P/1 – Bom Ciça, pra gente começar, queria agradecer por você ter tirado, mais uma vez, um pouquinho do teu tempo para vir contar sua história para o Projeto, para publicação e pra deixar registrado pro AFS. Para começar, eu queria que você falasse e deixasse registrado seu nome completo, o...Continuar leitura
P/1 – Bom Ciça, pra gente começar, queria agradecer por você ter tirado, mais uma vez, um pouquinho do teu tempo para vir contar sua história para o Projeto, para publicação e pra deixar registrado pro AFS. Para começar, eu queria que você falasse e deixasse registrado seu nome completo, onde e quando você nasceu.
R – Então, meu nome é Maria Cecília Roxo Pochettino, eu sou de São Paulo e nasci em 1968.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chama Carlos Eduardo Monteiro de Barros Roxo e a minha mãe Gilda Epinhaus Monteiro de Barros Roxo.
P/1 – E dos avós?
R – Os avós? Por parte de pai: Heloísa Alves Monteiro de Barros Roxo e Eduardo Carlos Monteiro de Barros Roxo. Por parte de mãe Guilherme Pedro Epinhaus e Carmen de Tavares Lacerda Epinhaus.
P/1 – E conta um pouquinho a história da sua família.
R – Ish! Por parte de pai, meu avô carioca, minha avó mineira; meu avô advogado, minha avó dona de casa, que mais? Tiveram quatro filhos, meu pai é o segundo, tem uma tia Luísa, a primeira, depois um tio que se chama Eduardo e a tia Lúcia. Meu avô achava muito importante duas coisas que minha mãe sempre me disse, apesar de ser pai do marido dela. Uma é que os filhos, pelo menos uma vez na vida, compartilhassem quarto pra aprender a dividir. E outra que era importante morar fora em algum momento. Então, eu acho que já tem a ver com a AFS, não foi pelo AFS mas meu avô proporcionou isso aos filhos dele. E, por parte de mãe, meu avô é descendente de alemão, de uma das famílias que construiu Petrópolis (RJ), minha avó é do Paraná, mas ela ficou órfã cedo, ainda no começo da adolescência, então não sei nada sobre a família dela, mas já eram mais quietinhos, saíram muito pouco de Petrópolis na minha lembrança. Meus avós tiveram nove filhos, só que quatro faleceram ou no parto ou assim, pequenininho, com um ano e pouquinho. E minha mãe é a temporã, a mais nova. Mamãe, a primeira vez que viajou pra fora, foi para se casar. Meu pai tinha acabado de se formar em medicina, veio uma bolsa para fazer a especialização na Europa e pediu a mão dela em casamento. Então ela arranjou uma bolsa pra ela mesma, ele teve de ir para a Europa. Mamãe se casou no civil com o meu avô, com o meu pai através do meu avô por meio de procuração e viajou pra Londres, enfim, se casou no religioso lá. Eu acho essa história muito engraçada (risos). E, ao voltarem para o Brasil, meu pai recebeu uma proposta de trabalho em São Paulo e foi para lá. Eu nasci em São Paulo, meus irmãos também e, até agora – bom, meu pai faleceu no final do ano passado – a família toda continua lá, eu que retornei, nunca me senti muito paulista, me sinto mais carioca.
P/1 – E como seus pais se conheceram?
R – Na Igreja. Na Igreja, é isso que eles contam. Mamãe petropolitana e meu pai, como muitos cariocas, passava o verão em Petrópolis. Minha mãe tinha uma amiga, muito amiga dela, e essa amiga namorava o primo do papai. O primo do papai então apresentou meu pai pra minha mãe, programa de final de... Eles saíram da Igreja e se conheceram.
P/1 – Você falou que seu pai era médico, e a tua mãe?
R – Minha mãe é formada em Pedagogia, depois formada em Decoração. Hoje em dia formada também em Estética, acabou exercendo no final, assim, ultimamente, mais estética, mas sempre acompanhou meu pai, não ficou firme em uma profissão.
P/1 – Conta um pouco da tua infância pra gente.
R – Infância... São Paulo, sou paulista, eu adorava era as férias, porque nas férias a gente vinha pro Rio [de Janeiro], ficava na casa da vovó aqui no Rio, e daí tinham meus primos da família do papai, ou então a gente também ia pra Petrópolis, ai tinham muitos primos da família da minha mãe. Eu adorava, adorava. Tem gente que por exemplo não gosta de Natal. Natal pra mim é tudo de bom, cheio de primos e avós e fora estar de férias mesmo, e mar... Cheiro bom, céu estrelado em Petrópolis, e casa. Minha infância foi bem assim: ou uma infância em São Paulo, em prédio e clube, ou, melhor ainda, nas férias, com família aqui ou viajando. Minha mãe e meu pai sempre iam para Paraty (RJ), ou então pra fazenda. Família pra mim era muito importante.
P/1 – Em que bairro de São Paulo você morava?
R – Fica na Nove de Julho com a Groelândia, então fica bem, assim, atrás do meu apartamento, a vista toda pro Jardim Europa, pertinho do Itaim, eu não nunca entendi direito, acho que é Jardim Europa o CEP [Código de Endereçamento Postal], não sei.
P/1 – E como era o dia-a-dia de vocês? Com o que você gostava de brincar? Conta um pouquinho.
R – Bom, eu estudava a tarde, não tenho a menor ideia se acordava cedo ou tarde, já fazia ballet de manhã, ia pra escola, voltava da escola e daí que eu brincava. Brincava muito, tinha uma amiga predileta assim, que eu adorava, que morava no prédio. A gente brincava muito de boneca, muito, adorava. A gente brincava também de coisas da imaginação assim, a gente montava histórias e usava o prédio inteiro, usava o play... O play, naquela época era muito mais simples do que hoje em dia. Hoje em dia tem umas coisas exóticas era uma coisa mais sem nada. Usava as escadas, escada era um lugar que a gente curtia muito, era uma escada boa até (risos). Entre a casa dela e a minha, meu irmão – eu sou a mais velha – meu irmão entrava muito na brincadeira. Final de semana era o clube, ela também era do mesmo clube, chamado Harmonia São Paulo. Daí esse mundo se ampliava. Então era uma coisa muito de imaginação, acho que até a boneca virava que era só um símbolo. A gente gostava de brincar de histórias, de gente.
P/1 – E conta pra gente suas primeiras lembranças escolares, você estudava ali por perto?
R – Razoavelmente perto. Tinha de ir de carro de qualquer forma, razoavelmente perto. Minha primeira lembrança escolar era tipo maternal, uma escola chamada Bem me Quer, não sei nem se ainda existe. Eu não gostava. Eu não gostava do cheiro. Eu sou cozinheira, já desde aquela época os aromas eram importantes. Eu não gostava do cheiro. Tinha um cheiro meio de tinta guache com terra úmida e mofo. Aquele negócio não era legal, não gostava. Depois mudei de escola, mudei na época – hoje em dia chama Ensino Fundamental né? – mudei pro Lourenço Castanho, daí melhorou um pouquinho, mas mesmo assim não adorava escola. Era muito tímida, então escola era um lugar assustado. Eu percebia o esforço dos professores, mas não era acolhedor. Acho que São Paulo, São Paulo era, sei lá, estudar de tarde, sabe, frio, sei lá o clima... Era um frio com vento com, não sei, não gostava. Depois mudei de novo, na época do Ginásio, não mudava porque queria, mudava porque terminava: ia até o 4º primário, depois até a 8ª série, aí já no Ginásio eu estudei no Morumbi, no Nossa Senhora do Morumbi. Nossa Senhora do Morumbi pra mim era como se fosse uma fazenda, era enorme. Pude fazer aula de ginástica, a gente corria ao redor, tinha o prédio, mas tinha mais do que o prédio, daí eu adorava. Achava muito interessante, muito legal. Não gostava era da viagem, porque ir ao o Morumbi e voltar, hoje em dia, não deve ser possível pelo trânsito, mas naquela época já era um trânsito. Daí todo dia tinha dor de cabeça, todo dia. Tinha a ver acho que com a fumaça do carro, dos carros. Eu gostava da escola, eu gostava de esporte. E depois é Colegial, acho que foi a época em que eu entrei no primeiro colegial com 14 anos, daí eu descobri o mundo. Sabe, eu era muito tímida, daí eu descobri, fiquei à vontade, gostava dos meus colegas, fazia teatro, fazia rádio na escola, foi assim que eu conheci o AFS, através de um namorado que tinha feito AFS.
P/1 – Eu já vou te perguntar mais um pouquinho da sua história, mas eu queria saber antes, quando você era menor você falou dessa questão dos cheiros, tudo, mas o que você queria ser quando crescesse, passava alguma coisa pela tua cabeça?
R – Não. O que eu queria ser quando crescer? Sabe que não. Eu não pensava muito, não tinha uma ideia formada sobre o que eu queria ser quando crescer. Mas eu olhava as pessoas e suas profissões, eu achava ser professora incrível, mas achava que devia ser a coisa mais difícil, muito difícil. Bom, hoje em dia eu ensino (risos) então é interessante. Eu achava qualquer profissão interessante, intrigante. As moças que trabalhavam na casa da mamãe eu olhava e achava já assim, a cozinheira da minha mãe incrível, como é que ela sabe tudo aquilo? Como é que ela sabe cozinhar tudo aquilo? Como é que ela sabe? A outra moça que fazia limpeza, como é que ela sabe limpar, né? Como é que as roupas aparecem assim tão perfeitas? Como é que ela se lembra de colocar na minha gaveta daquele jeitinho? Meu pai era médico, cirurgião plástico, de vez em quando, eu ia no hospital com ele e também achava incrível a coragem que ele tinha, imagina, pra operar uma pessoa. Lá em casa tinha um monte de livros sobre cirurgia plástica e muitos livros de queimadura e eu tinha orgulho assim do meu pai de poder ajudar uma pessoa que se queimou e eu sabia como era uma pessoa queimada porque eu ficava olhando os livros dele e eventualmente ele acabava ficando mais amigo de um cliente ou de outro. Tinha uma menina de sete anos que se queimou, sei lá, muito, muito, a menina ficou que ela não podia nem girar o pescoço assim, aquilo era impressionante e eu via. Daí a secretária do meu pai, acabou virando enfermeira da menina né, porque ela precisava de uma atenção mais intensa e eu reparava como que o carinho era importante. Ela ainda não estava bem, ela teve que fazer muitas operações, mas aquele carinho já deixava ela alegre. Uma menina que, apesar de ter passado uma queimadura que desfigurou, ela era alegre e a mãe dela ria. Eu sempre achei que médica e cirurgiã plástica não ia dar pra ser (risos), não acreditava que eu tivesse essa possibilidade, mas sempre admirei.
P/1 – E aí, conta pra gente agora, algum professor marcou sua trajetória escolar? Quais foram as matérias que você ia mais se identificando?
R – Ah, vários professores me marcaram, vários. Duas pessoas em particular, uma no Ginásio, uma professora que também era coordenadora, uma professora de História, acho que menos pela matéria e mais pelo tipo de autoridade assim, como ela contornava situações, mais pelo lado dela coordenadora. E uma professora no Colegial, chamava Colegial, que era minha professora de Português. E Português, que era uma matéria que eu achava, sei lá, tinha vergonha, sabe de ler a redação na frente dos outros colegas? Muitas vezes, eu tinha feito a lição, mas eu falava que não tinha feito só pra não ser obrigada a ler. Essa professora, ela abriu assim o mundo da literatura. Era apaixonante, Português passou a ser apaixonante, passou a não ser um Português carrasco e sim algo que eu ficava com vontade de saber mais e saber mais e saber mais. E depois, nos outros anos seguintes, eu fazia as minhas aulas e fazia as aulas dos outros alunos, eu continuava fazendo aula com ela (risos), porque era bom, a aula dela era boa. E daí foi quando eu comecei a gostar mais de São Paulo, porque bem uma época em que começou, sei lá, a matéria falava sobre a década de 20, sobre modernidade e São Paulo tinha tudo a ver com isso e eu passei a curtir a cidade de uma maneira adorável.
P/1 – E você também contou pra gente que já nessa fase da juventude você começou a se envolver com teatro, começou a se envolver mais com a escola, então conta como era pra uma pessoa jovem na época, o que se fazia de lazer, o que você gostava de fazer?
R – Lazer. É, pois é, como criança, lazer tinha o clube, o clube, eventualmente, o parque com meus pais, meus pais até que saíam bastante conosco. Agora, como jovem, [tinha] a cidade inteira! De fato, fazer teatro e ir muito ao teatro e muito ao cinema. A gente fazia festa com meus amigos todos os finais de semana, tendo filho adolescente hoje eu vejo até diferente, era muito mais, a gente se via porque a gente queria e daí as festas aconteciam, não precisava ser uma festona, entendeu? Rolava cerveja, nem bebia, mas rolava não sei nem quem é que comprava a cerveja. A gente comprava tudo, a gente fazia tudo. A gente fazia música, a gente fazia – não tocar, a gente arranjava o som – os pais sumiam, os pais das casas sumiam, não tinha pai, sei lá, sumiam, deviam estar no quarto e para a grande diversão eram as pessoas. As pessoas, as histórias das pessoas, a vida cultural da cidade.
P/1 – E nessa fase você começou a namorar e assim conheceu o AFS?
R – Essa fase, bom, enfim, eu comecei a namorar. Meu segundo namorado é que me apresentou o AFS, mas a gente já fazia junto teatro, já fazia teatro de boneco pra adulto, então [a gente tinha] uma vida bastante intensa. Quando ele me apresentou o AFS, eu achei a ideia interessantíssima e me inscrevi e fiz a prova, a prova tinham várias fases, tinha muita gente. Não era só porque você queria ir que você se inscrevia e aí era quase certo. Tinham, sei lá, 250 pessoas prestando pra uma vaga pra intercambista do AFS. Mesmo passando, você trabalhava o ano inteiro até ir e, em qualquer momento, podiam dizer que você não era mais bom o suficiente. Era intenso, era muito agradável. Bom, eu fazia teatro, então a gente inventava várias esquetes do que fazer, como receber os estrangeiros. Participava mesmo ajudando no dia-a-dia do voluntariado do comitê.
P/1 – Você já se envolveu, já se tornou voluntária, desde o início, desde antes de viajar?
R – Desde antes de ir, funcionava dessa forma e aquilo era um mundo deslumbrante. Imagina, poder conviver com pessoas de vários países, nem me interessava muito qual país, mas sim vários. Foram fazer a entrevista na minha casa pra conhecer, como era nosso modo de vida, porque a gente escrevia sobre a gente mas também o voluntário escrevia sobre nós pra poderem fazer um perfil mais completo. Já tinha uma que tinha vindo dos Estados Unidos, o outro do Canadá, pessoas de países diferentes, aí jantaram conosco, essa foi a primeira experiência. Depois, nós recebemos um menino alemão, que é meu amigo até hoje. Não recebi na minha casa não, o comitê recebeu um rapaz alemão, uma nova iorquina, deve ter tido mais, mas eu me lembro bem do Matias. Pra mim, como era tudo novidade eu misturava os voluntários com os AFSers que estavam ali, até eu ir embora, pra mim, tinha tudo a mesma importância, era tudo o mesmo pacote.
P/1 – E Ciça, você falou que seu avô tinha essa coisa de proporcionar seus filhos a viajarem. O seu pai, ele estudou fora, mas ele chegou a fazer intercâmbio antes?
R – Não tinha intercâmbio, não era intercambio, não tem nada a ver assim com a experiência total do AFS. Meu pai morou fora, meu avô proporcionou para família morar fora durante um tempo. A maior parte da família retornou, meu pai continuou estudando em uma escola interno. Então, pro meu pai, quando eu surgi com essa ideia do AFS – não foi meu pai que surgiu, fui eu que surgi com a ideia –, ele comprou imediatamente, ele achou ótimo, a minha mãe que ficou mais assustada assim, meu pai achou incrível, só que minha mãe, ela não ficava reclamando, mas minha mãe sofreu. Quando eu viajei, minha mãe sofreu e meu pai acho que não, acho que ele estava achando tudo fantástico!
P/1 – E como que foi então a tua partida? A chegada?
R – Ah, cheia de expectativas a partida. Quando eu recebi o papel da família, foi uma euforia mesmo. Hoje em dia, é tudo pela internet, chega uma foto perfeita etc. Os papéis chegaram via correio, então ler cada coisa, tentar descobrir como eles eram por cada linha era altamente excitante. E as fotos! Ao invés deles me mandarem fotos mesmo, eles me mandaram um papel que era uma xerox das fotos. Eu tinha mandado acho que um calhamaço de fotos mesmo e eles mandaram uma xerox com as fotos em preto e branco, então não deu pra entender direito. Quando eu cheguei em São Francisco e não fui a única. Uma leva de AFSers chegando no aeroporto de São Francisco, eu falei: “Gente como vai ser agora pra eu saber quem é minha família?” Primeira vez viajando pra fora, então eu fiquei procurando e eu estava procurando uma menina morena. Minha irmã era muito loira (risos) acho que foi o primeiro choque tipo “Como assim você é loira? Na foto estava morena!” mas era por causa do xerox em preto e branco, deu a impressão de que ela era morena. Cheguei na família, meu pai e minha irmã foram me buscar. De novo, o cheiro, o cheiro dos Estados Unidos que era diferente. Primeiro, em CW Post quando a gente chegava em Nova Iorque. O cheiro da comida, o gosto da comida. Depois, chegando em São Francisco novamente, daí um cheiro diferente. Aliás eu gostei muito mais, adorei São Francisco. E, chegando em casa, a minha casa ficava em um bairro excelente de São Francisco, Pacific Heights é o nome, tudo era tão lindo, tão interessante, tão maravilhoso! O cheiro também do perfume da minha mãe, a minha mãe me lembrava minha tia brasileira. Eu estava pronta pra todas as novidades, eu não tinha uma ideia formatada sabe? A não ser que eu achava que minha irmã era morena e minha irmã era loira (risos). Eu não tinha nada. Me diziam que São Francisco era incrível, que tinha muita sorte de cair em São Francisco, mas eu não sabia o que queria dizer “incrível”. E era incrível mesmo, era realmente incrível! São Francisco é demais, minha escola era maravilhosa, eram poucos alunos, sei lá, uns 350 alunos. Eu gostava de artes plásticas, tinham vários cursos de artes plásticas. Eu podia fazer, cerâmica, fabric, que chama fabrics, trabalhar com tecido, trabalhar com escultura, trabalhar com pintura, desenho, fotografia. A minha escola era dividida em dois prédios e tinha uma rua que passava entre esses dois prédios. E um dia eu ia pro outro prédio pro anexo, passei pelo que era o auditório e estavam fazendo um ensaio do grupo de música, tinha aula de Jazz e estava tocando Tom Jobim. Eu: “Ah!” (risos). Eu me senti assim tipo: “Que maravilha!”, acho que teve um sentimento de que valorizam o que é brasileiro e eu me senti em casa e, ao mesmo tempo: “Nossa, como tocam bem! Que incrível como tocam bem na escola, tocam tão bem na escola!” Poder escolher qual matéria eu ia fazer, o sistema de ensino é totalmente diferente, você escolhe. Pra mim, tudo era diferente, isso já era alegre. Não que eu não gostasse daqui, é que, quando eu era pequena, eu gostava de brincar de me imaginar como uma mosquinha que visitava as casas, visitava a casa da minha amiga. Quando eu ia dormir na casa de alguma amiga, eu ficava reparando como era o café da manhã, como era o sistema da casa, como que funcionava a hora de dormir, como que era a relação da minha amiga com os pais, com os irmãos... Como funcionavam as casas. E eu ficava imaginando que legal que devia ser tipo uma mosquinha pra ninguém perceber que eu estava ali, só poder observar. Então, o AFS me proporcionou não ser uma mosquinha, mas imergir em uma cultura totalmente diferente dentro de escola, dentro de casa, no AFS é como se você fosse parte da família, você é recebido pra fazer parte da família e me receberam assim, realmente. E além do que minha família aqui é de origem católica e lá era de origem judaica, eu achei o máximo. Achei assim: “que oportunidade!”, né?
P/1 – E o que foi difícil Ciça?
R – O que que foi difícil? Ah, muita coisa assim. A língua! Eu não sabia inglês quando eu fui, não sabia nada de inglês. Tive inglês de escola só e inglês de escola era o que? Noventa minutos por semana? Nada, né. Então, primeiro dia de aula de Inglês, de Inglês a matéria, o livro que eu tinha de ler era Odisseia, em inglês, tipo, “pá”! E nos Estados Unidos eles têm costume de dar muito mais volume de leitura, pelo menos em comparação com a minha escola da época. Eu fiquei desesperada! Falei: “Gente, como é que eu vou conseguir?” (risos) “Eu nem sei inglês, como é que eu vou ler?” Era pra ler 80 páginas pro dia seguinte? Eu mantinha um caderno – que eu tenho até hoje, mas está lá em São Paulo – eu escrevi assim: “Eu não vou conseguir”, não que eu desejasse não conseguir, mas eu sentia que eu não ia conseguir e eu resolvi escrever. Daí no final do ano eu fui ler de novo, aí fiquei super feliz, porque basicamente tudo que eu achava que não ia conseguir, eu consegui! Eu consegui falar inglês, eu consegui ler mais rápido, eu consegui um monte de coisas. Então, foi a língua pra escola, porque em casa eu achava que eles tinham paciência, eu não me sentia oprimida pela língua. Eu achava pelo contrário, que a gente estava treinando por causa de mímica, eu fiquei boa em mímica. Difícil, quando a minha irmã... Um dia eu estava até escrevendo uma carta sentada no chão do meu quarto, minha irmã chegou no meu quarto e deixou cair uma carta que ela me escreveu, assim, pá, no meu colo. Eu olhei pra cara dela e ela falou tipo: “Lê!” Ela foi pro quarto dela, peguei, li a carta. Ela dizia que estava muito chateada comigo, muito muito triste comigo e que se eu não entendesse porquê, eu que fosse lá perguntar. Eu não entendi porque, porque não tinha visto que eu tinha feito nada, eu estava feliz, achei que ela estava feliz também, não entendi. Cheguei no quarto dela e falei: “Bom, eu li e vim conversar com você, vim perguntar que que tá acontecendo. Eu realmente não sei o que tá acontecendo”, daí ela falou pra mim: “Você não sabe o que tá acontecendo? Isso é pior ainda!” E parou de falar comigo. Foi a primeira vez na minha vida que alguém parou de falar comigo. Eu nunca tinha passado por uma situação dessas e nunca tinha visto ninguém parar de falar com ninguém, graças a Deus. Meus pais nunca tinham parado de falar com ninguém. Daí eu imediatamente me senti muito desconfortável na casa, porque afinal de contas a casa era dela. Sabe, ficou muito (óbvio?). É como se tivessem tirado, colocado um holofote na realidade. A realidade é que a casa é dela, a família é dela e ela tá tão chateada comigo que ela nem me fala o que que é. Mas eu me senti muito sem ter como trabalhar a situação, né. Parou de falar comigo, só que nesse dia seguinte, ela e meu pai iam pro Havaí, então eu fiquei com a minha mãe em casa e esse tempo que a gente ficou em casa junto foi excelente. A gente conversou, eu contei pra ela o que estava acontecendo, eu me lembro que a minha mãe ficou diferente, ficou muito à vontade e a gente começou a desenvolver uma relação mais legal eu e minha mãe. E minha irmã estava com problemas, ela tinha alguma coisa, algumas dores aqui, embaixo do peito e parou de ir pra escola. Ela estava passando por um momento difícil, eu sabia, mas eu ao contrário estava ficando cheia de amigos. Estava cheia de amigos, acho que era mais ou menos isso, só que não era eu, entendeu?. O que eu tinha feito é que eu estava cheia de amigos, mas talvez eu acho que não tivesse dando [atenção] pra ela, sei lá, até hoje eu não sei, ela nunca me disse. Quando ela chegou do Havaí, ela chegou bem, daí ela voltou a falar comigo e eu não sabia o que que tinha acontecido, comecei a falar com ela, só que eu nunca mais confiei. Isso foi difícil. Depois ela parou de falar comigo de novo, mas daí eu já estava tipo: “Ah, não quer falar comigo daí tudo bem, problema seu, (risos), mas se quiser falar comigo de novo eu falo”. Ela parou mesmo de ir, formaram ela pelas notas. Ela era excelente aluna, passaram ela de ano. Não sei como funcionava, mas ela parou de ir na escola. Eu quis mudar de família, mas não aconteceu, não aconteceu. Até hoje, hoje por exemplo eu falo com meus pais, falo com meus outros irmãos que nem moravam em casa, uma era mais velha, fazia faculdade de medicina em Stanford, o outro estava morando na Espanha quando eu estava lá. Hoje em dia a gente se fala, mas ela não. Sei lá, enfim.
P/1 – E Ciça, quais são seus maiores aprendizados dessa vivência positiva e dessas dificuldades também que você viveu?
R – Olha, acho que o maior aprendizado foi – isso eu já tive desde o início – eu aprendi que eu escolhia muito. Só se fosse excelente é que eu ia gastar meu tempo com algo. Só se eu achasse aquela pessoa excelente que eu ia gastar meu tempo com ela, achar que ia valer a pena, sentar, conversar, bater um papo, desenvolver algum tipo de amizade. Eu não me achava esnobe não, eu achava que eu era super legal (risos), só que morando fora, eu precisei... Qualquer atenção que me dessem era mais que válido. Eu comecei a valorizar a atenção que me davam, que qualquer um me dava, e isso foi primeiro chocante, falei: “Meu Deus”, mas eu era esnobe, isso foi chocante, foi duro. E, ao mesmo tempo, falar: “Pô, que legal poder não ser” e, fora isso, acho que isso marcou bastante, mas fora isso acho que eu me senti depois mais capaz. Mais capaz de aprender, eu aprendi inglês e eu não fui na escola, eu não fui com aulas de inglês, eu aprendi porque eu aprendi. Várias dificuldades eu ultrapassei, eu voltei mais forte. E aprendi – acho que isso é até um desejo do AFS, um dos motivos do AFS – mas eu aprendi que o diferente, ele é bacana. O diferente é muito legal, não precisa ser igual a mim e eu também não preciso ser igual ao outro. Não é uma questão de ser igual, o mundo é vasto. É como se abrisse uma janela, uma enorme janela. E o AFS lá não tinha só os americanos. Os americanos eram meu mundo do dia-a-dia, então eu aprendi muito sobre os californianos de São Francisco, a comunidade com quem eu convivi, eu convivi profundamente. Mas a gente tinha o comitê e nem ficava na cidade de São Francisco, ficava na Bay Area, eu que tinha de viajar, eles todos moravam pra lá, eu era a única em São Francisco. Eram uns 30 e poucos de mais de 20 países. Isso era extraordinário. Extraordinário a gente, mesmo tão diferentes, ter experiências muito parecidas. A gente se conversava, não tinha WhatsApp, não tinha internet, não tinha nada, a gente tinha de se ver mesmo pra trocar ou então escrever carta. Eu escrevia muita carta, pra eles não, estavam pertinho, tinha de se ver. A gente tinha experiências de alguma forma parecidas. Tinha todos os tipos de escola, tinham escolas gigantescas. Isso a gente fez também, a gente trocou escolas. A gente que teve essa ideia e a gente que fez, então na minha escola várias pessoas toparam receber AFSers por um final de semana, daí eu fui na outra escola. Eu tive várias experiências de como as coisas podem ser diferentes.
P/1 – E como que era? Você falou agora um pouquinho do comitê de lá, como foram essas amizades com os voluntários?
R – Os voluntários eram adultos. Aqui no comitê de São Paulo, os voluntários éramos nós, éramos nós. Eu achava que eles estavam muito separado, quando a gente se juntava, os adultos tinham uma relação entre eles e nós, jovens, a gente tinha a nossa relação. A impressão que dava é que eles estavam tentando dizer como é que se faz as coisas, era como se fosse algo mais prático: “É assim que se faz, isso pode, isso não pode, deixa eu ver se você tá bem”, como se fosse um professor, de cima pra baixo. Por exemplo, numa das festas pediram pra gente ajudar e eu fui tentar ajudar a fazer caipirinha. Nossa! A senhora e o senhor americano eles ficaram: “Não, não pode!”, fizeram uma caipirinha batendo no liquidificador, imagina, eu fiquei: “Hã! Mas você tá fazendo caipirinha, do meu país, eu sei fazer, eu não preciso beber”, na verdade, naquela época eu não bebia, ele não podia nem, tipo, tocar no álcool, eu fiquei achando horrível. O cara passou gelo no liquidificador pra fazer caipirinha, horrível. Mas o bacana era a quantidade de AFSers, uma quantidade muito grande, eu nunca vi tanto junto, num comitê só. E, hoje em dia, a gente tem um grupo no Facebook onde não tão todos, mas estão vários e eu recentemente, em julho, voltei – sou casada com um italiano – então a gente foi à Itália e eu me encontrei com a italiana que morava em São Francisco, no comitê de São Francisco, e a gente se viu, daí tinha a família dela, na casa dela, família dela, a minha, a gente conversando, meu filho estava pra ir, meu filho ia viajar em agosto e a filha dela ficou animada com isso, ao me ver, e saber do Pedro. A filha dela agora acho que vai pra Austrália, ela tá em processo de ir pra Austrália pelo AFS. Então é como se a gente tivesse se visto ontem e você sai dessa experiência com amigo no mundo inteiro, então tinha gente do Caribe, do Japão, da América Latina quase toda. Eu fui visitar uma amiga em Cusco, que morava em Cusco, a outra perto de Trujillo, no norte do Peru, sei lá, Europa, é tão bacana. E hoje em dia ver eles, como é que eles tão, a gente tem uma linguagem que nem amizade de criança? Sabe amizade de criança que você sabe tudo sobre aquela pessoa, é uma amizade de intimidade, não? Você era muito verdadeiro, muito sem barreira. Amizade de adulto é uma excelente amizade mas não é tão, sei lá, não é tão íntima, né, amizade de AFS é íntima também. Acho que tem uma conexão forte, forte demais.
P/1 – Como que foi agora, conta como é que foi seu retorno?
R – Retorno, retorno. Pra retornar ao Estados Unidos tinha uma prática que chamava bustrip, aquele grupo inteiro viajava durante dez dias pela Califórnia. A gente subiu pra Sacramento, descemos até São Diego antes de voltar cada um pro seu país. Isso era um preparatório. Eu não estava entendendo muito como é que eu estava sendo preparada, eu estava entendendo que eu estava ficando cada vez mais amiga daquelas pessoas, porque a gente passou dez dias juntos. Foi muito, muito bom. Quando eu cheguei aqui, daí era um choque, é um choque porque a gente muda muito, não tem ninguém que não vai mudar. Você pode não perceber e em geral não percebe, porque não tem mais uma forma, quando você vai pra onde ninguém te conhece, não precisa nem ser pro exterior, mas ninguém te conhece daí você vai sendo você mas você vai desenvolvendo umas partes que você tinha mas não tá no formato, não tá no molde, você volta e o molde tá lá. Não encaixa mais, não encaixa. Então é estranho, e tudo que eu pensava da minha família, do Brasil e até de São Paulo, você começa a perceber, mudou ou eu que estava assim, fantasiando um pouco porque tá longe e dá muita saudade? Voltei também direto pra fazer cursinho e prestar vestibular, então intenso né, um momento intenso da vida. O comitê de São Paulo tinha acabado por algum motivo, tinha meio que desaparecido, o comitê de São Paulo, então eu e um colega meu que também viajou comigo, por um acaso a gente era do mesmo comitê também nos Estados Unidos (risos), que é uma coincidência, a gente teve de assumir o comitê inteiro, a gente teve de assumir a presidência. Imagina, 18 anos recém feitos, acabou de voltar de uma viagem tão forte, uma experiência muito intensa, tendo de já pensar no futuro, prestando vestibular, cada um assumiu também ser conselheiro de um estrangeiro, foi... Sabe quando você tá no mar, vem a onda e te pega e você embola na onda, na areia? Foi mais ou menos assim (risos) eu só não afoguei mas foi quase.
P/1 – E como foi assumir o comitê?
R – Ah! Olha, eu nem me lembro direito. A gente fazia o que a gente tinha de fazer. Era tanta demanda da vida, que eu acho que a gente assumiu, a gente fez o que a gente tinha de fazer, a gente enviou o que a gente tinha de enviar. Sabe que eu nem me lembro pra quem a gente entregou o comitê. Eu fui conselheira de uma menina do Caribe que teve problemas, eu tive de mudar ela de família, daí quando finalmente eu mudei ela de família, sabe, estava resolvido, foi tipo “Ah! Eu saí”. Porque não dava, era muito, é muita responsabilidade, não, mas eu não me lembro quem ficou no comitê, nem me lembro.
P/1 – E você continuou contribuindo de alguma forma?
R – Daí eu parei. Naquele momento, eu comecei a viver a minha vida, eu passei pra UNICAMP [Universidade Estadual de Campinas], então fui morar em Campinas. Morava entre Campinas e São Paulo porque fazia peça de teatro, eu apresentava toda quinta, sexta, sábado e domingo. Eu ficava Campinas – São Paulo, Campinas – São Paulo, Campinas – São Paulo. Ganhei uma bolsa, fui estudar nos Estados Unidos, voltei, vim morar no Rio de Janeiro e comecei a levar minha vida aqui também. O AFS deu uma desaparecida, não, tipo, cadê o AFS? Sumiu o AFS, nem pensava mais nisso. Tive filho, minha vida profissional começou a entrar assim, a ter uma rotina maior e me convidaram, não sei como, arranjaram meu e-mail, não sei como, me convidaram pra um evento, aqui no Rio de Janeiro, do AFS, ia ser uma grande festa do AFS, acho que era 45 anos do AFS. Agora é 60, será que era 45? Não me lembro. 50 anos do AFS! Daí assim, até o meu namorado foi, ele veio, veio de São Paulo (risos) e na verdade a única pessoa que eu reconheci era ele, eu achei que ia ver alguém, puf, não vi ninguém. Do meu ano mesmo tinham três gatos pingados, que eu não reconheci ninguém. E daí me deu aquela paixão de novo né, tipo, “Gente o AFS!”. Daí eu procurei, acho, o AFS e comecei a, em 2007, frequentar as reuniões de comitê do Rio [de Janeiro] e a me envolver com o AFS a partir de então.
P/1 – Deixa eu só te perguntar um pouquinho como que foi essa nova experiência nos Estados Unidos agora já que já passou na faculdade, aí você foi pra Vermont não é?
R – Isso, eu ganhei essa bolsa pra estudar em Bennington, em Vermont, e tinha expectativa, de morar nos Estados Unidos de novo, só que não tem nada a ver,
você [está] mais maduro, então eu era Maria, Maria Roxo, o primeiro e último nome e eu não me considero Maria. Meu nome é Maria Cecília, mas eu sou a Ciça, sempre sou a Ciça. Aí eu cheguei lá – cheguei atrasada porque o avião aqui teve problema – cheguei aflita, um lugar mais difícilzinho de chegar, mas cheguei. E daí tinha minha roommate, tinha casa, eu cheguei atrasada, todo mundo me chamando de Maria e eu: “Ai meu Deus do céu! Vamos nos adaptar, até eu chegar, até todo mundo me chamar de Ciça eu sou Maria”. Comecei a arrumar minhas coisas no closet, daí alguém chama: “Ciça, Ciça”, procurando uma Ciça e eu: “Que? Ciça? Quem será?” (risos). E daí chegou uma senhora e ela se apresentou como sendo uma grande amiga de outra senhora que tinha sido a minha conselheira em São Francisco, do outro lado dos Estados Unidos! Falei: “Meu Deus!”, fiquei feliz, tipo ria daqui à aqui, sorrindo, me sentindo em casa e ela falou: “Eu tenho uma notícia triste pra te dar na verdade. A gente vai ser amigas etc. mas a Elizabeth me pediu pra te dar uma notícia”. O marido dela, da minha conselheira que tinha sido importante na minha vida lá em São Francisco, eles estavam fazendo cavalgada, era setembro, início de setembro, eles estavam cavalgando no Colorado, em Aspen, e ele despencou e daí ele morreu. E aquilo foi tipo um choque. Não tinha internet, não tinha telefone celular, não tinha nada disso. Eu consegui ligar pra ela a cobrar do orelhão da casa e bom, enfim, não pude ir pra São Francisco ficar com ela, mas a gente reestabeleceu aquele contato. Depois eu até acabei visitando, mas essa senhora, a Marjorie que era amiga dela virou meu esteio. Eu estava morando em uma casa que era um dorm, sem alma, então, quando eu estava precisando muito eu me senti, sabe, o aconchego de uma casa, daí eu ia visita-la. Ela tomava conta do pai que tinha Alzheimer, era a coisa que eu mais gostava. Sempre que eu tinha um tempinho, tum, ia visitar a Marjorie. Isso também é como se fosse uma costura com o AFS, mas a experiência é muito diferente, era uma excelente faculdade, uma faculdade muito quente apesar do gelo que é Vermont. As pessoas, muito agradáveis, você não recebia nota, por exemplo, o professor escrevia sobre seu trabalho. Existia nota se você fosse mudar de escola e eles poderem transformar aquilo em nota mas você nem via a nota, você só recebia como se fosse uma crítica sobre seu semestre. E incrível também, foi uma experiência completamente diferente. Muito sozinha, não ter família, não ter o calor de uma família é duro.
P/1 – E Ciça, aí nessa nova fase agora de voluntariado, aí você foi na festa, depois procurou, e aí como você resolveu se envolver de novo?
R – Eu fui na reunião do comitê, o comitê estava meio inexistente pelo que eu tinha entendido, estava tipo ressurgindo das cinzas.
P/1 – Quem que era que estava de presidente?
R – Era o Fernando Ferreira. Eu acho que ele estava até começando como presidente e estava tudo sendo reinventado. Foi gostoso, foi uma redescoberta, era Rio de Janeiro, era bem diferente, conheci algumas pessoas que já tinham sido importantes no comitê daqui, como a Paula Machado e bom, enfim, eu ajudei a selecionar. Mas, para mim, o que eu tinha do AFS era aquele esquema, selecionar, uma coisa bem rigorosa, você seleciona quem vai dar certo. Então teve um reaprendizado do que é o AFS no momento. Fui conselheira várias vezes. Fui conselheira de uma alemã – meus filhos estudam em uma escola, então o Fernando acho que falou: “Ah, uma alemã? Você!” (risos) – morava perto de casa também, de uma alemã, fui conselheira de uma belga e fui conselheira de um dinamarquês. Esse dinamarquês era um estudante muito especial, muito especial. Era aquele que com um perfil de AFS, aquele perfil que, sabe, coisas acontecem mas vai dar certo, porque ele era muito educado, ele colocava a família dele em primeiro lugar. Apareceu a oportunidade de ir pra uma festa, de fazer um programa mas: “eu vou perguntar pra minha mãe”, mas ao mesmo tempo extremamente inteligente, fez amizade de várias formas – haja palavra que eu procure – muito envolvido em tudo. Muito envolvido na escola, morava em Ipanema, então logo começou a fazer vôlei na praia, as grandes amizades dele eram do vôlei. Na verdade, eu estava mais aprendendo com ele do que auxiliando, não tinha muito o que auxiliar. Ele não tinha problema nenhum, mas eu estava presente. Estava presente também com a mãe, uma família boa. E chamava ele pra fazer programas, pelo menos uma vez por mês a gente saía, uma vez lá em casa, com a minha família, jantando, eu perguntei pra ele “E você, vai ser o que quando crescer? Quando crescer o que você quer ser?” “Primeiro Ministro”, mas é tipo, sério, né, (risos) daí eu virei pra ele e falei “Primeira vez que alguém me diz que quer ser Presidente, Primeiro Ministro”, mas ele já tinha planos mesmo. Era tudo demarcado mesmo, era sério e ele era o perfeito, sei lá, diplomata já em tenra idade. Quando ele foi embora deu até saudade prévia, sabe, “Ah, que pena, foi embora, estava tão bom, podia ficar aqui no Brasil”. Um ano depois ele voltou, ele voltou de férias pro casamento de alguém da família brasileira. Ele encantou a família inteira, porque de vez em quando eu encontrava alguém que era familiar “Ah o Fred isso, o Fred aquilo” daí o Fred fala assim pra mim: “Minha irmã fez o application, vai viajar pelo AFS e vai vir pro Brasil”, eu falei: “Jura? Que máximo, você deve ter feito a cabeça (risos)” ficou encantada pelo Brasil por causa da experiência do irmão. Aí ele me falou “É, ela queria muito vir pro Rio”, eu falei “Ah, é?”. Na época, o a SE [Secretaria Executiva] ficava no Humaitá, eu falei: “Ah, então vamos fazer o seguinte, a gente acaba de almoçar e vai na SE”. Daí a gente foi, eu expliquei quem ele era, as pessoas até lembraram dele, falei: “Bom, a irmã dele, os papéis dela estão vindo pro Brasil”. Daí foram ver, os papéis tinham chegado, os papéis dos dinamarqueses tinham chegado. Eu falei: “Pois é, ela queria ficar no Rio de Janeiro, que que é necessário fazer?”. E eu nessa época também tinha dado uma parada, tinha trabalhado no comitê e tinha parado novamente, por causa de trabalho eu estava sem tempo. Me falaram assim “Ciça, a gente coloca ela no comitê Rio de Janeiro e a não ser que vocês não consigam nem família e nem escola num prazo x, daí ela pode ir para qualquer outro comitê”. Falei “É, que ótimo!”, o menino saiu sorrindo, o Fred saiu sorrindo. Falei: “Fred, eu vou procurar família. Escola eu tenho, família eu vou procurar” e comecei a procurar. Escola eu sabia porque eu já tinha colocado uma tailandesa na escola dos meus filhos, a escola era muito aberta a receber. Conversei com a escola de novo e a escola disse: “Tudo bem”. Procurei família, várias, uma se interessou, só que depois de um tempo a mãe, a hospedeira futura, to be, me disse que, na verdade, tinha decidido voltar atrás, que ela não queria ser mãe hospedeira porque eles iam viajar em agosto, a menina ia chegar em agosto e ela não ia se sentir bem – ela ia viajar durante um mês – de assumir essa responsabilidade e deixar outra pessoa cuidar da Pernille por um mês. E eu fiquei: “Poxa”, fiquei chateada, porque não é fácil achar família. Eu estava comentando isso com o meu marido, meus filhos e meu filho mais velho falou: “Mas mãe, porque que a gente não recebe ela? ”, eu falei: “Jura? Você gostaria? ”, ele falou assim: “Gostaria”. Daí eu olhei pro meu marido, meu marido falou assim: “Ah, eu também, porque a gente não recebe ela? ”, eles conheciam o Fred. O meu pequenininho que ficou: “Ah, mas eu vou ter de passar um ano sem receber amigo em casa?”, eu falei: “Não, isso não tem nada a ver, você vai poder receber amigo em casa. A gente vai ter um espaço menor mas nada te impede de receber alguém em casa”. Daí eu levei meu filho mais velho – esse que sempre foi mais, né, de não aceitar tudo – levei pro computador e mostrei o perfil dela. Ele achou ela um máximo. Daí eu comecei a ficar animadíssima, comecei a ficar muito animada, falei: “Vocês querem mesmo né? Posso falar que a gente é candidato pra família?” “Pode”, pronto. Viramos candidatos a família, eu fiz questão de passar por todo processo assim, daí veio a Pernille e foi nossa filha e foi excelente, foi muito, muito bom e a gente ficou super amigo, quer dizer, não só ela até hoje me chama de mãe e, não todo dia, mas volta e meia, a gente se comunica, hoje em dia tem vários meios fáceis de comunicação, mas a família dela inteira veio nos visitar e nós fomos visitar eles também. Eles vieram para o Brasil e nós fomos para a Dinamarca. Eu sou muito amiga da mãe dela, criou uma empatia imensa, o pai também, o Fred trabalhou
depois que ele voltou pra Dinamarca, agora ele é formado na escola, está fazendo faculdade americana em Abu Dhabi – mas ele trabalhou muito pro AFS Dinamarca, foi pra Bruxelas, mas trabalhou pro AFS Internacional. Quando a gente foi pra Dinamarca ele estava em Abu Dhabi, mas ele veio, ele entrou de férias então ele veio e ficou conosco foi incrível e agora está meu filho que, por causa da Pernille, por causa da experiência da Pernille, ele que sempre disse que não queria fazer intercâmbio, ele decidiu que ele queria fazer, a gente saiu correndo porque era tipo, a última chance, e agora ele está na Noruega.
P/1 – E Ciça, como que foi em termos de aprendizado? Fala um pouquinho da experiência com ela, de ter uma filha agora, dentro de casa.
R – Ai, foi bom! Arranjar uma filha... Eu tenho dois irmãos homens, dois filhos homens, é muito homem. Meu primeiro casamento eu tinha três enteados, homens, então a primeira vez. Isso pra mim era bacana: “Uau, vou ter uma filha”, poder ter uma relação mais feminina. Ah, tinha tudo a ver assim. Por acaso veio somar com essa expectativa. Bom, meu pai é cirurgião plástico, minha mãe esteticista, tem uma coisa de cuidar da pele que é meu diário, então ela veio interessada nisso. Então era como duas meninas brincando de casinha, de ter filha mesmo, então eu aproveitei esse ano pra ter filha e fui correspondida (risos) totalmente correspondida. Ela adorava, tinha a ver com o perfil dela, sabe? Tinha a ver com o perfil que ela se descrevia. Foi interessante também porque, nas dificuldades, ela não me causou problema nenhum, zero problema, filha espetacular. Zero problema, não é uma pessoa difícil, é uma pessoa fácil. Eu também cheguei falando as regras da casa, nem era regra ruim, era só pra dizer como a casa funciona, sem problema. Mas quando ela ficava ansiosa por alguma coisa, primeiro ela ficava triste, daí ela se fechava um pouquinho, mas não demorava muito tempo ela já vinha conversar. E daí eu tinha a oportunidade de dizer o que eu achava e de certa forma aconselhar, e ela, mesmo que não tomasse uma atitude imediata, não demorava muito tempo, ela tomava. E sempre acabava resolvendo os motivos de angústia. Por exemplo, ela estava angustiada porque não estava conseguindo aprender a falar português. Quer dizer, mas é normal, dinamarquês pra português não tem uma conexão, e ela levou pra falar fluentemente português o tempo que eu levei pra falar fluentemente inglês. Em seis meses ela falou, mas eu sabia quais eram os medos dela porque eu tinha passado por esses medos. Eu, no mínimo, podia dizer isso: “Eu senti a mesma coisa e deu tudo certo, vai dar certo pra você, além do que você é inteligente, bonita, você é agradável, bem educada, não vai dar certo porque? Vai dar certo, persiste que vai dar” e tudo deu certo. Ela aprendeu português, ela fez os amigos, teve as dificuldades, de expectativa mesmo, né, porque aqui no Rio quando a pessoa fala: “Ah eu vou te ligar!” daí não liga, aí eu falei: “Quer dizer que quando a pessoa disse ‘Vou te ligar’ naquele momento ela tinha aquela vontade e intenção de te ligar, mas depois...” Eu falei: “Pernille, aqui tem praia, não? E o carioca, pra mim – e essa é minha visão de paulista sobre o carioca – quando ele fala ‘A gente se vê’ a gente se vê mesmo, você vai esbarrar com a pessoa na rua, você vai esbarrar, no mínimo na praia, então não é que não gostou de você” porque acho que ela fazia essa leitura: “Ah, falou só pra me agradar, não gosta de mim”. Foi legal por ser filha mulher, foi legal porque ela é uma pessoa muito legal e foi legal de estar do outro lado.
P/1 – E ela se deu bem com seus dois filhos?
R – Se deu super bem. O mais novo tinha 12, ela tinha 16 e eles eram grudados assim, super grudados. O outro que tinha 15, ele tinha os amigos dele, não sei o que, não levava a Pernille pra nada, eu ficava: “Pedro, porque você não vai levar a Perlline, né?” Hoje em dia ele é mais fechado, ele não fala o que está pensando, ele não expressa muito o que está sentindo em palavra. Ele era muito delicado, mas ele manteve um espaço. Eu acho que era pra se preservar, sabe, porque a menina era linda, porque às vezes acontece de irmãos se apaixonarem, e podia acontecer porque a idade é mais próxima, não sei o que, mas ele não tinha espaço pra isso. Mas depois eu percebi que ele ouvia e hoje em dia na Noruega eu pergunto “E aí? Como foi?” e ele fala “Poxa mãe”, é, falou do irmão dele lá que não fala, é tímido, não fala nada e também não leva ele pros lugares, não é um irmão companheiro, é um irmão tipo normal, mas que não faz as coisas junto. Eu falei “Puxa Pedro, você também não fez nada com a Pernille” ele fala: “Poxa mãe, se fosse hoje em dia eu seria diferente” (risos), ele percebeu outro lado: “Eu ia ser diferente, eu ia abrir mais o mundo social pra ela”.
P/1 – E você continuou hospedando depois Ciça?
R – Eu hospedo sempre, minha casa parece um albergue, porque meu marido é italiano, porque eu gosto, então, volta e meia tem gente em casa. Mas eu não hospedei mais ninguém por um ano assim, tipo, ser família hospedeira. Até porque os meninos – eu tenho três quartos em casa – os meninos dormiam juntos, mas eles não gostavam de dormir juntos. Depois que a Pernille saiu, daí eles quiseram dormir em quartos separados. E agora o Arthur está com 15 e tem quase 1 metro e 80, então diminuiu o espaço. E ainda não está no momento de receber longo, mas receber por duas semanas, hospedar sempre, minha casa está sempre cheia de gente.
P/1 – Então Ciça, agora vou encaminhar a entrevista para uma parte final, queria que você fizesse uma avaliação de todas suas experiências com o AFS, falar quais foram os maiores aprendizados, o que você carrega com você? Você falou alguns específicos de cada tempo, mas agora um overview.
R – Qualquer coisa você me ajuda aí, viu? Eu acho que hoje em dia o AFS é um carimbo tão grande em mim, eu não consigo contar a minha história sem incluir o AFS, impossível, de várias maneiras: pelas experiências que eu passei, seja como estudante, seja como voluntária, seja como mãe hospedeira e mãe de AFSer, agora meu filho, mas pelo jeito de encarar o mundo, pela felicidade que eu tenho em encontros interculturais que eu vejo que é igual em todo AFSer. Tem muita gente do nosso comitê agora fazendo uma orientação, e eles no WhatsApp ficam mandando foto, foto e algumas coisas que estão acontecendo lá. Aí eu fico: “Aí, que lindo!”, eu fico imaginando uma pessoa que não teve menor contato com isso, olhar aquela conversa no WhatsApp não vai fazer sentido nenhum. Mas pra nós, basta saber que você fez o AFS, é como se fosse uma conexão mesmo, né, então é como se fosse um carimbo mesmo, uma tatuagem interna. Então, pra mim, o AFS é isso, é uma forma de enxergar a interculturalidade, de apreciar as diferenças e apreciar também o outro, estar com o outro, o crescimento do outro, me enxergar também no outro. São famílias, sei lá, minha família cresceu, minha família é enorme, gigantesca.
P/1 – Como que você observa essa nova geração aí, esses meninos que estão liderando o comitê Rio?
R – Ah! O comitê Rio de agora é o melhor comitê que eu já vi. Está muito lindo. Fico até emocionada, está lindo. Primeiro, tem gente de vários países que não são AFS, quer dizer, que não estão na experiência do AFS agora, o nosso presidente, ele é boliviano, a gente tem uma voluntária paraguaia, a gente tem uma voluntária alemã, de outros comitês que vem pra cá. Ele é muito aberto, é um comitê muito aberto, muito ativo, realmente faz diferença hoje com a facilidade de comunicação imediata, eu acho que a gente tem, sem tanta dor, conseguido se comunicar e resolver algumas questões, porque em um grupo grande às vezes a gente não concorda, mas tem conseguido produzir, produzir muito. Fico boba assim, com a capacidade desses jovens de conseguir família, de conseguir escola, de entrevistar famílias pra futuros AFSers, eu acho até que é um movimento grande e que a gente vai poder enviar mais e que se gostam, sabe? Como eles se curtem, como a gente está aberto pra receber pessoas que eram de outro comitê chegarem com as suas experiências e poderem agregar. Então é um comitê que agrega, que abraça e não é fácil. Mesmo dentro do AFS eu já vi tanta briga, sabe, porque existe até um plano de carreira dentro do AFS hoje em dia que é muito legal. Não, as pessoas estão se tornando melhores com a convivência entre elas, eu estou feliz.
P/1 – E Ciça, só voltando um pouquinho agora pra sua parte mais pessoal fora do AFS, você é chefe de cozinha, conta pra gente um pouquinho da suas atividades atuais, é professora também?
R – Então, eu iniciei uma formação em Artes Plásticas, que eu não terminei e mais tarde fiz curso de Hotelaria e Turismo e me especializei em Gestão de Restaurante. Eu sou chefe de cozinha e sou também professora universitária em Gastronomia e eu acho que meu perfil profissional é muito não comum, não é o padrão, não é linear porque ele engloba tudo isso. O teatro, por exemplo, o teatro envolve gente, envolve trabalho em grupo era justamente – eu deixei Artes Plásticas por conta disso, porque ser pintora, ficar só eu e o quadro não me satisfazia – cozinhar é isso. Ser professor é isso e trabalhar no AFS também. Então, eu sou tudo isso.
P/1 – E quais são seus sonhos?
R – Hm, meus sonhos? Ah, meus sonhos... Eu acho que ainda tenho muita coisa a fazer na minha carreira, tanto como cozinheira quanto como professora, eu tenho ainda um grande caminho a percorrer. Eu trabalho com consultoria, então é parecido com lecionar, em vários aspectos. Tenho um filho que acabou de fazer 18 anos e vai voltar e o outro que está com 15 vai viajar também agora no começo do ano. Eu desejo ver eles encaminhados, e daí eu desejo morar fora. Porque meu marido é italiano, ele veio pra cá pra nossa vida funcionar, eu acho que a gente gostaria, talvez, de morar na Itália. Então, meu marido é italiano, veio pro Brasil pra morar conosco, ele não é pai dos meus filhos. A gente mora aqui pras crianças poderem ter crescido ao lado do pai, pra não perder o pai mesmo. Meu marido não era casado antes, não teve filho. Então acho que agora, com as crianças se encaminhando, existe uma vontade da gente viver um pouco mais na Itália, eu não consigo vislumbrar o final, não mais vários projetos.
P/1 – E o que você acha do AFS resgatar essa história de 60 anos através da gravação da história de vida de vocês?
R – Olha, primeiro, 60 anos, poxa vida parabéns, né?
P/1 – AFS Brasil, né.
R – AFS Brasil. Assim, fico muito contente. Eu acho que resgatar as histórias de cada um, essas histórias provavelmente se encontram em alguns pontos como se fosse uma grande estrela que você pudesse se ligar. E o AFS cresceu também, o AFS está muito melhor. Apesar de hoje em dia existirem diversos programas de intercâmbio, intercâmbio pago até, que você escolhe até a cidade em que você vai ficar, o AFS tem seu grande diferencial que é a história dele. O diferencial do AFS são as pessoas, o motivo primeiro, que é o motivo de você conectar a favor da paz por uma grande ideia, pra promover a paz, faz toda a diferença. Então, se a gente não resgata essa memória e essa historinha de cada um, a gente não compreende o AFS. Eu tenho curiosidade depois de ver tudo isso. Ver o quanto a história do AFS Brasil reflete os princípios do AFS, que eu penso que reflete sim.
P/1 – E como foi pra você contar sua história pra gente?
R – Ah, é gostoso, é sempre bom. É sempre bom falar, tentar refletir sobre sua história, você, seus pensamentos. É um aprendizado também. Algumas coisas aparecem nesse momento do contar.
P/1 – Então muito obrigada novamente pela participação. Parabéns pela sua história.
R – Ah, um prazer!Recolher