Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Milton Moretti
Entrevistado por Eliana Santos
Rio de Janeiro, 08 de março de 2005
Realização Museu da Pessoa
Código: EDIHB 01
Transcrito por Susy Ramos
Revisão Fabíola Lugão C. Viggiano
P/1 – Boa tarde!
R –...Continuar leitura
Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Milton Moretti
Entrevistado por Eliana Santos
Rio de Janeiro, 08 de março de 2005
Realização Museu da Pessoa
Código:
EDIHB 01
Transcrito por Susy Ramos
Revisão Fabíola Lugão C. Viggiano
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Queria começar pedindo que o senhor nos fale o nome, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Milton João Moretti, eu nasci no dia 28 de março de 1950, em Santa Catarina.
P/1 – Senhor Moretti, o senhor pode contar para a gente um pouquinho quando foi o seu ingresso na Petrobras?
R – Eu entrei na Petrobras em 1976. Fiz o concurso em 1975 e acabei ingressando na empresa em janeiro de 1976. O curso que eu optei foi o curso de instalações marítimas, e onde eu trabalho até agora, na área de instalações marítimas.
P/1 – E essa escolha por essa área tem algum motivo? Tem alguma história por trás?
R – Tem, é uma área que eu gosto muito, tinha um programa bastante extenso, achei bastante interessante, tanto assim que eu gostei que até hoje ainda continuo trabalhando nessa área.
P/1 – E quais foram os locais que o senhor foi trabalhar? Conta para mim um pouquinho sobre o seu trabalho, para a gente que não conhece, como isso acontece?
R – Eu vim para o Rio fazer o curso. Meu curso na época era separado em duas partes: uma parte era ministrada aqui no Rio de Janeiro durante nove meses, depois tinha seis meses na Bahia. E no ínterim do Rio para a Bahia a gente fez um estágio nos Campos de Petróleo de Aracaju, que na época a offshore no Brasil era Aracaju, e a gente ficou em Aracaju um mês, um mês e meio visitando as plataformas, acompanhando os trabalhos desenvolvidos nas plataformas e nos campos de petróleo e em terra também. Depois voltei para a Bahia e fizemos mais um estágio de um mês e pouco nos campos de petróleo da Bahia, que foi o berço do descobrimento do petróleo no Brasil. Continuei o curso na Bahia, depois na hora de optar pelas vagas de trabalho, eu acabei ficando na Bahia mesmo que estava começando, um projeto grande da Petrobras, que era o desenvolvimento do campo de Garoupa. Nessa época a Petrobras já estava desenvolvendo a construção do canteiro onde seriam construídas as plataformas, aí eu fui trabalhar já na área de fiscalização da construção do canteiro.
P/1 – Isso na Bahia?
R – Na Bahia. Fiquei lá na Bahia até 1980 mais ou menos, quando terminou a construção da plataforma de Garoupa, aí comecei a acompanhar a instalação da plataforma de Garoupa e depois que comecei a acompanhar a instalação, aí apareceram a de Anchova, a de Namorado, a de Pampo, toda a Bacia de Campos.
P/1 – Então, só para entender um pouquinho, o senhor começou a fazer o curso em Santa Catarina, foi isso? Onde o senhor prestou o concurso, ou não?
R – Não, eu fiz o concurso em Porto Alegre, eu estudei em Porto Alegre.
P/1 – E de lá o senhor foi para a Bahia e Rio?
R – Para o Rio, primeiro o Rio, depois a Bahia.
P/1 – E essas plataformas estavam sendo construídas na Bahia?
R – Nessa época ainda não. Quando a gente começou lá, começou a trabalhar, já começamos a construir o canteiro para construir as plataformas de grande porte no Brasil. A Petrobras estava entrando na área offshore de águas profundas, que na época, 100, cento e poucos metros eram considerados águas profundas, agora é mais de mil, mas na época já 100 metros, cento e pouco, 200 eram águas profundas.
P/1 – E quando foi que eles começaram a nomear essas águas como águas rasas, como a gente chama hoje?
R – Isso é uma evolução, o mercado foi indo para essa área, as produções de Petróleo são quase todas em terra, aí como o Brasil não foi muito privilegiado com muito petróleo em terra, então teve que ir para a água. Sorte também, o mar tinha óleo, então começou a achar óleo no mar, petróleo no mar, aí que desenvolveu os campos no mar.
P/1 – E por que sua escolha em ficar na Bahia e não no Rio? O senhor falou que estava sendo um campo promissor, mas...
R – Eu nunca me “balizei” pelo local de trabalho, pelo tipo de trabalho, então minha opção sempre foi pelo tipo de trabalho e era uma área que eu gostaria de participar, de acompanhar, então eu fui fiel aos meus anseios.
P/1 – Conta como era o seu trabalho lá, conta um pouquinho como é hoje, só para a gente entender o que vocês fazem.
R – Na época o Brasil, principalmente a Petrobras, ninguém tinha tradição nenhuma de construções dessas plataformas de grande porte porque eram plataformas com uma tecnologia bem avançada. Hoje já é popular, é comum, mas na época era bastante avançada. Os projetos eram feitos todos fora, todos no exterior, não tinha firma de projeto no Brasil nem construtora. Para começar, a Petrobras o que fez? A Petrobras teve que dar um incentivo, construir um canteiro de obra, não tinha canteiro de obra de plataforma no Brasil, ela construiu um canteiro todo de obra e a gente começou a qualificar as empresas no Brasil para trabalhar nessa área. A gente foi preparado para isso, aí qualificamos as empresas para trabalhar e começamos a construir a primeira plataforma de grande porte com tecnologia bastante avançada para a época, todos os requisitos de qualidade bem avançados e começou com isso. Começou com Garoupa, tinha dois projetos, tinha um contrato grande de construção e instalação de duas plataformas, uma era Garoupa a outra era, não lembro mais a palavra, mas era nome de peixe também, acabou não saindo.
P/1 – E qual era o tempo que vocês tinham desses contratos?
R – Esses contratos eram de dois, três anos, até quatro. A construção de uma plataforma dessa demora uns dois anos quase, a gente projeta a construção, uns dois anos e pouco, depois tinha a instalação.
P/1 – Senhor Moretti, eu queria entender, o senhor falou que a tecnologia ainda estava sendo... E como se dava? Por exemplo, vocês buscavam em algum lugar, em algum país alguma referência? Como se dava a preparação desse grupo para trabalho?
R – A gente tinha contrato com empresas estrangeiras de projeto e tinha consultorias tipo de empresas tipo DNV, e a Petrobras tinha também um contrato grande de consultoria de uma empresa estrangeira que dava suporte para a gente, digamos assim, técnico. A gente foi mais com a tecnologia que a Petrobras tinha, não de plataforma, mas de refinarias, de oleoduto, terminais, alguma coisa que a Petrobras já tinha. Quer dizer, a Petrobras já tinha um começo, foi extrapolado para essa área aí com a ajuda de empresas estrangeiras e consultoras estrangeiras que foram contratadas na época.
P/1 – Quais as recordações que o senhor tem desse período de trabalho lá na Bahia com a construção da plataforma?
R – Muito bom, muito trabalho, bastante! Era uma coisa bem envolvente, acabei trabalhando nas fábricas em São Paulo, nas fábricas na Bahia, nas fábricas no Rio de Janeiro, dando assistência, qualificando as empresas, construindo os componentes... Nessa época, como era um projeto muito grande e só eram plataformas de grande porte, plataformas de mais de dez mil toneladas às vezes só a jaqueta, então tinha muitos componentes para ser fabricados, então foi dividido para várias fábricas fazerem vários componentes, esses componente iam tudo para o canteiro e lá no canteiro era montado. A gente trabalhava com 1400, 1500 pessoas no canteiro, chegou a ter mais de 2000 pessoas trabalhando direto, eram 24 horas por dia, um volume de obras muito grande.
P/1 – E a jornada de trabalho, como ficava para essas pessoas?
R – Na época a gente não tinha tanto direito como tem agora. Hoje a gente vai trabalhar em um canteiro como São Roque, você trabalha em um regime quase de embarcado, de um para um, um e meio. Naquela época a gente não ganhava nada, só ganhava um adicional regional que tinha na Bahia.
P/1 – E aí ficava, né?
R – É, por isso mesmo. Trabalhava sábado, domingo, ás vezes de noite ia lá acompanhar, por exemplo, tem uns trabalhos que tinham que ser feitos de noite porque a gente não tinha a tecnologia da construção e montagem. Parece que é simples, mas tinham vários detalhes que você tinha que aprender, tipo as deformações, as dilatações, uma série de coisas que aconteciam, devido ao porte muito grande da estrutura, era complicado, a gente não tinha vivência com aquilo. Se usava já na época infra-vermelho para fazer controle dimensional, você tinha que ter vários pontos no canteiro bem colocados para você ver as dimensões das coisas, o tubo crescia muito, a gente fez medições para ver o quanto crescia o tubo, você às vezes tinha que esperar a temperatura chegar para poder fazer a montagem, senão não dava, a gente tinha que fazer correção de temperatura porque se você corta um tubo quente, você está cortando ele mais curto do que ele realmente é. Você tem que corrigir, medir a temperatura dele, fazer a correção, aí você vai cortar ele maior do que realmente precisa porque na hora que você vai montar ele, que ele fica frio, ele vai estar no tamanho que você quer. Tudo coisa que a gente foi aprendendo porque era muito rigoroso o controle dimensional e você tinha que tomar todos esses cuidados. Quando a gente fazia uma solda, por exemplo, a solda encolhe, ela dá uma contração, a gente tinha que medir essa contração para ver o que ia fazer, porque senão a estrutura fica toda hipertensionada se você não tomar cuidado com a sequência de montagem e com esses cuidados de dimensões.
P/1 – Conta para mim quais foram os principais desafios que o senhor sentiu nessa etapa de construção, principalmente de Garoupa.
R – Era tudo novidade, tudo novidade, a gente tinha que ler muito, lia muita norma estrangeira, lia muito artigos de estrangeiros porque a gente não tinha, tinha que ler, e o inglês era fundamental. Tudo em inglês, então tinha que se virar, a gente caía em cima dos desenhos, olhava, pensava, perguntava, a gente começou a criar nossos conceitos, nossos padrões. Depois a Petrobras começou a fazer normas em cima de todo esse conhecimento que foi adquirido, que foi desenvolvido no dia-a-dia. Lá fora eles têm outros tipos de problema devido à temperatura, devido a esquemas de trabalho, têm uma série de diferenças. Aqui no Brasil a gente teve que fazer algumas adaptações.
P/1 – Aí o senhor ficou dois, três anos na Bahia...?
R – Eu fiquei um ano e pouco lá, depois...
P/1 – Um ano e pouco?
R – É, um ano e pouco.
P/1 – Acompanhou toda a etapa da construção de Garoupa?
R – É, toda a construção de Garoupa, daí veio o convés, aí também já não acompanhei, e comecei a acompanhar a instalação.
P/1 – O senhor escolheu ir para a Bacia de Campos?
R – É.
P/1 – E como foi? Conta para a gente como foi esse...
R – Bom, o que acontece? A mesma coisa, na área de instalação a gente não sabia nada como se instalava, a gente ficava na mão daqueles contratos que tinha das empresas de instalação estrangeira, só que a gente tinha uma vantagem que eu via, que a gente viu que tinha uma vantagem muito grande, é que a gente participou inicialmente na gerência também, na forma de contratar, nas discussões de contrato, então a gente conhecia os contratos, os termos, os deveres, as obrigações de todo mundo, então quando a gente estava na instalação a gente tinha uma vantagem digamos gerencial, que a gente fazia uma fiscalização, então a gente tinha uma vantagem que a gente sabia como o contrato foi elaborado, quais eram os termos do contrato. Tecnicamente estava aprendendo também, então tinha empresas de certificação, que era contratado para fazer acompanhamento, problema de seguro, então o seguro exigia uma certificadora, então a certificadora era como se fosse, uma empresa que trabalhava junto com a gente, com os mesmos interesses. Nosso interesse era a qualidade, nossa preocupação era a qualidade, o enfoque principal era a qualidade. Como a gente não sabia, então a gente dava um valor muito grande para a qualidade. Eu digo a gente, mas não só eu, a empresa como um todo às vezes até exagerou nesse aspecto de qualidade devido essa preocupação de uma coisa bastante cara, investimento longo e não podia ter problema, então a gente até às vezes exagerava um pouco na qualidade.
P/1 – Só para entender um pouquinho a sua trajetória, o senhor saiu da Bahia, foi para o Rio, com a mesma atividade?
R – Lá eu estava trabalhando na construção e montagem, eu saí e vim para a instalação.
P/1 – Para a instalação.
R – Aí o que acontece? A instalação, instalamos aquela plataforma enquanto as outras já estavam em andamento também. A Garoupa veio primeiro, depois veio Anchova, depois veio Cherne, Cherne I, Cherne II, Namorado I, Namorado II, aí o que a gente fazia depois? Aqui com o grupo de instalação a gente fazia acompanhamento no canteiro, nessa fase o Cegem [?] - na época era Cegem - , era um grupo especial que foi criado e que conduzia toda a Bacia de Campos, e a engenharia, na época era o Cegem, ele passou a assumir a fiscalização da construção e montagem.
P/1 – O que é o Cegem, seu Moretti?
R – O Cegem na época, a engenharia hoje era o Cegem. Era quem fazia as obras, era o órgão da Petrobras que tratava com as obras, na verdade a experiência deles era de refinaria. A Petrobras montou várias refinarias e era o Cegem que gerenciava as obras de construção e montagem das refinarias. Me parece também os terminais de oleoduto, e os oleodutos, mas as plataformas era novidade, era a primeira vez que estava sendo efetuada.
P/1 – Construídas.
R – Tinha aquelas plataformas do Nordeste, plataformas padrões de primeira família que não tinham tanta tecnologia na construção nem na instalação. Nessas plataformas de grande porte eram tecnologias novas, tinha que fazer várias análises, a engenharia era muito pesada em cima também.
P/1 – Vocês tiveram que ir se adaptando, né?
R – Enquanto isso as empresas aqui no Brasil também já foram se adaptando, foram também trabalhando junto com as empresas estrangeiras, com as firmas de projeto, e como a coisa não é tão difícil assim foram aprendendo também e depois as empresas nacionais acabaram fazendo, os novos projetos foram feitos por elas. Aí depois veio uma outra etapa que foi o pólo nordeste que foram mais sete plataformas. Primeiro foram as sete da Bacia de Campos que eram Garoupa, Anchova, Cherne I, Cherne II, Namorado I, Namorado II e Pampo.
P/1 – Depois entrou o pólo nordeste?
R – Depois deu uma parada. Veio o pólo nordeste, foram mais sete plataformas.
P/1 – Mas em relação à da Bacia de Campos, o que o senhor aponta que seria uma expectativa vivida por vocês naquela época? Assim que o senhor ingressou, que o senhor foi parar na Bacia de Campos, quais eram as expectativas que vocês tinham? Estava iniciando esse processo tecnológico, o que vocês esperavam nesse momento?
R – É um trabalho gostoso, interessante, sempre novidade. Uma coisa que eu gostava era que todo dia era diferente, sempre tinha uma coisa nova para acontecer.
P/1 – Mas vocês achavam que iam conseguir atingir essa lâmina d’água que vocês estão hoje? Atingir essa tecnologia que está sendo conquistada?
R – O que aconteceu? Aconteceu o seguinte: nesse ínterim a Petrobras (achou?) vários campos até a lâmina d’água dos 170 metros, que foi Namorado II, que foi até 170 metros. Depois não teve mais nada porque a Petrobras começou a achar óleo em águas profundas que foi acima de 1000 metros, então não houve essa continuidade para uma lâmina d’água mais profunda e a Petrobras partiu para um campo mais de flutuantes, de semi-sub, de navios, que nos outros países ainda não tinham muito esse tipo de solução, por outras razões, leis, não sei o que foi, mas a Petrobras saiu de lâmina d’água hoje rasa, que é de 100 até quase 200, partiu já para 1000.
P/1 – Para profunda, né?
R – Para profunda. E não teve no meio do caminho um intermediário. Os outros países tiveram lâmina d’água de 200, 270, quase 300 metros.
P/1 – O que vocês sentiram com esse impacto? Porque foi um salto.
R – Como a minha área sempre foi plataforma fixa, sistema fixo, essa parte flutuante já é navio, é semi-sub, já é outro tipo de trabalho, tem outra tecnologia, é mais com engenharia naval. E a gente ficou nessa área de fixa que hoje na Petrobras acho que chegam a ter 80 e poucas plataformas fixas.
P/1 – Todas elas envolvidas com águas mais rasas, seria isso?
R – Mais rasa, até 170 metros. Mas a maioria é 15, 20, 30 metros de profundidade. Tem no Ceará, tem no Rio Grande do Norte, tem Aracaju, Sergipe, tem Espírito Santo e no Rio de Janeiro, e tem uma aqui perto de São Paulo, em Santos, que é da _____, não é da Petrobras.
P/1 – Quais foram os desafios que o senhor sentiu quando o senhor foi para a Bacia de Campos? O que o senhor sentiu que era a barreira para o trabalho em relação à tecnologia?
R – É difícil ver porque a coisa não é em termos de procedimento, em termos de como fazer é tudo meio parecido. Tem variações dentro de como se faz e a profundidade não prejudica muito, às vezes até melhora.
P/1 – Explica um pouquinho isso para a gente que na nossa cabeça sempre dificulta.
R – Depois que você começa a trabalhar, porque você sai de uma tecnologia para outra, por exemplo, eu prefiro trabalhar com veículo submarino de controle remoto do que com mergulhador, porque a coisa fica mais planejada e o nível de acerto é melhor, existe menos risco.
P/1 – O senhor acha que esse aumento de lâmina d’água apontou algum problema para vocês?
R – A gente foi se preparando. A Petrobras teve um Procap
Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas que foi o primeiro, foi feito todo um trabalho, uma sinergia, cada um participou, acharam o que pensava, o que achava, como a tecnologia ia se desenvolver, de que forma, para que lado. Foi feito todo um trabalho na Petrobras, e em cima desse trabalho foi tomado ações, então vários segmentos da Petrobras, principalmente o Cenpes [Centro de Pesquisa da Petrobras], a gente partiu para várias áreas para desenvolvimento e para se capacitar. Então mudou totalmente o conceito, antes de plataforma fixa passou para o sistema flutuante e sistema submarino. Mesmo o sistema flutuante em águas profundas você tem coisa submarina, houve vários programas internacionais programas com outras empresas, com institutos no exterior de desenvolvimento de vários projetos, de desenvolvimentos tipo estaca-sucção, o uso de bate-estaca submarino de profundidade, que não tinha. Os bate-estacas, por exemplo, que a gente usava, eram bate-estacas à vapor, ou diesel, normalmente era à vapor, depois em águas profundas não pode mais ser, você tem que usar submarino. Nesse tempo, o mercado internacional também tem uma tendência, Golfo do México, principalmente o Golfo do México, na época o Mar do Norte não era tão profundo assim. O Golfo do México, as empresas começaram a se adequar a esse tipo de atividade, aí foram desenvolvidos os martelos submarinos, de potências maiores, com manipuladores que fazem várias atividades, que uma vez a gente usava só uma câmera submarina.
P/1 – Isso que o senhor fala: “A gente usava...”, seria em água rasa?
R – Em água rasa, por quê? Porque a intervenção era pequena, a intervenção era feita com mergulho, então o houve era só para a gente ver o que estava acontecendo lá embaixo para orientar o mergulhador, para saber o que ele estava fazendo, ou então usava um sonar, algum “instrumentozinho” que pegava um outro tipo de informação. Como a profundidade começou a aumentar e o mergulhador não conseguiu mais acompanhar, porque o mergulho vai até uns 300 metros, mesmo assim com grandes problemas e risco, começou a se desenvolver o mercado, começou a se desenvolver equipamentos de controle remoto, que você tem manipuladores, com várias funções que exercem várias atividades e você controla de cima, é um operador lá em cima que você fica lá do lado dele, ele fica com aquele joystick fazendo toda a operação que você quer. Então todo o seu planejamento de atividade é baseado nesses recursos que são recursos que você sabe que ele vai lá e faz, tipo cortar um cabo, soltar um parafuso, arrancar um pino, fazer certas atividades que são atividades que você sabe que dá para fazer com bastante segurança, então todos os procedimentos e toda a tecnologia foi caminhando para esse lado.
P/1 – O senhor está apontando essa passagem das águas rasas para as águas profundas. Existiu um processo de passar a tecnologia em terra para mar, ou não? Não tinha nada a ver, ou vocês conseguiram aproveitar essa experiência?
R – Eu não sei porque isso é meio histórico, eu não saberia falar porque toda a tecnologia era plataforma de água rasa, são plataformas pequenininhas tipo aquelas que a gente tinha na Bahia, a gente tinha na Bahia, no campo Dom João, “plataforminhas” que eram iguais palafitas, são tubos em terra cravados e feito umas plataformas de trabalho, colocados tanques em cima, equipamentos, uma coisa bem assim rudimentar, típica do Golfo do México no início também, só que lá eles têm outro tipo de problemas, o problema deles lá são furacões, o mar lá é tranqüilo, é igual à Baía de Guanabara, mas quando tem furacão eles têm que abandonar a plataforma, quer dizer, o dimensionamento deles, a preocupação deles é outra. A nossa preocupação quando a gente passou para águas profundas foi problema de fadiga, como o mar aqui fica se exigindo direto, tem muita solicitação, então as estruturas tinham que ser dimensionadas principalmente a fadiga, o problema da fadiga era um problema sério. E os americanos não tinham muito essa preocupação, os europeus que tinham.
P/1 – Como assim, senhor Moretti? Eu não entendi, qual era o problema que vocês enfrentavam no mar?
R – O problema quando a gente foi para o mar aberto, não mar abrigado, tipo Golfo do México, Golfo do México é o problema dos furacões, o nosso aqui é outro tipo de problema que é mais parecido com o Mar do Norte. O Mar do Norte tem os extremos também, mas ele tem o mesmo problema nosso que é de mar aberto e tem o problema da influência das ondas, de correnteza etc., isso aí implica em um tipo de estrutura que resista à fadiga, então esse detalhe, por isso que eu falei, na construção, essas plataformas, tinha uma preocupação muito grande com a qualidade do material, qualidade da solda, o perfil de solda, tudo isso por que? Porque uma estrutura pode ter resistência a esforço mas pode não ter resistência à fadiga, aí ela colapsa não por causa de esforço excessivo, ela colapsa pela constante ação das ondas do mar. Foi uma mudança de tecnologia bastante grande, e na época o projeto foi conduzido, basicamente quase todos os projetos foram conduzidos por projetistas, as estruturas foram projetadas por projetistas europeus, da Inglaterra, da França e da Itália, que tinham já essa preocupação. O americano não tinha, o americano depois que saiu das águas rasas dele para águas profundas, que aí tinha esse problema de fadiga que eu nem acredito que seja um problema muito sério para eles porque o nível de solicitação é diferente, é de condições extremas, não de condições de ciclo.
P/1 – Entendo. O que o senhor apontaria para a gente de principal tecnologia que tenha avançado nesses anos, principalmente na sua área, nesse trabalho na Bacia de Campos, seu Moretti?
R – Eu acho que uma coisa que desenvolveu muito foram os softwares, os softwares que eram usados para fazer as análises. No começo os softwares eram bem mais acanhados, mais simples, agora os softwares estão bastante sofisticados, muitos deles dispensam até modelo, que antigamente, agora alguns casos fazem ainda, você fazia todo o cálculo, fazia toda a simulação e depois usava modelagem. Por exemplo, a gente usou muito o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo] aqui no Brasil, na época em São Paulo, para simular os lançamentos das jaquetas, as verticalizações, as docagens, não via soft, mas via modelo, modelo reduzido. Você tinha um modelo matemático e um modelo reduzido, com isso os softwares foram se aprimorando e a maioria dos trabalhos hoje, os softwares já dispensam a modelagem porque eles já têm uma boa confiabilidade, já foram, digamos assim, têm um histórico bastante extenso, e hoje se faz modelagens de alguns casos específicos como a gente fez para lançamento do manifold em águas profundas, que a gente não sabe como ele vai se comportar. Você faz a modelagem matemática, vê como ele se comporta passando para a água, lançando ele, descendo, à medida que vai descendo como é o comportamento dinâmico dele porque a embarcação fica balançando, isso aí você faz uma modelagem matemática sobre isso aí para você ver se não vai ter nenhuma surpresa no meio do caminho, tipo haver uma ressonância, ou os esforços subirem acima do esperado, coisa desse tipo, qual a influência da correnteza no manifold quando ele está descendo, se não vai rodar ele, não vai girar, ele vai ficar estável. Então isso aí é feita uma modelagem nesse caso para ver como ele se comporta.
P/1 – Vocês tiveram alguma experiência negativa nesse caso?
R – Experiência, no caso do manifold a gente acabou fazendo essa modelagem. A gente mostrou o modelo depois, mostrou o modelo matemático, mostrou mais o modelo reduzido, mostrou que o manifold tinha uma tendência a rodar, se alinhar com certo ângulo para a correnteza. Isso é um problema, por que? As previsões de tempo você tem previsão de vento, onda, direção de onda, agora previsão de correnteza a gente não tem ainda, estamos desenvolvendo modelos para fazer previsão de correnteza também. Você nunca vai saber como está a correnteza, você tem que medir, então o que a gente fez? A gente se preparou, levou correntômetro para medir a correnteza, a direção e fazer alguma coisa se fosse necessário ou então esperar, ficar aguardando condições de tempo devido à correnteza para fazer o serviço, sabendo dos limites, sabendo quais são os esforços envolvidos para manter uma certa estabilidade e direção você estaria, era mais uma informação que você teria para não executar a operação porque não é seguro. No caso o manifold mostrou que tentava girar para a direção da correnteza e isso não pode acontecer porque a gente tem que botar ele lá embaixo em uma posição bem precisa.
P/1 – Qual a função mesmo do manifold, senhor Moretti?
R – O manifold são equipamentos que recebem, que coletam o óleo dos poços. Então no desenvolvimento de um campo, dependendo do tipo de campo de formação que ele é, você vai explorar ele com vários poços, por exemplo, esse campo comporta botar, digamos assim, seis poços. Quando você bota uma plataforma
fixa, você bota os poços todos embaixo porque a plataforma está lá em cima, você fura lá de cima da plataforma ou você completa de lá de cima da plataforma, então você puxa os condutores do poço que está lá embaixo em um gabarito de poço, leva lá para cima, chega lá você coleta o óleo, joga para os tanques, leva para os separadores, faz todo aquele processo de separação, bombeio etc e você manda para a terra o óleo. Quando é águas profundas que não é plataforma fixa, você tem outros sistemas, você coleta os poços, leva lá para cima na plataforma flutuante através de riser que sobe, ou então você joga tudo para o manifold por exemplo, oito poços,
a maioria tem oito poços, você joga oito poços para o manifold e aquele manifold o que é? São equipamentos que concentram um conjunto de válvulas e conexões e desvios com controle que recebe vários poços e manda uma linha só para cima. Uma ou duas, na verdade uma porque a outra é para voltar, para fazer limpeza, para atuar, ter o cabo. Esses manifold você pode instalar vários desses manifold e coleta, de cada manifold você leva para uma plataforma daquela. Lá na plataforma só sobe uma linha daquele manifold, uma linha de produção, as outras são para controle. Ao invés de subir oito poços lá para cima, você sobe uma linha só e você controla cada poço através do manifold.
P/1 – O manifold precisou do trabalho a controle remoto, né?
R – É com hovs, via hovs. Mas o que a gente fazia? Como a água era profunda na época, mas hoje não é mais tão profunda, aquele manifold que a gente lançou, o mais pesado foi de 420 toneladas e a gente instalou ele bem pesado, isso aí para a época era muito pesado.
P/1 – Isso foi mais ou menos quando?
R – Foi em 1996, parece. Cinco ou seis. Depois a gente instalou uns seis, sete manifold menores, os dois primeiros foram do Campo de Goitacazes, inclusive. Foram de 400 e poucas toneladas, que tinha outro tipo de concepção que tinha bastante equipamento residente, por isso ele era tão pesado. O que ele precisava? Essas análises todas, ver qual era o problema, como era o primeiro a gente tinha que tomar mais cuidado, bastante para saber o que pode acontecer, para se precaver contra eventuais problemas. Esse projeto foi muito interessante, foi um projeto bastante ousado, a gente usou bastante criatividade, por que qual é o nosso problema aqui no Brasil? O problema nosso no Brasil é que o mercado não está aqui no Brasil, o mercado principal é nos Estados Unidos e na Europa, agora já passou para o Oriente também, e Oriente Médio, mas na época o Brasil ficava fora do mercado, nós não tínhamos recurso para fazer as coisas, era complicado. A gente tinha que fazer pacotes de trabalho para poder ter esses equipamentos pesados que têm no exterior, vir aqui para fazer o serviço. Nós temos, a Petrobras tem a BGL que é uma balsa guindaste que lança duto, mas que tem um guindaste que pode fazer alguma coisa também. O que a gente fez? A gente adaptou a balsa para fazer um lançamento de manifold, para isso a gente teve que mexer, fazer um projeto de um bloco, que a gente não tinha bloco para aquele número de polias, qual o problema das águas profundas? O problema das águas profundas é o cabo. Como você vai içar uma peça pesada onde você precisa de 14 cabos, por exemplo, polias de 14 cabos? Você vai botar um quilômetro para baixo são 14 quilômetros de cabo só para descer um. Então o problema do comprimento de cabo, da capacidade dos guinchos, e os guinchos de todas as embarcações que têm no mundo, eles foram projetados não para água profunda, eles foram projetados para içar coisas fora da água, não para baixo, então quando você bota para baixo você tem problema de cabo. Não existe cabo, cabos não dão para aquela quantidade de polia para você passar tanto cabo para descer onde você quer com a peça pesada. O que a gente fez? Primeiro: projetar um bloco. O que a gente fez? Como fazemos o projeto de um bloco? Nós pegamos um bloco que nós tínhamos que estava lá na Reduc [Refinaria Duque de Caxias], que era o bloco de 600 toneladas, short ton, nós precisávamos de 400 e poucas, quase 500 de capacidade, mexemos nele, trocamos as polias, trocamos tudo, botamos ele para o número de polias que a gente queria e como a gente ia conseguir a quilometragem de cabo que a gente precisava? O guincho é o guincho que existe na balsa, a balsa tem um guindaste com os guinchos dos cabos, cabo da lança, cabo do bloco um, cabo do bloco dois, cabo do bloco três. A gente precisava de um cabo de um bloco, para um bloco bem maior. O que a gente fez? A gente pegou um guincho de ancoragem, a BGL tem 11 guinchos, nós pegamos um guincho que ficava debaixo do guindaste, aquele cabo trocamos ele, que é cabo de 1 ½ polegada, colocamos cabo de 1 ¾, igual ao outro bloco.
P/1 – E esse projeto vocês estavam acompanhando junto com o Procapes ou não?
R – Não, nós estávamos acompanhando! Esse não era Procapes, esse já era realidade.
P/1 – Esse era um projeto de vocês?
R – Já é realidade nossa com os nossos recursos disponíveis, então a gente estava usando tudo que a gente podia com a criatividade toda, usando os nossos recursos. O grande desafio era o nosso recurso, porque era muito fácil você fazer um serviço desse, pega uma semi-sub daquela de não sei quantas mil toneladas, com DT você faz logo, não é problema. Agora quanto custa isso? Custa uma fortuna para trazer.
P/1 – E vocês estavam usando com recursos de vocês, mas como assim?
R – A balsa era da Petrobras, o bloco era da Petrobras, o guincho era da Petrobras.
P/1 – Então vocês iam usando o que vocês já tinham?
R – É, o que a gente tinha.
P/1 – Vocês tinham em mãos?
R – É, tinha em mãos. A gente fazia até coisa ousada. A gente pegou o guincho, passou o cabo, passou o cabo lá para cima, mexeu no projeto do guindaste também, botamos polia de desvio, aí o cabo do guincho ia lá para cima, passava pelas polias, subia, descia pelo bloco, voltava e ia para o outro guincho. E nós emendamos cabo. Pegou dois cabos, porque a gente tinha dois cabos, não tinha cabo de 6 quilômetros, nosso cabo era de 1500 metros, 2000 metros no máximo, 1700 era o comprimento do cabo que a gente tinha. Com isso a gente emendou os cabos. Estuda direitinho como faz, faz teste, faz ensaio, uma porção de coisa, e a gente emendou os cabos para conseguir o bloco, por exemplo, descer, parece que o bloco descia a uns 300 metros, com esse sistema que a gente fez, o bloco descia 300 metros mais ou menos.
P/1 – E vocês conseguiam isso por outra via, mas não tinha recursos até então?
R – Não, não tinha. Como é que nós íamos descer dos 300 lá para baixo, para os 600 e pouco? O que a gente fez? Mesma coisa. Outra coisa também, nós não temos cabos aqui no Brasil à vontade, a Confab agora fabrica cabo de, mas o cabo mais grosso que a gente tinha, de diâmetro maior, era de 2 ½ polegadas, não tinha cabo mais grosso que isso aí. A gente tinha uns cabos que foram comprados para usar para ancoragem, a gente pegou esses cabos de 3 ¾ polegadas e a gente fez lingada com eles, a gente teve que pegar cada cabo, cortar, trançar, fazer à mão, costurar, chumbar, testar, para fazer lingadas para içar o manifold. Aí o manifold foi içado, foi pendurado do lado, foi descido cada pedaço desse porque o guindaste não pode pegar muito cabo, ele pode pegar até uns 50, 60 metros de cabo, então a gente foi pegando trechinhos, foi descendo com dois cabos, emendando, até uns 300 metros, depois descer os outros 300 e pouco com o bloco, o bloco ia até lá embaixo.
P/1 – Essa experiência foi em qual campo, senhor Moretti?
R – Foi no campo de Albacora. E aí para a gente conseguir manter o manifold na posição a gente ia em cima direitinho do lugar, não tinha problema, quando é GPS você sabe onde está direitinho. Lá embaixo já tinha feito um levantamento batimétrico de alta resolução, a gente sabia bem a topografia do fundo, a gente já tinha escolhido um lugar bem plano e com uma inclinação constante, e o manifold já tinha, a sapata dele já estava prevendo essa inclinação, ou seja, o solo era inclinado, o manifold tinha que ficar aqui assim acompanhando o solo e ficar nivelado, então você não podia errar de posição e nem de orientação, senão ele ia ficar todo fora de nível, aí ia ter problema com conexão. O que a gente fez para manter o controle do aproamento dele? A gente desceu dois cabos com polia e à medida que o manifold ia descendo, a gente ia descendo os guias, e tinha um guia que a gente fazia correção, com isso a gente conseguia evitar que o manifold rodasse e a gente fez com que o manifold fosse para onde a gente quisesse em termos de rotação. Posição a gente ia jogar porque era posição nossa lá em cima.
P/1 – E esses conhecimentos que vocês iam adaptando no dia-a-dia, porque isso era a necessidade, vocês faziam algum registro, alguma coisa, ou não?
R – Nós temos todo o nosso, é tudo documentado, tem todo o procedimento escrito, tudo calculado, as avaliações, as análises, os modelos, tem todo esse trabalho feito. Esse manifold a gente monitorou também a descida dele.
P/1 – Então foi acompanhando tudo isso?
R – É, foi acompanhando o desenvolvimento dele porque tinha umas dúvidas, sempre tem dúvidas. O pessoal achava que ia haver um problema de oscilação e que as tensões iam subir demais e que os cabos não iam resistir, uma série de coisas, dúvidas que tinham que a gente tinha que se preparar para isso. Então o que a gente fez? Vamos monitorar! Monitorar também: “Como nós vamos monitorar um equipamento debaixo d’água, os sensores são tudo eletrônico.
P/1 – Vocês já tinham conhecimento disso, a empresa já tinha esse conhecimento ou não? Vocês foram adaptando durante o processo?
R – A gente foi adaptando o conhecimento existente.
P/1 –E onde estava esse conhecimento?
R – No IPT.
P/1 – O que é o IPT, senhor Moretti?
R – O IPT é o Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo.
P/1 – De São Paulo.
R – Nós trabalhamos muito com ele desde o começo. Então ele já tinha desenvolvido vários softwares e vários recursos para monitorar, não só para a Petrobras, para outro mercado lá em São Paulo também, outras necessidades.
P/1 – Mas ainda não era a necessidade de vocês?
R – Não era essa daí. Aí para a gente atender a nossa necessidade: “Como a gente vai fazer? ” “Vamos lá, sentamos com eles, conversamos, queremos isso.”, mas isso tudo em cima da hora porque a gente resolveu fazer isso: “Vamos monitorar para a gente saber o que está acontecendo para aprender!”.
P/1 – E esse grupo de vocês eram quantas pessoas, senhor Moretti?
R – Não era muito, era coisa assim, que trabalhava direto era uns quatro, cinco.
P/1 – Engenheiros?
R – É, daqui. Tinha do Cenpes e tinha do IPT também. Nesse caso o Cenpes ficou mais fora, a gente ficou mais com o IPT porque era um problema nosso operacional, o Cenpes trabalha mais com projetos, com tecnologia, e nós trabalhamos com operacional. A gente trabalha junto com eles porque tem coisas que eles desenvolvem, que eles estão na frente e tem coisas que nós temos aplicação, então a gente complementa o nosso nível de experiência, do operacional, com o de desenvolvimento de pesquisa.
(PAUSA)
P/1 – Retomando, o senhor estava falando dessa relação que vocês tinham de tecnologia entre o Cenpes o IPT…
R – O Cenpes trabalhava muito na fase de pesquisa, de programa, um negócio em um outro nível de engenharia. O nosso nível de engenharia era mais o nível prático de experiência, de vivência. Então eu acho que isso daí também foi um segredo, digamos segredo, não que foi um segredo, segredo no sentido de uma coisa que foi positiva que complementou, com isso houve uma sinergia grande. Claro que tinha sempre problema de dúvida, gente que não confiava, a gente achava que não ia dar certo, aquele negócio todo porque era a primeira vez, então tinha uma série de dúvidas, a gente tinha que se cercar de forma mais segura possível para garantir, porque na época um manifold desse custava uma fortuna, e o problema não era nem o preço dele, era o programa. Um manifold desse, eles falavam em 18 milhões de dólares um manifold desse, 20 milhões de dólares, mas o problema não era nem esse valor, você ia atrasar o desenvolvimento de um campo de mais de anos, até você construir outro e instalar, se a gente perdesse, houvesse um acidente, então tinha uma preocupação muito grande que não houvesse esse acidente.
P/1 – E era tudo construído já nacionalmente?
R – Era tudo feito aqui, claro os equipamentos, muitos equipamentos são importados, é a mesma coisa que agora. Muita coisa se faz aqui, muita coisa não se faz, vem de fora, porque não compensa, é uma questão econômica.
P/1 – O que o senhor acha que mudou com a descoberta da Bacia de Campos? O que o senhor acha que isso significou para o país?
R – Eu acho que desenvolveu o país como um todo, a (Cop?), IPT, as empresas, vieram muitas empresas de fora, então houve um desenvolvimento muito grande, se não houvesse a Bacia de Campos, por exemplo, isso não teria acontecido, não sei como a gente estaria nessa área. Provavelmente seria na área naval só, não sei, navio, não haveria essa puxada que a Petrobras deu, até por uma necessidade. E a Petrobras trabalha muito aqui dentro do Brasil, acho que isso ajudou muito, acho que foi muito importante isso aí, acho que deu uma arrancada muito grande em termos de tecnologia. Eu vejo muita improvisação e criatividade, mas a improvisação não no sentido de despreparo, mas no sentido de tentar fazer com os recursos que a gente tem, que a gente dispõe, mas a gente sempre tinha consciência do risco e a gente sempre procurava contingenciar tudo, para não ter problema, a gente sempre se cercava. Esse trabalho que a gente fez com o IPT de monitorar, justamente, vamos aprender o que está acontecendo para depois saber o que acontece nessa hora, porque senão a gente joga para baixo d’água e não vê mais nada. O problema de instalação águas profundas é que a gente não tem quase registro, por que? Você vai registrar o que? Não registra quase nada, o que você vai registrar é tudo for a. Lá para baixo o que você tem é algumas imagens que são ruins, algumas fotos, algumas fotografias, algumas filmagens de algum evento, mas lá em cima. Lá embaixo você acaba não vendo nada, só nas câmeras de monitoramento.
P/1 – E depois dessa iniciativa de vocês passou a ser comum estar monitorando ou não?
R – Não, sempre foi. Explicando, o que a gente fazia? “Vamos monitorar essa descida do manifold para ver o que acontece. ”, porque existiam umas dúvidas de projeto com relação a certos eventos, de certos estágios do evento. “Como nós vamos botar os sensores lá embaixo? Como vamos fazer isso?”, problema, pensar: “Nós temos uma cabeça de abandono de um duto de 16 polegadas, com flange, com tudo. Dá para enfiar as coisas lá dentro? ”. Enfiamos bateria para 40, 50 horas, aí o cara do IPT: “Em quantas horas você acha que a gente pode fazer esse trabalho? ”, “Olha, esse trabalho é de 12 horas no máximo ”, “Vamos botar 24 horas, um pouco mais”, aí o cara botou 40, 50 horas de bateria. Nós pegamos um tubo daquele, que era uma cabeça de abandono, um tubo de 16 com flange, com anel de vedação, tudo, botamos as baterias lá dentro, botamos um computador, tivemos que arrancar um cantinho porque não estava querendo entrar, botou dois HD lá dentro, botou um drive para dar partida no computador e os sensores, aí tampamos e a partir daí começou. Está lá, botamos na peça, fechamos, apertamos bastante, botamos cola para não, vedar, tinha um anel de vedação, um anel de aço que é bem apertado: “Vamos botar veda junta aí!”. “Botamos” veda junta, fechamos, e desceu, aquilo foi junto.
P/1 – E conseguiu registrar tudo o que estava acontecendo, monitorando?
R – Tudo, só deu um probleminha porque houve um atraso na hora de descer, uma série de coisas que nem posso falar.
P/1 – [Risos].
R – Mas aconteceu o seguinte: acabou ficando mais tempo do que o previsto, mesmo com todo aquele excesso de horas, de bateria para o computador ficar rodando, mas o mais importante a gente registrou, que foi toda a passagem dele, cada evento, foi tudo registrado.
P/1 – Isso não era comum, fazer esse registro?
R – Não porque não se tinha tecnologia. Foi improvisado.
P/1 – E depois disso? O que aconteceu?
R – Hoje você tem coisas sofisticadas, você vê tudo, pequenininho, não é adaptado. Hoje a gente tem bússolas que têm a precisão de um grau, elas descem 2, 3000 metros, são pequenininhas assim, a informação que ela manda é via som, e como a gente não podia botar cabo porque ia arrebentar: “Vamos coletar tudo lá embaixo, quando a gente tirar de volta a gente vê. A gente pega as informações ”.
P/1 – Conseguiram resgatar tudo?
R – A gente fez um trabalho mostrando os registros do previsto, do modelo e do registrado, tudo direitinho, certinho, os movimentos, as tensões, as acelerações. Tudo registrado. Com isso a gente aprendeu o que acontecia nessas fases que a gente não sabe.
P/1 – E conseguiram avançar um pouco mais também nas fases, não é?
R – Depois um outro projeto que foi em águas profundas, mesmo para a época, a gente instalou 32 estacas de sucção a mil e poucos metros a mais profunda. Foi para o campo de, para a P26 e para a P19.
P/1 – O senhor ficou quanto tempo embarcado, senhor Moretti?
R – Eu trabalhava muito esporádico, ficava um tempo embarcando depois parava porque o projeto parava, aí voltava para cá e ficava trabalhando em outros projetos por aqui. Depois quando voltava a embarcar para a instalação, embarcava de novo. Fiquei vários, muitos anos, ainda continuo, embarquei o ano passado agora na instalação de uma plataforma lá, fiquei uns três, quatro meses.
P/1 – Mas agora teoricamente o senhor fica mais aqui no Edihb [Edifício Horta Barbosa]?
R – É.
P/1 – Como consultor, é isso?
R – Como consultor, mas quando tem esses trabalhos eu sempre vou para garantir que a coisa vai direitinho.
P/1 – Infelizmente eu vou ter que caminhar para o final da entrevista. Eu queria perguntar para o senhor o que o senhor achou de ter participado do Projeto Memória, de ter contribuído com o seu depoimento?
R – Eu acho que é importante porque é uma forma da gente mostrar o que foi feito, por que foi feito. O histórico eu acho que é muito importante em qualquer coisa, quem não tem história não tem futuro, né? Então eu acho que é uma coisa importante esses registros, seria interessante pegar mais depoimentos, de mais gente que participaram, ver de outra forma, como as pessoas vêem, a diversidade que é importante, cada um como vê as coisas, como aconteceram é importante.
P/1 – O senhor gostou de ter participado?
R – Ah, gostei sim, achei interessante, achei muito bom isso!
P/1 – A gente agradece, infelizmente o tempo é um pouco curto, mas a gente agradece demais pela entrevista. Obrigada, senhor Moretti!
Fim da entrevistaRecolher