é dali, a gente cresceu e morou ali o tempo inteiro, então é o berço, é um caso de amor da infância, eterno, um caso de amor da vida, não tem como.
P/1 – Você trabalha também na Zona Norte? Todos os seus clientes são da Zona Norte ou você vai também para outros bairros?
R – Exato, todas as minhas clientes são da Zona Norte. No começo, quando eu atendia pelo aplicativo, eu atendia em qualquer lugar. Já fui para o Morumbi, e em vários lugares eu ia de ônibus. E aí, outra conquista que tive foi essa, de todas as minhas clientes serem da Zona Norte, que é onde eu moro, vou gastar menos de locomoção, atender mais com qualidade. Hoje eu consigo trabalhar de carro também, então para trabalhar na Zona Norte, eu vou e volto de carro. Minhas clientes estão concentradas na Zona Norte. Jardim São Paulo, Vila Guilherme, Casa Verde, Imirim, Santana, Bancários… Tenho clientes um pouco mais afastadas, que são essas clientes minhas muito antigas que não quiseram… Mas que cobro mais por isso, pela distância e locomoção. Porém, o carro chefe, uns 80% das minhas clientes, são da Zona Norte.
P/1 – Você já pensou em unir os
lados de administradora e manicure, e de repente ter um espaço?
R – Na verdade, eu já pensei em unir esse lado administradora a manicure. Eu não pensei em ter um espaço meu, eu gosto de atender a domicílio. Isso que eu faço, gosto de fazer a domicílio. Mas eu já pensei em não ter um espaço meu, mas trabalhar em uma instituição ou trabalhar em alguma comunidade, por exemplo, em um centro de convivência, alguma coisa de comunidade para ajudar. Contar minha história, ou dar palestra e ensinar as pessoas a se virarem. Eu, por exemplo, aprendi a me virar… Eu tive contato com várias pessoas, no aplicativo por exemplo, que diziam, "ah, não consigo trabalhar, eu preciso trabalhar em salão, porque assim meu dinheiro não rende", e eu dizia, "gente, mas isso é tão fácil", porque como eu tenho esse lado administradora, consigo trabalhar meu dinheiro, administrar tempo, dinheiro, recursos, etc. Muita gente quer fazer, sabe trabalhar, mas não tem essa visão, então eu não tenho vontade de montar um espaço, mas de disseminar esse meu conhecimento para ajudar outras pessoas.
P/1 – O que significa para você ser uma mulher empreendedora?
R – O que significa para mim ser uma mulher empreendedora? Significa muita coisa. Significa… Primeiro, que por ser mulher, já é tudo mais difícil. Eu que tive duas filhas para criar e criei praticamente sozinha, sei o quanto é difícil. Então, você ser uma empreendedora, ter essa visão em uma sociedade onde temos a cultura de que o homem que traz dinheiro para casa, o homem que era o chefe da família… Hoje eu ser uma empreendedora, chefe de família, com duas filhas criadas, para mim é sensacional. Ser mulher… Hoje eu sou tudo que quero ser. Sou a mãe, a empresária, sou a mulher, então ser uma mulher empreendedora é ser o que você quiser. Para mim, é isso, você pode ser o que quiser, você trabalha no que quiser, toma conta da sua casa, não depende de terceiros… É difícil, lógico, nem tudo são flores na vida. Você tem que batalhar às vezes muito mais do que se você estivesse na zona de conforto de uma empresa. Mas para mim significa muito, porque eu nunca gostei de depender de ninguém, sempre gostei de batalhar. Têm até umas amigas minhas que ficam rindo, porque eu fico falando, "preciso de um marido rico" brincando, e elas dizem, "duvido que você conseguiria ficar só em casa, nunca que você iria conseguir", porque todo mundo que me conhece sabe que independente de qualquer coisa, eu gosto de trabalhar. Você trabalhar no que gosta, conseguir sustentar sua família e ainda empreender, tendo essa visão igual a que puxei hoje de que saí disso e fui para isso, saí disso e fui para isso, é sensacional, não tem igual. Ser empreendedora é ser o que você quiser.
P/1 – E como é essa administração do dinheiro? Como você faz para se organizar?
R – Eu me organizo com dinheiro da seguinte forma, eu não sou uma pessoa consumista, não tenho muitos gastos, meus custos são mais fixos mesmo. Meus custos fixos são aluguel, compras, água, luz, telefone, e é isso que falo… Primeiro eu tenho que trabalhar muito… Eu me organizo da seguinte forma: a gente vai trabalhar para pagar isso, e depois que pagar isso, a gente pode pensar em alguma outra coisa. Eu me organizo por semana. Eu aprendi isso em podcasts de finanças, na faculdade e na minha demanda também de casa, a me organizar por semana ao invés de organizar por mês. O mês é muito grande, a semana é menor e dá para você ter uma noção. Eu estabeleci metas para mim mesma, "você tem que ganhar x por semana, no mínimo". Como vou atingir essa meta? Vou ligar, vou mandar mensagem, "olha, você não quer fazer hoje?"... Hoje estou em uma fase em que não preciso fazer isso, porque minhas clientes procuram, não preciso ir atrás, mas para atingir minha meta, tenho que fazer x por semana. Na primeira semana, tiro para pagar o aluguel, porque a minha meta é x. Na segunda semana, eu tiro para outra contas, como água, luz, telefone e supermercado. A terceira e quarta semana, eu tiro para lazer, guardar um dinheiro quando dá para guardar… Hoje em dia está dando para guardar, mas por muito tempo não deu. Às duas últimas semanas tiro para lazer, investimento, calçado, um supérfluo que eu queira, ou guardar dinheiro. Me organizo para isso. "Ah, não preciso de nada supérfluo", então na segunda semana já começo a juntar para a semana do outro mês, para poder já deixar o dinheiro do aluguel guardado e deixar uma folga aí. Assim que me organizo. Não tenho custo de cartão de crédito, não sou uma pessoa consumista, de "ah, vamos passar isso no cartão", então tento passar isso para minhas filhas também. Assim que me organizo financeiramente. Dá super para fazer… Questão de, "ah, eu trabalho na rua, o que vou comer?", e nisso tenho problema, porque posso comer uma coisa saudável de R$20,00 ou R$25,00 reais, mas se ganho… Vai, se eu ganhar R$100,00 por dia e gastar de gasolina, material e comida, quanto vou tirar? Já vou tirar pouco. Ou eu belisco alguma coisinha… Às vezes dá uma fome, mas dou uma beliscadinha aqui, vou para casa almoçar. Faço uma logística onde dê para ir almoçar em casa, que a comida já está pronta ou comprada e custa menos… Se eu estiver muito longe, tenho que comer na rua, porque o custo da gasolina não compensa. Tudo isso você tem que pôr no papel lá no fundo para ver se realmente compensa, então é assim que me organizo. Comida, transporte, logística… Não posso atender uma cliente lá no Jardim São Paulo de manhã, ir ali, depois voltar… Não, vamos atender todo mundo no Jardim São Paulo de manhã. Ah, a cliente não pode? Vamos dar uma remanejada para ver como fica bom para todo mundo. Fazer uma logística legal para você não gastar muito. Essa questão da comida, se der para almoçar em casa, almoça, se não, coma uma coisinha mais barata para o seu custo do dia não ser maior do que você ganha, para no final do mês… Igual, a minha meta de x por dia é contando com os custos, então eu não posso fazer x no dia ou x na semana, contando com todos os meus custos, não posso… Tenho uma cliente só no dia. Imagina, se tenho uma só cliente no dia, não posso nem olhar para o lado. Tenho que atender a cliente, voltar para casa e acabou, entendeu? Então tudo isso você tem que pôr no papel para se organizar financeiramente para ver se realmente vale a pena, para saber também quanto você está ganhando, quanto você tira por dia, por mês, por semana, entendeu? Na época que eu trabalhava por aplicativo e as meninas falavam que não conseguiam, elas falavam, "ah, porque comi não sei o que, porque peguei não sei que lá". Elas não conseguiam ter esse discernimento de que cada coisinha que fosse consumida na rua, era menos do que você ganhava no final do mês. Essa foi uma visão que a faculdade e também a vida me trouxeram bastante. O que mais? Eu iria falar uma coisa agora que esqueci. Ah, a questão da logística do custo, tudo você tem que pôr no papel. É uma coisa que faço bastante também e por isso sei quanto gasto de gasolina, quanto gasto de acetona, algodão, de palito, de lixa, de esmalte, tudo isso também tem que estar lá no custo certinho para você saber. "Eu comprei esse esmalte há não sei quanto tempo atrás, não está no custo", não, ele está sim, porque você pagou por ele. Tudo tem que estar lá no custo, quando vai para alguma cliente muito longe, tem que calcular quanto de quilometragem vai gastar de gasolina. Não posso cobrar ao lado da minha casa o mesmo valor que cobro para uma cliente longe, isso não existe, então tudo isso tem que ser calculado para as suas finanças conseguirem tomar um rumo, você saber quanto ganhou e conseguir administrar sua casa e pagar suas contas certinho.
P/1 – No caso de sobrar, o que você gostaria de fazer?
R – Olha, no momento… Na verdade, eu sou apaixonada por viagem, então quando sobra, eu já penso logo em fazer uma viagem. Mas no momento estou tentando me organizar para comprar um imóvel. Então, tudo é guardar, não estou pensando em… Tanto porque estou pensando em comprar um imóvel, quanto porque é época de pandemia. No começo da pandemia, eu consegui ficar bem também porque eu tinha alguma coisa... Pouca coisa guardada, mas eu tinha. Hoje, além de eu pensar em guardar para comprar meu imóvel, eu penso em guardar também porque a gente não sabe o dia de amanhã. Como não estamos saindo muito, não estamos fazendo muita coisa e não podemos fazer, o negócio é guardar. Mas se não fosse guardar, seriam viagens, viagens e viagens.
P/1 – E o que você acha que passou para suas filhas? Que legado você está deixando para elas?
R – Ah, eu passei… Tenho certeza… A primeira coisa que falei que queria deixar para elas e que tenho certeza, porque em todos os lugares que vou, as pessoas falam que deixei, é a educação. Essa é uma coisa que acho que falta muito hoje em dia para os jovens e crianças, os pais não estão conseguindo deixar. Eu graças a Deus consegui deixar. Educação em primeiro lugar. Segundo, esse legado de correr atrás, batalhar, fazer o que você quiser e ser o que você quiser. Esse é outro ponto. Em terceiro, essa organização financeira, eu acho que… Minha filha tem 20 anos agora, tem um bom dinheiro guardado, tem um score maravilhoso, que eu falo que na idade dela, você encontrar um jovem que nunca teve o nome sujo ou que só pensou em gastar dinheiro e gastar dinheiro, é outro legado. A pequena, ainda não sei. Eu não dou todos os brinquedos, não dou todas as coisas para ela, eu digo, "vai juntando dinheiro", e ela tem essa visão também de guardar as coisas, de que a gente tem que ter o dinheiro para conseguir as coisas. Assim, a educação, correr atrás, batalhar pelo que você quer sempre, e a questão financeira. Eu não tive isso, então não fui muito organizada lá atrás e penei também por isso, então hoje quero que elas sigam nessa diretriz de uma finança organizada para a vida ficar menos difícil lá frente, vamos dizer assim. Não que vá ficar mais fácil, e ser okay, mas vai ser menos difícil.
P/1 – A de 21 anos é a…
R – Milena.
P/1 – Milena. O que a Milena está fazendo? A outra, quantos anos tem, qual o nome e o que está fazendo também?
R – A minha filha mais velha, a Milena, vai fazer 21 anos e começou a trabalhar desde os 14, como jovem aprendiz. Ela trabalhou no Sesc como jovem aprendiz e passou por outras duas empresas. Depois, ela foi recepcionista e auxiliar de escritório. No meio tempo, ela fez curso na Etec, fez aquele curso técnico de eventos. Antes dela começar a trabalhar no Sesc, ela já fazia umas coisas para as minhas clientes. Como ela sempre teve a irmã mais nova, ela ia comigo às vezes para o salão. A dona do salão tinha dois filhos mais novos, e ela começou a tomar conta, digamos assim, das crianças da dona do salão. Então, uma cliente precisava, ela olhava, ia lá e ficava com a criança, então começou assim, meio que fazendo um freelance de babá, e depois entrou no Sesc. Eu falo que ela começou a trabalhar com 14 anos, mas começou a trabalhar antes, na verdade. Depois das empresas, ela fez o curso técnico de eventos. Ela também trabalhava no escritório durante a semana, e aos finais de semana, trabalhava em festinhas, começou a tirar fotos, começou a ajudar na decoração… " Ah, vai ter uma ação de marketing de x em uma balada, em um bloquinho ou em um lugar, e precisamos de gente para distribuir folhas e promover", ela ia também. Hoje ela está parada, procurando um escritório para trabalhar, que é com o que ela tem experiência e porque a área de eventos está parada. Mas quando voltarmos ao normal, ela pretende se dedicar a essa área de eventos, que é uma área com a qual ela se identificou bastante, e fazer outros cursos também na área. Ela fez o curso técnico, mas quer fazer o específico. Por exemplo, de cerimonialista de casamento… Ela quer fazer de fotografia também, porque uniu o útil ao agradável, então quer fazer alguns cursos específicos voltados para a área do técnico que ela já tem. No momento, ela está desempregada. A minha outra filha é a Rafaela, tem sete anos, é uma menininha bem inteligente, bem geniosa também, mas é minha companheira assim, a gente faz tudo muito junto. Quando ela não estudava à tarde, ela ia para a maioria dos clientes comigo. A gente chegava, almoçava, fazia lição de casa… Como falei que a maioria das minhas clientes são amigas minhas, às vezes eu não tinha com quem deixar e falava, "olha, vou levar a tiracolo aqui uma ajudante". Até hoje ela fala que tem saudade de trabalhar comigo, porque ela já foi bastante, e agora está em casa, quietinha. Mas é uma super parceira, uma super companheira. Ela tem sete anos, mas é muito, muito, muito companheira, muito inteligente. Sou suspeita para falar.
P/1 – Você começou a falar do pai dela, da Rafaela, do relacionamento.
Você gostaria de falar mais alguma coisa?
R – Sobre o relacionamento com o pai da Rafaela, nós namoramos um tempo e desse tempo… Nós namoramos até bastante tempo, só que assim, a gente era colega de trabalho, então namoramos bastante tempo escondido, porque não sabíamos qual reação a empresa iria ter. A gente se encontrava, saía, tinha um relacionamento fora do nosso mundo, fora da nossa área de trabalho. Nossos familiares também não se conheciam. "Como a gente vai se apresentar para a família, estar em festas de família? Vão surgir publicações na internet, a empresa vai saber, o colega de trabalho vai saber"... Ficamos durante um bom tempo namorando só entre a gente. Foi lindo, maravilhoso e perfeito, porque não tinha ninguém. Até que eu engravidei. A segunda gravidez não desejada de novo, só que eu tomava remédio e engravidei tomando remédio. Eu tinha ido ao ginecologista porque queria trocar o remédio. Na verdade, eu queria colocar diu ou implante que fica não sei quantos anos sem engravidar. Falei para a doutora que queria fazer isso, e ela disse, "então você vai fazer todos os exames primeiro para podermos trocar o método contraceptivo", e falei, "okay". Cheguei no médico um determinado dia, fui fazer o ultrassom, e ele falou, "você está grávida". Foi um choque muito grande para mim, porque foi quando falei que estava em ascensão profissional, fazendo inglês, fazendo pós, tudo certinho. Eu tinha pensado em uma carreira, não deu certo e eu saí totalmente desnorteada do laboratório porque ele disse que eu estava grávida. Pois bem, foi onde fomos conhecer famílias, conhecer realmente as histórias, e decidimos morar juntos. Como falei, até então, nós tínhamos um relacionamento só entre nós dois e só de coisas boas, então a gente não tinha briga, não tinha problema e era perfeito. Até que surgiram os problemas de dividir a vida. Dividir vida é uma coisa muito complicada, principalmente com uma pessoa que você não… Querendo ou não, eu não o conhecia, eu conhecia a parte boa. Vieram os problemas, mas decidimos morar juntos, e okay. Ele é uma pessoa fantástica, mas tem sérios problemas de relacionamento com as pessoas, e eu descobri isso depois. Fomos morar juntos, alugamos casa, planejamos quarto de criança, compramos tudo bonitinho, tudo certinho. Quando fomos morar juntos, nós descobrimos quem éramos de verdade, tanto… Não estou falando que sou uma pessoa perfeita, ambos descobrimos. E aí, não deu certo. A gente estava morando junto e eu ficava, "não, não posso criar outra filha sozinha, não posso, não consigo, pelo amor de Deus". A gente começou a brigar muito, porque a gente era muito diferente e tinha pensamentos muito diferentes em relação à casa, e eu já tinha uma filha mais velha. A gente começou a brigar e ele começou a ter reações que não gostei, principalmente com a minha filha mais velha. Quando estávamos com seis meses morando juntos… Com oito meses morando juntos, a Rafaela, minha mais nova, tinha apenas seis meses e eu decidi me separar. Então a foi muito difícil para mim, porque eu tinha acabado de montar uma casa, onde eu tinha uma pessoa que querendo ou não, me ajudava em tudo, e do nada, por essas brigas constantes na frente da minha filha e principalmente por ele querer brigar com a minha filha, o que eu não permiti de jeito nenhum… Eu não conseguia… Tanto que eu falei assim, "vamos nos separar hoje", e a Rafaela tinha seis meses. Ele falou, "mas eu não tenho para onde ir agora", e eu falei, "não tem problema", peguei umas coisas e fui para a casa da minha mãe, "você tem tanto tempo para sair daqui", e ele falou, "ah, tá bom". Ele ficou um mês na casa onde morávamos e eu fiquei na casa da minha mãe. Depois, ele saiu e eu voltei. Só que assim, eu tinha ido para casa da minha mãe e quando voltei para casa… Nesse mês que ele ficou lá, ele pagou todas as contas, e quando eu voltei para casa, eu falei, "meu Deus, como eu vou fazer isso? Como se administra uma casa sozinha?", eu não tinha noção disso, ainda mais com uma filha de seis meses. E aí, deu tudo certo depois, porque eu ouvi muitas histórias, "nossa, você é louca, você mal acabou de conhecer, mal acabou de casar e já vai se separar? Você é louca. Como vai fazer para criar uma filha sozinha e pagar aluguel?", e eu falei, "não sei, vou ver, Deus sabe como faz, vou sei lá, vou ter uma luz de como vou fazer". E tiveram muitas mulheres que chegaram para mim também e, "nossa, como eu queria ter sua coragem, como você conseguiu tão rápido?", e eu falei, "porque eu queria ser feliz hoje e agora, e tenho princípios que não podem ser ultrapassados. Eu não posso passar por cima dos meus princípios por uma coisa que a sociedade acha errado se separar com seis meses". E todo mundo… Todo mundo, não, mas uma boa parte falou para mim, "nossa, eu queria ter sua coragem, eu queria ter sido como você". Tem gente que me falou isso e está com o marido até hoje porque não conseguiu, porque não teve uma independência financeira, ou não teve coragem de seguir sua vida ou de mudança, porque as pessoas têm muito medo de mudança também. Isso foi uma coisa que eu não tive. Nunca tive medo de lutar, batalhar. O medo que eu falava que tinha na época era de ser infeliz, de viver uma vida que não queria, disso eu tinha medo. Agora, de correr atrás, de mudar de vida, reduzir padrões, etc, para ter liberdade e paz, isso eu nunca tive. Isso que eu queria falar a respeito disso, para as pessoas também irem atrás de serem felizes, não terem medo da mudança e não terem medo da batalha. Nada é fácil, mas vale a pena. Só mais uma coisinha, foi daí, de eu ficar sozinha e ter que lutar e batalhar, foi que… Cuidar da minha filha, ter tempo… Porque antes eu tinha minha mãe e tinha ele, depois eu tinha só minhas filhas. Foi daí que eu resolvi ter tempo para a minha filha e não depender da minha mãe, nem dele. Foi nessa visão que tomei rumo para ser empreendedora, para batalhar pelo meu próprio tempo e pelo meu próprio dinheiro.
P/1 – E como é a relação com a sua mãe? Como sempre foi ou como é hoje?
R – A relação com a minha mãe… A gente sempre teve… A gente é muito unida, sempre fez tudo uma pela outra, mas a gente também briga bastante, porque temos muita divergência de ideias. Por estarmos sempre juntas e por ela ter me ajudado a vida inteira, ela acha que meio que pode tomar partido de algumas coisas que ela não deveria e a gente acaba brigando por causa disso. Querendo ou não ela criou minha filha mais velha, ajudou muito na criação, foi o pai digamos assim, da minha filha mais velha. Então ela acha até hoje que pode dar pitacos que não deveriam ser dados, mas a gente tem um caso de amor e ódio muito legal, porque não fazemos nada uma sem a outra. Eu tenho duas irmãs, mas é sempre ali comigo, eu que levo, "ah, tem que fazer isso", eu que levo, eu que vou fazer isso, eu que vou fazer aquilo, e ela também por mim, sempre faz tudo por mim. Só que às vezes por depender muito uma da outra, a gente dá esse choque, eu falo, ela fala, e às vezes eu também me envolvo em uma coisa do modo de vida dela que não concordo, ela às vezes não concorda… Temos algumas discussões e algumas divergências, mas a relação com ela é maravilhosa, não sei me se eu viveria sem, não consigo imaginar, é muito difícil.
P/1 – O que você acha desse convite para as mulheres empreendedoras contarem sua história nesse projeto de memórias?
R – O projeto é fantástico na minha opinião, é uma coisa assim, muito boa. Mulheres empreendedoras… Acho que as pessoas têm pouca noção disso. Eu mesma… Vou te falar pela minha pessoa mesmo, depois que participei do curso Mil Mulheres foi que tive noção de quantas mulheres existem batalhando por trás de tudo, pensando em tudo, indo lá e conquistando muitas coisas. Esse projeto é maravilhoso, porque a sociedade precisa dessas histórias, a sociedade precisa ver o que a mulher está fazendo, o lugar que a mulher está ocupando e do que a mulher é capaz, então, achei fantástico e super necessário.
P/1 – Tem alguma história da sua vida, de algum momento que você não contou, que não perguntei ou que não lembramos até agora e que você queira contar?
R – Deixa eu ver, deixa eu pensar um pouquinho, espera aí. Acho que não, acho que já falei da carreira, como fiz tudo para chegar até aqui, falei da minha família, das minhas filhas… Ah, uma coisa que eu queria falar, por exemplo, ésobre a maternidade. Eu tive duas filhas, mas foram maternidades completamente diferentes. Uma maternidade adolescente, quando tinha 16 anos, então foi uma maternidade imatura, digamos assim. Hoje, eu fico com a Rafaela e faço tudo com a Rafaela, porque eu sei o quanto perdi lá atrás com a Milena. Não poder levar na escola, não pode buscar, não poder fazer lição de casa, e isso é uma coisa impagável. Hoje, na minha maternidade, por exemplo, eu não deixo… Antes, como era adolescente, "ah, deixa ela aí para gente sair", "deixo". Hoje em dia, eu já penso
diferente. Ela vai comigo, eu procuro um lugar que a gente possa levar… São coisas tão pequenas, mas que fazem tanta diferença na vida da gente. Se formos parar para pensar, perdemos muito tempo da vida com coisas que não… A maturidade traz depois. Estar com os filhos, dividir momentos… Igual, hoje procuramos fazer tudo juntas, as três, para dividirmos… Acho que dividir momentos e estarmos juntas é muito importante. Então, trabalhar menos e estar mais com elas, principalmente com a pequena hoje, é meu objetivo. Antes, eu queria trabalhar, ganhar muito dinheiro, dar tudo, e estava ótimo. Por exemplo, a mais velha estudou em escola particular, tinha todos os brinquedos, tinha isso e aquilo, plano de saúde… A mais nova não tem nada. A mais nova estuda em escola pública, não tem plano de saúde, mas tem meu tempo, coisa que a mais velha não teve. Ela teve tudo, mas não teve o meu tempo, e a mais nova tem. A mais velha está desfrutando agora, mas na infância é muito mais importante.
P/1 – O que você achou de ter participado e de contar a sua história de vida aqui?
R – Eu me senti muito lisonjeada com o convite e com o projeto, de contar a minha história de vida e ela ficar registrada para muitas pessoas, para quem quiser acessar ver… Eu estava conversando com o Renato antes, e ele estava falando que são histórias de pessoas comuns, que não são… Isso é uma coisa encantadora, porque tem muita gente com muita particularidade para contar, que a gente não sabe, não imagina, e que vai fazer diferença na vida de muita gente. Ou uma ou outra que fizer a diferença, já está bom. Então, me senti muito lisonjeada com o convite, muito honrada, muito agradecida por deixar a minha história exposta e tentar fazer a diferença para alguém que vá ouvir, para alguém que vá ler, enfim. Muito obrigada, estou muito honrada com o convite.
P/1 – Obrigada você, por ter compartilhado a sua história com a gente. Adorei, fiquei encantada com a sua história.
P/2 – Foi muito bom te ouvir. A história foi muito interessante, muito obrigada.Recolher