Acho que todos nós aprendemos isto desde criança: nunca deseje aos outros o que você não quer que lhe aconteça. Ou, pelo menos, algo parecido com isso. Mas uma coisa é certa: o bem é algo a ser ensinado; a virtude é algo a ser ensinada. E muitas vezes quem nos ensina isso é a experiência. ...Continuar leitura
Acho que todos nós aprendemos isto desde criança: nunca deseje aos outros o que você não quer que lhe aconteça. Ou, pelo menos, algo parecido com isso. Mas uma coisa é certa: o bem é algo a ser ensinado; a virtude é algo a ser ensinada. E muitas vezes quem nos ensina isso é a experiência. Vou lhes contar um caso que aconteceu comigo no colégio, acho que na quinta ou sexta série.
Amigo secreto, essa brincadeira que se faz, geralmente em final de ano, onde um grupo de pessoas escreve seus nomes em pedacinhos de papel, dobram-nos e depois os sorteiam entre si, não participei de muitos, mas fiz parte de um que me deu uma boa lição.
O combinado foi que, ao invés de comprarmos presentes mais tradicionais, como roupas, discos (na época), essas coisas assim, presentear-nos-íamos com chocolate. Poderia ser em barra, caixa de bombom, etc.. Não me recordo do nome na menina que tirei no sorteio, mas lembro que beleza não era sua maior virtude... Para ela, comprei uma barra dessas grandonas, recheada com pedacinhos de amendoim. Não lembro o nome nem marca de tal guloseima, recordo somente que vinha numa embalagem de papel de cor amarela e tinha um nome curto escrito em vermelho. Cursava no horário vespertino, e entrava na aula próximo às 13h. Saí naquela tarde, visualmente corriqueira: ônibus passando, os botecos abertos, grupos de pré-adolescentes uniformizados com avental branco, seguindo em direção à instituição de ensino estatal... Tarde que era diferenciada somente por ter como data o final da brincadeira. Segui pela rua e, ao dobrar a esquina, encontrei com um amigo meu de sala (amigo próximo até hoje), e logo iniciamos uma conversa sobre o acontecimento que estava por vir. Perguntou-me se eu já havia comprado o presente para meu secreto amigo, respondi que sim, o que era, mas não revelei seu nome. Ele comentou que ainda não havia comprado o presente de seu incógnito amigo, mas que passaria antes da aula no mercadinho que ficava (ainda fica) na esquina posterior a do colégio. Fomos juntos. Chegando lá havia muitas opções de presente, o que gerou certa dúvida do que comprar. Pediu minha ajuda (opinião), e acabou decidindo por uma entre duas caixas de bombons. Uma das caixas continha um número maior de unidades, acho que trinta, ou algo perto disso, mas por isso tinha o preço maior. A outra, a escolhida, tinha um número menor de unidades, dezesseis bombons, mas o principal atrativo, segundo meu ponto de vista, era que o preço acompanhava essa redução quantitativa.
O diálogo se deu assim:
- E aí, André, qual das duas você acha que devo comprar? – perguntou-me.
- A mais barata, claro – respondi de “bate pronto”.
- Mas a outra não está tão mais cara assim. E, pela quantidade de bombons que vem na caixa, acho que o preço compensa. – Disse com visível empatia pelo amigo que seria futuramente presenteado.
- Tanto faz, o que importa é que você entregará o presente. E, melhor ainda, vai lhe sobrar uma grana E o cara, esse, nem vai saber mesmo... – Respondi com total indiferença.
- Ah... Então vai essa mesmo. – Seguimos para o colégio.
Chegamos à sala, todos já eufóricos para saber quem tirou quem, quem ganhou o que, quem ganhou o que de quem... E assim foi até a professora chegar e dar início ao final do jogo misterioso. No começo é sempre o mesmo suspense: um vai até a frente da sala e começa a descrever seu amigo secreto, os demais tentam adivinhar quem é, e nesse espaço de tempo todo mundo fica, é fulano, é cicrano... E, quase nunca, ninguém acerta. Chegou a vez desse meu amigo, e minha ansiedade aumentou, pois como eu, instantes antes, havia ajudado a decidir na escolha do presente, queria saber quem era o indivíduo a ser contemplado. Ele começou a descrevê-lo, dando risada. Aí a classe ria junto, e eu ria junto com a classe. Descrevia... Dava risada... A classe ria... E eu, ria junto com a classe... Com a caixa na mão, chegada a hora de falar o nome do agraciado, olhou para mim e riu... Adivinhem quem ele tirou
(História enviada em setembro de 2009)Recolher