Entrevista de José Mauro Marra
Entrevistado por Caetana Trusco, Maria Imaculada Teixeira e Bete Trusco
Barra Longa, 3 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista MRD_HV005
00:00:26
P1: José, qual seu nome e data de nascimento? E onde…
R: José Mauro Marra, nascido em 5 de junho de 1957, filho de Maria da Conceição e João Marra .
00:00:47
P1: Você lembra, José, o que eles faziam, os seus pais?
R: Meus pais, inclusive a minha mãe e o meu pai mesmo eu não conheci, conheço pai e mãe biológico, entendeu, assim, adotivo, né. Meus pais adotivos, que eu conheci, o seu Zumar e Dona Vilma.
00:01:11
P1: Então, você tem lembrança dos seus pais adotivos?
R:É, seu Zumar e dona Vilma, que seu Zumar e Dona Vilma quando eles casaram eu morava com a mãe deles, ela e seu Pedro, que é o pai do seu Zumar , me tomou para criar. E quando Vilma e Zumar casaram, Vilma pediu a dona Nora que me desse para ela, para ela criar, ela não tinha filho, não tinha casado naquela época , aí eu fui para casa dela, lá no sítio Piranga, e eu sou tido lá na família como primeiro filho da família. Inclusive, qualquer coisa que tiver lá, que depender de parte da família, eles me chamam, eu só tido lá como primeiro filho da família, eu sou o filho mais velho, lá da casa
00:02:08
P1: E você tem irmãos?
R: Eu tenho um irmão de sangue , que é filho da minha mãe e do meu pai, e mais 12 né, que são os adotivos.
00:02:25
P1: José, José, você se lembra da casa onde passou a sua infância, como era?
R: Lembro, lembro, ela está lá até hoje, essa casa lá do sítio Piranga, onde mora um dos irmãos adotivos, né, que é o Pelé, que é chamado Pelé , mas o nome dele é Zé Higino , mora o outro irmão lá perto que é Tininho, mas esse já mora numa casa nova que foi feita para ele, entendeu. Então, essa casa era uma casa grande, toda vida foi de telhado, hoje tiraram o telhado dela, puseram laje. Ela tinha uma escada de madeira na...
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Entrevistado por Caetana Trusco, Maria Imaculada Teixeira e Bete Trusco
Barra Longa, 3 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista MRD_HV005
00:00:26
P1: José, qual seu nome e data de nascimento? E onde…
R: José Mauro Marra, nascido em 5 de junho de 1957, filho de Maria da Conceição e João Marra .
00:00:47
P1: Você lembra, José, o que eles faziam, os seus pais?
R: Meus pais, inclusive a minha mãe e o meu pai mesmo eu não conheci, conheço pai e mãe biológico, entendeu, assim, adotivo, né. Meus pais adotivos, que eu conheci, o seu Zumar e Dona Vilma.
00:01:11
P1: Então, você tem lembrança dos seus pais adotivos?
R:É, seu Zumar e dona Vilma, que seu Zumar e Dona Vilma quando eles casaram eu morava com a mãe deles, ela e seu Pedro, que é o pai do seu Zumar , me tomou para criar. E quando Vilma e Zumar casaram, Vilma pediu a dona Nora que me desse para ela, para ela criar, ela não tinha filho, não tinha casado naquela época , aí eu fui para casa dela, lá no sítio Piranga, e eu sou tido lá na família como primeiro filho da família. Inclusive, qualquer coisa que tiver lá, que depender de parte da família, eles me chamam, eu só tido lá como primeiro filho da família, eu sou o filho mais velho, lá da casa
00:02:08
P1: E você tem irmãos?
R: Eu tenho um irmão de sangue , que é filho da minha mãe e do meu pai, e mais 12 né, que são os adotivos.
00:02:25
P1: José, José, você se lembra da casa onde passou a sua infância, como era?
R: Lembro, lembro, ela está lá até hoje, essa casa lá do sítio Piranga, onde mora um dos irmãos adotivos, né, que é o Pelé, que é chamado Pelé , mas o nome dele é Zé Higino , mora o outro irmão lá perto que é Tininho, mas esse já mora numa casa nova que foi feita para ele, entendeu. Então, essa casa era uma casa grande, toda vida foi de telhado, hoje tiraram o telhado dela, puseram laje. Ela tinha uma escada de madeira na frente assim, não esqueço, todo dia assim, me passa aquilo, aquele filme na cabeça, tem hora que eu to sozinho assim, eu fico pensando quando a gente era criança ali na Piranga, aquela turma de menino, todos pequenos, e eu ajudava a mãe a olhar os meninos pequenos, né. Que lá veio Aparecida da loja, que é Aparecida de Dolor, que é a mais velha , depois Zé Higino, que é o Pelé, Sonia, Tininho, e daí veio vindo o resto da turma. Foi, né, ali eu lembro. Quando eu fiz 9 anos, eu saí de lá, eles falavam que a minha mãe estava em Juiz de Fora, então era um sonho de encontrar né, eu achava que se eu chegasse em Juiz de Fora, eu achava, se perguntasse “Quem é Maria da Conceição ?”, qualquer um informava. Daí eu fui para Juiz de fora , como eu cheguei lá não tinha ninguém, não tinha parente, não tinha ninguém conhecido, o pessoal do juizado de menor me pegou e me levou para o juizado de menor, lá eu fiquei 2 anos, planejando como é que eu ia fugir de lá.
00:04:28
P2: E nesse período Zé, enquanto criança,você viveu lá olhando,ajudando a olhar as crianças. Sua convivência com os filhos, com os irmãos adotivos, ela era uma boa,saudável?
R: Bom, era boa demais da conta, toda vida foi
P2…Era de irmão?
R: De irmão, e é até hoje, os filhos dos meninos lá, de Pelé, de Tininho, de Aparecida, todos eles encontram comigo na rua, pode estar com quem tiver, me pedem e tomam a benção.. Todos eles..
00:04:59
P2: E outra coisa,quando você decidiu essa ida para Juiz de Fora, você teve a permissão deles ou foi por sua conta?
R: Não, eu fugi, saí fugido, aí eles ficaram procurando por mim. Procuraram, alguém achou que eu tinha caído no rio, entendeu? Eu fui embora, fugi, peguei carona de caminhão na época, na época eu dava carona , você via um menino na rua, pedia carona, eu dava. Eu lembro até o caminhão que eu fui, nesse caminhão para Juiz de Fora, era um caminhão Chevrolet 51, né, e o motorista chamava Nico Osório, não esqueço desse senhor, nunca eu vou esquecer, entendeu. Lembro também do senhor, do cara do Juizado de menor, que me pegou na porta da igreja em Juiz de Fora, e me levou para o Juizado de menor.
00:05:56
P2: E aí, quando você chegou em Juiz de Fora, então, você não tinha pra onde ir, não sabia o que fazer, foi para a porta da igreja.
R: Fiquei na porta da igreja
P2: Por quantos dias assim, você ficou?
R: Não, não cheguei a dia não, no dia que eu cheguei me levaram pro Juizado, eu cheguei lá de manhã, durante o dia eu fiquei por ali, andei na rua, né. Aí quando foi a noite, alguém já tinha me procurado, já tinha me perguntado quem era eu, uma senhora me deu café, entendeu, lá, me deu merenda . E aí quando foi a noite, deve ser essa senhora que deve ter comunicado com o Juizado que tinha essa criança na rua, aí eles vieram e me levaram pro Juizado de menor, lá eu fiquei 2 anos.
00:06:40
P3: Zé, esse, quando você foi para o Juizado de menor, lá no Juizado eles tiveram alguma atitude para encontrar a sua mãe, para te ajudar?
R: Perguntaram para mim se eu sabia quem era minha mãe, eu falei: “Minha mãe chama Maria da Conceição, fiquei sabendo que ela mora aqui em Juiz de Fora”. “Mas você tem endereço?”. “ Não, não tenho nada“. Aí eles falaram: “ Nós vamos, você vai ficar aqui até ver se nós encontramos,nós vamos entrar em contato com as pessoas aqui, para ver se encontra ela, se não encontrar você vai ficar aqui até aparecer alguém procurando por você, e aí nós devolvemos você“. Aí eles perguntaram de onde que eu era, aí eu falei “A, eu vim de uma cidade.” “ Mas de onde?”. “ A, não sei nome não”. Aí pronto, porque eles iam me devolver né, aí "Não sei o nome não“ . Daí fiquei, aí depois, fiquei um ano, fez dois anos que eu tava lá, aí eu falei: “Agora eu vou fugir daqui“. Nós mexíamos com horta, o pessoal do juizado mexia com horta, aí o que nós fizemos, aí esse dia, eu falei com os meninos, eu falei: “Eu vou fugir daqui, não tem nem problema” . O pessoal: “A, aqui não tem jeito de fugir não.” “ Não tem? Você vai ver se eu vou fugir ou eu não vou.” Aí deu um dia que o caminhão atrasou, o caminhão que buscava a gente, era um caminhão fechado de madeirite,entendeu? Aí chegava lá, fechava o caminhão, punha ..Abria o caminhão, punha os meninos lá dentro, fechava e levava pro juizado de novo, e ese dia o caminhão atrasou, escureceu, mas esse dia eu já estava com tudo planejado para sumir, para fugir de lá, até a roupa, eu tava com a roupa do juizado, e uma roupa que a gente ia domingo a missa, por baixo da roupa que eu tava trabalhando. Aí quando escureceu, começou a escurecer o caminhão chegou, aí eu fiquei o último da fila, tinha um negócio, os meninos menores na frente, e os maiores lá atrás, aí eu falei: “Hoje eu vou ficar o último da fila.” Eu já tinha ido lá, eu já tinha olhado o lugar, onde ia parar, tinha um trilho, eu já tinha ido lá de dia, tinha manjado tudo, e eu saí de baixo de uma ponte, atravessava de baixo da ponto, sai no asfalto, do outro lado, onde é que os pescadores pescavam, eu falei: “ É aqui que eu vou fugir, eu vou sair aqui, eu saio daqui, eu pego o asfalto e vou embora a pé, andando. Assim eu fiz, quando o caminhão chegou, eu fiquei o último da fila, os meninos foram entrando no caminhão, na hora que chegou trilho eu … Sai de baixo da ponte, já estava escuro, tirei a roupa, que eu estava com ela, com a roupa do serviço, dobrei a roupa, deixei em cima de uma pedra na beira do rio. Como se diz “caiu no rio , né”, peguei a estrada, aí quando eu saí na estrada veio o caminhão, eu pedi carona, aí o cara perguntou: “Para onde você vai?" "Eu vou para Itaúna.“ “Vai para Itaúna?" “Vou.” “Eu to indo para lá. ""Então, vamo embora.” … Caminhão, fui embora para Itaúna. Lá em Itaúna eu achei seu Juvenil, era um senhor que tinha um circo de tourada, e tinha um circo de variedade, aí eu fiquei trabalhando na fazenda, mexendo com… Trabalhando no terreiro, capinando, tal, aí um dia o filho dele, do seu Juvenil, chegou e falou comigo, falou: “O pai, eu vou levar esse menino. “Chamava Tatão. “Eu vou levar esse menino lá por circo comigo.” “Rapaz, vai levar o menino pro circo não, o menino faz falta para nós.” “Não, eu to precisando de um menino lá para rodar pano “. Aí falou: “O, a senhora arruma as coisas dele, que eu vou levar ele.” Aí quando foi na segunda-feira nós viajamos, para petrolina na Bahia, vamos para lá, chegou lá comecei a tomar conta de pano, tal, e tinha um senhor velho,chamava Wilson, era o palhaço velho do circo, falou, como assim: “ Se você quiser eu vou ensinar você a trabalhar.” Isso eu já tinha aí os meus 13 anos, por aí , mais ou menos. “ Se você quiser eu vou ensinar você a trabalhar, aqui como palhaço “. Eu falei para ele: “Eu queria aprender a trabalhar no trapézio”. Ele falou: “ A, então vou passar você para o outro menino”. Aí comecei a fazer trapézio com o outro menino, aprendi trapézio, depois o seu Wilson começou a falar: “Vamo trabalhar de palhaço rapaz, você leva jeito”. Aí eu fui trabalhar de palhaço com ele, comecei a trabalhar de palhaço junto com ele, daí eu continuei de palhaço até meus 17 anos.
00:11:59
P3: E por que você escolheu o trapézio?
R: É que eu achava bonito, era o sonho, que eu via o pessoal brincar no trapézio,eu achava bonito, eu falei: “Eu vou pegar e trabalhar o trapézio” . E aí eu acostumei, aprendi a trabalhar, trabalhei com uma tal de Sueli, era uma garotinha, muito tempo, fazia dupla no trapézio com ela, aí a última vez que eu trabalhei com ela foi numa briga que eu dei com a mãe dela, que era uma colega do circo, aí eu não quis mais trabalhar com ela, aí: “ A, porque você não quer?”. “Não,porque se Deus permite acontecer um acidente comigo e com ela, eles falam que eu fiz de sacanagem, que eu não gosto da mãe dela.” Aí eu não trabalhei mais com ela. Daí foi até eu sair, aí eu saí do circo e voltei para cá, aí falei: “Vou voltar para Barra Longa, agora eu vou voltar para Barra longa”
00:12:53
P1: Como você veio até Barra Longa?
R Não, eu saí, eu já tinha trabalhado, eu trabalhava e já tinha o jeito de pagar uma condução para voltar, mas durante a minha época de circo eu trabalhei aqui em Barra longa com o circo, aqui no terreirão aqui
0013:11
P1: E como você se sentiu?
R:... Porque ninguém me conhecia aqui, da época, porque eu saí novinho daqui, eu trabalhei no terreirão aqui, onde que é a padaria aqui, quando veio ... Seu Vando, você deve lembrar, né? Quando seu Vando veio aqui, então, o palhaço do circo naquela época era eu.
00:13:36
P2: E o pessoal da sua família, aqui Zé..
Ninguém ficou sabendo?
R: Você sabe…
P2:... Ninguém ficou sabendo?
R: Não, você sabe quem me conheceu aqui? Santo Rei, Santo Rei me conheceu … Nesse dia que ele me conheceu ,nós já estávamos saindo, tínhamos desmontado tudo, nós estávamos viajando já, daqui nós fomos para Dom Silveiro, entendeu? Aí ele foi chegando , que não sei o que ele veio para baixo aqui, nós estamos acabando de descarregar os caminhões aqui, ele olhou para mim e falou: “Você menino, eu te conheço “. Falei: “Por que, senhor acha que você me conhece?”. “ Você é do… você é neto do seu Chiquinha, não é?” , falei: “ Sou.” “Você tá no circo? “ . Falei: “ Estou, estou no circo aqui, eu viajo com esse.” "Foi no..” “ Fui não, daqui estou indo embora hoje”. Daqui nós fomos para Dom Silveiro, aí eu me lembro que a última cidade que eu trabalhei de palhaço, foi Rio Espera, foi quando eu decidi largar o circo, e voltar para cá. Eu tinha 17 anos, aí eu saí, falei: “Agora eu vou voltar sem um documento.” Não tinha um documento, não tinha nada , falei: “Agora eu vou voltar para barra longa, vou arrumar meus documentos, vou procurar, vou ver como eu vou fazer.” Aí eu procurei a minha vó, no Jecera, ela era viva ainda, Chiquinha, cheguei, falei com ela, ela falou: “O, seu pai morou um tempo em Santa Cruz do Calvário, e quando ele veio de lá, você estava pequeno, mas você nasceu aqui, e foi para Santa Cruz quando, e foi para Santa Cruz, quem sabe seu pai registrou você lá.” Aí eu fui lá em Santa Cruz, lá eu achei o registro do meu irmão, que mora em São Paulo, e achei o registro de uma menina que morreu, essa nasceu lá em Santa Cruz e morreu lá mesmo. Aí: “Não, o seu não está aqui não.” Voltou eu para cá de novo, falei: “ E agora?” . Aí fui lá no meu padrinho, que é o Zumar, cheguei lá e falei: “ O padrinho, eu preciso arrumar meus documentos, como é que nós vamos fazer?” Aí ele pegou, coçou a cabeça: “É, difícil né,você não tem um batistério, você não tem nada, seu pai quando foi embora não me entregou nada, sua mãe também não, e não tem, outra coisa a fazer”. Aí eu falei com ele : “ Uai”. Aí a minha madrinha viu, falou com ele assim:” O zumar, uai, às vezes ele topa batizar, batiza ele.” Já veio intimando “Batiza ele “ . Aí ela falou: “ O Zé, você topa?” Eu falei: “Tranquilo.” Aí procuramos padre… Chegamos aqui, falamos: “ O padre, tá acontecendo isso, isso, isso, isso… “ . “Te batizo hoje mesmo, se você quiser ” . Falei: “ Então tá bom , vou lá”. Ai fui lá, voltei no… Veio o meu padrinho, que é o Zumar e Vilma, fez o meu batizado, aí arrumou a minha documentação,portanto os meus documentos, o meu documento tem uma diferença de idade danada, eu nasci em 05 de junho de 54, o meu documento é 5 de junho de 57.
00:17:39
P1: Mas quando você voltou para Barra Longa, aí você foi para onde? Você ficou aonde? Fazendo o que?
R: Quando eu voltei para Barra Longa eu comecei a trabalhar nessas fazendas da região.
00:17:53
P1: O que você fazia?
R: Eu era carreiro, comecei a trabalhar de carreiro nas fazendas. Tipo carro de boi, tinha aquelas fazendas, tinha o carro de boi…
00:18:03
P2: Você era o carreiro ou era o candeeiro?
R: Carreiro já, já fui carreiro já, já vim como carreiro, que eu já tinha trabalhado, mas quando eu era mais novo, né, de candeeiro de boi, então eu sabia muito mexer com boi, aí eu já vim trabalhar como carreiro. Trabalhei para dona Marina, muitos anos lá,muito tempo lá no gravatá, depois vim para fazenda de … Na fazenda de … que eu fiquei conhecendo esse pessoal de Barra Longa, é que eu vim conhecer esse pessoal do marujo,o Zé de Celso, que pra mim é um irmão que eu tenho, entendeu? Aí nessa época eu fiquei, no… eu fiquei muitos anos, fiquei acho que uns 8 anos no…
00:19:00
P2: Então nesse período que você saiu e voltou para Barra Longa, né, você veio aqui só arrumar documentação e foi trabalhar em outra cidade?
R: Fui embora para fora de novo, fiquei fora muito tempo outra vez.
00:19:10
P2: Teve pouco contato com a cidade?
R: Pouco contato na cidade, eu voltei para Barra Longa mesmo na época da … , cheguei aqui com a …Entendeu? Aí que eu larguei, até que eu saí.. Comecei a trabalhar. Sabe porque eu saí da… E comecei a trabalhar em fazenda aqui? Eu conheci Dodora,aí não me deu mais vontade de viajar o trejo, e eu conhecia muito o Zé, que era meu amigo, já de conhecimento, dançava junto aí,na região, como marujo, né, então aí eu já fiquei quieto por aqui mesmo, até que eu acabei casando, pessoal falou que eu não casava, pessoal falava com seu Mané: “ O Seu Mané, sua menina sua tá perdendo tempo com esse cara, esse cara não casa não”. Nós ficamos pouco tempo juntos namorando para casar, nós namoramos só uns 14 anos.
00:20:13
P1: O José
R: Oi
P1: Fala para mim , quando mesmo você começou a particular do grupo, do marujo, você tinha quantos anos ?
R: A, eu devia ter, na época que eu comecei a participar do grupo do marujo, foi logo depois que eu voltei para Barra Longa, né, que eu ajeitei meus documentos todos, aí comecei a trabalhar aqui na fazenda do seu… Aí eu tinha os amigos, Chicão, trabalhava no… Aí Chicão muito gago: “ o Chicão( eu vim um dia com ele)o Chicão, aquela dança lá?Como que eu faço para entrar naquilo, tem que pagar?” Ele muito gago: “ Não, não, só você falar com o Celso”. Aí eu vim, cheguei no domingo, sentei ali no terreiro dona Marinha,você lembra Dona Marinha tinha uma casa em baixo, tinha terreiro..? Sentei no barraco lá, estou olhando o pessoal ensaiar, Solinor, seu Afonso, aí eu falei “Eu vou entrar nesse trem.” Eu já tinha dançado com o gado,nessas regiões que eu andei, tinha com o gado, era diferente, eu falei: “As músicas são mais ou menos as mesmas, só o ritmo de dançar é diferente”. Aí eu já conhecia o Zé, aí cheguei nele e falei: “ E aí compadre, o que você está arrumando aí rapaz? Estou querendo entrar nesse trem aí também.” Aí ele falou “Uai, se tiver responsabilidade, pode vir”. Aí eu entrei, comecei a ensaiar com eles lá, eu ensaiei com eles no domingo aqui, aí logo que terminou o ensaio o seu Celso falou comigo “ Olha aqui ó, domingo que vem nós vamos dançar em São José do Oratório, se você quiser ir, eu vou mandar apanhar uma roupa para vocês, já experimenta pra ver se serve em você, e vou te dar o pano para você mandar fazer a camisa.” Falei: “ O seu Celso, eu vou”. Aí ele falou “ O, a camisa eu vou te dar o pano, você vai mandar fazer a camisa, a calça tem aí, e a minha esposa vai fazer o capacete para você “. Assim eu fiz, peguei a camisa, levei lá pra roça o pano, Dona Terezinha de … Fez a camisa para mim durante a semana, no domingo 5 horas da manhã nós tínhamos que estar aqui para sair o ônibus, ia apanhar nós aqui e levar para são José de Oratória, Sininho de Topojiro que levou o pessoal, aí peguei e falei “ A, fomos para lá, dançamos o dia inteiro lá”. Aí eu comecei, desde essa época eu não saí do grupo mais não.
0:23:15
P3: Você lembra como foi esse dia? Onde vocês dançaram? Quem estava ? Como você se sentiu?
R: Esse pessoal todo que está naquele retrato ali, estavam todos juntos, tava o pessoal todo junto ali, aí esses meus colegas, esse mesmo menino que eu falo para você, o Chicão estava junto, eu ria do Chicão que ele era gago, e para cantar ele não gaguejava, porque tinha uma voz linda, e para conversar com ele era difícil, mas para cantar… Melhor que ele.
P1: O José
R: Eu tenho essa história, que eu falo com vocês, de dançar, de mexer com essas coisas, eu gostava, porque toda a vida eu, desde novo né, de criança , lá no Jecera tinha folia de reis, no Jecera tinha congado, e nós estávamos sempre dançando, quando não estávamos dançando no Jecera estávamos dançando no pimenta, com o pessoal do pimenta. Outra hora lá no dobra, com o pessoal do dobra né, então a gente nunca estava fora, quando a gente, quando eu vim para cá, cheguei aqui, já encontrei o grupo e eu falei: “ Agora estou em casa”.
00:24:29
P3: Quer dizer então que esse grupo de dança já fez parte da sua infância?
R: Da minha infância, desde novo, quando eu voltei para Barra Longa, na época que eu voltei pro Jecera, né, que eu fui embora,antes de eu ir embora daqui, eu já gostava, mas só que eles não deixavam a gente sair, que era novo né, sozinho.Meu padrinho mesmo falava:”Você não pode sair “ . Depois que eu voltei maior, aí eu já comecei a participar direto dessas danças, dessas… A folia de reis, já fiz parte, isso já fazia parte da minha vida, né, porque o meu avô, seu Benicio, ele era folieiro, então veio no sangue. Eu falo que as coisas que meus velhos gostavam ficaram no meu sangue, meu avô era carreiro de fazenda,eu fui carreiro do seu Nezinho Tito lá, quando eu vim para o… para cerrar no …O carreiro velho lá do… Era o meu tio, tio Raimundinho, que morreu lá, né. Então as coisas que ficaram na minha vida, fez parte da minha vida e ficou no sangue. Hoje mesmo no meu programa de rádio eu estava comentando sobre isso, eu falei: “ O, hoje o pessoal fala assim: ‘A mas, hoje não tem serviço.’ Não é que não tem serviço, tem serviço, só que modernizou muito”. Serviço que eu gastava uma semana com o boi carreiro, hoje eles fazem com duas horas com trator, então para que que eles vão ter o boi, né? É isso aí.
00:26:19
P1: O José, qual o nome do grupo do marujo?
R: Marujo nossa Senhora da Aparecida
00:26:27
P1: Onde que vocês apresentavam, além daqui?
R: O nosso era só na região, São José de Oratório, Vale do Campo, Fonte Nova, Dom Silveiro, nos municípios aqui todos, Pimenta, Dobra, nós dançávamos em todo lugar.
00:26:46
P2: E por que no marujo a dança trança a fita?
R:Faz parte da cultura, né, faz parte da cultura indígena, a dança do marujo, a dança de fita é uma dança indigena. O marujo, e o congado é uma dança porque, todo mundo aqui, eu vou falar disso, mas tem dona Bete aqui que quase vai falar comigo se eu estiver errado ela sabe que é isso que acontece, o Marujo e o congado veio dos africanos né, há uns anos, quando existia a escravidão, o preto não tinha direito de ir na igreja. Então, o congado, a dança, a folia de reis, era o jeito que eles tinham para homenagear nossa Senhora do Rosário, que era a padroeira deles, né, a nossa padroeira. Nossa Senhora do Rosario, Nossa Senhora Aparecida e São Benedito, são os nossos padroeiros, são os padroeiros dos negros, né. Então, por isso surgiu a dança, a dança é isso aí que é, que era o jeito de nós podermos, como se diz, usar a nossa religião, a dança de congado, essas coisas, é por isso, folia de reis, essas coisas. É a cultura né, é a nossa cultura, é igual a dança de quadrilha acabou, hoje quase não vê mais dança de quadrilha.
00:28:22
P2: Dentro do grupo você gostava mais da dança, do trançado? Do que que você gostava?
R: Eu fiz tudo no congado, hoje eu sou contra mestre do congado, do congado hoje. Hoje, porque o congado vem de pai para filho, o avô, o pai do Celso, passou para ele né, e Celso quando adoeceu para morrer, ele passou o grupo para Zé, mas nós passamos… Aí, como Zé era amigo de Antonio Atanasio, Zé jogou Antonio na frente, falou: “ Antônio, você toda vida dançou com papai, então você vai assumir o congado, e eu vou ser seu contra mestre”. Aí Antonio morreu,quando Antônio morreu, Zé assumiu, e eu assumi o lugar de Zé, hoje quem é o contra mestre sou eu. No congado existe capitão, primeiro capitão, segundo capitão, já o marujo é só o mestre quando é mestre, e o resto é dançante e ajuda. Qual o nosso…? O Congado, eu digo sempre que o marujo não tem líder, tem o mestre quando é mestre, cada um fala, cada um tem a sua opinião livre dentro do grupo.
00:30:11
P1: E o grupo ainda está em atividade, Zé?
R:Estamos parados porque saiu muita gente,faleceu muita gente,então a gente hoje está parado, mas esse ano a gente está pretendendo voltar, e inclusive já tem uma festa que a rainha é daqui, a rainha é lá do dobra, mora aqui, trabalha aqui, e pediu que a gente fizesse a coroação dela esse ano lá, e a gente vai aprontar o grupo para gente ir, se Deus quiser . Eu tenho uma neta com 5 anos, que já falou comigo: “Vô, eu vou dançar com o senhor,pode contar”. Eu falei: “Perfeitamente, pode deixar que eu vou levar você “. Essa gosta de tudo, essa é capoeirista… Na capoeira , essa é… Eu falei: “ Essa puxou para mim”. Eu falo que, para mim, hoje eu vou ter a minha família, meus netos, minhas netas, meu neto que tá aí, deve tá chegando já, um bisneto né, graças a Deus. Daí então, eu hoje vivo feliz, com a minha família. As vezes me perguntam, pessoas me perguntam: “O Zé , você não está revoltado?” Por que eu vou ser um cara revoltado? “ A sua mãe te abandonou”.. Não, é a escolha dela, ela quis ir, mas ela me deixou com uma família, ela me deixou amparado, agora o velho, meu pai, ele queria matar a gente, ele queria matar eu e meu irmão,né, seu Pedro que tomou nós para criar, não deixou ele fazer, falou com ele “ O meu, você quer morrer? Morre você sozinho, me da os meninos aqui que eu vou cuidar deles “
00:32:04
P1: Mas por qual motivo ?
R: É porque minha mãe foi embora, largou nós com ele, largou eu e meu irmão com ele. Aí ele queria matar a gente, ele falou que ia matar a gente, ia jogar na água e ia morrer também, mas por que que ele tava? Era o álcool né, o alcoolismo, estava alcoolizado e a cabeça deu para aquilo, resultado: Ele entregou nós para o seu Pedro, e foi embora, nunca mais ninguém viu, nem ele nem minha mãe. Minha mãe nasceu no Jecera, em 20 de julho de 1930,casou aqui em barra longa em 20 de julho de 1950, entendeu? Aí viveu com meu pai esses 3 ou 4 anos de casados, depois descombinaram, sumiu, ninguém mais viu para onde foi.
00:33:11
P1: O José, agora quero que você fale um pouco do seu trabalho voluntário, o que que ele te ensinou, o que que você aprendeu com seu trabalho voluntário?
R: Muita coisa, é a minha alegria, o meu trabalho voluntário, porque meu trabalho voluntário eu gosto de estar na igreja, é os meus amigos ao alcoolismo que eu também tive uma situação de alcoolismo muito pesada. E com essa ajuda dos meus companheiros né, como se disse, hoje eu dou de graça o que eu recebi de graça. Que esse poder superior, esse Pai todo poderoso me deu, eu tenho hoje 24 horas que eu não bebo, né, dentro dessas 24 horas é só Deus é que sabe o que que vai acontecer comigo, mas por que? Ele só me deu 24 horas pra eu viver, o resto é dele, porque eu chego numa cabeceira de mesa, às vezes a pessoa fala: “ O Zé, mas você trabalha em festa?” “Trabalho,trabalho em festa, grandes, festas igual eu trabalho direto. “ “ E você não bebe?” “Não.” É um desafio para mim” “ A mas você serve os outros. " “A,eu sirvo os outros”. É o meu sustento, eu estou ganhando o meu dinheiro,né, então o que eu to fazendo, é o meu trabalho, agora eles bebem, por que que eles bebem? Eles podem beber, eu não posso, eu não sei beber, agora eu costumo falar com as pessoas “ A você ..” “Não, eu não sei.. Eu sei , eu não sei parar de beber , se eu soubesse parar eu poderia beber, eu nãos sei parar , eu sei beber” Ai eles.. “ Mas por que?” “Eu ponho ela na boca ela desce, né?”. Agora parar não sei, então eu não posso beber , agora outra coisa, você chega num grupo de alcoólicos anônimos, você vê tanta história, que você pensa assim: “ Isso aí eu nunca fiz não.” Mas, amanhã você pode fazer, a cachaça vai te levar aquilo. Quando eu tomei a primeira cachaça na minha vida eu tinha 15 anos, lembro disso como se fosse hoje, no dia 24 de dezembro eu tava sentado na porta do circo, na porta da barraca, no dia 24 de dezembro chegou um companheiro e falou: “ rapaz, cê tá aí?”. Eu pensei: “ É rapaz, é um dia todo mundo feliz, todo mundo tem seu pai, tem sua mãe, e eu não tenho pai, não tenho mãe, eu fico meio triste.” Aí ele: “ Rapaz, toma uma que você fica alerta . Nessa brincadeira, esse cara chegou com o copo e me deu um copo de pinga,e eu bebi essa cachaça. Valeu? Não, não é isso, porque passou o tempo,né, se diverte, o álcool, o álcool é tirano, ele te dá aquela sensação de alegria, aquela sensação de prazer, depois te tira tudo. Depois ele te traz uma depressão, ele te traz aquela, como que diz, uma ressaca moral, a ressaca moral, ela é muito pior do que uma ressaca física. Por que a ressaca moral? A ressaca moral porque… amigo de Caetano, eu vou lá e mexo com a família de Caetano… Amanhã chega uma pessoa perto de mim e fala: “Po Zé, você é amigo de Caetano, por que você mexeu com a família dele? “ “ Não, não fiz isso não”. “ Fez, ele podia ter te dado um tiro, podia ter te matado”. Ai que vem aquela ressaca moral, você vai ficar pensando “ Será que eu fiz isso? Será que é verdade”. Né? Aí chega outra pessoa e fala com você a mesma coisa, aí você vai ficar, aí tem aquela ressaca, porque a vergonha que você passa, é pior do que se essa pessoa tivesse chegado e tivesse te batido.
00:38:00
P2: O Zé, quando você percebeu e quando você descobriu o AA?
R: Olha , eu percebi, eu descobri o AA através de um companheiro, que hoje não está mais entre nós, ele falou comigo um dia, ele falou: “ O Zé, você fala que tem vontade de parar de beber, por que que você não vai pro AA? “. Eu trabalhava na … na época, aí: “ Não, mas eu já fui em todo lugar, já fui em igreja de crente, já fui em terreiro de macumba, não adiantou, esse AA vai adiantar?”. “Vai, lá no AA você vai conseguir parar de beber”. E eu fui, com esse companheiro, cheguei lá, entrei na sala,o coordenador falou assim:” Você acredita em Deus? “. Eu falei: “Não”. Você sabe que o bêbado, ele tem recurso pra tudo. “ Você acredita em Deus? “ “Não.” “Então senta aí.” Mas, por que eu disse que eu não acreditava em Deus? Que eu falei “Vou falar que não acredito em Deus, ele me manda embora.” “ Você acredita em Deus?” “Não”. “Então senta aí então “. Aí eu sentei, comecei a assistir a reunião, aí nesse meio tempo, o cara, o coordenador falou assim: “ A palavra está livre”. Lá eles não falam “palavra livre”, eles falam “palavra prega”, a palavra está prega. Aí levantou um senhor, e tudo que o senhor falava, a carapuça servia, e eu falei, pensando comigo “ Esse velho não me conhece, por que ele está falando de mim?” . Aí tal, falou, agradeceu, e saiu. Veio outro,esse outro chegou: “ Quero agradecer meu poder superior por essas maravilhosas 24 horas,hoje eu não bebi, amanhã está na mão do Senhor”. E ele já dirigiu a mim. “ Olha companheiro,você hoje é a pessoa mais importante para nós…”Aí eu pensei: “ Que importância tenho eu? Tonto, um cara que vive bêbado, que importância que eu tenho para esse moço? “ “ Nós sabemos que se você veio, é porque a coisa lá fora não está fácil, então nós sabemos que nós temos que ficar aqui”. E aí eu pus aquilo na cabeça,eu falei “ Engraçado,se ele falou que eu sou importante,é porque eu sou, né? Então eu vou ficar quieto aqui”. Aí nesse dia eu já não bebi, aí já passei no bar, onde é que eu tinha costume de passar, aí o cara “ O lá toma uma” . Eu falei: “Não, quero beber nada não, estou indo embora que eu tenho que dormir, amanhã tenho que sair cedo, vou embora ” . E aquilo na minha cabeça, porque o coordenador falou comigo.. “ O remédio entra pelo ouvido “. E na minha cabeça ele falou “ Eu vou te dar um remédio no ouvido, né.” E eu pensando,aí foi no outro dia, que eu mais esse senhor, estávamos cortando cana, ele pegou e perguntou: “E aí Zé,o que você achou da reunião? “ Falei “ Boa demais da conta, só tem uma coisa que eu não goste.” “ O que, o que você não gostou?”. “ Tem um senhor lá que foi lá,e o senhor falou de mim, e não me conhece, por que ele ia falar de mim?”. Aí ele pegou e falou: “ Não, é porque a nossas histórias são as mesmas, a mesma história sua é a minha… Todo bêbado tem a mesma história”. Aí eu peguei e falei “ Ah, então tá bom.” Aí na outra semana eu voltei, até eu queria ter trazido as minhas medalhas, eu esqueci , na outra semana eu voltei, ele pegou e falou comigo assim: “ Hoje você vai ingressar?” . Eu falei “Vou, vou ingressar no grupo ” . E daí eu não bebi mais, hoje esse poder superior, esse Deus todo poderoso, me deu essa força deu ter parado de beber.
00:43:07
P3: O Zé, só um momento, você tem, quanto tempo que você ficou 24 horas sem beber a primeira vez?
R: O Bete, dentro dessas 24 horas, de 24 em 24 horas, eu estou 30 anos sem beber.
P3: Louvado seja Deus.
R:Nada, Graças a Deus né? É porque nós temos essas 24 horas, 24 em 24 horas, você sabe disso, porque você corre com pessoas que viveram essas 24 horas também.
P3: As 24 horas preciosas.
R: É, então, é a melhor coisa, quando você chega dentro duma sala que o coordenador levanta e você “ Consegui no Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que eu não posso modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir uma da outra”. O que que eu não posso fazer? Se eu bebi hoje, não posso mudar mais né, mas hoje eu posso distinguir de não querer beber hoje, isso aí eu posso mudar. Se eu ofendo uma pessoa hoje, não adianta eu querer mudar, eu ofendi, né, então por isso que a prece da serenidade fala disso. E dentro de AA, dentro de AA a gente não tem distinção de religião, quem que cai ali dentro , simplesmente a gente tem um objetivo, viver sóbrio, mais nada , é só no único objetivo nosso, dentro de AA, é viver sóbrio, viver as 24 horas de sobriedade.
00:44:57
P1: O josé, hoje o que que te faz feliz?
Minha família, a minha família para mim é tudo, a minha esposa, minhas filhas,né. Eu tenho duas filhas, tenho uma fora do casamento, mas tenho outra, tenho uma no casamento, mas gosto delas a mesma coisa. Tenho 3 netas, a Sofia, a Manu e a Flávia né, a Flávia praticamente eu que crio, porque a mãe dela teve ela com um senhor, acabou que sumiu, então a Flávia mora mais comigo, e a Sofia e a Manu, que são filhas do Rodrigo e da Diva,né. E eu fico ali, fazendo, como é que se diz, o balanço dentro da família, até hoje eles chegam lá, até ontem a noite eu estava lá em casa, sentado lá, bateu na porta, fui ver a Manuela : “ O vô, eu vim aqui e o senhor tem pra me dar?”. Eu falei: “O Manu, eu to fritando uma batata”. “ A, então eu vou esperar”. Aí ficou, senta lá, fica comigo, bate papo, né. A Flavinha é mais sossegada, para ele tendo um telefone para ficar por ali, acabou, né, toca na banda, é coroinha da igreja, e é tranquila.Agora tem Romulo, que vai ter o neném agora, o Rômulo está com 18 anos, eu falei para ele assim: “ Você se precipitou muito para ter uma menina, rapaz”. “ Não vô, tudo vai da certo.” ” Então está bom, se você acha que tudo vai dar certo, só tem cuidado, seu avô casou com uma mulher mais velha do que ele, mas nós já tínhamos aquele ritmo de vida, sabíamos o que nós estávamos fazendo, e você não. Eu acho que você é muito novo para ter arrumado uma criança agora, essa menina é mais velha do que você, você tem 18 anos ela tem 25, então mas..”. Isso aí não não vem ao caso, né, Deus vai liberar a vida deles lá, então isso, é igual você falou, o que me faz mais feliz hoje é minha família, meus amigos, que eu tenho muita amizade Graças a Deus, eu sou amigo de todo mundo na Barra Longa, graças a Deus, eu acho que eu não tenho inimigo. Como se diz: “ Nem Cristo agradou todo mundo, né.” Mas, a gente está aí.
00:47:55
P1: O José, agora para finalizar, eu quero você fale um pouquinho do seu trabalho na rádio comunitária
R: A Zeza, a rádio comunitária para mim, me deu um ensinamento de vida, pelo menos.. Pega para mim aqui…. Pega a sacola, tirar daqui… Isso aqui é minhas coisas, isso aqui é minha costura, meu… Me dá esse quadro aqui.. Isso aqui é o fruto do trabalho da rádio
P1: Seu diploma né, José?
R: Isso aqui é, isso aqui é o fruto do trabalho da rádio, sabe por que? Muitas vezes, na época, você lembra, da rádio lá na escada, lá naquela escada. Eu descia aquela escada, para procurar uma pessoa na rua, para ler uma noticia para mim, entendeu? Até que um dia, meu amigo Alex,que para mim pode ser meu neto, chegou em mim e falou: “O seu Zé,lá em… tem EJA, se o senhor quiser eu vou levar o senhor para lá, o senhor matrícula lá, e vai ser… Vai estudar lá, se o senhor quiser”. Falei: “Pode levar, amanhã eu trago meus documentos, você pode fazer a minha matrícula lá, e no dia que tiver pronto você fala comigo que eu vou.” “Não, de manhã se o senhor quiser ir lá o senhor pode ir”. De manhã mesmo, saí da rádio, fui no mercado, comprei caderno, comprei lápis, caneta… Eu fui para rua, peguei o ônibus, fui para… Cheguei na sala, a professora “ Até que série o senhor já estudou?” Eu falei: “Nenhuma, eu não sei nada, eu to aqui para aprender”. Até que, graças a Deus, fiz esse período lá, com a professora Andreia, depois eu fui para o colégio Professor Martins, lá embaixo na beira rio, e de lá eu fui para o Padre… Fiz o meu segundo ano completo, só não fechei porque veio a pandemia, e eu não consegui acompanhar pela internet, se não eu tinha fechado o meu terceiro ano.Então, isso aqui para mim, é um trabalho da radio comunitaria, isso me ajudou muito, me ensinou muita coisa. Eu, para dizer para vocês que eu sou um profissional? Não,mas eu tenho esse prazer de dizer para vocês que a rádio me ensinou muita coisa. Quando modernizou a rádio, que nós eramos lá com aquele radinho de CD, nós colocavamos o CD, o CD agarrava, fica lá preso.. Aí, o Fernado, eu falei “O Fernando, eu não vou voltar para rádio não. “ “ Por que?”. “ Não, eu não dou conta de mexer com computador não, primeiro eu não sei ler, como é que eu..”. “Não, você vai sim, você vai continuar lá” . E eu fui, lutando sim, tinha dia que 4 horas da manhã eu estava ligando pra ele ‘ Fernando, tá acontecendo isso aqui que eu não sei mexer não “. Ele ia lá, me ajudava a arrumar, até que eu aprendi, e hoje eu estou aí, graças a Deus… Com meus amigos, com meus companheiros, que me deram essa força, e eu estou aí, levando a minha alegria.
P1: Alegrando as manhãs. ..
R: Alegrando, graças a Deus. Eu tinha um amigo de rádio, que Caetano conhece muito, que me ensinou muita coisa, tinha dia que eu ligava para ele, e conversava com ele, aí ele ficava me explicando “Não, você faz assim, você faz assim, você faz isso, né”. E ele me ensinou muito nesse ponto, hoje também não está mais com nós, né Caetano? Mas, seu Jota me ensinou muita coisa, seu Jota era um companheirão.
00:52:27
P3: E aí só voltando um pouco, como você chegou na rádio? Como você começou na rádio?
R: Nós, eu, marido dela, Paté ,o Caio, colega, o sonho nosso era mexer com rádio, montamos uma rádio para nós, né. Inclusive tivemos, quase que fomos presos,na primeira que nós montamos, nós montamos assim, o cara tinha montado, e passou, alugou ela para nós, falou para nós que estava tudo em dia, e nós não sabíamos, o trem não tinha nada em dia, né. Aí deu zebra para nós, veio a anatel, fechou, deu um problema danado. Aí nós vamos procurar… Aí chegou aqui em Barra Longa um padre, padre Welison, e ele falou: “ Não, nós vamos montar essa radio”. Aí conseguimos a condensação, e nós fomos lutando,busca aqui, busca ali, procura uma coisa, procura outra, mandava um documento eles pediam outro diferente,e assim nós fomos correndo atrás. Corria atrás de pessoas, pedia dinheiro aos outros para registrar documento, e nós fomos fazendo isso aí até chegar onde nós chegamos, era eu. Aí quando começou a rádio, nós pusemos ela no ar,era eu, Alex, Fabricio né, que hoje eu acho que está em Ouro Preto, Camila, hoje mexe com salão, nós éramos uma turminha, e mexia.. Aí, até que dessa turma sobrou eu, dessa turma toda sobrou só eu, só eu que continuei até hoje mexendo na rádio. Samuel , Serginho, sumiu todo mundo, Serginho todo dia fala comigo “Vou voltar, vou Voltar Voltar, vou voltar.” Mas, não volta, então a gente vai tocando o barco, é desse jeito. Mas, eu estava comentando com vocês, aí sobre, era o meu sonho de estudar, desde novo, eu tinha esse sonho de estudar , mas como a gente foi criado na roça, nas fazendas, a gente era candeeiro de boi, candeia boi nas fazendas, depois fui para fora, nunca tive essa oportunidade de estudar, até que veio, chegou a época da rádio, com o meu amigo Alex né, que me levou lá para.. E eu falei “ Eu vou aproveitar essa oportunidade”. Aí eu fiz o primeiro ano, esse primeiro período aqui, peguei e fiquei pensando “ Eu paro agora.” Aí a minha turma era turma mais ou menos tudo da minha idade, todos os colegas lá da sala, tudo era mais ou menos da minha idade “Não seu Zé, vamos tentar estudar mais um ano.” Aí vamos, mais um ano, mais um ano,mais um ano, até que eu cheguei no segundo ano,fiz o segundo ano, mas teve uma passagem, durante esse tempo meu em… Que me deixou muito feliz, a gente teve um probleminha com uma professora, e ela virou e falou assim: “Barra longa, é Barra longa é bom, nem professor direito em Barra Longa tem”. É, eu peguei e comentei com ela “ Não vou levar isso em consideração, não”. Mas, estava chegando a formatura do nono ano, lá no professor Martim, aí eu falei: “Eu vou provar para vocês que os professores de Barra Longa são competentes”, Flávia tinha 7 anos.” Eu vou trazer uma menina que vai ler a minha despedida aqui, do colégio aqui. Aí combinou, aí quando foi no dia da despedida lá do colégio Padre… Eu levei Flávia Alessandra e ela que leu a despedida lá, foi lá da turma do Padre…E a professora ficou olhando ela assim,depois que terminou tudo, ela me chamou: “ O seu Zé, essa menina lê assim já?” Aí eu falei: “ Ela lê assim desde que ela saiu da escolinha, ela já lê desse jeito aí, desde que ela saiu da escolinha”. Aí o diretor da escola falou com ela, falou com essa menina que tinha falado “ Pois é, a gente não perde por falar pouco, falou que Barra Longa não tinha nem professor direito, vem uma criança desse e dá um show desse aí para vocês verem”. Mas então, eu tenho um sonho ainda, meu sonho de tirar esse terceiro ano e fazer um curso, eu tenho um sonho de fazer assistência social, se Deus quiser, quem sabe um dia eu consiga ainda, estou velho, vou fazer 70 já.
P1; Nada é impossível,né ?
R: Nada é impossível.
00:58:42
P1 Bom José, muito obrigada por ter aceitado né, o nosso convite de..
00:58:49.
P2: Eu queria Zé, antes da gente encerrar, fazer uma pergunta, o que você achou aqui de contar a sua história?
R: Caetano, foi feliz , eu tinha esse sonho de contar a minha história para vocês, eu já tinha falado para vocês né, de contar minha história para vocês.Eu comecei a contar minha história no jornal “Terra da gente”, inclusive tem um trecho lá, tem uma reportagem que eu fiz,mas já era meu sonho fazer isso aí, graças a Deus, e tudo que vocês dependerem de mim, precisarem de mim, pode me chamar que eu to aí de braços abertos para atender vocês. Agora, outra coisa que eu gosto muito na rádio, esporte, eu adoro esporte,todo domingo eu to olhando o menino lá, com o ônibus do barra longuensse , falando “ O gente, é uma grande conquista!”. E um dia dessa semana eu fui num campo, eu vi uma meninada correndo lá, saí do serviço passei por baixo ali, fui lá no campo, a molecada estava treinando lá , falei: “É isso que eles tem que fazer, abrir o espaço para meninada brincar , para meninada…” Tirar a meninada da rua né, o tempo que a criança tá ali no campo, eles estão fora da rua, tá fora de acontecer coisas ruins com eles, então eu toda vida, eu tenho o meu, como se diz, eu tenho mania de radio, mania de comunicação. Toda a vida a gente pelejava, com aqueles radinhos de pilha fraquinha, para escutar a música de manhã cedo, então a gente.. Aí, é igual eu falo lá em casa,aí tem hora que eu… Eu falo assim: “ Você não também não enjoa de rádio não?” Por que que eu vou enjoar de rádio? Eu gosto. No circo, muitas vezes, quando às vezes, faltava apresentador “Pode jogar na minha mão que eu faço, não na hora de eu trabalhar outro faz, ué,mas não tem problema, eu apresento.”, Quantas pessoas hoje, que são importantes na música, já passaram por de baixo da lona do circo ? Já estiveram no circo? Fazendo show, né… Igual eles falam “ A, quantas pessoas o senhor conheceu?”. Conheci, conheci muitos que hoje são famosos, aí hoje, começou lá no circo, com o violão lá na arena lá, então, inclusive quando eu trabalhei no circo “Luz brasileira” eles puseram fogo nele lá no estado do Rio, sabe por que? Eles anunciaram durante o dia Fernando Mendes, e a noite o Fernando Mendes não apareceu, aí o pessoal pôs fogo no circo, por isso, é desse jeito. Então, eu agradeço vocês, pela oportunidade,de ter dado a oportunidade para eu contar para vocês um pouquinho da minha vida, de quem sou eu, um pouquinho de contar para vocês quem é Zé Catraca. Por que surgiu o Zé Catraca? O Zé Catraca surgiu pelo monocirco, eu falei pra você que eu iria falar sobre isso, no monocirco eu era um, eu tinha uma roda só, e ele era alto, e a gente andava nele dentro do circo, a gente andava nele dentro do circo, então era por isso surgiu o “Zé Catraca “, porque eles falavam: “Vem aí o palhaço e sua catraca", então ficou Zé Catraca. Então, é desse jeito rapaz, a vida traz muita coisa boa para a gente. Eu vou contar para você um pedacinho do meu tempo da usina, tem uma festa de 100 anos da usina Jetipoca , aí tinha um gincana, então a gincana era assim, cada dia um grupo tinha que apresentar uma coisa, aí o pessoal “ A mas vocês vão fazer grupo na lavoura, na lavoura não tem ninguém que sabe fazer nada”. Eu falei “Uai, mas nós vamos participar, ué.” O grupo nosso chamava maria fumaça, era o grupo da lavoura, aí puseram, só arrumaram trem para arrebentar nós, porque o escritório é que fazia todas as partes da gincana, eles arrumam os trens pra eles, mais fáceis, e jogavam as bombas na nossa mão. Aí o que que eles fizeram, primeiro dia da gincana nossa, era para levar seu Luiz, que era o dono da usina, era o homem mais difícil de mexer com ele no palco, para falar 5 minutos da usina. Aí todo mundo falou comigo, inclusive o falecido Bernardo falou: “ O Zé,vocês podem até tentar, mas vocês não vão conseguir levar seu Luiz na usina não, no palco não”, falei: “ A, mas eu vou tentar, quem sabe”. Aí, de manhã cedo,cheguei lá na usina, falei: “Eu vou lá no escritório “ cheguei lá “ O seu Luiz..,” (ele só chamava a gente de homem) “O que eu foi homem. “ “ O seu Luiz nós estamos com um problema aí, e nós estamos precisando do senhor.” “ O que que é?” “Eu queria que o senhor apresentasse na gincana para nós, é uma tarefa que nós temos, e o senhor falasse 5 minutos do 100 anos da usina para nós.” “Eu vou”. “ O senhor vai, seu Luiz?” “Vou” “Então, tá bom”. Aí eu falei com ele: “O, mas, o pessoal do escritório vai querer barrar pro senhor não ir” “ Não o pessoal do escritório não me manda não, quem vai sou eu” . Aí, foi no outro dia,no dia de apresentar, primeiro dia da gincana, aí o pessoal naquela zueira toda, a última a apresentar éramos nós, e eles já estavam gritando que nós tínhamos perdido os pontos, que o seu Luiz não ia, e na hora que o seu Luiz subiu no palco calou, falou para nós, agradeceu, aí… “ É, por essa nós passamos, vamos ver o que eles vão arrumar para nós agora “. Aí quando foi no outro dia a menina entregou o papel para coordenadora, levar uma pessoa no palco vestida de Valdique Soriano , falei “Agora arrumou" , daí um “eu não vou” , o outro “eu não vou”, eu falei “ Se vocês arrumarem a roupa eu vou.”... Esse dia eu ri , eles: “Como que nós vamos arrumar essa roupa?” “Arruma, o problema é um terno", aí eu falei: “Eu já sei com quem eu vou arrumar um terno, com o Bernardo, Bernardo caminhão. Bernardo você não tem um terno para você me emprestar, não?” “Eu tenho um terno lá, preto”. Eu falei: “Melhor ainda” . Aí eu peguei o terno de Bernardo, levei, aí eu fui em Fonte Nova buscar um chapéu, comprar um chapéu preto grande, e o óculos, aquele óculos escuro grandão,óculos de sol…Então, e tinha que dublar a música “eu não sou cachorro não” . E eles falaram “ A, eu quero ver”, e nós só, sempre a gente era o último a apresentar, aí o pessoal apresentou as tarefas deles, o escritório apresentou, a outra equipe, aí sobrou nós, aí … Assim, “não tem ninguém“, aí a torcida gritando, com a turma deles lá, aí eu entrei, aí o cara que tava fazendo pressão, que tava fazendo a narração da festa lá, aí eu peguei e cutuquei ele e falei.. Moura Cardoso, falei; “ O Moura,pode atrasar, não entramos nós não.” Aí quando ele falou “ Agora chegou a vez da maria fumaça,a apresentação da maria fumaça”. Aí chama um, e chama outro, chama um e chama outro, aí chegou a minha vez , aí eu entrei, com o óculos escuro, o chapéu preto na cabeça, mas eu não aguentava, eu olhava para o pessoal, mas a minha vontade era de rir, aí para dublar a música “eu não sou cachorro não”... Ficamos, só não ganhamos a gincana total, porque o jurado, o último pessoal, o último dia , faltou um jurado , aí eles puseram um cara lá, e o cara meteu a mão em nós, nós íamos ganhar, a turma do escritório fez 200 pontos, nós fizemos 190, era os 10 pontos que o cara tinha que dá para nós e não deu, ele deu os 10 pontos para o pessoal do escritório. Depois passou tempo, passou tempo, acabou a festa tudo, que uma menina falou, falou “É,se aquele menino, se o cara não falta aquele dia, vocês tinham ganhado a gincana.”Mas, não tem problema não. A vida ensina a gente muita coisa, né, e a gente vai aprendendo com ela. Agora eu só quero pedir para vocês, não para com isso não, segue isso, continua contando história da nossa Barra Longa, do nosso povo, que tem muito nego bom aqui nessa nossa região, entendeu. Tem uma cara que eu sei que não adianta convidar ele que ele não vem, ele não vai fazer,porque ele fala que não participa de nada na Barra Longa, mas se topasse fazer, é um doutor… Não era?Se ele topasse fazer, vocês iriam ver… Ele fala, a gente fala com ele, ele quase não participa de nada em Barra Longa, entendeu? É desse jeito… Quem agora vocês… Agradeço vocês, foi muito bom, e to feliz com vocês, igual eu disse pra vocês, não para não, prossegue.
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